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Renata Nunes Azambuja 1 ; Cristiana Coutinho Duarte 2 ; Antonio Carlos de Barros Corrêa 3. 1

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Academic year: 2021

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UNIDADES MORFOESTRATIGÁFICAS DO RIACHO SALGADO, BELÉM DE SÃO FRANCISCO-PE: UMA ANÁLISE EM MICRO-ESCALADOAMBINETEDEPOSICIONALFLUVIALEFÊMERODOSEMI-ÁRIDONORDESTINO.

Renata Nunes Azambuja1; Cristiana Coutinho Duarte2; Antonio Carlos de Barros Corrêa3. 1Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia, Depto. de Geografia, UFPE

(rna_tata@yhaoo.com.br); 2 Graduanda do Departamento de Ciências Geográficas,

UFPE(crisdat@hotmail.com); 3 Prof. Dr. do Depto. de Ciências Geográficas, UFPE

(dbiasi2001@aol.com)

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Abstract. This work aims at analysing depositional units associated to a contemporary semi-arid

fluvial environment, in order to establish the morphostratigraphic behavior within a climatically cyclic context. The study area is located in the municipality of Belém do São Francisco, State of Pernambuco, Northeastern Brazil. Preliminary results have pointed to the fact that most of the studied features were possibly generated in situations of extreme climatic variability, since some of the identified geomorphic features would demand a highly energetic depositional environment. In order instances it was possible to recognize the human interference upon the local landscape, as it works as catalyst of erosion processes in the area. Finally, it was possible to assert that recent morphostratigraphical units within the semi-arid environment of Northeastern Brazil may provide a contemporary analogous to late Quaternary depositional landforms in the region. In spite of the micro-scale analysis, this study suggests that interannual or interdecenal variability of climate plays a significant role upon land surface systems and its derived landforms.

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Palavras-chave: morfoestratigrafia, ambiente fluvial efêmero e semi-árido. 1. Introdução

O Riacho Salgado é um exemplo bastante ilustrativo de um ambiente fluvial efêmero do semi-árido nordestino brasileiro. Localizado a 28 km de Belém de São Francisco/PE sobre as coordenadas UTM 519944/518994E e 9053494/9053595S (figura 01), a área de estudo exprime um grande controle climático sobre os processos geomórficos, bem como sobre a taxa de ocorrência dos principais eventos modeladores da epiderme da paisagem. Estas taxas, geralmente são determinadas por um evento pontual - de grande magnitude e baixa recorrência - que se repete após certos intervalos de tempo. Desta forma, pode-se dizer que as unidades geomórficas resultantes na área possuem um forte caráter de ciclicidade em sua gênese. Em virtude da baixa recorrência dos eventos climáticos de maior energia, o sistema fluvial local não

possui competência para carrear sedimentos por um longo percurso, depositando extensas barras fluviais.

Apesar de a área de estudo apresentar evidências de desertificação, tais como o sobre-pastoreio, erosão em sulcos, e salinização superficial do solo, não se consegue estabelecer facilmente qual a participação do homem na produção da taxa de sedimentos, já que a mesma está relacionada, sobretudo, a extrema instabilidade climática do local. Portanto, a abordagem morfoestratigráfica pode oferecer uma melhor compreensão sobre os sistemas deposicionais pretéritos e contemporâneos, permitindo dessa forma que se realize uma reconstrução paleogeográfica do ambiente. A presente pesquisa insere-se no Grupo de Estudos do Quaternário do Nordeste do Brasil do departamento de Ciências Geográficas da UFPE.

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2. Métodos e Técnicas

Devido à ausência de material aero-fotográfico atualizado e bases cartográficas em escala adequada, foi realizado inicialmente um mapeamento geomorfológico expedito em micro-escala da aérea em questão. Neste mapeamento foram contempladas categorias de análise Ecodinâmica adotadas pela metodologia de Tricart (1977), tais como: classificação macroscópica dos solos; verificação da cobertura vegetal; identificação dos modelados deposicionais (aluviões, colúvios, etc.) e denudacionais (afloramentos rochosos, solos residuais), além dos processos superficiais predominantes (como erosão laminar, linear e salinização). Para tanto foi estabelecida uma área retangular com dimensões de 100m x 50m que por sua vez foi dividida em 50 células de 100m², para realização de uma análise detalhada dos níveis categóricos acima estabelecidos. As amostras sedimentológicas coletadas em diferentes feições deposicionais foram analisadas no Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Degradação dos Solos (LAGESOLOS) do departamento de Geografia da UFRJ. Foram obtidos resultados relativos às seguintes análises: granulometria, teor de matéria orgânica, pH e análise morfológica dos sedimentos. Em seguida foi efetuada uma correlação dos resultados com as feições identificadas na aérea de estudo.

