TURISMO COMUNITÁRIO NO CEARÁ: ANÁLISE DA ATIVIDADE
TURÍSTICA NAS COMUNIDADES DE BATOQUE E
PRAINHA DO CANTO VERDE.
Autores INÁCIO SILEIKIS DE BARCELLOS LUZIMARA SILVA DE SOUSA MARCIELE BERNARDO RAFAELA ARAÚJO PINTO
Tecnólogos em Gestão de Turismo pela Faculdade Darcy Ribeiro
Orientadora
THALITA NATASHA FERREIRA DAMASCENO
Mestra em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
thalita.natasha@gmail.com
RESUMO
A atividade turística pode contribuir para o desenvolvimento social e econômico de uma região e, nessa perspectiva, pequenas comunidades descobriram na atividade uma forma de complementar a renda familiar. Esse estudo tem como objetivo analisar a atividade turística nas comunidades de Batoque e Prainha do Canto Verde, enfatizando as melhores práticas e visando o melhor aproveitamento do turismo comunitário. Foi feita uma pesquisa qualitativa, onde o procedimento utilizado foi a coleta de dados com questionários. Nos dois locais, foram entrevistados tanto os líderes comunitários quanto as pessoas que trabalhavam com empreendimentos turísticos. Conclui-se que essas pequenas comunidades não possuem ainda estrutura básica necessária para atender as necessidades dos moradores e não recebem investimentos suficientes para a melhoria de seus equipamentos turísticos, contudo não deixam de atrair turistas. O sucesso da atividade turística em uma comunidade depende da cooperação entre o governo, organizações não governamentais e a comunidade receptora, pois sem a interação desses agentes, é difícil desenvolver o turismo com bases sustentáveis.
PALAVRAS CHAVE: Turismo comunitário; Desenvolvimento; Planejamento.
ABSTRACT
Tourist activity can contribute to social and economic development of a region and , in this perspective , small communities found in the activity a way to supplement the family income . This study aims to analyze the tourist activity in the communities of Bung and Canto Verde , emphasizing best practices and foster better use of community tourism . Qualitative research , where the procedure was used to collect data with questionnaires was taken . In both sites , were both interviewed community leaders as people who worked with tourism developments . We conclude that these small communities still lack basic infrastructure necessary to meet the needs of residents and do not receive sufficient investment to improve its tourist facilities , yet not fail to attract tourists . The success of tourism in a community depends on cooperation among government, non-governmental organizations and the host community , because without the interaction of these agents , it is difficult to develop tourism on a sustainable basis .
A R T I G O S 1. INTRODUÇÃO
A atividade turística já era praticada desde os primórdios, embora ainda não existisse o conceito de turismo. Atualmente o turismo vem crescendo bastante, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico da sociedade. Essa atividade é uma ferramenta geradora de emprego e renda, pois o turista consome produtos e serviços no destino turístico e parte da receita é revertida em benefícios para as comunidades receptoras, como por exemplo: a melhoria da infraestrutura básica e turística e criação de novos postos de trabalho.
O turismo é uma atividade econômica e está situada no setor terciário da economia (prestação de serviços), os fatores que contribuíram para o seu crescimento foram a globalização e as mudanças nas leis trabalhistas, como a redução da carga horária de trabalho e férias remuneradas, esses fatos permitiram que as pessoas tivessem mais tempo para o lazer, havendo uma demanda significativa no turismo.
O aumento da demanda pela atividade turística fez com que algumas comunidades extrativistas que sobrevivem da pesca e da agricultura descobrissem no turismo uma oportunidade de complementar a renda familiar, porém a atividade é desenvolvida de forma amadora e conta com poucos investimentos do governo.
O turismo tem relevância devido ao potencial de crescimento econômico e desenvolvimento social que pode proporcionar, pois é uma forte ferramenta na geração de emprego e renda para as comunidades cearenses que trabalham com o turismo comunitário e defendem a conservação ambiental e valorização da cultura local. O Estado privilegia o turismo convencional em relação ao turismo comunitário que, apesar de ser um dos eixos com crescente demanda, conta com poucos investimentos do governo e, por conta disso, as comunidades acabam desenvolvendo a atividade turística sem um bom planejamento e isso pode aumentar os impactos negativos e prejuízos causados pela atividade. Segundo Coriolano (1998, p.135):
Durante muitas décadas, nosso modelo de desenvolvimento baseou-se em intervenções macroeconômicas. Regiões inteiras, muitas delas longes dos grandes
centros urbanos mais dinâmicos, não se beneficiaram desse “desenvolvimento”. Isso aconteceu com o Nordeste brasileiro, fazendo crescer a distância que o separava das regiões mais ricas, e, com ele, o Ceará e as comunidades litorâneas.
