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Brincar: ... por quê?

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

MONIQUE WESCHENFELDER

BRINCAR... POR QUÊ?

SANTA ROSA (RS) 2012

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MONIQUE WESCHENFELDER

BRINCAR... POR QUÊ?

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial a obtenção do titulo de Psicólogo.

Orientadora: Kenia Spolti Freire

SANTA ROSA (RS) 2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

MONIQUE WESCHENFELDER

A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso BRINCAR... POR QUÊ?

como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ KENIA SPOLTI FREIRE

Psicóloga; Mestre;

Professora do Departamento de Humanidades e Educação

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Dedico esta conquista aos meus pais Lautério e Ivone que foram o sustentáculo para realização deste objetivo; ao meu namorado Cláudio e aos demais que de alguma forma me apoiaram no decorrer do percurso acadêmico. Muito Obrigado de coração!

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AGRADECIMENTOS

O presente momento é a concretização de um sonho: o de ser psicóloga. Considero o fechamento de um ciclo inicial na minha formação e pretendo seguir aprimorando esta área de saber - tão fantástica, quanto enigmática.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais, Ivone e Lautério, que investiram seu tempo e sua dedicação. Que me acompanharam em muitos momentos - os bons, de alegrias, de realizações, de pequenas etapas vencidas; e nos ruins que também são necessários, pois muitas vezes são construtivos. Quero então deixar meu “Muito Obrigado a Vocês, meus queridos Pais!”, que formam minha base de sustentação em todos os sentidos. Sem sombra de dúvidas, esta conquista não se viabilizaria sem esse apoio.

Agradeço também ao meu namorado de longa data, Cláudio, que esteve comigo durante estes cinco anos de percurso acadêmico. Também participando inúmeras vezes, me auxiliando, quando necessário, e me apoiando em muitas decisões. Afinal, como diria Freud: “somos fortes quando estamos seguros de ser amados”.

Aos meus amigos de infância, aos que tenho contato atualmente. Em especial, às amigas da faculdade que estiveram comigo todos os dias nesta caminhada, amizades que considero eternas e que quero que permaneçam para sempre.

Aos mestres que de uma forma ou outra colaboraram com minha formação, transmitindo seus ensinamentos. Afinal, é impressionante o fato de que “entramos de um jeito e saímos de outro, muito melhor”, pois crescemos enquanto sujeitos, mudamos nossa forma de enxergar muitas coisas e cada professor contribui um pouco para que isso se efetive.

Gostaria de citar o Professor Nilson Heidemann, um profissional fantástico que muito me acrescentou com seu ensinamento e me fez admirá-lo pelo seu saber, a partir da oportunidade de ser meu supervisor no Estágio Clínico.

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Citando o Estágio Clínico gostaria de mencionar a professora Ana Dias que me incitou o interesse no trabalho com crianças a partir das suas aulas no Seminário; também a professora Tânia Souza, coordenadora da Clínica de Psicologia, que nos acompanhou em muitos momentos.

E por fim, mas não menos importante, a professora Kenia Freire que me supervisionou no Estágio Social e, além de ser uma importante experiência, me ajudou a enxergar muitas coisas de maneira diferente e melhor; ampliando as minhas possibilidades e me ajudando a me autorizar a realizar muitas coisas. Hoje considero isto um passo importante que consegui dar e me sinto muito mais segura. E, além disso, está me acompanhando na escrita do presente trabalho, afinal tem uma sabedoria muito grande no que se refere ao brincar, este assunto que sempre me inquietou e me fez buscar saber mais.

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“Valeu à pena? Tudo vale à pena “Se a alma não é pequena”. Fernando Pessoa

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BRINCAR... POR QUÊ?

Monique Weschenfelder Orientadora: Kenia Spolti Freire

RESUMO

O brincar é atividade atrelada à infância. Além de este ser fonte de divertimento para as crianças, também é recurso estruturante do psiquismo. Porém as modalidades do brincar manifestas nas brincadeiras foram se modificando ao longo dos anos e, atualmente, são influenciadas pelos avanços tecnológicos. Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo abordar a temática do brincar. Inicialmente, discorre sobre as características históricas e culturais do brinquedo e do brincar. Em seguida, refere à função do brincar à constituição psíquica, como atividade constituída e constituinte da subjetividade. A partir destas duas leituras iniciais, é possível avaliar o quanto o brincar é fundamental para muitos aspectos inerentes à infância. No terceiro capítulo faz-se uma reflexão sobre a relação existente entre o brincar e a tecnologia, na atualidade. Considera-se que os movimentos discursivos culturais e o advento da tecnologia produziram mudanças importantes nas modalidades do brincar e no comportamento das crianças.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO I - SOBRE O BRINQUEDO E SOBRE O BRINCAR... ... 11

CAPÍTULO II - A FUNÇÃO DO BRINCAR E O PSIQUISMO ... 14

CAPÍTULO III - O BRINCAR E A TECNOLOGIA ... 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 31

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INTRODUÇÃO

No presente trabalho busco abordar o brincar como atividade fundamental da infância, salientando o quanto é importante que as crianças brinquem, pois existe uma possível via de elaboração de seus conteúdos internos a partir do ato de brincar.

O interesse para realização desse estudo aprofundado sobre esta temática surgiu no decorrer do percurso acadêmico, em especial no Estágio Ênfase em Processos Clínicos ao receber as crianças na Clínica, pode-se perceber algo em comum em sua fala: a adesão ao brincar e o valor desta atividade, assim como o encantamento pelo computador, televisão, vídeo game, ou seja, o virtual. As crianças da contemporaneidade já não têm o mesmo interesse pelos brinquedos formais como bonecas, carros, bolas, e pelas brincadeiras como pular corda, esconde-esconde, entre outros inúmeros exemplos de brinquedos e brincadeiras que de certa forma foram deixados de lado com a crescente industrialização e o capitalismo que oferecem opções de brinquedos e jogos virtuais que encantam as crianças.

O brincar sempre existiu como atividade que caracteriza a infância. Antigamente se construía bonecas com abóboras, carrinhos com madeira; sendo, os brinquedos, objetos que as próprias crianças criavam. Com o decorrer dos anos, os brinquedos foram aperfeiçoados. Surgiu uma infinidade de tipos de brinquedos com várias características, como, por exemplo, bonecas que falam, choram, fazem xixi ou carros que tem controle remoto, andam sozinhos. Foram criados os vídeos-game, os jogos de computador, sendo que as crianças desde muito pequenas já têm acesso ao mundo virtual (mágico e fantástico).

Para realizar este estudo, pretendo estruturar o trabalho em três capítulos. No primeiro capitulo abordarei sobre o brinquedo e sobre o brincar trazendo sobre a importância do brincar como um objeto de ligação direta com a infância, fala-se dos brinquedos, dos jogos e das brincadeiras.

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10 Assim, depois de escrever sobre este ponto primordial do trabalho passarei para o segundo capitulo destinado a estudar a função do brincar e o psiquismo, busca-se mostrar que o brincar constitui uma importante ferramenta de trabalho na clínica com crianças, sendo que o brincar é uma via de simbolização, possibilita que as crianças possam elaborar ativamente o que sofreram passivamente. Neste segundo capitulo tem-se como principal objetivo salientar o quanto o brincar é atividade fundadora na infância.