3. Fundamentação Teórica

A utilização dos métodos sedimentológicos tem sido de grande importância para a realização de uma análise do relevo baseada na caracterização dos seus materiais estruturadores, como os depósitos correlativos. Sendo estes métodos de grande abrangência, é possível obter uma gama de informações tais como o tipo de ambiente, propriedades químicas e físicas, tipos de

movimentos sua direção e velocidade, dentre outros fatores. A análise morfoestratigráfica e alostratigráfica podem ser utilizadas amplamente para os estudos do relevo (Castro 1979 in Missura 2005), e através da das mesmas podem-se reconstituir as condições paleoambientais de sedimentação. Sobre a morfoestratigrafia, SUGUIO (2001) afirma que esta é de vital importância para a reconstituição da história da evolução geomorfológica de uma área, onde possam ser identificados as superfícies e seus materiais, estabelecendo dessa forma a relação de antiguidade entre as unidades e sua correlação com áreas mais amplas.

A contribuição de Bigarella e Mousinho (1965) bem como de seus colaboradores a esse respeito, representou um sensível avanço para os estudos baseados na morfoestratigrafia do Quaternário Brasileiro. Meis e Moura (1984) ao notarem que a morfoestratigrafia e a estratigrafia estavam muito subordinadas ao relevo, propuseram uma análise baseada nas condições lito-alostratigráficas relacionadas à gênese entre depósito e forma. Ou seja, a morfologia dos compartimentos agradacionais seria subordinada aos tipos de formações deposicionais, como os colúvios e terraços.

Sobre os depósitos de colúvio Corrêa e Mendes (2002) explicam que o termo colúvio é utilizado para designar qualquer depósito sedimentar que se acumule ao longo de uma encosta em conseqüência do seu transporte gravitacional. Para eles, esse modelo estaria vinculado a um processo de transição climática.

No que concerne aos depósitos do sistema semi-árido o transporte dos leques de fluxo de gravidade representam importante papel na modelagem do relevo. Devido ao extremo caráter de instabilidade climática, o semi-árido é pontuado por eventos de alta torrencialidade que para Reading (1996 in Missura 2005) seriam responsáveis pela formação de leques ou

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fluxos gravitacionais. Essas feições apresentam em geral um tamanho reduzido e desenvolvem-se no eixo terminal das rampas íngremes. Segundo Corrêa (2001) o fluxo é resultante dos diferentes graus de coerência dos materiais, apresentando uma fábrica matriz suportada, com a presença de fenoclastos anômalos, gerando por vezes a deposição de forma inversa, ou seja, a interrupção da grânulo-decrescência ascendente. Esta é resultante do caráter intermitente da deposição no sistema semi-árido, permitindo a permanência do material em superfície, por longo tempo sem recobrimento.

Outro aspecto peculiar ao sistema semi-árido é a presença dos rios efêmeros, onde se estabelecem feições tipicamente anastomosadas. Cunha (1998) ao se referir aos canais anastomosados, afirma que a formação desse tipo de padrão espelha as condições climáticas locais, a natureza do substrato, cobertura vegetal e gradiente. Os episódios de grande concentração de precipitação seguidos de longos períodos de estiagem são provavelmente os responsáveis para o estabelecimento deste tipo de padrão fluvial. McGowen (1970, in Mabesoone et al. 1981) descreve as características principais que condicionam um rio efêmero, como a pouca estabilidade do canal (gerando acúmulo de bancos de areias móveis); canais de corte transversais amplos, rasos e de pouca simetria; gradiente moderado; geometria multilateral do canal; estruturas granulométricas bastante indistintas, com sedimentos pobremente selecionados e estruturas de corte-preenchimento em grande escala, além da interrupção da grânulo-decrescência ascendente.