É importante que as comunidades tenham conhecimento de ações e práticas que possam contribuir para uma melhor utilização dos recursos naturais e financeiros e minimizar os efeitos negativos provenientes da atividade, buscando por meio do turismo melhorar a qualidade de vida da população local.
Esse artigo tem como objetivo analisar as comunidades que desenvolvem o turismo comunitário, enfatizando as melhores práticas, visando um melhor aproveitamento da atividade turística. Para se alcançar o resultado pretendido irão ser verificados os seguintes pontos: avaliar a participação da comunidade no desenvolvimento da atividade, verificar se há incentivos do governo e quais são, analisar o planejamento e gestão do turismo nas comunidades, analisar a geração de benefícios e a distribuição entre a comunidade, verificar a infraestrutura básica e turística e apresentar as dificuldades que as comunidades enfrentam.
Nesse artigo será analisado o desenvolvimento da atividade turística nas comunidades de Batoque e Prainha do Canto Verde com o objetivo de se responder o seguinte questionamento: quais as melhores práticas para se obter um melhor aproveitamento da atividade turística?
2. REVISÃO DE LITERATURA
Na sociedade capitalista, o principal objetivo é a obtenção de lucro, assim o turismo convencional ganha cada vez mais espaço. Em contrapartida, surge o turismo comunitário que promove a inclusão social de pequenas comunidades excluídas que não usufruem dos benefícios advindos da atividade, pois ficam concentrados nas mãos de uma minoria que possui capital para fazer grandes investimentos. Hoje, porém algumas comunidades têm a oportunidade de participar como agentes produtores do turismo que é um instrumento importante e pode auxiliar para atenuar problemas socioeconômicos nessas localidades.
pelo Ministério do Turismo (apud Sansolo e Bursztyn 2009, p.145) como:
Um modelo de desenvolvimento turístico, orientado pelos princípios da economia solidária, associativismo, valorização da cultura local, e, principalmente, protagonizado pelas comunidades locais, visando a apropriação por parte dessas dos benefícios advindos da atividade turística.
Segundo a definição de Maldonado (2009, p. 31):
Por Turismo Comunitário entende-se toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos.
O turismo comunitário é desenvolvido pela própria comunidade que trabalha em conjunto para oferecer produtos e serviços aos turistas e os benefícios gerados são distribuídos de forma solidária entre todos os envolvidos na prática da atividade.
As comunidades desenvolvem o turismo de base comunitária tendo apenas um conhecimento superficial sobre o assunto e com poucos recursos a sua disposição, o que torna o desenvolvimento da atividade bastante difícil. O turismo comunitário contribui para a manutenção da identidade local, conservação do meio ambiente, mas também tem aspectos negativos como: pode alterar os padrões de consumo e perda da identidade da comunidade por conta do contato com outras culturas, já que há uma maior interação entre visitantes e residentes e também ocasionar a degradação do meio ambiente pela má utilização dos recursos e pelo fluxo desordenado de turistas nessas comunidades.
Localização e Características das Comunidades
Batoque está localizada no município de Aquiraz, no litoral leste do estado, a uma distância de 55 km de Fortaleza, na comunidade vivem 320 famílias que sobrevivem da pesca e lutam pelo direito ao seu território e contra a especulação imobiliária.Esta cercada de belas paisagens como praia, dunas, lagoa e um manguezal.
População 2010 - 72.628
Área da unidade territorial (Km²) - 482,573 Densidade demográfica (hab/Km²) - 150,50 População estimada para 2012 - 74.465 Fonte: IBGE
Prainha do Canto Verde está localizada no município de Beberibe, no litoral leste do Estado a uma distância de 120 km da capital, as atividades desenvolvidas na comunidade são: a pesca, a agricultura e o artesanato. Em 1998 os moradores começaram a trabalhar com o turismo comunitário e hoje é uma referência na atividade.
