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M I N I S T É R I O P U B L I C O F E D E R A L
Procuradoria Regional da República da 1= Região
PARECER N° 5820/2013/RA (DIGITAL)
ApN** 0031040-61.2012.4.01.3800/MG
APELANTE: SINDICATO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA AVALIADORES DO
ESTADO DE MINAS GERAIS - SINDOJUSMG
APELADO: UNIÃO FEDERAL
RELATOR: JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA (CONV.)
-SEGUNDA TURMA
PETIÇÃO a
INCIDENTAL
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-26/02/2013 09:54
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MM. Desembargador Relator,
Trata-se de recurso de apelação em mandado de
segurança interposto pelo SINDICATO DOS OFICIAS DE JUSTIÇA
AVALIADORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS - SINDOJUSMG, eis que
irresignado com o teor d r. sentença que extinguiu o processo sem resolução
de mérito, acatando a alegada preliminar de carência de ação, bem como de
inadequação da via eleita, por entender que a matéria dos autos demandaria
dilação probatória, inviável na estreita via do mandado de segurança.
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Versa a matéria inicialmente discutida sobre requisição
de porte de arma para os Oficiais de Justiça, tendo em vista que exercem
profissão de risco.
Em decisão proferida no âmbito desse E. TRF1, entendeu
o excelentíssimo Dr. Evaldo de Oliveira Fernandes Filho (relator convocado)
ser possível o porte de arnia por oficial de justiça.
Segue colacionada a referida decisão, in verbis:
"Trata-se de agravo de Instrumento, com pedido de atribuição de efeito suspensive, interposto pela UNIÃO contra a decisão da MM. Juíza Federal Substituta da 16* Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal que, em mandado de segurança, deferiu a liminar requerida, para determinar que a autoridade impetrada conceda, em caráter provisório, autorização para portar arma de fogo em favor do impetrante, oficial de justiça.
Sustenta a agravante, basicamente, que a concessão de porte federal de arma por exercfcio de atividade de risco é ato discricionário da Administração, dependente da análise de conveniência e oportunidade, razão pela quai torna impossível a sua concessão pelo Poder Judiciário. A decisão impugnada entendeu presentes os requisitos necessários à concessão da liminar, quais sejam: o
fumus boni iuris e o perícuium in mora^ tendo em vista
a natureza das atividades, eminentemente de risco, exercidas por servidor público que executa ordens judiciais. Invoca, inclusive, os termos da Instrução Normativa n. 23/2005 da Policia Federal, órgão competente para conceder autorização de porte de arma, conforme disposto na Lei n. 10. 826/03.
Contrariamente ao sustentado nas razões recursais, não diviso a presença dos requisitos à atribuição de efeito suspensive a este agravo de instrumento. Ao revés, por manifestamente improcedente, creio, mesmo, ser caso de lhe negar seguimento, na forma preconizada pelo art. 557, caput, doCPC.
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Muito embora, de fato, a autorização para portar arma de fogo se me afigure, a princípio, ato discricionário da Administração Pública Federal, certo é que,
implementadas as condições estabelecidas em lei e no regulamento, visualizo verdadeiro direito individual do requerente na sua concessão.
Com efeito, não é à toa que a Lei n. 10.826/03 estabeleceu requisitos para que o indivíduo possa portar arma de fogo, ditando, em seu art. 10, § 1**, incisos I a III, ser necessário: demonstrar efetiva necessidade, decorrente do exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à integridade física; apresentar documentação de propriedade da arma de fogo e seu registro junto ao órgão competente; comprovar idoneidade, mediante apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais da Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não responder a inquérito policial ou processo criminal; apresentar prova de ocupação lícita e residência certa; demonstrar capacidade técnica e aptidão psicológica para manusear arma de fogo.
Segundo consignei, se comprovado o atendimento a todos esses requisitos, sob pena de se afastar da impessoalidade exigida do administrador público, não é possível negar-se a concessão da autorização para portar arma de fogo de uso permitido.
