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ECLI:PT:TRP:2016: T8OAZ.P1.C8

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ECLI:PT:TRP:2016:2325.15.1T8OAZ.P1.C8

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2016:2325.15.1T8OAZ.P1.C8

Relator Nº do Documento

Jorge Loureiro rp201605232325/15.1t8oaz.p1

Apenso Data do Acordão

23/05/2016

Data de decisão sumária Votação

maioria com 1 vot venc

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação negado provimento

Indicações eventuais Área Temática

4ª Secção (social), (livro De Registos N.º240, Fls.292-298) . Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I - O direito de acção emergente de acidente de trabalho caduca no prazo de um ano, a contar da data da alta clínica ou, se do evento resultar a morte, a contar desta.

II - Porém, a data da alta clínica e da entrega do correspondente boletim de alta só releva para efeitos de fazer coincidir com a mesma o termo inicial do prazo de caducidade nos casos em que se levou o acidente de trabalho ao conhecimento da seguradora de acidentes dessa natureza e em que subsequentemente a mesma seguradora tenha prestado ao sinistrado acompanhamento clínico.

III - Naqueles casos em que à seguradora não foi participado o acidente e em que por isso a mesma não conferiu ao sinistrado qualquer tipo de assistência médica, nem alta clínica, o termo inicial do prazo de caducidade deve fazer-se coincidir com o dia do próprio acidente de trabalho. IV - A falta de participação obrigatória do acidente de trabalho não suspende nem interrompe o prazo de caducidade.

Decisão Integral:

Apelação 2325/15.1T8OAZ.P1 Sinistrada: B…

Empregadora: C…, Lda

Seguradora: D… – Sucursal Portugal Relator: Jorge Manuel Loureiro 1º adjunto: Jerónimo Joaquim Freitas 2º adjunto: Eduardo Petersen Silva

Acordam no Tribunal da Relação do Porto I - Relatório

No dia 19/5/2015, a sinistrada participou no tribunal recorrido o seguinte: no dia 3/7/2009, quando trabalhava subordinadamente para a empregadora, sofreu um acidente que deve ser qualificado como de trabalho, sendo certo que estava transferida para a seguradora, através da apólice n.º ……., a responsabilidade civil emergente de acidentes de trabalho que a recorrente sofresse ao serviço da empregadora; a empregadora nunca participou tal acidente à seguradora e nada lhe pagou; foi a própria sinistrada quem procurou assistência médica, a título particular, tendo suportado todos os encargos correspondentes; esteve incapacitada de trabalhar de 09-07-2009 a 17-07-2009, 18-07-2009 a 01-08-2009, 2-08-2009 a 21-08-2009, 27-08-2009 a 07-09-2009, 08-09-2009 a 07-10-2009 e 08-10-2009 a 06-11-2009, apesar do que só a segurança social subsidiou essa incapacidade e apenas durante dois meses; a sinistrada ainda não se contra curada das lesões para si emergentes do aludido acidente.

Em concreto e na dita participação, alegou sinistrada, designadamente, o seguinte:

“2 – No dia 03-07-2009, sexta-feira, pelas 19h00, na secção BD (encostos de trás) sita na sede da citada C…, Lda, a participante foi vítima de acidente de trabalho que consistiu no seguinte: ao pegar numa peça e após a entregar ao colega, E…, sentiu um estalido no pescoço, não conseguindo se mover mais.

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3 – A sua entidade patronal, por intermédio do encarregado, F…, chamou o INEM, que por sua vez transportou a participante à Urgência do Hospital …, em Santa Maria da Feira, onde apresentou a lesão e foi submetida a raio-x, tendo-lhe sido diagnosticada uma contractura e prescrito descanso. 4 – No dia seguinte, sábado, a participante ligou para o supra identificado encarregado a transmitir-lhe o seu estado e que não poderia ir trabalhar dado que não conseguia mexer-se.

5 – A entidade patronal tinha a responsabilidade por acidentes de trabalho transferida para Companhia de Seguros D…, através da apólice n.º ……..

6 – No entanto, a entidade patronal não participou o acidente à seguradora.

7 – A participante, em virtude de não apresentar melhoras e continuar a sentir dores no pescoço e as pernas a falharem, foi a várias consultas de ortopedia, a título particular.