População 2010 - 49.311
Área da unidade territorial (Km²) - 1.623,891 Densidade demográfica (hab/Km²) - 30,37 População estimada para 2012 -50.364 Fonte: IBGE
As comunidades que residem nesses lugares têm como principal fonte de renda a pesca, elas encontraram no turismo uma oportunidade de crescimento. Pode-se falar da Prainha do Canto Verde e do Batoque como exemplos de que a atividade turística abriu um leque de opções e gerou trabalho e renda para os residentes. Essas comunidades que valorizam o patrimônio cultural, a conservação ambiental e o crescimento comunitário, unem esforços coletivos para prestar serviços de maneira simples e repassando sua essência e valores aos visitantes.
A R T I G O S
A atividade turística é um instrumento que pode trazer desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida para as comunidades que dele se utilizam e promove a inclusão e a redução das desigualdades sociais quando bem planejado. O turismo é uma atividade que tem pontos positivos e negativos e é justamente por isso que deve ser planejado com o objetivo de minimizar os impactos negativos e obter um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Conforme Barreto (2002, p. 12): “O planejamento é uma atividade, não é algo estático, é um devir, um acontecer de muitos fatores concomitantes, que tem de ser coordenado para se alcançar um objetivo que está em outro tempo.”
O planejamento é de fundamental importância para se alcançar um objetivo, pois a partir dele se traça metas para conquistar os objetivos estabelecidos. O ato de planejar é indispensável para a atividade turística, já que esta pode trazer grandes prejuízos às comunidades receptoras como: degradação ambiental, desvalorização da cultura local, com a mudança dos padrões de consumo, prostituição, drogas e muitos outros, porém antes de tomar decisões é necessário fazer um estudo diagnóstico para saber como está a atividade turística na localidade e a partir deste estudo decidir quais medidas serão tomadas, quando, onde e quem irá executá-las.
Ao planejar o turismo se deve levar em conta os seguintes fatores: o econômico, com o objetivo de obter o crescimento da economia, o ambiental, lutar pela preservação dos recursos naturais, o social, melhorar a qualidade de vida da população e o cultural para preservar e valorizar costumes e tradições, a fim de promover o turismo sustentável.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), entende-se por turismo sustentável:
O desenvolvimento do turismo sustentável atende as necessidades dos turistas de hoje e das regiões receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro. É visto como um condutor ao gerenciamento de todos os recursos, de tal forma que as necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser satisfeitas sem desprezar a manutenção da identidade cultural, dos processos ecológicos essenciais, da diversidade biológica e dos sistemas que garantem a vida. (2003, p. 24)
Os agentes produtores do turismo são: Governo, a iniciativa privada, a comunidade e os turistas e o bom desenvolvimento da atividade depende da participação desses agentes no planejamento turístico.
Batoque e Prainha do Canto Verde fazem parte da Rede Cearense de Turismo Comunitário (Tucum), a rede é formada por treze comunidades localizadas no litoral do Ceará, defende a proposta de turismo comunitário e tem como objetivo o fortalecimento da atividade turística, para isso estimula a troca de experiências e a cooperação entre as comunidades. Segundo o grupo que desenvolve o turismo em Batoque e Prainha do Canto Verde a TUCUM faz duas reuniões por ano com as comunidades para discutir a atividade turística.
As duas comunidades são Reservas Extrativistas (RESEX) federais, o que garantiu o direito de posse do território aos moradores, pois as duas regiões tinham problemas com empresários que se interessavam pelas terras e ameaçavam expulsá-los. Segundo a lei ambiental 9.985 de 18 de Julho de 2000, artigo 7º, § 2º, define reserva extrativista como uma unidade de conservação de uso sustentável que tem como objetivo básico compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. As comunidades informaram que o órgão federal tem o cuidado com a preservação do meio ambiente, porém acreditam que o Instituto Chico Mendes pode ajudar no desenvolvimento do turismo local, visando é claro que a atividade seja desenvolvida de forma sustentável, para que as comunidades tenham condições de garantir o seu sustento, já que é do turismo que as famílias complementam a renda familiar, sendo a pesca a principal atividade econômica.
