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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 24ª Câmara de Direito Privado

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Registro: 2016.0000630034

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do(a) Apelação nº 1017734-84.2013.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante OTÁVIO SANTOS ABDALA, é apelado TURKISH AIRLINES INC.

ACORDAM, em 24ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PLINIO NOVAES DE ANDRADE JÚNIOR (Presidente) e WALTER BARONE.

São Paulo, 25 de agosto de 2016.

SILVIA MARIA FACCHINA ESPÓSITO MARTINEZ RELATOR

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VOTO Nº 1912

Nº Processo - Classe: 1017734-84.2013.8.26.0100 - Apelação

Origem: Comarca de São Paulo

Juiz(a) de 1º Grau: Marcos Roberto de Souza Bernicchi

Partes: Apelante: Otávio Santos Abdala

Apelado: Turkish Airlines Inc

TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL DE

PESSOAS. Extravio definitivo de bagagem. Aplicação da Convenção de Varsóvia. Necessidade de declaração de conteúdo de bagagem. Relação de consumo. Dano moral e material.

1. O transporte aéreo internacional de passageiros insere-se nas normas do Código de Defesa do Consumidor. Não aplicação ao caso da Convenção de Varsóvia Precedentes. 2. O extravio de bagagem acarreta dano moral e material.

3. Dano material restrito aos bens extraviados,

suficientemente discriminados e individualizados.

Reconhecimento de dano material no importe de R$7.000,00.

4. Dano moral decorrente de todo o constrangimento causado pela perda da bagagem, que afetou a renovação dos votos matrimoniais. Fixação em R$ 3.000,00.

RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

Trata-se de apelação interposta contra a r. sentença de fls. 113/115, complementada em sede de embargos de declaração rejeitados às fls. 121/122, que julgou improcedente a ação indenizatória de dano moral e material.

Nas razões recursais, o requerente, evocou a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Sustentou ter sofrido dano material e moral decorrente do extravio de sua mala em voo internacional com destino a Atenas, onde embarcou em cruzeiro marítimo sem trajes apropriados. Destacou que a viagem tinha por objetivo principal a renovação dos votos de dezenove anos de matrimônio, cuja celebração acabou por se dar num jantar no quarto sem a gala planejada.

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Argumentou que o constrangimento por não poder participar dos eventos a bordo do navio e o tempo dispendido em razão do extravio da respectiva mala caracterizaram o dano moral. Reputou caracterizado o dano material ante a perda de pertences e vestuário que o impediram de desfrutar da viagem.

Em consequência, pleiteou a condenação da companhia aérea responsável pelo extravio de bagagem ao pagamento de indenização por dano material de R$ 24.135,91 e por dano moral no montante de R$ 20.000 (fls. 124/144).

Apelação recebida no duplo efeito às fls. 146. Contrarrazões às fls. 148/160.

É O RELATÓRIO.

O presente recurso comporta parcial provimento.

De início cumpre destacar que a r. sentença foi publicada ainda sob a vigência do CPC/1973.

Restou incontroverso que o apelante tivera a respectiva mala extraviada quando já se encontrava sob a responsabilidade da companhia aérea em voo com destino a Atenas, Grécia, de onde partiria em cruzeiro marítimo.

Em primeiro grau, a ação foi julgada improcedente ao fundamento de que por se tratar de transporte aéreo internacional seria aplicável ao caso a Convenção de Varsóvia em detrimento do Código de Defesa do Consumidor, de modo que haveria necessidade de declaração dos bens despachados no momento do check in. Ademais, a perda de bens materiais comuns não ensejaria dano moral.

No entanto, respeitado o entendimento do MM. Juiz a quo, o transporte aéreo de passageiros internacional se submete às normas do Código de Defesa do Consumidor, devendo prevalecer o princípio da indenização do dano.

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Com efeito, a proteção do consumidor, além de ser um direito fundamental1, é um dos princípios em que está alicerçada a ordem econômica pátria2.

Sob esse prisma, o CDC, encerra um microssistema de normas principiológicas não derrogáveis por lei especial ou lei mais recente, quando tal resultar em supressão de direitos e garantias do consumidor, como já pacificado pelo STJ:

“Em hipótese como a dos autos, na qual se pleiteia a condenação da ré ao pagamento de indenização pelos danos decorrentes do extravio de sua bagagem, em transporte aéreo internacional, a jurisprudência desta Corte Superior orienta-se no sentido de prevalência das normas do Código de Defesa do Consumidor em detrimento da Convenção de Varsóvia”3 .

Consequentemente, não havia que se falar em tarifação e limitação da responsabilidade, por aplicação da Convenção de Varsóvia.

Definida a submissão do caso aos ditames do CDC, caberá examinar a extensão dos danos, sendo incontroversa a falha na prestação pela companhia aérea.

Em relação ao dano material, descabida a pretensão do apelante em ser ressarcido pelas despesas referentes aos traslados (passagens aéreas, viagem terrestre e cruzeiro), eis que tais serviços foram efetivamente prestados. Eventual frustração deverá ser analisada exclusivamente no campo do dano extrapatrimonial.

Assim sendo, no presente caso, em que pese ser crível o rol de objetos e vestuário que estariam dentro da mala extraviada (fls. 31), considerando-se a duração, o tipo de viagem, e a condição econômica do requerente, apenas aqueles devidamente discriminados são passíveis de restituição, o que, de pronto, afasta qualquer dever de indenizar o item “EXTRAS”.

1 art. 5º, XXXII, da Constituição Federal. 2 art. 170, V, da Constituição Federal.

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Destarte, por aplicação das regras de experiência comum, devendo ser ponderada a depreciação de bens semiduráveis, atribui-se ao dano material o importe de R$7.000.00, corrigíveis pela Tabela Prática do TJSP desde a data do fato, com incidência de juros moratórios de 1% ao mês a partir da citação.

Em relação a dano moral, não houve tão somente o extravio de bagagem com bens comuns, recaindo também na alegada mácula sobre a viagem para a renovação dos votos matrimoniais.

As núpcias em 17.9.1993 foram comprovadas pela certidão de casamento (fls. 21), não sendo possível elidir o fato de que o aniversário de tal data se dera quando o casal se encontrava a bordo do navio (fls. 27). A par disto, é de conhecimento notório que cruzeiros marítimos contam com jantares, noites de gala, e mesmo que assim não fosse, o apelante estava completamente desprovido de seus pertences e vestuário, o que sem sombra de dúvida ensejou situação embaraçosa e de grande frustação.

De modo que, observadas a extensão do dano e a condição econômica das partes, a indenização por dano moral em R$3.000,00, suficiente para compensar o abalo emocional, sem ensejar enriquecimento sem causa, bem como para punir e inibir a reincidência da conduta desidiosa, com correção monetária pela Tabela Prática do TJSP e incidência de juros moratórios desde a citação.

Por fim, no que tange à sucumbência, vencido em maior parte, arcará a requerida com custas e honorários advocatícios arbitrados em 15% da condenação, tudo com correção monetária até o efetivo pagamento.

Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao recurso.

SÍLVIA Maria Facchina ESPÓSITO MARTINEZ Relatora

Referências

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