8 – Resultado de exames complementares de diagnóstico e dessas consultas, foi-lhe diagnosticada uma fractura na cervical (Doc. 2 e 3)

9 - Apesar de a participada ter dado conhecimento à entidade patronal do relatório médico contendo esse diagnóstico, a participada continuou a arcar com todas as despesas médicas resultantes do supra citado acidente de trabalho, pois a entidade patronal nada lhe pagou, nem sequer o tempo em que a participante esteve sem trabalhar e sem receber da segurança social. (Doc. 4 e 5)”.

Terminou a requerer que “…se digne ordenar as diligências que entender por convenientes e ulteriormente determinar seja submetida a exame médico, seguindo-se os ulteriores termos previstos nos art.ºs 99.º e sgts. do C.P.T.”.

Dos “Certificados por Incapacidade Temporária para o Trabalho por Estado de Doença” juntos pela autora, todos emitidos pelo Centro de Saúde …, extrai-se o seguinte: à sinistrada foi conferida baixa médica por doença determinante de incapacidade para o exercício da sua actividade profissional: i) numa primeira fase de 06-07-2009 a 17-07-2009, prorrogada de 18-07-2009 a 01-08-2009 e de 02-08-2009 a 21-08-2009, data em que cessou a baixa, classificando-se sempre como “doença natural” a situação determinante da incapacidade, sendo certo que do boletim que conferiu a prorrogação até 21-08-09, datado de 06-08-09, não consta qualquer razão pela qual se fixou em 21-08-09 a data da cessação da situação de doença motivadora da baixa médica por incapacidade; ii) numa segunda fase de 27-08-2009 a 07-09-2009, prorrogada de 08-09-2009 a 07-10-2009 e de 08-10-2009 a 06-11-2009, data em que cessou a baixa, classificando-se sempre como “doença natural” a situação determinante da incapacidade, sendo certo que do boletim que conferiu a prorrogação até 06-11-09, datado de 13-10-09, não consta qualquer razão pela qual se fixou em 06-11-09 a data da cessação da situação de doença motivadora da baixa médica por incapacidade. Não foi junto aos autos qualquer outro boletim clínico emitido pelo Centro de Saúde ….

Em 28/09/09, 25/11/09 e 27/01/10, a sinistrada foi sujeita a consultas médicas no Centro Hospitalar ..., constando do diário referente a essas consultas o seguinte:

28-09-2009 19:35:00 - DR. G… (Hsjm - Ortopedia)

Doente com antecedentes de traumatismos a coluna cervical, que revelou fractura avulsão da paofise espinhosa de c7 que apesar do tratamento conservador mantém dor e Impotência funcional.

Peço RMN cervical.

25-11-2009 12:09:57 - DR. H… (Hsjm - Ortopedia) RMN confirma # ap espinhosa de D1 Mantém dor residual, mas sem sinais de comprometimento medular e ou radicular

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Fazer AINE em SOS + calor húmido

27-01-2010 14:18:26 - DR. G… (Hsjm - Ortopedia)

Doente vítima de acidente de trabalho em Julho de 2009, de que resultaram queixas dolorosas na transição cervico dorsal.

Por persistência das queixas dolorosas foi avaliada com RMN que revelou fractura da apófise espinhosa da 1 a vertebra dorsal. Apesar do tratamento conservador mantém dores locais e impotência funcionai dos membros superiores.

Vai ser avaliada com TAc para excluir pseudartrose. Deve ser dispensada das actividades que solicitem os membros superiores, de forma repetitiva em termos de abdução, antepulsão e tracção, bem como com actividades que obriguem a flexão ou extensão prolongada da coluna cervical. Confrontado com tal participação, o Exmo. Magistrado do Ministério Público pronunciou-se nos seguintes termos: “Reportam-se os presentes autos a um acidente de trabalho ocorrido no dia

3-7-2009, de que foi vítima a sinistrada B…, nas instalações da empregadora C…, Lda, em São João da Madeira.

Estava então em vigor a Lei nº 100/97, cujo artº 32º estabelecia que o direito de ação respeitante às prestações fixadas na mesma caducava no prazo de um ano a contar da alta clínica formalmente comunicada ao sinistrado ou, se do evento resultar a morte, a contar desta.

O caso vertente não se enquadra em nenhuma das situações previstas nesta norma porquanto não só não está em causa um acidente mortal, como também é certo que não houve participação do acidente à seguradora nem esta, consequentemente, prestou assistência médica à sinistrada ou alguma vez lhe deu alta clínica.

