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MICOPLASMAS DE PEQUENOS RUMINANTES - AGALAXIA CONTAGIOSA. M. Elisabeth Brandão Laboratório Nacional de Veterinária Estrada de Benfica, 701 Lisboa

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Academic year: 2021

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MICOPLASMAS DE PEQUENOS RUMINANTES - AGALAXIA CONTAGIOSA

M. Elisabeth Brandão

Laboratório Nacional de Veterinária Estrada de Benfica, 701

Lisboa

Resumo

As micoplasmoses dos pequenos ruminantes, assumem actualmente em Portugal uma importância noso-epidemiológica crescente, face à diversidade de espécies de micoplasma já isoladas de diferentes processos patológicos. Os meios actuais de diagnóstico microbiológico estão presentemente bem definidos, embora com frequência surjam problemas na classificação de estirpes principalmente devido a reacções cruzadas que complicam a diferenciação sorológica dessas estirpes. Este trabalho incide sobre a classificação de estirpes de micoplasmas isoladas, com base nos métodos bioquímicos e sorológicos adaptados neste laboratório. Paralelamente recorremos ao método da " Polymerase Chain Reaction " ( PCR ) para a distinção dos dois tipos: LC ( Large Colony ) e SC ( Small Colony ) de Mycoplasma mycoides subsp. mycoides. Preconizam-se também formas de vacinação e de tratamento, assim como medidas de profilaxia sanitária.

Pasteur pôs pela primeira vez a hipótese dum agente filtravel causador da peripneumonia bovina e em 1898 Nocard e Roux isolam o agente causal em meios acelulares. Por sua vez, a agalaxia contagiosa dos pequenos ruminantes é descrita em Itália por Metaxa em 1816, sendo somente em 1922, que Hilbert, Bridre e Donatien demonstram ser o microrganismo causador da doença, descrevendo-o como uma pequena bactéria semelhante à de Nocard e Roux. Na Europa esta doença estende-se pela zona Mediterrânea não deixando, no entanto, de existir noutras regiões do globo. Em Portugal foi pela primeira vez detectada, em 1958 por Lima Moreira num rebanho de caprinos, sendo confirmado o seu diagnóstico em trabalho publicado por Cunha e Melo em 1964. Actualmente encontra-se dispersa por todo o território português com especial incidência nos efectivos animais da Beira Interior e na região da Serra da Estrela (1). É do conhecimento geral que no nosso país a maioria dos animais vive em regime de pastoreio, tendo os pastores o hábito de juntar aos rebanhos dos proprietários animais seus. Tal prática contrariando todas as normas sanitárias torna difícil evitar a transmissão de qualquer doença infecto-contagiosa. A agalaxia contagiosa transmite-se por via horizontal, por contacto entre animais sãos e doentes. O facto dos animais aparentemente curados serem portadores crónicos, torna-os responsáveis pelo caracter enzoótico e insidioso desta doença. Os micoplasmas podem manter-se em estado latente nos gânglios linfáticos retromamários por muitos meses, mesmo durante a gestação, dando-se a invasão sistémica no período da lactação, o que contribuí para a contaminação dos animais jovens.

A agalaxia contagiosa é uma doença infecciosa, ou mais correctamente um sindrome dos pequenos ruminantes, que se manifesta por mamites, artrites e queratoconjuntivites. O agente etiológico é Micoplasma agalactiae. Outros micoplasmas, tais como M. capricolum,

(2)

M. mycoides subsp. mycoides LC e M. putrefaciens, podem ocasionar uma doença com sintomatologia semelhante à agalaxia e acompanhada, na maior parte dos casos, de pneumonia. (Quadro 1).

QUADRO 1

Agalaxia Contagiosa

↓↓

Mycoplasma agalactiae

Outros micoplasmas que podem provocar a doença

↓↓

↓↓

↓↓

M. capricolum M. mycoides M. putrefaciens subsp. mycoides LC

(Large colony)

