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A esquerda e o debate acerca do desenvolvimento econômico brasileiro

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Academic year: 2021

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A esquerda e o debate acerca do desenvolvimento econômico

brasileiro

Carlos Prado (Mestre – Unioeste) GT – Marx e tradição dialética

Resumo: O objetivo do presente artigo é expor a crítica elaborada pela Liga Comunista

Internacionalista à teoria da revolução democrática-burguesa defendida pelo Partido Comunista do Brasil. Para tanto, nos propomos a expor primeiramente, as linhas gerais do programa do PCB e, posteriormente, as teses defendidas pelos oposicionistas da Liga Comunista, destacando a interpretação da colonização como empreendimento capitalista e a revolução proletária como estratégia política.

Palavras-chave: Brasil; Capitalismo; Revolução; Burguesia.

A década de 1920 foi um período decisivo para o movimento operário internacional. Não é nenhum exagero afirmar que essa foi uma década decisiva para a sorte da luta proletária no século XX. Trata-se do período do grande debate acerca da construção do socialismo na União Soviética e da luta proletária no plano internacional. Com a morte de Lênin, o debate se polarizou entre os grupos que podemos chamar de stalinista e trotskista. Ambos reivindicavam trazer no cerne de sua teoria o verdadeiro desenvolvimento da doutrina de Lênin e Marx.

Essas discussões não ficaram restritas à União Soviética, pelo contrário, se expandiram no plano internacional, chegando ao Brasil na segunda metade da década de 1920. Aqui, esse debate se desenvolve em torno de temas centrais, como a democracia no interior do partido e a luta contra a burocratização. No entanto, o que nos interessa é a interpretação que essas correntes apresentam acerca do desenvolvimento econômico do Brasil e a estruturação do seu programa político.

O objetivo do presente artigo é expor a crítica elaborada pela Liga Comunista Internacionalista à teoria da revolução democrático-burguesa defendida pelo Partido Comunista do Brasil. Para tanto, nos propomos a expor primeiramente, as linhas gerais o programa do PCB, enfatizando a caracterização do atraso econômico brasileiro e a política de aliança com a burguesia e, posteriormente, as teses defendidas pelos oposicionistas da Liga

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Comunista, destacando a interpretação da colonização como empreendimento capitalista e a revolução proletária como estratégia política.

O PCB e a teoria da revolução democrática burguesa

O III Congresso do PCB em 1929 consagrou as teses do VI Congresso da III Internacional comunista, ocorrido no ano anterior. As teses aceitas pelo partido tem como pressuposto a interpretação de que o Brasil apresenta uma economia atrasada, colonial ou semicolonial. Essa interpretação, defendida por autores como Octávio Brandão e Astrojildo Pereira e mais tarde desenvolvida por Nelson Werneck de Sodré, consagram o dogma da América Latina atrasada, do Brasil semifeudal e colocam na ordem do dia a luta pela independência nacional.

O PCB traduz para a realidade brasileira de forma esquemática as teses apresentadas pela burocracia stalinista. O VI Congresso da Internacional marca a vitória de Stálin sobre a Oposição Unificada, evidenciando a capitulação de Kamenev e Zinoviev e o exílio de Trotski na Turquia. Assim, as teses apresentadas nesse período representam os interesses da burocracia e a derrota da oposição.

Nesse congresso, o Kominter caracteriza os países da América Latina no mesmo bloco dos países orientais, como Índia e China, afirmando que todos eles apresentam características de países atrasados, coloniais ou semicoloniais. Segundo essas teses, a América Latina apresentava características feudais ou semifeudais, resquícios da colonização européia. Essa interpretação foi bem aceita pela intelectualidade do partido, não apenas por serem as teses da Internacional, mas porque era uma tese já aceita e bastante difundida pelos intérpretes da história brasileira.1

O Kominter estabelecia que para os países com as características de atraso econômico, a luta pela revolução socialista era irrealizável, afinal, o que se evidenciava em países como o Brasil, era a ausência de um proletariado urbano forte, capaz de lutar como classe independente e autônoma. Assim, os PC´s deveriam adotar como estratégia a luta pela revolução democrático-burguesa. A tática se cristaliza com a aliança entre o Partido e as burguesias nacionais que foram caracterizadas como setores progressistas. Nessa perspectiva, a luta do proletariado seria a luta pelo desenvolvimento do capitalismo.

