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CASAMENTOS NO VALE DO RIO DO PEIXE: CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS A PARTIR DOS REGISTROS CIVIS ( )

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CASAMENTOS NO VALE DO RIO DO PEIXE: CONTRIBUIÇÕES E

DESAFIOS A PARTIR DOS REGISTROS CIVIS (1915-1944)

Silmei de Sant´Ana Petiz1

Resumo: Partindo do levantamento dos Casamentos Civis do Vale do Rio do Peixe, o presente trabalho tem como objetivo analisar duas perspectivas em relação a esses assentos no período de 1915 a 1944. O primeiro é verificar os potenciais e os limites que a documentação trás para estudos populacionais. O segundo é conhecer o perfil demográfico das populações que ali se fixaram, através da análise das idades, origens e das famílias que se constituíram na região. Tendo-se em vista os objetivos propostos, nosso trabalho será dividido em três seções. Na primeira apresentamos uma breve história do Vale do Rio do Peixe. Na segunda analisamos os registros matrimoniais e alguns conceitos e procedimentos destinados a explicitar os limites da pesquisa. Por fim, discorreremos sobre alguns dados demográficos obtidos através das fontes.

Palavras-chave: Casamentos Civis; Vale do Rio do Peixe; Demografia Histórica.

Weddings in The Valley of Rio do Peixe: Contributions and Challenges from Civil Records – 1915-1944 Astract: Starting from the survey of Civil Weddings in the Vale do Rio do Peixe, the present work aims to analyze two perspectives in relation to these seats in the period from 1915 to 1944. The first is to verify the potentials and limits that the documentation brings to population studies. The second is to know the demographic profile of the populations that settled there, through the analysis of the ages, origins and families that were constituted in the region. In view of the proposed objectives, our work will be divided into three sections. In the first, we present a brief history of the Rio do Peixe Valley. In the second, we analyze the matrimonial records and some concepts and procedures designed to explain the limits of the research. Finally, we will discuss some demographic data obtained from sources.

Keywords: Civil Weddings; Vale do Rio do Peixe; Historical Demography.

Um olhar voltado às origens: o Vale do Rio do Peixe

O Vale do Rio do Peixe, espaço delimitado para o desenvolvimento da pesquisa, localiza-se na Região Sul do Brasil, no Planalto Ocidental do Estado de Santa Catarina, Microrregião denominada Meio Oeste Catarinense. Integra a área do “Contestado”- um território que foi objeto de disputa judicial entre Brasil e Argentina e posteriormente entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. Ainda enquanto a região estava em litígio, o governo imperial brasileiro concedeu privilégios para a construção de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo (GALLO, 1999, p. 102). Conforme a ferrovia ia sendo construída no início do século XX, ocorriam desalojamentos a força dos sertanejos, considerados posseiros e moradores irregulares das terras. Entre 1912 e 1916, a região do

1 Doutor em História Ibero-Americana pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Professor

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Vale do Rio do Peixe, assim como localidades do Planalto e dos Campos de Palmas, foi palco da Guerra do Contestado. Os fatos que transcorreram ao longo desse período já são por demais conhecidos e não serão aqui analisados. No entanto, pontuamos que os confrontos ocorreram entre o exército brasileiro, polícia Militar Paranaense e os caboclos que habitavam a região. Levando a derrota e a expropriação desses últimos.

Após a pacificação do território, aliada a conclusão da estrada de Ferro e a definição dos limites entre o Paraná e Santa Catarina, intensificava-se a colonização através da formação de companhias colonizadoras com as áreas contíguas à estrada de ferro. Por essas razões, entre as décadas de 1920 e 1940 o Vale do Rio do Peixe, recebeu um grande fluxo migratório, principalmente, de oriundos do Rio Grande do Sul; composta de “colonos”, que para a região se transferiam com o objetivo de estabelecer atividades agrícolas e o corte da madeira. Através dos registros cartoriais buscamos conhecer um pouco mais a história dessas populações que ali se fixaram.

