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O que Provocou o Declínio da Fecundidade entre 1986 e 1996? A análise de algumas variáveis selecionadas *

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O que Provocou o Declínio da

Fecundidade entre 1986 e 1996?

A análise de algumas variáveis selecionadas

*

Ana Roberta Pati Pascom1

IPEA – IBGE/ENCE

1 - INTRODUÇÃO

É de conhecimento geral que o comportamento reprodutivo das mulheres brasileiras passou por transformações expressivas, mais precisamente para uma fecundidade mais baixa nos últimos anos. Tais transformações ocorreram tanto em suas atitudes quanto em suas preferências. As atitudes dizem respeito ao maior uso de métodos anticoncepcionais e as preferências à escolha de um menor tamanho de família. Dados tais transformações, o objetivo deste trabalho é o de identificar o efeito que a mudança na estrutura de algumas variáveis que caracterizam a mulher exerceram sobre a fecundidade entre 1986 e 1996, através dos dados das pesquisas da DHS. São elas: idade, local de residência na infância, nível de escolarização, região de residência atual, uso de métodos anticoncepcionais e desejo pelo último filho. Além disso, busca-se saber se as mudanças ocorridas no comportamento reprodutivo das mulheres brasileiras, entre 1986 e 1996, foram devidas, principalmente, a mudanças em preferências ou em atitudes. Para tal, primeiramente, um modelo linear generalizado será utilizado a fim de se estimar a probabilidade de se ter um filho e a partir dessa medida, a taxa de fecundidade total marital (TFTM). Depois a TFTM ajustada será padronizada para o ano de 1986, de acordo com a estrutura de cada uma destas variáveis mencionadas, observadas em 1996.

Este trabalho está divido em 4 partes, sendo a primeira esta introdução. A segunda mostra um retrospecto do que ocorreu com a fecundidade brasileira no período 1986 e 1996, destacando as preferências e atitudes. A terceira mostra o efeito da

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em

Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

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mudança na estrutura dessas duas variáveis sobre a TFTM e a quarta sumariza os principais resultados.

2 - A FECUNDIDADE BRASILEIRA NO PERÍODO 1986/962

A tendência da fecundidade no período 1986/96 foi de queda em todas as regiões brasileiras. Nos dois anos, as mulheres cariocas foram as que apresentaram as menores taxas de fecundidade e as nordestinas as maiores, além disso experimentaram também o menor e maior declínio no período. Destaca-se ainda o aumento das taxas de fecundidade das adolescentes (15-19 anos), percebido em todas as regiões, com exceção da Centro-Leste.

Considerando apenas as mulheres casadas, aí compreendidas aquelas legalmente casadas e as em união consensual, observa-se que o declínio da fecundidade foi mais acentuado na região Nordeste. A TFTM passou de 7,4 filhos em 1986 para 4,8 filhos em 1996. A menor variação foi encontrada entre as mulheres cariocas. O declínio da fecundidade marital não foi homogêneo para todos os grupos etários. Apenas as mulheres da região Centro-Oeste apresentaram declínio da TEFM em todas as idades. A fecundidade das adolescentes em união aumentou em São Paulo, no Sul e no Nordeste e a das mulheres de 20 a 24 anos aumentou no Rio de Janeiro e no Centro-Leste. Medindo os diferenciais regionais pelo coeficiente de variação, nota-se uma diminuição dessas diferenças no período analisado.

Não há uma explicação única entre os estudiosos sobre os motivos que levaram à redução das taxas de fecundidade das mulheres brasileiras. Um ponto em comum nos vários estudos é que a mudança no comportamento reprodutivo das mulheres está associada à maior disponibilidade de métodos contraceptivos. É um consenso também que houve uma mudança na estrutura das preferências reprodutivas.

Foi observada que parte da diminuição nas taxas de fecundidade pode ser explicada pelo aumento do uso de métodos anticoncepcionais no período 1986/96. Mais de três quartos das mulheres brasileiras unidas usavam algum tipo de método em 1996,

2 As tendências da fecundidade das mulheres brasileiras neste período aqui apresentadas são parte da

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o que representa um aumento de quase 16% em relação ao que se observa em 1986. As mulheres do Centro-Oeste e as cariocas apresentaram as maiores taxas de prevalência e as nordestinas, a menor.

