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Fonologia da lingua suri

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(1)

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>;t

por

TINE H. VAN DER MEER

Dissertação apresentada ao

Departamento de Lingüística

do Instituto de Estudos da

Linguagem da Universidade

Estadual de Campinas como

requisito parcial para

ob-tenção do grau de Mestre em

Lingüística

Campinas 1982

n

,,.1 .. , ·

\.LI\ ,KAL

(2)

sem a ajuda de outros. Portanto, se este trabalho puder ser considerado como sendo algo 11

de valor11

, como espero que seja, reconheço com gratidão

que foram muitos os que contribuíram para que ele fosse feito,

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pela vida e saúde, pela inteligência e pela motivação para este trabalho como parte do Seu plano para a minha vida. Agradt:ço aos meus pais, parentes e amigos pela ajuda

no sustento e pela hospitalidade, sem as quais não poderia ter me dedicado aos estudos preparatórios e

à

elaboração desta dissertação.

Sou grata

à

FUNAI pelas autorizações concedidas para pesquisar a lfngua Suruf 11

in loc011

, ou seja nas aldeias junto aos P.I. Sete de

Setembro e Linha 14, no Parque Indígena do Aripuanã, e pela ajuda dada pelos funcionários do parque. Não citarei nomes, para que não me esqueça de alguém.

Agradeço também aos fndios Suruí em geral, e espt!cialmente aos que me ensinaram a sua língua, pela paciência em repetir o que demorei tanto a aprender, pela correção dos erros que fazia ao repetir as palavras e

frases, enfim, pelo bom trabalho que fizeram. Citamos: o chefe lbtabira; meus informantes principais Oyowa, Gasega, Mananogã, Yabánor, Soaygur, e outros que me ensinaram: Paor, Dãpob, Moyezóud, Marimob, Pawáib, Tíkã, Yamodá, Iwekar, Pamaso, Yábaday, Uratana, Teresa, além dos muitos outros que nao tiveram oportunidade de sentar à mesa de trabalho comigo, mas que mesmo assim em muitas ocasiões me ensinaram algumd. palavra ou frase na sua língua nativa, ou que fizeram um esforço pat·a se tornarem meus amigos. E com saudades que me lembro destes, e tenho esperança de

(3)

Devo muito ctos rneus colegas Wil.lem e Caro'lyn Bontkes. Com o seu

conhecimento da 1 i'ngua e cultura Suruí muito me ajudal'am no aprendizado.

Além disto, colocaram seus materiais ~ minha disposição, dos quais tirei muito proveito. O seu apoio também me valeu muito nas horas de desenr.orajamt!nto passadas na a·ldeia. "A Betty Mindlin agradece por ter me cedido cópias do material lingUístico colhido por ela.

Ao co 1 eg a Da v i d L and in agradeço por ter tomado tempo par a 1 e r e

criticar uma versão anterior deste trabalho, e pelas sugestões dadas. Ao colega Richard Need, pelo tempo que deu tão 1 iberalmente para o preparo desta dissertação para :;er impressa no computadm~. Ao colega Don Piccon~·. pelos ajustes finais e pela impressão propriamente.

All': vários profes~ores e colegas da Unicarnp e do Instituto Lingüfstico devo meus a~wadecimentos

encor·ajamento e ajuda de muitas formas.

pela instrução, sugestões,

E, finalmente, ao n1eu orientr:~drn·, Prof. Aryon Dall' Igna Rodrigues, eu devo meus agradecimentos, pr:!la or-ientação paciente e extremamente vallosa na Gl il.boraçii.o desta dissertação, pelas muitas horas dedicadas à

leitura e a correção da redação, além da sua intervenção junto a Funai

E'lil meu favor, e pela ajuda de v~rias maneiras, com idéias, críticas,

sugestões de textos para leitura relevante aos problemas encontrados, etc. Sem sua orientação estd d·issertaçâo dificilmente teria sido comr·leLlda.

Tine fi. van der Meer ,Julho de 1982.

(4)

Rr.SUITIO

Este trabalho visa a descrever a fonologia aa língua Suruf, da

família Mondé do tronco Tupi, a partir de um enfoque gerativo, dando

atenção especial a mudanças rnorfofonêmicas verificadôs em fronteiras de morfema, clítico e palavra e interiormente a palavras. Antes de entrar

neste assunto, porém, aborda-se a fonologia geral e dentro dela, como um

caso especial, a dos ideofones; e a sílaba, com atF:nção esp~.:cial ao to111

e a acentuação. No final

é

feita uma comparação de alguns dados deste.

l-íngua com seus correspondentes em c-inta-Largu, outJa lfngua da família

Hondé.

/\utora: Tine Henriete van der Met>r Orient~ lar: Aryon Dall'Iqna Rodrigues

(5)

fNll!CE

Página

I. Introdução 4

11. fonologia geral 6

A) Sistema de sons da língua Suruí 6

B) Considerações gerais 7

1) Restrições na ocorrência de fonemas 7

1) Regra de redundância 9

C) Regras fonológicas 10

D) Fonologia dos ideofones 19

III. A sílaba; suas características em construções maiores 23 A) Padrões silábicos profundos e superficiais; 23

B)

I V.

A) B)

eliminacão de fronteira sil~bica $

Tom e acentuação; considerRções de ritmo; efeitos

dos enclíticos

Morfofonologia Fronteiras

Mudanças morfofonêmicas

1) Em limite de palavras (fronteira#)

a) Elisão de labiais e aprox·imantes não labiais

b) Sonorantização

c) Palatal ização

d) Elisão de vogais

2) Vozeamento em 1 imite de mor f ema

3) Elevação dentro da palavra, no diminutivo

4) Elisão da consoante coronal com menor tensão

Indice 24 31 31 31 31 32 32 35 35 36 37 38

(6)

v.

entre verbo c aspecto inceptivo

5) Em confronto com pronomes proclíticos e prefixos pronominais

39

a) Os marcadm·es de pessoa: proclítico'l e prefixos; 39

relações entre substantivos possuídos e verbos

b) Mudanças a nível segmental

i) depois de [+1], [+2] e [+1 +2], todos [-refl], e [+1 +2], [+refl]

40 40

ii) depois de [+1], [+2] e [+3], todos [+refl] 42 iii) depois de [+1 +3] e [+2 +3], tanto

[-refl]

43

i v)

v)

como

[+refl]

depois de [+3], [-ref1] depois de [+3 +3], [-refl]

c) Mudanças a ní v e 1 supr asegment a 1

i) Classe I - Estáveis

ia) Palavras iniciadas em tom alto

ib) Palavras iniciadas em tom baixo

ii) Classe Il - Instáveis

iia) Palavras iniciadas em tom alto iib) Palavras iniciadas em tom baixo

iii) O prefixo [ma], de posse opcional iv) Quadro de paradigmas completos

Comparação com o Cinta-Larga: correspondência ele [1] e

[Y] a seqüências de nasal e fricativa, e das n,Jsa·is a

seqüências de nasal e oclusiva Conclusão Apêndices 44 46 46 47 47 48 49 49 49 51 51 58 60 62

(7)

A) Quadro 1: Matl~iz de fonemas

B) Quadro 2: Matriz fonética C) Relação dos símbolos usados

Bibliografia fndice 62 64 68 70

(8)

I. Introdu~ão

A 1 íngua Suru í, objeto desta dissertação, e

.

f a 1 ad a ror aproximadamente 300 Índios residentes em duas local idades dentro do

Parque Indígena do Aripuanã, no Estado de Rondônia:

um

grupo de aproximadamente 210 índios no p. I. Sete de Setembro, e outro, de

aproximadamente 90 índios, no P.I. da Linha 14. Além elos índios Suruí há

alguns Cinta-Largas e Karitianas ligados aos Suruí por casamento

(próprio ou de parente). A língua Suruí pertence à fdrnÍlia Mondé, que

faz parte do tronco Tupí (cf. Rodrigues, 1971). Os dados para esta

dissertação foram coletados em três visitas à tribo, uma em 1979 e duas

em 1980-81. Além disto tive acesso a vários manuscritos de Willem e

Carolyn Bontkes, a fitas gravadas por eles, a dados colhidos por Betty Mindlin, e a manuscritos de Sandberg referentes ao Cinta-Larga e de Stute referentes ao Gavião.

Tomamos por objetivo descrever a fonologia da língua Suruí a partir de um enfoque gerativo. Não seguimos nenhumi.l variante particular do modelo gcrativo; ao contrário, nos valemos das id~ias de vários autores~ aproveitando-nos daquelas que melhor explicam os fenômenos observados na língua Suruí.