Espera-se que este estudo venha contribuir para a confirmação e elucidação de alguns fatores relacionados ao modelado do relevo durante o Quaternário de acordo com os autores supracitados, sobretudo no que se refere ao sistema ambiental semi-árido brasileiro.

4. Discussão dos Resultados

Como elemento basilar para uma análise morfoestratigráfica foi utilizado o mapa Geomorfológico de detalhe (figura 02), sobre o qual foram identificados todos os processos superficiais da paisagem e seus respectivos depósitos. A partir da associação das análises em laboratório das amostras coletadas com as observações e o mapeamento de detalhe efetuados em campo, foi possível realizar uma interpretação dos processos formativos das feições deposicionais. Dessa forma, foram definidas para o Riacho Salgado as seguintes unidades morfoestratigráficas: (a) Depósito de colúvio; (b) Terraço erosivo; (c) Leque aluvial; (d) Barra fluvial, (e) Depósito de cascalho e (f) Plaino aluvial com manchas de salinização.

4.1 Caracterização das unidades morfoestratigráficas.

a) Depósito de Colúvio: Esta formação foi

identificada na base da vertente esquerda sobre o terraço aluvial. Os sedimentos coletados (RS2) apresentaram uma grande quantidade de areia (representando 86,29% do material coletado) e baixa ocorrência de silte e argila. O material apresenta-se sem estrutura, composto por grãos simples não coerentes e consistência solta. Em se tratando de ambiente semi-árido existe pouca possibilidade de que esse depósito tenha ocorrido em um regime de precipitações escassas, já que os depósitos desse tipo necessitam de um mecanismo desencadeador de maior energia, logo, atribui-se sua gênese aos episódios recentes de precipitações torrenciais de baixa recorrência na área.

b) Terraço Erosivo: A área do terraço

apresentou formação de depósitos eluviais “in situ” com estrutura em blocos sob

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condições de ambiente seco. Porém, em testes de laboratório essa estrutura demonstrou grande friabilidade na presença de umidade. Essa característica confirma que a manutenção dos terraços erosivos, sob a vigência das condições semi-áridas, pressupõe uma condição mínima de fitorresistasia como prevista por Tricart (1977). Quando da ocorrência de eventos chuvosos de maior torrencialidade, esta unidade é prontamente atacada pelos processos de erosão linear;

c) Leque Aluvial: De acordo com o

mapeamento geomorfológico foi evidenciada a formação de leques sobre a superfície aluvial, resultantes do fluxo gravitacional gerado pela incisão de ravinas ao longo das vertentes. Este processo está relacionado a eventos mais recentes, já que o processo de ravinamento na área tem sido agravado pelo sobre-pastoreio e diminuição da cobertura vegetal, associados à ação de torrentes de maior energia. Neste caso a sensitividade da paisagem exerce grande controle sobre a formação destes leques;

d) Barras Fluviais: As barras fluviais

encontradas na área de pesquisa representam a principal característica de um rio efêmero, como aventado anteriormente. De acordo com a análise granulométrica esta formação apresentou grande concentração de areia (representando 96,34 % da curva acumulativa). As barras apresentam grãos com boa seleção em sua porção central, ladeados por uma cobertura de cascalho e calhau. Essas barras fluviais ou arenosas, encontradas na área de estudo apresentaram relativa estabilidade, havendo algumas sido colonizadas por vegetação arbórea. A ocorrência de barras colonizadas pela vegetação permite concluir que houve a alternância entre condições de maior umidade, capaz de arrastar grande carga sedimentar, seguidas por momentos de estabilidade, em ambiente mais seco.

