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FEMINISMO E MARXISMO, UM DIÁLOGO (IM)POSSÍVEL? ANÁLISE DAS REVISTAS CRÍTICA MARXISTA E CADERNOS PAGU

Vivianne Oliveira Rodrigues Prof. Renata Cristina Gonçalves dos Santos (Orientadora)

RESUMO

Pretendemos examinar a complexa relação entre marxismo e feminismo no Brasil. Abordar-se-á as relações com a teoria marxista e seus possíveis entraves para a aceitação do movimento feminista como parte específica de uma luta contra a desigualdade social e pela superação das classes. Um dos principais objetivos é investigar como o movimento feminista brasileiro, com seus ideais específicos de emancipação feminina, é percebido pela maioria dos teóricos marxistas. Lembrando de um passado recente, se examinará se estes ainda vêem o movimento feminista como pequeno burguês e fragmentador da luta central, apesar da presença massiva de feministas nos espaços marxistas que se formavam na década de 60 contra a ditadura. Por outro lado, será examinado como teóricas feministas apreendem a questão da luta de classes para a emancipação humana, já que, na atualidade o movimento feminista apreendeu várias perspectivas teóricas. Para isto, recorrer-se-á à analise de duas das principais revistas brasileiras no campo das Ciências Sociais: uma é a

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Feminismo e marxismo: uma concubinagem (in)feliz?

A formação da segunda onda do movimento feminista brasileiro no final dos anos 1960 se destaca da formação européia ou americana. O contexto histórico peculiar do país, marcado pela grande desigualdade social e pela pressão do governo autoritário, é pano de fundo para o surgimento de um feminismo de novo tipo, ou nos termos de Souza-Lobo (1991), “revisitado”. Se, de um lado, o movimento ganhou corpo com as idéias de emancipação feminina advindas do exterior, de outro, ele continuou preocupado em sua maioria em contestar o sistema vigente.

Segundo Sarti (2004), uma parte expressiva dos grupos feministas estava articulada a organizações de influência marxista, clandestinas a época, e fortemente comprometida com a oposição a ditadura militar, o que imprimiu ao movimento características próprias.

Apesar desta origem rebelde e engajada do movimento, a esquerda, exilada ou não, o rechaçava e, consequentemente, o excluía dos debates acerca da luta pela superação das classes. O feminismo no exterior era visto pelos brasileiros marxistas exilados como pequeno burguês e no Brasil era tido também como fragmentador da luta principal, que era contra a ditadura militar (GONÇALVES, 2009).

Céli Pinto (1985), em seu texto intitulado “A propósito da controvérsia feminismo/marxismo”, propõe que as teóricas feministas comecem a repensar o marxismo em suas limitações conceituais e não abrangentes com relação às questões contemporâneas. Os movimentos sociais, para ela, são lutas específicas ligadas a uma luta maior pela superação das classes, portanto existem diversas relações de poder a serem superadas, não só a central, de classes. Entende que a opressão do poder patriarcal sobre as mulheres está historicamente aquém e pode se manter além do modo de produção capitalista. A eliminação das classes

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não garante a emancipação das mulheres, a não ser que esta questão específica seja trabalhada dialeticamente no processo revolucionário. De acordo com a autora, a luta contra o poder patriarcal não pretende ser o foco das discussões, mas é fundamental diante da constatação de que o processo de superação das classes não é economicista e sim dialético, na medida em que as mentalidades tendem a se manter nas trocas dos modos de produção. Devem, portanto, as relações de gênero, ser trabalhadas, conhecidas e entendidas como entraves à consciência emancipatória. Há materialidade na superestrutura e isso deve ser pensado pelos teóricos marxistas contemporâneos.