Achamos por bem descrever a morfofonologi a separadamente da fonologia geral, porque há vários casos de ''neutralização de contraste'' (aparentel ou real) que só se expl ican1 recorrendo a morfologia, por exemplo estabelecendo vários tipos de fronteiras morfo(fono)lógicamente definidas ou referindo a classes lexicais ou sintáticas ou a outras informações não fonológicas. Descrevemos, portanto, em primeiro lugar a fono-logia geral; em segundo lugar, damos urna breve descr·ição da sílaba, do tom e da acentuaçãoj em terccir·o 'lugar, abordamos aqueles fenômenos

(9)

morfofonolÓqicos que at~ ilgora purlemos analisar; e, por último,

aprest?ntarnos uma comparaçao que fizemos com alguns dados da lÍngua

Cinta-Larga que vêm iluminar alguns processos observados na fonologia da

língua Suruí.

Esta divisão foi feita para que houvesse um agrupamento lógicO dos

processos descritos; isto implica, porem, em que certas regras se

aplicam numa ordem diferente daquela em que são dadas. Nos casos em que

isto acontece informamos em nota qual

é

a ordem Plll que as regras se aplicam.

Nota:

1. Veja-se o caso da RMl, que não se aplica aos resultados da RM2; ali vemos que a "neutral ização11

entre /p/ e /m/ não é tal que os /m/ resultantes da RM2 venham a alimentar a regra RMl.

(10)

A) Sistema de sons~ 1 íngua Suruí

Na língua Suruí distinguimos 29 fonemasl, que se manifestam, fonéticamente, num número bem ma·ior de sons. Além destes, há alguns sons que so aparecem em palavras imitativas. Estes últimos descreveremos brevemente na parte O deste capítulo, junto com certas seqüências e distribuições excepcionais que só ocorrem em ideofones e palavras de origem imitativa.

Em l1nhas gerais, dividem-se os fonemas em silábicos e nao silábicos. Os silábicos se subdividem em nasais2 e ora·is, em. altos e não altos, em posteriores e não posteriores, e os posteriores em labiais3 e nao labiais. Os não s"ilábicos se subdividem em consonantais e nao consonantais e em contínuos (ou aproximantes4) c não contínuos (ou não dproximantes). Estes Últimos, quando forem consonantais, também se subdividem em nasais e orais. Tanto os consonantais contínuos como os nao contínuos (orais) podem ser vozeados ou não vozcados, c ambos podem ter alofones fricativos; no caso dos primeiros, se forem nao vozeados, os alofones fricativos podem até predominar, como acontece no caso do contínuo altos. Além disto temos, a nível fonético, alongamento de consoantes, ocorrência de vogais duplas dentro da sílaba, nasalização de não consonantais contínuos, perda de vozeamento em consoantes nao nasais, silabação do /r/ e perda de altura e postef'ioridade do glide lalJlal. Para os silábicos temos 3 graus de altura a nível fonético; Para os não silábicos temos 5 posiçôes, incluindo a do glotal: bilabial

[+lab], dental [+cor, -alt], palato-alveolar (adiantado) [-post, +alt],

(11)

pelo fato de ser [-cons]. Os alofones posteriores de /w/ sao [+lab) +post, +alt], isto e

,

lábio-velan~s.

o

/1/ é um lateral dental não

vozeado nao fricativo, embora tenha alofones total ou parei almente

fricativos; o

/y/

é

também não fricativo, mas tem alofones fricativos, •

como já mencionamos. O /r/ varia entre um f la~ com contato muito leve e

um aproximante retroflexo, sendo mais freqüentemente realizado como um

"flap'' sem contato. Sendo que este segmento se nasaliza como o

/w/

e o

/y/, em oposição ao segmento /1/ (que se realiza com contato central), nos parece ser razoável classificá-lo como nao consonantal.

Damos no apêndice A a matriz de fonemas e no apêndice B a de todas as variantes verificadas.

B) Considerações gerais

1)

Restrições na ocorrência de fonemas.

a) Os fonemas que seguem não ocorrem em final de sílaba:

i

I

as consoantes não vozeadas /p/, /t/, lei, /k/, /1/ e

lyl;

ii) as pàlatais vozeadas /j/ e /fi/;

iii) o lateral

111

e o glide labial

lwl.

b) Ocorrem em final de sílaba:

i) alofones vozeados e não vozeados de /b/, /d/, /g/ e

I

r

I;

ii) as nasais /m/, /n/ e /~/;

iii) os glides

111

e

lyl.

c) O aproximante /r/

s6

ocorre após segmento silábico;

d) Oclusivas orais e nasais finais de sílaha parecem ocorrer

(12)

só no fi111 de morfemas ou em ideofones e palavras de oriç1em imitativa com redupl i cação.

e)

O

fonema

/4/

parece ocorrer só em final de morfema, seguido ou não de consoante, ou diante de

/?/,

/r/, ou /y/ não finais, quando

estes forem seguidos de outro

/t/,

ou ainda diretamente antes de outro

/4/. Exemplos: /'tiy<b+à/

I'

pH<gi

/má'wHg/

/kà' ktr/ /'mHo+à/ Quando reduplicadas. Exemplos:

iy<r

'~{r/ houver /' j~g+hj~g+t/

/ntr'ntr+íyã;

- ) ['.!_iy<bà]

-) [' áw<r<]

- ) ['p;?fg] •

->

[mã'wHgJ • - ) [Kà'kir]

->

['mHoà] redupl i cação

->

[y<r

'yir] • •

' - )

['J<g<j.'g<]

->

[rl_~r; '_11_~ríyâ]

'espécie de pássaro' 'cachorro' ;nome próprio' 'espécie de pássaro' 'bonito, gostoso' 'escuro'

o

/4/

se repete nas sílabas

'urubu'

'tremer'

'espécie de fruta'

(13)

oclusivas orais vozeo.das nao ocorn:'rn precedidas de outras oclusivas

orais vozcadas, a não ser em ideofones e palavras de origem imitativa

com reduplicação.

g) Todos os segmentos [+cons] coronais e/ou altos nao posteriores são adiantados, isto é, são pronunciados com a língua junto

aos dentes superiores para os não altos, e na região alveolar para os altos.

Exemplos:

/àn1't1/ - ) [ó'.!'.lJ

'minha mãe'

it1+t1

'tí/

->

CF!:.

1 ,

!.

'1

'cest-inha dele'

!l'jígà#'llbà/

-)

[i

',i_Ígà'l1bà] 'lamparina ( ve·l a-chama)'

/pàn1lá'+tág/

• - )

[Pà_lã'i5<jl

'nossa gordura'

/tóy1't1/

->

[lóy'~l] 'nossa mãe'

J'nóóe!

->

[' nóó€] 'expressão de surpresa'

h) /g/ não pode ser pré-nasalizado.

2) Regra de redundância.

As oclusivas perdem o vozeamento diante do silêncio.

RRI)

[ -si 1

J

-cont -nas

-) [-voz]

; _ _ ## II. Fonologia

(14)

[x~mplos:

I'

í íb/

-) ['

íí~J 1

árvorQ'

I

I men~g/

->

['mele~] 'milho'

/óyày'ód/

- ) [óyày' óiJ

'esr)licie rle p5:;saro'

C) Regras fonológicas

Descrevemos abaixo d relação ex·istentt-~ entre cada fonema ou classr~

de fonemas e os sons pelos quais se manifesta, estabelecendo regras

expressas em ter·mos de traços fonét-icos.

1

I

Primeiramente,

se a penúltima sílaba de

uma palavra e

-acentuada e aberta, contendo so uma vogal, e se a última tem tom baixo (na seção 111-B descrevemos o que conhecemos a respeito de acento e tom), a consoante que inicia a ~ltima sílaba

é

alongada. A regra

fonolôg·ica 1 (RFl) dá conta deste f{"!nomeno.

[ J [

~j

RF1) (C) vl V

[-sil] ·-) [>longo]

I

$

I _ _

#(#) +acento -ALT Exernplos: /'kánfd - ) [' ká_Jl_:É] '(alguém) o quer'

/ílb+'kátà/

- )

[i

i~' ká_t:_: à] 'cortar pau. árvore'

/'wà1ed/

-)

['wã.!._:éiJ 'mulher'

/''i+wà/

-) ['iw:à]

'comê-lo'

/'béyà/ - ) [' béy:

à]

'vovó (voe)'

/'máoà/

- )

['mâ

0: à]

'fazer'

/'cápê/

- ) ['~áp:É] ' 1 i nh a para pesca'

(15)

vozecnm:nto em final de sílaba, o.ntes de consoante nao vozeada na mesma paLwrô, norrnalrnente composta de dois morfemas, isto

é,

intervindo

fron-teira +(ou

f-,

se houver encHtico), v. seção IV-A. Vejamos a regra RF2.