De acordo com Cunha (1998) essa estabilidade deve-se à fixação de sedimentos

mais finos no fundo da calha fluvial e à fixação de vegetação sobre as “ilhas”. Para a autora, a presença da vegetação dificulta a erosão e permite a deposição de sedimentos finos. Ao que tudo indica os sedimentos arenosos depositados ao longo do canal, não puderam ser arrastados pelo rio devido ao seu caráter intermitente.,

e) Depósito de Cascalho: Os depósitos de

cascalho representam um outro tipo de formação peculiar ao sistema deposicional fluvial efêmero. O grande volume de carga de fundo conjugado às flutuações dessas descargas resulta muitas vezes em depósitos rudáceos. Esses sedimentos se caracterizaram como muito pobremente selecionado apresentando grãos que variam de sub-angulosos a angulosos. As características sedimentares indicam que tais depósitos são proximais. A deposição grânulo-decrescente ascendente interrompida atesta, mais uma vez, a variabilidade climática do local. Os níveis de deposição de cascalho, sobrepondo as areias grossas, observados ao longo do Riacho Salgado indica intensa variabilidade em sua capacidade de transporte;

f) Plaino Aluvial: Sobre o plaino aluvial

foram identificadas várias feições como os Leques Aluviais, as Barras Fluviais e os Depósitos de cascalho, acima descritos. Porém sobre a superfície dos depósitos fluviais propriamente ditos, em áreas situadas entre as barras arenosas, verificou-se que a concentração de grossos diminui, ocorrendo um sensível aumento da fração silte (29,07%) em alguns pontos. Essa pequena modificação na granulometria dos sedimentos deve-se à erosão que vem ocorrendo a montante deste depósito, onde os Luvissolos Crômicos vem se desestruturando em função da perda de silte e argila. Essa confirmação vem da análise granulométrica da amostra RS-6, situada sobre o terraço erosivo, em uma área de ocorrência de um perfil de luvissolo crômico “in situ” com a maior percentagem de silte

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dentre todas as amostras analisadas (44,32%). Portanto, pode-se dizer que a deposição de finos entre as barras pode ser intensificada mediante o tipo de uso do solo vigente no local.

5. Conclusões

De acordo com esses resultados preliminares conclui-se que algumas das feições analisadas possivelmente foram geradas em ambientes de extrema variabilidade climática, pois algumas das feições descritas necessitariam de um ambiente com maior aporte de energia geomorfológica para sua modelagem. Porém em outros casos pôde-se constatar a interferência direta do homem, que vem acelerando o trabalho erosivo da área. Por fim, pode-se afirmar que as unidades morfoestruturais recentes no domínio semi-árido brasileiro, podem servir de análogos para os modelados deposicionais do Quaternário tardio, e evidenciam, ainda que em micro-escala que a variabilidade interanual ou interdecenal do clima exerce um impacto determinante sobre os sistemas de superfície terrestre na região.

6. Referências

BIGARELLA J J, MOUSINHO M R. 1965. Considerações a Respeito dos Terraços Fluviais, rampas de Colúvio e Várzeas. Bol. Paranaense de Geociências 16/17: 153-197. CORRÊA A C B, MENDES I A. 2002. O problema das superfícies de erosão: novas abordagens conceituais e metodológicas. Rev de Geografia DCG/UFPE 18 (2): 70- 86.

CORRÊA A C B. 2001. Dinâmica geomorfológica dos compartimentos elevados do Planalto da Borborema, Nordeste do Brasil. Rio Claro, 386p. Tese de Doutorado - IGCE, UNESP.

CUNHA S B. 1998. Geomorfologia Fluvial. in: GUERRA A J T , CUNHA S B (orgs.). Geomorfologia: Uma Atualização de Bases e Conceitos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 211-252.

MABESOONE J M, CASTRO C. 1975. Desenvolvimento geomorfológico do nordeste brasileiro. B. Soc. Geol. Núcleo Nordeste 3: 5-36.

MABESOONE J M, LOBO H R C, ROLIM, J L. 1981. Ambiente semi-árido do nordeste brasileiro: Os rios efêmeros. Estudos Geológicos. Recife 4:83-91. MEIS M R M, MOURA J R S. 1984. Upper Quaternary sedimentations and hillslope evolution: Southeastern Brazilian Plateau. American Journal of Science 284: 241-254.

MISSURA R. 2005. Análise morfoestratigráfica do Planalto de Monte Verde, MG. Manuscrito inédito. Rio Claro, 109p.

SUGUIO K. 2001. Geologia do quaternário e mudanças ambientais. São Paulo: Paulu’s, 366p.

TRICART j. 1977. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 97p.

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Figura 01 – Área de estudo de acordo com o mapa de localização.

Figura 02 – Mapa geomorfológico expedito em campo, indicando as unidades morfoestratigráficas de acordo com os processos superficiais da paisagem.

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