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O EMPREGO DA COMPANHIA DE ENGENHARIA DE FORC A DE PAZ NA MINUSTAH COMO ELEMENTO DE SMART POWER DO BRASIL

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O EMPREGO DA COMPANHIA DE ENGENHARIA DE FORÇA DE

PAZ NA MINUSTAH COMO ELEMENTO DE SMART POWER DO

BRASIL

Felipe Araújo Barros1

Rodrigo Tavares Ferreira2

RESUMO

O ano de 2014 marcou o término da participação brasileira na MINUSTAH. Durante sua permanência no Haiti, o Brasil se fez presente tanto na liderança da missão, bem como na situação de maior contribuinte de tropas, empregando elementos de combate e de engenharia. Este trabalho buscou analisar, com ênfase no trabalho da engenharia, a forma pela qual o país empregou a combinação destas tropas, a fim de estabelecer um ambiente seguro e estável no país. Para isso, analisamos os trabalhos realizados pela BRAENGCOY em proveito da população haitiana, buscando compreender o impacto destes trabalhos na percepção dos cidadãos, e a forma pela qual esta percepção viabilizou os trabalhos das forças de segurança. Para isso, realizamos uma análise dos relatórios de término de missão, a fim de levantar a natureza dos trabalhos realizados pela companhia, sua frequência e resultados obtidos. Com isso, conseguimos ter uma melhor compreensão do benefício do emprego de tropas de engenharia em missões de paz, tendo em vista os ganhos resultantes em matéria de percepção pública, especialmente em países com deficiência de infraestrutura. Também pudemos observar o benefício para as tropas brasileiras obtidos pelo emprego do binômio combatente-engenharia na MINUSTAH, e para o Brasil, tendo em vista os ganhos em matéria de smart power no cenário internacional.

Palavras-chave: MINUSTAH. BRAENGCOY. Haiti. Peacekeeping. Smart Power.

1. INTRODUÇÃO

A participação brasileira na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti - MINUSTAH) inaugurou uma nova fase no protagonismo do país no cenário nacional. Ao assumir a liderança do contingente militar de uma força de paz multinacional, parte da primeira missão multidimensional da história das Nações Unidas, o Brasil demonstrou a intenção de assumir um papel diferente no concerto das nações, enfatizando também o seu hard power, sem abrir mão do grande capital de soft power que já possuía. A conjugação destas duas formas de poder simultaneamente há muito não se observava na política externa nacional.

1 Mestrando em Ciências Militares no Instituto Meira Mattos. Especialista em Operações Militares (ESAO).

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Durante sua presença no Haiti, o Brasil mostrou ao mundo uma nova face: a de um país detentor de forças armadas adestradas e bem equipadas, capazes de projetar poder em áreas distantes do seu território nacional. Entretanto, a projeção de poder militar fora do próprio território costuma a trazer consequências negativas para o país que o faz, especialmente perante a população do país onde este poder é projetado. A história nos mostra que os atritos entre a população local e as forças militares estrangeiras são fonte de animosidade que, se devidamente manipulada por grupos de interesse presentes na região, se transformam em um clima de antipatia generalizada, o que pode acabar por evoluir para um conflito aberto entre estas partes.

Entretanto, observa-se que este quadro não se desenvolveu no Haiti. Pelo contrário, a participação brasileira na MINUSTAH serviu para reforçar o sentimento de simpatia e admiração existente no país pelo Brasil, fato este comprovado pela onda de imigração de haitianos em direção a este país, que teve um grande aumento a partir do terremoto de 2010. Atualmente, o Brasil é o país da região que mais recebe imigrantes haitianos (INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EN DERECHOS HUMANOS DEL MERCOSUR , 2017).

A ação das forças brasileiras foi marcada não somente por sua atuação firme na obtenção de um ambiente seguro e estável, essencial para o trabalho dos outros atores presentes na missão, mas também pelo seu lado humano e assistencial, destacado pela execução de obras que visavam minimizar o sofrimento do povo haitiano e melhorar sua qualidade de vida. Assim sendo, este trabalho buscou determinar se o trabalho realizado pela Companhia de Engenharia de Forças de Paz (BRAENGCOY) teve papel fundamental na obtenção desta percepção.

Este trabalho teve como objetivo realizar uma análise da sinergia atingida pelo emprego de tropas combatentes em conjunto com as tropas de engenharia, com um enfoque na atuação da última. Para isso, foi realizado um estudo sobre a natureza dos trabalhos realizados pela BRAENGCOY, a fim de determinar quais deles tiveram impacto positivo na qualidade de vida da população, se aconteceram de forma constantes ao longo do tempo e de que forma impactaram positivamente a percepção pública sobre o Brasil. Buscou-se ainda entender como estes trabalhos interagiram com a ação das forças de segurança, de forma a mitigar os impactos negativos gerados por esta atividade.