RFZ)

~[=~~;Jill

-cons]

-alt Exemplos: /ííb+'kátà/

/àrdá'nár+1ín/

I'

Qád+t ik ád/

/àmà'dóglte/

[ii~' ká!:_: à]

[õo'!.'áriÍiJ

['Qáil_ikáll]

.

[)mà'.<J.ó~!êJ

'cortar pau, árvore' 'meu cabelo'

'lua (sol-mãe(?)- ... )' (palavra

usada s6 pelo homem)

1 (tê: inceptivo)

3) As consoantes não contínuas /p/, /b/, Ir~! 1: /k/ opcionalmente

enfraquecem intervocal icamente, tornando-se contínuas {fonéticamentc

fricativas). A regra RF3 dá conta deste enfraquecimento.

RF3)

l

consj -nas -cor Exemplos: /ànõ·+·'pábl/ /'Qàb+éy/

I'

nárágááb/ /'~árbá'kákààb/ ([+cont])

I

[V]

[v

J

[à1:!_Õ'FJáb:l] - [a~à'páb:l] 'do outro lado'

[' oãoéy] - [' oâbéy] 'c abas'

('.!:!_ál'á§áá~J - ['.!.!_.árágááQ] 'espécie de roedor'

['oárba'xákàà~]

-

['Qárba'kákàà~J 'norne próprio

(chefe do dia)'

4) As oclusivas vozeadas /b/ e /d/, quando ocorrem no início da

(16)

palavra, são opciondllflente pr~-nr1salizadas. rara isto 111ontamos a regra

RF4.

RF4)

l

-son

J

-cont +voz

Exemplos:

/'dàg/ /'bágá/

-) ([+/-nas])

I##

-)

['!!flã~J

·

['!J.ã~J

'canivete'

- ) [' 111bágá] · ['bágá] 'acabou'

5) Vogais não nasais podem ser nasalizadas progressiva- e antec i patóri arnente.

a) Progressivamente a nasalização se observa quando a vogal

(ou as duas vogais homorgânicas) que segue(m) uma consoante nasal por

sua vez

ª

(são) seguida(s) de uma oclusiva vozeada seguida de outra

vogal, se a oclusiva não marca o final do morfema. A oclusiva por sua

vez

é

pré-nasalizada. As regras RF5 e RF6 dão conta disto.

RF5)

I

Gcon;J

[son

~

[v

J

-)

[tnas]

+voz

[v

J

+nas -con~

RF6)

lson

+voz

J

->

[>/-nas]

l[consj [

V

J

[v

J

-cont +nas +nas

Exemplos:

I

I mebe/ - )

[' menlbe]

'porco selvagem,

queixada'

/'màdl;/

->

['m~e] 'outro'

Os aproximantes /y/ e /r/, quando seguirem uma vogal nasal no fim

(17)

[_+nus

Exemplos:

-/l'kõr/

->

'kõr] 'gavião' ' [' mÕYJ /'mõy/

->

'mandioca'

A nasalização antecipatória, quando e iniciada por consoante, norlllidmente não afeta mais do que uma vogal, afetando também um

aproximante nao silábico que esteja entre a consoante iniciadora e a

vogal afetada; além disso, ela

é

ma·is fraca do que a iniciada por vogal.

Esta continua afetando quaisquer segmentos que nao a bloqueiem, ou seja,

os [-cons]6, vindo a parar somente quando encontra um segmento

bloqueador, ou seja [+cons] (que não seja nasal). As regras RF8 e RF9

dão conta deste caso.

RF~)

([ J)

-s ll [+si

l]

-cons

->

[+nos]

I_

(-silJ

l+nas

ExeHipl os: /mõf+'lín/ - ) [mõ

'lÍ!'J

'folha' '

(ar '1náéy/

->

[ãr'máéy] 'espécie de abelha'

/kõrà' náb/

->

[kõrâ

·~á~]

'avião' RF9)

l

-consJ

+cont

-) [+nas]

I_

[

+si

+nasj

ll

Condição: recursiva até encontrar S~!Jmento [+cons] ou # Exemplos:

'eu falo'

(18)

1'

bàn;

/'kóyã/

.

/enrwe'

tígá/ /pànt'1Ô/

->

['b~ri]

- >

['ko.Y§J

->

[êõê'!:_ígii] 'nome próprio' 'remo'

'(algu~rn) conhpceu (encontrou) você'

'nosso cunhado'

ô) O segmento /r/, antes de pausu pode, opcionalmente, ter soltu1·a vocálica. Formalizamos a variação na regra RFlO.

R F! O

I

~-consJ

+son +cont +cor Exemplos: /1'kõr/ /ônt'lír/ •

->

I

[-/+sil]

I

I

## - )

[i'kiÍr]

'gavião'

- ) ['íích~J

-

['í-í~Er]

'água (em

vasilha)'

- ) [à'_lírii>J ~ [à'_l_ír] 'meu sangue'

7) Os aproximantes assil&bicos laterais e altos nao labiais variam qu\lnto ao seu gr·au de fricção, chegando a ter alofones Fricativos purns, os de valor fricativo 2, dlén dos de v,llor O, que sao aproxirnantes puros, e l, que tem fricçJo parcial ou intermediária. Esta variação se aplica livremente aos aproximantes que ocorrem no início da sílaba, quanrlo não são finais de morfcHJa. Formctlizamo·; isto na n~gra RFll. RFll

I

-si l

~

+cont

-lab

+ 1 a t

{'alt

'J

{

[Ofric]}/

-) [lfric]

$

[2fric]

X

(19)

Exemplos:

/)Õ'bó/

->

[Gà' bó]

-

[GJó'bó]

-

[là 'bóJ

'cobra' /mÕ7+'1ín/

->

[mà'lfé!J

-

Unà 'Glf!iJ

-

[mà 'G{_nJ

'folha'

/ànt'léràd/

->

[o'

]_éràQ]

[9'

BéràiJ

'meu neto'

/ànt'

J

ánà/

->

@'sán:à]

[9

'8_!_â.ll_: à]

-

'lá~:

à]

'meu primo paralelo'

Jrlr'x'r/

->

Q''r

'r'"J

-

(Xlr' fÍr]

-

[S_lr

'Jír]

'urubu'

• •

I'

yêy+à/

->

['lê.Yà]

[' yê.Yà]

-

[' yêyà]

'piranha'

/'wálà/

• -)

[' wáGàJ

-

[' wáGlà]

-

['wálà]

'anta'

8} O aproximante assilábico labial tem variantes condicionadas pelo ambiente. Depois da vogal /a/ e antes de /e/ no início do morfema,

ou antes de /o/ no início da palavra, ele se torna levemente fr·icativo.

Entre duas vogais [-alt, -post], no início do morfema~ ele perde os

traços [+alt] e [+post].

A

regra

RF12 dá

conta disto.

RFl2)

[-alt

J

[ v

[ v

J

[''i ll

-alt

+

-alt

-post -post -post

+cont

->

v

J

[ v

j

+l ab

J

-alt

-alt

[!f

ri c]

+post

+

(+post)

- l

ab

---

(+ l

ab) # Exemplos:

/à+'wéy/ -) ['a'~éyJ 'ele toma banho'

/~+'wéy/ - ) []e ·~éy] 'voe?: toma banho' /à+wê'bá/

->

[a~e'

bá]

'ele está inchado1

(20)

I e+viê I b á/

-->

[eüc'IJ5]

- ) ['wóbá]

I 'wób5/ 'ventoso'

9) Ao contrário de Bontkes e Bontkes (1978), consideramos a

oclusiva glotal corno Ulll elemento distintivo na língua Suruí, pois,

ernbora sendo el i111inável (por regra) na maior i a dos ,11nbientes em que ocorre superficialmente, ela influi em certos processos como elemento bloqueador, constituindo-se assim em fonema dist'into na ~strutura profunda?. Ocorre em várias situações, entre outras separando duas

vogais iguais do mesmo tom, em palavras dissil ábicas. Quando estas palavras são combinadas com outras que as seguem em locuções, a oclusiva glotal se perde. Formulamos para isto a regra RF13.

RF13)

[-conJ

+post -dlt

-) 0

I

[p~ntJ

__ _

~tom

j

(i)

l

~torn

"'P~nto]

I X

Exemplo:

/'pê?êg/

- >

['mêlêg]

• 'milho'

Colocamos na regra como opçao a fl'Onteira

#,

pois a mesma regra se aplica quando o pronome clítico /tá1/ precede verbos ou substantivos iniciados em /á/~ tenha esta vogal tom alto inerente ou adquirido por

regra (v. seção !VB-5bv e 5c).

