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A percepção corporal do paciente após a cirurgia bariátrica

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Academic year: 2021

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A PERCEPÇÃO CORPORAL DO PACIENTE APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA1 PATIENT BODY PERCEPTION AFTER BARIATRIC SURGERY

Beatriz Alves Freitas2 Orientador: Prof. Karina Comelli Alberton Martins, Esp.³

Resumo: O presente artigo traz uma pesquisa sobre o procedimento de cirurgia bariátrica e

demandas subjetivas que fazem o paciente optar pela cirurgia. Foi possível entrar em alguns conceitos, dentre eles o que verdadeiramente é a autoestima e como ela pode vir mascarada através de alguns contextos sociais de padrões de beleza estereotipados e impostos pelas mídias. Através da junção destes conceitos, foi possível observar a importância de uma intervenção cirúrgica e o quanto as grandes mudanças psicológicas e corporais podem acarretar marcas na vida de um paciente. Foi possível apresentar o trabalho do profissional psicólogo nas avaliações pré e pós cirúrgicas, enfatizando a importância do acompanhamento psicológico no preparo para a cirurgia e após o procedimento, visto que, os hábitos no geral devem ser modificados como um novo estilo de vida permanente e para que isso se torne leve e eficaz a longo prazo é visto que a capacitação e o acolhimento de um profissional psicólogo é fundamental. Aplicou-se como instrumento para coleta de dados entrevistas com perguntas abertas, foram feitas com cinco participantes do sexo feminino que obtiveram a mesma experiência do procedimento e mesmo que as percepções sejam diferentes, elas relatam grandes mudanças favoráveis e enaltecem alguns pontos a serem trabalhados após o procedimento. Os resultados foram significativos pelos objetivos da pesquisa e satisfatório pelas participantes, todas consideraram importante ser trabalhado os assuntos propostos. Mesmo que cada uma tenha um olhar particular de si e de mundo, fica visível que partilham de grandes mudanças em diversas áreas da vida, de forma satisfatória algumas relatam que procuraram um profissional psicólogo para manter um acompanhamento e outras já com alta, levaram a longo prazo o tratamento ressaltam quão foi importante para a chegada de uma nova vida.

Palavras-chave: Cirurgia Bariátrica. Percepção. Psicólogo.

Abstract: This article presents research on the bariatric surgery procedure and subjective

demands that make the patient choose the surgery. It was possible to get into some concepts, among them what self-esteem truly is and how it can come masked through some social contexts of stereotyped beauty standards imposed by the media. Through the combination of these concepts, it was possible to observe the importance of a surgical intervention and how much major psychological and body changes can cause marks in a patient's life. It was possible to present the work of the professional psychologist in the pre and post surgical evaluations, emphasizing the importance of psychological accompaniment in the preparation

I Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em Psicologia da

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. 2019.

II Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: freeitas.bia@gmail.com.

2 Professor (a) orientador. Esp. em Universidade do Sul de Santa Catarina

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for surgery and after the procedure, since the habits in general should be changed as a new permanent lifestyle and for For this to become light and effective in the long run, the training and reception of a professional psychologist is crucial. Interviews with open questions were applied as a tool for data collection. Five female participants had the same experience of the procedure and even if their perceptions differ, they report great favorable changes and praise some points to be worked out afterwards. the procedure. The results were significant by the research objectives and satisfactory by the participants, all considered important to work on the proposed subjects. Even though each one has a particular view of themselves and the world, it is clear that they share major changes in different areas of life, some satisfactorily report that they sought a professional psychologist to keep up and others were already discharged. term treatment underscore how important it was to the arrival of a new life.

Keywords: Bariatric surgery. Perception. Psychologist.

1 INTRODUÇÃO

Ser saudável é ter, em si, o próprio padrão de beleza. É importante sentir-se bem, e cada um tem a sua forma subjetiva, não é necessário se comparar a outra pessoa para se auto afirmar (RISO, 2012).

Segundo Riso (2012, p. 58), “seu corpo e o modo como o enfeita deve agradar primeiro a você”. Considerando que a mente se rega de pensamentos conscientes, a percepção corporal é como uma semente que se planta na pessoa, que crescem de diferentes formas e são individuais. Através dos reflexos internos e externos, como olhar-se no espelho, passa a se basear no que é visto em corpo e ambiente (MURPHY, 1962).

A consciência corporal se torna necessária para os indivíduos que estão em processo de readaptação da sua própria imagem. Ao vivenciar as mudanças internas e externas, se encontra a necessidade de visualizar de forma clara a utilidade deste processo em todos os âmbitos, tanto fisiológicos quanto psicológicos (TAVARES, 2013 apud AGUIAR, 2014).

As distorções da imagem corporal levam a percepção de uma imagem real ou irreal que o indivíduo tem de si e de seu próprio corpo. As distorções podem gerar diversos distúrbios sintomáticos, tanto psicológicos quanto fisiológicos, pelas associações que são feitos (AZEVEDO, 2010).

Quando se fala de obesidade, pode-se defini-la como uma doença com um acúmulo excessivo de gordura. Através das características dessa doença, a qualidade de vida fica negativa, perda de vivências significativas num todo, saúde e bem-estar do indivíduo (TAVARES; NUNES; SANTOS, 2010).

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Através de estudos, diz-se que dentre tratamentos cirúrgicos, a cirurgia bariátrica se destaca pela eficácia da perda de peso (COSTA, 2009 apud EDUARDO et al., 2017). Pacientes obesos acabam indo à procura do procedimento devido ao seu índice de massa corpórea - IMC. Quando se fala de um alto IMC, está-se falando do índice de gordura corporal num grau elevado, que contém taxas de comorbidades, como doenças que, esporadicamente, vão se desenvolvendo durante o tempo, por exemplo, a diabetes, hipertensão, dislipidemia, afecções cardiovasculares e cerebrovasculares. São doenças físicas, mas que também podem se tornar psicossomáticas, principalmente, pela imagem corporal que o sujeito tem de si. Entrando também as questões de autoestima, surgimento de transtorno de ansiedade e sintomas depreciativos (SANTOS, 2006).

