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MEMÓRIA SOCIAL E FORMAÇÃO DOCENTE: REPRESENTAÇÕES SOBRE O SER PROFESSOR DE GEOGRAFIA 1

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Academic year: 2021

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2032 MEMÓRIA SOCIAL E FORMAÇÃO DOCENTE: REPRESENTAÇÕES

SOBRE O SER PROFESSOR DE GEOGRAFIA1

Débora Paula de Andrade Oliveira deborageografiauesb@gmail.com Licencianda em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Bolsista CNPq Lorene Souza Costa lorenecosta@hotmail.com Licencianda em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Bolsista FAPESB Nádia Sousa Silva naddyasousa@hotmail.com Licencianda em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Bolsista Voluntária UESB Patrícia Godoia Garcia S. Teixeira patriciagodoia@hotmail.com Licencianda em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Bolsista Voluntária UESB

Resumo

Esse artigo aborda as representações sobre o ser professor de Geografia, para os alunos egressos do curso de Licenciatura em Geografia oferecido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Nessa perspectiva, busca-se desvendar, à luz das categorias memória e representações sociais os significados que permeiam a formação docente desses sujeitos sociais. Para viabilizar tal proposta, optou-se pelo aprofundamento do estudo das categorias apresentadas e a realização de entrevistas semi-estruturadas com os alunos egressos do referido curso. Por intermédio da análise e categorização das informações obtidas nessas entrevistas e do alicerce teórico discutido, foi possível compreender como os alunos constroem as suas representações com relação a carreira docente. É valido sublinhar que a pesquisa encontra-se em fase de desenvolvimento, portanto, os resultados obtidos até então são considerados preliminares.

Palavras-chave: Formação docente; Memória social; Geografia.

1 Artigo resultante da pesquisa intitulada Memória, discursos e representações sociais: um olhar para os 25 anos do Curso de Geografia da UESB coordenada pela Prof.ª Dr.ª Geisa Flores Mendes, coordenadora do grupo de pesquisa Espaço, Memória e Representações Sociais, vinculado ao CNPq.

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2033 EIXO 15 - A Geografia na educação básica: metodologia, tecnologia e

formação docente.

Abstract

This article deals with the representations of being a teacher of Geography, for graduates students of Geography offered by State University of Southwest Bahia. In this perspective, we seek to unravel the lights of memory and social representations of the meanings that permeate teacher education students. To make such a proposal, it was decided to prepare the theoretical framework and conducting semi-structured interviews with former students of that course. Through the analysis and categorization of information obtained from these interviews and discussed the theoretical foundation, was to understand how students construct their representations regarding the teaching profession. It is valid underline that this research is still in the development stage, the results obtained so far are considered preliminary.

Key-Words: Teacher training; Social memory; Geography.

Ponderações iniciais

Os estudos em memória social constituem-se como um campo fértil de possibilidades analíticas ainda pouco abordadas no âmbito das discussões sobre a formação docente e a educação.

A proposta de trabalho ora apresentada surgiu como um subprojeto da pesquisa Memórias, discursos e representações sociais: um olhar para os 25 anos do Curso de Geografia da UESB que tem como objetivo principal sistematizar aspectos que envolvem a memória do Curso ao longo desses anos de existência.

O referido curso foi autorizado no segundo semestre de 1985, através do Parecer nº. 244/84. No ano de 1991, o curso foi devidamente reconhecido por intermédio da Portaria Ministerial nº. 833 de 05 de junho de 1992. O Curso foi idealizado para suprir a carência de professores licenciados para atuar nas escolas de Ensino Fundamental e Médio da região Sudoeste da Bahia.

Para viabilizar este estudo, estabeleceram-se como procedimentos metodológicos, inicialmente, uma revisão bibliográfica sobre os conceitos considerados basilares para a pesquisa, tais como: memória social, formação docente e representações sociais. A posteriori, optou-se pela realização de

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entrevistas semi-estruturadas com os alunos egressos do curso. Finalmente, alicerçados no lastro teórico elaborado, foram feitas as análises das entrevistas, na perspectiva de evidenciar o significado e as representações dos alunos egressos, com relação ao exercício docente.

A organização do artigo acompanha a seguinte estrutura: inicialmente, optou-se por delinear os objetivos da pesquisa, seguidos de uma breve reflexão teórica dos principais conceitos utilizados. Posteriormente, foi evidenciado o percurso metodológico e por fim presentam-se alguns resultados. É importante sublinhar que a presente pesquisa encontra-se em fase de conclusão, por conseguinte, os resultados obtidos são preliminares. Para encerrar o artigo, são apresentados algumas considerações, referentes aos desafios e percalços na execução do projeto.

