• Nenhum resultado encontrado

luana da silva almeida

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "luana da silva almeida"

Copied!
106
0
0

Texto

(1)

Luana da Silva Almeida

O processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo: estudo dos impactos na atividade turística local, expectativas e percepção da população

São Paulo

(2)

O processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo: estudo dos impactos na atividade turística local, expectativas e percepção da população

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção de graduação no Curso Superior de Tecnologia em Turismo e Hospitalidade.

Orientadora: Profª Ms. Marlene das Neves Guarienti

São Paulo

(3)

Folha de Aprovação

Título do trabalho: O processo de revitalização da Praça da República, em São

Paulo: estudo dos impactos na atividade turística local, expectativas e percepção da

população

Data da defesa: 26 / 06 / 2007

BANCA EXAMINADORA:

Orientador: Marlene das Neves Guarienti Ass.: _______________________ Professor: Brenno Vitorino Costa Ass.: _______________________ Professor: Rafael Chequer Bauer Ass.: _______________________

(4)

Dedico este trabalho àqueles que acreditam e trabalham

(5)

Agradeço a todos aqueles que me incentivaram e contribuíram para a elaboração deste trabalho de maneiras diversas, todas muito importantes. Em especial, aos meus pais, pelo apoio e incentivo de sempre, à professora Marlene, pela orientação e atenção dispensada, e aos amigos, pela paciência.

(6)

“Não freqüento a praça, apenas durmo aqui...”

(7)

ALMEIDA, Luana da Silva. O processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo: estudo dos impactos na atividade turística local, expectativas e percepção da população. São Paulo, 2007. 105p. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Tecnologia em Turismo e Hospitalidade - Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo.

Considerando o processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo, esta pesquisa dedicou-se a estudar os impactos das intervenções do poder público na utilização do local para atividades turísticas e de lazer. Com base em levantamento bibliográfico, em pesquisas de campo com a demanda, visitantes e transeuntes, e com expositores da Feira de Artes e Artesanato, além de entrevistas com órgãos gestores, pretendeu-se identificar a importância histórica e cultural da praça e sua relevância como espaço público de lazer e turismo. Foram analisadas também as avaliações da população e de expositores quanto às alterações ocorridas. Pôde-se verificar que o lugar ainda é predominantemente é reconhecido como mero local de passagem, especialmente em virtude da permanência de aspectos problemáticos como falta de segurança, presença de moradores de rua, comércio ambulante, entre outros. Por fim, a pesquisa estuda e sugere possibilidades de maior integração da Praça da República ao cenário turístico do centro de São Paulo, bem como a oferta de atividades culturais de lazer para a população local.

(8)

ALMEIDA, Luana da Silva. O processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo: estudo dos impactos na atividade turística local, expectativas e percepção da população. São Paulo, 2007. 105p. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Tecnologia em Turismo e Hospitalidade - Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo.

Regarding the regeneration process on Praça da Republica, Sao Paulo, this research studied the impacts of the intervention of the government on the use of the place for touristic activities and leisure. As per bibliographical and in place researches within visitors, passer-bys and expositors of the Fair of Arts and Handicraft, besides the interviews with the managing institutions, the importance given was to historical and cultural meaning of the square and its relevants aspects as public place for leisure and tourism. It has been also analysed the impression of the people and expositors on the changes made. According to such research, the place is still considered as a passing-by way, specially due to the problems found such as lack of security, as well as beggars, street sellers etc. Finally, this research studies and suggests the possibilities of integrating the Praça da Republica into the touristic scenary of the downtown in Sao Paulo, as well as offering the local inhabitants more leasure and cultural activities.

(9)

FIGURA 01 – Folder touradas ... 24

FIGURA 02 – Edifício Caetano de Campos atualmente ... 26

FIGURA 03 – Escola Caetano de Campos em 1908 ... 27

FIGURA 04 – Projeto paisagístico de 1903 ... 28

FIGURA 05 – Documento de obras de Prefeitura de 1903 ... 29

FIGURA 06 – Praça da República em 1914 ... 30

FIGURA 07 – Praça da República em 1958 ... 31

FIGURA 08 – Feira de Artes e Artesanato em frente ao Caetano de Campos ... 32

FIGURA 09 – Feira de Artes e Artesanato - artistas, artesãos e hippies... 33

FIGURA 10 – Praça fechada por grades ... 36

FIGURA 11 – Projeto atual – Praça antes da reforma ... 37

FIGURA 12 – Projeto atual – Praça após a reforma ... 38

FIGURA 13 – Praça reformada – lago ... 38

FIGURA 14 – Praça reformada ... 39

(10)

GRÁFICO 01 – Gênero do entrevistado... 52

GRÁFICO 02 – Idade... 52

GRÁFICO 03 – Escolaridade... 53

GRÁFICO 04 – Renda familiar... 53

GRÁFICO 05 – Ocupação... 54

GRÁFICO 06 – Residência... 54

GRÁFICO 07 – Motivação... 55

GRÁFICO 08 – Freqüência de visitação à Praça da República... 55

GRÁFICO 09 – Freqüência de visitação à Feira de Artes e Artesanato... 56

GRÁFICO 10 – Motivação e freqüência de visitação à Praça da República... 56

GRÁFICO 11 – Visitação à Praça da República e à Feira e Artes e Artesanato... 57

GRÁFICO 12 – Importância histórica da Praça da República... 58

GRÁFICO 13 – Importância turística da Praça da República... 58

GRÁFICO 14 – Benefícios da reforma... 59

GRÁFICO 15 – Praça como local para lazer e descanso... 59

GRÁFICO 16 – Importância da reforma da Praça da República... 60

GRÁFICO 17 – Principais melhorias necessárias... 60

GRÁFICO 18 – Avaliação da beleza... 61

GRÁFICO 19 – Avaliação da segurança... 61

GRÁFICO 20 – Avaliação da limpeza... 62

GRÁFICO 21 – Avaliação da organização... 62

GRÁFICO 22 – Avaliação da sinalização... 63

(11)

GRÁFICO 26 – Avaliação da Feira de Artes e Artesanato... 65

GRÁFICO 27 – Avaliação da atratividade do local... 65

GRÁFICO 28 – Principais transtornos causados pela reforma... 69

GRÁFICO 29 – Principais mudanças percebidas após a reforma... 69

GRÁFICO 30 – Visitação da Feira após a reforma... 70

GRÁFICO 31 – Expectativas em relação à reforma... 71

GRÁFICO 32 – Principais sugestões para estimular a visitação no local... 71

(12)

Em uma cidade que concentra tantos povos, culturas, música, arte e uma infinidade de possibilidades, os espaços precisam ser melhor aproveitados e preservados de modo a atender a pluralidade de suas demandas de forma eficiente. São Paulo exibe uma coleção de ambientes que se prestam a abrigar diversos eventos culturais, a exemplo do Vale do Anhangabaú, palco de espetáculos e atividades culturais variadas e o Parque do Ibirapuera, também rico em ofertas nesse sentido. Tendo em vista a relevância dos locais públicos a céu aberto, suas aptidões para a exploração como palco dessas atividades e como atrativos turísticos da cidade de São Paulo, o presente trabalho se dedica a analisar o processo de revitalização da Praça da República e os impactos daí decorrentes. O lugar, que há muito necessitava de atenção por parte do poder público, recentemente passou por uma reforma, a qual compõe o Programa de Reabilitação da Área Central de São Paulo, desenvolvido pela Prefeitura da Cidade de São Paulo.

A Praça, além de ter a sua importância histórica e atrair turistas aos fins de semana, é passagem quase obrigatória para grande parte da população que trabalha, mora, visita o centro da cidade ou embarca no Metrô – estação República – e nos vários pontos de ônibus existentes no entorno. Entretanto, o lugar é visto com receio pelos que passam, pois não raro vê-se mendicância, prostituição e consumo de drogas. Assim, muitos evitam passar por ali e fazem caminhos alternativos, utilizando a passagem subterrânea do Metrô. Tal situação impede que a beleza e as possibilidades desse espaço sejam percebidas e devidamente valorizadas, fazendo com que ele perca a sua função fundamental de convívio e lazer.