Além de evitar doenças que podem se desenvolver no decorrer dos anos por conta da obesidade, a referida cirurgia bariátrica aumenta a qualidade de vida e preza, principalmente, pelo bem-estar em diversas áreas da vida (DIAS, 2017).

O presente trabalho trata-se de um estudo baseado em compreender a percepção dos pacientes que são submetidos a cirurgia bariátrica e qual o impacto na vida do indivíduo, considerando que nossas emoções geram reações aos acontecimentos do cotidiano e são determinadas por quem e pelo que se pensa ser.

Dentro dos contextos psicossociais, a relevância desta pesquisa para a psicologia é poder orientar os profissionais acerca dos possíveis impactos desta cirurgia na percepção corporal do paciente. Já a relevância social é sensibilizar a sociedade acerca da seriedade de uma intervenção cirúrgica.

Como relevância científica, procura-se acrescentar o estudo da autoestima, percepção corporal e o procedimento da cirurgia bariátrica à prática social do indivíduo. A importância de conseguir se olhar aos reflexos da vida e se sentir bem independente do que a sociedade espera como um padrão de imagem.

2 CONCEITO DE AUTOESTIMA

A sociedade impõe padrões estereotipados como perfeitos, quando, na verdade, autoestima não está ligada diretamente a estas ideias nas quais se passa a acreditar. Pode-se entender que todas as questões de como a pessoa se sente, pode influenciar verdadeiramente no seu dia a dia, desde a forma como age até mesmo sobre o que pensa de si e do mundo (BRANDEN, 1995). A necessidade de afirmação do que se é por outras pessoas, é como se houvesse a necessidade de agradar aos outros para ter-se uma sensação boa, visto que está

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longe de ser algo positivo para vida de qualquer indivíduo. Sobre o assunto abordado Brown (2016, p. 20) ensina:

A vontade de acreditar que o que estamos fazendo tem importância é facilmente confundida com o estímulo para sermos extraordinários. É sedutor usar o parâmetro do culto à celebridade para medir a significância ou insignificância de nossas vidas. As ideias de grandeza e a necessidade de admiração parecem um bálsamo para aliviar a dor de sermos tão comuns e inadequados. Sim, esses pensamentos e comportamentos, no final, causam mais dor e levam a mais isolamento. Porém, quando estamos sofrendo e o amor e os relacionamentos estão pesando na balança, nós nos agarramos àquilo que parece nos oferecer maior proteção.

De acordo com Brown (2016), existem questões pessoais e interpessoais que geram desconforto no interior, que acabam afetando a vida social e, muitas vezes, fica difícil identificá-las. Acaba-se, então, despejando as frustrações internas à procura de formas perfeitas, onde os elogios de uma imagem corpórea padronizada, acaba se sobressaindo do que realmente precisa ser trabalhado ou curado.

A psicologia é um estudo abrangente e que trabalha com diversas abordagens, dentre elas, existe a abordagem da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). Em meio às teorias desta abordagem, identificam-se as crenças de um indivíduo, dentre elas, têm-se as crenças nucleares, que podem ser interações traumáticas vividas e que persistem em pensamentos disfuncionais às outras pessoas ou acontecimentos. As crenças disfuncionais sobre o indivíduo, podem representar problemas quando não se consegue fazer a avaliação real de si, do mundo e das outras pessoas, de forma funcional (GREENBERGER; PADESKY, 2017).

Através das crenças nucleares, existem os pensamentos automáticos que influenciam inteiramente na forma do comportamento. São pensamentos rápidos e que podem ser disfuncionais, que não se percebe. Um exemplo, uma crença de hábitos que se exerce no cotidiano, que é a percepção corporal, enraíza-se a crença de que é preciso ter uma estrutura de corpo perfeito, magro, para serem aceitos, então, automaticamente este pensamento de “se eu não for magro sou feio”, “eu preciso ter este corpo ou ninguém vai gostar de mim”, são pensamentos frequentes, que acabam fazendo com que se tenha uma distorção de imagem por aquilo que se pensa, gradativamente, como real, mas, é disfuncional e eles são tão rápidos que se passa a não identificá-los (GREENBERGER; PADESKY, 2017, p. 20).

A forma como é definido o autoconceito, pode refletir na forma que o outro percebe o indivíduo. Riso (2012) afirma que, se avaliarmos de forma disfuncional pode-se dar margem o suficiente para que as pessoas falem ou tratem como tal.

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Ao se visualizar as aparências físicas estereotipadas socialmente, acaba-se julgando por não se encaixar no padrão. Deste modo, o resultado é esquecer da importância da essência do indivíduo, por olhar fixamente a imagem externa e desconsiderando que as individualidades são importantes à construção da autoestima (RISO, 2012).

Para Koch (2016), a autenticidade que se tem, pode ser o sucesso para autoestima (ou a autenticidade é o segredo para o sucesso pessoal). Os bens materiais, o corpo perfeito, dinheiro, elogios ou algumas coisas temporárias, dão felicidades momentâneas, mas, na verdade, interiormente, onde as emoções são intensificadas e tem-se uma autoimagem real de quem se é e não o que se tem, é a verdadeira importância.