Objetivo da Pesquisa

Esse artigo busca analisar as representações sociais que envolvem o “ser professor de Geografia”, para os alunos egressos do curso de Licenciatura em Geografia, oferecido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Nessa perspectiva, o presente estudo se insere num viés analítico que busca privilegiar a memória e as representações dos sujeitos sociais, como elementos essenciais na compreensão do significado do exercício docente.

Referencial teórico conceitual

A pesquisa ora apresentada tem seu alicerce teórico calcado nos estudos da Memória Social, Formação Docente e Representações Sociais, entendidos aqui como categorias fundamentais para a compreensão e análise dos fenômenos e processos em questão.

Os estudos referentes à memória e às representações Sociais tem-se tornado, uma vertente analítica extremamente instigante e desafiadora, configurando-se como um campo fértil de possibilidades.

Mendes defende que “[...]a discussão em torno destes referenciais teórico-conceituais tem permeado inúmeros debates” (2011, p.7). A autora

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sublinha o caráter eminentemente interdisciplinar da Memória, com abordagens em vários campos do conhecimento, como a Geografia, a História, a Sociologia, a Antropologia, a Educação e a Psicologia Social. Nesse viés, Mendes (2011, p.7) destaca “[...] a importância destas reflexões que levem em conta as interfaces entre os elementos objetivos e subjetivos que configuram determinados constructos sociais”.

Durante muito tempo, os estudos referentes à memória, restringiam-se a natureza psíquica e biológica dessa categoria, fazendo com que esta tenha sido analisada apenas sob o plano individual, descontextualizada dos processos sociais e históricos. A partir do final do século XX e início deste século é que se introduz as ideias referentes aos atributos sociais da Memória. Sublinha-se as contribuições e o pioneirismo de Maurice Halbwachs (1990), sobre o caráter social da Memória e o elo estabelecido entre os aspectos individuais e coletivos da memória.

De acordo com Halbwachs, a construção da memória coletiva perpassa necessariamente pela rememoração das percepções atuais. As confrontações dos depoimentos reconstroem o passado coletivo e possibilitam o reconhecimento de determinados significados.

A discussão sobre o termo representação implica em associá-lo, logo de imediato a outras categorias de análise, tais como: cultura, símbolos, mitos, crenças, valores, visão de mundo etc. Essa propriedade evidencia a natureza dinâmica e essencialmente social a categoria representação.

Por esse viés, Claval (1999, p. 86) afirma que “[...] sem elas (as representações) não se compreende nunca como as coisas são concebidas e quais significados elas têm na vida dos homens”.

Nas discussões sobre as representações sociais, Mendes (2011, p.9) assinala a importância dos coletivos sociais, no constructo social da representação:

É como membros de diversos grupos que nós nos representamos e construímos representações de objetos, territórios, instituições ou fatos. Sob esta ótica, as representações não podem ser entendidas fora de uma dimensão de alteridade, de uma teia de relações entre os indivíduos na sociedade da qual fazem parte.

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Na análise das representações sociais Moscovici (1978, p.41) sublinha o dinamismo intrínseco a esta categoria. Sobre esse aspecto, o autor pontua que:

As representações sociais são entidades, quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso universo cotidiano. A maioria das relações sociais estabelecidas, os objetos produzidos ou consumidos, as comunicações trocadas, delas estão impregnadas.

Mendes (2011, p.10), por sua vez, ressalta:

[...] o nosso cotidiano é atravessado por uma multiplicidade de ações e vozes que instituem representações sociais partilhadas por determinados grupos, assim, é inegável que as representações sociais são elaboradas no âmbito dos fenômenos comunicacionais. A comunicação social seria, portanto, responsável pelo modo como se forjam essas representações.

Nessa perspectiva, Cosgrove (1998, p. 5) enfatiza ainda que “[...] toda atividade humana é, ao mesmo tempo, material e simbólica, produção e comunicação.”

No âmbito da formação docente, as discussões sobre a dimensão social da memória e as representações sociais tornam-se especialmente significativas, uma vez que as significações humanas estão inseridas num contexto social. Nesse aspecto, Loguercio e Pino (2003, p.19) defendem que “[...] estamos sempre significando em relação a alguma coisa, o significado, tão necessário ao homem não se faz no vazio”.