Em função da situação de abandono em que a Praça da República esteve por um tempo considerável e por visualizar uma perspectiva de mudança em decorrência do processo de revitalização, a autora desse projeto, convivendo diariamente com essa realidade, pretende

(13)

expõem e comercializam seus produtos no local, e dos visitantes em relação ao processo de revitalização, a fim de verificar o impacto das ações do poder público para desenvolvimento da atividade turística, tendo-se em conta o planejamento turístico previsto para a região.

Considerando o grande potencial turístico do centro da cidade de São Paulo, comprovado por atrativos como Vale do Anhangabaú, Pátio do Colégio, Largo de São Bento, Largo São Francisco, entre outros, bem como suas belezas explícitas e aquelas ainda ofuscadas pelo abandono e a depredação, a revitalização surge como uma possibilidade de maior desenvolvimento do local, com a Praça da República compondo o cenário turístico do Centro, à medida que se reduzam os contrastes entre áreas revitalizadas e abandonadas. Tal desenvolvimento poderia resultar em benefícios econômicos, com o aquecimento do comércio pelo Turismo e, ainda, beneficiar a população que teria um novo espaço, muito mais agradável e seguro.

A pesquisa em questão pretende servir de subsídio para análises posteriores, servindo de base para estudos relativos a planejamento e gestão de atrativos turísticos, assim como para a criação de projetos e políticas de desenvolvimento do turismo em outras áreas urbanas, de forma a melhor atender as necessidades das demandas, tanto de oferta – caso dos comerciantes locais – quanto do público visitante. Considerada a necessidade de retribuição à sociedade, tendo em vista o caráter público da Instituição, o estudo visa ainda contribuir na formação de profissionais capacitados, agregando valor, inclusive, ao curso superior de Tecnologia em Turismo do CEFET-SP, de modo a colaborar com o desenvolvimento de atividades turísticas no país.

(14)

1 Introdução ... 14

1.1 Histórico da Praça da República ... 22

1.2 A reforma ... 35

2 Procedimentos Metodológicos ... 50

2.1 Demanda – pesquisa ... 52

2.1.1 Perfil Sócio-econômico ... 52

2.1.2 Motivação e freqüência ... 55

2.1.3 Importância histórica e turística ... 58

2.1.4 Reforma ... 59

2.1.5 Avaliações e melhorias necessárias ... 60

2.1.6 Interpretação dos dados - demanda ... 66

2.2 Expositores - entrevista ... 69

2.2.1 Impactos causados pela reforma ... 69

2.2.2 Expectativas e sugestões ... 71

2.2.3 Componente do cenário turístico da cidade... 72

2.2.4 Interpretação dos dados - expositores ... 73

2.3 Gestores - entrevista... 74

2.3.1 Entrevista com EMURB – Empresa Municipal de Urbanização ... 74

2.3.2 Entrevista com Subprefeitura Regional da Sé ... 77

2.2.3 Interpretação dos dados – gestores ... 79

3 Considerações finais ... 81

REFERÊNCIAS ... 86

APÊNDICES ... 93

(15)

1 Introdução

Ontem à noite grande número de famílias dirigiu-se à Praça da República para ouvir a banda musical. Rapazes joviais, grupos cheios de vida e contentamento percorreram as ruas da cidade...

(O Estado de S. Paulo, 1922)

Sobre o lazer em São Paulo no início do século XX, Pires (2002, p.97) afirma que “com a criação de praças naquele período, os passeios começaram a fazer parte da vida dos paulistanos que se acostumaram a se encontrar nesses lugares públicos”.

A praça era, então, ponto de encontro, cenário de histórias e de manifestações culturais. Um lugar para a família, para o passeio, a diversão, o lazer enfim. Segundo Barreto (2003, p.56) “O turismo no Brasil surgiu vinculado ao lazer, não tendo cunho educativo como na Europa”. Americano apud Bruno (1981, p.125), relata: “Ajardinada, a Praça da República, ao cair da noite, depois do jantar, tornou-se ponto de reunião das famílias dos campos Elíseos, Vila Buarque e Higienópolis”. Entretanto, a Praça da República sofreu com as rápidas transformações da sociedade, decorrentes do advento da industrialização, já nos anos de 1950, o que, segundo Alves (2006), modificou o tipo de ocupação dos espaços, fazendo com que o centro de São Paulo deixasse de ser prioritariamente residencial para se tornar centro comercial e financeiro da cidade. Mais tarde, a partir dos anos de 1970, a região começou a perder o seu glamour quando a cidade ganhou novos pólos financeiros na região da Avenida Paulista e, posteriormente, nas avenidas Faria Lima e Luís Carlos Berrini. Nadia Somekh, diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em entrevista à revista Veja São Paulo, em novembro de 2005, explica que, como as áreas residenciais tendem a acompanhar os endereços financeiros, pois muitos preferem morar próximo ao trabalho,

(16)

logo o centro se popularizou e deixou de ter a importância de antes. Assim, a Praça da República perdeu sua característica de ambiente de lazer. Como enfatiza Costa,

Com o rápido avanço no crescimento da cidade, aos poucos os antigos centros, inclusive suas praças, passaram por um processo de descaracterização e deterioração contínua, tornando-se assim espaços de mera circulação perdendo sua importância no contexto urbano. (Costa, 2001, p.30)

Em um país onde a educação, a cultura e as tradições não são, historicamente, suficientemente preservadas, o abandono da Praça da República e o desconhecimento da população em relação a ela foram, e ainda são, muitas vezes, ignorados tanto pelos moradores quanto pelas autoridades. A Praça da República é um dos mais antigos passeios públicos e encontrava-se até recentemente em estágio avançado de abandono e degradação. Um dos agravantes de seu estado era a falta de segurança e o conseqüente aumento da violência. A prática constante de prostituição é outro fator que nos últimos anos contribuiu significativamente para o aumento da insegurança no local.

Conforme Yázigi (2000, p.71), “quem já nasce nos escombros fica de tal modo familiarizado com o definhamento ambiental, que nem se dá conta ou pouco se incomoda”. Desse modo, os habitantes da cidade muitas vezes se acomodam, pois estão acostumados com aquele espaço degradado. Não se trata somente de uma questão de acomodação da população, mesmo porque ela está condicionada a ações da esfera pública na maior parte das vezes e acaba sendo a maior vítima da falta de políticas neste sentido. Trata-se, sobretudo, de planejamento e vontade política, já que o município possui poder para implementar ações de melhorias nessas áreas. Yázigi (2000, p.30) cita ainda: “O município tende a ser, graças a sua grande soberania no uso e ocupação do solo, um dos principais protagonistas na construção da paisagem”.

(17)

Sobre a atuação do poder público, Andrade (2002) constata que, apesar de existirem órgãos locais e regionais responsáveis pela realização de políticas voltadas para o turismo, e essas serem até mesmo conhecidas pela população, elas gozam de pouca confiabilidade, pois não têm atendido às expectativas sociais.

Diante do poder e da autonomia das prefeituras, as expectativas criadas em torno delas quanto a ações que priorizem a revitalização e a valorização de espaços importantes para a memória cultural da cidade e para o desenvolvimento da atividade turística e o desenvolvimento econômico, tendem a ser cada vez maiores. O melhor aproveitamento dos espaços turísticos poderia gerar maior desenvolvimento econômico e social para a população local. Porém, essa possibilidade está condicionada à atuação do poder público. Conforme Yázigi,

Com tantos recursos na mão que podem alterar o valor da terra e dos imóveis construídos, o prefeito e as câmaras municipais têm em suas mãos um poderosíssimo instrumento de mais (ou menos!) valia. Mas também de expressão política e cultural. (Yázigi, 2003, p.179)

Obviamente mesmo quando há vontade política, o poder público não consegue reformar e manter tudo concomitantemente e tampouco sozinho. Sem o engajamento da sociedade torna-se bastante difícil a reestruturação do patrimônio. Como indica Barreto (2000, p.37) “Os processos de revitalização, como é o caso da associação ”Viva o Centro” em São Paulo, são lentos e necessitam do apoio da sociedade civil voluntária ou involuntariamente envolvida”. Segundo Rodrigues (2003, p.16), “A preservação resulta da negociação possível entre os diversos setores sociais, envolvendo cidadãos e poder público”.