Exemplos:

(21)

/t.5lt'àuà/

-) ['_t_55_cl_ú]

'ccstct rleles1

Entre vogais não homorgânicas a oclusiva glotal s~ perde

opcional1nente. Para isto serve a reyra

RF14.

RFI4)

r-cont1

+post

··Jlt - ) (0)

I

[~~J

Exemplos:

- ) [' ólEI'] · [' óei'] 'eu' (pronome I i vre) /'ól'en/

/'pàlen/ - ) ['pãléi'] · ['pâei'] 'nós [+I +2]' (pronome

livre)

Quando entre vogais homorgânicas de tom idé.ntico d glotal

é

perdida, desaparece também a divisão silábica, lsto é, as duas sí1abas se fumlern numa só (v. seção Ill.A). A regra RF15 dá conta disto.

Rfl5)

$

->

Exemplos:

0

I

[p~ntJ

@tom

J

({'}) l

+ C([Jünto f)tom _

v

J

/õ+$'pêS'Ceg#$'kày#$lá$kã/ - ) [à$p€€$''~áy$á~\d] 'vou plantar mc:u

/'pe$leg#$'kãy/ 'milho tostado'

milho'

Esta regra serve também para vogais l1omorgânicas cont{guas

diferentes das que surgem pela elisão da glotal, ou seja, as que Ja

..

se acham contíguas na estrutura profundn e as que surgem pela el i são do /n/

e/ou pela assimilação das vogais iniciais de verbus e substantivos corn

(22)

as voguis dos pronoHI(.;S proclíLicos ou dos pn:fixos pessoais (v. seçao

IVB-5bi e i i e 5c).

Exemplos:

/õnl$'á$kàr/

->

['óó$kàt·J '(alguém) me morde'

'

/e+Sà! ·

ií!

ã/

->

é$ 'J.i!ã] 'você espirra'

I'

í$íb/

->

['íí~J 'árvore'

lO) O fonema /e/ se realiza como [e] ou [e] e, diante de segmento

nasal, como

[ê]

ou [E]. (Note-se que diante de# ou consoante não nasal,

quando o ambiente não pede a aplicação da regra RF5, [ê] é realização do

fonema nasal /ê/.)

Exemplos:

/'élen/

->

['élê.ri] 'você' (pronome livre)

/ênl'kày/

->

[hây]

'para você'

/é+'wéy/

->

[€

'v

éyJ 'você toma banho' /ên#·' t 1 I - )

[é'

ni] 'tua mãe'

/'kéké~/

-)

[' kék€~ 'lagartixa'

/'f!_n-f I 1 érég/

->

[E '_lúé~J 'tua roupa, pele'

O) ~_f}_q_~~~ dos j__c!~~f_~ r:_ pa!.?.XE.ª-s_ ~ _Q_t_j_gem .j~l!_i_tativC!_

Até aqui temos descrito a fonologia do Surul sern incluir os idtofones e palavras de ori9ern ·inlitativa. Ndo podemos~ obviamente, dar urna descrição completa dos ideofones c palavras de origem imitativd,

(23)

pelo prÓprio caráter destes e por causa do conhecimento 1 imitado que

temos da língua Surui. Mesmo

assi1n

1

há certos fenômenos que podem ser

descritos como desvios da fonologia "normal11 da língua, como por ex~mplo seqUências de sons não permitidas a não ser nos ideofones e palavras de

origem imitativa, ou ocorrência de sons em ambientes diferentes do "normal'', ou mesmo de certos sons que nao fazern parte do sistema fonológico 11normal'' da língua. O sistema fonológico normal é a parte da

fonologia

que pode ser descrita sistematicamente, sem que haja necessidade de se abrir muitas exceções defin-idas em função de classes

lexicais particulares.

1) Vejamos em primeiro lugar as seqüências:

a) Nasal mais consoante não vozeada parece não ocorrer a não ser em ideofones ou palavras de origem im-itativa

redupl i cação. formados Exemplos: /'1ín'yi'ná/ I' tÓI) I tÓQá/

->

['lí"'-'-Fn_áJ

->

['!_Ó~'!_ó9áJ 1 aspirar' (idcofone) 'bater com rnão ele p ll ão'

por

( ideofone)

'espécie de formiga'

b) O mesmo acontece com seqüências de oclusivas sonoras.

(24)

Exemplos: /'gi"d'g~dá/

I'

btg' btgá/

->

['gti'gt_ciá] - ) ['btg'btgá] 'beber' (ideofone) 'espécie de nambu'

2) Parece ser so nestes tipos de palavras também, que o

/4/

aparece em sílaba que não seja a última do morfema ou seguido de (!y/,

/?/ ou /r/ mais) outro /4/.

Exemplos (além dos dados acima):

/'mt~'mt~á/

[P 74:t'4g]

- ó

- ) ['mt~'m4~á] 'pestanejar' (ideofone)

'som de matar tatu'

3) Além disto, há sons que não fazem parte do ':iistema fonológico

da 1 íngua. Exemplos: @lu: ot]

Qj

fi

MJ

[pl4:tl4g] - o (i.'? i'?

[Hnt]

[i•IOilO?.il] - +++++

'som de algo caindo'

'imitação de porcos'

'som de matar Latu' 'grito de porco'

(25)

Nu L as

l. Consideramos como fonemas distintos, 'l.lém dos descritos por Wi"llem e Carolyn Bontkes (1978), a oclusiva glotal c JS vogais nasais,

considerando, portanto, que o traço nasal das voçJais, quando não

resultante de regra,

é

caracterfstica inerente destas.

2. Usamos este termo para as vogais subjacenl,ernente nasais; há também vogais nasal izadas por regn., conforme veremos rnais ad i Jnte.

3. Preferirnos usar o traço [labia1] para distinguir /o/ das outras vogais, por este traço nos ser útil também na descrição das consoantes e de certos fatos relacionados a estas.

4. Aproveitamos a idéia de ladefoged (1971) de juntar vogais, l-íquidos e glides numa classe chamada de 11

aproximantes11

, por r.sta nos

ser útil na desuição de certos fenômenos que ocorrem na língua Suruí. Os aproximantes têm como traço distintivo [+cont], pois todos os

segmentos subjacentemente contínuos do Suruí são aproximantes.

5. O fonema /y/ tem um comport.alllcnto um tant.o :1mbíguo: d<::: Uill lado

se al inlla com os segmentos [-cons] /w/, /r/ e /?/ ao não bloquear u nasalização antecipatória, sendo, pelo contrário, afE~tado por ela; dn outro 1 ado se agrupa corn os seg111entos [~cons]

/lf,

/~/ e /1/ na distribuição dos seus alofones, na palatal·ização dos laterais e na sonorantização dos a.proxin1antcs rlüü vozeados. Este fone1na tem duas

origens, como vel"ificamos ao comp,n·ar·1110S palaVI"US que o contêrn com suas correspondentes em Cinta-Larga (v. capítulo V, e nota 1 do apêndice A).

6. O fonemJ. /?/ está incluído rwsta classe, como deve estar, pois embor'a não seja possível nas,11 iz;í-lo, pela configuração do aparelho fonador, a nasalização não é blo(Jucada ao encontrá-lo.

(26)

I. E possível que a orJusivJ c~lolill venha o. perder sua distintividade, viTJdo a fronteira silábica$ il tomar o seu luqar; por

enquanto, porem, a descrição dos fenômenos e ma1s viável quando a aceitamos corno fonema distinto, quando interna a morfemas, no fim de

/Lá?/ e outr·os morfemas que nao rrovocam o vozeamento de consoantes

iniciais de morfemas com os quais venham a formar palavras compostas, e

no início de morfemas monossilábicos e certos outros morfemas diante de vogais. Excluímos as glotais usadas para enfatizar divisão de sílabas e

as iniciais e finais de sentenças ou 11

(27)

A) Padrões silábicos profundos e superficiais; justificação para

eliminação~ fronteira silábica$

Verificamos que na lfngua Suruf certas sflabas sâo mais longas que outras. Em muitos casos se comprova que estas se originam de duas sílabas que se fundem numa só pela assimilação de vogals e/ou pela elisão da consoante que as separa na estrutura profunda. Sendo assim, e

considerando que:

1) se postulássemos vogais longas na estrutura profunda teríamos 39 fonemas em lugar de 29 e deveríamos introduzir o traço [+longo] (ou talvez [+tenso]) na descrição fonêmica;

2) se as postulássemos na estrutura superficial, teríamos maior número de fones e maior número de regras para dar as variações;

3) se postulássemos sÍlabas longas (de duas vogais) na estrutura profunda, cedamos oito padrões silábicos em lugar dos quatro que damos abaixo;

postulamos que estas sílabas longas contêm seqüGnci as de duas vogais que na estrutura profunda pertencem a duas sfl abas. Temos então, na estrutura profunda, padrões silábicos CV, V, CVC e VC, dos quais se originam as sílabas superficiais CVV, VV, CVVC e VVC por um processo de redução silábica que já vimos ser necessário no final do capítulo anterior (c f. RF15, na página 17 acima).

