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Reabilitação Funcional em Lesões Vértebro-Medulares A Intervenção Tradicional e as Novas Abordagens em Fisioterapia Patrícia Maria Duarte de Almeida

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(1)

Reabilitação funcional em lesões vértebro-medulares

– A intervenção tradicional e as novas abordagens em

fisioterapia

Spinal cord injuries functional rehabilitation

– Traditional approaches and new strategies in

physiotherapy

Patrícia Maria Duarte de Almeida

Resumo

Resumo

Resumo

Resumo

Resumo

Após uma lesão vértebro-medular, em que existe

perda da função de diversas estruturas e sistemas

do corpo, resultando em limitações da actividade e

restrições da participação social, o objectivo final

do processo de reabilitação é a reintegração social

com o máximo de funcionalidade e qualidade de

vida que o tipo e extensão da lesão permitem. Para

atingir este estádio, é necessário um período de

reabilitação dentro de um equipa multidisciplinar

na qual se insere o fisioterapeuta, cujo processo de

intervenção varia mediante o tipo e extensão da

lesão e a fase clínica em que o utente se encontra.

A abordagem da fisioterapia engloba um conjunto

de técnicas e procedimentos que podem ser num

modelo mais tradicional de intervenção, ou numa

perspectiva mais recente relacionada com as terapias

de regeneração neuronal. Segundo um modelo

tradicional, o processo de intervenção nas lesões

completas A e incompletas B visa a restituição da

Abstract

Abstract

Abstract

Abstract

Abstract

Considering the body structures and systems loss

of function, after a Spinal Cord Injury, with is

respective activities limitations and social

partici-pation restriction, the rehabilitation process goals

are to achieve the maximal functional

indepen-dence and quality of life allowed by the clinical

lesion. For this is necessary a rehabilitation period

with a rehabilitation team, including the

phy-siotherapist whose interventions will depend on

factors such degree of completeness or

incomplete-ness and patient clinical stage. Physiotherapy

ap-proach includes several procedures and techniques

related with a traditional model or with the

re-cent perspective of neuronal regeneration.

Follow-ing a traditional model, the interventions in

com-plete A and incomcom-plete B lesions, is based on

compensatory method of functional rehabilitation

using the non affected muscles. In the incomplete

(2)

C and D lesions, motor re-education below the

lesion, using key points to facilitate normal and

selective patterns of movement is preferable. In

other way if the neuronal regeneration is possible

with respective function improve; the

physi-otherapy approach goals are to maintain

muscu-lar trofism and improve the recruitment of motor

units using intensive techniques. In both, there is

no scientific evidence to support the procedures,

exists a lack of investigation and most of the

re-search are methodologically poor.

Key words

: Physiotherapy, rehabilitation, spinal

cord injury, traditional approaches, new therapies.

funcionalidade recorrendo ao auxílio de músculos

não comprometidos (método compensatório). Nas

lesões incompletas C e D visa a reeducação motora

dos músculos comprometidos através do estímulo

de pontos chave específicos que facilitem o

movimento normal dentro de padrões selectivos.

Quando se prevê a regeneração neuronal e

consequente restituição da função, o processo de

intervenção visa a manutenção do trofismo

mus-cular para posterior recrutamento de unidades

motoras através de intervenções intensivas. Em

ambas as filosofias de intervenção, a evidência

científica dos procedimentos não está comprovada

devido à escassez dos estudos e à fraca qualidade

dos existentes.

Palavras-chave

: Fisioterapia, reabilitação, lesão

vértebro-medular, modelo tradicional, novas

terapias.

Intr

Intr

Intr

Intr

Introdução

odução

odução

odução

odução

O processo de reabilitação em utentes com

sequelas de lesão vértebro-medular (LVM)

requer a intervenção de uma equipa

multidisciplinar, incluindo o utente e a

família, que possa promover a

reinte-gração familiar, social proporcionando a

maior independência funcional possível e

associada qualidade de vida. Este processo

inclui cuidados de saúde imediatos,

cuidados de saúde na fase aguda e de

reabilitação activa e um programa de

inserção social e cuidados continuados ao

longo da vida.

