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A RAZÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E SUA IDENTIDADE: EXPROPRIAÇÃO E FORMAÇÃO DO SUJEITO SOCIOPOLÍTICO

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Academic year: 2021

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A RAZÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E SUA IDENTIDADE: EXPROPRIAÇÃO E FORMAÇÃO DO SUJEITO SOCIOPOLÍTICO

Suzana Maria de Souza Carvalho Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e-mail: suzana.carvalho@outlook.com Sérgio Henrique Pereira Cordeiro Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e-mail: sergiohpcordeiro@hotmail.com Andréia da Cruz Rodrigues Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e-mail: andreia.delacruzz@gmail.com Rafael Martins Brito Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e-mail: rafaaelmartinsz@hotmail.com Francisco José Avelino Junior Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e-mail: chinaufms@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Os movimentos sociais são ações de um grupo organizado que tem por objetivo alguma mudança na sociedade ou defesa de um bem comum. Em geral, apresentam uma identidade social bem definida e possuem um adversário e uma pauta pontual, precisa e concreta.

Por isso, o movimento se tornou uma ferramenta tão poderosa, visto que reúne inúmeras pessoas dispostas a lutar por um objetivo em comum, e assim como diz Scherer-Warren (2009), são aqueles movimentos que conectam sujeitos individuais e atores coletivos em torno: (i) de identificações comuns; (ii) de um campo de conflito e de seus principais adversários; (iii) e de um projeto ou utopia de transformação social.

Para compreender tudo isso é necessário fazer uma reflexão sobre o que leva as pessoas à luta

Penso que uma das maneiras de fazer esta reflexão é olhar com mais atenção para os novos sujeitos sociais deste momento histórico, que vêm sendo produzidos pela dinâmica das lutas sociais que não aceitaram a exclusão como um dado inevitável. (CALDART, 2000, p.128)

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Os movimentos sociais tomam corpo ainda no período de ditadura militar, na década de 70, onde sujeitos em discordância passam a pensar e buscar melhores condições, indispensáveis para o bem estar e integração socioespacial.

Até hoje o território é usado e se transforma em função do capitalismo. Este visa o lucro e não a relação de uso para as necessidades humanas. Nessa conjuntura intercorre a correlação de forças entre classe dominante e expropriados

de um lado, as populações ribeirinhas que resguardam a terra como patrimônio da família e da comunidade, defendido pela memória coletiva e por regras de uso e compartilhamento dos recursos, de outro, o setor elétrico, inclusive o Estado e empreendedores públicos e privados que, a partir de uma ótica de mercado, entendem o território como propriedade e, como tal, uma mercadoria passível de valorização monetária. (ZHOURI et al, 2005, p. 50).

Existe também o caso onde a população que habita áreas inadequadas e constrói casas improvisadas por falta de recursos e de investimento do governo, passa a se organizar em torno da luta pela moradia. No entanto, a luta não é somente por um “teto”, mas também pelo direito a cidade, onde o espaço atenda suas necessidades, onde se tenha acesso á saúde, educação, lazer, serviços e mobilidades urbanas. Direitos que são os mesmos dos moradores das áreas nobres da cidade.

OBJETIVOS

Não se acomodar, querer buscar explicações e soluções é que faz com que as mudanças ocorram. Mas, muitas vezes, a luta não é capaz de impedir a ocorrência dessas desigualdades, porém pode amenizá-las, e chamar a atenção de todos para o que realmente está ocorrendo, pois na maioria das vezes, vivemos alienados, ouvindo somente um lado da história, lado este que está objetivado á atender ao capital.

Uma das conseqüências geradas pela sociedade capitalista é a exclusão. O capital simplesmente exclui tudo aquilo que não lhe interessa, não traz lucro e/ou possa lhe causar algum problema futuramente.

A desigualdade no Brasil é resultado de fatores históricos com expropriações pelo modelo neoliberal “[...] caracterizadas por la desregulación, privatización,

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mercados abiertos y libre comercio [...]” (ROSSET & Martinez-torres, p.2, 2012) onde a única sustentabilidade que interessa é do investimento de grandes transnacionais. O direito de propriedade deixa de ser olhado como o direito do homem e passa a ser visto como o meio de preservar valores resultantes da produtividade do trabalho, o meio da produção e da troca de valores. Nesse contexto ocorre a formação de movimentos de luta em oposição a este modelo.

Uma questão agravante e que está ganhando atualmente grande repercussão através dos movimentos são as disputas territoriais, que envolvem capital e pequeno produtor, camponeses ribeirinhos, trabalhadores sem terra, índios, quilombolas... Enfim, dois lados com visões distintas sobre o valor atribuído a terra: valor de compra e valor de uso.