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“Capistrano de Abreu, em seu pioneiro Capítulos de história colonial, já em 1907, realçava os “elementos feudais” na organização da capitanias hereditárias, passos analíticos que foram seguidos por importantes pensadores brasileiros, como Oliveira Vianna e Nestor Duarte, dentre outros” (MAZZEO, 2003, p. 154).

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As teses do PCB corroboram com a Internacional burocratizada e partem do pressuposto de que o Brasil é essencialmente um país agrário, que o campo domina a cidade e que a burguesia industrial precisa se desenvolver para o desenvolvimento do próprio proletariado. Por conseguinte, a etapa a ser vencida é a destruição dos resquícios feudais e a consolidação de um capitalismo forte. Essa interpretação defende a existência de uma subordinação da economia brasileira ao imperialismo norte-americano. Portanto, o Partido Comunista deve-se aliar a burguesia nacional e levantar a bandeira do anti-imperialismo e do desenvolvimento nacional. Não se trata de lutar pela revolução operária, mas sim, pela revolução nacional, burguesa e democrática.

Essas são algumas das teses fundamentais que caracterizam a revolução em etapas, que dominará o marxismo latino-americano até meados da década de 1950. O resultado dessa política será a aliança com grupos designados progressistas, como por exemplo, os tenentes que vinham sacudindo a política brasileira e criticando as oligarquias cafeicultoras, desde 1922. No início da década de 1930 essa aliança se consagra com a formação da Aliança Nacional Libertadora que sob liderança de Luiz Carlos Prestes reuniu diversos grupos, formando um programa eclético, reformistas e nacionalistas. Abandonando o princípio da independência de classe e sob liderança da pequena-burguesia essa aliança termina com a deflagração de um golpe militar fracassado e, por conseguinte, a prisão de centenas militantes de esquerda.

Essa concepção esquemática e mecânica da América Latina atrasada e semifeudal, tem suas origens numa análise evolucionista e mecânica da história. Trata-se de uma interpretação muito similar a Filosofia da História hegeliana, na qual o espírito, ou seja, o conceito de liberdade se desenvolve seguindo estágios fixos e necessários que se sobrepõe numa sequência lógica irredutível. Muito mais próximo de Hegel do que de Marx, Stálin é o teórico de uma teoria da História que, após suprimir o modo de produção asiático, estabelece de maneira progressista e evolucionista uma sequência de estágios necessários a serem ultrapassados em cada país.

Ao traduzir essa tese para a realidade latino-americana, o Kominter enquadrou todos os países da América Latina no bloco daqueles que estão na transição do feudalismo para o capitalismo. Por conseguinte, na ausência de estudos mais sistemáticos, essas teses foram aceitas pelo PCB de forma mecânica. Revela-se que a burocracia stalinista não levou em considerações as particularidades da América Latina, especialmente de países como o Brasil.

Essas teses representam um marxismo distante de uma teoria dialética e muito próxima do positivismo, pois é a representação de uma teoria vulgarizada e simplista. Era essa

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literatura militante era a base da formação dos marxistas brasileiros. Mas não se trata apenas da ausência do desenvolvimento de uma teoria mais sistemática. Essa explicação é insuficiente, pois esconde a conciliação burocrática em curso durante o período em questão. Essas teses apresentadas pela Internacional representam os interesses da burocracia soviética, pois estão em sintonia com a teoria do socialismo em um só país, tese desenvolvida por Bukhárin e abraçada pela burocracia stalinista.2

A Liga Comunista Internacionalista e a defesa da revolução proletária

O debate sobre a origem do trotskismo no Brasil não será um ponto de discussão em nosso artigo, mas devemos pontuar que segundo Marques Neto (1993), a oposição surge de divergências políticas no interior do PCB, divergências que refletiam a luta internacional entre a burocracia stalinista e a oposição de esquerda.3 Os comunistas brasileiros não ficaram alheios aos debates que eram travados na União Soviética. Contrariando ao que afirma boa parte da literatura pertinente, a oposição no Brasil não surge apenas da viagem de Mario Pedrosa à Europa, quando entra em contato com oposicionistas. Os comunistas brasileiros acompanharam os debates travados no plano internacional e as divergências que suscitaram a formação da oposição na União Soviética são as mesmas que deflagraram a oposição em terras brasileiras.