Dessa forma, em um terceiro capitulo o estudo se volta ao brincar e a tecnologia, fazendo um enlace nos dois temas trabalhados nos capítulos anteriores. É possível pensarmos que o brincar atualmente está modificado, pois é perpassado pelas evoluções da tecnologia. Os brinquedos são modernos, as brincadeiras tradicionais estão esquecidas. Em conseqüência disso é observado uma modificação na forma de estruturação da infância.

Assim a partir deste estudo abordando os dois temas finalizo a escrita fazendo uma reflexão sobre o que pude perceber a partir das minhas leituras para realização deste trabalho.

Portanto, esta pesquisa é baseada em diversos autores que trabalharam sobre o tema, buscando, assim, poder esclarecer algumas questões que me impulsionaram para uma dedicação maior ao assunto, mas sem duvidas há muito a ser explicado sendo este um impulso inicial.

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11 CAPÍTULO I - SOBRE O BRINQUEDO E SOBRE O BRINCAR...

O brinquedo é um objeto diretamente ligado à infância, é impossível pensar o desenvolvimento infantil sem associá-lo ao brincar. A psicologia tem o brincar como ferramenta que possibilita o trabalho com crianças, proporcionando, assim, a expressão e elaboração de seus conteúdos psíquicos.

Segundo Brougére (1997, p. 7):

Constata-se que são, normalmente, os psicólogos que se debruçam sobre o estudo do brinquedo, orientando seus trabalhos, sobretudo, sobre os efeitos do uso do objeto sobre a criança. Nestes casos, o brinquedo é um suporte entre tantos outros possíveis: o verdadeiro sujeito da pesquisa o desenvolvimento infantil.

O brincar tem como função, além do divertimento, a atividade de cunho constitutivo do sujeito psíquico. A criança, enquanto brinca, simboliza. Freud (1920, p. 26) coloca que: “ao brincar a criança demonstra ativamente o que sofre passivamente”.

Ao observar uma criança no momento em que está brincando é possível perceber o quanto há um exercício de fantasiar. Por exemplo, a boneca é comumente tomada como filha pelas meninas que se ocupam de seus cuidados como se fossem verdadeiras mães, situação que elas observam no contexto em que estão inseridas, e que representam através do brincar.

Conforme Brougére (1997, p. 9):

Através do exemplo da boneca podemos constatar que o brinquedo é menos uma representação do real que o espelho da sociedade, quer dizer, das relações entre adultos e crianças. A imagem do brinquedo sintetiza a representação que uma dada sociedade tem da criança. Não é uma visão realista, mas uma imagem do mundo destinada à criança e que esta devera construir para si própria.

O exercício da brincadeira é fundamental na infância, pois através deste a criança expressa seus conflitos psíquicos. É muito comum observar a reprodução de situações com as quais estão se havendo num determinado momento da vida, como exemplo a separação dos pais, ela pode reproduzir isto através do brincar, momento em que está ativo e representa a situação podendo assim fazer a simbolização.

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12 O autor Brougére (1997, p. 9) traz o brinquedo como um suporte oferecido à criança, segundo ele:

O uso dos brinquedos é aberto. A criança dispõe de um acervo de significados. Ela deve interpretá-los: a criança deve conferir significados ao brinquedo. O brinquedo não condiciona a ação da criança ele lhe oferece um suporte determinado, mas que ganhará novos significados através da brincadeira.

Na infância o brinquedo tem uma função muito importante tanto para criança que utiliza este objeto para poder se constituir psiquicamente, quanto para os pais que tem uma preocupação de qual é o brinquedo ideal para seu filho, que seja ideal para determinada faixa etária, que não estimule a violência e que seja educativo, para que a criança possa se constituir psiquicamente de forma “saudável”. Se for observado às embalagens dos jogos e dos brinquedos é possível perceber que já está escrito sobre todas essas características que são avaliadas no momento de adquirir um brinquedo.

Ao analisar a função do brinquedo, pode-se pensar nas datas comemorativas como Aniversário, Páscoa, Natal, momentos nos quais os familiares presenteiam as crianças com uma infinidade de brinquedos que eles julgam interessantes, ou até mesmo a criança escolhe o presente que gostaria de receber.

Brougére (1997, p. 8) traz o brinquedo como tendo uma função social:

No Natal, o brinquedo se insere em um sistema de doação ritualizado entre pais, familiares e as crianças. Uma das funções sociais do brinquedo é a de ser o presente destinado a criança, de forma relativamente independente do uso que fará dele. O sistema de produção e distribuição social concebe e difunde o brinquedo de forma a que ele possa responder a esta função social.

Assim, o brinquedo é um objeto diretamente atribuído a infância, sendo que causa estranhamento pensar em um adulto brincando, por isso nas datas comemorativas é um ritual os pais e familiares presentearem as crianças com brinquedos sendo considerado pelo autor como um ritual de doação com uma função social.

Ainda, Brougére (1997), que apresenta a diferenciação do jogo e do brinquedo, ponto importante a ser observado, pelo fato que contribui para pensar no objeto brinquedo e nos jogos que também são os virtuais e que são duas coisas distintas.

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13 Aquilo que é chamado de jogo (jogos de sociedade, de construção, de habilidade, jogos eletrônicos ou de vídeo...) pressupõe a presença de uma função como determinante no interesse do objeto anterior o seu uso legitimo: trata-se da regra para um jogo da sociedade ou do principio de construção (encaixe, montagem) para as peças de um jogo de construção. Mesmo que para esses objetos a imagem seja essencial, e ela é cada vez mais, a função justifica o objeto na sua própria como suporte de um jogo potencial. (BROUGÉRE, 1997, p. 12).

Já o brinquedo, Brougére (1997, p. 13) descreve que: ”O brinquedo, em contrapartida, não parece definido por uma função precisa, trata-se, antes de tudo, de um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza”.

Continuando a reflexão a partir da leitura deste autor, o brinquedo se diferencia do jogo justamente por ser objeto infantil; e o jogo, por sua vez, pode ser destinado tanto ao adulto quanto à criança. É estranho imaginar um homem adulto brincando de carrinho, já no caso do jogo não se considera algo errado.

O brinquedo é um objeto infantil e falar de em brinquedo para um adulto torna-se sempre motivo de zombaria, de ligação com a infância. O jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto a criança quanto ao adulto: ele não é restrito a uma faixa etária. (BROUGÉRE, 1997, p. 13).

Voltando ao exemplo citado anteriormente, a boneca é um brinquedo utilizado pelas meninas como um bebê ao qual elas se ocupam de cuidados maternos, pois são ações que observam cotidianamente.

Brougére (1997, p. 15-6) traz a seguinte observação:

Com seu valor expressivo, o brinquedo estimula a brincadeira ao abrir possibilidades de ações coerentes com a representação: pelo fato de representar um bebê, uma boneca-bebê desperta atos de carinho, de troca de roupa, de dar banho e o conjunto de atos ligados a maternagem. Porém, não existe no brinquedo uma função de maternagem, há uma representação que convida a essa atividade num fundo de significação (bebê) dada ao objeto num meio social de referência.