Na contramão das idéias desta autora, Perry Anderson, importante historiador marxista, no livro A crise da crise do marxismo não aceita a unidade entre estas duas lutas, e inclusive, por excesso de abstração, naturaliza a presença transitória da submissão feminina pelos modos de produção. Desta maneira, não confere historicidade ao processo da opressão patriarcal. Considera mais viável a superação das classes do que a da dominação sexual. Como escreve o próprio autor,

como padrão de desigualdade, a dominação sexual é muito mais antiga historicamente, e muito mais profundamente arraigada na cultura, do que a exploração capitalista. Detonar suas estruturas requer uma carga igualitária muitíssimo maior de esperanças e energias psíquicas, do que a necessária para eliminar a diferença entre classes. Mas, se essa carga explodisse no capitalismo, é inconcebível que elas deixassem inalteradas as estruturas de desigualdades de classes – mais recentes e relativamente mais expostas. (…) Neste sentido, o governo do capital e a emancipação das mulheres são – histórica e praticamente – irreconciliáveis (ANDERSON, 1984, p. 105).

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Mauro Iasi (1991), marxista contemporâneo, em seu texto Olhar

o mundo com os olhos de mulher – a respeito dos homens e da luta

feminista731, aceita que a luta específica das mulheres contra opressão

está vinculada à luta pela transformação total da sociedade. Para Iasi a luta contra a exploração econômica não pode ser vista como propulsora única da emancipação feminina. O conceito de exploração e o de opressão são distintos e a luta contra a opressão sexual não cessará com a igualdade na produção. Se aceitarmos a luta pela superação das classes como fator condicionante da emancipação feminina, o papel feminino será passivo diante da opressão que sofre. Agindo da seguinte maneira: a mulher precisa em primeiro lugar, ser uma trabalhadora assalariada, em segundo, lutar contra o capitalismo e, depois da superação, em terceiro, esperar passivamente as relações econômicas de produção mudarem as mentalidades. O autor pensa o papel de oprimida da mulher dialeticamente com o papel desta como sujeito histórico de transformação da realidade. E, segundo Iasi:

É nesse contexto que devemos compreender a afirmação que nos diz que não haverá libertação dos trabalhadores se não houver a libertação da mulher. Isso significa que além do fato de irrefutável vinculação da luta das mulheres no campo da luta de classes (igualdade de remuneração do trabalho do trabalho, direitos sindicais, possibilidades iguais de ascensão, etc), sua luta especifica atua incisivamente na superação da opressão materializada na forma patriarcal da família, nos valores dominantes na cultura, no senso comum e na ideologia, nas relações de poder (na fabrica, na escola, mas também no sindicato, no partido), superação esta que não se dando, impede a efetiva libertação do ser humano na sua busca de uma transformação radical da sociedade. (IASI, 1991, p.03)

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Iasi traz à tona as identificações dos papéis dos seres humanos na opressão patriarcalista. Diante desta constatação, os homens possuem privilégios objetivos (na decisão sobre a reprodução e no descompromisso com a esfera privada) quando inseridos neste poder opressivo. No entanto, estes privilégios por si só não explicam a resistência dos homens na aceitação da luta feminina. A construção da identidade masculina pautada no ideológico e no psicológico encontra-se ameaçada.

Os homens revolucionários devem aceitar a luta especifica nos programas dos partidos juntamente com a luta interna contra seu papel intrínseco de opressor nas relações sociais, uma vez que estas relações sociais são mantidas pelo sujeito ao mesmo tempo que o aprisiona. Cabe ao homem revolucionário repensar seus atos além da política, viver negando seu papel de opressor nos atos cotidianos. Uma prática coerente de rupturas de amarras. Conclui Iasi,

eu diria que os militantes homens que se propõem a uma pratica coerente enquanto revolucionários deveriam assumir uma perspectiva feminista, por seus próprios interesses enquanto espécie humana, ainda que contra seus interesses imediatos enquanto homem particular da sociedade capitalista patriarcal. Interesses seus enquanto homem que por viver a opressão no papel de opressor se propõe a alterar essa situação e toma iniciativas concretas para fazê-lo, na redefinição das relações afetivas, na criação dos filhos, na postura diante da companheira, na atenção as praticas incoerentes que a ideologia continua a reproduzir. (IASI, 1991, p.09)

Para além da dimensão teórica, Alexandra Kollontai (1980) em sua autobiografia explana a dificuldade pela qual passou no processo revolucionário russo. Ela e as suas correligionárias eram acusadas de tratar de “coisas de mulher” ao questionarem a opressão feminina dentro

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dos espaços marxistas. Kollontai levou como proposta dentro do programa do movimento da classe trabalhadora os objetivos da luta feminista. A Revolução de 1917 propiciou a conquista de direitos para uma igualdade sexual, porém na prática as velhas amarras ainda continuavam a “enjaular” a mulher, confinando-a na esfera doméstica através da reprodução e das próprias tarefas “do lar”.