Os assentos de Casamentos Civis do Vale do Rio do Peixe (1915-1944)

Para realizar qualquer análise embasada em documentação específica, é necessária a apresentação das principais características da fonte. O casamento que aqui se verifica será aquele praticado em matrimônio contraído como contrato civil realizado entre duas pessoas com o objetivo de constituir uma família, e não o casamento pelas leis de Deus, ministrado pela Igreja Católica, ou mesmo o concubinato. As atas de matrimônios Civis, encontradas em livros Cartoriais da região, com muita frequência descrevem o local escolhido para a realização das cerimônias e fornecem informações diversas sobre os envolvidos, tais como: idade, naturalidade, nacionalidade, profissão e residência. Também traz questões pertinentes a os hábitos temporais, como a escolha da hora e do dia da semana. Fornecem dados sobre cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; o regime de bens, entre outras informações.

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Após essas considerações, transcreve-se na íntegra um documento de casamento civil realizado no cartório do Primeiro Distrito de Cruzeiro, para mostrar quais variáveis podem ser retiradas destas atas de matrimônio, o que confirma a importância dos registros civis para a análise do tema aqui trabalhado:

Termo de casamento de Atílio Fontana e de Carlota Ringwald.

Aos 10/02/1934, neste distrito de Cruzeiro do Sul, digo de Cruzeiro, Município de Cruzeiro, estado de Santa Catarina, no lugar denominado Bom Retiro, em casa de residência do Sr. Antônio Tonin, que ficou com portas e janelas abertas, como determina o artigo 193 do Código Civil, onde foi vindo o Juiz Distrital em exercício, o cidadão Luiz Dionísio Breda, comigo oficial interino do Registro Civil e as testemunhas abaixo nomeadas, identificadas e no fim assinadas, às 17 horas, achando-se habilitados por terem apresentado os documentos exigidos pelo artigo 180, números 1,2,3,4 e 5, do Código Civil, tendo sido publicado os editais de Proclamas de casamento em 15 de janeiro do corrente ano, não tendo sido posto impedimento algum, receberam-se em matrimônio pelo Regime Universal de Comunhão de Bens, depois de terem assinado perante o Juiz, o seu firme propósito de se receberem por marido e mulher os nubentes ATÍLIO FONTANA & CAROLTA FLORINDA RINGWALD. Ele viúvo, comerciante, domiciliado e residente em Bom Retiro, neste Distrito, natural de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, onde nasceu em 07/08/1900, filho legítimo de Romano Fontana, natural da Itália, onde nasceu em dia e mês ignorados do ano de 1875 e falecido em Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, em dia e mês ignorados de 1921, e de sua mulher, dona Thereza Fontana natural da Itália, onde nasceu em 14/03/1877, doméstica, domiciliada e residente em Bom Retiro, neste distrito. Ela solteira, doméstica, domiciliada e residente em Bom Retiro, neste distrito. Sendo natural de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, onde nasceu em 24/12/1914, sendo filha legítima de ADOLFO RINGWALD, natural da Alemanha, onde nasceu em 24/02/1877, comerciante e de sua mulher dona MARIA EMÍLIA RINGWALD, natural da Alemanha, onde nasceu em 05/07/1875, doméstica, ambos domiciliados e residentes em Bom retiro, neste distrito. Os nubentes apresentaram os seguintes documentos: título de eleitor extraído em cartório do Tabelião de Natos e anexo da Comarca de Cruzeiro, neste estado, em data de 15/01/1934; certidão de nascimento da nubente extraída no Cartório de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, em data de 26/12/1914; autorização dos pais da nubente, que é menor de idade, permitindo o seu casamento, atestado firmado pelos senhores Elpidio Barbosa e Afonso Schwartz, que atestam conhecer os nubentes e não existir nenhum impedimento entre eles; Certidão de inventário de Dona Diva Fontana, extraído no Cartório do Tabelião de Natos e anexo desta comarca de Cruzeiro, em data de 15/01/1934, declaração de seus estados, profissões, domicílios e residências, bem como a de seus pais. De acordo com as leis em vigor a nubente Carlota Ringwald, passa a assinar-se Carlota Florinda Fontana. Do que para constar lavrei o presente termo, que lido e achado conforme vai assinado pelo juiz, pelos nubentes e pelas testemunhas SILVESTRE DORÉ & CESAR BERTIN, brasileiros, casados, comerciantes, domiciliados e residentes respectivamente em Bom Retiro e Cruzeiro do Sul, neste distrito e por mim Antão Carmo Flores, oficial interino do registro Civil, a escrevi [...] (L. 3 de Casamentos Civis, 1º. Distrito de Cruzeiro fl. 90).