Tais autores defendem a ideia de que o ser professor traz consigo uma gama de significados culturais que os diferenciam dos outros seres humanos. Na concepção deles:

Os/as professores/as são constituídos/as pelo título e colados/as a ele, onde há uma carga de significados que são deste mundo moderno e que não “podem” ser pensados diferentemente. Com a palavra e o significado cultural que ela carrega se produz o/a professor/a em todas as suas variantes: tradicional, outsider, criativo, sensível, amigo, professora ou professor, o que o diferencia do homem, mulher, tia,... (LOGUERCIO; PINO, 2003, p.20)

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Nessa perspectiva analítica, entende-se que os aspectos culturais inerentes ao Ser Professor são produzidos dentro e fora do contexto escolar, todavia, no espaço da escola o professor deixa aflorar com maior intensidade todas as características que o tornam, de fato, Professor.

Na discussão sobre a formação docente, Mendes et al. (2013) defendem a ideia de que a identificação docente configura-se como uma construção da memória e das representações sociais. As autoras assinalam que “[...] o processo de identificação com uma trajetória docente é construído ao longo do percurso formativo por meio da memória e das representações que marcam a vivência dos graduandos. (MENDES et AL., 2013, p.2).

Em consonância com o que foi proposto por Mendes et al, os saberes que o aluno-professorando trazem consigo, irão influenciá-lo posteriormente na sua prática pedagógica. Ainda segundo as autoras mencionadas:

Os saberes, memórias e representações que os alunos das licenciaturas trazem, quando se inserem na realidade de um curso de formação, influenciarão, sobremaneira, a prática pedagógica destes futuros professores. (MENDES et al., 2013, p. 3).

A memória social constitui-se como categoria imprescindível para a compreensão da identidade docente, evidenciadaspor meio dos depoimentos e narrativas dos sujeitos. Assim,

Na busca da compreensão dessa identidade docente consideram-se os estudos que envolvem a memória como campos privilegiados, pois possibilitam, por meio das narrativas, identificar os “marcos” nas trajetórias dos sujeitos sociais que, em algum momento de suas vidas, se inseriram em um Curso de Licenciatura, quer por opção, quer por imposição de qualquer natureza. (MENDES et al, 2013, p.3))

Mediante as abordagens teóricas brevemente delineadas, pode-se concluir que a memória, as representações sociais e a formação docente constituem-se como categorias de análise indispensáveis para a compreensão dos significados do ser professor de Geografia, sob a ótica dos alunos egressos da UESB.

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Para que fosse dado início ao desenvolvimento dessa pesquisa, fez-se necessário um aprofundamento teórico a partir da bibliografia selecionada, como subsídio para discutir as categorias essenciais na análise proposta, tais como Formação docente, Memória Social e Representações Sociais, isso proporcionou uma melhor orientação ao pleno desenvolvimento dos trabalhos.

Ao se investigar a possibilidade de consecução desse estudo, optou-se por alicerçar-se teoricamente em Halbwachs (1990), Mendes (2004;2011;2013) e Moscovici (1978) dentre outras fontes, para discutir as categorias de análises supracitadas.

Para viabilizar a proposta, foi fundamental a realização de entrevistas semi-estruturadas com os alunos egressos do curso de Geografia. Foram abordados aproximadamente 200 alunos egressos da instituição, formados entre os anos de 1990 e 2013, por intermédio das redes sociais, endereço eletrônico e pesquisa de campo.

Essa etapa revelou-se fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, uma vez que possibilitou o acesso à informações, que analisadas à luz das ideias dos teóricos utilizados, tornaram-se uma fonte de depoimentos extremamente significativos e permeados de sentido e percepções acerca da vivência no curso e da profissão docente.

Embora a realização das entrevistas tenha se configurado como essencial para a pesquisa, a realização destas sua aplicação exigiu dos pesquisadores envolvidos muita dedicação e perseverança. O primeiro desafio foi encontrar os sujeitos do estudo, tarefa difícil uma vez que alguns alunos já se formaram há bastante tempo e não residem mais em Vitória da Conquista, além dos seus vínculos com a instituição serem cada vez mais rarefeitos.

Uma vez localizados, foi preciso despertar nesses sujeitos o desejo de colaborar com a pesquisa. A receptividade com que os alunos encararam a pesquisa variou bastante. Infelizmente, a maior parte dos alunos egressos abordados, por razões diversas não responderam a pesquisa.

Todavia, os sujeitos que se propuseram a participar, contribuíram de forma valiosa, ao responder as questões. A partir das informações obtidas com as entrevistas, realizou-se a categorização dos dados em tabelas, a fim de

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identificar traços em comum, ou divergências na memória coletiva dos sujeitos da pesquisa.