As principais críticas da oposição giram em torno da crescente burocratização e da necessidade de reavivar a democracia no interior do partido, pois a partir de 1923 o debate aberto interno começa a ser duramente cerceado. Outros temas centrais de divergências se referem à crítica a política adotada pelo comitê anglo-russo durante a greve geral inglesa de 1926, à crítica a política de aliança com o Kuomitang durante a revolução chinesa em 1926-28 e por fim, as diferenças diante da teoria do socialismo num só país. São a partir dessas diferenças de princípios, diferenças de interpretação da revolução e de programa que surge a oposição de esquerda no plano internacional e também no Brasil.

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Segundo Benoit (2004) o dogma do atraso econômico “Respondia mais aos interesses de todos aqueles que ganhariam com a estagnação dos processos revolucionários latino-americanos: os defensores da teoria do socialismo em um só país, particularmente, a burocracia soviética, e os intelectuais pequeno-burgueses latino-americanos que, comodamente, se aliavam às burguesias nacionais, desviando-se do projeto da classe operária latino-americana e mundial”.

3 “(...) ao buscar as razões da Oposição de Esquerda no Brasil, deva-se passar pelos caminhos que mudaram

historicamente os rumos iniciais da revolução comunista de 1917. (...) Esses fatores compreendem divergências políticas com as teses da III Internacional dominada por Stalin, principalmente após a expulsão de Trotski, em 1927, divergências de que Mario Pedrosa e seu grupo já tinham notícias desde 1923, por meio da revista Clarté.” (MARQUES NETO, 1993, p. 22-23)

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A oposição de esquerda começa a tomar forma no Brasil após o retorno de Mario Pedrosa da Europa. Após debates no interior do partido, alguns oposicionistas foram expulsos e a oposição se dispersou. Coube a Mario Pedrosa e Lívio Xavier tentar unificar os oposicionistas formando em 1930 o Grupo Comunista Lenine que se dissolve em 1931, dando origem à Liga Comunista Internacionalista, que será filial brasileira da Oposição de Esquerda Internacional. Durante esse período, eles ainda se apresentam como fração do PCB e buscam a restauração do verdadeiro bolchevismo nas fileiras do partido. É só em 1933 que Trotski e toda a oposição rompe definitivamente com a III Internacional e levantam a bandeira da construção da IV Internacional.

No Brasil, a oposição lança o jornal Luta de Classes e busca difundir os princípios do bolchevismo internacional, presentes até o IV Congresso da Internacional Comunista de 1922. Em seu programa se constata a crítica à estratégia da revolução democrático-burguesa e consequentemente a crítica a aliança com a burguesia nacional.

Passemos agora a investigar o teor da crítica desenvolvida pelos oposicionistas ao PCB. Iremos analisar o documento intitulado Esboço de uma análise da situação econômica e

social do Brasil, publicado em setembro de 1930, na edição número 6 do jornal Luta de Classes. O texto é de autoria de Mario Pedrosa e Lívio Xavier e apresenta uma análise sobre o

processo de colonização brasileira, avançando para a interpretação das lutas políticas durante a república velha, culminando com a revolução de 1930. Buscaremos enfatizar a interpretação que os trotskistas realizam sobre a formação econômica do Brasil e o programa estabelecido a partir dessa análise.

O texto se inicia com a seguinte afirmação: “O modo de produção capitalista e a acumulação – e, por consequência, a propriedade privada capitalista – foram exportados diretamente das metrópoles para o Novo Mundo” (1987, p. 66-67). Já na frase de abertura do texto se estabelece um grande rompimento com a literatura consagrada pela burocracia. Os trotskistas rompem com o dogma do atraso econômico que afirma a existência de resquícios pré-capitalistas na América Latina. Para a Liga Comunista o Brasil tornou-se capitalista assim que se iniciou o processo de colonização.