Os métodos mais utilizados foram a esterilização e a pílula. Mais da metade das mulheres brasileiras no período usavam pílula ou eram esterilizadas. A esterilização foi o método preferido das mulheres residentes no Centro-Oeste e a pílula teve a maior preferência das mulheres do Sul nos dois períodos. A escolha do método anticoncepcional está altamente relacionada com a idade da mulher e o número de filhos tidos. Enquanto as mulheres mais novas e sem filhos preferem o uso de pílula, as mais velhas e com um número maior de filhos recorrem à esterilização.

No período, a maior recorrência à esterilização ocorre no parto do filho, independentemente da parturição. Esta probabilidade aumentou entre 1986 e 1996. As maiores probabilidades de esterilização nos cinco anos decorrentes do nascimento do filho foram encontradas entre as mulheres do Rio de Janeiro com dois, três e quatro filhos e as mulheres da região Centro-Oeste com cinco, nos dois anos em estudo. As mulheres do Nordeste com dois, três e quatro filhos e da região Sul com cinco experimentaram as menores probabilidades em 1986 e as mulheres do Centro-Leste com dois, do Sul com três e quatro e do Rio de Janeiro cinco filhos em 1996.

O declínio da fecundidade observado no Brasil entre 1986 e 1996, também está relacionado com a estratégia de maior espaçamento, adotada pelas mulheres brasileiras nas últimas décadas. Apesar de 95% das mulheres brasileiras tornarem-se mães em até cinco anos após o casamento, há um aumento neste intervalo e uma diminuição na probabilidade de progressão para parturições superiores a um. Além disso, há um aumento da probabilidade de ter e/ou conceber o filho antes do casamento. Este fato deve estar relacionado à maior liberdade sexual estabelecida no Brasil, principalmente após a década de 60.

Com relação ao quantum da fecundidade, as mulheres cariocas e nordestinas apresentaram comportamentos opostos. As primeiras experimentaram as menores probabilidades de ter filhos e as últimas as maiores. O mesmo ocorre ao se considerar o

timing da fecundidade. As nordestinas apresentaram os menores espaçamentos entre

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diferenciais em nível regional, destacam-se também as diferenças encontradas entre as mulheres de maior e menor escolarização, entre as que cresceram em cidades grandes e em áreas rurais, bem como entre as planejadoras e as demais mulheres. As mulheres com maior escolarização, as que cresceram em cidades grandes e as planejadoras apresentaram maiores espaçamentos e menores probabilidades de terem filhos.

Mesmo com o aumento do uso de métodos anticoncepcionais e as estratégias de espaçamento, observou-se que as mulheres brasileiras ainda têm dificuldade de implementar suas preferências reprodutivas. Enquanto as mulheres queriam ter três filhos em 1996, acabaram por ter em média 4,1 filhos, o que representa um “excesso” de um filho. Isto significa um componente da fecundidade que é desejado elevado, de quase 22%. Salienta-se que a proporção do componente não-desejado é maior nas idades mais avançadas.

As mulheres nordestinas experimentaram a maior proporção do componente não-desejado da fecundidade, apresentando uma redução expressiva entre 1986 e 1996. Ainda assim, nascia mais de um filho não-desejado por mulher nesse último ano. As mulheres da região Sul foram as que melhor realizaram suas metas reprodutivas naquele período. Outrossim, as mulheres mais escolarizadas, as que cresceram em cidades grandes e as planejadoras apresentaram o menor número ideal de filhos e também o menor componente não-desejado da fecundidade.

