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BEBIDAS À BASE DE SOJA: CONTEMPLAM AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DAS CRIANÇAS?

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Academic year: 2021

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BEBIDAS À BASE DE SOJA:

CONTEMPLAM AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DAS

CRIANÇAS?

Giuliane Vido Maurenza –

Nutricionista Especializanda da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica – Escola Paulista de Medicina/UNIFESP

SOJA

A soja é uma leguminosa muito consumida no Oriente, cultivada desde meados do primeiro milênio. Tornou-se um gênero agrícola de grande importância, uma vez que serve de matéria prima para a fabricação de produtos característicos da dieta desses países.

No Brasil, o grão chegou em 1908 com os primeiros imigrantes japoneses, mas foi introduzido oficialmente em 1914 no Rio Grande do Sul, e sua expansão ocorreu a partir dos anos 1970.

A utilização de alimentos derivados da soja tem aumentado também em diversas regiões do Ocidente, onde o consumo do grão de soja é ainda incipiente.

ALEGAÇÃO FUNCIONAL – ISOFLAVONAS

As isoflavonas são as formas mais comuns de fitoestrógenos. São encontradas predominantemente nas leguminosas, principalmente na soja. Segundo a literatura existente, possuem estrutura química semelhante a dos estrógenos e podem representar um auxílio na prevenção e/ou tratamento de doenças hormônio-dependentes, tais como os sintomas da menopausa, doenças cardiovasculares e osteoporose.

Em 1999, o FDA (Food and Drug Administration) aprovou uma alegação funcional para produtos de soja, devido aos efeitos hipocolesterolêmicos associados à sua proteína.

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No Brasil, em 2002, a ANVISA aprovou a alegação: “O consumo diário de no mínimo 25g de proteína de soja pode ajudar a reduzir o nível do colesterol sérico. Seu consumo deve estar associado a uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. A partir de então, empresas passaram a desenvolver diversos produtos com o objetivo de fornecer alimentos com propriedades funcionais.

Os derivados protéicos de soja (farinhas, texturizados, concentrados e isolados) têm sido utilizados para esses fins, constituindo-se como ingredientes de produtos cárneos, panificação, bebidas, sopas e outros alimentos devido às propriedades físico-químicas da proteína de soja, que conferem textura e gelificação aos alimentos.

BEBIDAS À BASE DE SOJA

O consumo de bebidas à base de soja cresceu gradualmente nos últimos anos, indo de 51 milhões de litros em 2002 para 175 milhões em 2007. No setor de alimentos à base de soja, tanto no Brasil como nos Estados Unidos e na Europa, é a linha de bebidas que mais cresce: cerca de 30% ao ano no Brasil e 25% ao ano nos Estados Unidos.

São elaboradas a partir do extrato hidrossolúvel de soja (EHS) ou da proteína isolada de soja (PIS); adicionadas de sucos de frutas, são parte da nova geração de produtos de soja, aliando-se ao rápido crescimento do mercado consumidor. Antigamente seu consumo no Ocidente era restrito principalmente a pessoas com intolerância à lactose, vegetarianos e indivíduos com restrições alimentares, tornando-se atualmente consumida pela população em geral.

PROTEÍNA ISOLADA DE SOJA (PIS)

A proteína isolada da soja é obtida a partir da farinha desengordurada de soja, quando então a proteína é solubilizada em água, separada da fração insolúvel (fibra) e precipitada da solução, separada dos açúcares e seca. Seu uso para alimentação iniciou-se apenas a partir da década de 1950.

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É a forma mais concentrada de proteína de soja disponível comercialmente, contendo aproximadamente 90% deste macronutriente, 0,5% lipídeos, 0,3% de carboidratos e 4,5% de cinzas.

Devido suas características funcionais, a soja é bastante utilizada em suplementos alimentares (misturas em pó), bebidas prontas para consumo, panificação e como agentes de consistência para produtos cárneos.

EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA (EHS)

O EHS é o produto obtido a partir da emulsão aquosa resultante da hidratação dos grãos de soja, convenientemente limpos, seguidos de processamento tecnológico adequado, adicionado ou não de ingredientes opcionais permitidos, podendo ser submetido à desidratação total ou parcial.

O processamento atual, além de produzir EHS de melhor qualidade e de sabor mais agradável, promove também o aumento da digestibilidade de sua proteína, bem como inativa os inibidores de proteases e outros fatores antinutricionais.

Nutricionalmente, o EHS apresenta 17,7% de lipídios, 33% de proteínas e 41,4% de carboidratos.

PROTEÍNA ISOLADA DE SOJA X EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA

PIS EHS

CARBOIDRATOS 0,3 % 41%

PROTEÍNAS 90% 33%

LIPÍDIOS 0,5% 17,7%

CINZAS 4,5% ---

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As fórmulas infantis à base de proteína isolada de soja foram criadas em 1929 pelo laboratório Mead-Johnson. Devido ao fato de a proteína de soja não ser uma proteína completa, devem ser fortificadas com metionina, L - carnitina e taurina, que são aminoácidos essenciais e limitantes na soja, e enriquecidas com ferro, cálcio e zinco.