O fisioterapeuta está intimamente

envolvido neste processo, cabendo-lhe um

papel activo nas várias fases da

reabili-tação, centrando-se nas alterações do

movimento resultantes das lesões do

neu-rónio motor superior e inferior e nas

limitações da actividade e da participação

social consequentes às alterações motoras.

Após um processo de avaliação do

controlo postural, dos movimentos

vo-luntários, das amplitudes de movimento,

do tónus muscular passivo e activo, da

sensibilidade, da capacidade e do potencial

funcional, o fisioterapeuta estabelece um

(3)

diagnóstico relacionado com as disfunções

do movimento e da funcionalidade. Em

conjunto com o diagnóstico médico (tipo,

nível e extensão da lesão; e situação

clínica), com as características do utente e

com os objectivos da equipa, do utente e

família, o fisioterapeuta define as metas

específicas da sua intervenção. Estes

objectivos estão centrados na aquisição de

competências motoras e funcionais e

prevenção de complicações secundárias,

que irão variar fundamentalmente em

função da fase, do nível e extensão da lesão.

Actualmente, com a evolução da ciência

e da investigação, estes objectivos podem

ainda variar de acordo com uma filosofia

de intervenção que visa a regeneração

neu-ronal, com possível restabelecimento da

função.

Os procedimentos técnicos para atingir

estes objectivos diferem consoante as

filosofias de intervenção. No entanto, a

eficácia e eficiências destes procedimentos

de intervenção necessita ainda de maior

evidência científica, de forma a criarem-se

linhas de intervenção em LVM

1

.

Neste artigo, pretende-se apresentar não

só um modelo tradicional de intervenção

em LVM estruturado pelas lesões

comple-tas A e incomplecomple-tas B e as lesões

incom-pletas C e D, mas também um modelo de

intervenção presentemente em

desenvolvi-mento em função das terapias de

regene-ração celular.

Evolução histórica da

Evolução histórica da

Evolução histórica da

Evolução histórica da

Evolução histórica da

rrrrreabilitação em L

eabilitação em L

eabilitação em L

eabilitação em LVM

eabilitação em L

VM

VM

VM

VM

Se considerarmos a importância fisiológica

da medula como centro de processamento

de informação no controlo de funções

vitais, como a respiração, a circulação, a

função cardíaca, intestinal, vesical, sexual

e motora, para além da função

trans-missora de informação do cérebro para

todo o corpo, e vice-versa, são perceptíveis

os distúrbios devastadores das lesões

me-dulares. A lesão da espinal medula, de causa

traumática ou por doença, resulta em

gra-ves alterações da contracção muscular

voluntária, do tónus muscular e da

sensibi-lidade, além das alterações psicológicas e

dos sistemas circulatório, respiratório,

gastrointestinal e génito-urinário

2

.

Este tipo de lesão e suas consequências têm

sido alvo de interesse clínico desde as

antigas civilizações até aos dias de hoje.

Desde a descrição dos egípcios, há 5000

anos, sobre uma lesão medular completa,

até meados do séc.

XIX

, devido à falta de

bases neurofisiológicas e eficácia de

intervenção, a morte era o prognóstico

mais frequente nos lesionados medulares,

quer como causa directa quer como

resultante das complicações secundárias.

Durante a II Guerra Mundial, o elevado

número de vítimas lesionadas medulares,

conduziu à criação das primeiras unidades

de LVM em Inglaterra, devido à percepção

de Sir Ludwig Guttmann sobre a

ne-cessidade de locais específicos para apoio

a este tipo de utentes. O sucesso destas

unidades atribui-se à supervisão constante

dos utentes por parte de uma equipa que

englobava médicos, fisioterapeutas,

tera-peutas ocupacionais, enfermeiros e assis

-tentes sociais, e ao apoio social

progra-mado após a alta.

A intervenção da fisioterapia teve nessa

época o seu maior desenvolvimento,

sendo que os objectivos de intervenção

passavam pela maximização do potencial

físico e da independência, bem como pela

(4)

prevenção de complicações secundárias.