É o intocável que dá sentido ao sucesso da vida pessoal. Não há problema algum correr atrás daquilo que faça sentir-se bem, independente do que seja, desde que some genuinamente na própria verdade pelo esforço, que consiga-se identificar o quanto se pode superar limites e encontrar forças através de grandes lutas com o seu interior. Se sentir capaz e reconhecer o quanto é capaz. Muitas vezes, a felicidade vem mascarada de exigências do externo, o que é socialmente imposto à sociedade e passa-se a acreditar nisso (KOCK, 2016).

2.1 PADRÃO DE BELEZA IMPOSTO PELA MÍDIA

Explicitamente, a ditadura da beleza está acontecendo. Anteriormente, não era muito mencionado os transtornos gerados por conta do padrão imposto pela sociedade, dos valores violados. As redes sociais implicam, diariamente, com a questão da autoestima, por tudo ser perfeito num mundo de “curtidas”, onde corpos bonitos estão à mostra e os conteúdos que passam a interessar, basicamente, são ligados à moda e beleza externa. A beleza e a moda, de fato, são questões estabelecidas socialmente para uma autoestima positiva, mas, infelizmente, não é apenas disso que se trata (CURY, 2018).

Muitas vezes, se busca felicidade no outro, de forma rasa, que acabam constituindo frustrações com toda à autoimagem. Existem distúrbios alimentares que são desenvolvidos através das imagens de corpos “perfeitos” nas redes sociais, a quantidade de “curtidas” em fotos que demonstra carinho, afeto, segurança e a importância, estar na moda e ser descolado é muito mais importante do que simplesmente “ser” além da aparência (DOMAR; KELLY, 2010).

As crianças estão, desde cedo, vivendo num mundo de aparelhos celulares, de informações que não somam, da imagem que percorre rapidamente a milhares de pessoas, em meio às exposições. As frustrações de uma vida perfeita, do outro lado que acabam

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idealizando perfeitas, esquecendo da verdadeira essência de viver o momento e fazer a própria visão de felicidade, sem meios comparativos por imagens (BROWN, 2016).

De certo modo, a mídia pode provocar milhares de sensações nas pessoas através de seus conteúdos. Talvez, seu foco seja mostrar o lado bonito por trás das telas, porém, através das intensas informações, elas acabam gerando expectativas superficiais e tirando o foco do que realmente é importante: o olhar dentro de si, respeitar as individualidades, a saúde mental, o equilíbrio dos pensamentos. Afinal, quanto mais o cérebro trabalha em meio a milhares de informações que se acaba memorizando coisas não tão relevantes para vida (ALVES, 2014).

Ademais, Alves (2014, p. 15) acrescenta ainda que:

[...] talvez você já tenha experimentado em algum momento aquilo que denomino inferno mental. São aquelas ocasiões em que a mente produz um volume de pensamentos inúteis e desconexos tão insuportavelmente grande que parece que você vai enlouquecer. São pensamentos em série que oscilam entre bons, ruins, otimistas, pessimistas, sensuais, egoístas, egocêntricos, solícitos, arrogantes, autodepreciativos, autoritários. Alguns são carregados de humor, outros de tristeza; surge um de simpatia, o seguinte de apatia, mais adiante aparecem aqueles que remoem frustrações, preocupações, tristeza, medo. Nesses momentos, a mente parece uma televisão ligada 24 horas ininterruptas que exibe programas de todos os tipos, gêneros e intensidades. Para piorar, quando não tem nenhum pensamento orbitando a cabeça, surge uma música irritante cujo refrão, repetidos milhares de vezes, cria e reforça a memória de modo tão surpreendente que você nunca mais a esquece.

Ao identificar o que realmente faz bem, pode-se ter, assim, um caminho mais leve e com sucesso. Enquanto os pensamentos individuais dão sensações prazerosas com aquilo que se acha um ideal de escolha para seguir no cotidiano, eles podem maltratar a fim de o indivíduo deixar de saber quem realmente é, baseando-se em vidas “perfeitas”, que não os definem. A modelo do manequim que se visualiza deslumbrante e feliz, com uma roupa de luxo em passarelas, pode não estar verdadeiramente feliz com a sua vida ou com o que demonstra ser, esquece-se de pensar que cada indivíduo possui uma história e só se observa, de forma rasa, a aparência que ela traz (CIALDINI, 2012).

Taubes (2014) ressalta que, diante da sociedade, ainda existe, em diversas áreas da vida, em que alguns julgamentos se sobressaem, explicitamente pelo padrão estético, julgamentos estes que podem gerar frustrações quando um indivíduo pode procurar ser aceito em uma certa configuração. Estas que ainda podem ser naturalizadas erroneamente e são incomuns, afinal, como alguém pode se autojulgar por ser como é, podendo desconstruir o padrão que não é ser você.

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Atualmente, ainda pode-se ver quanto a acessibilidade se encontra limitada e um tanto que invasiva para algumas pessoas. Fala-se no âmbito social, onde a construção de constituição de um sujeito ainda pode estar presa a algumas amarras, quando se fala de amarras em âmbito social pode-se citar os empregos, transportes públicos, banheiros, roupas e até lazeres. Embora alguns desses padrões sociais estejam sendo desconstruídos, existem muitos que ainda não foram e, talvez, estejam longe de ser. Estes ainda podem gerar frustrações em que as diferenças permaneçam causando conflitos de autoimagem (VILHENA; NOVAES, 2018).

1.2.1 A importância do psicólogo na avaliação pré e pós-cirúrgica dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica

No Brasil, existe um protocolo para psicólogos atuantes com pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), feito por COESAS (Comissão de Especialidades Associadas), responsáveis pela organização em núcleos de especialidades. Este protocolo foi criado para capacitação do profissional formado em psicologia. Para atuar em áreas hospitalares, são necessárias algumas etapas de formação além da acadêmica, então, são feitas as seguintes recomendações: conhecimento na área clínica e hospitalar, no mínimo três consultas em avaliações pré-operatórias e o conhecimento sempre atualizado sobre obesidade, transtornos alimentares e cirurgia bariátrica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA, 2019).

