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N.º 5 INFORMAÇÃO TÉCNICA SOBRE PEQUENOS ANIMAIS. Etologia

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Academic year: 2021

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CONSELHO CIENTÍFICO DIRETOR TÉCNICO: Enrique Ynaraja.

COLABORADORES EM PORTUGAL: Maria João Costa, Pimentel de Carvalho, Carla Guerra, Rui Oliveira, Elizabete Martins, Sandra Ferreira, Manuel Santana, Anabela Almeida.

ANESTESIA: Antonio González. HV Rof Codina. CARDIOLOGIA: Joaquín Bernal. Cardiovet. Laín García. CARDIORESPIRATÓRIO: Montserrat Jorro. HV Molins. CIRURGIA: Joaquín Sopena. UCH-CEU, Valencia. José Rodríguez. FV de Zaragoza.

CIRURGIA DE MÍNIMA INVASÃO: Jesús Usón. CCMI. COMPORTAMENTO:

Xavier Manteca. FV de Barcelona.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: Mariano Morales. Laboratorios

Albéitar.

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM:

Ecografia: Susana Serrano Sobrino. CV Los Madrazo. Radiologia: Amalia Agut. Dipl. ECVDI. FV de Murcia. DERMATOLOGIA:

Ana Ríos. Centro Médico Veterinario. Maite Verde. Servicio de Dermatología, FV Zaragoza. ENDOCRINOLOGIA: Carlos Melián. CV Atlántico. ENDOSCOPIA: Vicente Torrent. IME.

EXÓTICOS: Albert Martínez. Centro CRARC-COMAM. Jordi Grifols. Hospital Zoologic de Badalona.

Andreu Riera. HV Molins. Beatriz Álvarez Carrión. CV Camaleo. GASTRENTEROLOGIA: Jaume Rodón. Vet Lab, S.L. GERIATRIA: Manuel Morales. Facultad de Veterinaria ULPGC. MEDICINA FELINA: Mª Luisa Palmero. CV Gattos. GEMFE. MEDICINA INTERNA: Ana Mª Montes Cepera. FV Murcia. José Ramón García. CV San Francisco de Asís. Alberto Montoya. Facultad de Veterinaria ULPGC.

NEUROLOGIA: Xavier Raurell. HV Molins. Paloma Toni. FV de Madrid. NUTRIÇÃO: Cecilia Villaverde.

ODONTOLOGIA: Soledad Montes. Cardiovet. Javier Collados. Servicio Móvil de Odontología. ONCOLOGIA: Miguel Laporta. HV Molins.

PARASITOLOGIA: Juan Antonio Castillo. FV de Zaragoza. REPRODUÇÃO E OBSTETRÍCIA: Pedro García. FV Lugo. TOXICOLOGIA E FARMACOLOGIA: Arturo Anadón. FV de Madrid. TRAUMATOLOGIA E NEUROCIRURGIA:

Tomás Fernández. Centro Médico Veterinario. Ramón Sever. Policlínica Veterinaria Rover.

Clínica Animal

Vol. 3

N.º 5

Empresa editora: Publicações Ciência e Vida Editor: António Simões Publicidade e MKT: Sofia Carrondo

Impressão: Publicações Ciência e Vida PUBLICAÇÕES CIÊNCIA E VIDA, LDA.

Av. da Igreja, N.º 37 C, 13.º Atelier Dto. 1700-233 Lisboa

Tel. 21 478 78 50 – Fax 21 402 07 50 E-mail: pub@cienciaevida.pt GRUPO ASÍS BIOMEDIA S.L.

Centro Empresarial El Trovador, planta 8, oficina I – Plaza Antonio Beltrán Martínez, 1

50002 Zaragoza – Espanha

Tel. (0034) 976 461 480 – Fax (0034) 976 423 000 E-mail: asis@grupoasis.com

A revista Clínica Animal tem secções comuns à revista Argos, que é uma marca registada, propriedade do Grupo Asís Biomedia, S.L., com sede social no Centro Empresarial El Trovador, planta 8, oficina 1, em Saragoça, Espanha.

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Isenta de registo no ICS nos termos da alínea a) do n.º 1 do Artigo 12.º do Decreto Regulamentar n.º 8/99, de 9 de Junho.

Isenta de Depósito Legal e ISSN, por se tratar de uma edição exclusivamente digital.

Periodicidade: Bimestral

Tiragem: Por se tratar de uma edição exclusivamente digital, a tiragem tem um caráter ilimitado.

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Glossectomia parcial por carcinoma de células escamosas no cão

24

Manejo nutricional de um gato obeso com diabetes

mellitus felina

CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

Problema do medo a ruídos fortes em cães ...

6

Enriquecimento ambiental na espécie felina ...

10

Condutas compulsivas ...

14

PRÁTICA CLÍNICA

Glossectomia parcial por carcinoma de células

escamosas no cão ...

20

Manejo nutricional de um gato obeso

com diabetes mellitus felina ...

24

Uso de um neuroestimulador para a localização do espaço epidural no espaço sacrococcígeo

para OHE numa gata ...

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Intoxicação por Clostridium botulinum num cão ...

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MARKETING

Estandardização da consulta ...

36

ROYAL CANIN

A alimentação pode ajudar o gato e o cão

a recuperar o equilíbrio emocional? ...

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CAPA / PRÓXIMOS NÚMEROS

Nov./Dez.

Patologia ocular

Data limite para a recepção da informação: 30 de Novembro de 2015.

Jan./Fev.

Clínica de reprodução

6

CAPA Etologia em pequenos animais

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“422...”

Raramente nos dias de hoje temos a possibilidade de refletirmos tranquilamente sobre o nosso

lugar no mundo. Dispormos daquele momento que nos permite, sem o stress do dia ‑a ‑dia,

fazermos uma introspeção sobre a forma como agimos e nos colocamos na sociedade.

Será a mais correta? Farei tudo aquilo que está ao meu alcance? Até onde posso ir? Estou atento

ao que me rodeia?, etc.

António Simões Diretor Clínica Animal

H

á uns dias, depois de ler um artigo sobre o número de árvores que existem no planeta, dei­ ­me conta que nunca tinha olhado para esta questão tal como era colocada.

De facto, só reparamos nas árvores quando precisamos de uma sombra, ou quando, por qualquer motivo, ela “choca” connosco, seja pela sua dimensão, cor ou formato.

Nas voltas matinais que dou para passear o meu companheiro de há quase sete anos, é inevitável que este escolha as árvores para fazer as suas necessidades e marcar o seu território. Vivendo num local muito aprazível, onde existem felizmente muitas árvores, fiquei a saber que afinal não são assim tantas. Aliás, são até muito poucas.

Segundo um estudo publicado na revista Nature, existem em todo o mundo mais de 3 triliões de árvores, um número sete vezes superior ao estimado anteriormente, e, todos os anos surgem mais 5 mil milhões de novas árvores. Estas são as boas noticias. A má notícia é que são destruídas todos os anos 15 mil milhões. Neste momento já foram destruídas quase metade das árvores existente no planeta, ou seja, 46% do total. Em Portugal, segundo este estudo, existem 3126 milhões.

A nova medição não veio acrescentar novas árvores, nem apresentou novos dados sobre o que se conhece da vegetação do planeta. Apenas se limitou a ser mais rigorosa, não afastando qualquer cenário negativo até então apresentado sobre a desflorestação global e o seu impacto ambiental.

O estudo envolveu investigadores de 15 países, recolha de dados no terreno e medições via saté­ lite.

Sendo as árvores um dos organismos mais importantes da terra, cuja armazenagem de carbono e a importância para a reciclagem do ar e da água ainda não são totalmente conhecidos, estes números vão permitir segundo o coordenador do estudo, Thomas Crowthe, compreender a pressão humana sobre a floresta.

O estudo, segundo Crowthe, poderá ajudar a calcular melhor a quantidade de carbono que é re­ colhido pelas árvores, atrasando o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, fenómeno que provoca o aquecimento global que muitos teimam em ignorar.

As consequências do corte de árvores é em parte conhecido. No Brasil, por exemplo, o aumento da seca piora de ano para ano. Nos EUA, em particular na Califórnia, as temperaturas têm vindo a aumentar, batendo recordes.