Desde a criação destas unidades na década

de 40, até aos dias de hoje, tem-se assistido

a grandes evoluções na neurociência,

quanto à interpretação dos mecanismos

neurofisiológicos e neuropatológicos, bem

como quanto aos modelos e objectivos de

intervenção. A fisioterapia apresenta

diversas modalidades de intervenção

agrupadas num modelo mais tradicional

ou numa perspectiva mais relacionada

com a eficácia das terapias de regeneração

neuronal.

Modelo tradicional de

intervenção da fisioterapia

Num modelo de intervenção tradicional,

as alterações das estruturas motoras e

consequentes limitações da actividade e

restrição da participação social são

avaliadas pelo fisioterapeuta de forma a

determinar o potencial funcional do

utente. Em função deste potencial, do

nível e extensão da lesão, da fase clínica

em que se encontra, do objectivo comum

da equipa multidisciplinar que inclui os

objectivos do utente, o fisioterapeuta

determina os objectivos específicos a

atingir

3

, para os quais aplica nas diferentes

fases de intervenção procedimentos

técni-cos específitécni-cos.

Intervenção na fase aguda

Durante a fase aguda ou em situação de

acamamento, a intervenção do

fisiotera-peuta deve começar o mais cedo possível,

uma vez que a sua intervenção irá

deter-minar o tempo de imobilidade e os

resultados funcionais a longo prazo

4

.

Neste período, em função da lesão e das

alterações inerentes à imobilização, o

tratamento visa preservar as condições da

pele, através de posicionamentos

correc-tos, alternados de 2 em 2 horas, e o uso de

material anti-escara. Os posicionamentos

são também um procedimento

impor-tante para a manutenção das amplitudes

articulares e comprimento muscular,

através do alinhamento correcto dos

seg-mentos, respeitando os seguintes

posicio-namentos articulares: ombros em adução

e/ou protracção; cotovelos em extensão

alternada com flexão; punhos a 45º de

extensão; dedos ligeiramente flectidos;

polegar em oponência; ancas em extensão

alternada com ligeira flexão e abdução;

joelhos a 0º de extensão, evitando a

hiper-extensão; tíbio-társica a 0º de flexão

dor-sal e dedos em extensão

3

.

Estes últimos objectivos podem ainda ser

atingidos através da mobilização passiva

dos movimentos acessórios e fisiológicos

4

.

A mobilização contribui também para a

prevenção da espasticidade

3

e deve ser feita

de proximal para distal, atingindo o final

das amplitudes sempre que a situação

clínica o permita, não devendo no

entan-to exceder os 90º de flexão e abdução do

ombro nas lesões cervicais; os 30º de

flexão e abdução da anca nas lesões

lom-bares, para não promover movimento na

área da lesão e evitar o estiramento de

estruturas nervosas, nem atingir a extensão

completa das articulações

metacarpo-falângicas e intermetacarpo-falângicas nas lesões

cervicais completas, para preservação da

acção de tenodesis

3

. Por outro lado, devem

ser preservadas as amplitudes de 0º de

extensão do cotovelo, anca e joelho, bem

como os 0º de flexão dorsal, para

facili-tação das transferências e posição de pé.

Além da mobilização segmentar, deve ser

(5)

realizada mobilização em conformidade

com os padrões de movimento normal,

de forma a colocar em alongamento os

antagonistas do referido padrão de

movimento, em todas as articulações no

caso de músculos biarticulares, para

mini-mizar os efeitos da espasticidade e manter

o comprimento muscular.

A mobilização activa-assistida ou activa

deve ser um complemento aos

movi-mentos passivos e um procedimento de

manutenção da função motora activa

existente. Deve ser realizada em padrão,

com a gravidade eliminada ou não,

me-diante o grau de força existente e a

possibi-lidade de exercer contracções estáticas do

tronco, progredindo da forma

activa-assis-tida para activa e sempre que possível

bilateralmente. No caso das lesões

incom-pletas C e D, a estimulação dos

movi-mentos deve ser feita pela facilitação de

pontos-chave específicos em padrões

funcionais de movimento, sendo que, tal

como para as lesões completa A e

incom-pleta B, o esforço não deve solicitar

movi-mentos na área lesada ou aumentar a

espasticidade

4

.