O pós-guerra deixou algumas companheiras desacompanhadas e o coletivo socialista não pensava em comunidades que tratassem dos assuntos domésticos. Kollontai se dedica, a partir de tal percepção, à manutenção de coletividades de produção do trabalho doméstico, com a percepção de que este se não for distribuído gera desigualdades de oportunidades e afasta a mulher da vida política. Com o apoio de Lênin e Trotsky, juntamente com as companheiras, trouxe a legalização do aborto. No entanto, as barreiras continuaram atravancando o processo de emancipação. Como ela mesma relata:

minhas teses sobre, minas idéias sobre sexo e moral, foram amargamente combatidas por muitos camaradas do partido de ambos os sexos, assim como ainda com outras diferenças de opinião no partido a respeito dos princípios políticos. O cuidado pessoal e familiar foi adicionado a isso e, deste modo, os meses de 1922 passaram sem trabalho frutífero. (KOLLONTAI, 1980, p. 75).

Controvérsia feminismo/marxismo nas revistas acadêmicas: mais do mesmo?

No caso brasileiro, no período anterior e posterior à ditadura militar, o entrave ao movimento feminista continuou com seus mesmos argumentos economicistas. Se esta questão da opressão feminina, como relata Anderson, está profundamente arraigada na cultura, como conceber uma sociedade socialista igualitária em que homens e mulheres sejam

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possuidores das mesmas possibilidades? Haveria a possibilidade de um diálogo entre marxismo e feminismo?

Com vistas a responder a estas questões, examinaremos duas revistas: uma feminista, a Cadernos Pagu, e outra marxista, a Crítica

Marxista. Ambas tem em comum o fato de estarem sediadas no Instituto

de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, com vários professore(a)s de um mesmo departamento, dividem o mesmo prédio, seus/suas pesquisadore(a)s se cruzam pelos corredores da Universidade. Mas os pontos de contato parece não ir muito além. Se pegarmos o programa editorial de uma e de outra, veremos um abismo.

Em sua proposta editorial, Cadernos Pagu, criado em 1993, se apresenta como

um dos principais periódicos brasileiros centrados na questão de gênero, divulga reflexões teórico-metodológicas, resultados de pesquisa, documentos e resenhas, abordados a partir de diferentes perspectivas teóricas. Os principais temas contemplados pela publicação - trabalho, educação, violência, sexualidade, raça, família, literatura, mídia, teorias feministas e teorias de gênero - têm oferecido significativa contribuição para as discussões no âmbito acadêmico e fundamentais subsídios para a atuação de organizações não governamentais e governamentais, incluindo a formulação de políticas públicas.732

Quanto à Crítica Marxista, em seu manifesto de fundação em 1994, lemos:

Contra a ofensiva antimarxista e anti-socialista, os signatários desse documento propõem-se criar uma revista de difusão e de

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discussão da produção intelectual marxista em sua diversidade e complexidade, bem como de intervenção no debate teórico e na luta teórica em curso. Uma revista que critique as panacéias elaboradas pelo neoliberalismo, o pensamento e a experiência social-democratas - tributárias do imperialismo e que hoje abandonam até mesmo a sua política distributiva - e aqueles que, em nome de um pretenso e mistificador valor universal da democracia, terminam por limitar o seu horizonte teórico e político às instituições do Estado liberal burguês. Propugnar a plena validade teórica do marxismo nunca será um ato gratuito e sem conseqüências. Significa reafirmar, neste final de século XX, a possibilidade histórica da revolução, do fim da exploração capitalista e da emancipação dos trabalhadores.733

O exame das duas revistas pode contribuir para elucidar alguns problemas mencionados. Será que a relação do feminismo com o marxismo está fadada a um casamento infeliz734? Será que os teóricos marxistas ainda vêem o feminismo como uma pedra no sapato a incomodar sem ser vista? Existe ou não lugar para a teoria feminista dentro da teoria marxista? É possível ou não um diálogo entre ambos?