Em 1996, a American Academy of Pediatrics (AAP) destacou o potencial risco de toxicidade de alumínio em lactentes e crianças relacionadas ao uso de fórmula de proteína de soja contaminada com alumínio. A origem do alumínio provém dos equipamentos utilizados durante a produção da proteína isolada de soja e da natureza dos sais minerais utilizados na produção da fórmula infantil.

Não existe informação adequada sobre o teor de alumínio nas fórmulas de proteína de soja, as quais devem ser disponibilizadas pelos fabricantes. Embora as consequências em longo prazo de níveis mais elevados de alumínio observados nas fórmulas de soja sejam desconhecidas, devem-se prosseguir os esforços a fim de reduzir o teor de alumínio na fórmula de proteína de soja.

CONCENTRAÇÃO DE ALUMÍNIO

FORMULA DE PROTEÍNA DE SOJA 500 mg/l

FÓRMULA DE PROTEÍNA DO LEITE 400 mg/l

LEITE MATERNO 65 mg/l

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS X BEBIDAS DE SOJA

Para auxílio na resposta à questão inicial deste trabalho, se as bebidas de soja contemplam as necessidades nutricionais das crianças, foi elaborada uma tabela, que se lê abaixo, comparando os valores recomendados pelo Ministério da Saúde para crianças menores e maiores de 2 anos de idade, o leite de vaca (pois grande parte das crianças utilizam as bebidas de soja como substitutos do leite), as bebidas de soja – Original e Frutas – e a fórmula de soja.

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< 2 anos >2 anos Leite de vaca* Bebida de soja – Frutas* Bebida de soja – Original* Fórmula de soja* CHO (g) 27,12 27,12 27,12 45 22,2 27,9 PTN (g) 19,32 19,32 19,32 3,6 15,3 21,6 LIP (g) 19,5 19,5 19,5 2,1 15,0 14,7 FIBRAS (g) 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 18,9 Ca (mg) 678,0 678,0 678,0 - 720,0 747,0 Fe (mg) 0,18 0,18 0,18 6,3 - 12,6 Zn (mg) 2,4 2,4 2,4 3,3 3,3 4,5 Na (mg) 240,0 240,0 240,0 60,0 570,0 348,0

* Valores para 3 copos (600 ml) Recomendação para crianças: 3 porções leite e derivados/dia  600 ml/dia CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Apesar da alegação funcional conferida à soja, as bebidas desenvolvidas a partir desta leguminosa não foram produzidas especificamente para o público infantil. No ambulatório da disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da UNIFESP- EPM constatamos alto consumo desses produtos, os quais, na maioria das vezes, são utilizados como substitutos do leite.

Vale ressaltar que apesar da grande quantidade de cálcio informada no rótulo dos produtos de soja, a biodisponibilidade deste micronutriente está associada à presença de lactose, ou seja, parte do cálcio informado não será absorvida visto que esses produtos são isentos de lactose.

Como se pode depreender do que foi exposto nesta revisão, nos cabe uma afirmação: as bebidas à base de soja NÃO contemplam as necessidades nutricionais das crianças.

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REFERÊNCIAS

FAO Agricultural Services Bulletin n.97. Rome 1992

GENOVESE, M.I; LAJOLO, F.M. Determinação de isoflavonas em derivados de

soja. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 21, n.1, p.86-93, 2001

FDA. U.S. Food and Drugadministration. Food Iabeling: Heathcaims; soy protein and coronary heart disease. October 26, 1999.

ANVISA, 2002. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 2 de 07 de janeiro de 2002.

POTTER, R.M.; DOUGHERTY, M. P.; HALTEMAN, W.A.; CAMIRE, M. E. Ciência e Teconologia de Alimentos, v. 40, n. 5, p. 807-814, 2007.

ROSENTHAL, A.; DELIZA, R.; CABRAL, L.C.; FARIAS, C.A.A.; DOMINGUES, A.M. Food Control Journal, v. 14, p. 187-192, 2002

WANG, C.; MA, Q.; PAGADALA, S.; SHERRARD, M.S.; KRISHNAN, P.G. Journal American. Oil Chemists Society, v. 75, p. 337-341,1998.

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KINSELLA, J.E. Journal of Nutrition, v. 125, p. 733S-743S, 1995.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de junho de 1978.

BOWLES, S.; DEMIATE, I.M. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 26, n. 3, p. 652-659, 2006.

BAYRAM, M.; KAYA, A.; ONER, M.D. Journal of Food Engineering, v. 61, n. 2, p. 221-230, 20

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BELLIONI-BUSINCO, B.; PAGANELLI, R.; LUCENTI, P.; GIAMPIETRO, P.G.; PERBOM, H.; BUSINCO, L. J Allergy ClinImmunol. 1999; 103(6):1191

Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos. Ministério da Saúde, 2002 Guia Alimentar para a População Brasileira. Ministério da Saúde, 2006

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