(18)

Nestes termos, o Vale do Anhangabaú, praticamente revitalizado, em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e a Associação Viva o Centro, por alguns anos contrastou com a Praça da República e seu entorno, onde se via, e infelizmente ainda se pode perceber, sujeira, desorganização do comércio ambulante e miséria. Enquanto a revitalização não abrange todas as áreas, a desigualdade tende a parecer cada vez mais evidente e desagradável. “Sem dúvida, a revitalização coloca mais visibilidade nas desigualdades sociais, porque situa ilhas de renovação em mares de decadência” (Zukin apud Yázigi, 2003, p.71).

Esses contrastes na paisagem da cidade contribuem negativamente para sua a imagem e, por mais que existam os “oásis”, a percepção geral do lugar fica fortemente prejudicada, afetando a atividade turística. Para Yázigi (2003), o vandalismo, associado a outros tantos fatores negativos, como violência ou falta de competitividade, gera um estigma de subdesenvolvimento do lugar, desfavorecendo, assim, a sua imagem tanto nacional quanto internacionalmente e exclui perspectivas de desenvolvimento da atividade turística.

A problemática da construção e da perpetuação da imagem do local decorre da preservação e manutenção de vários aspectos, que vão desde o natural até o arquitetônico. Por isso, Burke apud Faria (2001, p.86) relata sua perplexidade acerca do tratamento dado aos espaços públicos na cidade de São Paulo: “Quando visitei a cidade pela primeira vez – e conhecendo as tradições urbanas da Itália e de Portugal –, surpreendeu-me a virtual ausência de praças públicas e o descaso com as poucas existentes”. Segundo Rodrigues (2003), excetuando-se os casos das cidades históricas, no Brasil o poder público não assumiu a responsabilidade sobre os patrimônios histórico e arquitetônico, os quais não são integrados em políticas públicas que favoreçam a solução de problemas sociais, como o de moradia, tampouco que visem o desenvolvimento da atividade turística de forma minimamente satisfatória.

(19)

A feira de artesanato, que acontecem aos fins de semana na praça, é de grande riqueza cultural e diversidade e poderia ser valorizada e incentivada como forma de resgate e enaltecimento da memória cultural. Segundo Ignarra (2003) o artesanato constitui um importante elemento na composição do produto turístico, pois comumente o turista deseja comprar lembranças do lugar visitado. Além disso, Barreto (2000, p.27) afirma que “o turista de massa compra souvenirs como modo de provar sua viagem, o que lhe proporciona status social”. Tais afirmações confirmam a importância desse elemento como fator de atratividade turística.

O turismo cultural, como define Rodrigues (2003), abrange não só espetáculos e eventos, mas também a preservação do patrimônio cultural, no qual se inserem museus, monumentos e locais históricos. Barreto (2000, p.20) define turismo cultural como “todo turismo em que o principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros aspectos que o conceito de cultura abrange”.

O turismo cultural funcionaria como impulsionador não só da economia local, mas sobretudo como fator que desencadeia o processo de aproximação entre passado e presente. Banducci (2001), propõe que a valorização da memória cultural, que pode ser inicialmente vista como encenada ou meramente espetacularizada para o turista, acaba por se transformar em movimento cultural genuíno, despertando o real interesse da população e contribuindo para a reconstrução de valores, tradições e conhecimento do próprio passado, o que constitui benefício não só para o desenvolvimento da atividade turística, como também, e principalmente, para a revitalização da identidade local.

(20)

A arquitetura local, abrangidos neste âmbito o estilo arquitetônico e o paisagismo das praças, é elencada por Ignarra (2003) como grande atrativo turístico. Em concordância com este ponto de vista, Macedo, define paisagismo:

Paisagismo é um termo designado às diversas escalas e formas da ação e estudo sobre a paisagem, que podem variar do simples procedimento de plantio de um jardim até o processo de concepção de projetos complexos de arquitetura paisagística como parques e praças. (Macedo, 1999, p.13)

As ações implementadas em algumas áreas do centro da capital paulistana atraem a atividade turística, mas não há como negar os contrastes, não há como escondê-los do turista. Lozato-Giotart apud Yázigi (2003), coloca o espaço como matéria prima do turismo e afirma que os fatores geográficos desempenham papel fundamental na atração de um lugar turístico. O autor classifica ainda as condições naturais, o patrimônio histórico, o potencial técnico e o ambiente econômico como fatores geográficos que intervêm, combinados ou não, nos diferentes tipos de turismo. A população local, habituada com aquela paisagem e situação social, não se dá conta do impacto negativo que o abandono, a violência e a degradação causam ao desenvolvimento da atividade turística.

Mais que ações de revitalização física do local, existe a necessidade de resgate da cultura, da historicidade, pois além da questão identitária, a recuperação da memória leva ao conhecimento do patrimônio e este à sua valorização por parte dos próprios habitantes do local (Barreto, 2000). Para Rodrigues (2003, p.17), “preservar o patrimônio cultural – objetos, documentos escritos, imagem, traçados urbanos, áreas naturais, paisagens ou edificações – é garantir que a sociedade tenha maiores oportunidades de perceber a si própria”.

(21)

A conscientização da população e o resgate da memória cultural possibilitam o comprometimento com o patrimônio tão necessário ao sucesso de uma ação de revitalização. Como cita Le Goff (1990 p.476), “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”.

A identificação com o lugar, seu patrimônio e tradições, só é possível quando o indivíduo se percebe como parte integrante do processo de criação da cultura. No Brasil, negros e brancos pobres, desde o início da construção da história do país, sempre aprenderam a ver suas funções restritas a posição de trabalhadores e não como construtores de cultura. Isso explica, conforme Rodrigues (2003), a distância entre grande parte da população e o patrimônio cultural.

Para Pires (2002), a identidade cultural que falta a São Paulo só pode ser alcançada por meio da preservação do patrimônio, valorizando tanto o que é genuinamente paulistano como também o fruto da contribuição de seus imigrantes. A mudança, apesar de dever contar com o apoio da população e da iniciativa privada, necessita que o poder público assuma a sua frente, já que, como destaca Yázigi (2003, p.179), “Ao contrário do que muitos prefeitos sonham, o turismo não é uma atividade que possa amadurecer no espaço de uma gestão... é um investimento a médio e longo prazos”. Costa, cita:

Historicamente os espaços públicos são também espaços turísticos, como é o caso do Pelourinho em Salvador ou da Champs Elyseés em Paris, portanto, para se voltar para o mercado de turismo e lazer é preciso que São Paulo requalifique os seus espaços públicos, sob a óptica de um planejamento urbano, paisagístico e funcional. (Costa, 2001, p.10)

(22)

A valorização e a revitalização da Praça da República, abrangendo sua relevância histórica e suas possibilidades de desenvolvimento turístico, poderão se reverter não só em crescimento econômico, como também e, sobretudo, em motivo de orgulho da população local. Conforme Barreto (2000, p.44-45) “A recuperação dos espaços revitalizados, se bem realizada, apóia-se na memória coletiva e, ao mesmo tempo, estimula-a, já que ela é o motor fundamental para desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e sua cultura”.

Trata-se, como diz Yázigi (2003), de criar condições para a vida cotidiana dos habitantes, antes de criar uma paisagem propícia ao turismo. Na verdade, uma ação conduz a outra na medida que a revitalização de espaços públicos induz à valorização do local pela população e o desenvolvimento da atividade turística pode resultar em condições de melhorias sociais, à proporção que favorece o crescimento econômico. A Praça da República por muito tempo não figurou nos cartões postais, apenas matérias de jornais nem sempre favoráveis ao turismo e ao orgulho local. Para Yázigi,

Há um barômetro quase infalível para se medir o vandalismo de uma cidade: os fotógrafos de cartões postais, com suas sensibilidades comuns, simplesmente não registram cenários deste jaez, não criam clichês sobre o que não merece ser visto. (Yázigi, 2000, p.83)

Diante da necessidade de recuperação da Praça da República, bem como do centro velho de São Paulo, surge a tão almejada revitalização. Desde maio de 2006, a Praça foi fechada por tapumes a fim de receber intervenções físicas. Segundo dados da Prefeitura Municipal de São Paulo, divulgados no website do órgão, a proposta do projeto, com conclusão prevista para 2007, era de devolver à Praça um aspecto muito próximo ao seu traçado original, de 1905, voltando a ser um local de convívio, opção de lazer e descanso para a comunidade. Foi implementado um novo projeto de paisagismo, em complemento à reforma que previa a colocação de pisos, recuperação de

(23)

esculturas, transplante de árvores, iluminação artística, restauração da impermeabilização e a implantação de canteiros aquáticos e seixos.