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A relevância do tema abordado se dá pela análise do emprego do binômio combatente-engenharia em operações de paz, especialmente para quem buscar estabelecer um modelo de ação próprio das forças de paz brasileiras. Observando-se as conclusões do trabalho, pode-se dizer que não há paralelo na história da ONU de uma atuação tal que resultou em frutos tão positivos, seja pelo sucesso alcançado pela MINUSTAH, em especial pelo seu componente militar, seja pelo nível de smart power gerado pelo Brasil como resultado da atuação das suas forças de paz. O trabalho reportado neste artigo pode servir de base para pesquisadores que estejam em busca de descrever o brazillian way of peacekeeping.

A fim de atingir os objetivos propostos, procuramos realizar uma revisão bibliográfica em obras que abordavam a temática do emprego do poder brasileiro ao longo do tempo, bem como da participação brasileira na MINUSTAH. Procuramos também realizar um levantamento de dados através da análise de documentos oficiais da BRAENGCOY, a fim de colher subsídios para melhor entender a forma com que a companhia foi empregada. Isto nos possibilitou realizar uma análise sobre a atuação conjuntas das forças brasileiras, e como isto resultou na geração do smart power para o Brasil

2. DESENVOLVIMENTO

Desde o fim dos governos militares, o Brasil vinha buscado vender-se como um país cujo poder estava baseado em soft power. A crise econômica do anos 80, que atingiu em cheio as economias da América Latina, associada à ideia de que o país encontra-se em uma área livre de conflitos territoriais e da ascensão de uma política norte-americana que buscava relegar as forças armadas dos países da região a papeis secundários no cenário global, fez com que o Brasil negligenciasse a alocação de recursos na área da defesa, provocando um declínio de sua capacidade militar. Aproveitando o capital diplomático existente, os governos que se seguiram à redemocratização buscaram reforçar a imagem do Brasil como um país que investia em cooperação e primava pelas soluções negociadas no campo das relações internacionais.

Entretanto, após a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, no ano de 2002, a política externa brasileira sofreu uma guinada. A orientação político-ideológica do novo governo, associada à superação da crise econômica pelas ações de estabilização da economia realizadas por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso e ao bom momento econômico mundial que favorecia os países exportadores de commodities, abriu novos horizontes para o

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Brasil. O país deixou de contentar-se com o papel de liderança regional, marca da administração anterior, e passou a aspirar um lugar entre as potências mundiais (PECEQUILO, 2010). Para atingir este objetivo, uma ampliação do engajamento com os grandes problemas globais se fazia necessário.

Dentro deste panorama, o Brasil engajou-se na MINUSTAH. A participação do país em missões de paz não era novidade, dado que o Brasil mandou tropas para a primeira empreitada desta natureza, a United Nations Emergency Force I (UNEF I) (UNITED NATIONS, 2018), em 1957. Desde então, vem participando de missões de paz, seja sob a égide da ONU ou da OEA. Entretanto, esta foi a primeira vez que o país assumiu um papel de liderança de uma força desta magnitude. Além disto, a ascensão da Doutrina Capstone3 inaugurava uma nova era nas para este tipo de operações, onde se esperava um papel muito mais ativo das forças de segurança para a proteção de civis e para o cumprimento do mandato.

A atuação das tropas brasileira no Haiti se deu de forma enérgica. Como resultado, em poucos anos, lograram atingir o objetivo de reduzir a criminalidade e o caos social associados ao esgarçamento do tecido social do país caribenho (CAVALCANTI, 2014). Esta era a missão primeira do contingente militar, e condição necessária para atuação dos outros componentes – político, humanitário e policial. Entretanto, manter um ambiente estável não é tarefa fácil – e muito menos simpática – para qualquer componente policial, pior ainda para um componente militar estrangeiro em um país com um péssimo histórico de intervenções militares internacionais como o Haiti. Nesta hora, observa-se a ação fundamental da BRAENGCOY como elemento promotor do soft power nacional no teatro de operações.

A relevância das tropas de engenharia atuando em conjunto com forças militares como um elemento chave na aproximação com a população civil já havia sido observada por Nye em algumas ações do Exército dos EUA no Oriente Médio (NYE, 2012). Entretanto, este fenômeno ainda não havia sido observado em operações de paz, onde a missão das tropas militares fica normalmente restrita ao campo de segurança. Neste contexto, o papel da BRAENGCOY seria o clássico de uma tropa de engenharia em um campo de batalha: prover a mobilidade,

3 A Doutrina Capstone foi uma mudança radical na forma como os países membros deveriam conduzir as

missões de paz. Introduzida pelo Departamento de Operações de Paz da ONU em 2008, foi resultado de amplos debates dentro da organização, acusada de ineficácia em suas missões devido à incapacidade de evitar massacres como o de Ruanda e do Kossovo, ocorridos durante a vigência de missões de paz em seus territórios.

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contramobilidade e proteção das tropas amigas, além de prover apoio técnico em atividades ligadas à logística das operações, como construção e manutenção de bases e produção de água potável.