Clinicamente a doença causada por M. agalactiae manifesta-se por temperatura elevada, inapetência, alteração de consistência do leite nos animais em lactação com um declinio e subsequente falha na produção leiteira, coxeira e, em alguns animais, queratoconjuntivite (4). Às vezes pode ocasionar o aborto nos animais em gestação. M. agalactiae tem sido isolado de lesões vulvo-vaginais nas cabras (6) e também no parênquima pulmonar embora não tenham sido descritas lesões pneumónicas. A bacteriémia é comum em quase todos os casos. A evolução da afecção é aguda com uma evidência clinica quase imediata. Os animais infectam-se, em regra, à nascença quando ingerem leite de mães infectadas, mas o contágio pode ocorrer nos adultos (machos e fêmeas) por simples contacto com os animais doentes, que eliminam o micoplasma pela urina, fezes e sobretudo quando de um aborto ou mesmo de um parto aparentemente normal (secundinas e secreção vaginal). As consequências mais graves desta doença e que são de ordem económica são:

1º infecção à nascença das crias

2º presença de animais portadores crónicos que eliminam os micoplasmas pelo leite e outras vias excretoras

3º perda da produção leiteira

A agalaxia contagiosa é na realidade uma sindrome com um conjunto de sinais clínicos e lesionais multiplos muito variáveis de animal para animal. No que respeita ao envio de material para diagnóstico laboratorial, nos animais vivos este material consiste em leite,

(3)

sangue, exsudado nasal e liquído das articulações. Relativamente aos animais mortos deve-se mandar uberes, gânglios, liquído articular e pulmão no caso de este apresentar lesões. Se existir bacteriémia os micoplasmas também podem ser isolados do fígado, baço e rim. Este material deve ser colhido assepticamente e conservado 3 a 4 dias a - 4ºC ou 4 a 5 semanas congelado a - 20ºC, devendo ser trabalhados num período máximo de 24 horas após a descongelação. Para o isolamento dos micoplasmas segue-se o seguinte protocolo genérico:

- sementeira em meios liquídos e sólidos adicionados de : 20% de soro de cavalo, 10% de extracto de levedura e de 1000 U.I./ml de penicilina.

A incubação é feita em estufa a 37ºC e em semi-anaerobiose (uma mistura gasosa de 5% de CO2 e 95% de ar ou N2 ). A partir daqueles meios e após clonagem para obtenção de culturas puras segue-se o protocolo habitual de identificação dos caracteres culturais, bioquimicos e sorológicos:

- sensibilidade á digitonina, formação de "film and spots", fermentação de glucose, redução dos sais de tetrazolium, hidrólise da arginina, produção de fosfatase, pesquisa do poder proteolítico, e provas sorológicas de inibição de crescimento.

As provas de inibição de crescimento são feitas com soros hiperímunes especificos e de referência (5). As estirpes de micoplasma por nós isolados nos dois últimos anos figuram no Quadro 2. QUADRO 2 M. agalatiae M. mycoides subs. mycoids M. capricolum M. arginini M. sp. M. 2D M. ovipneumoniae Ovinos (leite)

36

5

1-LC

-

-

16

-

1

Ovinos (pulmão)

1

-

-

-

9

-

-Ovinos (zaragatoa vaginal)

6

-

-

-

-

-

-Caprino (pulmão)

6

4

1-LC

-

1

19

-

-Caprino (leite)

23

1-LC

-

-

22

1

-Caprino (liquido sinovial)

2

-

-

-

-

-

-Caprino (zaragatoa vaginal)

1

6

-

-

-

-

(4)

-No decorrer do nossso trabalho isolámos cinco estirpes de Mycoplasma mycoides subsp. mycoides SC (Small Colony) que foram identificadas pelos métodos convencionais e confirmadas posteriormente pela técnica da " Polymerase Chain Reaction " ( PCR ) (2).

Após amplificação do DNA por PCR as cinco estirpes em estudo apresentaram um padrão de restrição enzimática característico do tipo SC e perfeitamente distinto do tipo LC (3) (Quadro 3). QUADRO 3 Espécie Material Sousel Alcains (Lardosa) Santarém( Almoster) Setúbal Alcains (Monforte da Beira) OVINO LEITE + + + PULMÃO CAPRINO PULMÃO + +

Este trabalho põe pela 1º vez em evidência que o Mycoplasma mycoides subsp. mycoides SC até agora considerado agente especifico da Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos provoca sindromes infecciosos nomeadamente mamites e vulvo-vaginites nos pequenos ruminantes.Parece portanto que estamos em presença de uma nova entidade noso-epidemiológico cujo estudo laboratorial e controlo constitui um desafio à nossa capacidade de resposta.