Temos assim que, em ordem a apurar se o direito de acção da sinistrada caducou ou não, a contagem do referido prazo substantivo terá de fazer-se à luz dos comandos plasmados nos arts 328º e segs do CC.

Da leitura dos preceitos em questão decorre que o prazo de caducidade iniciou o seu curso no momento em que esse direito pôde ser legalmente exercido (artº 329º) e que só impedia a caducidade a prática tempestiva de ato a que a lei atribua efeito impeditivo (artº 331º nº 1). Equivale isto por dizer que, no caso concreto, o decurso de tal prazo se iniciou logo após o

acidente, pois que à sinistrada era então legítimo participá-lo ao Tribunal competente - artº 19º al. a) do Dec. Lei nº 143/99 - e que, conforme jurisprudência pacífica (vide Acs do STJ de 19-7-1991,BMJ 409, a fls 526 e de 30-6-1999 prolatado no processo nº 134/99), o prazo de caducidade apenas se interrompia com a participação pela mesma do acidente ao Tribunal competente, pois só com aquela se inicia a instância (artº 26º nº 4 do CPT) e se revela a intenção de efectivar os direitos indemnizatórios decorrentes do acidente.

Na esteira do que se vem explanado, dúvidas não há de que, quando a sinistrada participou no dia 20-5-2015 o acidente em apreço a Tribunal (quase seis anos depois da sua ocorrência!), há muito havia expirado o prazo legal de 1 ano de que dispunha para o fazer e que, como tal, já o seu direito de ação se encontrava então caducado.

A caducidade é uma exceção dilatória de que o Tribunal pode conhecer, portanto, oficiosamente e que inexoravelmente conduz à absolvição da instância, em consonância com as disposições conjugadas dos arts 333º nº 1 do CC e 278º nº 1 al. e), 576º nº 2 e 578º do CPC.

Nesta conformidade, conclua os autos ao Mmo Juiz a quem se promove que, em virtude de o direito de ação da sinistrada se mostrar caducado, se absolvam as RR. seguradora e empregadora

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da instância e se ordene, subsequentemente, o arquivamento dos autos.”.

Acolhendo o assim promovido, o senhor juiz a quo proferiu despacho declarando caducados os direitos da sinistrada emergentes do acidente relatado na participação e determinou o

arquivamento dos autos.

Não se conformando com o assim decidido, a sinistrada arguiu a nulidade dessa decisão judicial, por falta de fundamentação, e recorreu dessa mesma decisão, rematando as suas alegações com as seguintes conclusões:

“1. Vem o recurso interposto da douta sentença de 28.10.2015, que absolveu as requeridas da instância, determinando a sua extinção, em virtude de ter julgado verificada a excepção da caducidade do direito de acção.

1. Decidiu o tribunal a quo que se verificou a caducidade do direito de acção por o acidente de trabalho ter sido participado pela sinistrada mais de um ano depois da ocorrência do acidente. 2. A recorrente sofreu um acidente no local e tempo do trabalho, no dia 03-07-2009 e apresentou participação de acidente de trabalho em 19-05-2015.

3. A entidade patronal apesar de ter a responsabilidade por acidentes de trabalho transferida para Companhia de Seguros, não participou o acidente à seguradora.

4. Não tendo, por isso, a recorrente recebido qualquer assistência clínica da seguradora.

5. A recorrente, desde então até ao presente, tem sido acompanhada por serviços médicos à sua conta, não tendo recebido alta médica desses serviços, por não estar ainda curada.

6. Ora, por ainda não ter recebido alta médica, por ainda não estar curada, considera a recorrente estar em prazo para efectuar a participação do acidente em juízo, ao abrigo do disposto o n.º 1 do artigo 32º da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, legislação aplicável ao caso face à data do acidente de trabalho, que diz “ o direito de acção respeitante às prestações fixadas nesta lei caduca no prazo de um ano, a contar da data da alta clínica ou, se do evento resultar a morte, a contar desta”.

7. Ou seja, a lei prescreve expressamente que o prazo de caducidade, para o efeito, se inicia com a alta clinica do sinistrado.

8. Facto que ainda não ocorreu.

9. Pelo que não se iniciou a contagem do prazo de um ano.

10. Se se considerar ser de aplicar o artigo 329º do Código Civil, o prazo de caducidade começa a correr no momento em que o direito puder legalmente ser exercido, no caso, a do acidente, se a lei não fixar outra data.