Quando um marcador de pessoo que termina em vogal na estrutura profunda ou depois da eliminação do /n/ (cf. RM13 adiante) é segu-ido de

!li inicial de tema que se assilaba (conforme RM15 acliante), a fronteira silábica

é

eliminada. A regra RF16 dá o resultado correto:

(28)

$

->

[v ] ----

{I}

Í:~~~'J

+

L~alt

RF\6)

Exemplos:

/õnl$'í$k1n/

- > ['

Óy$k 1é'J '(alguém) me vê'

- >

[ey$,

káág]

'dente de você'

- > ['

õy$i_õ] 'meu próprio n:trato'

B) Tom.~ aceQ.tuação; considet:_aÇÕ<:.~ ~~~!_r!:._~.

1) A língua Suruí

é

tonal. Há poucas palavras que se distinguem entre si somente pelo tom, mas mesmo assim existe a necessidade de se

considerar o tom como uma característica importante desta língua.

Na superfície percebemos quatro tons que, na estrutura profunda, se

reduzem a dois. Fonét'icamente temos tom extra-alto [~], alto

[1/],

médio

[V]

e baixo

[V]

corn os traços, [4ALT], [3ALT], [2ALT] e [lALT], n;spectivamente; podemos mostrar que esles tons resultam da açao da

ac<'ntuação sobre clois tons distintivos /V/ [+ALT] e

/VI

[-ALT]l a) Tom [+ALT] (alto),

Se considerJrmos como "normul" o tom dlto fonético [3ALT], que é o

que ocorre ern sílabas acentuadas em que não se percebe interferência dos padrões intonacionais, podemos dizer que há duas situações em que o tom alto

é

alterado: sua altura

é

maior do que a normal (extra-alto) quando a sílaba que o levar tern acento do·is, a não ser que esta sílaba venha seguida de pausa, caso em que a elevação muitas vezes nao se observa, pois parece ser compensada rwl a queda da entoação que ocorre em certas oraç6es2. Quando a sflaba (átonJ) que levar o tom alto preceder outra alta que for acentuada, o tom c' allaixado para médio. Sílabas tônicac; com acenlo s"irnples e pós-tônicas a·\ tas precedidas pül' tônica ou outra

(29)

pós-tônica alta se mantê111 nu norma, isto c, simplesment~ altas. As regras RTl e RT2 dâo conla Jestas vat·iaç6es, e a regt·a RT3 cstabelrc~ a

norma. (ac "' acento)

RTl)

[+ALT]

->

[4ALT]

I

[2

a c

J

[+ALTJ

->

[2ALT]

I

RT2)

[Oac]

RT3)

[+Al T]

- ) [3AL

lJ

Exemplos:

/Õn#''!àb#l'kÔr#'káne/ - )

[ó'_l:õb'ikÚ"Qã_t:~_:€]

'meu pai quer um gavião'

/ká'lér/

-) [kã'_l_ér]

'borbolr:;ta'

/'párá/ - ) ['pár5J 'nome próprio'

b) Tom

[-ALT]

(baixo).

Este se manifesta como alto [3ALT] quando a sílaba em que ocorre

tem acento dois (e não

é

seguidcl de pausa); quando tem acento urn o t011 se manifesta como médio [2AL

T]

e quu~1tlo nJo é acentuada, ele ocorre com~) baixo

[1AL1J.

Neste caso acha:nos n1clhor ·dizer qul\ a norma é ncw

acentuada norque, quando houvcl' uma ou rnais sí1abr1s de tom alto numd palavra, normalmente é esta ou Ull!J destas que leva o acent0, a nao ser QI!A seja Uln procl ítlco. As regr<Js RT4 e RTS dão conta elas v ar i ações, c a

l-egra

rn6

estabelece a norn1a.

(30)

RT~) [-AL T]

->

RT5) [-AL T]

->

RT6) [-~L T] - ) Exemplos:

1,

i

ík 1 b#, k át

ãn

ák

â;

I I mebe/ /màÕ'bÕ/ 2) Acento

[JALT]

I

[zacJ

[2AL

T]

I

llac]

[lAL T]

I

[Oac]

- ) ['j_ík1b~ã"_t:_á~á'kã] 'vou cortar borracha'

->

['membê]

-) Qnôõm'

bõ]

- ) [lí'bõr]

'porco selvagem, queixada'

'cachoeira'

'coati'

Embora, a nível de palavra, o acento norma1mente coincida com

sílaba de tom alto, a acentuação

é

significativa na língua Suruí, não só

porque nem sempre esta coincidêncid se verifica, ou porque há palavras

que não têm nenhuma ou têm mais do que uma sílaba de tom alto, ou ainda porque o acento influi na altura superficial do tom, mas também porque,

além de não haver corno predizer onde cairá o acento nestas

circunstâncias, o acento de uma palavra pode causar- o deslocamento do

acento de outra pari1 que se obb:nha, dentro de certos tipos de sintagmas. um rltrno de alternância de sílabas ,Kcntuadas e não acentuadas. Além disto, há cnclíticos que causam a transferência do acento do verbo para <1 última sílJba deste, e parece também haver Utn

reajuste do acento quando o predicado for composto de dois verbos, assim

co1no Cll\ verbo:; id~ofôn icos que vcn1 seguidos de sujeito mais tempo.

(31)

sílabas tônicas têm acento um [lac], a nau ser quando constituem o

núcleo fonológico da sentença, caso em que o acento é

de

grau 2 [2ac]. Vejamos a regra RAl.

RAl)

[lac]

->

[Zac] /

[nuc.fonol.da sentença]

O núcleo fonológico da sentença co incide com a sílaba acentuada do verbo ou do ideofone em função de predicado; mas, se o verbo for seguido por um encl ítico ou o ideofone for seguido por sujeito independente com marcador de tempo, o acento se desloca para a última sílaba do verbo ou

ideofone (cf.b.ii adiante).

Exemplos:

/õn#'kó#e'mà#ê+káá#mã/ - ) [o'oóê'mãê11káámã] 'vá falar por mim'

/'g4"dá#õf'jé/ - ) [g~11dâô'jé.J 'eu engoli'

/à+ma+HJà'kááb#'kàyflá'kâ/ - ) [ômàmà'káá~11káyá'kd] 'vou plantar meu

amendoim'

Quando o verbo tem mais de duas sílabas, as sílabas nao contíguas à última mantêm seu acento lexical, de modo que verbos cujo acento lexical se acha na antepenúltima ou na pré-antepenúltima, exibem dois acentos quando seguidos por encl íticos, sendo o Último deles o núcleo fonológ·ico da sentença, conforme veremos em b.ii adiante.

(32)

Exemplos:

/à+' kér#bé#' káne+' yíth#l ádé#à' ní#

'é/ -)

[o'

kÉré' k(ln: Erf11Hrá' dãné] 'estou com muito sono'

a) Quanto

à

posição da sílabJ acentuada na palavra, esta parece ser livre, com talvez uma única condição para acentuação nas

sílabas finais de tom baixo na presença de outras (não proclíticas) de

tom alto. Estas parecem só poder ser acentuadas se forem sílabas fortes, isto e, se forem longas ou fechadas. Se o acento provier dos deslocamentos acima citados, que descreveremos mais a fundo logo abaixo,

esta condição não

é

necessária.

Exemplos:

/'íícer/

->

[' íís_ér]

'água (em vasilha)' /kil' lá r/

->

[kã'lár] 'urara'

ití'bàr/

->

Ltí'

bõr] 'coat ·i' • /'wétlect/

->

['wã.!_:é.'J] 'mulher' /l'kõr/

->

[i'

kõr] 'gavi5o'

I '

l

érég/

->

[' l érég] 'roupa, pE: l t~' -

.

/n1àà'

bÕ/

->

[mÔÔm' bô] 'cachoeira' /'mókàbà/

->

[' mókàbà] 'banana' /mà'kóóbà/

->

[mà'kóóbà] 'coruja'

/mày,yí' tér

I

->

[màyy1'_tér] 'mais, de novo'

(33)

/ná'LJ(;+kàd/

->

~fi

111

'békàsl]

'f a cão'

/il'bítákór/

->

['a'bEákór]

'espécie rle llve' /' álà+'kárbà/

->

['á_l_à'kárbá]

'lâmpada (olho-dia)'

b) O acento dois pertence Rs unidades sintáticas maiores, mais específicamente às sentenças. Como a sintaxe da lÍr1gua Suruí foi pouco

estudada e ainda nao está descrita, podemos dar aqui só algumas noçoes

sobre o que acontece nessas unidades. mais específicamente sobre os deslocamentos de acento observados.

i) Reajuste do acento por considerações de ritmo.