Segundo os especialistas da Organização Meteorológica Mundial, o fenómeno do El Nino vai fa­ zer­se sentir com particular intensidade este inverno, entre os meses de Outubro e Janeiro.

Posto isto e feitas as contas, chegamos assim a um número, 422. É um número que não dirá nada a muita gente, mas diz respeito a todos nós. É o número de árvores no planeta que cada ser humano tem disponível para si.

Provavelmente nunca tinha pensado no problema desta maneira, mas quando sair ou for passear o seu amigo de quatro patas, olhe ao seu redor e chegará à mesma conclusão do que eu.

Consoante o lugar onde vivam, uns terão mais árvores ao seu redor, outros menos, dependendo do nível de humidade, temperatura e pressão humana. Assim, talvez seja boa ideia, pressionar a sua Junta de Freguesia ou Câmara Municipal para plantar mais árvores. Já reparou que, havendo tantas ao nosso redor, afinal não são assim tantas…. Já reparou nos imensos espaços que existem sem ár­ vores?

Está na hora de colocarmos de lado a conversa e fazermos alguma coisa para o nosso bem e de todos os seres vivos.

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A área de etologia em pequenos ani-mais é por vezes subestimada. Inicia-mos esta secção com um artigo que nos fala da fobia dos cães a determi-nados sons fortes e o modo como a podemos controlar. De seguida, apresentamos um artigo que explicita os tipos de enriquecimento ou estí-mulos que contribuem para otimizar a qualidade de vida dos gatos e final-mente é abordado o tema das con-dutas compulsivas e do seu enfoque terapêutico para as controlar.

Capa

Etologia em

pequenos animais

A reação de medo exagerada não é adaptativa, e pode mesmo chegar a constituir um problema sério de bem -estar no animal que dele padece. A prevenção da fobia é o ideal, mas, tendo já surgido, as terapias curativas e paliativas permitem controla -la.

Camino García-Morato Fernández-Baíllo

Veterináia, Mestre em Etologia Clínica pela UAB. Residente ECAWBM. Departamento de Ciência Animal e dos Alimentos da Faculdade de Veterinária da Universidade Autónoma de Barcelona (Serviço de Etologia)

O medo é uma emoção que induz uma resposta de adaptação que permite ao animal evitar situações e atividades que poderiam ser perigosas (1). Para que o medo seja adap­ tativo, apenas deveria surgir naquelas cir­ cunstâncias que realmente ameacem a segu­ rança do animal.

Contudo, também encontramos animais nos quais a resposta de medo é despropor­ cionada face a um determinado estímulo. Neste caso estaríamos a falar de fobias (2). A fobia mais frequente nos cães é, provavel­

mente, a fobia a ruídos intensos, tais como o dos trovões, ou os sons provocados pela ex­ plosão de petardos ou algo similar. As reações dos cães variam de intensidade, desde uma ligeira intranquilidade, a uma autêntica reação de pânico, que inclui comportamentos de evitação ativa, tremores, bem como arfar in­ tenso, salivação e vocalizações intensas (3).

Este problema pode surgir durante os pri­ meiros anos de vida e piora ano após ano. Isto é devido ao facto de que uma das carac­ terísticas das fobias é que não respondem a um processo de habituação normal. Ou seja, ainda que o estímulo que desencadeia a fo­ bia se apresente de forma repetida sem con­ sequências negativas para o animal, a respos­ ta de medo não só não desaparece, como inclusive pode aumentar (4). Esta reação de medo exagerada não é adaptativa, e chega a causar um sério problema de bem ­estar ao animal que dele padece (5).

Problema do medo

a ruídos fortes

em cães

Durante o protocolo deve evitar-se na medida do possível a exposição ao estímulo real desencadeante da fobia. Portanto, recomenda-se iniciar este programa em períodos do ano durante os quais não se prevejam eventos desagradáveis para o cão.

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Desenvolvimento e permanência da fobia

É importante conhecer os fatores que in­ tervém no desenvolvimento e permanência das fobias a ruídos fortes, com o objetivo de compreender porque é que aparece este pro­ blema de comportamento e como se pode prevenir. Os fatores que se devem ter em conta são os seguintes:

Processos que aumentam gradualmente (sensibilização)

A sensibilização consiste num aumento da resposta a um estímulo devido à apresenta­ ção repetida deste, ou seja, a resposta do animal é cada vez mais intensa (7,8). Além disso, no caso das fobias a trovoadas e a petardos, a duração e a intensidade dos estí­ mulos não é constante. Por exemplo, no caso dos petardos pode surgir de uma forma pon­ tual, ou vários seguidos; pode ocorrer duran­ te um breve período – como nas celebrações por um êxito desportivo, por exemplo, ou durante todo o dia, ou inclusive vários dias, como é o caso de algumas festividades em algumas localidades. Portanto, o cão não é capaz de predizer a duração nem a intensi­ dade que vão ter esses estímulos aversivos cada vez que eles ocorrem. Esta falta de pre­ visibilidade provoca que, ainda que estes estímulos fóbicos tenham a sua expressão mínima, a resposta do animal é despropor­ cionada dado que antecipa uma intensidade e duração maiores.

Estímulos compostos

Quando diferentes estímulos se apresen­ tam sempre juntos, formam uma configura­

ção de estímulos (8,9). No caso das trovoa­ das, por exemplo, o estímulo aversivo do som pode ser acompanhado por outros eventos, como alteração de luminosidade, alterações na humidade e na pressão atmos­ férica ou na intensidade da chuva, entre ou­ tros. Muitos animais acabam por associar qualquer destas alterações ao evento fóbico na sua máxima intensidade (“a grande tem­ pestade”), de modo que a sua resposta é exagerada em comparação com o estímulo que realmente surge, por exemplo, apenas um dia chuvoso. Portanto, a resposta do ani­ mal será desproporcionada inclusive nos mo­ mentos em que apenas apareça um dos ele­ mentos da configuração de estímulos.

Ineficácia das respostas comportamentais

Os comportamentos de evitação por parte do animal procurando um lugar no qual a exposição ao estímulo fóbico seja inferior, po­ dem não resolver a situação aversiva (2,3,6). Os estímulos que induzem o medo chegam ao sistema nervoso central através dos órgãos sensoriais (10). Durante o acontecimento fó­ bico, o cão percebe os múltiplos estímulos da configuração através dos diferentes sentidos (visual, auditivo, olfativo e inclusive tátil), de uma forma continuada. Portanto, estão expos­ tos permanentemente à situação atemorizante e esta circunstância limita as estratégias de enfrentamento do animal.

Representação dos nove ruídos que provocam com maior frequência a sensibilização numa população de 1.516 cães (agudo vs. gradual) [6] Sherman e Mills 2008 Canine anxieties and phobias:

An update on separation anxiety and noises aversions. VetClin North Am 38, 1081-1106.

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Fogos de artifício (836) Trovoadas (817) Disparos (430) Motores (198) Batidas de portas (161) Espantalhos (57) Petardos (160) Aspiradores (160) Vozes altas (208) x% n Agudo n Gradual Camino Gar cía-Morato Fer nández-Baíllo

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Como prevenir o aparecimento da fobia?

Devido às características no desenvolvi­ mento deste tipo de fobias, o tratamento nos cães já sensibilizados pode ser complicado. Por este motivo convém enfatizar a importân­ cia da prevenção (11). Para reduzir a proba­ bilidade de que os cães tenham fobia às tro­ voadas e aos petardos, dever ­se ­iam evitar as experiências negativas durante os primeiros meses de vida do cachorro (12). Aliás, con­ vém antecipar ou começar a fazer a habitua­ ção do cachorro a todos os elementos que constituam a configuração de estímulos aver­ sivos, tanto das trovoadas, como dos petardos ou fogos ­de ­artifício.

Procura ­se descompor o evento aversivo, por exemplo, a trovoada, nos seus compo­ nentes e habituar o cachorro aos mesmos. Como fazê ­lo:

Habituação ao som

• Utilizar um DVD com gravações de ruídos de trovoada.

• Associar a reprodução dos sons, primeiro de baixa intensidade, com atividades agradáveis para o cão, como um jogo ou a comida.

