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Força de Trabalho Qualificada Imigrante: o caso do Brasil como país receptor Maria Bernadete Fin Ferreira Campos

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Academic year: 2021

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Força de Trabalho Qualificada Imigrante: o caso do Brasil como país receptor Maria Bernadete Fin Ferreira Campos

Este artigo tem por objetivo mostrar a importância de se empreender uma pesquisa de cunho sociológico a respeito das relações sociais do trabalhador qualificado estrangeiro que imigra para o Brasil, de maneira particular às ligadas a setores específicos do mercado brasileiro, tal como do setor petrolífero. A partir de uma análise acerca das principais teorias que envolvem o mundo do trabalho e o mundo da imigração internacional, o tema se apresenta imprescindível para a formação de um panorama sobre as condições sociais da força de trabalho qualificada e imigrante no mercado de trabalho brasileiro.

É preciso destacar que ao contrário da imigração de baixa qualificação, composta em grande parte por indocumentados (BAENINGER, 2011), a imigração qualificada foi pouco investigada, como componente da imigração internacional no Brasil nessas últimas décadas.É preciso lembrar que historicamente o desenvolvimento econômico, social e cultural brasileiro sempre esteve ligado à força de trabalho imigrante: seja quando se utilizava de força de trabalho escrava e negra; seja quando posteriormente se utilizou de força de trabalho proveniente da implementação, por parte de fazendeiros, de uma política de imigração financiada pelo governo que trouxe trabalhadores europeus para as fazendas brasileiras. O que distingue essa imigração da ocorrida a partir da segunda metade do século XX é a sua caracterização dada pelo crescimento da mobilidade espacial entre países de uma população com alta qualificação estar fortemente vinculada ao desenvolvimento econômico, tecnológico e científico do país. É imprescindível utilizar uma perspectiva de gênero (SASSEN, 2011; HIRATA, 2002) para indagar como as mulheres se inserem nesse mercado e como essa força de trabalho se posiciona perante os direitos sociais da imigração qualificada como um todo.

Há um debate profícuo acerca da condição do trabalhador imigrante que engloba aspectos políticos, jurídicos, sociais e econômicos no qual a qualificação, a especialização do trabalhador1 entra como elemento essencial na formação de um mercado mundial. O imigrante se constitui essencialmente como força de trabalho, e

1 O termo “qualificado” carrega consigo muitos significados, a sua consideração enquanto categoria que define um tipo de trabalho pode ser encontrada em autores como BRAVERMAN (1974) e HIRATA (1994).

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uma força de trabalho específica, ou seja, provisória, temporária, em trânsito. A partir desse princípio, o trabalhador imigrante será sempre definido como trabalhador e tratado como provisório, pois sua estadia estará sempre sujeita ao trabalho, a qual pode ser revogada a qualquer momento. Sendo que: “Como o trabalho (definido para imigrantes) é a própria justificativa do imigrante, essa justificativa, ou seja, em última instância, o próprio imigrante, desaparece no momento em que desaparece o trabalho que os cria a ambos.” (SAYAD, 1998, p. 55). Como evidencia Sayad (1998), quem emigra precisa acreditar em sua condição transitória uma vez que terá de abandonar o universo social, econômico, político, cultural ou moral ao qual pertence e aceitar viver num país estrangeiro. Para ele, ser estrangeiro e ser imigrado não são a mesma coisa, pois enquanto a categoria de estrangeiro remete a um estatuto jurídico, a categoria imigrado refere-se a uma condição social. Carlos Vainer (1996) argumenta que é justamente nesta e para esta condição social que o estatuto jurídico de estrangeiro ganha novos significados passando a funcionar como discriminante político, econômico, cultural. Sendo que “[...] num mundo contemporâneo que se quer globalizado e sem fronteiras, relações assimétricas entre Estados nacionais que, transpostas para a experiência quotidiana dos imigrados, são vividas com discriminação, exploração e dominação.” (VAINER, 1996).

O debate acerca da mobilidade internacional de trabalhadores emerge com força no contexto da nova reestruturação do capital ocorrida no final do século passado. Esse processo se deu em escala global, transformando as modalidades de trabalho já existentes e criando novas formas, objetivando recuperar o padrão de acumulação e a hegemonia dentro do espaço produtivo. Segundo Ricardo Antunes (2009) é nesse período que as formas de extração de trabalho se intensificam de tal forma que “a noção de tempo e espaço são metamorfoseadas e tudo isso muda muito o modo do capital produzir as mercadorias”. Assim uma empresa pode ser substituída por várias pequenas unidades interligadas pela rede que produzirá muito mais com muito menos trabalhadores. (ANTUNES, 2009, p. 56). Essas novas modalidades de trabalho mascaram a exploração do trabalhador levando a uma precarização do mundo do trabalho, assim esse trabalhador vive “em uma fronteira incerta entre ocupação e não-ocupação e também em um não menos incerto reconhecimento jurídico diante das garantias sociais.” (VASAPOLLO, 2006 apud ANTUNES, 2009). Essa desregulação nas relações de trabalho, essa ausência de direitos também é vivenciada de maneira contundente pelo imigrante internacional. Dessa maneira, a “forma de ser” da classe