Dessa forma, o brinquedo além de ser um suporte para a realização do brincar que advém desde a constituição psíquica da criança, permite a realização de ações frente às cenas que ela observa em sua experiência de vida. Através do brincar e da relação com o brinquedo a criança reproduz a realidade que se articula em seu psiquismo.

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14 CAPÍTULO II - A FUNÇÃO DO BRINCAR E O PSIQUISMO

O brincar é uma forma de comportamento característico da infância e pertence a um conjunto de atividades que compõe a noção de jogo. Em português, o termo brincar é oriundo do latim “vinculum”, que significa laço, união.

Retomando o valor do brincar para o trabalho do psicólogo, pode-se pensar que esta é uma ferramenta diferencial entre o trabalho com criança e com adulto. O adulto comparece ao espaço clínico manifestando os seus sintomas e expressando seus mal-estares através da fala. Já a criança ainda não dispõe de recursos psíquicos que possam lhe dar sustentação simbólica para que fale livremente do sofrimento que lhe acomete.

Jerusalinsky (1999, p. 155) apresenta a idéia de que “os terapeutas de crianças têm uma responsabilidade suplementar”. Propõe que existe uma diferença nesse trabalho que exige uma responsabilidade maior. Para este psicanalista, o trabalho com uma criança remete à ocupação clínica de um sujeito que está se constituindo. E isto não deve ser ignorado.

Segundo Jerusalinsky (1999, p. 155):

Se escutarmos com atenção a demanda endereçada aos terapeutas de crianças, veremos que, além da preocupação pelos sintomas manifesta-se claramente o pedido de que nos ocupemos de que se constitua um sujeito. Ainda mais, podemos registrar facilmente, na experiência clinica cotidiana, que quando essa demanda de estruturação subjetiva não se encontra presente nos pais e na criança, essa preocupação se torna inevitavelmente nossa.

Seria, então, uma responsabilidade a mais que se coloca no trabalho clínico com crianças: a ocupação do que ainda não está constituído. Neste cenário clínico o brincar comparece em sua função estruturante e estruturada pela subjetividade. Sobre esta questão, Jerusalinsky (1999, p. 157), propõe a existência de três modalidades do brincar relacionados estruturalmente com a subjetividade: o jogo do fort-da, os jogos transicionais e os jogos de borda.

O jogo do “fort-da”, descrito e interpretado por S. Freud em ‘Além do princípio do prazer’, assinala um movimento constituinte do sujeito, no qual a pequena criança captura na descontinuidade do significante a imagem de si mesma vista ou não vista pelo Outro, o que implica colocar em série a ausência-presença. Esse momento, que lhe permite ordenar em palavras o olhar desse Outro Primordial – constituído tipicamente por sua mãe, captura, retrospectivamente, os pequenos e minuciosos ensaios que, desde bebê, percorreu nos jogos de imitação (as graças oferecidas aos adultos), nos jogos

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15 de ocultamento (o famoso esconde-esconde), as negativas (virar a cara para sua mãe quando ofendido) e, adiante, atravessara o brincar de esconder, o que se da a ver se oculta no corpo, o que se descobre para além do perceptível, a descontinuidade do visível e do não visível, a oposição e articulação entre a presença e ausência, ente posse e falta. “É a enunciação mínima de” Oo-Aa” que, inscrevendo o olhar no âmbito da linguagem, encadeia todos esses jogos, descobrimentos-encobrimentos, em uma série que, provavelmente, estende-se até a formação da mentira.

Esta observação foi realizada por Freud com seu neto de um ano e meio que brincava com o aparecimento e o desaparecimento de um objeto. A brincadeira completa implicava o desaparecimento e o retorno do objeto. (FREUD, 1920). A interpretação dada por Freud a este jogo relacionava a encenação do desaparecimento e retorno dos objetos à repetição das cenas de saída da mãe. Assim, a criança assume um papel ativo, em uma cena que foi anteriormente sofrida por ele de modo passivo. (PINHO, 2006 apud FREUD, p. 181).

Continuando, Jerusalinsky (1999, p. 158) apresenta o brincar de “este é o outro”, vinculando esta brincadeira à experiência da criança à transicionallidade. Conforme este psicanalista:

O objeto transicional, que constitui uma descoberta fundamental de D.W. Winnicott particulariza o conjunto de fenômenos que com o mesmo nome de “transicionais” aludem à substituição de objeto de desejo. Lacan que reconhece a importância dessa observação de Winnicott, a remete ao registro do falo, no qual – se seguirmos com rigor sua sistemática – cada brinquedo deve ser tomado como substituto do objeto que causa o desejo, e por isso como objeto de gozo e ao mesmo tempo como significante da falta (alusão da ausência, insistência da presença por meio da repetição). É aqui que encontramos muitas da razoes dessa curiosa configuração que o brincar apresenta: insistência, gozo, repetição; essa capacidade representacional do futuro da criança que a cena do jogo demonstra por excelência. O que abre para a criança o campo de sua “transicionalidade” é o fato de que a mãe toma a própria criança como transicional para ela, e não como sua realização fálica definitiva. É aí que se torna possível a dimensão do futuro, ou seja, como uma ordem para além do fantasma materno, orientado na língua de todos, na inclusão do sujeito no discurso social.

A esses dois jogos, Jerusalinsky (1999, p. 158) ainda acrescenta a observação de um terceiro: o jogo de borda ou “cai, não cai”.

Precisamos percorrer apenas um pouco para perceber a série de “jogos de borda”: jogar brinquedos fora do berço, empurrar objetos lentamente até a beira da mesa, até sua precipitação, espiar pelas frestas, remexer nos buracos e nas pequenas aberturas, andar pelas beiradas e por todo lugar que ofereça risco de uma queda, brincar de cair, saltar de uma altura “impossível”, tocar o que não se pode, entrar onde não se entra. Dois campos pulsionais que se

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16 recortam por meio desses brinquedos estruturantes e que abrem, ao mesmo tempo, a possibilidade da estruturação do espaço e as condições de separação. É por essa via que o sujeito, certamente encontra as formas de articulação entre o corpo escópico e o corpo significante.

Retomando a idéia anterior de que o psicólogo tem uma responsabilidade a mais no trabalho clinico com crianças, pode-se pensar a partir destes jogos descritos por Jerusalinsky, o quanto o brincar é uma produção própria da constituição de um sujeito: “Trata-se de brinquedos que possuem essa capacidade de promover as articulações necessárias para a constituição do sujeito”. (JERUSALINSKY, 1999, p. 159).

O fato do brincar ser ferramenta da prática clínica com crianças perpassa também por outros autores que se dedicam ao estudo da constituição psíquica. A brincadeira é uma atividade que possibilita que a criança expresse suas emoções, fantasias, desejos, angústias, medos; enfim, todos os seus conteúdos internos que a partir do ato da brincadeira podem vir à tona.