Desse modo, espera-se que a reforma da Praça da República seja mais que mera reconstrução do espaço, que seja um passo para o melhor aproveitamento daquele local e motivo de orgulho para a população, que poderá ser beneficiada com um ambiente de lazer agradável e seguro. É necessário que o município prime pela continuidade da preservação daquele espaço público e fomente as atividades que poderão ser desenvolvidas no local, tal como a Feira de Arte e Artesanato, as quais comporão os atrativos da praça.

Para que o lugar se torne, efetivamente, um local convidativo, integrando o cenário turístico do centro da cidade de São Paulo, será imprescindível que os demais projetos de reforma e requalificação da prefeitura tenham continuidade, pois diversos elementos reunidos – praças, edifícios, ruas e avenidas -, além de segurança, criam a paisagem, propícia ou não, para a atividade turística.

1.1

Histórico da Praça da República

A seqüência de denominações já recebidas pela Praça da República permite acompanhar o seu processo de evolução. A Praça começou a se formar no século XVIII, nas terras que pertenciam ao general José Arouche de Toledo Rendon. Inicialmente, o local era utilizado para exercícios militares, recebendo, por isso, a denominação de Praça da Legião. Nesta época, a praça possuía aproximadamente 48.500m2 de superfície.

Em 1811, o general Arouche, então inspetor-geral das milícias, propôs à Câmara Municipal a substituição do nome da praça para Praça dos Milicianos, devido ao uso pelo agrupamento militar.

(24)

O general sugeriu, ainda, agregar à praça dois terrenos próximos, de propriedade do Município, argumentando que havia necessidade de uma área maior para atender ao menos três batalhões de infantaria e para trabalharem em brigada. Além disso, o general alegava que tais terrenos poderiam servir para outros fins úteis à sociedade.

A alteração do nome do local foi aprovada pela Câmara, porém, a anexação dos terrenos, não. Para a Casa, a integração não era vantajosa, pois espaços livres urbanos eram tidos como inconvenientes, por possibilitarem aglomerações e serem inseguros. A Câmara argumentou que tais espaços deveriam servir a outros usos públicos. Assim, os terrenos não foram incorporados à praça, porém não tiveram uso público, como a havia sido justificado quando a solicitação do general Arouche foi negada.

Com o aviso régio, recebido pela Câmara, em janeiro de 1817, que recomendava que se realizassem festas em homenagem ao Rei D. João VI e à Família Real no Dia da Aclamação, 6 de abril, a praça passou a ser palco de touradas e cavalhadas. Sob o comando do coronel Daniel Pedro Müller, o local foi preparado para as atividades, onde foi construída a arena das touradas. A partir de então, passou a se chamar Campo dos Curros.

(25)

FIGURA 01 - FOLDER TOURADAS

Relatos da época, como o do naturalista Auguste de Saint-Hilaire, de 1819, reproduzem o cenário do local:

Existem em São Paulo várias praças públicas, como por exemplo a do Palácio e da Catedral e a da Câmara, mas são todas pequenas e nenhuma tem um traçado regular. Há porém na periferia da cidade uma praça muito ampla, a do Curro, cujo nome, que significa a arena onde se realizam as touradas, indica claramente a sua finalidade, essa

(26)

praça é rodeada de muros e à sua volta toda foi plantada uma fileira de cedros, árvore que cresce com extrema rapidez e dá boa sombra. Descortina-se ao longe uma bela vista formada pelas montanhas que limitam o horizonte. Na praça havia também à época de minha viagem uma arquibancada feita de madeira e de bom acabamento (...). Diga-se de passagem que, pelo fato de existir em São Paulo um local destinado às touradas, não devemos concluir que esse tipo de espetáculo seja comum no Brasil e apreciado de um modo geral pelos seus habitantes. Não tive ocasião de assistir a uma única durante a minha longa permanência no país. (Saint-Hilaire apud Kliass, 1993, p.92)

Seis anos após sua montagem, em 1823, as instalações que serviam às touradas foram retiradas, pois estavam em estado de ruína. Por quarenta e dois anos o local chamou-se ainda Largo ou Campo dos Curros, passando a ser chamado de Largo 7 de Abril, em referência à abdicação de D. Pedro I, em 07/04/1831. Muitas foram as reclamações da população em relação ao transtorno causado por problemas de drenagem surgidos na praça e imediações. Em 1879, a edição de 1º de março de A Província de São Paulo informava:

Desumanidade municipal: Continuam as reclamações dos habitantes do Largo dos Curros e imediações. Os ‘concertos’ que fez por aquellas alturas a municipalidade, reduzindo o Campo dos Curros a uma lagoa de águas podres, estão a produzir os seus tristes resultados cada vez em maior escala. Consta-nos que nas vizinhanças daquelle largo estão avultando de modo assustador os casos de febres paludosas. Cumpre que a municipalidade delibere alguma cousa em prol daquelle bairro da cidade, tanto mais quando é certo que o actual estado de cousas é resultado de disparates que foram por auctorização da municipalidade praticados nos ‘concertos’ que deram origem aquelles pântanos permanentes. A saúde pública deve merecer mais algum respeito. (A Província de São Paulo Apud Kliass, 1993, p.94)

(27)

O nome atual, Praça da República, data de 1889, quando o país tornou-se uma república. A região, que não era muito habitada, foi povoada com a construção do Viaduto do Chá, pois foi facilitada a passagem entre o chamado Centro Velho e o Centro Novo. Porém, nem mesmo com o novo batismo, a praça recebeu intervenção ou benfeitoria em seu espaço. Havia dois projetos de ajardinamento, datados de 1895. Um mais singelo, previa basicamente a construção de alamedas e o outro, um tanto mais elaborado, pretendia a construção de pavilhões. A Escola Normal Caetano de Campos, projetada pelo Engenheiro Antônio Francisco de Paula Sousa e detalhada por Francisco de Paula Ramos de Azevedo, foi construída em 1892 e chegou a abrigar os primeiros cursos de Filosofia da USP, transferidos depois para a Rua Maria Antônia. Hoje, o prédio é sede da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.

FIGURA 02 – EDIFÍCIO CAETANO DE CAMPOS ATUALMENTE

(28)

FIGURA 03 – ESCOLA CAETANO DE CAMPOS EM 1908

Somente em 1902, um projeto paisagístico começou a ser implantado na Praça. A autoria do trabalho não é conhecida. Sabe-se apenas que se deu na gestão do prefeito Antonio da Silva Prado. A Praça da República, ajardinada e totalmente remodelada, foi entregue à população em 1º de janeiro de 1905. De acordo com um quadro demonstrativo de despesas com as obras da Praça da República, relativo ao ano de 1903, infere-se que a Praça ganhou naquela ocasião uma aparência próxima à atual, com pedras artificiais, espelhos d’água, rochedos e área total aproximada de 30.800 m2. A hipótese é reforçada pela descrição do jornalista Domville-Fife, em

1909: “Um lindo e impecável jardim é o da Praça da República, onde os lagos artificiais cruzados por pontes rústicas também fazem parte da ornamentação” (Domville-Fife apud Kliass 1993, p.95). Ainda neste contexto, Americano apud Bruno (1981, p.125) descreve: “Ali por volta de 1902 a Praça da República foi cercada de arame farpado. Vieram carroças, removeu-se terra daqui para ali, fizeram o lago, plantaram árvores, gramaram canteiros e em uma tarde de Ano Bom, com banda de música, foi inaugurado o jardim, com a presença do Presidente do Estado e do Prefeito”. A partir de

(29)

então, o espaço começou a receber a alta sociedade da burguesia paulistana dos bairros de Campos Elíseos, Vila Buarque e Higienópolis, cujas famílias ali se reuniam.