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Esse é um documento com variáveis e especificidades praticamente completas. É representativo das Atas de matrimônios Civis, encontradas em livros do Primeiro Tabelionato de Cruzeiro. Como se pode observar são registros que para além das questões já citadas, também trazem dados sobre cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; o regime de bens, entre outras informações.

Em alguns casos, verificou-se, ainda, a existência de casamentos coletivos, em sua maioria italianos e oriundos do Rio Grande do Sul, presumidamente católicos, que procuravam regularizar uniões estáveis, já constituídas perante as leis de Deus há anos, o que se depreende do tempo passado entre o nascimento dos primeiros filhos e a data dos matrimônios.

Esses acontecimentos refletiam, por sua vez, as disputas na definição sobre qual das instituições teria o poder formalizado para normatizar as relações familiares – a religiosa, de origem católica, ou a civil. Isso porque alterações legislativas da época obrigaram as famílias, para serem legítimas e gerarem filhos legítimos, a terem de formalizar civilmente o casamento, mudando a prática que outrora se dava dentro da igreja.

Estes registros podem propiciar ao pesquisador, uma visualização do cotidiano da época estudada e indicar, por exemplo, as escolhas ao casar, as origens, a frequência e a sazonalidade dos matrimônios, fornecem pistas, apontam tendências e permitem confrontar experiências demográficas vividas em diferentes momentos e espaços, permitem como é o caso deste trabalho ampliar o conhecimento sobre as famílias no passado. São, portanto, fontes importantes para o estudo de características diversas da população e de sua movimentação, retratando a sociedade da época, marcadamente conservadora e patriarcal.

Ocupações dos Noivos

Nesta seção busca-se delinear alguns aspectos das ocupações exercidas pelos noivos contidas nos registros de casamentos entre anos de 1915 a 1944. A Tabela I configura o quadro de ocupações masculinas2. Foram analisados 1158 matrimônios, dos quais apenas 44

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ou tão somente 3,8% não tiveram qualificações registradas. Os demais 1114 ou 96,2% contaram com esta informação.

Tabela I – Perfil Sócio Econômico dos Noivos, 1915-1944.

Grupo de Atividades Profissionais 1915-1924 1925-1934 1935-1944 Total de Ocupações # % # % # % # % Proprietários 9 3,2 24 9,4 65 10,6 98 8,4 Profissionais Liberais 3 1 4 1,6 8 1,3 15 1,3 Funcionários Públicos Civis 3 1 10 3,9 16 2,7 29 2,5 Funcionários Públicos Militares 2 0,6 3 1,2 3 0,5 8 0,7 Trabalhos Agropastoris 216 74 161 62,6 390 64 767 66,2 Indústria, Comércio e Serviços 14 4,8 19 7,4 55 9,0 88 7,6 Alimentação, Higiene e Transp. - - 2 0,7 22 3,7 24 2,1

Artesãos 6 2,1 31 12 48 7,9 85 7,4

Não Informado 39 13,3 3 1,2 2 0,3 44 3,8

Total Geral 292 100 257 100 609 100 1158 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º. Cartório de Cruzeiro.