Dentro do sintagma verbal (OV ou V-partícula-V), dentro dos

sintagmas genitivos e em verbos intensificados com /'yít~r/- /'ít~r/,

h5 um reajuste do ar:ento para estabelecer un1 ritmo de alternância de

sílabas acentuadas e não acentuadas, que não u·l trapassa os 1 imitE:~s dos sintagrnas em que se verificam. A regra RA2 dá o resultado correto.

Ri\2

I

/(~

[Sinl.Verbal] $

[[-"'J]

$

[o<ac]~

l

[[oac]$[-uac]J - ) [[-c<ac]$[otac]J

~Sint.Gcnitivo

J

r

[-o<ac] $[o<ac]J +

l

LL

int.Verb.Jnt.J [lnt.Jj onde, se oo: for 1, _()1..

é

O e vice-versa.

Exemplos:

/'rnárntg#'lérég#mà1

?"à/ -)

['rnámig_lé'régà11

â]

'a criança pega a roupa'

/à+'tl#'íkln#bé#'kánC/ - ) [b'.!__lí'k"f~é"ka1!_:E] 'que·1·o ver minha mãe' /kà' kfr+ítCr/

/'m!;tJê#l 'kááb/

III. Sílaba

~) [kà'ktrí'têr] 'muito gosto·;o'

(34)

Diante de enclíticos, que parecem poder ser considerados como marcadores de aspecto ap6s um verbo, 12 diante do V1~rbo auxiliar

-jé

que

segue um ideofonc o acento do verbo ou do ideofone se transfere para sua Jltima sílaba. A r·egra RA3 dá os restJltados que devemos obter, levando em consideração o que mencionillnos acima a respeito dos verbos

polissilábicos.

RA3)

[[!a c]}

(X) $[0ac] - )

[üac]

(X) [üac] $ [lac]

/r

Verb-õ

l

L(i deof)J

f

l(# f Asp } Aux) Exemplos:

/'j·íklblf'kátàJ!lákâ/ - ) ['l_íklbQã11.!_.álá'kã] 'vou

cortar borracha'

/rnàà'

rbgJ#àf'

jé/

- ) [rnààrà"gáÕ'jeJ 'eu andei mancando' /õt' t 'i H' ík 'i n#bé#' k áne+ '.yíter:ll ádé#d' ní#é/ - )

[à'_!_lí'k~!!_É'ká_Q_:Eyl''l._érá'_g_ã_Q_é] 'queria muito ver minha mãe'

Notas:

1. Usamos letrJs maiúsculas para distinguit" [ALT] referente ao tom

de [a1t] r·eferente à qualidade das vogais ou consoantes.

2. A entoação ainda não pôJe ser estudadc-~ (~1n cletalhe, razC!o po(

que seus efeitos n'ão serão discutidos neste trabalho. Em linhas gerais,

nas sentenças afirmativas e negativas se percebe uma queda de entoação,

c nas intGrrogativas e ·imperativas urna elcvaçJo, se1nprc nu última sílabd.

(35)

A) Fronteiras

Verificamos a necessidade de considerar tres tipos de fronteiras sintáticas com conseqüências para a fonologia. São estas:

a)

A

fronteira de morfema entre morfemas que formam uma palavra, em combinações de prefixo e 1Aaíz (nominal ou verbal), raíz (nominal) e raíz (nominal ou verbal), estas últimas quando consagradas pelo uso como compostasl, e raíz (nominal ou verbal) e sufixo, fronteira esta representada pelo sinal +.

b)

A

fronteira de clítico entre pronome proclítico e verbo ou substantivo, e entre verbo e marcador de aspecto enclítico, representada

por

1.

d)

A

fronteira de palavra entre palavras ou entre pausa e palavra, representada por#, respectivamente##.

Verificamos que o objeto do verbo transitivo corresponde ao possuídor não reflexivo do substantivo, enquanto o sujeito do verbo intransitivo corresponde ao possu·idor reflexivo. Para simplificar, caracterizamos tanto o verbo intransitivo como o substantivo possuído reflexiva1nente com o traço [+refl] e o verbo transitivo tanto como o substantivo possuído não reflexivamente, com o traç.o [-refl].

B) Mudanças Morfofonêmicas

Observamos que entre palavras, entre partes de palavras compostas e entre clítico ou prefixo e verbo ou substantivo. ou mesmo dentro de certos morfemas, ocorrem mudanças morfofonêmicils como elisão,

(36)

neutral izaç:ão de contraste f()rl(~tico ~~rlt1·e fonernac,, e outras. Dcunus abaixo urna descrição das mudrmcas observaclct~-i.

1) Ern limite de palavras (fronteira#).

a) Elisâo de labiais e aproximantes não labiais.

Palavras que iniciam com /rn/ ou

/w/

perdem esta consoante inicial f1Uando seguem palavras terminadas em elemento assilábico vozeado. O mesmo acontece com /1/

e /y/,

pelo rnenos quando seguirem /r/. /n/, ou

/y/. Não temos exemplos destes fonernas seguindo outras consoantes, a não ser em ideofones ou derivações. O /b/ da partícula /be/ que liga dois verbos numa locução verbal também desaparece nas 111esr11aS circunstâncias. A regra RMl dá conta desta el i são.

RIH)~

-sil

l

- l ab +voz

J

á-son5)

Exemplos: /'léréa#mà'?ã/

.

"

I' riép {b#wá/ I 1 +' tór#mà' (

ã/

i

x

1-sil]

{#}

L+voz

~

[+acento]

Q_e'

r€gà" lã] ['nÉpíb5J '

[i

'_~órÕ11?ã] ((e# [Verbo])) (+cont) 'pegcn· roupa' 'Nhepib (voe)' 'levar nas costas' /wà' lóy#' kbrfl ák ~/ [wà'J..óy"kár-á'l<'â] 'vou procurar tatu'

' '

1

I'

mCbf::+' 1 í n# 'yáb/

' ['mEIIlbê'li~ál.?] 'flecha e/pelo de porco' /Qà'tày#,á/

/à+'pê7êg#'kàyf'lákâ/ /à+'kér#bé#'kánê/

[9à

'_l:õyá] 'Gatoy

I

voe)'

[àpEi"l)áyá'Y].] 'vou plantar meu milho'

[ôkéré" k ái_1:

€]

'quero dormir'

I.J) Sonorantização.

l) Consoantes não vozeadas inici<Jis se: 'ionotantizarn depois

(37)

RH2) Í+cons] - ) [•son]

L-voz

Exemplos: /'wàléd#'plg/

->

I

Gcon;-j l·J·voz

j

# ['wâlêdmlg]

--

.

'menina (mulher-pequena)'

/'làb#'lín/

->

['_l ãb '_l

ir!]

'palha para teto (casa-cabelo)'

/mà'kór#'kàd/

->

[jnà' kÓrrJà!JJ 'taquaral'

/o+má'lód#'tír/

->

[o' rná_!_

ó~~~~ í

r]

'cozinhar mi nl1a comida' /'mààrn#'tég/ - )

Q11ààm'.:2_éi]

'larva de ca:;,tanheira'

/'lérég#yáb'áábl

• •

->

[l_é'

régyãb" ááÇ] 'rasgo na roupa'

ii) No caso das oclusivas, quando se tornam nasais de acordo com a RM2, a consoante vozeaJa que as precede pode, opcionalmente, se tornar nasal também. Vejamos como isto pode ser

formalizado na regra RM3. RM3) j+ con,;] L+voz

J

-)([+nas])

I

# j+consl L+nas

J

Exemplos: I I !)Óll# I káb/ - ) ['9Ó!ll'1Jál)] 'semente de algodão' /' jík]b#'kátà/ - ) [' jíklm11 Qâ.!_:

à]

'cortar borracha'

iii) Quando a RM2 é aplicada a uma consoante que tiver ponto de articulação comum com a consoante precedente, a Rt~3 e obrigatória, e além disso as duas nasais homorgânicas se fundem numa só. FJrmalizamos isto na regra seguinte:

RM4) Í+nas

l -)

L!!!pontoj

IV. r~1orfofonologia

I

# í+nas

l

(38)

/'pê?"eg#'kh/ -) [méÉ'IJ~Y]

iv) Coisa sc:rnclhante parrcr po,_' r' ocorrer· ent-re /U/ c /1/.