É importante ressaltar acerca da importância do psicólogo, tanto nas avaliações pré-cirúrgicas quanto na pós-cirúrgica. Primeiramente, na pré-cirúrgica é colocada com uma linguagem de forma clara e objetiva para o paciente e seus familiares, com base psicoeducacional sobre o procedimento e as consequências em seus prazos, pois, é necessário o conhecimento geral do paciente sobre os impactos que a cirurgia pode ocasionar, não de forma negativa, mas as mudanças em sua vida. Até mesmo a questão da alimentação, pois facilita a adaptação e deixa de forma clara a adesão e continuidade da reeducação alimentar após o procedimento (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2019).

No emagrecimento após a cirurgia bariátrica, existe um plano alimentar a ser aderido pelo paciente, que será proposto a ele como um novo estilo de vida, que seria uma reeducação alimentar. Mesmo que o paciente faça perfeitamente o plano que a equipe multidisciplinar propõe, a perda de peso, por ser rápida, gera a mudança de estrutura corpórea, então, o

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paciente ex-obeso pode manter a percepção de que ainda está obeso (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2019).

A percepção do indivíduo influência diretamente em suas particularidades, tanto no visual, que são reflexos de si, quanto nas sensoriais, pelas grandes mudanças neste novo processo de adaptação, cujo cunho de um novo padrão, com novos hábitos saudáveis, que vão desde a alimentação a exercícios físicos. Essas mudanças podem afetar níveis cognitivos sobre sua aparência anterior com a nova, através dessas grandes transformações, podem gerar cargas emocionais positivas ou negativas, que são de grande efeito quando se fala sobre a autoestima (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2019).

Quando o paciente se sente realizado com sua nova aparência, muda o seu jeito de se comportar e ver o mundo, desde a sua comunicação social, lazer e relações pessoais e interpessoais, num geral. É notório a importância do acompanhamento psicológico após a cirurgia também, já que nem todas as pessoas conseguem lidar com os grandes impactos que essas modificações geram. Nem sempre elas são somente de forma positiva, um acompanhamento é significante para o preparo de um novo estilo de vida, que vai desde a alimentação, até mesmo a forma de se relacionar com suas percepções de si e do mundo (BENEDETTI; THEODORO, 2015).

O profissional psicólogo tem grande importância nas avaliações pré-operatórias junto a toda a equipe multidisciplinar, para avaliação de pacientes por conta de todas as mudanças físicas e emocionais que o procedimento pode gerar. O papel do psicólogo, primeiramente, é esclarecer sobre o processo de cirurgia bariátrica e orientá-lo sobre as mudanças que irão acontecer na vida do paciente. A avaliação psicológica pré-operatória é necessária para identificar questões psicológicas e emocionais, que podem ser tratadas e que surgiram antes mesmo do procedimento, prevenindo, assim, que o impacto da cirurgia seja diminuído. Através desta avaliação é possível averiguar se o indivíduo está apto, em um todo, para realização do procedimento e aos impactos de novos hábitos a serem seguidos após o procedimento (RIBEIRO, 2019).

Ribeiro (2019) ainda complementa sobre as mudanças de adaptação do paciente submetido ao procedimento de cirurgia bariátrica. É possível pontuar algumas fases de adaptações após o procedimento e a necessidade do acompanhamento psicológico, focando no aspecto emocional que estes grandes impactos podem causar na vida do paciente. Pode-se começar falando sobre questões de um novo plano alimentar, onde a dieta será liquida e pastosa durante as primeiras fases, lembrando que existe um plano alimentar a ser seguido, feito para cada paciente pela equipe nutricional, e quando o paciente não tem o preparo

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psicológico, se torna difícil iniciar e mantê-lo após o procedimento. Esta fase de adaptação é importante, afinal, uma reeducação alimentar fora dos padrões em que ele estava acostumado, mudará rapidamente, e através dessa perda do objeto “alimento” e de seu emagrecimento, pode mexer efetivamente com seu psicológico.

Pode-se também falar sobre a medicação. O paciente fará o uso apenas nas primeiras semanas para evitar febre e infecções, após o tempo necessário de uso, que é determinado pelo médico-cirurgião, serão adaptados suplementos alimentares frequentes, pois, após a cirurgia o organismo terá menos absorção de algumas vitaminas, proteínas e minerais.

Ao falarmos das mudanças do paciente após o procedimento de cirurgia bariátrica, pode-se ressaltar a importância do profissional psicólogo diante das novas adaptações a longo prazo em que o indivíduo irá passar. São algumas fases consideravelmente difíceis pelos velhos hábitos em que ele estava inserido, é um movimento de grandes mudanças, realizações e, socialmente falando, inserções internas e externas. Estas transformações, com o apoio profissional e da família, são cruciais, diga-se que o acompanhamento psicológico abre portas para um reconhecimento e de capacidade do paciente (KERNKRANT; SILVA; GIBELLO, 2017).

3 MÉTODO

A proposta metodológica neste estudo é fundamentada em uma abordagem qualitativa e com caráter exploratório. A pesquisa qualitativa caracteriza-se em resultados subjetivos, acerca de que não são calculados ou numerados resultados, mas visa a compreender, através das perspectivas de um indivíduo, os aspectos subjetivos e suas próprias experiências (FLIRCK, 2009). Já o caráter exploratório, Gil (2008, p. 27) ensina:

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.