O brincar possui muito valor para o trabalho clínico que o psicólogo realiza com as crianças, pois esta ainda não apresenta condições simbólicas para falar livremente sobre o que sente. Assim o brinquedo se torna um objeto de mediação na intervenção clínica. Melanie Klein apresentou-se na história clínica psicanalítica, com produções importantes sobre este trabalho com crianças. Propôs o brincar enquanto técnica para o trabalho na psicanálise. O brincar, em seu trabalho com crianças, ocupava um lugar central. Klein traz que “A criança expressa o conteúdo de suas fantasias, desejos e experiências de modo simbólico, através dos jogos e brincadeiras”. (PINHO, 2006 apud KLEIN, p. 182).

Segundo Klein (1969, p. 31):

O brincar é o meio de expressão mais importante da criança. Existe a possibilidade de elaboração psíquica diante de muitas situações às quais a criança ainda não tem recursos simbólicos para significar, ali onde o brincar, então, se coloca. Para Klein, o brincar corresponde à associação livre presente na clínica com adultos.

Pinho (2006, p. 186) traz que: “O brincar é o cenário no qual a criança apropria-se dos significantes que a marcaram”. Cita, de acordo com esta afirmação, a seguinte cena clínica:

Certo dia, uma menina de seis anos de idade construiu a seguinte cena durante uma sessão. Colocando uma boneca deitada na cama, diz: - A boneca vai adotar um filho. Não. Ela está grávida. De noite ele nasceu.

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17 Segura o boneco do Batman e diz que ele é o pai. Fala: - Olha Batman. Temos uma nenezinha. Onde vai ser o berço? Mais adiante na sessão, imitando a voz do pai, diz: Que tal a gente adotar, vamos pedir para uma fabrica fazer um robô que vai ser nosso escravo.

Encontra-se neste fragmento de uma sessão, uma criança interrogando-se a respeito de seu lugar e de sua posição enquanto sujeito, de seu nascimento e de sua adoção. Pinho (2006) observa, nesta produção, um movimento de apropriação de significantes marcantes na vida desta criança. Propõe que existem situações vivenciadas por estes pequenos sujeitos em constituição que são muito difíceis de simbolizar, tais como a separação dos pais, ou uma adoção ou até a morte de um familiar; sendo a atividade do brincar uma construção que permite a fala se fazer cumprir.

Ainda, Pinho (2006, p. 187) traz uma afirmação essencial: “O brincar é uma função universal, presente em todas as culturas, necessária para que cada sujeito possa apropriar-se do universo simbólico ao qual pertence”.

A psicanálise evidencia a importância que atribui a atividade do brincar infantil para o seu trabalho, tendo esta como atividade universal, essencial e fundamental da infância, sendo necessário disponibilizar a criança esta experiência.

Pinho (2006, p. 191) afirma:

Possibilitar que uma criança tenha acesso ao exercício simbólico lúdico, no qual seu corpo e outros objetos possam ser inseridos num universo de infinitas significações, é um processo necessário, sem o qual a subjetividade ficaria privada de um “motor” fundamental para sua estruturação. O brincar é uma experiência que leva a criança a apropriar-se de sua inscrição no universo simbólico.

Ainda, faz-se importante destacar:

Falar do brincar significa interrogar a própria questão da constituição e, por este motivo, sua presença é necessária a todas as disciplinas que compõe a clinica dos problemas do desenvolvimento. Enquanto ferramenta teórica comum, o brincar permite priorizar a constituição do sujeito na intervenção, sustentando essa posição ética, independente da especificidade profissional daquele que opera. (PINHO, 2006, p. 191).

Seguindo com a idéia da importância do brincar em psicanálise, Coriat (1999, p. 187) traz contribuições interessantes neste âmbito. Ela nos diz que “um longo percurso pela clínica levou-nos a colocar o brincar no centro da estratégia de nosso trabalho com as crianças”.

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18 Propõe que existem algumas dificuldades que se colocam contra o brincar, pois parece que é algo que não faz efeito, por isso é necessário que o psicólogo não deixe que a criança apenas brinque, mas sim que possa intervir nesse brincar produzindo significados.

Não é fácil para nós manter esta posição. Tudo coadjuva contra ela: as demandas dos pais, as demandas institucionais e, acima de tudo, as demandas de nossa própria formação, ali onde a mesma não foi trabalhada pela psicanálise. Em muitos casos entre aqueles doas quais nos ocupamos (crianças deficientes, especialmente as menores), também trabalha contra o brincar o próprio silêncio na demanda da criança. (CORIAT, 1999, p. 187).

Assim, esta psicanalista incita a pensar que existem resistências que se colocam no trabalho com o brincar em psicanálise e que não é algo tão simples quanto parece, como ao se referir a uma criança com deficiência que pouco consegue produzir na atividade da brincadeira. É comum também ouvirmos no discurso dos pais que anseiam por uma “solução dos supostos problemas de seus filhos” que ir ao psicólogo somente para brincar não vai surtir efeito nenhum.

Coriat (1999, p. 187) salienta que é necessário ter cuidado com a ferramenta da brincadeira no trabalho clínico, é preciso que a criança se mantenha na posição de sujeito de desejo.

É habitual, ocorre muito a miúdo, que quando convidamos uma criança a entrar no consultório e propomos que brinque do que quiser que ela comece a por e tirar objetos de um recipiente... Uma e outra vez e não saia disso. Poderíamos fazer uma lista de “brincadeiras” similares, atividades pobres e repetitivas, as quais com muita dificuldade podemos chegar a atribuir o sentido que porta qualquer jogo simbólico.

Não se trata de deixar que a criança simplesmente brinque, sem intervir. Atribuir um sentido ao brincar no espaço clínico é justamente uma técnica para que possa emergir o conteúdo inconsciente da criança e não somente uma mera forma de que o tempo na sessão seja ocupado.

Da nossa parte, se nos limitamos a ser testemunhas de dita atividade, se não intervimos de uma ou de outra maneira, entendíamo-nos mortalmente: essas brincadeiras não têm nada de divertido. Pior ainda, sabemos que depois virão as reclamações dos pais, e a verdade é que nossa criancinha não parece avançar muito de sessão em sessão. É necessário intervir, é imprescindível. (CORIAT, 1999, p. 188).

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19 A partir disto, é importante que o psicólogo tenha clareza do brincar como algo que seja um recurso terapêutico. Há que se realizar intervenções a partir do que a criança produz na sua brincadeira, não ignorando que a criança é sujeito que deseja.

Como intervir, desde onde intervir, se o que legitima nossa clinica é o nosso desejo de que cada corpinho caminhante (ou engatinhante, ou imobilizado) esteja dirigido por um sujeito de seu próprio desejo, e não permaneça como objeto, telecomandado desde o gozo do Outro. (CORIAT, 1999, p. 188).

Coriat (1999, p. 188) aponta a importância que a psicanálise tem neste aspecto do brincar no trabalho clínico, como já citado desde o princípio. Antes de esta teoria postular a importância do brincar no trabalho clínico, era comum o brincar ser um instrumento a mais e a criança permanecer na condição de objeto: “mesmo que os profissionais às vezes incluíssem o brincar como um operador clínico a mais introduzia-no como mero auxiliar, como instrumento de uma técnica, relegando, mais uma vez a criança como sujeito do desejo”.