Os exemplos que temos são só de n0111e~ próprios, porem~ e dever íamos achar outros para concluir que isto ocorre nonnalm,~nte. TentaUvamente, IIIDntJmos as regras HM3a e RJI'14a para acomodar ,_-sta possibilidade.

RV:3 a) r+consl

tvoz

J

IH-14a) [+son

J

e.;;ponto Bcont Exémplos: - ) ( [>son])

I ___

# [ +coeS] +su11

J

- )

0

1-

11

r

.

J

+son ~Xponto Bcont

.

- ) (Ínb'VÍl~il'IJá_!:E] 'no:r1e propl"l'}

--)

[~<i0.J_(;',Há~J 'non1e pl"tÍpr··io'

v) As consoa11tes nuo voz·~'dcias rJ l' palavras

pertenet:~ntes a classe A3 se sonorantiza1n quôndo prccec!idlJs de p2usa. A

n:gra IU·15 d5 conta disto:

R1·15) rtcon::l

l-voz

_j

-->

Exemplos: 4 I' k áó/ /t1'tí/ [+son]

I

->

['oáóJ

--) ['_}_Ér•;j]

->

[r:1'_~11

'rstaçãu SE~r_i:, ono'

(39)

/I '0 r~ a r d/ ' I

-)

[rJii'rá] 'ma to'

.

/pe'Lõ/

-)

Oné'

tõ] 'cesta qr-ande, simples' /'peleg/ - )

['melég]

.

.

'm i 1 h o'

Jt á·

békod/

-)

[!cã'"'békôcJ] 'facão'

I' 1 àb/

• - ) [l_ií~J 'c as a'

c) Pa-I a tal ização.

Quando uma palavra termina Bn /y/, a pa-lavra iniciadcl e•n consoante coronol que a seguir terá esta consoante mudada para a pala tal

con·espondente. Para isto montamos a regra R~16.

Rl~6)

['con1

+cor

->

[+alt]

I [

-sil-1

+a1t

j#

-post

. .

/mà'k3y#'nía/ - ) ~"Õ'kãy_ií_iQ] 'fumaça (fogo-fumaça)'

/l~à'lóyfl'tór#'I·Jérá/ - ) [wà'_!_óy"~Õré'rá] 'ctndur, carregando tatu nas costas'

/mà'káy#'llbà+'ób/ - ) Gnô'kãySlbõ'ó~J 'gasol {foqo-charna-vcnnelho)'

d) Elisâo de vogais.

Em velocidade normo.l de fula, quando há um l:ncontr·o de rluas vogais na fronteir·a entre duas paluvras, a pi'imeira dcst.:-1s vogais é elidida. Este fenomeno não deve ser confundido co111 a assimilaç~o dCC' vogais que ocorre entre prefixo ou clítico c verbo ou substant·ivo. Ali, a última vogal se torna homorgânica à pr·irneira, mas não se eli111inu, enquanto aqui a vogal desaparece se1n deixar vestígio. A regra RM7 d& conta deste fenomeno.

(40)

RM7)

[ v

J

- )

0

I

#

[v

J

Exemplos:

/kànà'tér#'én#kà#e+'tágÔ/ -) [kànà'.!_ÉréQE'_!.ágÔJ 'você está cansado?' /à+'jé#'íkày#é/ -) [õj'íkàyé] 'falei para ele'

/kà'kó#dé#à+'wérá#é/ -) (kà'kó~_à'wéré] 'Koko estava andando'

/'nán#'áte#l'ná#énf'kábí/ -) ['.Q.á~''ã.!_li!.ê'Qábn 'o que ele é de você?'

'o que é isto?'

/'nán#Á'iió+mà#l'ná/ -) C.!!.á.!:!_"fi:'.B_óml'!!.áJ 'o que

é

aquilo?'

2) Vozeamento em 1 imite de morfema (fronteira +).

Verificamos que entre rnorfemas que se juntam numc1 palavra ocorre o

vozeamento da consoante inicial do segunclo morfema, se o primeiro

terminar em vogal. Os exemplos 1nais clacos sao compostos do morfema /'là/ 'comida, coisa, lua, deus', com algum verbo ou substdntivo. Como

'

fonéticarnente sempre há uma oclusiva glotal em pal avr·as terminadas em vogal quando pronunciadas em isolê!mento, e corno nem sempre o vozeamento ocorre, postulamos uma glotal subjacente nas raízes nominais que nao provocam o vozeamento5. Isto parece em pelo menos um caso concordar com

o Guarani antigo. Por exemplo: /nà'(/ 'roça' em Suruí corresponde a /kog/ em Guarani antigo, e nenhuma. consoonte final está registrada no Tupinambá, que ta'lvez tivesse /ko?/ em vr~z de /ko/ (n•l epoc.a em que o Tupinambá foi registrado não se escrevia a glotal). A corresponliência normal entre Tupinambã e Guarani antigo é entre /k/ e /g/ finais, e o caso acima estava sendo considerado excepcional até agora (·informação pessoal de A.D. Rodrigues). A seguint,e regra dá contc1 do vozeamento:

(41)

RMS)

[ c

J

Exemplos: /'lÕ+'tàgá/ •

-)

[+voz]

I

[+sil]

[+ac]

-) [là'.<!_ãgá]

+ [+si l]

'bater no pil iio

(comida-/'là+'t'i!]á/

-) [lo '.<!_íoáJ

esmagar)' 'escrever (coisa-pintar)'

/'lô+'peb;

'

->

[ló'

bê~J 'nome próprio (coisa-pretcl)'

/' lÓ+'

llbó/

->

['lõ_l_1bó]

' • 'luar (lua-chama)'

/'kà+'tég/

->

[kà'.<!_éiJ

'larva de coco'

/' !á+'tág/

->

[lã'.<!_áiJ

'gordo

(fígado-go~do(?))'

1' là+' kánt:/

->

[lõ'gá"-:eJ

' 'estar com fome'

3) Elevação dentro da palavra, no diminutivo.

O diminutivo, na língua Suruí, se manifesta pelo traço l+altl, que

pode ser conferido a vogais e a consoantes coronais rJa altima sílaba de

verbos6 e substantivos, bem como ao enclítico que denota aspecto

incept'ivo. Podemos formalizar isto na regra RM9.

RM9)

Exemplos:?

[v

J

-) <[talt]) [+alt]

/$

~

#

[+if1minutivo]

/'ámàk5_y; ['âmàkây] 'moça' - ) /'ámàk~y/ ['ãmàk~y] 'moça pequena' /kà'kÓr/ [kà'kór] 'bonito, gostoso (algo grande)' {uso raro)-)

/kà'kir/ [kà'kir] 'bonito, gostoso'

/à'kà/ [a'kãJ 'matar (bater)' - ) /à'kt/ D1'klJ 'matar (animal pequeno)'

(42)

/à'Jãádlte/ [a'láá!_e] 'deitar-se' -) /à'lHcl/ti/ [à'licí_cli] 'deitar-se

I

algo pequeno)'

/yii'dag/ [yà'_ciá~] 'violcla' - ) /yà'jcíg/ [yà'j_1~] 'vcmelho'

/']à+'tír/ [là'.Qír] 'Sodir (nome próprio)' - ) /'~Ü+'jír/ [ià'l_-ír]

'Sodirzinha'B

4) Elisão da consoante coronal com menor tensão entre verbo e aspecto inceptivo.

a) Não diminutivo: o /d/ final e eliminado diante do /t/. A regra Rr~no dá conta disto.

RMlO)

[

+cor -nas

-contj

+voz Exemplos: I á' nóMte/ /à'lááMte/

->

- >

CS'.rl.

ó

lê]

->

[à'láál;_ê]

[

-conl

~ -nas +cor -voz 'por-se em pé' 'deitar-se'

b) Diminutivo: o /t/ muda para /c/ de acordo com d regra RM9.

Com isLo ele se torna menos tenso que o /d/ final do verbo, que entâo prevalece9. Veja!Tios a regra R~1ll:

R~l11)

r

-nas

conj

+cor +alt Exemplos: /á'1~óMti; /à' lHdlti/

->

/ [ conj

0

-nas i +cor +voz

- >

[5 '_ii.ó_cl

i]

--) [à'Hi_cii]

'por-se ern

(nenê) I

(43)

5) Em confronto com pronomes proclíticos e prefixos.

a) Os marcadores de pessoa: pronomes proclíticos e prefixos;

relações entre substantivos e verbos.