No que tange ao ofício dos noivos, alguma experiência com o trabalho a esse respeito Petiz (2020), nos indica a necessidade de realizar uma segmentação desse grupo para efeitos de análises. Como se vê, o trabalho realizado na agricultura e pecuária concentrou mais da metade das ocupações declaradas nos registros matrimoniais (767 ou 66,2%). Ou seja, os noivos do Vale do Rio do Peixe dedicavam-se prioritariamente às atividades associadas a terra e ao meio rural.

Tabela II – Principais Ofícios entre os Noivos, 1915-1944.

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Atividades # % # % # % # % Lavradores 171 58,5 126 49,1 362 59,4 659 56,9 Agricultores 38 13,1 32 12,4 27 4,5 97 8,4 Criadores 5 1,7 2 0,8 1 0,2 8 0,7 Ferreiros - - 6 2,4 8 1,4 14 1,2 Pedreiros - - 1 0,4 8 1,4 9 0,8 Carpinteiros 6 2,0 11 4,3 6 0,9 23 2,0 Comerciantes 9 3,1 21 8,2 55 9,1 85 7,4 Professores 2 0,7 7 2,7 2 0,4 11 1,0 Mecânicos - - 2 0,8 14 2,2 16 1,4 Func. Públicos 3 0,8 7 2,5 10 1,6 20 1,7 Jornaleiros 8 3,0 2 0,8 - - 10 0,9 Operários 2 0,7 1 0,4 28 4,5 31 2,7 Industriários - - 3 1,2 11 1,8 14 1,3 Outras* 48 16,4 36 14 77 12,6 161 14 Total 292 100 257 100 609 100 1158 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º. Cartório de Cruzeiro.

Com efeito, na década de 1930 aparecem profissionais liberais, antes não existentes, como advogados, agrimensores, engenheiros, farmacêuticos e médicos. Cresce o número de trabalhadores na indústria como eletricistas, ferreiros, mecânicos, operários etc. E, tornam-se mais significativos os trabalhadores que atuavam em alimentação, higiene e transporte como barbeiros, padeiros, cervejeiros, bem como os artesãos como carpinteiros, marceneiros. O predomínio, no entanto, segue sendo representado pelos ofícios associados ao campo, representados pelos agricultores e criadores. Essa maior diversificação, no entanto, evidencia o crescimento dos núcleos urbanos das nascentes cidades, que foram se formando ao longo do período aqui analisado, exigindo-se cada vez mais a existência de trabalhadores especializados.

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Na generalidade do passado das comunidades brasileiras, o calendário agrícola, aliado a restrições de caráter religioso, tenderia a influenciar a distribuição das cerimônias matrimoniais ao longo do ano, gerando preferências coletivas pelas épocas menos atingidas pela conjugação dos vários fatores condicionantes. Dessa forma, o movimento sazonal de casamentos torna-se um rico indicador do cotidiano dessas populações na medida em que a escolha do mês para a realização da cerimônia reflete costumes, tradições, interdições e mentalidades religiosas, além de influências das atividades sociais e econômicas.

Tabela III – Matrimônios conforme os meses do ano, 1915-1944.

Mês (1915-1924) (1925-1934) (1935-1944) Total de cônjuges AB % AB % AB % AB % Janeiro 23 7,8 23 8,9 33 5,4 79 6,8 Fevereiro 14 4,8 26 10,1 37 6,1 77 6,7 Março 27 9,2 33 12,8 48 7,9 108 9,4 Abril 26 8,9 26 10,1 45 7,4 97 8,4 Maio 30 10,2 25 9,8 62 10,2 117 10,1 Junho 20 6,8 15 5,9 42 6,9 77 6,7 Julho 23 7,9 14 5,4 51 8,4 88 7,6 Agosto 35 11,9 22 8,6 60 9,9 117 10,1 Setembro 23 7,9 29 11,3 52 8,5 104 8,9 Outubro 30 10,3 9 3,5 54 8,8 93 8,0 Novembro 14 4,9 19 7,4 56 9,2 89 7,7 Dezembro 27 9,3 16 6,2 69 11,3 112 9,6 Total Geral 292 100 257 100 609 100 1158 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º. Cartório de Cruzeiro.