A categorização das informações viabilizou a análise das entrevistas, isso nos ajudou a compreender um pouco da experiência/vivência deles durante a graduação e a suas representações sobre a profissão docente, uma vez que o curso é de Licenciatura em Geografia.

Percursos da Pesquisa

Por intermédio da análise das entrevistas realizadas com os alunos egressos do curso de Geografia, oferecido pela UESB foi possível perceber a diversidade de significados do ser professor de Geografia, sob a ótica do aluno egresso, licenciado por essa instituição.

É salutar destacar que a pesquisa ora apresentada ainda não foi concluída, sendo assim, as informações e considerações aqui explanadas são referentes aos resultados parciais da pesquisa. Até o momento, foram abordados aproximadamente 200 alunos. Desse total, por enquanto 40 alunos concordaram em colaborar com o desenvolvimento da pesquisa, participando das entrevistas semi-estruturadas.

Embora a pesquisa apresente inicialmente alguns dados quantitativos, é válido salientar que seu caráter é essencialmente qualitativo, pois o que se considera aqui, não é o numero de entrevistas, mas sim, o que há de mais significativo nos depoimentos: as representações sobre a formação docente e os sentidos do ser professor de Geografia.

Nos depoimentos analisados, pode-se verificar que os discursos referentes ao “ser professor de Geografia”, são produto de um constructo social repleto de significados, contradições e sonhos.

Os depoimentos e as narrativas dos alunos egressos são extremamente valiosos uma vez que, de acordo com Mendes et al.,

[...] se constituem em um procedimento exemplar para compreender as memórias e representações acerca do significado de ser professor, pois por meio delas, materializadas nas escritas autobiográficas, é possível perceber a realidade cotidiana de forma bastante particular, uma vez que cada indivíduo procura dar um sentido específico a cada vivência

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2040 através das suas crenças, dos seus mitos, valores e papéis que

exercem em seus contextos sociais (2013, p.4).

Quando questionados sobre o porquê de escolher a Licenciatura em Geografia para a graduação, as respostas foram bastante heterogêneas. Todavia, a maioria dos alunos apontou identificação com a carreira docente e, sobretudo, afinidade com a Ciência Geográfica. Sobre esse aspecto, obtivemos a seguinte resposta de um aluno egresso, licenciado em 2007:

Foi uma opção pensada. [...] Eu sabia o que queria. E essa decisão remontava a meus desejos ou curiosidades sobre as grandes questões da humanidade (espaço). O que aos poucos fui percebendo se tratar de questões intrínsecas envolvendo o espaço global, (geopolíticas e geoeconômicas), os espaços regionais e obviamente a natureza em sua máxima expressão. [...] reafirmo que entre a Licenciatura e o Bacharelado ficaria, e fico, com a Licenciatura.

Ainda sobre a decisão de cursar a Licenciatura em Geografia, uma aluna, licenciada em 2011, afirmou categoricamente: “[...] fui criada por uma família, onde (sic) a educação é fundamental, e carreira docente é admirada como um sacerdócio e me influenciou muito na decisão”. O depoimento da aluna evidencia o significativo valor atribuído à atividade docente, determinante para a sua opção de carreira. Em outro depoimento, uma aluna licenciada no ano de 2012 referencia o desejo de ser professora, quando questionada sobre a escolha do curso de graduação: “[...] além de gostar da disciplina de Geografia na escola, tinha o desejo de me tornar professora”.

Quando indagados sobre as recordações que marcaram a sua vivência durante a graduação, foi possível perceber traços característicos da memória coletiva dos sujeitos em questão. Elementos como as aulas de campo, as vivências do ambiente acadêmico e o contato com professores e colegas foram mencionados com muita frequência. Em conformidade com o que foi proposto por Halbwachs (1990) esse fato evidencia a construção social da memória, uma vez que

[...] se nossa impressão pode apoiar-se não somente sobre nossa lembrança, mas também sobre a dos outros, nossa confiança na exatidão de nossa evocação será maior, como se uma mesma experiência fosse recomeçada, não somente pela mesma pessoa, mas por várias. (HALBWACHS, 1990, p.25)

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A interpretação do referido autor sugere que as vivências de um coletivo social tornam-se mais consistentes quando rememoradas pelo grupo. É dessa maneira, que a memória social toma forma.