No que respeita ao tratamento, os antibióticos geralmente utilizados em infecções microbianas não são eficazes contra os micoplasmas. Outros tais como os macrólidos e as tetraciclinas têm uma acção que depende da dose de utilização. O tratamento deve ser aplicado com método para que os resultados sejam eficazes.

Um tratamento mal conduzido, mesmo com antibióticos específicos, favorece o desenvolvimento de microorganismos resistentes e torna aleatória a acção de tratamentos posteriores.Só uma administração precoce e continua (desde os primeiros sinais clínicos e pelo menos durante 3 a 5 dias) pode abortar o processo infeccioso. Estas duas condições podem muitas vezes tornar tais tratamentos anti-económicos, compreendendo-se que um produtor hesite em recorrer à antibioterapia face a uma doença que pode recidivar e tornar-se crónica. Uma terapia mal aplicada pode ter um efeito nefasto criando estados portadores dependendo do antibiótico utilizado, da dose e da duração, bem como da aplicação total ou parcial do antibiótico no rebanho. No entanto, não é seguro que mesmo o tratamento bem aplicado elimine todos os microorganismos que podem acantonar-se nas articulações ou nos gânglios provocando reinfecções em estados de “stress” ou outros de condicionalismos ambientais. A terapia pode efectuar-se usando os macrólidos e as tetraciclinas durante 5 dias e nas seguintes doses:

(5)

Terramicina - 5 a 10 mg/kg Eritromicina - 25 mg/kg

Espiramicina - 25 mg/kg (dose inicial 50 mg/kg) Tilosina - 20 a 25 mg/kg

Observa-se que a eficácia da antibioterapia está pendente da gravidade dos casos em questão.

A vacinação tem sido objecto de estudo de numerosos investigadores sem contudo terem chegado a resultados totalmente satisfatórios. Actualmente no L. N. V. utilizamos vacinas com estirpes autoctones de M. agalactiae e de outros micoplasmas (as chamadas vacinas de rebanho), mortas pelo formaldeido e adsorvidas pelo sulfato duplo de alumínio e potássio. A aplicacão da vacina consta de três inoculações subcutâneas de 3 ml cada, sendo as duas primeiras com intervalo de 21 dias e a última dada 90 dias após a segunda inoculação. O período de validade destas vacinas é de mais ou menos um ano.

A profilaxia sanitária como em todas as doencas contagiosas tem grande importância.

As medidas a aplicar serão as seguintes: Em meios infectados:

- Isolamento dos doentes; - Abate dos irrecuperavéis;

- Desinfecção dos locais e do material; - Reformar os curados (anti-económicos);

- Não fazer comercialização ou reprodução de sobreviventes de focos mesmo que aparentem estar curados;

- Regulamentar a circulação de animais. Em meios indemnes:

- Não introduzir animais senão após quarentena.

Bibliografia

1 - ATALAIA, V. & BRANDÃO, E. (1981) - Agalaxia em ovinos e caprinos originada por Micoplasma. Repositório de trabalhos do Inst. Nac. Vet., 13, 79-83.

2 - BRANDÃO, E. (1995) - Isolation and identification of Mycoplasma mycoides subsp.

mycoides SC strains in sheep and goats. Veterinary Record, 136, 98-99.

3 - BRANDÃO, E., BOTELHO, A., BASHIRUDDIN, J.B. and NICHOLAS, R. A. J. (1994). Use of polymerase chain reaction for identification of Mycoplasma mycoides

subsp. mycoides SC isolated from sheep and goats. IOM Letters 3, 24-25.

4 - COTTEW G.S. (1985). Infections with Mollicutes in sheep and goats. In: Infektionen durch Mycoplasmatales .I. Gylstorff, ed. VEB Gustav Fischer Verlag, Jena, pp. 368-386 (Infektions Kran hheiten und ihre Erreger, Bd.21).

(6)

5 - COTTEW G.S. (1983). Recovery and identification of caprine and ovine mycoplasmas. In: Methods in Mycoplasmology. Vol. 2. Diagnostic Mycoplasmology. J. G. Tully & S. Razin, eds. Academic Press, New York, pp. 91-104.

6 - SINGH N., RAJYA B. S. & MOHANTY G. C. (1974). Granular vulvovaginitis (G.V.V.) in goats associated with Mycoplasma agalactiae. Cornell Vet., 64, 435-442.

Referências

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