FIGURA 04 – PROJETO PAISAGÍSTICO DE 1903

(30)

FIGURA 05 – DOCUMENTO DE OBRAS DA PREFEITURA EM 1903

Durante as primeiras décadas do século XX a Praça da República foi ponto de encontro e lazer de famílias paulistanas residentes naquela região. Além disso, estudantes da faculdade de Direito da USP se encontravam no local para recitar e cantar diante do busto de Álvares de Azevedo. A partir Fonte: KLIASS, 1993

(31)

de 1940, filatelistas e numismatas começaram a se reunir na Praça. Nos anos de 1960, os hippies chegaram com seus artesanatos típicos. Mais tarde juntaram-se a eles outros artistas a expor e comercializar obras diversas, transformando a feira em uma galeria de arte a céu aberto. Neste período, a feira foi oficializada pelo Prefeito Faria Lima e passou, em 1968, a ser organizada pela Secretaria de Turismo e Fomento do Estado de São Paulo, quando funcionou sem muitos problemas. Com a extinção dessa secretaria, a organização e fiscalização do espaço foram transferidas para o Anhembi Turismo e Eventos, apêndice do poder municipal que se dedicava às atrações culturais da cidade. Contudo, no início de 1980, a Secretaria Municipal de Abastecimento, responsável por todas as feiras livres realizadas nas ruas da cidade, passou a coordenar a Feira de Arte e Artesanato.

FIGURA 06 – PRAÇA DA REPÚBLICA EM 1914

(32)

FIGURA 07 – PRAÇA DA REPÚBLICA EM 1958

Diante de problemas como a degradação do espaço público, decorrente do desinteresse do poder municipal pela praça, e certa descaracterização dos artigos expostos, um grupo de artistas reuniu-se a fim de reativar a Associação de Artistas da Praça da República – que havia funcionado nos anos de 1970 e 1980 –, com o objetivo de implantar um projeto de reavaliação dos trabalhos dos expositores e, paralelamente, revitalizar a praça, de modo a torná-la mais atraente aos cidadãos. O grupo enviou um projeto ao gabinete da então Prefeita, Luísa Erundina, solicitando que a feira fosse coordenada pela Secretaria Municipal de Cultura e não mais pela Secretaria Municipal de Abastecimento. Entretanto, apesar da emissão de uma portaria para a alteração, o decreto não foi votado pela Câmara dos Vereadores. Na gestão de Celso Pitta, em 1997, a feira foi remanejada para a Avenida Tiradentes e Praça Roosevelt. A Prefeitura alegou que a feira estava causando

(33)

aumento da incidência de tráfico e uso de drogas na região. Tal mudança descaracterizou a feira e os problemas com entorpecentes, no entanto, continuaram.

Após quase quatro anos desativada, a Feira de Arte e Artesanato foi reativada na Praça da República em 2001, na gestão da Prefeita Marta Suplicy. Hoje o evento conta com uma média de 660 expositores aos sábados e 727 aos domingos, e funciona das 9h às 17h, conforme dados da Prefeitura de São Paulo. A Feira faz parte de diversos roteiros turísticos da cidade (anexo 4), como o City Tour Histórico, Tour Túnel do Tempo, Tour Cultural, Panorama da Cidade 1, SP de Todas as Faces, Conheça São Paulo, entre outros, realizados por diversas agências de turismo da cidade de São Paulo e divulgados inclusive no site do órgão oficial de turismo da cidade de São Paulo, a São Paulo Turismo. Atualmente sua gestão cabe à Subprefeitura Regional da Sé.

FIGURA 08 – FEIRA DE ARTE E ARTESANATO EM FRENTE AO CAETANO DE CAMPOS

(34)

FIGURA 09 – FEIRA DE ARTE E ARTESANATO – ARTISTAS, ARTESÃOS E HIPPIES

Entrementes, em meados dos anos 1970, as obras do Metrô, para a construção da Estação República, ameaçavam demolir o prédio da Escola Caetano de Campos e descaracterizar a praça. O projeto, contudo, foi alterado face às manifestações populares contrárias às intervenções. Em 1975, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – Condephaat, tombou o prédio, onde passou a funcionar a Secretaria Estadual de Educação. Desde então, a Praça tem sido palco de manifestações de professores da rede pública de ensino, espaço para assembléias e mobilizações por melhores salários e condições de ensino.

É essencial ressaltar que diversas manifestações importantes da história nacional tiveram como ponto de concentração a Praça da República. A Praça presenciou a luta de brasileiros que

(35)

reivindicavam mudanças políticas no país. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, quatro estudantes foram mortos quando uma multidão avançou contra a sede da Legião Revolucionária, que ficava na esquina da praça com a Rua Barão de Itapetininga. A morte dos estudantes paulistas em confronto com forças legais criou mártires: as iniciais de seus nomes - Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo - foram usadas para designar uma sociedade secreta, MMDC, que tramava para derrubar o governo. Em 1964, o local foi ponto de partida de para a Marcha da Família∗ que se

dirigiu à Praça da Sé. A praça transformou-se em um dos principais locais de manifestações estudantis contra o regime militar. Em 1984, a mobilização das Diretas Já movimentou o local. Até os dias atuais, a Praça da República é ponto de reunião para diversos protestos. No dia 20 de novembro de 2006, Dia da Consciência Negra, cerca de 600 pessoas realizaram um ato no local (O Estado de São Paulo, 2006). Mais recentemente, em 09 de maio de 2007, militantes GLTB – gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais – mobilizaram-se num Ato em Defesa do Estado Laico, motivado pela chegada do papa Bento XVI ao Brasil e fizeram, na Praça da República, uma vigília pelas vítimas da homofobia, de abortos clandestinos e da falta de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.

A partir de maio de 2006 a Praça da República foi fechada por tapumes para a realização de uma reforma. Além disso, as obras do Metrô, para a construção da linha 4∗∗, já intervinham no local,

Movimento que consistiu numa série de manifestações, ou "marchas", organizadas principalmente por setores do clero

e por entidades femininas em resposta ao comício realizado no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964, durante o qual o presidente João Goulart anunciou seu programa de reformas de base. Congregou segmentos da classe média, temerosos do "perigo comunista" e favoráveis à deposição do presidente da República.

∗∗ Linha 4 do Metrô: Tem seu percurso todo subterrâneo, desde a Estação Luz até a Vila Sônia, constituindo-se em uma

rota de integração com as demais linhas metroviárias e com a Linha 7-Celeste da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM. A Linha 4-Amarela integra-se com a Linha 1-Azul na Estação Luz; com a Linha 3-Vermelha na Estação República; com a Linha 2-Verde na Estação Consolação e com a Linha 7-Celeste da CPTM na Estação Pinheiros, junto à Marginal Leste do Rio Pinheiros.

(36)

como ocorre até então. Ainda assim, a Feira de Arte e Artesanato continuou a acontecer todos os fins de semana no entorno da praça. Em entrevista ao jornal O Globo (2007), o secretário coordenação das subprefeituras, Andrea Matarazzo, informou que ela continuará a ser realizada na calçada que contorna a praça mesmo após a conclusão das obras do Metrô. A feira atrai um grande público, que vai à República para ver e comprar pinturas, artesanatos em cobre, madeira, couro, esculturas, bijuterias em metal, entre outros. Os colecionadores, como filatelistas, numismatas e pedristas também se reúnem ali. Há ainda a realização de algumas apresentações culturais naquele espaço democrático. Toda essa diversidade, da qual a República é palco, foi construída ao longo das décadas e faz da praça uma importante referência da cidade de São Paulo, com potencial turístico a ser desenvolvido, de modo que o local contribua na composição da imagem e da oferta turística da cidade.