11. Ora, acontece que o artigo 32º da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, fixa expressamente outra data para o início do prazo, a da alta clinica.

12. Se o Código do Processo de Trabalho prevê expressamente esse momento, no caso, o da alta clinica, entende a recorrente não ser de recorrer ao Código Civil, nomeadamente ao instituto da caducidade, para definir esse momento.

13. Com efeito, o artigo 1.º do Código de Processo do Trabalho consagra um regime processual especial, e que o processo civil, um regime processual subsidiário no foro laboral.

14. Por outro lado, o processo para a efectivação de direitos resultantes de acidente de trabalho, processo especial, tem subjacente relevantes interesses de ordem pública.

15. Nessa medida, afigura-se plenamente aplicável o disposto no artigo 7º, nº 3 do Código Civil, segundo o qual “A lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a intenção inequívoca do julgador”.

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amplitude da lei laboral.

17. O entendimento plasmado na decisão recorrida penaliza os interesses da recorrente, vítima de acidente de trabalho, que não exerceu atempadamente o direito de acção, por qualquer motivo – imperfeito conhecimento dos seus direitos, receio de perda do emprego, expectativa de reparação do incumprimento do empregador, etc.

18. Assim, a decisão devia ter sido no sentido de ser julgada improcedente a excepção da caducidade do direito de acção, prosseguindo a acção os ulteriores termos previstos nos artigos 99º e ss do CPT.”.

Contra-alegou a entidade empregadora, sustentando que não se verifica a nulidade arguida pela sinistrada e que o recurso deve improceder.

Nesta Relação, a Exma. Procuradora-Geral Adjunta entendeu, no parecer que emitiu, que o recurso da autora não merece provimento (fls. 47 a 49).

Corridos os vistos legais e nada obstando ao conhecimento do mérito, cumpre decidir.*II – Questões a resolver

Sendo pelas conclusões que se delimita o objecto do recurso (artigos 635º/4 e 639º/1/2 do Código de Processo Civil aprovado pela Lei 41/13, de 26/6 – NCPC – aplicável “ex vi” do art. 87º/1 do Código de Processo do Trabalho – CPT), integrado também pelas que são de conhecimento oficioso e que ainda não tenham sido decididas com trânsito em julgado, são as seguintes as questões a decidir:

1ª) saber se a decisão recorrida é nula por falta de fundamentação; 2ª) saber se se verifica a caducidade declarada pelo tribunal recorrido.* *III – Fundamentação

A) De facto*Factos provados

Os factos provados são os que resultam do relatório desta decisão.*B) De Direito Primeira questão: saber se a decisão recorrida é nula por falta de fundamentação.

Explicite-se, antes de mais, que o vício determinante da nulidade da sentença por falta de fundamentação (art. 615º/1/b do NCPC), aplicável aos simples despachos (art. 613º/3 NCPC), reporta-se às situações de falta absoluta de fundamentação, bem como àquelas em que a insuficiência da fundamentação é de tal dimensão que não permita de todo em todo perceber as razões de facto e de direito da decisão judicial, não estando aqui abrangidas as demais situações em que a fundamentação é deficiente, incompleta ou não convincente - Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio Nora, Manual de Processo Civil, 1984, p. 669, Fernando Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos em Processo Civil, 6ª edição, pp. 52 e ss, Alberto dos Reis, Código de Processo Civil Anotado, volume V, 1981, p. 140, Artur Anselmo de Castro, Direito Processual Civil Declaratório, Volume III, 1982, pp. 141 e 142, Cardona Ferreira, Guia de Recursos em Processo Civil – o novo regime recursório civil, 2007, p. 54.

No caso em apreço, analisado o despacho recorrido, verifica-se que nele foi: identificado o objecto deste processo (um alegado acidente de trabalho ocorrido em 3/7/2009 e participado em

19/5/2015); identificada a norma que estabelece o prazo da caducidade declarada (art. 32º/1 da Lei 100/97, de 13/9 - LAT/97); identificada a norma a partir da qual deve ser estabelecido o termo inicial

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desse prazo (art. 329º/1 do CC); identificada a data do acidente participado como aquela em que se registava esse termo inicial.