Ao responder questões particulares, a pesquisa tem como objetivo, através dos resultados dos participantes, apontar suas vivências, mesmo que subjetivas, articulando que, em determinado tempo e lugar, cada um passou pela mesma experiência do procedimento, mas, que de alguma forma, tanto pessoal ou interpessoal, os resultados foram diferentes.

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3.1 PARTICIPANTES

Considerando que esta pesquisa visa compreender a percepção corporal de pacientes submetidos ao procedimento de cirurgia bariátrica, foram selecionados cinco participantes que já passaram pela experiência da mesma.

A amostragem foi feita por acessibilidade. A pesquisadora entrou em contato com os três participantes que já passaram pelo processo e estes indicaram os outros dois. A pesquisadora ficou responsável pela condução e seu deslocamento para outra cidade ou bairro, usou seu próprio veículo e todos os gastos pelo deslocamento foram arcados pela própria pesquisadora.

Cumpre mencionar que a amostragem, proposta neste estudo, tem como objetivo esclarecer para o participante que suas experiências são subjetivas, pois, ela não é de resultado estatístico, então, não existem níveis de precisão a serem alcançados.

Segundo Gil (2008, p. 94), “[...] o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão”.

Os critérios de inclusão da pesquisa, foram mulheres que realizaram a cirurgia bariátrica há pelo menos seis meses. É necessário que todos os participantes estejam dispostos a colaborar com a pesquisa por livre e espontânea vontade. Vale ressaltar que a pesquisadora só foi a campo a partir da aprovação do CEP.

3.2 ASPECTOS ÉTICOS

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa (CEP) da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul, sob o parecer: 3.527.669.

A cada participante entrevistado foi explicado a conduta ética do estudo e também a preservação de identidade, o sigilo de todas informações e a orientação completa para a assinatura do Termo de Consentimento para gravações, assegurando a participação da pesquisa.

Alertou-se que ao sentir algum desconforto durante a entrevista, o participante tem liberdade de desistir ou continuar e ter total amparo da pesquisadora.

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3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

O instrumento utilizado na pesquisa foi um questionário para realizar uma entrevista semiestruturada, com perguntas abertas. A pesquisadora fez a entrevista com o participante diante de perguntas necessárias para a coleta de dados, realizando uma comunicação extremamente profissional, caracterizando as práticas sociais do indivíduo com o tema proposto. Quanto ao procedimento de entrevista, Marconi e Lakatos (2003, p. 199) ensinam que:

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico, ou no tratamento de um problema social.

Já “as perguntas abertas são chamadas de livres ou não limitadas, são as que permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 204). É possível formular perguntas sem intermediários ao assunto proposto e central que a pesquisa propõe.

A pesquisadora entrou em contato com os participantes através de um telefonema, para poder definir um dia e horário que fosse viável para cada participante. Ao encontrar com o entrevistado, foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e informado que durante a entrevista seria utilizado o gravador de voz para o registro da coleta de dados. O participante esteve ciente de todos os recursos utilizados, seus propósitos para fins da pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃOIII

Para aplicar a pesquisa, foi utilizado um questionário com uma entrevista semiestruturada e as perguntas foram baseadas nos objetivos específicos, dando sentido ao objetivo proposto da pesquisa. Participaram da pesquisa cinco pessoas que já passaram pelo procedimento de cirurgia bariátrica, sendo que esta amostra foi feita por acessibilidade.

Os cinco participantes da pesquisa foram do sexo feminino, entre 20 e 40 anos e residentes na cidade de Tubarão e Laguna – SC. As entrevistas foram realizadas individualmente em locais de preferência de cada participante.

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Quadro 1 - Caracterização da amostra

Entrevistada Idade Sexo Fez a cirurgia a quanto tempo? Motivo de ter feito a cirurgia

E1 30 anos Feminino 6 anos Obesidade mórbida grau 3

E2 43 anos Feminino 6 anos Problemas de coluna

E3 42 anos Feminino 6 meses Refluxo

E4 43 anos Feminino 5 anos Diabetes gestacional

E5 24 anos Feminino 1 ano e 7 meses Histórico de compulsão alimentar Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

4.1 IDENTIFICAR AS MUDANÇAS DE AUTOCONCEITO DO PACIENTE APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA

Ao vivenciar as mudanças em seu corpo, e de fato aceitá-las positivamente depois de um processo significativo e notório aos seus próprios sentidos, pode-se ter a oportunidade de aceitação, ao olhar-se, gostar-se e respeitar conscientemente uma nova fase da vida. Juntamente as notáveis mudanças, perceptíveis ao olhar-se no espelho, é possível adentrar a grandes descobertas e oportunidades que podem florescer internamente, a partir de mudanças externas e que, de fato, dão novas perspectivas de um "novo eu" ou uma redescoberta de ser (BRANDEN, 1995).

Ao falar-se de mudanças de autoconceito, pode-se dizer que está ligada a autoestima positiva. Em uma grande mudança, após um procedimento invasivo como o de cirurgia bariátrica, nota-se que a maioria dos participantes, nesta questão, teve respostas positivas quanto às mudanças, que foram rápidas para uma adaptação de imagem. Além de se olharem atentamente ao corpo após o procedimento, é possível entender que, fora a mudanças, a satisfação foi tal ao ponto de conseguir ter um olhar carinhoso consigo.

Pode-se observar através das falas de alguns participantes, durante a entrevista, positivando as mudanças com satisfação:

“Hoje, depois da cirurgia minha autoestima é boa” (P1).

“A felicidade e satisfação depois da cirurgia foram grandes” (P3). “Ao me olhar no espelho e ver algo que eu queria muito ver” (P4, P5).