Nesta fase, é ainda importante a

manu-tenção/melhoria da função respiratória,

pelas consequências inerentes à

imobili-dade e à fraqueza muscular. Pretende-se

nesta fase manter as vias aéreas

desobs-truídas e a mobilidade costal íntegra,

dependendo os procedimentos a realizar

de eventuais lesões associadas, como

fractura de costelas. Procede-se a exercícios

respiratórios de expansão torácica,

téc-nicas de expiração forçada e tosse assistida,

podendo ser complementados por

méto-dos de ventilação invasiva e não invasiva.

Os objectivos e procedimentos

apresen-tados são válidos para todo o tipo de lesões

medulares em período de acamamento,

quer nas lesões completas quer nas lesões

incompletas.

Estabilizada a condição clínica, e assim que

o utente possa assumir uma posição

anti-gravítica e possa realizar movimentos do

tronco na área da lesão, inicia-se a fase de

levante progressivo para a posição de

sen-tado, tendo em conta o défice de retorno

venoso dos membros inferiores,

colo-cando meias de contensão ou bandas

compressivas. Posteriormente, procede-se

à adaptação à cadeira de rodas (CR) e, ao

haver uma boa tolerância na posição de

sentado, inicia-se o período de aquisição

de competências motoras e funcionais,

onde se requer uma participação

total-mente activa do utente. No caso de lesões

incompletas D, pode progredir-se para a

posição de pé.

Intervenção na fase de reabilitação

activa

Inicia-se então a chamada fase de

reabi-litação activa, que pode ser dividida em

fase de reabilitação activa inicial e fase de

reabilitação activa avançada

4

, sendo os

objectivos e procedimentos de intervenção

nestas duas fases dependentes do nível e

extensão da lesão, ou seja, diferem

essen-cialmente entre lesões completas A e

incompletas B e lesões incompletas C e D.

Nas lesões completa A e incompleta B,

em que não existe actividade motora no

esfincter anal e, paralelamente, não existe

também actividade motora nos outros

músculos abaixo do nível da lesão, os

objectivos resumem-se à adaptação

funcional em CR ou com auxiliares de

marcha e outras ajudas técnicas para a

(6)

marcha, pela aprendizagem de estratégias

funcionais através de métodos

compensa-tórios, em que se utilizam os músculos não

comprometidos para executar as tarefas

antes realizadas pelos músculos

actual-mente paralisados pela lesão medular. Nas

lesões incompletas C e D, com presença

de actividade motora e sensitiva no

es-fíncter anal e, paralelamente, nos outros

músculos abaixo do nível de lesão, os

objectivos de intervenção centram-se na

reeducação motora destes músculos,

pretendendo atingir igualmente a

funcio-nalidade, nestes casos através dos músculos

comprometidos, baseando-se na

neuro-plasticidade e processos de

reaprendiza-gem motora. Nos casos de lesão

incom-pleta C, em que não se verifica evolução

na reaprendizagem motora com

recruta-mento muscular funcional, pode

recorrer--se ao método compensatório para

deter-minadas tarefas desde que este permita a

independência funcional.

Inter

Inter

Inter

Inter

Intervenção nas lesões

venção nas lesões

venção nas lesões

venção nas lesões

venção nas lesões

completas A e incompletas B

completas A e incompletas B

completas A e incompletas B

completas A e incompletas B

completas A e incompletas B

Devido à ausência de contracção

muscu-lar voluntária nos músculos inervados por

segmentos abaixo da lesão, os objectivos

de intervenção da fase de reabilitação

activa são o ensino e a preparação do utente

para a realização de actividades funcionais

através de músculos preservados, ou seja,

pelo método compensatório de reabilitação

muscular e pela utilização de CR e/ou

ajudas técnicas para a realização de marcha

adaptada.

Durante a fase de reabilitação activa

ini-cial, como preparação para a realização de

actividades funcionais, os objectivos da

fisioterapia são atingir um equilibrio eficaz,

que deve iniciar-se na CR e,

posterior-mente, sem suporte lateral e posterior,

sendo um requisito importante para as

actividades funcionais. Pode ser realizado

através de desequilíbrios posturais

efec-tuados pelo estímulo do fisioterapeuta,

que pode recorrer em simultâneo ao

feed-back visual; ou através de exercícios

dinâ-micos com o auxílio dos membros

supe-riores.