Coriat (1999, p. 189) contribui com a idéia de que a psicanálise atribui grande valor ao brincar como instrumento clínico:

O brincar, instrumento chave da Psicanálise em seu trabalho com as crianças, se impôs sobre todas as especificidades, paralelamente a formalização de um objetivo comum para todas as áreas que compunham a equipe: a produção de um sujeito de do desejo.

Seguindo neste pensamento do brincar como instrumento chave do trabalho psicanalítico com crianças, questiona-se do porque foi atribuído este valor tão especial por esta teoria à brincadeira infantil. Coriat (1999, p. 191) contribui dizendo: “o brincar é a atividade central e constituinte na vida de toda criança”. O modo pelo qual entende as palavras de Freud referidas a que o brincar transforma em ativo o que se sofreu passivamente é a seguinte: “o brincar é o cenário no qual a criança apropria-se dos significantes que a marcaram”. (CORIAT, 1999, p. 191).

Esta colocação vem a reforçar a concepção do brincar como uma atividade que permite uma elaboração de fatos que marcaram a vida da criança.

A atividade lúdica, o que nós, sérios adultos, chamamos com complacência “brincadeira”, é um persistente trabalho de elaboração por parte da criança. Trabalho que consiste em outorgar um sentido a esses significantes, sentido que não é outro do que aquele que pode ser lido na situação que a criança desenvolve no cenário lúdico. (CORIAT,1999, p. 192).

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20 A isto acrescenta ainda que: “é sempre desde o brincar que se produz uma criança”. (CORIAT, 1999, p. 192).

Freud, em sua obra “Escritores Criativos e Devaneios” (1908, p. 135), faz uma alusão da atividade lúdica das crianças com a atividade criadora de um escritor:

Diz que tanto no brinquedo quanto na obra literária, encontramos a criação de um mundo próprio, no qual elementos são ajustados da forma que mais agrade ao sujeito que os criou. O material que da origem ao conteúdo das produções literárias é extraído dos devaneios e fantasias substitutos da atividade lúdica infantil na vida adulta. À medida que nos tornamos adultos, os pequenos “enredos” criados nas brincadeiras dão lugar aqueles imaginados nos devaneios, quando “sonhamos acordados”.

Com a idéia apresentada por Freud, é possível perceber o quanto a brincadeira ou atividade lúdica infantil é criadora a partir do pensamento que o que se produz na literatura vem dos resquícios das fantasias e devaneios das brincadeiras infantis.

Em “Além do Principio do Prazer”, Freud (1920, p. 24-5) propõe que a brincadeira das crianças faz pensar sobre o modo de funcionamento empregado pelo aparelho mental. Esforça-se por descobrir os motivos que levam as crianças a brincar.

Freud (1920, p. 27-8) observa que:

É claro que em suas brincadeiras as crianças repetem tudo que lhes causou uma grande impressão na vida real, e assim procedendo, ab-reagem à intensidade da impressão, tornando-se, por assim dizer, senhores da situação. Por outro lado, porém, é óbvio que todas suas brincadeiras são influenciadas por um desejo que as domina o tempo todo: o desejo de crescer e poder fazer o que as pessoas crescidas fazem. Pode-se também observar que a natureza desagradável de uma experiência nem sempre a torna inapropriada para a brincadeira. Se o médico examina a garganta de uma criança ou faz nela alguma pequena intervenção, podemos estar inteiramente certos de que essas assustadoras experiências serão tema da próxima brincadeira; contudo, não devemos, quanto a isso, desprezar o fato de existir uma produção de prazer provinda de outra fonte. Quando a criança passa da passividade da experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um de seus companheiros de brincadeira e, dessa maneira, vinga-se num substituto.

Freud (1920, p. 25) teve uma oportunidade de observar a primeira brincadeira efetuada por um menininho de ano e meio de idade e inventada por ele próprio. Sendo esta mais que uma simples observação passageira, pois viveu sob o mesmo teto que a criança e seus pais

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21 durante algumas semanas, e foi algum tempo antes que descobriu o significado da enigmática atividade que ele constantemente repetia.

Ele descreve um pouco das características da criança observada:

A criança de modo algum era precoce em seu desenvolvimento intelectual. A idade de ano e meio podia dizer apenas algumas palavras compreensíveis e utilizava também uma serie de sons que expressavam um significado inteligível para aqueles que a rodeavam. Achava-se, contudo, em bons termos com os pais e sua única empregada, e tributos eram-lhe prestados por ser um bom menino. Não incomodava os pais à noite, obedecia conscientemente as ordens de não tocar em certas coisas, ou de não entrar em determinados cômodos e, acima de tudo, nunca chorava quando sua mãe o deixava por algumas horas. Ao mesmo tempo, era bastante ligado à mãe, que tinha não apenas de alimentá-lo, como também cuidava dele sem qualquer ajuda externa. (FREUD, 1920, p. 25).

Em seguida Freud (1920, p. 25) fala sobre o que observou neste menino:

Tinha o hábito ocasional e perturbador de apanhar quaisquer objetos que pudesse agarrar e atira-los longe para um canto, sob a cama, de maneira que procurar seus brinquedos e apanhá-los quase sempre dava um bom trabalho. Enquanto procedia assim, emitia um longo e arrastado “o-o-o-ó”, acompanhado por expressão de interesse e satisfação. Sua mãe e o autor do presente relato concordaram em achar que isso não constituía uma simples interjeição, mas representava a palavra alemã “fort”.

Ainda acrescenta que:

Acabei por compreender que se tratava de um jogo e que o único uso que o menino fazia de seus brinquedos, era brincar de ir embora com eles. O menino tinha um carretel de madeira com um pedaço de cordão amarrado em volta dele. O que ele fazia era segurar o carretel pelo cordão e com muita pericia arremessá-lo por sobre a borda de sua caminha encortinada, de maneira que o menino proferia seu expressivo “o-o-ó”. Puxava então o carretel para fora da cama novamente, por meio do cordão, e saudava seu reaparecimento com um alegre “da”. Essa então, era a brincadeira completa: desaparecimento e retorno. Assistia-se apenas a seu primeiro ato, que era incansavelmente repetido como um jogo em si mesmo, embora não haja duvida de que o prazer maior se ligava ao segundo ato. (FREUD, 1920, p. 26).

Dessa forma, a partir da concepção de vários autores, inclusive a partir da brincadeira primordial do Fort- da que Freud instituiu, fica claro do quanto o brincar é atividade que funda o sujeito desde o momento em que nasce sendo que não existe outra forma tão fantástica de simbolização na infância quanto o brincar.

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22 CAPÍTULO III - O BRINCAR E A TECNOLOGIA

É possível afirmar que o brincar é atividade fundamental da infância e um recurso de simbolização para as crianças. O brincar contemporâneo se dá de modo diferente perpassado pelas mudanças da sociedade atual.

Como coloca Meira (2003, p. 41): “Refletir sobre o brincar e as novas formas com que hoje as crianças o exercem, requer uma análise de seus primórdios. O Fort-da, jogo que se inscreve na via da metaforização, é uma referência primordial na constituição do brincar”. Este fragmento enfatiza a idéia anterior que não é possível entender o modo de brincar atual sem fazer um percurso no que já se apresentou anteriormente, ressaltando o famoso Fort-da de Freud sendo uma valiosa referência.