• Progressivamente, sempre que o cachorro não reaja com intranquilidade ou medo, pode ­se ir aumentando o volume do som ao longo dos dias.

Habituação ao resto dos estímulos associados à trovoada

• Aproveitar os dias nublados ou de chuva (sem trovoada) para realizar atividades ao ar livre com o cachorro e, de novo, intro­ duzir elementos que gostem, como um jogo com o proprietário ou a comida, por exemplo.

• Após sucessivas repetições, estes elemen­ tos da configuração de estímulos da tro­ voada (luz, humidade, chuva e pressão atmosférica, entre outros), passarão a ser o sinal das atividades divertidas para o cão.

O que fazer no caso de cães já sensibilizados?

Existem duas estratégias face a um proble­ ma de medo a ruídos fortes:

Terapias curativas

O seu objetivo é erradicar a resposta de medo, ou seja, que o cão deixe de se assustar com os petardos e/ou as trovoadas. Para o conseguir, aplicam ­se técnicas de dessensibi­ lização nas quais são utilizadas gravações de sons aversivos (13). Deve advertir ­se o pro­ prietário que o processo pode ser longo e complexo, e pode não ter necessariamente os resultados esperados.

Em geral, o êxito destes programas de ha­ bituação é muito variável e depende, entre

outros fatores, da fidelidade com que se pos­ sa recrear o estímulo que desencadeia a fobia. Com frequência, os animais não identificam o som de DVD como real (2,3,4,13). Isto pode ser minimizado utilizando equipamentos de som de alta qualidade e situando ­se próximos de uma janela, de forma que o ruído chegue do exterior da casa. Em qualquer caso, de todos os elementos da configuração de estí­ mulos que constituem a trovoada ou os pe­ tardos, unicamente podemos tentar controlar o sonoro, e isto limita o êxito desta estratégia.

Por outro lado, convém assinalar que du­ rante o protocolo deve evitar ­se na medida do possível a exposição ao estímulo real de­ sencadeante da fobia. Portanto, recomenda­ ­se iniciar este programa em períodos do ano durante os quais não se prevejam eventos desagradáveis para o cão.

Terapias paliativas

O seu objetivo não é eliminar o medo, mas sim controlar a sua intensidade quando surge.

A base do tratamento é a administração de medicação ansiolítica no momento, ou, se possível, antes de surgir o estímulo que as­ susta o cão. As benzodiazepinas resultem bem nestes casos, já que, para além de apre­ sentarem propriedades ansiolíticas, têm efei­ tos amnésicos que nestas situações nos po­ dem interessar (14). Não se aconselha o uso de acepromazina para o tratamento de fobias a ruídos. Este fármaco dificulta a capacidade motora do animal, mas o cão continua a per­ ceber todos os estímulos atemorizantes do ambiente, podendo assim aumentar a sensi­ bilidade do animal aos ruídos.

Além disso, convém levar a cabo a criação de uma zona de abrigo. Como referimos an­ teriormente, os trovões e os petardos são es­ tímulos que um cão dificilmente pode evitar. Uma das poucas estratégias ao alcance do cão será esconder ­se, para assim reduzir a presen­ ça e intensidade daquilo que o assusta. O proprietário deve ajudar assim o seu cão a encontrar um refúgio longe da fonte de ruído, onde se possa sentir mais seguro. Se o pro­ prietário nota que o seu cão, em dias de tro­ voada ou de festa com petardos, se vai escon­ der de forma natural, numa determinada zona da casa (normalmente zonas mais interiores), pode colocar ali a cama e alguns brinquedos do seu animal. Também pode ajudar o facto de se fecharem as janelas ou os estores, ou pôr música a tocar, ou ainda subir um pouco o som do televisor, para assim amortecer um pouco o som que vem de fora. o

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Renata Velasco

Responsável pelo Departamento de Etologia Clínica e membro da equipa médica do H.V. Montjuic

Imagens cedidas pela autora

Enriquecimento ambiental

na espécie felina

Os gatos são particularmente sensíveis ao stress, que pode levar a alterações do seu comportamento. A melhoria do seu bem -estar com estímulos ambientais necessários para otimizar a sua qualidade de vida contribui para evitar que se desencadeiem fatores stressantes nesta espécie.

O enriquecimento ambiental no cuidado dos animais em cativeiro permite a melhoria do seu bem ­estar, tanto físico como psicoló­ gico, identificando e proporcionando estímu­ los ambientais necessários para otimizar a sua qualidade de vida.

Enquanto determinadas espécies parecem estar obrigadas a viver em grupos sociais toda a sua vida, outras há que se adaptam a viver também como indivíduos solitários, e entre estes últimos, encontra ­se o gato doméstico.

O enriquecimento ambiental na espécie felina deve tentar sempre o respeito pelo seu etograma, ou seja, o que, em termos gerais, seria o inventário dos seus comportamentos.

Os gatos são animais especialmente sensí­ veis ao stress, que tem uma relevância clínica muito notória e pode conduzir a alterações problemáticas no seu comportamento, não só para o animal, como também para o seu proprietário.

Proporcionar um ambiente adequado pode contribuir para prevenir, melhorar e/ou resolver este stress e problemas tais como a obesidade, a ansiedade, comportamentos es­ tranhos, alterações nos hábitos de higiene, marcação com urina, falta de apetite, agressi­ vidade, etc.

O veterinário deve entender o comporta­ mento do felino e relaciona ­lo com as neces­ sidades do seu contexto, para poder enquadrá ­lo na expressão dos seus compor­ tamentos naturais e ser capaz de o expor na clínica diária.

O comportamento do gato doméstico tem muitas similitudes com o do seu ancestral selvagem Felis lybica. Necessita que o seu

território seja um local conhecido, estável e controlado, promovendo a redução do stress. Se o gato se sente ameaçado, recorrerá a mecanismos de fuga, luta ou tenderá a mas­ carar ou ocultar sintomas de debilidade e/ou doença. Se formos capazes de criar um con­ texto adequado, poderemos intensificar o seu bem ­estar.

Tipos de enriquecimento

O aporte de qualquer estímulo que suscite o interesse do gato de modo positivo pode ser considerado como enriquecimento, in­ cluindo objetos naturais ou artificiais, diferen­ tes aromas, alimentos novos, introdução de novos membros da sua espécie ou de outras.

Os estímulos de enriquecimento ambiental para o gato doméstico dividem ­se em cinco grupos fundamentais: sensoriais, alimenta­ ção, manipulação, contexto e social. Sensoriais

Estímulos para intensificar os sentidos vi­ suais, olfativos, táteis e gustativos. O objetivo que procuramos é motivar o nosso gato a que explore e investigue.

Olfato

Centramo ­nos sobretudo no olfato, já que a informação captada por este sentido é primordial para os felinos. O órgão vome­ ronasal, localizado no palato duro como aparelho olfativo auxiliar, deteta as feromo­ nas, substâncias ou mistura de substâncias que transmitem informação entre indiví­ duos da mesma espécie e que são utilizadas pelos gatos para se comunicarem com os seus congéneres e para potenciar o reco­ nhecimento do território como próprio, criando assim uma maior sensação de se­ gurança e conforto.

Devemos evitar substâncias que sejam agressivas para o nosso gato, e odores dema­ siado fortes (produtos de limpeza, detergen­ tes, substâncias corrosivas). Pode ser reco­ mendável a utilização de feromonas sintéticas

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felinas, cuja finalidade é a de potenciar a sensação de segurança e comodidade, o que contribui para a redução do stress. Devemos também evitar a limpeza excessiva daqueles lugares nos quais o gato depositou as suas marcas faciais e corporais.

Se o gato sente odores ou feromonas que identifique como uma ameaça, podem desencadear ­se os problemas que foram re­ feridos anteriormente, tais como os derivados de uma eliminação desadequada (marcação com urina), agressividade, alterações no com­ portamento de alimentação (anorexia, exces­ so de fome ou outros problemas), doenças das vias urinárias inferiores ou inclusive, con­ dutas compulsivas.

Visão

Relativamente aos estímulos visuais, na­ queles gatos sem acesso ao exterior, é con­ veniente que o espaço do animal disponha de pelo menos uma janela, e, se as condições assim o permitirem, que tenha acesso a um pátio, permitindo assim o desenvolvimento de condutas baseadas na observação de pre­ sas ou inclusive a caça das mesmas. Alimentação

O objetivo é apresentar o alimento de ma­ neira que obrigue o gato a investigar, mani­ pular e trabalhar para o conseguir obter, o que não significa que não haja comedouros e bebedouros à sua disposição.