Para os camponeses, terra é o recurso que gera condições reais de sobrevivência para as famílias e “[...] No trabalho reconhecem todo o ciclo da vida [...]”. (NASCIMENTO & MENDONÇA, 2012, p. 16)

No Maranhão, com o processo de expropriação do campesinato, muitos migraram para outras regiões e “[...] As novas dinâmicas produzidas demonstram que se trata de uma unidade contraditória, marcada por muitas rupturas [...]”. (SILVA, 2011, p 177)

Como ressaltou PORTO-GONÇALVES (2006, apud NASCIMENTO e MENDONÇA, 20012, p. 5) a “[...] mesma paisagem, com a mesma materialidade pode ser lida de modo diferentes por diferentes povos e culturas ou por diferentes seguimentos no interior de uma mesma sociedade.” Isso é o que ocorre no caso da territorialização da barragem hidrelétrica Serra do Falcão no vale do Rio São Marcos.

São racionalidades e objetividades distintas, contraditórias do capitalismo, uma vez que enquanto os camponeses visam o cultivo de espaço-terra, o consórcio de empresas construtoras da barragem visa o lucro no espaço-água.³ (NASCIMENTO e MENDONÇA, 2012, p.6)

O camponês vê a terra como um meio de reprodução familiar, necessário a sua existência. O capital vê a terra como uma mercadoria que deve gerar lucro. E ao se apropriar da terra antes ocupada por camponeses ribeirinhos com o propósito de gerar

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energia para a população, obrigam essas pessoas a saírem de suas terras causando um novo arranjo territorial.

Esse novo vínculo sociedade-natureza (re) configura frações do território num novo arranjo territorial referendado pela expropriação de centenas de milhares de camponeses que, expulsos de suas terras perdem a sua condição social, perdem a sua condição de continuar existindo enquanto tal. Neste contexto, a territorialização de empreendimentos hidrelétricos é aqui entendida como o “processo onde o capital se territorializa e varre do campo os trabalhadores”. (OLIVEIRA, 2003,apud NASCIMENTO e MENDONÇA, p.4)

Essa situação de expropriação devido ao capital ocorre também com a modernização do campo que prejudica o trabalhador rural, pois retira seu meio de sobrevivência.

a modernização da agricultura, sob a égide do estado brasileiro, foi responsável pelo surgimento das chamadas migrações temporárias, caracterizadas pela presença de milhares de pessoas, geralmente provenientes de áreas pobres do país, que foram obrigadas, pela falta de condições de sobrevivência a se deslocar para áreas mais ricas, em busca de trabalho. (SILVA, 2011, p.2)

Um exemplo disto pode ser visto no Maranhão com a destruição das florestas de babaçu, forma de subsistência da população.

No Maranhão, houve conversão da agricultura de alimento para a produção de soja pecuária, destinada á exportação. Com isso, as terras começam a ser cercadas pelas propriedades privadas e as florestas de babaçu destruídas. Data deste período o inicio do processo de expropriação dos camponeses, cujo destino passou a ser a migração para as regiões de garimpo e desflorestamento da Amazônia, muitos dos quais foram e ainda são escravizados. (Silva, 2011, p.4)

No entanto, não é só a industrialização do campo que vem gerando problemas, há também a luta contra o uso indiscriminados de agrotóxicos nas plantações, que no caso da cana – de - açúcar e eucalipto que muitas vezes cercam pequenas propriedades,

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forçam os moradores a abandonarem suas residências devido a grande quantidade de veneno despejadas por aviões, e quando utilizadas nas lavoura, acaba indo parar em nossa própria mesa causando graves doenças futuramente. E é justamente contra isso que os movimentos sociais rurais vêm lutando, tentando introduzir a agroecologia, que seria uma agricultura mais saudável, sem o uso de agrotóxico. Esse movimento parte dos camponeses, pois além de produtores são consumidores e estão preocupados com o alimento, com a terra, com os ecossistemas e com a sociedade, diferentemente do agronegócio que só se preocupa com o interesse das grandes corporações e corporações e comercialização.

Ao tratar de movimentos sociais e luta, não posso deixar de falar sobre o movimento dos trabalhadores sem terra (MST), criado formalmente em 1984, luta pela terra, pela Reforma Agrária e por uma sociedade mais justa. Se tornando assim referências para tantos outros movimentos, tendo em vista sua organização, força e resistência, mesmo diante de tantas barreiras encontradas, mostrando o poder da luta coletiva e suas conquista.