Concluiu o despacho recorrido, em face ao assim sustentado, que desde a data do acidente tinha decorrido um período de tempo superior ao aludido prazo de caducidade, sem verificação de qualquer causa interruptiva desse prazo, pela que declarou tal caducidade.

Pode concordar-se ou não com o assim decidido e com os fundamentos para tanto invocados. O que seguramente não pode sustentar-se é que a decisão padece de uma falta, para mais absoluta, de fundamentação.

Improcede, por isso, a arguida nulidade. *Segunda questão: saber se se verifica a caducidade declarada pelo tribunal recorrido.

O acidente relatado na participação que deu origem a este processo terá ocorrido em 3/7/2009, devendo por isso aplicar-se a LAT/97, pois que a LAT/09 (Lei 98/09, de 4/9) só tem aplicação aos acidentes de trabalho ocorridos após a sua entrada em vigor (art. 187º/1 da LAT/09), ou seja, 1/1/10 (art. 188º/1 da LAT/09).

“O direito de acção respeitante às prestações fixadas nesta lei caduca no prazo de um ano, a contar da data da alta clínica ou, se do evento resultar a morte, a contar desta.”. – art. 32º/1 LAT/97.

Como é sabido, o instituto da caducidade justifica-se por razões de certeza jurídica, na medida em que “…certos direitos devem ser exercidos durante certo prazo, para que ao fim desse tempo fique inalteravelmente definida a situação jurídica das partes. É de interesse público que tais situações fiquem, assim, definidas duma vez para sempre, com o transcurso do respectivo prazo.” - Manuel de Andrade, Teoria Geral da Relação Jurídica, 1987, volume II, p. 464.

“O fundamento da caducidade analisa-se apenas em razões objectivas de certeza e segurança jurídica, ditadas pelo interesse social de definição das situações a que respeita (…).” – Almeida Costa, Direito das Obrigações, 8ª edição, p. 1037.

“A existência de prazos de caducidade e de prescrição em sede de responsabilidade por acidentes de trabalho não é, em si, criticável e não corresponde a uma contradição com o disposto no artigo 34º da LAT. De facto, a nulidade das estipulações que impliquem o afastamento das regras da responsabilidade por acidentes de trabalho não é contrariada por se admitir que os direitos emergentes dessa responsabilidade se extingam pelo decurso dos prazos de caducidade ou de prescrição. No artigo 34º da LAT proíbe-se a renúncia antecipada de direitos, o que não é contraditório com o facto de, por motivo de segurança jurídica, se estabelecerem prazos de exercício de direitos, até porque nada obsta a que o trabalhador recuse a reparação que lhe é devida. A única crítica justificável é a que respeita ao estabelecimento de prazos tão curtos, inferiores aos que decorrem do Direito Civil.” –

Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalho, p. 793.

Os prazos de caducidade não se suspendem nem se interrompem, a não ser nos casos

expressamente previstos na lei (art. 328º do CC), sendo que só impede a caducidade a prática, dentro do prazo legal ou convencional, do acto a que a lei ou convenção atribua efeito impeditivo (art. 331º/1 do CC).

Assim, a única forma de evitar a caducidade é praticar, dentro do prazo correspondente, o acto que tenha efeito impeditivo, sabendo-se que se tal prazo estiver assinalado para o exercício de um direito através de uma acção judicial, a única forma de evitar a caducidade desse direito é propor tal acção no decurso do correspondente prazo (art. 332º/1 do CC), considerando-se a acção

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emergente de acidente de trabalho proposta nada data do recebimento da participação em tribunal (arts. 26º/4 e 99º/1 do CPT).

Na ausência de indicação legal noutro sentido, o prazo de caducidade começa a correr no momento em que o direito puder ser legalmente exercido (art. 329º do CC), sendo que da

conjugação desse normativo com o art. 32º/1 da LAT/97 emerge que o prazo de caducidade nesta cominado começa a correr a partir da data da alta clínica formalmente comunicada ao sinistrado ou, se do acidente resultar a morte, a partir da data desta.

Como facilmente se intui, as situações em que a data da alta clínica e a entrega do correspondente boletim de alta relevam para efeitos de fazer coincidir com a mesma o termo inicial do prazo de caducidade reportam-se, apenas, aos casos em que se levou o acidente de trabalho ao

conhecimento da seguradora de acidentes dessa natureza e em que subsequentemente a mesma seguradora tenha prestado ao sinistrado acompanhamento clínico.