1.2 A reforma

Após longos anos de degradação e abandono, em 13 de maio de 2005 a Praça da República foi cercada por grades, medida esta de responsabilidade da Subprefeitura da Sé, órgão da Prefeitura Municipal de São Paulo responsável pela gestão na região (anexos 1 e 2). Segundo a Prefeitura de São Paulo, tratava-se de um primeiro passo para a retomada da segurança e da revitalização da praça, tomada por vendedores ambulantes sem autorização para comercialização durante o dia e, à noite, por moradores de rua, prostitutas e usuários de drogas. Na ocasião, foi intensificada a fiscalização realizada pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) a fim de evitar a presença de ambulantes no local. Cercada, a praça podia ser visitada apenas durante o dia.

(37)

FIGURA 10 – PRAÇA FECHADA POR GRADES

A reforma da Praça da República, bastante necessária e aguardada, em estudo desde a gestão de Marta Suplicy, faz parte de uma série de medidas indispensáveis à recuperação do centro de São Paulo. No início das intervenções, em 2005, o portal da prefeitura noticiava:

Parte do projeto de revitalização do centro de São Paulo iniciado pelas imediações da área conhecida como cracolândia, a reforma da Praça da República deve ajudar a dar uma nova cara à região central, um dos cartões postais da Capital e onde há grande fluxo de turistas, principalmente aos fins de semana. (www.prefeitura.sp.gov.br, 2005)

Neste contexto, o secretário de coordenação das Subprefeituras e subprefeito da Sé, Andréa Matarazzo, ressaltou: “São as primeiras intervenções físicas que vamos fazer na região central e que, seguramente, vão melhorar muito o ambiente para os paulistanos que freqüentam as praças no dia-a-dia e para aqueles que as visitam também” (www.prefeitura.sp.gov.br, 2005).

Um ano após a colocação das grades em torno da praça, o prefeito de São Paulo, José Serra, anunciou em 30 de maio de 2006, o início da revitalização. O projeto previa a reforma das praças República e Sé, com parte dos recursos oriundos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e com o objetivo de oferecer à população praças revitalizadas que permitissem sua utilização

(38)

como espaços públicos de convivência. Andréa Matarazzo explicou: “(...) serão eliminados os obstáculos físicos, visando facilitar a circulação e a acessibilidade, melhorar a visibilidade e oferecer maior integração dos espaços” (www.prefeitura.sp.gov.br, 2006).

O projeto foi elaborado pela Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) em parceria com o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) e contou com o apoio da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente. O consórcio formado pelas empresas Este Engenharia e Araguaia Engenharia foi selecionado, por meio de licitação, para a execução das obras. Dos R$ 3,1 milhões investidos na reforma da Praça da República, R$ 2,7 milhões vieram do BID e R$ 400 mil da Prefeitura de São Paulo.

FIGURA 11 – PROJETO ATUAL: PRAÇA ANTES DA REFORMA

(39)

FIGURA 12 – PROJETO ATUAL: PRAÇA APÓS A REFORMA

FIGURA 13 – PRAÇA REFORMADA - LAGO Fonte: Luana Almeida

(40)

FIGURA 14 – PRAÇA REFORMADA

As intervenções ocorreram nos 30.668m2 do espaço, excluindo o edifício Caetano de Campos, sede

da Secretaria Estadual de Educação. Os lagos foram totalmente reformados para o resgate do traçado original. Foram implantados canteiros aquáticos, restaurada a impermeabilização, rebaixada as bordas, reformado o sistema hidráulico e de oxigenação da água. Foi realizado o rebaixamento dos canteiros ao nível do chão, o retorno dos arcos de metal que caracterizavam o desenho original de 1905 e a instalação de blocos de concreto intertravado cinza e vermelho no piso. O coreto também recebeu novos revestimentos e iluminação. A ligação entre as ruas do Arouche e Sete de Abril passou por um processo de despoluição visual, com rebaixamento de grelhas e canteiros e remoção de algumas árvores, transplantadas para outras áreas da praça. Para delimitar a área

(41)

entre o edifício Caetano de Campos e a praça, foi criada uma fileira de palmeiras. As esculturas passaram por tratamento especial e receberam iluminação artística. O nivelamento dos pisos visou não somente o aumento da visibilidade, como também facilitar a circulação de pedestres, pessoas com mobilidade reduzida e deficiência física.

“Queremos melhorar a iluminação dos jardins, algo inexistente na praça. Ela está muito feia e deteriorada e a idéia é modernizar e adequá-la à região”, afirmou o subprefeito da Sé em entrevista ao jornal Diário do Comércio, em novembro de 2005. Uma das principais medidas voltadas para o aumento da segurança na República foi mudança na iluminação, já que a existente até então, disposta em postes muitos altos, com dez metros de altura e luminárias tipo pétalas, não iluminava o local a contento, pouco alcançando o chão. Por isso, foram instalados postes menores de cinco metros de altura, com iluminação de vapor metálico branco, abaixo das copas das árvores, as quais receberam poda profilática, de modo a aumentar a segurança para os usuários do espaço. Outra alteração importante foi a eliminação de recortes, becos e vegetação que serviam de esconderijo e a nivelação dos pisos para aumentar a visibilidade dos espaços. De acordo com declaração do vice-presidente da Emurb, Geraldo Biasoto Júnior, ao jornal O Estado de São Paulo, em julho de 2006, isso aumentaria a sensação de segurança dos pedestres. Os antigos banheiros, semi-enterrados, foram demolidos, pois sua utilização sempre foi problemática com depredações, tráfico e ocorrências policiais diversas. Em substituição, serão disponibilizados ao público sanitários universais. A exemplo da medida adotada na Praça D. José Gaspar, também localizada no centro de São Paulo, os bancos foram substituídos por apoios glúteos, a fim de impedir que moradores de rua durmam no local.

Todas as ações para a melhoria da segurança já mencionadas foram complementadas com rondas da Guarda Civil Metropolitana, realizadas com maior freqüência. O gerente de paisagem urbana da

(42)

Emurb, Luís Eduardo Brettas, em entrevista concedida por meio de correio eletrônico em 5 de janeiro de 2007, informou que está em estudo a implantação de um posto fixo da Polícia Militar em substituição ao ocupado pela GCM. Em regime de teste, as grades que cercavam a praça desde 2005 foram retiradas. A esse respeito, o subprefeito da Sé comentou: “Vamos esperar para ver o resultado. Se houver degradação, fechamos de novo” (O Estado de São Paulo, 2007).

Prevista para o dia 25 de janeiro de 2007, a entrega da Praça da República reformada foi adiada para o dia 21 de fevereiro de 2007. A Prefeitura chegou a divulgar que a entrega seria um dos presentes para a cidade de São Paulo em seu aniversário de 453 anos. Porém, das três principais obras previstas para a data, Praça da Sé, Praça da República e Expresso Tiradentes, apenas a primeira teve o cronograma cumprido e ficou pronta a tempo para as comemorações. A Praça da República, entretanto, não foi entregue completamente reformada, pois, em função das obras do Metrô para a construção da linha 4, a região em frente e ao redor do edifício Caetano de Campos ainda sofriam intervenções.

A reforma da Praça da República compõe uma série de intervenções no centro de São Paulo com o intuito de resgatar o charme e a beleza da região. Gestão pública e organizações não governamentais têm empregado esforços para integrar entidades privadas e a população na grande empreitada de recuperar o Centro. Segundo Alves,

A requalificação do centro tradicional está pautada num projeto articulado entre a iniciativa privada e o poder público e já está sendo posto em ação. Ainda que esse processo não seja novo (desde final dos anos 80 há tentativas de requalificação de espaços na área central) é com maior ênfase nas últimas administrações municipais (Marta Suplicy-PT-2000/2004 e José Serra –PSDB 2005/2008) que essa parceria público/privada tem sido insistentemente posta como única alternativa para a transformação do centro histórico, de modo a que ele assuma seu papel, enquanto uma

(43)

das centralidades de São Paulo, nessa inserção da cidade na rede de cidades globais. (Alves, 2006, p. 4)

O subprefeito da Sé, Andréa Matarazzo, declara ao Jornal da Tarde, em agosto de 2006: “Pelo seu tamanho, São Paulo acabou adquirindo vários centros. Mas há o original, histórico, referência na cidade. Por isso, ele tem de ser vivo, não pode ficar paralisado”. Matarazzo enfatiza ainda que desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2005, foi triplicado o número de lixeiras, foram refeitos canteiros, incentivada a instalação de faculdades e universidades, realizadas reformas das praças da Sé e República, houve a duplicação do número de guardas civis metropolitanos, implantação de 13 câmeras interligadas a centrais de polícias, entre outras ações.