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trabalhadora na sociedade contemporânea deve levar em conta o trabalhador imigrante, o qual é parte integrante e fundamental do mundo do trabalho globalizado e apresenta particularidades próprias. (ANTUNES, 2008). Para Ursula Huws, o conceito de uma “sociedade do conhecimento” é praticamente uma construção ideológica que serve para dissimular o crescimento do trabalho “material”. Para ela, o que mudou foi a divisão do trabalho, a qual se aplica tanto no campo da precarização do trabalho, quanto no campo da produção e distribuição mundial. Por isso, a autora considera que a universalização crescente desses padrões de qualificação dos trabalhadores é essencial para a criação de um exército global de reserva de trabalhadores da informação, sendo um fator fundamental para a criação de um “cybertariado”. (HUWS, 2007).

No Brasil, as empresas de telecomunicações, de construção civil e as indústrias petrolíferas, principalmente após a descoberta do pré-sal, são exemplos de empresas que demandam essa força de trabalho o qual o mercado nacional não consegue suprir. Empresas especializadas na obtenção de vistos, têm como principal cliente empresas do setor petrolífero, onde estima-se que há um déficit de 3 a 4 milhões de profissionais especializados. Segundo Moreira Franco, o governo está elaborando uma pesquisa com empresas brasileiras e estrangeiras para se conhecer quais são as dificuldades na contratação de trabalhadores estrangeiros. Por outro lado, um empresário português, resolveu criar uma página no Facebook “Emprego no Brasil para Portugueses” com o intuito de esclarecer dúvidas de como é trabalhar no Brasil.O interesse nas informações foi tão grande que a página recebeu assim que criada a adesão de 35 mil pessoas, tendo atualmente uma adesão de quase 58 mil pessoas. Além disso, o debate acerca da defasagem da atual lei de imigração, tanto no âmbito jurídico-administrativo das instituições governamentais quanto por órgãos de defesa de imigrantes no âmbito da sociedade civil com foco no Projeto de Lei 5.655/2009 é grande. Enquanto a nova lei não é implementada se discute se existe uma preferência por uma imigração de trabalhador qualificado.

A partir desse conjunto é possível constatar que a imigração qualificada abrange um amplo leque de questões que estão sendo discutidas na atualidade, principalmente nos países centrais. Todavia, mais do que nunca hoje os contextos periféricos também estão inseridos no circuito de mobilidade desses trabalhadores qualificados. Apesar das pesquisas sobre o tema no Brasil serem poucas, o caso do Brasil é emblemático dessa afirmação.

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Bibliografia

AGÊNCIA BRASIL. Governo elabora pesquisa para aprimorar lei e incentivar

contratação de trabalhadores estrangeiros. Disponível em:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-01-29/governo-elabora-pesquisa-para-aprimorar-lei. Aces. em 28/08/2013.

ANTUNES, Ricardo L. C. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a

negação do trabalho. SP, Boitempo, 2009.

ANTUNES, Ricardo L. C. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a

centralidade do mundo do trabalho. SP, Cortez Ed., 2008.

ANTUNES, Ricardo L. C. O Trabalho, sua Nova Morfologia e a Era da Precarização Estrutural. Theomai, n. 19, 2009, pp. 47-57. Disp. em: http://www.revista-theomai.unq.edu.ar/

num19/ArtAntunes.pdf. Aces. em 14/06/2012.

BAENINGER, Rosana. Estrangeiros autorizados a trabalhar no Brasil. In: Doutores

2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira. Centro de Gestão e

Est. Estrat. (CGEE), Brasília, DF, 2010.

BAENINGER, Rosana (Org.). Imigração Boliviana no Brasil. Campinas, SP, NEPO-UNICAMP, v. 1, 2011.

HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa

e a sociedade. Trad: Wanda Caldeira Brant. São Paulo, Boitempo, 2002.

HIRATA, Helena. Da polarização das qualificações ao modelo de competência. In: FERRETTI, Celso João et al. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate

multidisciplinar. Petrópolis, RJ, Vozes, 1994.

HUWS, Ursula. O que mudou foi a divisão do trabalho. Entrevista com Ursula Huws.

Rev. Inst. Hum. Unisinos IHU on-line. São Leopoldo, Ed. 216, 23/04/2007. Disponível

em: http://w

ww.ihuonline.unisinos.br/index.php?

option=com_content&view=article&id=854&secao=216. Aces. em 23/08/12.

SASSEN, Saskia. Dos Enclaves en las Geografías Globales Contemporáneas del Trabajo. In: ARAGONÉS, A. M. (coord.). Mercados de Trabajos y Migración

Internacional. México, UNAM, Inst. de Invest. Econ., 2011.

SAYAD, A. O que é um Imigrante? In: A Imigração ou os paradoxos da alteridade. SP, Ed. USP, 1998.

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