Situações existem, contudo, em que por lhe não ter sido participado o acidente de trabalho, a entidade responsável não conferiu ao sinistrado qualquer tipo de assistência médica e em que, consequentemente, nunca ao sinistrado foi conferida a alta clínica representativa do momento em que se considera terem consolidado as lesões determinantes daquela assistência.

Nesses casos, o termo inicial daquele prazo de caducidade não pode corresponder à data da alta clínica, sabido que essa alta só é atribuída em boletim que deve ser emitido quando terminar o tratamento do sinistrado, quer por este se encontrar curado ou em condições de trabalhar, quer por qualquer outro motivo, devendo colocar-se nesse boletim a causa da cessação do tratamento e o grau de incapacidade permanente ou temporária, bem como as razões justificativas das suas conclusões (art. 32º/2 do DL 143/99, de 30/4 – RLAT/99).

Nessas situações de ausência de tratamento médico por parte da entidade responsável decorrente do facto de lhe não ter sido participado o acidente, o termo inicial do prazo de caducidade deve fazer-se coincidir com o dia do próprio acidente de trabalho.

Com efeito, o sinistrado ou beneficiários do direito devem de participar o acidente, nas 48 horas seguintes, à própria entidade empregadora ou à pessoa que o represente na direcção do trabalho “salvo se estas o presenciarem ou dele vierem a ter conhecimento no mesmo período” (art. 14º/1 do RLAT/99), equivalendo a participação ou o conhecimento do acidente à condição emergente para a empregadora, entre outros, do dever de participação obrigatória do acidente à entidade seguradora para quem tenha transferido a sua responsabilidade (art. 15º do RLAT/99) ou ao tribunal competente, no caso de ausência de transferência de responsabilidade (art. 16º do RLAT/99).

Por sua vez, recebida pela seguradora a participação do acidente, incumbe-lhe o dever de proceder à sua participação ao tribunal nas condições estabelecidas no art. 18º do RLAT/99.

A par dos casos de participação obrigatória a que acaba de aludir-se, existem os casos de

participação facultativa previstos no art. 19º do RLAT/99, designadamente pelo sinistrado (alínea a). Ora, embora os sinistrados não estejam normalmente obrigados à participação do acidente de trabalho, não pode deixar de reconhecer-se que essa obrigação existe nos casos em que houve incumprimento do dever de participação por parte das pessoas e entidades sujeitas desse dever, sob pena de caducidade do respectivo direito de acção – João Monteiro, Fase Conciliatória do Processo para a Efectivação de Direitos Resultantes de Acidente de Trabalho – Enquadramento e Tramitação, p. 17, consultável em http://www.tre.mj.pt/docs/ESTUDOS%20-%20MAT%20SOCIAL/ Direitos%20Resultantes_Acidente%20Trab.pdf.

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omitiu a subsequente participação a que estava obrigada, razão pela qual jamais a empregadora ou a seguradora de acidentes de trabalho prestaram assistência médica à sinistrada.

Apesar disso, a sinistrada não reagiu contra essa situação e não apresentou, até ao momento em que deduziu a que deu origem a estes autos, a participação facultativa que podia ter apresentado ao abrigo do art. 19º/a do RLAT/99, apesar de, como alega na participação de que emergiu este processo, ter carecido de assistência médica particular que procurou e cujos custos suportou e de ainda não se encontrar curada das lesões para si emergentes do aludido acidente.

Por outro lado, face à ausência de qualquer assistência médica por parte da seguradora de

acidentes de trabalho, considerando que nenhuma prestação infortunística devida por acidente de trabalho lhe estava a ser concedida e atendendo a que só a segurança social subsidiou e apenas parcialmente os períodos de incapacidade para o trabalho em que se encontrou, facilmente se poderia a sinistrada ter consciencializado de que algo de irregular se estaria a passar relativamente ao acidente que a vitimara, em função do que poderia ter interpelado a empregadora sobre as causas dessa situação irregular e assim ter-se apercebido da ausência de participação.

Por isso, deveria a sinistrada ter apresentado a participação facultativa do acidente a que supra se aludiu, no ano subsequente à data em que o mesmo ocorreu.

Não o tendo feito nesse prazo, caducou manifestamente o direito de acção emergente daquele acidente.