Na natureza, os felinos desenvolvem a ati­ vidade de caça com uma taxa de êxito baixa quanto à obtenção da sua presa. É por isso que, nestas condições, existe um equilíbrio relativamente ao controlo do peso. No caso do gato doméstico, o alimento é ­lhe propor­ cionado sem qualquer esforço. Requer assim uma alimentação ad libitum controlada, de modo que tenha à sua disposição pequenas quantidades de alimento, em diferentes reci­ pientes, e a diferentes alturas para promover a sua mobilidade e ter, desta maneira um controlo de peso, como ocorre com o seu homólogo selvagem.

Podemos recorrer a métodos que favore­ çam a localização e a captura do alimento através de sistemas mais ou menos sofistica­ dos para a sua obtenção (existem no merca­ do diversos sistemas, por exemplo, bolas dispensadoras de comida, que lhe dispensam o alimento quando rodam).

Naqueles locais onde existe mais do que um gato, podemos proporcionar lugares de alimentação individual, para favorecer a pri­ vacidade e evitar o stress associado à compe­ tição pelo alimento.

Se existe acesso a um pátio exterior ou algo similar, podem ­se incluir fontes ou reci­ pientes para recolher a água da chuva. Den­ tro de casa, podem ­se colocar pequenas fon­ tes de água, sempre e quando estejam longe da zona de alimentação.

Em todos os casos, o acesso ao alimento deve ser sempre relativamente fácil, já que de contrário, podemos provocar ­lhe um estado de frustração. O que se procura, uma vez mais, é a redução do stress e as alterações derivadas do mesmo, favorecendo a conduta exploratória e a brincadeira.

Manipulação

Consiste em proporcionar elementos que os gatos possam manipular com as suas ex­ tremidades, boca, cabeça, etc., dando origem, novamente, ao comportamento de explora­ ção e de jogo. Neste sentido, podemos proporcionar ­lhes brinquedos, opções de interação com o proprietário e outros animais no caso de existirem, e inclusive podemos incluir dispositivos que favoreçam a procura ativa do alimento.

Pode ­se recorrer à utilização de brinque­ dos tipo cana de pesca, em cuja extremidade se coloca um objeto com plumas ou algo

similar, que faça o felino brincar com ele. Deste modo, conseguimos que o gato o pos­ sa atrair para si, mordê ­lo, arranhá ­lo ou cra­ var as suas unhas. É possível utilizar brinque­ dos de tamanhos diferentes, texturas, consistências, cores, tudo isto para atrair o animal.

A rotação dos brinquedos é mais aconse­ lhável do que ter muita quantidade deles, isto porque os gatos normalmente aborrecem ­se com situações previsíveis. Se há mais do que um gato, deveremos ter brinquedos suficien­ tes para evitar o conflito pela posse dos mes­ mos.

É interessante saber que um sinal de bem­ ­estar felino baseia ­se na existência da ativi­ dade lúdica, inclusive quando o gato já não é tão jovem. Obviamente que a intensidade das brincadeiras em adulto já não é tanta como em etapas mais precoces.

Podemos recorrer à comida como imitação do comportamento predatório, escondendo o alimento ou lançando pequenas bolinhas de ração para que o gato as cace.

Se inibimos algumas destas condutas, tere­ mos animais frustrados, com alterações a nível orgânico e inclusive animais com um alto nível de agressividade.

Tipos de enriquecimento ambiental

Sensorial Explorar o meio ambiente através da informação olfativa. Alimentação Apresentar o alimento para favorecer a conduta exploratória e a brincadeira. Manipulação Proporcionar recursos ambientais para reduzir o risco de stress e as doenças derivadas do stress.

Contexto Satisfazer as necessidades vitais do gato, respeitando e favorecendo os recursos chave. Social Interação gato-gato, gato-proprietário ou gato-cão.

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Contexto

Consiste na melhoria do habitat do animal, estabelecendo diferentes áreas destinadas ao descanso, à eliminação, à alimentação, ao recreio e exercício, tudo isso dentro de um contexto no qual o gato se sinta seguro, ou seja, um lugar no qual não se sinta ameaçado.

Podemos proporcionar ao gato estruturas para poder fugir ou esconder ­se, tais como caixas de cartão de acesso fácil e inclusive o seu próprio transportador (com uma habitua­ ção adequada). Neste tipo de estruturas permite ­se resguardar ou simplesmente pode utiliza ­las para descansar, lavar ­se, etc.

Os locais com uma certa elevação, as pla­ taformas ou estantes – sobretudo as verticais, permitem trepar e realizar marcação com as suas unhas. Podem também utilizar ­se árvo­ res, cordas, estruturas de descanso apoiadas em aquecimentos, etc. Qualquer opção é válida, sempre e quando cumpra com as ne­ cessidades do felino.

Naqueles lugares nos quais haja mais do que um gato, teremos de dispor de tantos locais seguros, como do número de gatos existente, de modo a que possam descansar individualmente.

Outro dos recursos chave neste grupo é a existência de bandejas de eliminação. Deve­ riam ter dimensões de acordo com o tama­

nho do felino, com areia ou substrato ade­ quado (geralmente têm preferência por areias finas e não perfumadas), e a localiza­ ção será escolhida minuciosamente: longe de lugares de passagem, de comedouros e be­ bedouros, ou daquelas localizações que não proporcionem tranquilidade e/ou privacida­ de. O número de bandejas será sempre uma por gato, mais outra. Ou seja, se tivermos dois gatos, seria bom dispormos de três ban­ dejas. A sua limpeza será diária e a renovação total do substrato será de, pelo menos, uma vez por semana.

Não podemos omitir a existência de um rascador ou de uma zona para desgastar as unhas, pois este comportamento faz parte da sua conduta natural.

A separação dos recursos e a introdução de novos estímulos no habitat do gato reduz o risco de stress e favorece as necessidades vitais do felino.

Social

Consiste em proporcionar relações intraes­ pecíficas (com outros congéneres) e interes­ pecíficas (com humanos ou outras espécies animais).

Relações intraespecíficas

A incorporação de um novo membro feli­ no numa casa pode ser muito benéfica se se tiver em consideração um adequado e corre­ to protocolo de reintrodução. É possível que os dois felinos se convertam em companhei­ ros inseparáveis, ou em inimigos potenciais. As condutas afiliativas, como o descanso, mantendo o contacto físico, o allogrooming (higiene mútua), ou o allorubbing (o ato de se roçar no outro indivíduo), etc., são indica­ tivas de compatibilidade. No final, tudo de­ penderá do grau de sociabilidade de cada um, do contexto e do resultado na apresen­ tação dos animais.

Relações interespecíficas

No que se refere às relações com os huma­ nos, o gato doméstico é capaz de estabelecer uma forte ligação com uma ou várias pessoas, e o contacto regular e amistoso manifesta ­se em comportamentos positivos, com uma re­ dução considerável do fator stress. Os gati­ nhos deveriam começar a relacionar ­se com as pessoas durante o denominado período de sociabilização (desde as 2 até às 7 ­9 semanas de vida). O contacto físico com as pessoas durante esse período, sempre e quando seja amistoso e regular, dá origem a animais adap­ táveis na etapa adulta e com uma menor pre­ disposição para o stress.

Não se deveriam forçar as interações com o gato, e os contactos devem ser curtos, com pequenas e suaves carícias. À medida que o gato cresce e envelhece, as necessidades de interação podem variar quanto à intensidade e à duração condicionadas por alterações pró­ prias da etapa de desenvolvimento na qual se encontre (existência de doenças, dores, etc.).

Por último, o enriquecimento social pode ­se realizar através da introdução de um compa­ nheiro canino. O ideal seria promover o contac­ to precoce, tal como ocorre com a sociabilização dos humanos. Um gato que cresce com um cão, não o considerará no futuro como um predador. Se introduzimos um cão num território onde já existe um gato, a apresentação deve ser gradual, para evitar situações de instabilidade que alte­ rem o equilíbrio de ambas as espécies.