3 - O EFEITO DAS PREFERÊNCIAS E DAS ATITUDES

Estimou-se primeiramente um MLG e depois a padronização. Nesse modelo, a variável dependente foi o número de filhos nascidos vivos e as explicatórias, a idade (idade), o local de residência na infância (resid), o nível de escolarização (educ), a região de residência atual (reg), o uso de métodos anticoncepcionais (metod) e o desejo pelo último filho (desej). Como essas duas últimas variáveis são as de maior interesse, elas foram escolhidas como o foco da padronização. Estimou-se a TFTM em 5,28 filhos para 1986, valor este 33,0% maior do que a ajustada para 1996 (3,97).

Para medir o efeito de mudanças nas preferências e atitudes reprodutivas na TFTM utilizou-se o processo de decomposição. Além disto, procurou-se avaliar também, o efeito conjunto de outras três variáveis: a escolarização, a região de

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residência e o local de residência na infância. De acordo com a tabela 1, que apresenta as TFTMs estimadas e padronizadas, observa-se que a variação total entre 1986 e 1996 foi de 1,3 filho. Se todas as variáveis em 1986 tivessem a mesma estrutura da observada em 1996, a fecundidade daquele ano seria aproximadamente 20,0% menor, ou seja, seria de 4,3 filhos. Isto significa um filho na TFTM a menos do que o observado em 1986, o que explica 77,0% da variação ocorrida entre 1986 e 1996.

Tabela 7.1

Efeito na TFTM da Mudança na Estrutura de Algumas Variáveis

TFTM Padronizada Variação (%)1 Explicação (%)2

Tudo 1986 5,28

Método 1996 e restante constante 5,24 -0,9 3,4%

Desejo 1996 e restante constante 4,34 -17,8 71,7%

Método, Desejo, Região, Escolaridade e Residência 1996 4,27 -19,1 77,0%

Tudo 1996 3,97 -24,8 100,0%

Fonte: DHS, PNSMIPF de 1986 e PNDS de 1996. Estimativas e Padronizações da autora.

Nota: (1) A variação percentual calculada em relação à taxa de 1986, da seguinte maneira:[(TxPad/Tx86-1)*100]. (2) A explicação foi calculada em relação à variação entre 1986 e 1996, ou seja, {[(Tx86-TxPad)/(Tx86-Tx96)]*100}.

Observa-se também, uma ligeira variação na TFTM de 1986, quando somente a estrutura do uso de métodos anticoncepcionais. Esta é reduzida em apenas 0,04 filho. Tal taxa teria sido quase 1,0% menor do que a estimada, o que explica 3,4% da variação ocorrida na década estudada. Esta variação está relacionada com o efeito da mudança na estrutura das atitudes. Por outro lado, a variável desejo teve uma influência muito maior na variação da TFTM. Da redução estimada de 1,3 filho entre 1986 e 1996, quase 72,0% foram decorrentes de uma mudança na estrutura da variável desejo. Isto significa que se as mulheres em 1986 tivessem o mesmo comportamento no que diz respeito ao desejo pelo último filho que tinham em 1996, ou seja, as mesmas

preferências, a TFTM observada naquele ano teria sido 0,94 filho menor.

4 - SUMÁRIO

O efeito que a mudança nas preferências reprodutivas das mulheres brasileiras teve sobre os níveis da fecundidade foi bastante importante. Esta variação explica grande parte de toda a variação ocorrida nas taxas de fecundidade entre 1986 e 1996. O baixo percentual explicativo do uso de método anticoncepcionais, pode estar relacionado com o efeito coorte, uma vez que essas medidas são baseadas na

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experiência atual das mulheres. Isto indica que, não obstante o aumento observado nas taxas de prevalência, este se concentrou nos anos 80. É provável que, a alta taxa de prevalência observada em 1996, se deve ao grande volume acumulado de mulheres que passaram a usa métodos durante a década de 80.

Fica claro, então, que não se pode dizer realmente se as transformações ocorridas nas taxas de fecundidade das mulheres brasileiras nas últimas décadas, foram devidas às mudanças em suas preferências ou em suas atitudes. Não se pode também desassociar preferências das atitudes. O fato é que as mulheres brasileiras estão querendo ter menos filhos. Para implementarem esse desejo, estão recorrendo ao uso de métodos anticoncepcionais, especialmente a esterilização.

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Referências

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