É certo que terá sido omitida pela empregadora a participação desse acidente.

Simplesmente, essa omissão não tem qualquer eficácia suspensiva ou interruptiva da prescrição. Com efeito, como se decidiu no acórdão do STJ de 11/10/2005, proferido no processo 05S1695, disponível em www.dgsi.pt, “(...) É ao sinistrado ou aos beneficiários das pensões e indemnizações atribuídas por lei que incumbe o ónus de desencadear o efeito impeditivo da caducidade, visto que são eles os que directamente beneficiam dos efeitos indemnizatórios e têm interesse no exercício do direito de acção. Para o efeito de assegurarem o exercício tempestivo do direito de acção, o sinistrado e os beneficiários dispõem da faculdade de efectuarem, por sua própria iniciativa, a participação do acidente, que lhes é conferida pelo artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 143/99. (...)

É, assim, patente que a falta de cumprimento do dever de participar o acidente ao tribunal, por parte de uma entidade empregadora ou seguradora ou do director do estabelecimento hospitalar, assistencial ou prisional, nos casos em que esse dever de comunicação é obrigatório, pode

determinar que se venha a verificar a caducidade do direito de acção pelo decurso do prazo de um ano a que se reporta o artigo 32º da Lei n.º 100/97, se entretanto tal participação não vier a ser feita por qualquer outra pessoa ou entidade que disponha dessa faculdade nos termos do artigo 19º.”. Por outro lado, como se escreveu no acórdão deste Tribunal da Relação de 29/5/2006, proferido no processo 0611023, disponível em www.dgsi.pt, em termos perfeitamente transponíveis para o âmbito de vigência da LAT/97, “De todos os normativos citados, impõe-se concluir que só é relevante para evitar o decurso do prazo de caducidade, previsto na Base XXXVIII, n.º 1, a participação - o acto impeditivo de caducidade - feita ao Tribunal do Trabalho.

A participação é o acto que exprime a intenção de exercer o direito de acção e visa desencadear os mecanismos legais para a obtenção, pelo sinistrado ou seus beneficiários, das prestações devidas pelo acidente de trabalho.

A falta de participação de acidente de trabalho por quem está obrigado a fazê-la (artigos 16.º a 18.º do DL n.º 360/71), constituía apenas uma transgressão punível com multa, conforme o disposto no artigo 76.º, n.º 2 do mesmo diploma. (Actualmente constitui contraordenação punível com coima

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-artigo 67.º, n.º 2, da Lei n.º 143/99, de 30.04).

Assim, caberá ao sinistrado ou aos seus familiares o cuidado de saber da tempestividade da

participação de acidente de trabalho ao tribunal competente – Tribunal do Trabalho -, para colmatar eventual falta de quem devesse participar.”.

No mesmo sentido, decidiu este Tribunal da Relação, no seu acórdão de 27/6/2011, proferido no processo 271/08.4TTLMG.P1, em termos perfeitamente transponíveis para o âmbito de vigência da LAT/97, que “Mas admitindo a possibilidade do não cumprimento da obrigação de participação referida nos artigos 16º e 18º, o legislador veio permitir às pessoas indicadas no artigo 21º do

Decreto 360/71 a possibilidade de participar o acidente (a vítima, por si ou por interposta pessoa; os familiares do sinistrado e outros aí indicados). Tal possibilidade de participação prevista pelo artigo 21º do referido Decreto só pode ser entendida como o modo de fazer chegar ao Tribunal o

conhecimento de evento que é susceptível de conduzir à atribuição das prestações/indemnizações previstas na Lei de Acidentes de Trabalho. Por isso, se nem a seguradora ou a empregadora não tomam a iniciativa de fazer a participação (por razões que aqui e agora não cumpre indicar ou analisar), então, deverão as pessoas referidas no citado artigo 21º tomar essa iniciativa se não querem ver caducado o direito de acção.

E salvo o devido respeito, não parece que a inércia de quaisquer das pessoas a quem a lei impõe o dever de participação do acidente ao Tribunal signifique que essa “falta” neutraliza o prazo de caducidade a correr (no caso, desde a morte do sinistrado) ou até que seja causa de interrupção ou suspensão do mesmo, na medida em que tal não se mostra consagrado legalmente (artigo 328º do C. Civil). Por outro lado, a inércia dos recorrentes em fazer a participação a Tribunal conduz,

necessariamente, à verificação da caducidade do direito de acção na medida em que eles são os primeiros e únicos interessados em operar a interrupção do prazo de caducidade.