Ainda que limitada pelas imposições do mandato, a BRAENGCOY não se restringiu ao seu papel eminentemente militar. Em nossa pesquisa, observamos que desde os primeiros momentos na missão, a companhia realizou trabalhos voltados para o atendimento das necessidades básicas da população, como obtenção de água potável, mobilidade urbana ou melhorias das áreas públicas. Inicialmente estes trabalhos eram justificados como sendo realizados em proveito das tropas da missão, mas os efeitos impactavam colateralmente à população, sendo assim um caso onde o efeito acessório era mais relevante do que o efeito principal planejado. Este modo de operar permaneceu praticamente até o ano de 2010, quando, após o terremoto que destruiu grande parte de Porto Príncipe, a companhia passou a ter a missão de cooperar com a reconstrução do país formalmente incluída em seu mandato.

A fim de atingir os objetivos propostos, incialmente, buscamos realizar uma rápida revisão nas definições de poder como descritas por Joseph Nye em sua obra O Futuro do Poder, além de estabelecer um panorama de fundo através de um breve histórico sobre a aplicação do poder brasileiro, e do emprego das forças de segurança brasileiras no Haiti. Em seguida, realizamos uma pesquisa nos relatórios de término de missão de diversos contingentes da BRAENGCOY, a fim de determinar quais os tipos de trabalhos com impacto direto na qualidade de vida da população local foram executados durante a permanência desta Organização Militar (OM) no país. Com resultado, pudemos construir um quadro que nos permitiu visualizar uma linha contínua de ações de impacto social na atuação da companhia. Por fim, analisamos como este modo de atuação era combinado com as missões de segurança, a fim de alcançar o estado final desejado de obter um ambiente seguro e estável com opinião pública favorável.

Por meio desta pesquisa, pudemos realizar um levantamento dos tipos de trabalhos realizados pela companhia, destacando aqueles que traziam um benefício direto ou indireto para a população na forma de melhoria da sua qualidade de vida. Como resultado, observamos que em todos os contingentes foram realizadas diversas obras que impactaram positivamente a vida dos cidadãos de Porto Príncipe, principalmente, mas também de outros distritos do interior. Estes trabalhos foram de diversos tipos, como a pavimentação de vias de grande circulação,

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construção de poços artesianos, limpeza de canais pluviais, melhorias de praças, construção de sistemas de drenagem, e, até mesmo, construção de benfeitorias para os órgãos públicos que atendiam a população. Todas estas obras criavam uma percepção que as tropas brasileiras trabalhavam não somente como forças repressivas, mas também em favor do bem-estar da população.

Através de alguns relatos colhidos de outros estudos, pudemos também deduzir os resultados obtidos junto ao povo haitiano, para melhor entender como esta combinação de soft e hard power alcançou a sinergia esperada na forma de smart power. A imagem do Exército Brasileiro como uma força capaz de deslocar-se para pontos distantes de seu território e manter-se em operações durante um longo tempo consolidou-manter-se no cenário internacional, mostrando que o Brasil era uma nação capaz de projetar poder além do seu entorno regional. Além disso, a capacidade de liderar o componente militar de uma missão composta por uma grande quantidade de países membros também contribuiu para a demonstração de poder nacional. Esta combinação de força militar (hard power) com conviver pacificamente com uma população estrangeira (soft power) produziu o que Nye classifica como smart power.

Ao final do trabalho, foi possível concluir que a atuação conjunta das forças de segurança e das tropas de engenharia, no que chamamos de binômio combatente-engenharia, produziu uma sinergia que resultou em ganhos para a diplomacia brasileira que seriam impossíveis de se alcançar de outra forma. A imagem do Brasil como um país cuja relevância se erguia no panorama mundial era inegável no ano de 2014, quando a missão completou 10 anos de existência. Elencamos diversos fatores que comprovam esta afirmação, como a nomeação do General Santos Cruz para o posto de Force Commander da MONUSCO e depoimentos de pesquisadores internacionais.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, C. A. D. M. Ten Years of Minustah and CCOPAB, Rio de Janeiro, 2014. Disponivel em: <http://www.ccopab.eb.mil.br/pt/artigos-de-operacoes-de-paz/710-os-10-anos-da-minustah-e-o-ccopab?highlight=WyJtaW51c3RhaCIsMTAsImFub3MiLCJta

W51c3RhaCAxMCIsIm1pbnVzdGFoIDEwIGFub3MiLCIxMCBhbm9zIl0=>. Acesso em: 12 abr. 2018.

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INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EN DERECHOS HUMANOS DEL MERCOSUR. Diagnóstico regional sobre migración haitiana. Buenos Aires. 2017.

NYE, J. S. O Futuro do Poder. 1. ed. São Paulo: Benvirá, 2012.

PECEQUILO, C. S. Política Externa: Debate e Balanço. Carta Maior, 2010. Disponivel em:

<https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Politica-Externa-Debate-e-Balanco/6/15950>. Acesso em: 20 abr. 2018.

UNITED NATIONS. FIRST UNITED NATIONS EMERGENCY FORCE (UNEF I) - Facts and Figures. Peacekeeping.un.org, 2018. Disponivel em:

Referências

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