Em paralelo, é necessário um

fortaleci-mento muscular, realizado através de

programas de exercícios com carga

pro-gressiva em que os movimentos devem ser

realizados num padrão global do

se-gmento, tendo em conta o nível da lesão,

uma vez que as lesões acima de D4

apre-sentam diminuição da frequência e output

cardíaco, com consequente redução da

capacidade de trabalho

5

; através de

facili-tação neuromuscular proprioceptiva com

aplicação de resistência máxima que

per-mita o movimento e não aumente o tónus

e estiramentos iniciais para aumento do

estímulo de recrutamento muscular,

uti-lizando comandos verbais e manuais

apropriados. A realização das actividades

funcionais pode ser também uma forma

de promover o fortalecimento.

De forma a facilitar as tarefas anteriores e a

promover um melhor desempenho

fun-cional, é importante a normalização do

tónus para promover um comportamento

muscular adequado em situações de

espas-ticidade ou hipotonia, recorrendo, para a

primeira situação, à mobilização passiva,

educação do utente e cuidadores,

alonga-mentos musculares

6,7

associados à

medi-cação anti-espástica. A hidroterapia tem

revelado resultados quanto à redução

significativa da espasticidade e da

(7)

medi-cação administrada

8

. A estimulação

eléc-trica pode também ser utilizada para a

redução da espasticidade

9

, sendo os seus

efeitos relativamente curtos, tendo no

en-tanto eficácia nas situações de

hipo-tonia

10,11

.

As actividades funcionais devem

iniciar--se pela independência da mobilidade na

cama, sendo ensinadas, numa fase inicial,

num colchão de superfície mais dura do

que a cama, através da potencialização de

padrões de movimento dos membros

superiores e tronco recorrendo à

facili-tação neuromuscular proprioceptiva, na

realização de actividades como o rolar,

sentar e deslocar-se na cama. Nos utentes

com lesões abaixo de C6, deve explorar-se

a capacidade de o utente realizar

auto-mobi-lizações dos membros inferiores.

Em simultâneo, pode ensinar-se a destreza

na CR, quando a força muscular e

equi-líbrio sentado são suficientes,

iniciando--se por tarefas simples, como a

deambu-lação em várias direcções, travar e destravar,

colocar e retirar braços e apoios dos pés

da CR. Segue-se então o ensino de

trans-ferências básicas, em que os desníveis

en-tre superfícies são pequenos, como seja da

CR para a cama, para a sanita e para o carro,

e vice-versa, que deverão ser realizadas de

forma independente para lesões abaixo de

C6, utilizando estratégias diferentes em

função da funcionalidade do membro

su-perior e do tronco. O requisito

primor-dial para as transferências é a capacidade

de elevação da pélvis acima da superfície

de transferência, através dos membros

superiores

4

. Esta elevação irá depender da

força existente e da posição dos membros

inferiores; se apoiados no chão (short

sit-ting), promovem mais elevação, se apoiados

em cima da superfície de transferência (long

sitting) promovem maior estabilidade.

Previamente ao ensino de destreza na CR,

o fisioterapeuta deve proceder à selecção

da CR e posicionamento adequados, tendo

em conta as características pessoais e

clínicas do utente, o ambiente em casa ou

no trabalho e na comunidade, de forma a

minimizar a limitação da actividade e a

restrição da participação social,

promo-vendo conforto e funcionalidade

12

. A

se-lecção da CR implica também a adequação

de uma almofada que preserve a

inte-gridade da pele.

Para os utentes com lesões completas

abaixo de C6, inclusive, a aquisição de

actividades mais avançadas é feita durante

a fase de reabilitação activa avançada, em

que o fisioterapeuta tem como objectivo

atingir níveis de independência na CR

mais elevados, como as transferências para

a banheira e o chão, e a capacidade de

le-vantar as rodas dianteiras mantendo o

equilíbrio nas rodas grandes (cavalinho)

para ultrapassar desníveis com a CR.