Em resumo, o enriquecimento ambiental consistem em satisfazer as necessidades me­ dio ambientais do gato, que conduzam ao seu bem ­estar, tanto físico, como psicológico, respeitando a expressão das condutas natu­ rais, próprias da sua espécies. o

Bibliografia disponível em www.argos.

grupoasis.com/bibliografias/ ambiental169.doc

NexGardTM 11 mg comprimidos mastigáveis para cães → 2 ‑4 kg; 28 mg comprimidos mastigáveis para cães → 4 ‑10 kg; 68 mg comprimidos mastigáveis para cães → 10 ‑25 kg; 136 mg comprimidos

mastigáveis para cães → 25 ‑50 kg. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA Substância activa: Cada comprimido mastigável contém Afoxolaner (mg): para cães 2 -4 kg – 11,3 mg; 4 -10 kg – 28,3 mg; 10 -25 kg – 68,0 mg; 25 -50 kg – 136,0 mg. Excipiente: Sorbato de potássio (E202) 3 mg/g. FORMA FARMACÊUTICA Comprimidos mastigáveis. Matizados, de cor vermelha a castanho avermelhado, com forma circular

(comprimidos para cães 2-4 kg) ou com forma rectangular (comprimidos para cães 4 -10 kg, comprimidos para cães 10-25 kg e comprimidos para cães 25 -50 kg). INFORMAÇÕES CLÍNICAS Espécie(s)‑alvo

Caninos (Cães). Indicações de utilização, especificando as espécies‑alvo Tratamento de infestações por pulgas em cães (Ctenocephalides felis e C. canis) durante pelo menos 5 semanas. O medicamento

veterinário pode ser administrado como parte de uma estratégia de tratamento para o controlo da Dermatite Alérgica por Picada de Pulga (DAPP). Tratamento de infestações por carraças em cães (Dermacentor

reticulatus, Ixodes ricinus, Rhipicephalus sanguineus). Um tratamento mata carraças até 1 mês. As pulgas e as carraças devem estar fixas no hospedeiro e começar a alimentação, para serem expostas à substância

activa. Para as pulgas (C. felis), o efeito ocorre dentro de 8 horas após a fixação. Para carraças, o início do efeito (morte) ocorre dentro de 48 horas após a fixação. Contra ‑indicações Não administrar em caso

de hipersensibilidade à substância activa ou a algum dos excipientes. Advertências especiais para cada espécie‑alvo Os parasitas precisam de começar a sua refeição no hospedeiro para ficarem expostos ao

afoxolaner, por conseguinte o risco de transmissão de doenças transmitidas por parasitas não pode ser excluído. Precauções especiais de utilização Precauções especiais para utilização em animais: Na ausência

de informação disponível, o tratamento de cachorrinhos com menos de 8 semanas de idade e/ou cães com menos de 2 kg de peso corporal deve ser baseado na avaliação benefício/risco realizada pelo médico veterinário responsável. Precauções especiais a adoptar pela pessoa que administra o medicamento aos animais: Para prevenir que as crianças tenham acesso ao medicamento veterinário, remova apenas um comprimido de cada vez do blister. Volte a colocar o blister com os restantes comprimidos mastigáveis na caixa. Lavar as mãos após a manipulação do medicamento veterinário. Reacções adversas (frequência e gravidade) Nenhumas. Utilização durante a gestação e a lactação Os estudos de laboratório efectuados em ratos e coelhos não produziram qualquer evidência de efeitos teratogénicos, ou qualquer efeito na

capacidade reprodutiva nos machos e nas fêmeas. A segurança do medicamento veterinário não foi determinada durante a gestação e a lactação ou em cães reprodutores. Administrar apenas em conformidade com a avaliação benefício/risco realizada pelo médico veterinário responsável. Interacções medicamentosas e outras formas de interacção Desconhecidas. Posologia e via de administração Para administração

oral. Dosagem: O medicamento veterinário deve ser administrado na dose de 2,7 -6,9 mg/kg de peso corporal. Para cães com mais de 50 kg de peso corporal administrar a combinação apropriada de comprimidos mastigáveis de diferente /igual dosagem. Os comprimidos não devem ser divididos. Método de administração: Os comprimidos mastigáveis são palatáveis para a grande maioria dos cães. Os comprimidos podem ser administrados com a comida, se os cães não os aceitarem directamente. Esquema do tratamento: Administrar em intervalos mensais, durante as estações de pulgas e/ou carraças, com base na situação epidemiológica local. Sobredosagem Não foram observadas reacções adversas em cachorrinhos Beagle saudáveis com mais de 8 semanas de idade quando tratados com 5 vezes a dose máxima repetida 6 vezes

em intervalos de 2 a 4 semanas. Foram observados diarreia e vómitos, em Collies quando tratados com aproximadamente 5 vezes a dose máxima (25 mg/kg de peso vivo). Intervalo(s) de segurança Não aplicável. Precauções especiais de conservação Este medicamento veterinário não necessita de quaisquer precauções especiais de conservação. O medicamento veterinário é individualmente embalado em blisters de PVC

laminados termo -formados e um filme de papel de alumínio. (Aclar/PVC/Alu). Uma caixa contém um blister com 1, 3 ou 6 comprimidos mastigáveis. TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO

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Panbazil/shutterstock.com

Daniel Ferreiro1, Tomás Camps2,

Marta Amat2

1Serviço de Etologia Veterinária do Hospital

Veterinário Guadiamar

2Departamento de Etologia do Hospital

Veterinário da UAB

Imagens cedidas pelos autores

Condutas compulsivas

Este problema de comportamento, cujo primeiro passo diagnóstico consiste em excluir a etiologia orgânica, tem um prognóstico reservado. O seu adequado enfoque terapêutico pode contribuir para diminuir a frequência e intensidade do surgimento dos sintomas.

As condutas compulsivas são aquelas con­ dutas anormais que se realizam de forma repetitiva, invariável e sem função aparente (1). Mason estabelece uma classificação fun­ cional e divide as condutas compulsivas em dois grandes grupos: aquelas que surgem como uma estratégia comportamental para fazer face a umas determinadas condições ambientais adversas, e aquelas que são resul­ tado de alterações patológicas a nível neural e de um funcionamento anormal do cérebro (doença) (8).

Estas condutas de caráter compulsivo pro­ cedem de outros padrões de comportamento (limpeza do pelo, locomoção, alimentação, caça, agressividade), mas manifestam ­se de forma exagerada, fora do contexto e interfe­ rem com a vida normal do animal (2).

Esta alteração tem similitudes com os trans­ tornos obsessivos compulsivos de medicina humana, como a resposta a determinados tratamentos, mas dado que em medicina ve­ terinária não se pode afirmar que existe um componente obsessivo (1), neste artigo ire­ mos utilizar o termo conduta compulsiva.

Manifestação clínica das condutas compulsivas

Durante a manifestação das condutas com­ pulsivas, o animal pode chegar a causar a si próprio lesões e automutilações, o que po­ derá agravar o problema e servir como agen­ te cronificador.

Existem vários comportamentos observa­ dos nos cães e nos gatos que partilham estas características, e que poderiam classificar ­se como condutas compulsivas (3):

• A síndrome de hiperestesia felina é um comportamento complexo. O animal tem uma conduta frenética, com corridas súbi­ tas e espasmos da musculatura cutânea dorsal. Pode ou não mostrar ­se agressivo e o estímulo desencadeante pode ser o contacto físico ou as carícias (1).

• A alopecia psicogénea, que faz parte de um grupo de doenças que afetam a pele, cau­ sadas por uma lambedura excessiva (as der­ matoses psicogéneas), que não se podem justificar pela presença de lesões prurigino­ sas. O lamber excessivo pode sobretudo afetar o terço posterior do abdómen e a face medial das extremidades posteriores (1). As condutas compulsivas podem surgir pela primeira vez a qualquer idade, e são igualmente frequentes nos machos e nas fê­ meas (1). Observou ­se uma certa predisposi­ ção racial (tabela 2), o que pode indicar uma certa componente genética que contribua para o aparecimento desta alteração (1,2).