Entretanto, o subprefeito reconhece que ainda há muitos desafios a enfrentar, como o problema dos menores viciados em situação de rua. Para Marco Antônio Ramos de Almeida, superintendente da Associação Viva o Centro, “O centro de São Paulo vive um paradoxo: ao mesmo tempo em que atrai investimentos e possui uma infra-estrutura invejável, tem a gestão delicada. A manutenção, o atendimento social e o policiamento são sempre um problema” (Jornal da Tarde, 2006). Segundo Floriano Pesaro, Secretário Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, há cerca de 12 mil pessoas morando nas ruas de São Paulo e 60% destas estão na região da Sé, isto é, distritos Sé e República. Pesaro informa ainda, em matéria divulgada no website da Associação Viva o Centro (2007), que o Projeto Equilíbrio, desenvolvido em parceria com a Unesp, Hospital das Clínicas e entidades sociais, prestará atendimento psiquiátrico, assistência psicológica e social, ingresso no mercado de trabalho, esporte e atividades culturais a 400 crianças em situação de rua da região da Sé, que tiveram problemas com drogadição.

(44)

Guy Perry, arquiteto presidente da IN-IV, companhia multinacional de planejamento estratégico e design arquitetônico, especialista em requalificação urbana, em seminário realizado pela Secretaria Municipal das Relações Internacionais em outubro de 2006, aponta a percepção das pessoas em relação à segurança do centro como um problema para a requalificação do espaço público. Ele ressalta que o Centro tem o menor índice de violência da cidade, mas grande parte da população diz não se sentir segura na região. Tal percepção está refletida na atual orientação da embaixada francesa, que, por meio de seu website, orienta os turistas que viajam ao Brasil a reservar uma quantia em dinheiro para os ladrões. Entre as dicas sobre os locais mais perigosos de São Paulo está a Praça da República. Porém, em conformidade com as idéias defendidas por Perry, o Instituto de Políticas Públicas da Cidades relata:

Do total de ocorrências registradas na cidade de São Paulo, apenas 5,25% dos homicídios, 3,23% dos roubos de veículos, 8,63% dos furtos de veículos e 15,67% dos roubos são registrados no Centro. Comparando os números apresentados, verifica-se que a região central de São Paulo é merecedora de incentivos e programas que propiciem a sua requalificação não somente como local de trabalho, mas também de moradia, lazer e turismo, desmistificando, como vimos, a imagem de insegurança que, até por desconhecimento, é transmitida à população. (Revista IPCC, 2004, p. 29)

Perry, que já elaborou projetos de requalificação para diferentes regiões de grandes cidades como Osaka, Crimélia, Paris, Kiev, Varsóvia e Barcelona, ressalta que é importante que haja investimento para que não existam prédios vazios na região. Para ele, o Centro é convidativo para todas as classes sociais. O prefeito Gilberto Kassab já sinalizou que é necessário investir em moradias na região central. Afinal, o centro possui a melhor infra-estrutura da cidade e a maior concentração de equipamentos culturais, além de ter a menor incidência de violência do município. Cerca de 20 órgãos públicos municipais e estaduais, além de bares e campus universitários têm retornado ou se

(45)

instalado no centro, o que contribui para o processo de revitalização (INFORME Viva o Centro. Ano XIV. nov. 2006).

Os esforços empregados até o momento para a recuperação da Praça da República, assim como de outras áreas da região central de São Paulo, necessitam do engajamento e do apoio da sociedade civil para que haja manutenção e valorização destes espaços. Jornalistas reunidos no 2º Networking de Comunicação Viva o Centro, realizado em setembro de 2006 no Terraço Itália, foram unânimes em afirmar que somente com zeladoria urbana eficiente e permanente, resolvendo questões como sujeira, falta de segurança, desleixo com o social, calçadas mal cuidadas e iluminação deficiente, o centro de São Paulo poderá ser definitivamente incluído na agenda dos paulistanos (INFORME Viva o Centro. Ano XIV. out. 2006).

Atualmente, a cidade conta com um projeto de zeladoria urbana desenvolvido pela Prefeitura. Na região da Sé e República, estudantes de arquitetura, selecionados pela Prefeitura, são responsáveis por apontar problemas como, por exemplo, limpeza de ruas, estado de calçadas e poluição visual. Além disso, os “zeladores” podem propor novas idéias e projetos para a área. Esses estagiários recebem R$ 328,00 por quatro horas de trabalho diárias de trabalho. A arquiteta e urbanista Regina Helena Vieira Santos, uma das organizadoras do projeto, declarou à revista Veja, em 2006: “Além de diagnosticar os problemas com uma visão diferente, os estagiários têm a obrigação de cobrar providências do poder público”.

Em outro projeto voltado para zeladoria no Centro, jovens carentes do Glicério, na região central da cidade, recebem formação no curso profissionalizante de Zeladoria e Conservação Patrimonial. O curso faz parte do programa “Nós do Centro”, coordenado pelas secretarias municipais do Trabalho e da Assistência Social, por meio de convênio com a União Européia. Além de aulas técnicas, os

(46)

jovens têm aulas de reforço escolar de português de matemática e recebem bolsa de estudo. O projeto seria, então, uma forma de conscientização da população local sobre a importância da preservação do patrimônio público, meio de resgate de identidade e estímulo ao orgulho local. Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central do Brasil e presidente fundador e honorário da Associação Viva o Centro, comenta a respeito do processo de revitalização do centro de São Paulo: “A região central é patrimônio da identidade coletiva e símbolo de referência para que as pessoas reconheçam a cidade, ou seja, centro valorizado é um benefício para todos. Grandes cidades no mundo passaram pelo mesmo processo e alcançaram sucesso” (INFORME Viva o Centro. Ano XIV. nov. 2006).

Paralelamente à zeladoria, o Programa de Ações Locais, coordenado pela Associação Viva o Centro, atua a fim de auxiliar na recuperação e manutenção do Centro. Criado em 1995, o programa conta com o patrocínio da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e é organizado por ruas e praças, denominadas microrregiões, cujos integrantes voluntariamente levantam problemas, formulam sugestões e articulam parcerias entre o poder público e a iniciativa privada a fim de promover melhorias e boas idéias tanto no aspecto físico quanto na área social, cultural e educacional. O programa é constituído por representantes de empresas, instituições, condomínios, lojas, escritórios e moradores.

Parcerias com a iniciativa privada são refletidas hoje no crescente número de adoção de praças. Tais iniciativas tornam o espaço público mais vistoso e atrai a população e os visitantes. Alguns exemplos são as empresas Maringá Turismo, Itaú, e Votorantin, as quais adotaram respectivamente as praças: Dom José Gaspar, Júlio de Mesquita e Júlio Prestes; Vale do Anhangabaú; e Ramos de Azevedo. Os Correios também pretendem adotar a Praça Pedro Lessa, mais conhecida como Praça do Correio. Para a Praça da República ainda não há parcerias estabelecidas neste sentido.

(47)

Entretanto, de acordo com o cenário recente, espera-se que, em breve, algo seja articulado com intuito de auxiliar na manutenção daquele importante cartão postal da cidade.