Verifica-se que essa tese da oposição parece estar em acordo com o pensamento que Marx apresenta em O Capital, essencialmente nos capítulos XXIV e XXV. Nesses capítulos aparece a estreita relação entre o processo de acumulação primitiva e a colonização européia na América. Diz Marx: “A descoberta das terras do ouro e da prata, na América, o extermínio, a escravidão e o enfurnamento da população nativa nas minas (...) Esses processos idílicos são momentos fundamentais da acumulação primitiva” (1984, p. 285). A teoria da história de

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Marx elucida o conceito de história universal, ou seja, deve-se pensar a América como totalidade histórica. Portanto, é incorreta a concepção de que em países como o Brasil, se organizou sob o modo de produção feudal ou escravista. Pois, a colonização portuguesa, como também a espanhola nos países latino-americanos esteve diretamente introduzida no processo capitalista de acumulação primitiva.

Com a chegada dos europeus ao novo mundo, a América foi inserida no processo de produção capitalista, seja na exploração de matérias-primas, na exploração do ouro, da prata ou na utilização do trabalho escravo. A questão da utilização do trabalho escravo na América é posta da seguinte forma por Marx: “De maneira geral, a escravidão encoberta dos trabalhadores assalariados na Europa precisava, como pedestal da escravidão sans phrase, no Novo Mundo” (1984, p. 291). Essa passagem evidencia que o trabalho compulsório era uma necessidade para o desenvolvimento do próprio modo de produção capitalista. A análise dos trotskistas se pauta numa interpretação dialética da história, não ficando presos aos aspectos formais, isolados e aparentes, mas compreendendo a estrutura colonial em sua conexão com a história global, com a totalidade.

Em outras passagens desse texto, verificamos afirmações que antecipam as análises de Caio Prado Jr., consagradas nas páginas de A formação do Brasil contemporâneo. Vejamos um trecho: “O Brasil nunca foi, desde a sua primeira colonização, mais que uma vasta exploração agrícola”. (1987, p. 67-68) E acrescenta: “A produção agrícola colonial foi destinada desde o começo aos mercados externos. O Brasil foi, no século XVII, o principal produtor de açúcar do mundo”. (1987, p. 69). Não é difícil perceber uma clara similaridade entre a leitura dos trotskistas e a posterior interpretação de Caio Prado Jr., ao afirmar o caráter ou sentido de exploração da colonização portuguesa em terras brasileiras.

Outra interessante passagem evidencia a intrínseca conexão entre o fim da utilização do trabalho compulsório e as exigências do mercado mundial: “A destruição do regime escravagista, que foi determinada pela necessidade do desenvolvimento capitalista do Brasil, abria ao mesmo tempo nova expansão a indústria inglesa que monopolizava, então, o mercado mundial”. (1987, p. 69). Pedrosa e Xavier assinalam que a utilização do trabalho livre foi necessária para o próprio desenvolvimento capitalista. É importante notar, que se trata da ampliação das bases capitalistas que já estavam em curso durante o período de colonização. Os autores afirmam, citando Marx, que essa transformação foi uma “simples troca de forma”. Reafirmam que não ouve uma transformação de conteúdo, mas uma mudança apenas formal na forma de exploração capitalista em desenvolvimento.

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Analisando as atividades econômicas, o documento da Liga Comunista afirma: “O formidável desenvolvimento da cultura cafeeira é, tipicamente, um desenvolvimento capitalista.” (1987, p. 71) Aqui se nota que os autores não confundem capitalismo com industrialização. Não é a forma da produção agrícola ou industrial que define uma sociedade capitalista, mas sim, as relações de produção estabelecidas e suas conexões com o mercado mundial.

Por conseguinte, o fim do Império e a implantação da República também estão vinculados ao desenvolvimento da produção capitalista. Pedrosa e Xavier apontam que: “A República foi imposta ao Brasil pela burguesia cafeeira de São Paulo, que não podia aceitar a forma de produção reacionária e patriarcal.” (1987, p. 70). Os autores interpretam a República não como uma revolução burguesa, um rompimento sistemático, mas apenas como necessidade, para que, segundo o documento, “se possa operar, sem choques muito graves, o desenvolvimento capitalista nas antigas províncias”. (1987, p. 70 – 71). A instauração da República é percebida como uma necessidade de atualização da superestrutura político-jurídica diante as exigências da estrutura capitalista. A República parlamentar burguesa amplia a liberdade das oligarquias cafeicultoras no desenvolvimento do seu empreendimento capitalista.