Outra actividade importante nesta fase é

a aquisição da posição de pé estática, que

pode ser realizada de forma progressiva

na standing-frame ou CR elevatória aplicável

a todos os níveis de lesão. A posição de pé

dinâmica com objectivos de marcha deve

ser ensinada e treinada nas lesões dorsais

baixas e lombares

4

recorrendo ao uso de

ortóteses longas ou curtas (lesões da cauda

equina) para estabilização dos membros

inferiores, recorrendo-se às barras

para-lelas e progredindo para andarilho ou

canadianas, adoptando o tipo de marcha

mais adequado ao nível de lesão: marcha

semi-pendular para lesões entre D8 e D10;

marcha pendular para lesões entre D11 e

(8)

D12 e marcha com alternância para lesões

abaixo de L1. A independência na marcha

requer a capacidade de assumir a posição

de pé a partir da CR e voltar a sentar; abrir

e fechar portas, subir e descer passeios e

degraus e andar em pisos irregulares, pelo

que o fisioterpeuta deve proporcionar

treino em todos estes ambientes.

Intervenção nas lesões incompletas C e D

Devido à preservação parcial de função

motora abaixo do nível da lesão, a

reabi-litação centra-se na reeducação dos

seg-mentos parcialmente comprometidos e na

reaprendizagem de actividades funcionais

com movimentos coordenados de todo o

corpo

2

. Os objectivos de intervenção na

fase de reabilitação activa poderão ser os

mesmos apresentados para as lesões

com-pletas A e incomcom-pletas B; no entanto, as

estratégias utilizadas para os atingir não

se baseiam no método compensatório mas

na reeducação de padrões selectivos de

movimento nos segmentos

comprome-tidos

4

.

Este método de intervenção baseia-se na

neuroplasticidade do cérebro e medula

espinhal e tem como princípios a

reali-zação repetitiva de tarefas ou parte de

tarefas dentro de padrões de movimento

selectivos, através do estímulo de

pontos--chave específicos

13

. Pode ainda

recorrer--se a procedimentos utilizados para as

lesões completas A e incompletas B; no

entanto, com o objectivo da reeducação

motora dos segmentos inervados abaixo

da lesão. O uso de estimulação eléctrica

muscular é outro procedimento utilizado

na reabilitação da motricidade voluntária,

com consequente melhoria da função

14

e

diminuição da espasticidade

15

. É de

sa-lientar que por vezes, nas lesões

incom-pletas, o principal problema é o tónus

elevado, que compromete o ganho de

funcionalidade

4

.

Ao aplicarem-se estes procedimentos e não

se verificarem evoluções funcionais nas

lesões incompletas C, pode associar-se o

método compensatório de intervenção.

Quando o utente e a família já apresentam

capacidades para retomar a vida familiar,

social e por vezes profissional, é dada alta

clínica e procede-se à reintegração social,

processo este que deverá ter tido início

paralelamente à reabilitação activa e inclui

a adaptação habitacional e/ou do emprego

quando necessário e a garantia de cuidados

continuados.

Novos modelos de inter

Novos modelos de inter

Novos modelos de inter

Novos modelos de inter

Novos modelos de intervenção

venção

venção

venção

venção

da fisioterapia

da fisioterapia

da fisioterapia

da fisioterapia

da fisioterapia

Quando, para além dos aspectos

referen-ciados como determinantes na previsão do

prognóstico e definição de objectivos, é

considerada a hipótese de regeneração

neu-ronal com consequente restabelecimento

da função, o processo de intervenção sofre

modificações do ponto de vista do

prog-nóstico esperado, dos objectivos a atingir

e dos procedimentos técnicos utilizados.

Os últimos avanços da medicina através

das terapias celulares, que se baseiam no

implante de células com capacidades de

diferenciação, proliferação e reparação na

medula lesada, promovem teoricamente

o restabelecimento da comunicação

neu-ronal entre o sistema nervoso central e o

sistema músculo-esquelético. Assim, as

lesões consideradas completas A ou

in-completas B podem, após este

procedi-mento cirúrgico, sofrer alterações quanto

ao diagnóstico clínico e prognóstico

(9)

fun-cional. Estas alterações implicam

neces-sariamente a modificação do modelo de

intervenção do fisioterapeuta.