Durante a aplicação, ficou evidente a forma como cada participante expressou como as mudanças físicas acabaram influenciando em diversas outras mudanças em suas vidas. As participantes respondem até de forma parecida, de como é bom poder ir a uma loja e ter seu manequim, de vestir-se com uma roupa que jamais pensaria em sentir-se bem.

Ao falar sobre manequim e as questões sociais, que se tornaram satisfatórios após o procedimento, pode-se ver este autoconceito na fala das participantes (P1) e (P2):

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“Me sinto muito bem vestindo qualquer roupa, me sinto bonita sabe, ir em uma loja provar uma roupa e me achar muito bonita” (P5).

A preocupação com a estética, em um geral, também pode produzir retraimento social, por conta da autoimagem. Estas questões podem se tornar algumas questões sociais, que o indivíduo acaba se autoavaliando, tendo, então, uma preocupação excessiva com o próprio corpo, irritabilidade e autopunição (CURY, 2018).

A participante (1) traz a mudança de como ela se auto avaliava antes da cirurgia, e com toda transformação, essas expectativas negativas de si, não existe mais:

“Antes, meu pai e minha madrasta, pegavam as roupas de loja na condicional porque eu tinha vergonha de ir prova, hoje isso já não existe mais, eu mesma vou, mudou da água pro vinho” (P1).

Pode-se notar que, através das falas das participantes, algumas questões sociais, como ir às lojas e ter a satisfação de provar roupas, sem fazer visão negativa de si, com o seu corpo,são notáveis. Nesta fala da participante (P1), nota-se que amarras negativas, anteriormente ditas como, “Antes meu pai e minha madrasta, pegavam roupas na condicional porque eu tinha vergonha de provar”, tornam-se positiva após o procedimento, quando, hoje em dia, ela afirma que consegue fazer coisas que antes foram dolorosas e passam a ser satisfatórias.

4.2 IDENTIFICAR A INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS SOB UM INDIVÍDUO, ESTEREÓTIPOS EXPOSTOS NELAS E OS IMPACTOS QUE CAUSAM NA SOCIEDADE

As mídias sociais e os padrões de beleza influenciam, desde muito tempo, na vida de algumas pessoas, principalmente, quando é algo relacionado a aparência física. Diante de alguns julgamentos e diferenciações de uma pessoa magra e uma pessoa gorda, alguns olhares de julgamentos podem trazer dor e sofrimento, retraimento social e inseguranças.

Pode-se observar, através de duas falas da participante (P5), experiências subjetivas sobre as mídias sociais e os padrões:

“Toda influência é grande né, redes sociais num geral, instagram, facebook, tudo é padrão estético se parar para pensar” (P5).

“A mídias sociais me influenciavam muito, eu parava de seguir as blogueiras ou todas as pessoas aparentemente felizes com seu corpo magro, isso me deixava muito mal” (P5).

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O padrão de beleza está tão enraizado que o sonho de grande parte das pessoas é ser magra ou ser, pelo menos, chamada de magra. Muitas vezes, busca-se uma autoafirmação de sua própria imagem, através de elogios de uma outra pessoa ou até mesmo por um anúncio, seja em capa de revistas, na televisão, onde acabam olhando aparentemente apenas o físico. Mas, e as outras características que o indivíduo tem? A singularidade se transformou, erroneamente, em um corpo perfeito, onde as pessoas acabam passando fome, desmaiando ou gerando outros distúrbios, que podem ser causados por uma escolha de padrão estereotipado pela sociedade (FREMDER; ROSA, 2012).

A participante (P4) traz, em sua fala, o quanto isso prejudicou até em seu trabalho:

“Fui diretora há dez anos e eu sentia que, tanto as crianças, como a espontaneidade dos outros é tipo assim: ah aquela gorda...tua referência se torna o teu ser gordo, então tu te tornas como uma “má” referência porque gordura não é saúde, então sendo assim tu és julgado pela estética”.

A participante citou que sempre trabalhou em ambiente educacional, com crianças, e sofria ser referenciada como ruim, por ser gorda, diante desta fala, e de todas as outras que acrescentam o preconceito de imagem, pode-se ver que a sociedade acaba referenciando um indivíduo, muitas vezes, não pelo profissional, mas, sim, por uma identidade corporal.

Ao se pensar em identidade corporal, o que pode se tornar tão disseminado, hoje em dia, socialmente falando, em diversas áreas da vida de uma pessoa, alguns julgamentos pela aparência, que não é aceita como padrão estético. Estes julgamentos podem acabar buscando identidades no corpo do outro. Isto é, referenciar alguém pela estética o que acarretam opiniões cheias de preconceitos, e pode acabar gerando frustações internas na autoestima do outro. Ao falar de auto estima, não se está falando apenas do corpo, mas de outros aspectos de vida de um indivíduo, onde estes julgamentos podem acabar interferindo na visão de si e de mundo (TAUBES, 2014).

Através da questão sob as influências das mídias e padrões estereotipados, a pesquisa mostrou quais influências sociais acabam gerando grande impacto na vida das pessoas que sofrem com sua imagem, o quanto isso pode ser frustrante, ser diferenciado por um pré-conceito de imagem física corporal, pode-se ver que até com a acessibilidade nos lugares públicos ou privados, no trabalho ou nas redes sociais, algumas das participantes citaram as limitações e os constrangimentos que sofriam com a obesidade.

“Não conseguia passar na catraca, porque a acessibilidade não é assim né, não existe catraca para obeso” (P1).

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A cultura de ser magro ainda é naturalizada por ter acessibilidade garantida. Está-se falando de termos sociais e pessoais. Por exemplo, ao olhar atentamente para o mercado de trabalho, emprego, possibilidade de crescimento pessoal, acessibilidade em lugares públicos, transportes, acentos, e em muitos lugares, isso ainda passa ser cultural e se sobressai como um padrão (VILHENA; NOVAES, 2018).