Com o objetivo de detectar possíveis variações comportamentais durante os anos que medeiam entre 1915-1944, optou-se pela separação do total de casos em três décadas em que as tendências observadas podem dar a entender a existência de alterações de mentalidade e configurações sociais distintas (Tabela III). Na análise da frequência mensal dos casamentos do Vale do Rio do Peixe, a primeira constatação é a frequência menor de matrimônios nos meses de Janeiro e Fevereiro e maior concentração entre os meses de maio e agosto.

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Dias da Semana (1915-1924) (1925-1934) (1935-1944) Total de cônjuges AB % AB % AB % AB % Segunda 25 8,5 23 9,0 69 11,3 117 10,1 Terça 24 8,4 16 6,1 50 8,3 90 7,8 Quarta 31 10,6 23 9,0 59 9,6 113 9,8 Quinta 41 14,1 23 9,0 57 9,4 121 10,4 Sexta 20 6,8 23 9,0 39 6,4 82 7,0 Sábado 129 44,1 143 55,6 328 53,9 600 51,8 Domingo 22 7,5 6 2,3 7 1,1 35 3,1 Total Geral 292 100 257 100 609 100 1158 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º. Cartório de Cruzeiro.

Observando-se os dias da semana, constatamos que ocorriam por todos os dias. Os dados revelam, no entanto, uma tendência para a ocorrência prioritária aos sábados que representam 51,8% dos matrimônios. Essa tendência foi também percebida por Marco Aurélio Pereira (2017) sobre a cidade de Curitiba entre 1890 e 1921. Todavia, os sábados devem ter sido procurados porque era uma oportunidade para que tanto os noivos como os convidados contassem com seu dia de folga. Momentos em que não haveria a necessidade da interrupção do trabalho cotidiano para a celebração e, quem sabe, até a possibilidade de comemoração pelos laços matrimoniais. E também por isso o domingo era o dia de maior recusa, pois seria o dia do descanso.

Também o horário e o local de realização de casamentos civis são indicadores de comportamentos sociais diferenciados na população estudada e também eram provavelmente influenciadas pelo mundo do trabalho e pelas condições socioeconômicas dos envolvidos.

Esta tendência é, aparentemente, reiterada pela Tabela V que se refere à distribuição de matrimônios durante as horas do dia, pois, ao observá-los, constata-se a presença de um expressivo pico entre às 1º e 11 horas da manhã. Concentravam-se entre o final da manhã e o começo da tarde.

Tabela V – Matrimônios de acordo com o Horário, 1915 – 1944.

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Cartóri o

Casa Cartóri

o

Casa Cartório Casa AB %

08-09 1 3 8 5 15 6 38 3,3 10-11 33 14 94 16 318 15 490 42,4 12-13 31 22 21 3 30 3 110 9,4 14-15 23 41 38 17 67 7 193 16,6 16-17 26 25 11 18 84 29 196 16,9 18-19 2 4 1 7 13 13 40 3,5 20-21 — 1 — — — 1 0,08 N/F 38 28 9 9 5 4 93 8,0 Total 154 138 182 75 532 77 1158 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º Cartório de Cruzeiro.

Talvez o período fosse mais favorável àqueles que se deslocavam por longas jornadas até o cartório, sobretudo nos períodos mais frios do ano. Há também a relação do horário das cerimônias que ocorreriam em residências particulares que se espalhavam pela região do Rio do Peixe. Com relação ao horário, desses matrimônios, pode-se considerar, que os horários mais “nobres”, e, portanto mais próprios para casamentos eram aqueles que ocorriam ao entardecer e à noite mais propícios para noivos de condição socioeconômica privilegiada.