Para Maria Lygia Quartim de Moraes, “no tocante à „questão da mulher‟, a perspectiva marxista assume uma dimensão de crítica radical ao pensamento conservador” (2000, p. 89). Recorrendo ao o livro de Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, enfatiza que neste livro “a condição social da mulher ganha um relevo especial, pois a instauração da propriedade privada e a subordinação das mulheres aos homens são dois fatos simultâneos, marco inicial das lutas de classes. Neste sentido, o marxismo abriu as portas para o tema da „opressão específica‟, que seria retomado e retrabalhado pelas feministas marxistas dos anos 1960-70” (MORAES, 2000, p. 89). Porém, observa a autora, isto

733 Disponível em: http:// www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/historico.html

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não significa que o marxismo possa dar conta por completo da chamada “questão da mulher”.

Considerando as observações de Moraes, podemos dizer que a problematização do feminismo e do marxismo não é um fenômeno novo. No entanto, são poucos os estudos que hoje se dedicam a examinar esta relação. Existem na atualidade, inúmeras revistas que se apresentam como feministas e diversas outras que têm o marxismo como referencial teórico. No entanto, um rápido levantamento sobre seus conteúdos programáticos e sobre os temas publicados assinala que são poucos os diálogos entre estes dois campos.

Ainda não realizamos um levantamento sobre a produção da revista feminista Cadernos Pagu, no entanto, a luta de classes, elemento central para a teoria marxista, está ausente de sua proposta editorial. Isto indicaria um distanciamento das propostas marxistas relativas à emancipação humana em geral? Em outras palavras, dedicar-se à chamada “questão específica” implica não se ater às “questões gerais”? Num passado recente de luta contra a ditadura, marxismo e feminismo pareciam tecer as bases de um feliz casamento. A complexa trajetória de ambos teria levado a um divórcio definitivo? Quais as bases que alicerçam esta separação? Quais as implicações disto no campo teórico e político? Quais as particularidades do início desta relação? Quais os rumos que tomou? Quais caminhos podem trilhar conjuntamente?

Para uma lua de mel feliz...

Maria Lygia Quartim de Moraes, que escreveu artigo na revista

Crítica Marxista no dossiê com o sugestivo título de “Feminismo e

marxismo”, chama a atenção para “a importância das contribuições teóricas de intelectuais do sexo feminino” (Moraes, 2000, p. 93). No

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revista revelam outra realidade. De 1994, ano em que a revista foi fundada, até 2009, a problemática o ano em feminista apareceu uma única vez. Tratou-se de um dossiê intitulado “Marxismo e feminismo”, publicado no ano 2000. Neste dossiê, 5 especialistas (mulheres) abordaram em cinco artigos as relações de gênero, a questão do feminismo e do marxismo. Antes e depois deste dossiê não encontramos outros textos sobre o tema. Além disso, cabe destacar que dos 215 artigos publicados nestes 15 anos de existência da revista, somente 31 foram escritos por mulheres. Destes 31, apenas 5 artigos abordaram a questão do feminismo propriamente dito; e só 2 artigos tiveram por objeto as ideias de importantes mulheres para o pensamento marxista. O primeiro dedicado à Ellen Meiksins Wood e o segundo examina Hannah Arendt e Rosa Luxemburgo.