No que concerne à formação docente, os alunos entrevistados foram questionados acerca do sentido da experiência/vivência na sala de aula. As respostas a essa indagação foram naturalmente heterogêneas, visto que as representações sobre a prática docente possuem também muita riqueza de significados. Uma aluna licenciada em 2003, chama atenção sobre o valor da Licenciatura Plena, sobre esse aspecto, ela sublinha a importância da formação que recebeu na universidade. Em seu depoimento, destaca que “[...] o aluno da licenciatura curta é desvalorizado, quando chegavam os licenciados na escola, tinha que ceder a minha carga horária em Geografia para eles, era o que a lei determinava”.

Ainda sobre essa questão, um outro aluno, licenciado em 2011, sinaliza para a troca de experiências. No seu depoimento, afirma que o sentido da experiência/vivência em sala de aula “[...] está relacionado à troca de experiências e conhecimentos aos quais cada um carregava. O modo de enxergar as formas das relações e a construção dos conhecimentos a respeito da Geografia, bem como a sociedade”. Sua fala evidencia uma concepção mais crítica acerca da educação.

Uma aluna, licenciada em 2012, defende rigorosamente a vivência/experiência da sala de aula, durante a graduação, visto que considera imprescindível para a formação de qualidade do futuro docente. Argumenta que:

Essa prática é extremamente importante para a atuação profissional, é necessário, pois quem nunca vivenciou uma experiência na sala de aula durante o curso, provavelmente não saberá como lidar com ela após o curso. É nessa experiência que muitos se percebem fora do “contexto”, ou seja, percebem que estão no curso errado e os que querem permanecem.

As realizações pessoais desses alunos evidenciam os sentidos e as representações sociais que o grupo construiu no decorrer de sua vivência no curso de Geografia da UESB. Quando questionado sobre esse aspecto, chama atenção novamente a heterogeneidade da fala dos entrevistados. Um

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aluno licenciado em 2007, afirma que sua principal realização na graduação, foi “[...] estar apto a estruturar um raciocínio que leva o ouvinte a uma reflexão geográfica.”

De maneira muito significativa, esse aluno afirma, com relação a carreira docente:

[...] é a minha vida, lecionar, falar em público, explicar a Geografia, o planeta Terra e a sociedade em que (com) vivemos, e ver o resultado dessa produção, que não é industrial, no olhos dos estudantes e lhe dizendo que gostou de mim ter como professor em sua vida.

Quando questionada se tivesse que recomeçar sua vida profissional, escolheria novamente ter feito o Curso de Geografia da UESB, uma aluna, licenciada em 2003, afirmou com bastante convicção:

Não tenho dúvida. Mas digo uma coisa para meus alunos que querem cursar Geografia: não parem na educação básica, vocês vem só estagiar e voltam para a academia para desenvolver suas pesquisas. Apesar das dificuldades do estado, ser professor de Geografia é maravilhoso.

Através dessas breves exposições dos depoimentos e narrativas obtidas com os alunos egressos do curso de Geografia da UESB, foi possível compreender e refletir um pouco sobre ensino na universidade e a prática docente, bem como os significados e o sentidos que permeiam a formação docente e o ser professor.

Embora a presente pesquisa ainda não esteja finalizada, essas perspectivas de análise mostraram-se como possibilidades riquíssimas na compreensão dos significados que envolvem a Licenciatura em Geografia. Os estudos da dimensão social da memória e das representações sociais forneceram elementos, que subsidiaram a análise.

É relevante enfatizar que a pesquisa aqui apresentada não pretende esgotar a discussão sobre as contribuições da memória social para a formação docente, pelo contrário, essa discussão mostra-se como um campo de estudos embrionário, ainda carentes de pesquisas mais aprofundadas, dado a sua ampla gama de vertentes e possibilidades analíticas.

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2043 Considerações finais

O desenvolvimento desta pesquisa revelou-se como um exercício de intersecção teórica extremamente valioso e instigante. Por intermédio das discussões acerca da dimensão social da memória, no âmbito da formação docente em Geografia descortinou-se um novo horizonte de possibilidades analíticas, em que o eixo articulador da pesquisa foram as representações construídas coletivamente pelos sujeitos sociais, nesse caso em particular, os alunos egressos que vivenciaram o cotidiano do curso, em temporalidades distintas.

Para que tal estudo fosse possível, foi imprescindível a realização de entrevistas com os alunos egressos do curso, uma vez que através dessa ferramenta podem-se analisar nos depoimentos e narrativas as representações que esses alunos construíram/constroem com relação à carreira docente.

Referências

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