Meira (2003, p. 42-3), a partir da observação que Freud fez sobre o Fort-da:

Temos, então, alguns pontos que são cruciais no que se refere à constituição do brincar da criança. O processo de metaforização, a repetição, a linguagem, a imagem especular, e o fosso – real – onde, ali, a mãe deixou a criança ao ausentar-se. E os pequenos objetos com os quais a criança faz suas brincadeiras: os brinquedos.

Então, é possível percebermos o valor desta observação que Freud fez com seu neto, que hoje nos oferece um embasamento fundamental para pensarmos a questão do brincar da criança, sendo que inúmeros autores trabalham incessantemente a partir desta idéia.

Assim, a partir disto podemos pensar nas formas de brincar das crianças hoje, como os pais têm se preocupado em oferecer aos pequenos os melhores brinquedos, os mais educativos, menos violentos, que são adequados a sua faixa etária, ou seja, o que eles desejam é que seus filhos tenham o melhor e que nada de ruim os aconteça.

Em conseqüência disto, as crianças não têm mais a liberdade para brincar. Os adultos estão o tempo todo vigiando o que elas estão fazendo, sendo que os brinquedos já vêm programados para “funcionarem sozinhos” fazendo com que a criança se esforce o menos possível em fantasiar ou criar brincadeiras.

Meira (2003, p. 44-5) propõe:

No brincar das crianças de hoje podemos observar as mais variadas formas de repetição, que trazem marcas do discurso social e familiar, ali onde elas foram deixadas. Ao mesmo tempo em que o discurso que impera anuncia,

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23 por exemplo, o mandato de não deixar que as crianças fiquem sozinhas, o oposto se realiza com freqüência. Há, ao mesmo tempo, um cuidado exagerado com a segurança das crianças, “para que nada de mal lhes aconteça”. Neste imperativo, referido ao “cuidar-se”, o brincar encontra-se em segundo plano, e ganha primazia o olhar do Outro, que priva a criança da possibilidade de, longe do controle dos adultos, repetir sem cessar jogos que poderia inventar de a ela fosse dado tempo e lugar.

Neste sentido, hoje em dia as brincadeiras das crianças sofreram muitas alterações, pois não é mais possível brincar livremente, mas sim de algo que seja “construtivo ou educativo” para o seu futuro, e para isso existem os brinquedos modernos.

Podemos observar que raramente é dado espaço para que uma criança fique horas a fio repetindo brincadeiras que vai inventando. Isto é considerado pelos pais como sendo “perda de tempo”. A criança é vista sob a ótica da produção, onde, para ser, tem que estar conforme as regras da ocupação plena e da novidade. (MEIRA, 2003, p. 45).

Percebe-se a idealização da criança em referência à idéia de perfeição, com investimentos relacionados acirradamente ao sucesso, para que não se frustrem, para que não corram perigo. Para isso, encontram-se pais buscando o que julgam ser o brinquedo mais adequado, deixando, por vezes, no esquecimento as brincadeiras livres que também são importantes de serem vivenciadas.

Ainda segundo Meira (2003, p. 45):

Nos tempos modernos, vemos o narcisismo parental levado a extremos. As crianças são hiper estimuladas desde bebês, na busca da mais recôndita perfeição. Os brinquedos são excessivos, expressando o ideal de que “nada venha a lhes faltar”. As bonecas formam coleções onde a impessoalidade as marca. Os carrinhos também são de coleção. Os bichinhos de pelúcia são vendidos as dúzias em qualquer loja de esquina. Os jogos de montagem – Legos – são límpidos e perfeitos, prontos para realizar o que a imaginação das crianças puder alcançar, sem que tenham que sujar suas mãos, ou o espaço em que se encontram. As crianças de hoje, literalmente, não se demanda que coloquem a mão na massa. Mas não há dúvida de que, se elas tiverem espaço, e se forem autorizadas a isto, passarão seu tempo dedicando-se a brincar com água, terra, tinta, barro, massinha, cola, gravetos, pedras, tudo o que faz “sujeira”.

Os brinquedos oferecidos pela indústria acabaram transformando-se em cópias do social moderno, light e clean. (MEIRA, 2003, p. 46).

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24 Os psicólogos observam isto facilmente em sua clínica, aonde muitas vezes as crianças chegam e se deparam com as opções que tem para brincar como a caixa de areia, as tintas, massa de modelar, objetos estes que a criança pode manusear e criar.

As crianças estão mais afastadas de algumas atividades como jogar bola, correr na terra, pintar com tinta, ou correr livremente em um gramado, pois isso expõe ao perigo de estar nas ruas sozinhas, ou de se sujarem, então existem outras soluções para ocupar seu tempo, e a modernidade colabora com isso.

Segundo Meira (2003, p. 46):

Não é necessário ir longe para observar o brincar das crianças pequenas e sua fragilização. Entre deixar o filho brincando toda à tarde com outras crianças, em meio a brinquedos terra, bola, seja o que for os pais escolhem arrumar seus filhos com toda a elegância e levá-los ao shopping. Estes, por sua vez, já têm suas “playland”, com brinquedos automáticos e os “clubinhos da criança”, onde elas são deixadas enquanto suas mães fazem compras. Nestes espaços clean, “não há perigo algum”, referem alguns pais. Os brinquedos são todos de plástico, facilmente manuseáveis, limpos, e as crianças muitas vezes ficam sem nada a fazer alem de entrar e sair deles incessantemente.

Em conseqüência disto, que o brincar atual se caracteriza por uma fragmentação e é instantâneo, vemos isso quando as crianças vêm a clinica relatando sobre os jogos de vídeo-game, computador, os desenhos da televisão, este mundo mágico que lhes é oferecido e acaba com a graça das outras “simples brincadeiras”.

Para tanto, as transformações do brincar pelo contemporâneo também refletem na clínica, este desencantamento das crianças pelos brinquedos tradicionais, e a avalanche de novidades e tecnologias acaba em muitos casos provocando sintomas na criança, afinal o brincar contribui para a estruturação subjetiva do sujeito.

Meira (2003, p. 51) colabora com essa idéia:

Cabe refletirmos acerca dos desdobramentos que o brincar revela na clinica psicanalítica com crianças, considerando as transformações que a sociedade contemporânea impõe. Quando as crianças chegam ao consultório ou a clinica, nos falam de sua angustia e de seus sintomas. Muitas vezes não conseguem brincar, e sim, paralisadas, falam sobre seus pesadelos, dores na barriga, choros, brigas com os pais, irmãos e colegas, dificuldades para falar ou aprender.

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25 Isso é algo que preocupa, pois já não é da mesma forma que se estrutura a infância, as crianças estão apresentando sofrimentos que não encontram vias de elaboração. Por isso, que na clínica o brincar é ferramenta básica.

Ainda Meira (2003, p. 52) cita que as crianças falam de seus sintomas:

Onde no brincar, teriam a ferramenta básica para sustentar a elaboração de sua angústia, não conseguem encontrar consistência. Os brinquedos que encontram na sala de atendimento muitas vezes são considerados ultrapassados, justamente em nome da velocidade com que são difundidos no social.