Para Mary Castro (2000), uma das teóricas marxistas que escreveu no dossiê dedicado ao tema na revista Crítica Marxista,

tanto no marxismo como no feminismo, haveria a preocupação por questionar relações desiguais socialmente construídas e reconstruídas em embates de poder (no caso do feminismo, entre os sexos e pela institucionalização da supremacia masculina). Em ambos conhecimentos ressalta-se o projeto por negação de propriedades, expropriações e apropriações (no caso do feminismo, tanto do valor produzido pelo trabalho das mulheres, socialmente reconhecido ou não, como de seu corpo, voz, re- e a-presentações). Compartem também, o marxismo e o feminismo, a ênfase na materialidade existencial (para alguns feminismos, a vida cotidiana, para outros, a textual, e, para outros ainda, o cenário histórico . hoje, o capitalismo em formato neoliberal), considerando que essa materialidade se sustenta por práticas em um real vivido e um real idealizado e ideologizado (em instituições, no privado e no público, e na

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micropolítica das relações sociais). Por outro lado, advoga-se, tanto no marxismo como no feminismo, a possibilidade de mudanças acionadas por sujeitos, pautando-se portanto por investimento em realizar uma utopia humanista . vetor que anima até as versões mais domesticadas (liberais) do feminismo ainda que nelas se limite o horizonte da utopia a uma agenda de defesa por diferenças, por igualdade de oportunidades e direitos para as mulheres. (CASTRO, 2000, p. 99).

A autora argumenta que relação entre o marxismo e o feminismo é importante na trajetória do feminismo, quer como conhecimento teórico, quer como prática, ou seja, sua identificação como um movimento social por mudanças. Para ela, tal relação enriqueceria o marxismo, contribuindo o feminismo para o debate que nele se trava sobre as múltiplas determinações do real. Recorre a Gayle Rubin, reputada feminista contemporânea, que fez a defesa do caráter relacional das identidades sexuadas frisando que, para Marx, o que distinguiria um escravo de um não-escravo não seria nenhuma característica naturalizada, mas o tipo de relações sociais em que estaria o escravo, o que conduz à refletir sobre “o lugar das relações sociais (no caso, entre escravo e amo) na estrutura de poder e na produção de riquezas e de cultura, em um tempo e em uma determinada sociedade” (CASTRO, 2000, p. 100). Desta forma, o conceito de gênero, proposto pela teoria feminista, segundo Mary Castro, além de ampliar o debate, sugere que as relações sociais são várias e se autocondicionam, Nem classe nem gênero isoladamente são suficientes para darem conta do real ou das ideologias (CASTRO, 2000).

A autora observa que

investir no engendramento de um feminismo marxista e de um feminismo socialista tem hoje particular pertinência, quer pela propriedade do marxismo – a insistência em

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fórmulas liberais, inclusive no plano de políticas de identidade, para as mulheres –, quer porque, como há muito defendem as feministas marxistas e socialistas, não bastaria uma interpretação centrada apenas no marxismo para dar conta da complexidade das relações desiguais entre os sexos, as divisões sexuais de trabalho, de poder e de codificação do prazer, o que pede diálogo, guardados os limites ideológicos, entre distintos feminismos. (CASTRO, 2000, p. 107).

Nesta perspectiva, defende que “engendrar um feminismo marxista, a partir de análises das experiências de mulheres de setores populares em movimentos e organizações de base, e re-acessando criticamente as teorias marxista e feminista não pode ser agenda exclusiva das feministas de esquerda, mas de todos os socialistas e comunistas” (CASTRO, 2000, p. 108).

Em que medida esta proposta pode se concretizar? Em nossa pesquisa, ao nos debruçarmos sobre o estudo das contribuições contemporâneas das revistas Cadernos Pagu e Crítica Marxista, pretendemos examinar a possibilidade de um diálogo entre feminismo e marxismo. Com vistas a entender qual o espaço que a revista feminista fornece para as questões marxistas e, na outra ponta, em que medida as questões feministas estão presentes ou ausentes na revista marxista, além do levantamento e análise da produção de ambas as revistas, pretendemos realizar algumas entrevistas com o(a)s coordenadore(a)s das duas revistas.

Apostando num conhecimento crítico e impulsionador de mudanças, concordamos com Mary Castro: “é importante que haja mais espaço e diálogo na mídia crítica marxista, nos partidos e na academia para esse conhecimento. Nestes tempos, um feminismo marxista é mais que um gênero” (CASTRO, 2000, p. 108).

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Bibliografia

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Referências

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