Nesta seção veremos o que acontece entre sujeito ou objeto e verbo,

e entre possuidor e possuÍdo. Para deixar isto bem claro, precisamos dar

o sistema de marcadores de pessoa como ocorre na estrutura profunda. Para verbos transitivos e substantivos possuídos não reflexivamente ten1os uma série de pronomes proclíticos que designam objeto e possuidor,

respectivamente. O marcador de 3a pessoa singular não e pronome, mas prefixo. Como os marcadores são idênticosl como também o comportamento dos substantivos

e

verbos, juntamos

caracterizamos pelo traço [-reflexivo], ou,

estes numa ''classe'' que abrevi adamente, [-ref'lJ. Para verbos intransitivos e substant·ivos possuídos reflexivamente, temos prefixos no singular e pronomes proclíticos no plural, designando sujeito e possuidor

Pelas razões citadas

reflexivo (idêntico ao sujeito), respectivamente. para [-refl] acima, juntamos os Últimos substantivos e verbos numa "classe" caracterizada pelo traço [+reflexivo], ou [+ref"l]. Além disto, temos evidências para postular uma distinção entre focalização c não focalização da 3a pessoa não só na forma dos pronomes proclíticos, corno também nos efeitos que produzem. Nas seçoes seguintes veremos m~is a respeito disto.

Damos abaixo o quadro dos marcadores de pessoa:

(44)

Mar c adores Pronomes Traços

Pessoas -Reflexivos +l~efl ex i vos ·independentes

la sing on à- 'à7E:n [+1]

2a sing en e-

'ê?ên

[+2]

3a

,,_,

'

1-,

r-·

0

à-

'yl?E:n

[+3]

la pl.incl pàn pan 'pà?ên [+1 +2]

la pl.excl tóy tõy 'tóy7ên [+1 +3]

2a pl mey

mêy

'méy7ên [+2 +3]

3a pl tál

'tá?ên

[t3 +3]

Podemos chamar os marcadores

à-, ê-,

àn, ên, pàn, de [-3foc], pois a 3a pessoa ou está ausente ou fora de foco. Podemos incluir ainda ~1-, 1-, y-, 0, marcadores de 3a pessoa [-refl], porque mesmo que a 3a pessoa

esteja necessariamente presente, neste Cdso ela não está em foco. Por outro lado, podemos chamar tày, mêy, tóy, méy, tá?,

J-,

de [+3foc], pois

a 3a pessoa está sempre presente e em foco.

b) Mudanças a nível segmental.

i) Depois de [+1], [+2] e [+1 +2], [-reFI], e [+1 +1], [+refI] .

Na superfície temos o, e, pa, mas como estE~s pronomes provocam mudanças idênticas às produzidos pela regra RM2, postulamos na estrutura profunda Õn,

en,

pàn, e aplicamos a regra RM12, seme-lhante à citada, mas que se aplica s6 quando há nasal cliante da fronteira de clitico.

RM12)

[+cons]

-voz

-)

I

r

conJ ,

[+son] r

(45)

f'll1~111 Uisto, d~ve111us eliminJr a n,1sal, o q1Je puUl ser forrn,Jlizado pela

reyra

RM13. RM13)

[+consl

+nas - ) +cor Exemplos:

/ànl'pór/

/'énl'ti/

/pànl'tír/

/enl'káne/

/ànl'

J

ánà/

/énl'yígàyéd/

/pànl'pí/

->

->

->

->

- )

->

->

I

{

[lerbo]}

- - -

1

[Subst]

[à'mór]

'meu irmão'

[é'

_n,1]

'tua mãe'

[Pà'_n,ír]

'estamos com calor (lit. (algo)

[e'oá_n,:e]

[à'_!_ á_n,:

à]

'yíqàyé_ç]

[Pà

'rm] '(alguém) te quer' 'meu primo' 'teu cônjuqe'

--'estarnos com medo'

nos cozinha)'

Quando o verbo ou o substantivo ·inicia com vogal, a regra RM13 se

aplica normalmente, ap6s o que, quanllo a vogal inicial for /a;lü, esta

vogal se torna homorgânica da vogal do pronome. Aplicamos a regra Rt-114. Rl•il4)

[

- alt

>po~tj

- 1 ab

->

[~ponto]

/(C)

$ X Exemplos: /õnf-' ákàr/

->

['óókàr]

'(alguém) me mordeu'

/enl'àkà/

->

[' éék

à]

'(alguém) mata

(bate

em) você'

/pànl'àdó/

->

[' pil5crõJ 'nossn{s) ccsto(s)'

(46)

Quando a vogJl inicial for /i/10, c~ti1 vogal se; assilaba nas 1n1::'~mas

circunstâncias.

A

regra

RM15 dã

contd

disto.

R~il5)

[ V -post

J

+alt

- ) [-sil]/C)[VJ

11

t-

$ X Exemplos: /àn#'lkln/

->

['óykÍ_n]

'(alguém) lné vê'

/ênll 'kááb/

-)

[ey'kSá~J 'teu dente'

/pàn#'íyõ/

-) [' páy~b] 'nossa sombra, imagem'

ii) Depois de[+!], [+2] e [+3], [+refl].

Compa~·ando o que foi descrito na primeira parte da seção i) com o

que acontece no [+refl] ~ vemos que na la e 2a pessoas do sinqular não há mudanç~. Por isto, no caso destas, podemos postular o-, c- pat'a a

representação básica, crnno na superfície. Estes mar·cadores, mais 1 da 3a

pessou a- são considerados prefixos também pelu ausência de efeitos sobre o tom dos verbos e substantivos, como veremos (1diante.

Exemplos:

- )

[õ'

tl"k5n:É]

-

-

'eu quero minhu rnãe'

;e+pà'kà/

->

[Epà'kõ] 'você acorda'

/à+'~ígàyêcJ#l'cá/ - ) [a'líg'Jyêil'~á] 'ele (ela) corn seu cônjuqe'

Os elementos [+refl] iniciados ern /a/ ou /i/ que seguirem os prefixos

[+!], [+2]

e

['3]

sofr,,m regras RM14 e Rl115, que aqui

(47)

I

Rl~l4a) - ) [«pontoy#

(C)[ V

'j

{I}

t<:ponto + [-ac] $

X

RMI5a) [ V

J

-post +alt / (C)

[V]

[I}

- ) [-sil] [-ac] + 11 $

X

Exemplos:

/õ+à'rl/

-)

[àà'ri]

'estou com preguiça'

/e+

à

'pàà/ - )

[e

e'

pããJ

'você esqueceu'

/à+'Íbêb#'kádftl/

->

[' aybebQá'_~f] 'está cruzando (dim) o seu

próprio rastro'

/à+'í-!:'à#'íkln#mé#'kánê/ - ) ['õyfàí'kí~E''ká!!_:€] 'quero ver meu próprio

retrato'

i i i) Depois de [+1 +3] o [+2 +3], tanto [-refl] como [+refl].

Se os verbos ou substant-ivos iniciarem por consoante coronal, esta

e substituí da pe 1 a canso ante ra·l at al correspondente, como também acontece em limite de palavra. AdapUunos a regra RM6 para acomodar a fronteira de cl-ítico. RM6a)

lr+con~

+cor

J

Exemplos :

/tóyl'ti/

!méyl'

FM

/tóyf.'népô/

-)

IV. t1orfofonologia

[+alt]

/l

+alt -sil

J{ll}

-post I

- )

(ióy'"T]

'nossa mãe'

- )

Qnéy'iõ9]

' pai de vocês'

(48)

I

/tóyl'tágõ/ 'nós 2stamos cansados'

Se os substantivos ou verbos iniciarem por ;onorantes labiais,

estas são elididas num processo semelhante ao da regrJ RMl, que se dá somente

após

/y/'

neste caso. Por isso, montamos outra regrd

independente RM16.

RM16)

[+soU

+lab - ) 0

/({1])

[-si

+alt

1

J

(I)

-s1l + -post

Condição: deve haver uma fronteira. Exemplos:

/tàylwe'bá/

-) [!_õyê'bá]

'estamos inchados'

/rnéyr!m6kÕ'báá/ - ) [méyàkô'bád] '(alguém) ensina vocês'

/tóy~'máld/

->

liõy'i11!J]

'nos~,a filha'

Esta regra também se aplica u casos oncle a assilabação do /i/

resulta numa seqüência Vy~tl, onde há uma fronteira 'I ou + antes do /y/.

Exemplos:

/Õrrf' Í1vày/

/pànf' íwày/

->

['óyày] 'meu chefe, tutor'

->

['páyày] 'nosso cllefc, tutor'

iv) Depo-is de [+3], [-refl], espccíficmnente 1- e .l'l-.

Aqui, acontece o mesmo fccnêim2no descri to acirna, quando a coronal

Referências

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