Características Demográficas dos Cônjuges do Vale do Rio do Peixe - 1915 e 1944

No que se refere às origens dos cônjuges, dos 2316 indivíduos observados entre os matrimônios, 2035 eram brasileiros e 207 estrangeiros, o que, em termos percentuais, representa 87,9 e 8,9%, respectivamente. Os demais 74 registros, ou 3,2% as origens, não foram informadas, o que revela uma participação coadjuvante, mas não desprezível.

O exame das atas mostra uma importante presença de populações migrantes de outros estados, mais significativa do que as populações imigrantes de outros países. Com destaque para a predominância de elementos oriundos do estado do Rio Grande do Sul sobre os demais. Corresponderam a 1296 nubentes ou 55% do total, frente a 627 ou 27% de Santa Catarina, 4,1% do Paraná.

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ORIGEM (1915-1924) (1925-1934) (1935-1944) Total de cônjuges

Noivos Noivas Noivos Noivas Noivos Noivas # %

Rio Grande do Sul 122 116 129 151 413 365 1296 55,9

Santa Catarina 100 119 44 48 123 193 627 27,0 Paraná 18 19 11 7 18 22 95 4,1 Outro Estado 7 1 1 1 4 3 17 0,7 Brasileiros 247 255 185 207 558 583 2035 87,9 Estrangeiros 30 18 38 45 51 25 207 8,9 Não Informado 15 19 34 5 - 1 74 3,2 Total Geral 292 292 257 257 609 609 2316 100

Fonte: Livros de Casamentos Civis do 1º Cartório de Cruzeiro.

Entre os estrangeiros percebe-se o predomínio dos alemães (5,4%), seguidos pelos Italianos (1,3%) e Austríacos (0,6%). Percebemos, ainda, que, tanto os homens, como as mulheres, eram na sua grande maioria, oriundos de outras localidades. Observa-se, no entanto, que os homens migravam com um pouco mais que as mulheres.

Outro elemento aferidor de mudanças ou permanências de comportamentos nupciais é a idade dos noivos a casar. No dia 12/06/1927, M. A. Bittancourt e V. M. Conceição - tiveram seu casamento registrado. O noivo tinha 27 anos, era militar, e a noiva doméstica, tendo, na ocasião, 14 anos de idade. Este “casamento foi feito pela polícia, segundo oficio passado pelo

capitão Sólon, Delegado Especial, visto que a menor é declarada por raptada.”3. Destaca-se

neste caso a diferença de idades entre os noivos. O raptor tinha quase o dobro da idade da raptada. Uma diferença considerável, mas não estranha ao padrão da época.

Considerações finais

Em síntese, os registros civis de casamento constituem, portanto, fontes importantes para o estudo de características diversas da população, da família e de sua movimentação,

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retratando a sociedade da época, marcadamente conservadora e patriarcal. Buscou-se conectar esse contexto local e específico – construído não só por meio da bibliografia sobre a região, mas, sobretudo, pelo cenário formado pelos registros civis e sua catalogação – com o processo constitucional que vigia no Brasil de então. O vínculo entre o Estado e a Igreja encontrou continuidades importantes nos registros civis e na forma como se regularam os casamentos civis, o que pode ter gerado reflexos importantes na nossa história constitucional até os dias de hoje. Ademais, é possível afirmar a importância dos registros civis enquanto fonte histórica, pois, a partir da sua análise empírica, foi possível extrair conceitos e interpretações capazes de sustentar a tese geral e mais ampla de que a doutrina do catolicismo seguiu influenciando o nosso direito, mesmo após a emergência da Constituição de 1891.

Referências

BASSANEZI, C. B. Uma Fonte Para O Estudo Da Migração e Do Migrante: Os

Registros Dos Eventos Vitais. In: Idéias - Revista do Instituto de Filosofia e Ciências.Vol. 1,

n. 2, 2011.

GALLO, Ivone Cecília D’Ávila. O Contestado: o sonho do milênio igualitário. Campinas: Editora da Unicamp, 1999.

PETIZ, silmei de sant´Ana. Caminhos Cruzados. Famílias e Estratégias Escravas na

Referências

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