Há que ter em conta que estas condutas têm de cumprir as caracte­ rísticas anteriormente referi­ das para serem consideradas con­ dutas compulsivas, ou seja, o animal tem de as realizar de uma forma repetitiva e inva­ riavelmente e sem nenhuma função aparente.

Causas

Devemos considerar que as condutas com­ pulsivas são um sinal, não um diagnóstico, dado que podem ter diversas causas.

Em primeiro lugar, teremos em conta que todas as condutas compulsivas referidas po­ dem ter uma causa orgânica (8), o que nos obriga a descartar esta possibilidade antes de assumir um diagnóstico etológico. Existe uma grande variedade de causas orgânicas que podem dar lugar a condutas compulsivas: causas intracraniais como tumores ou hidro­ cefalia, fraturas de cauda, problemas derma­ tológicos quando a conduta implica o “lam­ ber”, epilepsia psicomotora, encefalopatia hepática ou intoxicação por chumbo, são algumas das causas mais frequentes.

Não obstante, as condutas compulsivas são associadas frequentemente a fatores ambien­ tais e a situações que geram ansiedade ou

stress, como por exemplo:

• Conflito: faz referência a uma situação na qual o animal tem duas motivações muito intensas e por vezes incompatíveis uma com a outra. Alguns animais nestas situa­ ções acabam por ter uma conduta que não está relacionada com nenhuma das moti­ vações principais, e que aparece totalmen­ te fora do contexto, como por exemplo, condutas por excesso de lamber. Estas são as condutas de deslocamento ou também designadas por condutas em vazio. De acordo com alguns autores, se surgem muito frequentemente e durante muito tempo, podem dar lugar a condutas com­ pulsivas.

• Frustração reiterada ou crónica: refere ­se a situações nas quais o animal não pode rea­ lizar uma conduta pela qual tem uma enor­ me motivação. Isto pode ocorrer em situa­ ções de isolamento prolongado e permanência em ambientes pobres em termos de estímulos. Existem evidências de que certos comportamentos como a copro­ fagia, o lamber excessivo e outras condutas estereotipadas, são tipicamente expressas sob condições de baixa estimulação mental (por exemplo, os animais encerrados em canis durante muito tempo, ou que perma­

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necem apenas no jardim 24 horas por dia). As condições de vida dos refúgios para cães podem ser consideradas análogas às dos animais selvagens que vivem em cativeiro. Neste sentido, observou ­se uma elevada incidência de coprofagia e de lambedura excessiva em cães de refúgio albergados em condições de isolamento social e de espa­ ços reduzidos. Em relação ao isolamento social, existem estudos que demonstram uma maior incidência de circling ou copro­ fagia em animais albergados isolados do que nos animais alojados em grupo (7). Também existem outras situações de stress crónico que parecem favorecer o surgimen­ to destas condutas compulsivas. Alguns ca­ sos de dermatite acral por lambedura (DAL) parecem secundários à ansiedade por sepa­ ração. Por outro lado, o castigo inconsisten­ te por parte do proprietário dá lugar a uma situação de falta de previsibilidade e contro­ lo sobre o ambiente para o animal, que pode favorecer a que apareçam condutas compul­ sivas. Desta forma, o conflito a frustração, a ansiedade ou o stress crónico podem servir como detonante de uma conduta compulsi­ va. Ou seja, sempre que surge um estímulo que provoca estas situações, dão ­se compor­ tamentos compulsivos. Mas pode ocorrer, se a situação persiste e não se soluciona, que após um longo período desta conduta, não seja necessário que apareça um estímulo de­ tonante para a manifestação da conduta compulsiva (emancipação), e que esta se manifeste sem relação alguma com o con­ texto original que a provocou. As condutas compulsivas de tipo locomotor respondem a este padrão, e o animal apresenta uma excitação aparente. Mas nas de tipo oral, um animal parece estar relaxado e aparecem em contextos onde é muito difícil encontrar o detonante ambiental (para o caso de o ha­ ver) (3).

É importante mencionar que as condutas compulsivas podem estar reforçadas involun­ tariamente pelo proprietário. Se o proprietá­ rio apenas presta atenção ao cão quando manifesta esta conduta, ainda que seja com o objetivo claro de interrompe ­la, a conduta pode ter tendência a repetir ­se (1,3).

Diagnóstico

O diagnóstico das condutas compulsivas baseia ­se na observação da conduta, bem como numa anamnese etológica profunda e na exclusão de uma causa orgânica (3).

A anamnese deve recolher uma história de­ talhada dos hábitos de vida do animal, infor­ mação sobre como se iniciou o problema e como evolui, descrição dos contextos nos quais o comportamento se manifestava inicial­ mente e os contextos em que se manifesta agora, descrição de outros aspetos como o momento do dia, presença de pessoas ou o comportamento prévio à manifestação da con­ duta compulsiva, uma descrição do comporta­ mento em si (se possível, acompanhado por uma gravação de vídeo), a reação dos proprie­ tários perante a conduta, a facilidade ou difi­ culdade para a interromper e o comportamen­ to do animal após a conduta compulsiva (3).

Atendendo à classificação de Mason, não poderemos estabelecer um diagnóstico etoló­

gico para uma conduta compulsiva sem des­ cartar uma causa orgânica que possa justificar um mau funcionamento do cérebro (8).

Para excluir causa orgânica, será necessário, pelo menos, um exame físico geral, um exame neurológico, uma hematologia e bioquímica e uma urianálise (1,3). Nos casos de DAL, lam­ bedura das partes laterais ou alopecia psicogé­ nea, é imprescindível proceder a um protoco­ lo dermatológico completo. Noutros casos, como os cães que caçam moscas imaginárias, pode ser necessária a realização de testes of­ talmológicos (1). As condutas compulsivas são muito heterogéneas e as causas mais frequen­ tes são problemas neurológicos, dermatológi­ cos, metabólicos e infeciosos, e por isso os exames complementares de diagnóstico po­ dem variar em função de cada caso individual.

Tratamento das condutas compulsivas sem causa orgânica

As condutas compulsivas têm um prognós­ tico reservado e o plano de tratamento nem sempre consegue o êxito que se espera. Num estudo de Overall, na maioria dos casos conseguia ­se uma redução considerável da conduta, tanto em intensidade, como na fre­ quência, o que pode ser mais viável para a vida do animal e menos para a dos seus pro­ prietários (4). Contudo, se a conduta compul­ siva está emancipada, ou seja, surge indepen­ dentemente do estímulo que a provocou originalmente, o prognóstico é mau. O plano de tratamento consiste em:

• Terapia farmacológica.

• Modificação do ambiente (eliminar a fonte de conflito/stress/frustração, aumento da estimulação mental, rotinas de passeios, exercício, alimentação, obediência).

• Correção do manejo do proprietário (evitar o castigo, reforço involuntário, maneio) (1,3,4).

Tabela 1. Exemplos de condutas compulsivas.

Locomotor Circling, perseguição da cauda, perseguição a luzes ou reflexos, freezing, correrias súbitas, hipertesia felina. Oral Lambedura excessiva, dermatite acral por lambedura (DAL), alopecia psicogénea, lamber o ar, o chão, objetos, o nariz, as laterais do corpo, ingestão do pelo, caçar moscas imaginárias. Agressividade Autodirigida, dirigida a objetos inanimados, dirigida a pessoas de forma imprevisível.

Vocalização Ladrar rítmico, guinchos persistentes.

Alucinações Evitar objetos imaginários, ver sombras, sobressaltos sem razão aparente.

Modificado a partir de A. Luescher (2000) Compulsive Behavior in Companion Animals.

Durante a manifestação das condutas compulsivas, o animal pode chegar a causar a si próprio

lesões e automutilações, o que poderá agravar o problema e servir como agente cronificador.

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Terapia farmacológica

A clomipramina é o fármaco de eleição para o tratamento das condutas compulsivas. Em cães, recomenda ­se uma dose de 2 ­3 mg/kg, cada 12 horas, e em gatos, de 0,5 ­1 mg/kg uma vez por dia (3). Contudo, alguns autores reco­ mendam uma introdução progressiva para evitar alterações gastrintestinais, de forma que começam com 1 mg/kg cada 12 horas duran­ te 14 dias, seguidos de outros 14 dias a 2 mg/ kg cada 12 horas, e por último passa ­se a 3 mg/ kg cada 12 horas durante 1 mês para um tra­ tamento mínimo de 2 meses (4). Recomenda­ ­se que a retirada do fármaco seja progressiva, eliminando não mais do que 25% da dose por semana, até à sua retirada total (1,3).