Em julho de 2006 o Comtur (Conselho Municipal de Turismo de São Paulo) aprovou o projeto da Associação Viva o Centro para que a São Paulo Turismo desenvolva, por meio de parcerias, um Plano de Turismo específico para o Centro. O presidente da Viva o Centro enfatiza:

O Centro precisa estar limpo e cuidado, sem camelôs pelas ruas; tem que haver atendimento social eficaz às pessoas que hoje estão em situação de rua; o turismo exige um plano específico para a área; os edifícios tombados pelo Patrimônio Histórico precisam de manutenção permanente; e é importante a sinergia no Centro para que seus programas sejam acessíveis ao maior número possível de expectadores. (www.portaldovoluntario.org.br, 2006)

Finalmente, em 20 de março de 2007, foi lançado oficialmente o projeto “Turismo no Centro - Plano Estratégico de Desenvolvimento”. Desenvolvido pela São Paulo Turismo com o apoio da Associação Viva o Centro, envolverá alunos de diversas faculdades de Turismo da cidade, entre elas o Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo. Na ocasião do lançamento, em evento realizado no Salão Nobre da emblemática Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, destacou a importância da iniciativa para a cidade: “São Paulo é turismo urbano. A cultura e a história são o nosso sol e praia. Por isso o Centro se torna ainda mais valioso para a Cidade”. Carvalho ressaltou ainda as melhorias que o projeto trarão para a população da capital: “Afinal, uma Cidade só é boa para o turista quando é boa para o cidadão” (www.prefeitura.sp.gov.br, 2007).

Em visita à capital paulista, o arquiteto David Sim, associado da Jan Gehl Architects, da Escócia, falou ao jornal Diário do Comércio, em julho de 2006, sobre a revitalização em Copenhague, capital

(48)

da Dinamarca, onde houve sucesso no processo revitalização com ênfase nos pedestres, e disse que projetos semelhantes podem ser aplicados em São Paulo. Para Sim, o principal é a melhoria do espaço público baseada no aumento da segurança, que inclui locais para as pessoas se sentarem e se protegeram da chuva, e não apenas a diminuição da criminalidade.

Alguns locais como a Praça da República são fundamentais nesse processo, pois, conforme citado por Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, os shoppings centers podem ser indícios de cidades com problemas. “As pessoas gostam de andar e caminham quilômetros em locais fechados. Elas têm medo de andar nas ruas. Se existirem condições, o número de turistas e pedestres passando pelas ruas aumentaria de forma considerável”, afirmou (Diário do Comércio, 2006).

No período de janeiro a maio de 2006 as Centrais de Informações Turísticas (CITs), administradas pela São Paulo Turismo, entrevistou visitantes que solicitavam informações nestas centrais. Dentre os resultados obtidos, cabe destacar o pouco interesse em visitar a Praça da República. Apenas 0,19% dos entrevistados declararam já ter visitado ou ter interesse em visitar o local. (São Paulo Turismo, 2006). Os dados demonstram a deficiente divulgação da praça e a sua baixa atratividade, possivelmente decorrente da falta de investimentos sofrida nas últimas décadas.

Conforme dados da Associação Viva o Centro:

O Centro Histórico de São Paulo – distritos Sé e República – tem uma área relativamente pequenam apenas 4,4Km2 , ou menos de 0,5% da área total da cidade, mas com uma

concentração de 8% dos empregos formais, 20% de toda a movimentação diária de pessoas na cidade, alta concentração de infra-estrutura e comércio, diversidade de equipamentos culturais e edifícios históricos. Seu papel é fundamental na consolidação da identidade de São Paulo. (www.vivaocentro.org.br, 2007)

(49)

Com a reforma da Praça da República e os novos investimentos no Centro espera-se que a praça seja devidamente valorizada e melhor aproveitada, de modo a compor efetivamente o cenário histórico e turístico de São Paulo. É importante que esse espaço público seja de fato utilizado para oferecer lazer e convívio à população e aos visitantes, conforme objetivos diversas vezes divulgados pelas autoridades envolvidas em sua reforma. O secretário municipal de cultura, Carlos Augusto Calil, declarou em dezembro de 2006: “A Prefeitura acaba de aumentar em 38% o orçamento da Cultura, passando de R$ 200 milhões para R$ 276 milhões. (...) Esse investimento deve ter uma importância grande para a cidade e deverá intensificar a programação cultural no Centro”. (INFORME VIVA O CENTRO. Ano XIV dez. 2006). De fato, a Virada Cultural 2007, evento que consistiu em uma maratona de eventos ao longo de 24 horas na cidade de São Paulo, contou com 33% do orçamento da Secretaria da Cultura, segundo informado pelo secretário da pasta ao jornal O Globo (2007), e ofereceu espetáculos diversos para os mais variados gostos. Na Praça da República foram realizadas apresentações de teatro e circo.

FIGURA 15 – VIRADA CULTURAL 2007 – PRAÇA DA REPÚBLICA

(50)

Considerando a relevância dos locais públicos a céu aberto, suas aptidões para a exploração como palco de atividades de lazer e entretenimento e como atrativos turísticos da cidade de São Paulo, o presente trabalho, se dedica, pois, a analisar o processo de revitalização da Praça da República e os impactos daí decorrentes, com o objetivo de verificar quais as ações implementadas, tendo-se em conta a relevância histórica do local e sua função como espaço de lazer para o paulistano. Pretende ainda avaliar os impactos das ações sob a ótica dos expositores, visitantes e transeuntes que freqüentam o ambiente, de modo a verificar se as ações trazem benefícios à atividade turística, à população, e se há melhorias a serem consideradas e sugeridas.

(51)

2

Procedimentos Metodológicos

O trabalho em questão se caracteriza como uma pesquisa exploratória sobre o processo de revitalização da Praça da República, em São Paulo, e os impactos decorrentes das intervenções para a atividade turística no local.

Por meio de levantamento bibliográfico, o estudo buscou analisar a relevância histórica e cultural deste espaço público e as principais mudanças sofridas ao longo das décadas. Houve ainda, consulta a websites de instituições relacionadas com este estudo, tais como: Prefeitura de São Paulo, Subprefeitura Regional da Sé, SPTuris – São Paulo Turismo – , Associação Viva o Centro, principais jornais, entre outros.

A fim de verificar a percepção e as expectativas, bem como obter o perfil do público visitante, foram entrevistados 100 voluntários – transeuntes e freqüentadores da Praça da República –, abordados de modo informal, de segunda a sexta-feira, nos dias 15, 16, 19, 20 e 21 de março de 2007, entre 8h e 17h. A amostra considerou erro de 10% e 95% de nível de confiança, levando-se em conta o universo infinito. Para a pesquisa, foi elaborado um Instrumento de Coleta de Dados do tipo questionário-formulário contendo 17 (dezessete) questões fechadas, das quais 06 (seis) destinaram-se a identificar o perfil do público; 04 (quatro) trataram da motivação, freqüência e atratividade; 03 (três) versaram a respeito da infra-estrutura e superestrutura e 04 (quatro) sobre a relevância histórica e turística da praça e reforma.

Com o intuito de avaliar a percepção dos expositores em relação ao local e às intervenções realizadas pela Prefeitura de São Paulo, foram entrevistados 10 expositores que trabalham na Feira de Arte e Artesanato. Para tal, foi utilizado um questionário contendo 07 (sete) questões abertas. As entrevistas foram realizados nos dias 31 de março e 14 de abril de 2007.

(52)

Contribuíram para o estudo, informações relativas à reforma da Praça da República obtidas por meio de entrevista concedida, por correio eletrônico, pelo Gerente de Paisagem Urbana, Arquiteto Luís Eduardo Brettas, da Empresa Municipal de Urbanização – EMURB –, responsável pelo projeto e Subprefeitura Regional da Sé, administração à qual a região da República está subordinada. Esta última tendo concordado apenas em prestar declarações por telefone, por meio de sua Assessoria de Comunicação.

Referências

Documentos relacionados

Quando mudei para o Brasil, uma das grandes diferenças que percebi é que a taxa equivalente ao overdraft, o cheque especial, era dez vezes mais no Brasil do que na

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem

Dois termos têm sido utilizados para descrever a vegetação arbórea de áreas urbanas, arborização urbana e florestas urbanas, o primeiro, segundo MILANO (1992), é o

• Analisar como são implementadas as estratégias de marketing na Universidade Luterana do Brasil - Ulbra; • Verificar como é utilizado o esporte nas estratégias de marketing da

A Escola W conta com uma equipe gestora composta por um diretor, dois vices-diretores e quatro coordenadores. Essa equipe demonstrou apoio e abertura para a

De fato, na escola estudada, o projeto foi desenvolvido nos moldes da presença policial na escola quando necessária e palestras para os alunos durante o bimestre, quando

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do