As citações apresentadas são suficientes para percebermos que a interpretação que a oposição trotskista faz sobre as bases econômicas do Brasil apresentam grandes divergências com a literatura da III Internacional burocratizada. E são justamente essas diferenças e a ausência da possibilidade de um debate aberto que forja o surgimento da oposição de esquerda. Diferentemente da leitura do Kominter que é abraçada pelos comunistas brasileiros, os trotskistas afirmam que no Brasil não existem resquícios feudais ou pré-capitalistas, pelo contrario, apontam que desde o início da colonização portuguesa o Brasil está inserido no processo de acumulação primitiva e que, portanto, a exploração agrícola que aqui se desenvolve é fundamentalmente capitalista.

Outro importante ponto de divergências teóricas e programáticas diz respeito ao papel da burguesia nacional. Na contramão da política de conciliação de classe e de alianças, os oposicionistas afirmam que: “O imperialismo altera constantemente a estrutura econômica dos países coloniais (...) Por essa razão, a burguesia nacional não tem bases estáveis que lhe permitam edificar uma superestrutura política e social progressista” (1987, p. 74). Nessa passagem, Pedrosa e Xavier negam o papel progressista que o PCB afirma que a burguesia nacional poderia desempenhar. A burguesa está vinculada e subordinada ao imperialismo e opera sob bases incertas, pois a produção é voltada para o exterior e se desenvolve em ciclos

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econômicos. “Daí, sua incapacidade política, seu reacionarismo cego e velhaco e – em todos os planos – a sua covardia” (1987, p. 74), conclui os autores.

Da subordinação que a burguesia nacional sofre do imperialismo, os trotskistas não concluem a existência de uma contradição e o surgimento de um aliado, mas afirmam que é essa mesma subordinação que transforma a burguesia em adversário a ser combatido. Vejamos mais uma passagem: “Nos países novos, diretamente subordinados ao imperialismo, a burguesia nacional, ao aparecer na arena histórica, já era velha e reacionária, com ideais democráticos corruptos” (1987, p. 74). O documento da Liga Comunista repugna a proposta de aliança com a burguesia nacional, imposta pela burocracia da Internacional e levada a cabo pelo PCB, pois para os trotskistas a burguesia nacional é incapaz de desempenhar um papel progressista, pelo contrário, se revela reacionária e covarde.

O texto finaliza reafirmando os princípios básicos do bolchevismo ao apontar que no Brasil: “A obra mais urgente do proletariado é a criação de um verdadeiro partido comunista de massas, capaz de conduzi-lo para sua tarefa histórica: a instauração da ditadura proletária” (1987, p. 81). O texto encerra afirmando que não se trata da luta por uma revolução burguesa e democrática, não se trata de desenvolver o capitalismo, mas a tarefa mais urgente que se impõe é a própria revolução socialista mediante a organização do proletariado em um partido de massas.

Buscamos ressaltar aqui, apenas alguns dos pontos fundamentais desse importante e esquecido documento da Liga Comunista Internacionalista. Esse é apenas um dos documentos em que se evidenciam os ecos que a luta internacional da oposição de esquerda promoveu, ao buscar criar uma alternativa à burocracia stalinista que dominava a política da III Internacional. Acreditamos que se trata de um documento fundamental, não apenas para a compreensão do debate no interior do marxismo brasileiro, mas também por sua sistemática e original análise da colonização brasileira.

Referências

ABRAMO, Fúlvio; KAREPOVS, Dainis. Na contracorrente da história: documentos da

liga comunista internacionalista 1930-1933. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

BENOIT, Hector. O programa de transição de Trotsky e a América. In: Revista Crítica

Marxista, n° 18. São Paulo: Revan, 2004.

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MARQUES NETO, José Castilho. Solidão revolucionária: Mário Pedrosa e as origens do

trotskismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

MARX, Karl. O Capital. Vol. I, Tomo 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

MAZZEO, Antonio Carlos. O partido Comunista na raiz da teoria da via colonial do desenvolvimento do capitalismo. In: MAZZEO, Antonio Carlos; LAGOA, Maria Izabel (Orgs.). Corações vermelhos: Os comunistas brasileiros nos século XX. São Paulo: Cortez, 2003, pag. 153-170.

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