São conquistas de uma luta coletiva onde muitas pessoas também perderam sua vida, seja no dia a dia da violência do latifúndio, seja em massacres mundialmente divulgados, como foi o caso de eldorado dos Carajás no Para, em 1996. É assim que o MST vem ajudando a recolocar na agenda política brasileira a questão da Reforma Agrária fazendo a luta pela terra e afirmando em suas iniciativas, a possibilidade de novas relações sociais, e de um novo projeto de desenvolvimento para o país (CALDART, 2000 p. 126)

METODOLOGIA

Dentro do processo de formação do movimento ocorre também o processo de formação humana com a participação ativa do sujeito social construindo sua identidade com o movimento. O MST é um exemplo desses sujeitos.

do entrelaçamento das vivências coletivas que envolvem e se produzem desde cada família, cada grupo, cada pessoa, com o caráter

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histórico da luta social que representam, se forma então a coletividade Sem Terra, com uma identidade que não se enxerga olhando para cada pessoa, família ou grupo de sem-terra em si mesmos, mas que se sente ou vive participando das ações ou do cotidiano do MST. (CALDART, 2000, p. 130)

Em torno da luta constitui-se também a identidade política, a consciência de direitos, contribuindo para transformação social dos sujeitos em sociopolíticos. Nessa perspectiva “[...] não há como ser um sujeito político sem saber-se um sujeito social e não há como saber-se um sujeito social, coletivo, sem compreender-se no processo histórico da luta e da formação de seus sujeitos [...]”. (CALDART, 2000, p. 133)

É inevitável que indivíduos afetados e oprimidos organizem-se com o fim de alterar as contradições do sistema vigente. A atuação dos movimentos habitacionais busca quebrar a lógica da cidade como valor de troca. A falta de moradia é um grave problema social que resulta também nessa organização sociopolítica. Ao privilegiar áreas urbanas para os detentores de capitais várias famílias são excluídas e “[...] Em torno da luta pela habitação, constituíram-se sujeitos políticos nas cidades [...]”. (FERREIRA, 2012, p. 2)

É a participação no movimento que politiza o sujeito na medida em que esses passam a compreender o problema no sentido amplo, com correlações de forças sociais e políticas. “[...] Este jeito de fazer a luta social que produz sujeitos sociais é exatamente o jeito de vincular a luta específica com as grandes questões humanas e sociais de seu tempo [...]”. (CALDART, 2000, p. 134)

RESULTADOS PRELIMINARES

Como visto, a atuação dos movimentos sociais é muito diversificada, sejam camponeses, trabalhadores sem-terra, sem-teto etc. O que ambos têm em comum é a terra como valor de uso e não apenas como lucro ao capital.

Sujeitos com essa identidade passam a se organizar e exercer funções sociopolíticas dentro do movimento social, mesmo que involuntariamente, de tal importância que sua existência é primordial para reprodução das lutas.

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Lutar contra o capitalismo pode parecer loucura, no entanto mesmo que não seja possível impedir que ele avance, pode-se pelo menos minimizar as conseqüência e mostrar que existe sim uma sociedade disposta a lutar contra exclusão social, e a favor dos seus direitos, pois os movimentos sociais surgem da crença das pessoas em uma sociedade mais justa e igualitária, e eles vão existir enquanto houver esperança.

REFERÊNCIAS

CALDART, ROSALI S. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social como princípio educativo. In: Pedagogia do Movimento Sem Terra, UFRG. Petrópolis, 2000.

FERREIRA, REGINA F. C. F. Movimentos de moradia, autogestão e política habitacional no Brasil: do acesso à moradia ao direito à cidade. In Fórum de Sociologia “Justiça Social e Democratização”. Buenos Aires, 2012.

NASCIMENTO, ALINE C.; MENDONÇA, MARCELO R. Territórios Hidrelétricas – o processo de transformação do território a partir da territorialização da

Barragem Hidrelétrica Serra do Falcão no vale do rio São Marcos. In: XIII Jornada do Trabalho. Presidente Prudente, 2012.

ROSSET, PETER M.; MARTINEZ-TORRES, MARIA E. Movimentos Sociales Rurales y Agroecología: Contexto, Teoria y Processo. In:

<http:barrabarradx.doi.orgbarra10.5751barraES-05000-170317>, 2012.

SILVA, MARIA DE M. Vidas Transitórias. Entre Cocais Maranhenses e os Canaviais Paulistas. In: Revista da ANPEGE v. 7, 2011, p. 161-178.

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