Ao falar sobre o mercado de trabalho e as oportunidades, a participante (P2) traz uma fala importante sobre si, que pode ser abordado neste assunto:

“Ser gordo influência muito, influência tanto que até pra conseguir um emprego é difícil, é como se por você ser gordo, não tem emprego pra você” (P2)

E ao se falar de lugares públicos e também privados, a participante (P1) traz experiências sociais vividas antes da cirurgia:

“Antes, eu não ia ao parque aquático ou na praia, no parque aquático eu não passava o tobogã, a água não tinha força e eu ficava presa” (P1).

Pode-se analisar que, independente do lugar público ou privado, alguns participantes sofriam anteriormente com o acesso e hoje, após o procedimento, a visão tornou-se positiva. Ir aos lugares de lazer e sentir-se bem com própria presença, sem se esquivar ou deixar de ir, passou a fazer parte das mudanças de hábitos dos participantes, que hoje são coisas prazerosas para o lazer de ambos.

4.3 ENTENDER A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL PSICÓLOGO PARA O PREPARO DO PROCEDIMENTO DE CIRURGIA BARIÁTRICA

A avaliação do profissional psicólogo na avaliação pré-cirúrgica é de extrema necessidade, principalmente, pela sua capacitação aderida durante a especialização de atuação na área, onde, ele consegue passar informações técnicas de forma clara e objetiva aos pacientes para preparo, e também para seus familiares, que dão todo suporto e apoio depois do procedimento (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2019).

A maioria dos participantes teve uma posição positiva sobre a importância do psicólogo para avaliação pré-cirúrgica e o acompanhamento pós-cirúrgico. Alguns participantes até se prepararam meses antes e, por conta própria, marcaram terapia para um acompanhamento e engajamento da necessidade da cirurgia, não falando apenas nos aspectos por um padrão, mas, também, pela saúde, pois, já estava afetando a vida de algumas das participantes. Outras, fizeram a avaliação pré-cirúrgica (como o protocolo), mas, também, tiveram uma boa perspectiva do quanto foi importante o primeiro acompanhamento.A

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percepção dos participantes, foram positivas ao falar da importância do profissional psicólogo, alguns participantes relatam:

“O psicólogo é muito importante, principalmente na avaliação pré-cirúrgica” (P1, P5). “Psicólogo ajudou na decisão de escolha de cirurgia meses antes” (P2).

“Psicólogo me ajudou fazer com que eu entendesse que a cirurgia não era uma derrota e, sim, bem-estar e saúde” (P2).

Ao sentir-se realizado com a nova aparência e dar a significância às mudanças perceptíveis aos novos olhares para si, é possível dizer que as relações pessoais e interpessoais, em geral, sejam nota da se, consequentemente, essas modificações são capazes de fazer o paciente ter outra visão de mundo depois do procedimento. Mas o acompanhamento com o psicólogo pode tornar este caminho mais leve e satisfatório, até mesmo em questões internas a serem tratadas, e que algumas pessoas não conseguem visualizar, afinal, são grandes mudanças a curto prazo. A questão da alimentação e os novos hábitos a serem adquiridos para compor as vitaminas necessárias, o profissional psicólogo está apto para acompanhar o paciente pós-cirúrgico e prepará-lo para essa nova fase (BENEDETTI; THEODORO, 2015).

“Antes de procurar a cirurgia bariátrica minha nutricionista me indicou procurar um psicólogo, eu sempre segui a alimentação toda certinha sabe. Mas eu tinha compulsão. E como foi e é importante né” (P2).

Diante de tantos resultados positivos, as participantes também ressaltaram a importância do acompanhamento pós-operatório para o preparo de tantas mudanças. Principalmente, as mudanças relacionadas com o objeto comida, como a importância de aprender novos hábitos, pois depois de um procedimento tão invasivo, como algumas citaram, ao ingerir um alimento pode haver restrições, tanto quanto ao alimento, quanto à quantidade, demonstra quanto a psicoeducação do psicólogo com o paciente pode gerar positividade na recuperação e reestruturação de imagem, ao se olhar, se reconhecer e se aceitar.

Algumas falas a respeito do quanto o acompanhamento do psicólogo foi importante para os participantes:

“Eu acho muito importante trabalhar essa relação da comida e mudança de hábitos” (P1).

“O psicólogo foi muito importante pra que eu conseguisse entender que a comida não precisava ser refúgio do meu vazio” (P4).

No emagrecimento, após a cirurgia bariátrica, existe um plano alimentar a ser aderido pelo paciente, que vai ser proposto a ele como um novo estilo de vida, uma reeducação

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alimentar. Mesmo que o paciente faça perfeitamente o plano que a equipe multidisciplinar propõe, a perda de peso, por ser rápida, gera a mudança de estrutura corpórea, então, o paciente ex-obeso pode manter a percepção de que ainda está obeso (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2019).

“É muito importante trabalhar o objeto comida né?! Porque, além de uma reeducação alimentar, é uma perda, você não consegue comer o que comida antes ou como comia antes” (P3).

Através dos resultados, pode-se ver que não é apenas a imagem que deve ser tratada após o procedimento, mas, também, as questões internas relacionadas a um preenchimento de objeto comer e hábitos anteriores, em que o indivíduo teve durante muito tempo, como as participantes citam, acaba gerando uma perda do objeto comer através do ganho positivo de imagem.