As crianças atualmente têm a seu dispor inúmeras opções de brinquedos que já vem prontos e com as instruções necessárias. Elas já não precisam se ocupar em fantasiar que o “bebê está chorando”, pois ele já está programado para chorar somente apertando um botão. Da mesma forma podemos pensar os meninos que não encenam uma corrida empurrando um carrinho, já que o controle remoto que eles têm em mãos faz isso por eles. Assim, os pequenos sujeitos têm acesso a inúmeras opções de brinquedos com a mais avançada tecnologia. Os aniversários, o natal, o dia das crianças são ocasiões onde as crianças recebem uma quantidade por vezes absurda de brinquedos que lotam seus quartos, e o pior de tudo, é que na maioria das vezes são brinquedos para não brincar.

Jerusalinsky (2000, p. 37) menciona as crianças do “ready made” ou, traduzindo, “criança pronta”:

Um estranho mal-estar percorre o mundo. É o fantasma do “ready made”. Crianças bem vestidas e bem alimentadas se jogam no chão na frente de carrinhos de pipoca, esperneiam diante de vitrines de brinquedos, berram perante algodões-doces e bichinhos da Parmalat.

Este fato é facilmente observável no cotidiano. As crianças são vestidas como mini adultos, os meninos usam terno e gravata, e as meninas usam saltos e andam maquiadas. Existe uma espécie de antecipação do que seria o mundo adulto, e tudo está acessível.

Jerusalinsky (2000, p. 37) aponta sobre este fato que faz parte da infância atualmente:

Nas prateleiras de seus quartos, dezenas de bichinhos de pelúcia, jogos jamais abertos, brinquedos apenas manuseados dormem o mesmo sonho dos monumentos nas praças. Estão ali para testemunhar alguma coisa imprecisa, que ninguém atina a definir. Dia após dia, as babás e as empregadas domésticas se esmeram em fazer caber – num espaço cada vez relativamente

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26 menor – esse festival de objetos coloridos, que se multiplicam se cessar. É bem provável que as faxineiras tenham, no dia anterior ao aniversario da mimada criancinha da casa dos patrões, devaneios bem parecidos aos de uma artista plástica nas vésperas de uma “instalação.

A seguir, exemplifica um pouco sobre este fato:

Estarão obrigadas a encontrar lugar para a Barbie número dezessete – vestida de Grace Kelly -, o Rambo com rosto de Ralph Vallone, o papagaio que responde e olha para a gente, um jogo de dominó, algumas feras pré-históricas, seis bonecos de diferentes tamanhos, um tanque de guerra, duas naves interespaciais, um apito de juiz de futebol, um robô e um cavaleiro medieval, 44 soldadinhos vermelhos de uma segunda guerra mundial – que já não figura entre os restos imaginários das crianças, mas entre os restos infantis dos pais cinqüentões, e uma série de objetos identificáveis com cara de Piu-Piu, Pateta, Mickey, etc., que apitam, crepitam, gemem, falam se forem apertados, sorriem e choram, balançam, acendem luzes, e mexem. (JERUSALINSKY, 2000, p. 38).

Todos esses brinquedos vêm acompanhados das instruções que mesmo antes da criança manuseá-los já foram lidas atentamente pelos pais garantindo que o brinquedo escolhido seja o adequado para seu filho.

Jerusalinsky (2000, p. 38) refere estes brinquedos como “receitas” para serem levadas em conta, sendo que todos eles contêm alguma advertência:

Não serve para voar, mantenha fora do alcance de crianças menores de... requer troca periódica de baterias, de 2 a 5 anos, de 5 a 8 anos, não aproximar ao fogo, se a criança não souber os números pode se guiar pelas cores, molhe as pastilhas de aquarela para pintar, para conservar as cores puras não misture os blocos de massa, o uso inadequado poderá danificar os brinquedos.

O fato é que essas informações que parecem mágicas e tranqüilizam os pais sobre o que oferecem para os seus filhos brincarem não tem nada em especial, pois são óbvias e não precisam de manual de instruções, Porém o contemporâneo traz esta característica, a criança não precisa imaginar ou criar a brincadeira, já que o brinquedo acompanha as mais recentes evoluções do mercado e para os pais é importante que seus filhos se interem das novidades.

Como diz Jerusalinsky (2000, p. 38):

Além dessa “poupança de pensamento”, que tais valiosas instruções nos oferecem, elas também se ocupam de que nossos filhos não precisem passar por fatigantes experimentações: não misture as cores, porque senão irão

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27 produzir-se outras; não perca tempo, siga precisamente o manual de instruções e obterá um correto funcionamento, senão, não.

O capitalismo respinga também no brincar, os brinquedos ao invés de serem meios de simbolização da criança, objetos que elas podem manipular da forma que desejam, e mais, que elas possam criar seus próprios brinquedos, como as antigas bonecas de espiga de milho, carrinhos de rolimã, infelizmente isto são lembranças do passado de quem viveu a infância em outras épocas.

Atualmente, a infância também é alvo do consumismo, as crianças têm coleções de Barbie, Pollys, centenas de carrinhos da Hot Wells, isto tudo em conseqüência do capitalismo que se aproveita também da brincadeira das crianças hoje em dia tão fragilizada.

Trata-se de uma variedade de objetos que procuram, com toda evidencia antecipar-se a qualquer criação; nossa industriosa sociedade coloca em ato seu principio: eu fabriquei antes de você poder imaginá-lo. Não imagine, nós o fazemos por você. (JERUSALINSKY, 2000, p. 38).

Novamente vemos em nosso trabalho clínico refletir o que o autor propõe como “poupança de pensamento”, em geral eles buscam o psicólogo para receberem uma solução pronta ou uma resposta para os enigmas da infância de seus filhos, enfatizando que na atualidade quase tudo é tido como problemático. Se a criança é agitada ou não consegue manter a atenção é diagnosticado com déficit de atenção e hiperatividade e então passa a tomar à famosa “Ritalina” que “acalma a sua agitação e melhora no desempenho escolar”, mas não nos deteremos a isso que seria um assunto também de importância a ser discutido.

E é justamente essa intolerância a alguns comportamentos característicos da meninice que faz os pais se inquietarem, afinal os filhos não podem se sujar nem ser agitados, devem prestar atenção na escola, obter as melhores notas, e se isso não acontece se mostram preocupados, e vão em busca de uma resposta para os supostos problemas. Existem livros e manuais com dicas e técnicas de como educar seu filho, quais os melhores brinquedos para o desenvolvimento da criança e diversos outros “guias” que poderiam ser citados, além da medicalização dos ditos transtornos da infância, que sem dúvida deveriam ser mais bem analisados.

Quanto a isso Jerusalinsky (2000, p. 39) acrescenta o seguinte fragmento:

A impregnação dessa proposta de “poupança do pensamento” alcança tal ponto, no discurso social, que os pais que chegam com seu filho à consulta,

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28 mesmo que seja a um psicanalista, costumam perguntar: Qual é o livro que o senhor recomenda lermos para poder ajudá-lo? E certamente, tal demanda não aponta para ser orientado na travessia de uma experiência literária – o que pode ser de grande interesse numa “cura psicanalítica” -, mas ao fornecimento do popular “manual de instruções”, desta vez para o manejo adequado do artefato chamado “filho”.