Contudo, na literatura existem referências a tratamentos com outros psicofármacos como a fluoxetina, a sertralina ou a paroxe­ tina (3,4).

Há que referir que estão a surgir novas opções de tratamento, como a memantina, um antagonista dos recetores NMDA. Ainda que seja um tratamento muito caro, parece ser uma opção muito eficaz na redução das

condutas compulsivas. Pode ­se administrar isolado ou em combinação com fluoxetina ou clomipramina, pelo que representa uma opção para ter em conta naqueles animais resistentes ao tratamento com inibidores da recaptação da serotonina (9,10).

Tratamento etológico

• Modificação do ambiente: eliminar a fonte de conflito/stress/frustração, aumentar a estimulação mental, estabelecer rotinas de passeio, exercício, alimentação, obediên­ cia.

• Correção do manejo do proprietário: evitar o castigo, reforço involuntário, manejo. Em primeiro lugar, é imprescindível elimi­ nar a fonte de stress/ansiedade, conflito ou frustração. Em alguns casos, é muito difícil conhecer o detonante ambiental. Noutros casos, pode ­se identificar o desencadeante e para o eliminar há que primeiro tratar outros problemas de comportamento, como por exemplo, DAL em ansiedade por separação. Existe a possibilidade de ser impossível eli­ minar o estímulo desencadeante das condu­

tas compulsivas. Por este motivo, devemos advertir os proprietários da dificuldade do tratamento nesta situação, e indicar ­lhes que a alteração de casa/proprietário pode ser uma solução razoável.

Quando uma conduta compulsiva está es­ tabelecida, qualquer situação stressante pode perpetuá ­la. Portanto, está indicado tentar reduzir o stress ambiental o mais possível. Dado que o castigo, per si, é stressante, está contraindicado aplica ­lo aos animais afetados (3). O nosso objetivo vai ser dar ao animal a máxima previsibilidade e controlo sobre o ambiente. Instruiremos os proprietários para

Tratamento de condutas compulsivas • Tratamento psicofarmacológico: - Clomipramina - Fluoxetina - Sertralina - Paroxetina - Memantina • Tratamento etológico:

- Retirar a fonte de conflito, frus-tração, stress ou ansiedade. - correção do manejo do

proprietá-rio: evitar o castigo físico, reforço involuntário.

- reduzir ao máximo o stress ambiental: - Estabelecer rotinas de passeio,

alimentação e exercício. - estimulação mental

- interações estruturadas com proprietários

- Programa de substituição de res-posta

Overall, K (2013) Manual of Clinical Behavioral Medicine for Dogs and Cats. Elsevier.

Resultados do tratamento de 103 cães comn condutas compulsivas

60 50 40 30 20 10 0 Frequência Redução de baixa intensidade (<50%) Redução de alta intensidade (>50%) Redução de baixa frequência (<50%) Redução de alta frequência (>50%)

Resultado Sem mudanças

Tabela 2. Predisposição racial a condutas compulsivas.

DAL/Granuloma Doberman, Labrador, Pastor Alemão, Dogue alemão, Akita, Dálmata, Setter Inglês, Maltês, Shar-Pei, Schnauzer standard, Weimaraner, Golden Retriever Sucção das partes laterais Doberman.

Perseguição da cauda Bull Terrier, Pastor Alemão, pastor australiano. Sucção dos tecidos Siamês.

Alopecia psicogénea Siamês, Oriental, Himalaio, Absínio.

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que interajam com o animal de forma consistente e estru­ turada. É recomendável estabelecer um regime regular de passeios, de alimentação, de brincadeiras, de rotação de brinquedos para aportar uma estrutura à rotina diária do animal. Uma atividade que requeira exercício físico, como pode ser o frishee dog ou o agility, ou qualquer outra ativi­ dade de treino em obediência orientada para o jogo, podem ser benéficas para o animal (5). Nos gatos recomenda ­se incluir no protocolo de enriquecimento ambiental momen­ tos de brincadeira concentrados na mesma hora do dia, com jogos que incluam plumas, canas de pescar ou inclusive lançar e trazer o objeto (3).

Também se pode introduzir um programa de contra­ ­condicionamento, também designado como substituição de resposta. Se os proprietários decidem utilizar esta ferramenta, é necessário avisa ­los da importância de realizar este trabalho de forma consistente para que o tratamento seja eficaz. É muito importante que o animal nunca tenha a oportunidade de manifestar a conduta compulsiva. Em cães, ensina ­se com reforço positivo a realizar uma conduta incompatível, ou seja, que não pode realizar em vez da conduta compulsiva.

Cada vez que o cão mostre algum sinal de que vai reali­ zar a conduta compulsiva, inter rompe ­se indiretamente e procuramos levá ­lo a realizar outra conduta alternativa (3,5). É muito importante que a interrupção se faça de forma in­ direta, ou seja, com estímulos alheios ao proprietário (por exemplo, um ruído de longe), antes de lhe pedir a ordem. É imprescindível que a distrição do animal seja efetiva. Se não for o caso, pedir a nova conduta pode resultar ineficaz­ mente, e até pode agravar o problema servindo de reforço involuntário (3).

Recordemos que este último poderia ser a causa de algu­ mas condutas compulsivas e eliminá ­lo é primordial no tra­ tamento (1,3). Devemos ter em conta que os cães com con­ dutas compulsivas são mais persistentes do que os restantes. Num estudo submeteram ­se cães com e sem condutas com­ pulsivas a um programa de extinção de uma conduta (tocar com o nariz), previamente treinada e reforçada durante 40 ensaios. Observou ­se que o número médio de respostas dadas pelos cães com condutas compulsivas durante a fase de extinção era quase o dobro do número médio de respos­ tas que davam os animais do grupo controlo (6).

Conclusão

As causas das condutas compulsivas podem ­se dividir em dois grandes grupos:

• Orgânicas (problemas neurológicos, dermatológicos, in­ feciosos ou metabólicos).

• Não orgânicas (conflito, frustração, ansiedade ou ansie­ dade mantendo o tempo).

É muito importante chegar a um diagnóstico definitivo para poder implementar um plano de tratamento adequado.

Trata ­se de um problema de comportamento com prog­ nóstico reservado, ainda que com um tratamento adequado, na maioria dos casos, se possa reduzir consideravelmente o problema, na frequência e na intensidade. o

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Glossectomia parcial por carcinoma

de células escamosas no cão

A glossectomia, ou ressecção da língua, é o tratamento de eleição neste tipo de neoplasias,

o mais frequente na língua, e no qual a quimioterapia parece não ser eficaz.

A língua é um órgão especializado, de origem muscular, recoberto por uma mucosa, constituída por um epitélio plano estratificado não queratinizado. É imprescindível para deglutição e cumpre função como órgão do paladar, sen­ sível ao tato, à dor e à temperatura. No cão, para além disso, serve para a termorregulação através do arfar.

A língua é irrigada pela artéria lingual e glândulas sublin­ guais da artéria carótida comum. Entre as veias, a veia su­ blingual tem uma importância prática porque se vê clara­ mente na superfície ventral da língua, sendo assim possível a sua punção. O nervo hipoglosso (XII Nervo Cranial) é o principal nervo motor dos músculos da língua.

Não é um órgão onde surjam com frequência as neopla­ sias mas, ainda assim, podemos encontrar carcinomas de

Whyte A.; Bonastre C.; Díaz-Otero A.; Pedret B.; Cruz A.; González A.; Obón, J.*

Hospital Clínico Veterinário

Faculdade de Veterinária. Universidade de Saragoça. Miguel Servet 177 50013 Saragoça

* Médico odontólogo

Dpo. Anatomia e Histologia Humana

Faculdade de Medicina. Universidade de Saragoça Correspondência: awhyte@unizar.es

Imagens cedidas pelos autores

células escamosas, mioblastomas, fibrossarcomas, mastoci­ tomas, melanomas malignos, hemangiossarcomas e linfo­ mas, ainda que o mais comum é o primeiro que se referiu. Este tipo de tumor é muito invasivo e pode desenvolver metástases. A glossectomia, ou ressecção da língua, é o tratamento de eleição. A quimioterapia parece não ser efi­ caz e o seu prognóstico é pouco favorável.