4.4 IDENTIFICAR AS POSSÍVEIS MUDANÇAS PSICOLÓGICAS NO PACIENTE EM PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA

Pode-se dizer que o procedimento de cirurgia bariátrica é apenas uma etapa do processo de emagrecimento. Com o pós-operatório, a evolução de habilidades do paciente e o comprometimento com todas as recomendações da equipe multidisciplinar, entram na parte comportamental e dialética, e passam a ser significativas e necessárias no acompanhamento pós-cirúrgico, são partes importantes como manutenção de resultados. Essa parte comportamental deve ser reforçada para o paciente, para essas habilidades que terão que ser adquiridas a longo prazo de vida (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI; 2019).

“Depois da cirurgia, o psicólogo trabalha com você a questão da cabeça mudar né?! Porque o corpo já mudou” (P1).

“Sou outra pessoa em questões emocionais, positivamente falando” (P1).

“Parei com toda paranoia e compulsão que eu tinha antes de fazer a cirurgia” (P5). Através das falas das participantes, pode-se ver a relação do procedimento e as mudanças psicológicas que aconteceram. Desde o trabalho do psicólogo no pós-operatório, e as mudanças comportamentais dos pacientes em relação ao corpo, mente e emocional.

Após a perda de peso, mesmo com a sensação de conquista e boas expectativas em que o paciente se coloca, sensações de competências que ele pode vir a se colocar, como se os problemas terminassem, através das condições anteriores de obesidade, essas que fizeram com que o paciente procurasse o procedimento, independente do motivo da procura, é importante

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falar do reforço positivo que é dado pela equipe multidisciplinar e familiares, é um apoio muito importante e que acaba contribuindo para as novas condições. Porém, existem fases de medo e sofrimento pelo controle em que o paciente precisa ter para inclusão social que ele se autor recoloca, inclusão social essa, em que pode acarretar medo de rejeição em convívio com os amigos, medo de passar mal ou até, então, de sentar-se à mesa com os seus familiares para refeições (KERNKRANT; SILVA; GIBELLO, 2017).

Ao observar algumas falas dos participantes, fica visível o medo de voltar às condições anteriores ou não conseguir lidar com o objeto alimento:

“No começo, eu tinha medo de sentar com a minha família para almoçar e tal, por talvez não ter o controle pra isso” (P2).

“É que dá um medo muito grande de volta a engordar” (P3).

“É difícil psicologicamente falando seguir regras de alimentação, às vezes, quando vou almoçar eu coloco a quantidade que eu comia antes e eu como um pedacinho e isso dá um medo (P4).

Após esse momento inicial, nota-se que surge a fase de desafios, o paciente precisa aprender a lidar com suas angústias que antes tinham com relação a alimentação e estas eram validadas pelo ato de comer. Nem sempre isso é possível de imediato, pode acontecer complicações emocionais, estas em que o paciente acaba associando o medo de agora com o movimento que o frustrava antes (BENEDETTI; THEODORO, 2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha de aplicar o questionário em cinco pessoas que já passaram pelo procedimento de cirurgia bariátrica, foi para que cada uma delas trouxessem suas experiências subjetivas de uma mesma escolha, que cada uma fez como mudança em suas respectivas vidas. Diante de todas as transformações de um mesmo contexto de escolha, trazendo as mudanças perceptíveis como as corporais, emocionais, influências sociais de um padrão e estereótipos de suas influências e raízes. Ressaltando as ideias se consideram ou não o profissional psicólogo importante para o preparo de cirurgia e o acompanhamento pós-cirúrgico diante de todas grandes mudanças.

O que pode-se ver é que, na pesquisa, apareceram resultados um tanto quanto parecidos, em questões de preconceitos, dores físicas, dores emocionais, cobranças de um padrão imposto e como as influências sociais acabam querendo distinguir quem você é pela sua forma física e não por quem você realmente é. Antes do procedimento e depois do

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procedimento que a maioria dos resultados alcançados foram os positivos, e outros negativos, talvez, sempre tenham que ser tratados, mas que a base do reconhecer o que é preciso ser tratado pode-se considerar um ponto positivo de ter um profissional qualificado para poder trabalhar todos os conceitos que apareceram na pesquisa.

Através da pesquisa, foi observado o quanto os participantes positivaram a importância do profissional psicólogo para avaliação pré-cirúrgica e acompanhamento pós-cirúrgico. Alguns dos participantes até optaram, antes mesmo da cirurgia, por procurar a psicoterapia. Os mesmos relatam ter mudanças na forma de pensar antes mesmo da avaliação da equipe multidisciplinar, encontrou-se até participantes que relataram o desejo de permanecer com o tratamento psicológico.

Todas as participantes contam o quanto as mudanças de hábitos são de extrema importância, sendo apontadas, principalmente, as alimentares que são restringíveis diante de velhos hábitos que tinham antes da cirurgia e precisam sempre ser trabalhados. Dizem, também, que hoje sentem a vida de uma forma diferente, com mais saúde, disposição e autoestima, em todos aspectos, não apenas corporal, mas internamente satisfatório. Mesmo com lembranças que, posteriormente, colocam sobre ir a lugares que não iam, não fazem isso um sentido negativo, mas, sim, obstáculos que foram vencidos e continuam em processo quanto as raízes que foram tratadas, não colocam isso como empecilho atualmente, e sim como grandes vitórias.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço aos meus pais, pela oportunidade de estar aqui hoje e sempre, por estarem ao meu lado em todos os momentos, bons e os difíceis, também.

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Ao meu namorado, que sempre me deu força e nunca deixou que eu desistisse ou desacreditasse que isso tudo seria possível.

Aos meus irmãos e à minha cunhada que também acompanharam tudo e me ajudaram sempre.

À minha orientadora que tanto admiro como profissional e ser humano, sou muito grata por ter acreditado nas minhas ideias e apoiá-las.

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