Em suma: a falta de participação do acidente a Tribunal por parte da seguradora ou da

empregadora é irrelevante para efeitos de se considerar/ou não, verificada a caducidade do direito de acção prevista na Base XXVIII nº1 da Lei 2127.”.

No mesmo sentido, decidiu, igualmente, o Tribunal da Relação de Lisboa no seu acórdão de 11/3/2015, proferido no processo 4765/12.9TTLSB.L1-4, relatado pelo aqui primeiro adjunto.

Em face de tudo quanto vem de referir-se, considerando a data em que ocorreu o acidente relatado na participação e a data desta, manifesto é que decorreu integralmente o prazo cominado no art. 32º/1 LAT/97 sem que se tenha registado qualquer facto interruptivo ou suspensivo desse prazo. Caducou, por isso, o direito de acção emergente para a sinistrada daquele acidente.*IV- DECISÃO Acordam os juízes que integram esta secção social do Tribunal da Relação do Porto no sentido de julgar a apelação improcedente, conformando-se a decisão recorrida.

Custas pela recorrente, sem prejuízo do apoio judiciário. Porto, 23/5/2016.

Jorge Loureiro Jerónimo Freitas

Eduardo Petersen Silva (vencido, conforme declaração de voto que segue) _____________

Sumário (da exclusiva responsabilidade do relator):

I- O direito de acção emergente de acidente de trabalho caduca no prazo de um ano, a contar da data da alta clínica ou, se do evento resultar a morte, a contar desta.

(11)

II- Porém, a data da alta clínica e da entrega do correspondente boletim de alta só releva para efeitos de fazer coincidir com a mesma o termo inicial do prazo de caducidade nos casos em que se levou o acidente de trabalho ao conhecimento da seguradora de acidentes dessa natureza e em que subsequentemente a mesma seguradora tenha prestado ao sinistrado acompanhamento clínico.

III- Naqueles casos em que à seguradora não foi participado o acidente e em que por isso a mesma não conferiu ao sinistrado qualquer tipo de assistência médica, nem alta clínica, o termo inicial do prazo de caducidade deve fazer-se coincidir com o dia do próprio acidente de trabalho.

IV- A falta de participação obrigatória do acidente de trabalho não suspende nem interrompe o prazo de caducidade.

Jorge Loureiro ____________

Declaração de voto: Vencido. Daria provimento ao recurso.

Considero que a expressa previsão legal do início da contagem do prazo de caducidade, a partir do dia seguinte ao da comunicação do boletim de alta, não só exclui a aplicação da lei geral, como não autoriza a interpretação restritiva aos casos em que tenha sido emitido boletim de alta pela

seguradora, por lhe ter sido devidamente participado o acidente pelo empregador.

Com efeito, não só o intérprete não está autorizado a distinguir onde a lei não distingue, como tal interpretação viola, em última análise, o direito constitucionalmente garantido da justa reparação infortunística laboral, como além do mais introduz uma aplicação casuística da lei.

Por outro lado, ao retirar da faculdade de participação do próprio sinistrado o argumento de que este deve presumir, na passagem do tempo, que o empregador não cumpriu o seu dever de participar obrigatoriamente, e através dessa presunção onerar o sinistrado com as consequências do omissão do comportamento devido do empregador - ou seja, com a preclusão do seu direito à reparação das consequências do acidente sofrido - viola o equilíbrio de interesses plasmado pelo legislador ordinário e constitucional, acarretando um ónus injusto e excessivo sobre o sinistrado, pois a solução adoptada nem sequer obedece ao princípio geral da contagem do prazo de caducidade - exercício do direito a partir do momento em que ele é possível - e pelo contrário, acaba a redundar na criação de uma outra norma: contagem do prazo de caducidade a partir da data do acidente. Ora, como a caducidade não se suspende nem interrompe, a norma assim criada não acautela a posição dos sinistrados que hajam, a partir do dia do acidente, sofrido períodos, mais ou menos longos, de incapacidade temporária absoluta, onerando-os, mesmo nessa condição de impossibilidade, com o dever de participarem eles mesmos o acidente, quando, voltamos a repetir, a participação prevista na lei é meramente facultativa.

Eduardo Petersen Silva

Referências

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