3. METODOLOGIA
Foi desenvolvida uma pesquisa documental, onde foram descritas algumas definições sobre o tema, com ênfase nos fatores relacionados ao assunto proposto, além de pesquisa descritiva onde o procedimento utilizado foi coleta de dados, por meio de questionários e entrevistas nas comunidades de Batoque e Prainha do Canto Verde. Nos dois locais, foram entrevistados tanto os líderes comunitários quanto as pessoas que
trabalhavam com empreendimentos turísticos. Antes da pesquisa de campo, foi necessária a solicitação de uma autorização do Instituto Chico Mendes, visto que este órgão contribui na manutenção e preservação do meio ambiente.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Prainha do Canto Verde está totalmente dividida, o fato de ter se tornado reserva extrativista (RESEX), dividiu os moradores. Alguns são a favor da RESEX e outros não. Existem duas associações de moradores na comunidade, alguns defendem o turismo comunitário e outros querem o crescimento da atividade no local, pois afirmaram que foram excluídos e eles querem participar do turismo local, apesar das divisões a comunidade tem muita vontade de crescer e mostrar seu real valor.
Em Batoque, a comunidade luta por uma “identidade’’, pois, apesar de fazer parte do município de Aquiraz, o acesso é por Pindoretama e isso dificulta o acesso dos turistas, o acesso é muito difícil e não é asfaltado, as ruas estão em condições ruins para trajeto, isso também impede a mobilidade tanto de turistas como dos próprios moradores, a maioria dos nativos não tem boas condições financeiras e dependem de transportes públicos para se locomoverem para outras cidades, porém os transportes foram cortados devido as condições precárias da estrada que dá acesso a Batoque, já na Prainha o acesso é mais fácil.
As duas comunidades não consideram que a infraestrutura seja adequada para atender as necessidades dos moradores e dos turistas, os problemas são: a rede telefônica fixa e móvel que são precárias e não funciona a maior parte do tempo. Os moradores de Batoque sugeriram as seguintes melhorias: investimento na infraestrutura, principalmente a estrada que dá acesso à comunidade, transporte, rede telefônica e capacitação de jovens para o mercado de trabalho.
Na Prainha as sugestões foram: Melhorar a infraestrutura, saneamento básico e médicos para atender a população. As comunidades afirmaram que não recebem nenhuma ajuda financeira do governo voltada diretamente para o turismo, moradores das duas comunidades citaram que a comunidade precisa se unir para lutar pela melhoria da qualidade de vida de
todos.
5. CONCLUSÕES
O turismo é uma atividade de grande importância para Batoque e Prainha do Canto Verde, pois os moradores são donos de pequenos negócios como: pousadas, barracas de praia e vendas de artesanatos e são esses pequenos negócios que contribuem para o desenvolvimento local.
O turismo de base local deve ser apoiado por dar à comunidade a possibilidade de planejar e executar a atividade de forma a minimizar os impactos negativos visando a preservação do meio ambiente, a valorização da cultura, a obtenção de renda para melhorar a qualidade de vida da população local.
Percebe-se que essas pequenas comunidades não têm estrutura básica necessária para atender as necessidades dos moradores, são lugares que não recebem investimentos suficientes para a melhoria de seus equipamentos turísticos e políticas públicas adequadas, mas que nem por isso deixam de atrair turistas.
O sucesso da atividade turística em uma comunidade depende da cooperação entre o governo, organizações não governamentais e a comunidade receptora, pois sem a interação desses agentes não é possível desenvolver o turismo com bases sustentáveis.
6. REFERÊNCIAS
BARRETO, Margarita. Planejamento e organização em turismo. 7 ed. Campinas: Papirus, 2002.
CORIOLANO, Luzia Neide M.T. Do local ao Global: O turismo litorâneo cearense. Campinas, SP: Papirus, 1998.
DIAS, Reinaldo. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: < http://www.ibge.gov. br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 29 Nov. 2012.
MALDONADO, Carlos. O turismo rural comunitário na América Latina, gênesis, características e políticas.
A R T I G O S
Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2003.
REDE CEARENSE DE TURISMO COMUNITÁRIO. Disponível em: <htp://www.tucum.org/oktiva.net/2313/ secao/18713>. Acesso em: 19 de Jun. 2013.
SANSOLO, Davis ; BURSTYN, Ivan. Turismo de Base Comunitária: Potencialidade no espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