Quanto aos objectivos e procedimentos

durante a fase aguda, não se verificam

alterações; no entanto, a fase de

reabilita-ção activa passa a ser considerada a fase

pré-operatória com o objectivo de

manu-tenção do trofismo muscular dos

múscu-los paralisados abaixo do nível da lesão,

mesmo em lesões completas A e

incom-pletas B, para preservação de unidades

motoras activas e posterior recrutamento

voluntário, através de mobilização passiva

manual e assistida por bicicleta, treadmill

com suspensão

16,17

e estimulação eléctrica

muscular

18,19,20

. Este tipo de intervenção

facilita a manutenção e aumento das fibras

musculares e o aumento da densidade

óssea

14,20

.

Após a cirurgia, reinicia-se a fase de

reabi-litação activa, agora na fase pós-operatória,

onde os objectivos e procedimentos de

intervenção devem ser semelhantes aos

aplicados em lesões incompletas C e D.

O uso do treadmill com suspensão do peso

em conjunto com a estimulação eléctrica

muscular tem sido alvo de vários estudos

no âmbito da reabilitação funcional das

LVM, onde se verifica um aumento da

dimensão das fibras tipo I e IIa

21

mais

rapidamente em relação aos métodos

manuais

22

. Estes estudos centram-se no

treino de marcha, verificando-se um

au-mento da velocidade e endurance

23

e

conse-quente melhoria da função

14

. O tipo de

estimulação eléctrica utilizada poderá ser

cutânea ou intra-espinhal, sendo a última

mais eficaz

24

.

Estes procedimentos têm como base a

neuroplasticidade dos geradores de padrão

centrais, podendo ser determinantes no

sucesso das terapias celulares

25

.

Além destes procedimentos, os avanços

tecnológicos na construção de CR e

al-mofadas têm contribuído para melhorar

os resultados funcionais obtidos

1

.

Após qualquer dos métodos de

interven-ção adoptados, o seu resultado deve

re-flectir-se na integração social do utente,

com promoção da qualidade de vida.

No entanto, a evidência dos resultados de

intervenção ao nível de integração social

e da eficácia específica de cada

procedi-mento é muito escassa, e os estudos

exis-tentes são na sua maioria de fraca

quali-dade científica, pelo que a eficácia de

qualquer tipo de procedimento não está

ainda cientificamente comprovada

1

, não

podendo, no entanto, deixar de se

con-siderar os achados clínicos que comtinuam

a suportar a intervenção junto a estes

utentes.

Conclusão

Conclusão

Conclusão

Conclusão

Conclusão

A intervenção da fisioterapia apresenta

diversos objectivos e procedimentos nas

diferentes fases da reabilitação de utentes

com LVM.

Durante a fase aguda e para qualquer tipo

e extensão de lesão, bem como dentro de

um programa de reabilitação tradicional

ou de terapias regenerativas, a intervenção

resume-se à prevenção das complicações

da imobilidade e ao recrutamento precoce

de actividade motora.

Esta uniformidade de actuação não se

verifica no entanto na fase de reabilitação

activa. Caso a abordagem seja dentro de

um perspectiva tradicional, recorre-se ao

estímulo da função existente pós-lesão

através de métodos compensatórios nas

(10)

lesões completas, ou de reaprendizagem

motora em função da neuroplasticidade

nas lesões incompletas. Numa perspectiva

de regeneração neuronal e respectiva

fun-ção, recorre-se ao estímulo da função

com-prometida através de métodos mecânicos

mais intensivos associados a prévia terapia

celular regenerativa.

Considerando por um lado o modelo de

intervenção tradicional centrado na

qualidade do movimento no caso das

lesões incompletas, e, por outro, as

inter-venções mais recentes centradas na

quanti-dade do movimento, talvez a combinação

dos dois modelos seja mais vantajosa em

termos de qualidade dos resultados obtidos.

É necessária mais investigação para

com-provar a evidência científica destes

mo-delos de intervenção, quer de uma forma

isolada quer combinada.

Bibliografia

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