Mais ainda aflora o acerto da decisão agravada, consoante, aliás, nela destacado, a dicção do § 2° do art.
18 da IN n. 23/2005/DG/DPF, segundo o qual se considera atividade profissional de risco para os fins do inciso I do § 1** do art. 10 da Lei n. 10.826/03, entre outras, aquela realizada por servidor público que exerça cargo efetivo ou comissionado de execução de ordens judiciais. Exatamente essa a hipótese em que se enquadra o impetrante-agravado.
Por relevante, vejam-se os termos em que vazada a liminar deferida em primeiro grau:
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A Lei n. 10.826/2003 delineia as exigências para se obter a autorização para o porte de arma de fogo:
Art. 10. A autorização para o porte de anva de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedido após autorização do Sinarm.
§ 1°A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente:
I - demonstrar a sua efetiva necessidade por
exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua Integridade física;
II- atender às exigências previstas no art. 4° desta Lei:
III- apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente, grifei
Por sua vez, a Instrução Normativa n. 23/2005/DG/DPF dispõe em seu artigo 18, §2°, I que:
São consideradas atividade profissional de risco, nos termos do Inciso I do §1° do art. 10 da Lei n.
10.286 de 2003, além de outras, a critério da autoridade concedente, aquelas realizadas por I - servidor público que exerça cargo efetivo
ou comissionado nas áreas de segurança, fiscalização, auditora ou execução de ordens judiciais", grifei
Assim, conforme se depreende pelos documentos coligldos e parecer que sustentou o Indeferimento do seu pedido em sede administrativa, o impetrante cumpriu com os requisitos formais necessários à concessão do pedido.
O Indeferimento se deu porque entendeu a autoridade impetrada que a concessão de arma de fogo de natureza "defesa pessoal" para um oficial de justiça, contemplando suas necessidades
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funcionais, não encontra guarida na legislação vigente (fls. 46/49).
Com efeito, é notório que o Oficial de J u s t i ç a lida diariamente com os mais diversos tipos de situações e cumpre determinações judiciais que podem desencadear reações violentas. Ora, exigir do agente público que aguarde a perpetração de violência contra a sua Integridade física ou de sua família para se comprovar a necessidade de portar arma de fogo é descabida e só encoraja a aquisição de armas por meios Ilícitos.
De se ver, pois, que em momento algum fugiu aos
termos da lei e regulamento a decisão agravada; muito antes, pelo contrário, primou por lhes dar efetiva aplicação, o que, entretanto, parece, não se sucedeu na atuação administrativa impugnada - o fundamento à negativa, conforme destacado na r. decisão recorrida, foi de que não haveria amparo na legislação vigente a concessão de porte de arma de fogo a oficial de justiça. Ora, é a própria instrução normativa que elenca, entre atividades potencialmente de risco a justificarem o porte de arma de fogo a execução de ordens judiciais. Se disso não cuida o oficial de justiça, quem cuidará!? Sendo assim, por manifestamente improcedente, como pontuei anteriormente, o agravo manifestado, com espeque no art. 557, caput, do CPC, nego-lhe seguimento."
(AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 0025657-56.2012.4.01.0000/DF)
{negritos originais)
Comungamos desse entendimento, apesar de não ser
pacífica a jurisprudência, tendo em vista que é de risco a profissão dos Oficiais
de Justiça, pois, por vezes, terem de diligenciar em locais considerados
perigosos.
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Ademais, conforme salientado pelo douto relator, há
previsão em lei para o porte de arma de servidor público que exerça
ordens judiciais, como é o caso dos oficiais de justiça, apesar de ainda não
ser regulamentado esse porte por lei específica.
Ante o exposto, manifesta-se o MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL pelo provimento do recurso de apelação interposto, de forma a
ser cassada a r. sentença, devendo ser concedida a segurança.
Brasília, 18 de fevereiro d ^ 0 1 3 .
Ronaldo Meira de Va^oncellos AIbo
PROCURADOR REGIONAL DA REPÚBLICA- 1* REGIÃO