A tecnologia é algo contemporâneo em grande expansão com o capitalismo e a industrialização, são câmeras digitais, filmadoras de alta resolução, televisão que tem uma infinidade de canais, computador, videogames e tudo isso em livre acesso para os sujeitos desde muito cedo até mesmo antes de nascerem. Os olhares que se voltam à infância se modificaram na contemporaneidade, juntamente com a cultura, o social e as próprias famílias.

Em decorrência disto a sociedade atual é marcada por uma velocidade, um imediatismo. É tudo muito instantâneo, as pessoas vivem em ritmo acelerado e isto reflete na vida das crianças que não escapam de viver esse mundo que lhes é apresentado desde o inicio de sua existência.

Meira (2008, p. 157) afirma que:

Esta automatização das imagens tem efeitos sobre as crianças que estão cotidianamente expostas as inúmeras fontes visuais e a aceleração do tempo. Entre estes, sua agitação, a velocidade das brincadeiras, a velocidade dos pedidos de objetos que incessantemente são oferecidos pela mídia, as dificuldades de concentração. E, indo mais além a velocidade com que se defronta com a tarefa de pensar sobre o mundo.

As crianças atualmente são cercadas pelas mais diversas tecnologias, realidade imposta pelo social, o contemporâneo lida com o capitalismo que produz sempre algo mais moderno e avançado no âmbito dos brinquedos que são verdadeiros objetos tecnológicos, afinal as bonecas choram, fazem xixi e falam, os carrinhos vêm acompanhados pelo controle remoto que necessita apenas o esforço de apertar um botão. Esses brinquedos e a competição pelo qual é mais moderno acabam tendo uma influência negativa deixando de lado a função de simbolização possibilitada a partir do brincar.

Segundo Meira (2008, p. 159):

Basta abrirmos os jornais, ligarmos a televisão, transitamos pela cidade, para constatar que os ideais vigentes hoje elevam ao mais alto grau o imediatismo e a constante mutabilidade do laço social. A permanência, o tempo que se estende, são traços que submergem em meio ao culto ao descartável. As brincadeiras das crianças são metáforas desta posição: revela em sua

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29 transitoriedade a fragmentação do tecido social. Os objetos a elas oferecidos incessantemente são frágeis tentativas de obturar a angústia que revelam diante do mundo que se lhes apresenta.

As crianças são pequenos sujeitos que ainda não tomam suas próprias decisões ou que resolvem sozinhos seus problemas, mas já estão inseridos no discurso social, O que os espera antes do nascimento, o desejo dos pais, e os significantes que eles atribuem, atualmente também são pautados pela era tecnológica. Mesmo antes de nascer já são vistos em ecografias tão modernas que mostram perfeitamente a foto do ser, o nascimento já é filmado, as crianças muito novas já ganham como primeiro presente celular, computador e todos os tipos de aparelhos eletrônicos.

Meira (2008, p. 160) diz que:

Podemos pensar, em relação a este ponto, nos nascimentos dos bebês nos centros urbanos e na parafernália tecnológica que hoje os cerca. As ecografias tornam-se a “primeira foto” do álbum de fotografias. Os pais participam dos partos com suas filmadoras, preocupando-se, desde que o bebê nasce em registrar em vídeo todos os seus movimentos. Mal este chega ao mundo, já é apresentado a este cultuado objeto que marca a sociedade: a câmera de vídeo, o olhar de vidro, transparente, sem palavras. Primeiras marcas: diante do bebê, o pai escolhe segurar a máquina, gravar em vídeo seu nascimento, para que depois se assistam as cenas em família. Destas, o pai está subtraído, porque está atrás, filmando, fora de cena.

Um fato que tem caracterizado a sociedade moderna é a ausência das relações face a face, o olhar do outro, a voz e o toque já estão extintos, as conversas, os relacionamentos se dão pela via da tecnologia os celulares, os computadores, a televisão são os meios de comunicação mais fortes atualmente.

As operadoras de telefones celulares oferecem muitas facilidades para que as pessoas possam falar por horas gastando muito pouco. A televisão disponibiliza uma infinidade de canais que fixa o olhar das pessoas por muito tempo, o computador nos traz a era da virtualidade deixando a disposição às redes sociais: Messenger, Facebook, Orkut, Skype entre outras que estão disponíveis a todos para conversarem e se verem através da imagem da Web Cam em tempo real com a pessoa que desejarem esteja esta em qualquer parte do mundo.

Este é um fator desencadeante de inúmeras problemáticas. O olhar do outro e as relações face a face são fundamentais para constituição da criança, e também para todos os sujeitos.

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30 Mas pensando no tema em questão a infância, já não se estrutura da mesma forma já que está inserida na sociedade moderna baseada no capitalismo, como citado anteriormente, influenciando mesmo antes do nascimento e em seu desenvolvimento.

Dessa forma, a evolução tecnológica tem refletido na infância, na forma como as crianças brincam, nas suas relações com o social, e isso tem caracterizado uma constituição da infância mais fragilizada perpassada pelo imediatismo e a instantaneidade, as crianças têm apresentado sintomas e comportamentos diferentes e jamais observados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho versou sobre o brincar e sua importância na infância. Para tanto, abordou-se a importância desta atividade para a constituição do psiquismo e ainda o brincar atrelado à tecnologia característica da sociedade moderna. Buscou-se embasamento teórico para entendimento das questões, tendo uma boa quantidade de escritos referentes a este tema.

O assunto em questão é estudado há bastante tempo, desde Freud que se dedicou a escutar o psiquismo infantil e, em decorrência deste trabalho, observou o brincar. A partir disto então, o brincar infantil se transformou em uma importante ferramenta clínica que viabiliza o trabalho com crianças, sendo uma experiência subjetiva que possibilita simbolização.

Através do desdobramento da escrita deste trabalho verificou-se o quanto de fato o brincar é importante como atividade fundadora, constitutiva e construtiva. A criança enquanto brinca elabora muitos de seus medos, inseguranças, entre outros conteúdos que fazem parte do seu inconsciente.

Sobre o brincar vinculado a tecnologia é possível pensar que essa é uma característica da contemporaneidade e que está refletida também nos brinquedos mais práticos, mais informatizados, em seu manuseio; caracterizando brincadeiras instantâneas e sem imaginação das quais os pequenos sujeitos tem se ocupado hoje em dia.

Faz-se necessário lançar um questionamento. Até que ponto a tecnologia é benéfica para a infância? Teriam sido abandonadas as velhas e tradicionais brincadeiras? Os brinquedos também estão mergulhados pelo consumismo e o capitalismo? São questões que surgem e seguem com o próprio desta pesquisa e com o interesse em pesquisar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MEIRA, Ana Marta. O bebê e os Espelhos Sociais Contemporâneos. In: O Cravo e a Rosa. A psicanálise e a Pediatria: um diálogo possível? Salvador: Agálma, 2008.

______. Pequenos brinquedos jogos sem fim. In: Novos Sintomas. Salvador: Agálma, 2003. PINHO, Gerson Smiech. O brincar na Clínica Interdisciplinar com Crianças. Escritos da Criança. n. 6, 2. ed. Porto Alegre, 2006.

Referências

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