A glossectomia é uma técnica cirúrgica indicada para a eliminação total ou parcial da língua, e que leva a cabo quando se tem confirmado um diagnóstico de cancro. A técnica consiste na extirpação da massa oncológica, com uma intenção curativa, e pode ser:

• Glossectomia parcial: remoção parcial da língua (afeta a parte livre da língua).

• Glossectomia total: remoção completa da língua.

• Hemiglossectomia: remoção de um lado da língua. A técnica cirúrgica dependerá da localização da neopla­ sia.

Nas massas pequenas, de situação rostral livre ou dorso­ caudal, a ressecção parcial pode ser feita com bons resul­ tados e permite eliminar até 40 ­60% do tecido da língua, o que torna possível uma boa qualidade de vida ao paciente.

As lesões malignas que se localizam mais profundamen­ te na base da língua, ou que fazem com que esta fique sujeita ao tecido mole adjacente, são candidatas a uma ressecção completa.

A ressecção cirúrgica parcial implica uma hemorragia significativa em muitos casos. A realização de um tornique­ te na língua, caudal em vez da excisão, com clamps intes­ tinais atraumáticos, constitui uma grande ajuda no controlo do sangramento. O tecido lingual é eliminado em forma de cunha, de maneira a que posteriormente se possam mane­ jar de forma correta as mucosas lingual, dorsal e ventral.

A aposição do epitélio lingual deverá ser feita com uma sutura de material monofilamento absorvível.

Durante o pós ­operatório será necessário administrar uma dieta mole para facilitar o paciente a ingerir o alimen­ to, ainda que, por vezes, haja pacientes com problemas de adaptação nos quais terá de ser colocado um tubo de ali­ mentação de modo temporal. Dever ­se ­á administrar anti­ bioterapia de modo profilático durante uma semana.

Caso clínico

É remetido para o Serviço de Odontologia do Hospital Veterinário da Universidade de Saragoça um Husky Sibe­ riano, macho, de quatro anos de idade, que tinha sido tratado com antibiótico e pentoxifilina (melhora o fluxo

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sanguíneo), após uma lesão antiga, e que não respondia ao tratamento.

A proprietária refere que o animal apresenta a língua inflamada e que sangra com frequência.

Na exploração da cavidade oral observa ­se, a nível lin­ gual, na sua porção rostral, um tecido proliferativo, hetero­ géneo, muito vascularizado e com a presença de úlceras (figura 1). A exploração geral do animal não evidencia nenhum dado relevante.

Decidiu ­se proceder a uma biopsia sob anestesia geral. No mesmo ato cirúrgico, procedeu ­se à punção ­aspiração do gânglio submandibular. A recolha da biopsia da massa lingual fez ­se através de laser Co2 (figura 2).

O resultado da punção ­aspiração do gânglio submandi­ bular evidenciou uma população pleomórfica com predo­ mínio de linfócitos, sem outros tipos celulares, pelo que se considerou uma imagem citológica negativa. Contudo, a

biopsia remetida ao serviço de anatomia patológica deter­ minou a presença de um carcinoma de células escamosas na língua.

Perante o resultado obtido, optou ­se pela amputação da porção rostral da língua. Como tratamento pré ­operatório protocolou ­se ácido aminocapróico 100 mg/8 horas/3 dias antes da cirurgia como hemostático preventivo.

Após a indução anestésica e a correspondente prepara­ ção do campo cirúrgico, o paciente foi posicionado em decúbito esternal e foi colocado um afastador para manter a abertura da cavidade oral durante a cirurgia (figura 3).

A cirurgia iniciou ­se com a colocação de dois clamps intestinais atraumáticos com o objetivo de controlar a he­ morragia. De seguida, procedeu ­se ao corte em forma de cunha ao longo de toda a espessura da língua (figura 4).

Uma vez identificados os vasos sanguíneos de grande calibre, procedeu ­se à ligação dos mesmos com material

Figura 2. Aspeto da língua após a recolha da biópsia com laser de CO2.

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reabsorvível 3/0 para o controlo da hemorragia (figura 5). De seguida, deram ­se uns pontos de tração nos extremos da língua para nos permitir segurá ­la após a retirada dos

clamps (figura 6).

Depois, fechou ­se a camada muscular através de uma sutura contínua com pontos de reforço e material reabsor­ vível 4/0. Posteriormente, suturou ­se a mucosa com pontos simples soltos com material reabsorvível 3/0 (figura 7).

Durante o procedimento cirúrgico, ocorreu a inflamação do tecido lingual, que foi controlada através da administra­ ção de metilprednisolona à razão de 2 mg/Kg IV.

No pós ­operatório, continuou ­se com metilprednisolona durante 4 dias a uma dose de 1 mg/Kg PO cada 24 horas,

após os quais se iniciou o protocolo de redução. Também se administrou tramadol como analgésico 2 mg/Kg PO cada 8 horas, durante 7 dias e antibioterapia à base de amoxicilina ­clavulânico 15 mg/kg PO, cada 12 horas du­ rante 7 dias e enrofloxaxiona 5 mg/kg, cada 24 horas du­ rante 7 dias. Inicialmente, recomendou ­se dieta líquida nos primeiros dias, ainda que aos 5 dias após a intervenção, o animal já era capaz de ingerir alimento mole e bebia de forma autónoma (figura 8).

A análise anatomopatológica confirmou o diagnósti­ co inicial de carcinoma de células escamosas, para além da ausência de células tumorais nos rebordos da incisão.

Figura 4. Início da resseção da língua. Figura 5. Identificação e ligação dos vasos sanguíneos de grande calibre.

Figura 7. Imagem após a sutura da mucosa com pontos simples soltos.

(23)

Figura 9. Imagem do paciente aos 13 dias após a intervenção. Figura 8. Imagem do paciente aos 8 dias após a intervenção.

Discussão

A língua é uma localização pouco comum de tumores. A sua presença é rara em cães e representa apenas 2 a 4% de todos os tumores orofaríngeos e cerca de 25% dos casos de diagnóstico casual. Ainda assim, o melanoma e o carci­ noma de células escamosas são os tumores malignos mais frequentes na língua, seguidos de linfoma.

Os sintomas associados a este tipo de neoplasias são a alimentação com dificuldade, halitose, sialorreia e, em fases avançadas, dificuldade respiratória.

O prognóstico depende da localização do tumor e do seu tamanho. Os de situação rostral têm um melhor prog­ nóstico, dado que aí são detetados mais cedo e é mais fácil respeitar as margens cirúrgicas. Os de localização caudal podem ter uma maior rede linfática e vascularização, o que facilita a metastização.

Relativamente ao tamanho, em estudos realizados por Syrcle (2008), parece que os tumores malignos maiores de 4 cm2 são quase 10 vezes mais propensos a desenvolver recidivas ou metástases.

A indicação para a amputação parcial da língua é a neo­ plasia, que normalmente assenta na margem ou base da­ quela. A amputação de 40 a 60% da língua rostral, em geral, é bem tolerada. A amputação na base dificulta a ingestão de sólidos e de líquidos. Contudo, o animal pode aprender a sugar a água ou o alimento, o que pode ajudar a preen­ são.

No pós ­operatório, deve ­se oferecer água ao animal de­ pois de ter recuperado da anestesia. Às 12 ­14 horas pode ­se iniciar a alimentação mole, mantendo ­se até normalmente duas semanas. Os cães devem começar a comer no mesmo dia da cirurgia, ou logo no dia seguinte, recuperando a preensão progressivamente.

Quando se realiza uma resseção lingual de mais de 50%, é aconselhável a realização de uma esofagostomia com o

objetivo de assegurar a alimentação do animal. A sonda de alimentação deve ser deixada durante 2 semanas ou até o cão ser capaz de comer e beber por si.

Algumas das complicações da glossectomia a curto pra­ zo, são: necrose marginal da língua, disfagia, ptialismo e deiscência da sutura. A longo prazo podem ­se observar ligeiras alterações nos hábitos alimentares. o

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Referências

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