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MENINAS E MENINOS ADOLESCENTES CONSTRUINDO SENTIDOS PARA O CIÚME EM SUAS RELAÇÕES AFETIVO-SEXUAIS: VIOLÊNCIA DISFARÇADA DE AMOR!?

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MENINAS E MENINOS ADOLESCENTES CONSTRUINDO SENTIDOS

PARA O CIÚME EM SUAS RELAÇÕES AFETIVO-SEXUAIS: VIOLÊNCIA

DISFARÇADA DE AMOR!?

Telma Low Silva1 Benedito Medrado2 Danielly Spósito Pessoa de Melo3

Resumo: Que sentidos mulheres e homens adolescentes constroem, na atualidade, sobre o amor? O

que diferencia, nas vozes de meninas e meninos, o amor da violência, no contexto do namoro e do “ficar”? Nesse trabalho, debatemos sobre as conexões que parecem existir entre o ciúme, o mito do amor romântico e a violência de gênero nas relações afetivo-sexuais entre adolescentes. Com base em leituras feministas de gênero, apresentamos algumas considerações a partir de resultados de pesquisa de Doutorado, de natureza qualitativa, realizada adolescentes de ambos os sexos, moradoras/es de comunidades de baixa-renda de Recife/PE e vinculadas/os a projeto social realizado por uma ONG feminista sediada Recife. Foram realizados grupos focais inter e intra-sexo, nos quais os/as adolescentes relatavam experiências e opiniões sobre relacionamentos afetivo-sexuais. Em linhas gerais, percebe-se que o ciúme aparece como um dos elementos mais importantes no âmbito de suas vinculações afetivo-sexuais, sendo considerado expressão de cuidado e de amor pela pessoa desejada, que se inscreve numa acepção mais ampla de amor romântico. Porém, no jogo discursivo, entre contradições e tergiversações esses sentidos eram ampliados, de modo que elas e eles expressavam também, ainda que de forma antagônica e sutil, que o ciúme é uma ferramenta de poder e controle sobre a/o parceira/o, uma forma de violência que reflete e (re)produz as desigualdades de gênero no âmbito do (des)afeto entre casais.

Palavras-chave: Adolescência. Ciúme. Amor Romântico. Violência de Gênero.

É o amor...

El amor romântico está profundamente tergiversado en términos de poder. Los sueños de amor romántico han conducido muy frecuentemente a la mujer a una enojosa sujeción domestica. (GIDDENS, 2008, p. 64).

Na sociedade ocidental, o amor vem sendo cantado, falado e representado, de diferentes formas. Amor que (des)encanta, que morde, amor que fere, que traz felicidade, que provoca lágrimas, vingança, (des)encontros, (des)prazeres e até morte. É o amor alvo de tantas interpretações e expressões que se converte em um tema complexo, que se constitui como elemento fundamental do vínculo entre casais.

Nesse artigo, dedicamo-nos a refletir sobre o mito do amor romântico que

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Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Pernambuco, especialista em Psicologia Social Comunitária pela Faculdade Frassinetti do Recife, mestra em Gênero e Políticas de Igualdade e doutora em Estudos de Gênero, pelo Institut Universitari d’Estudis de la Dona - Universidad de Valencia/España..

2

Doutor em Psicologia Social, Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco. 3 Doutora em Estudos de Gênero, Assistente Social do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades da Universidade Federal de Pernambuco e Líder do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas: gestão e avaliação do IFPE.

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[…] se presenta como un ideal, como un mito de referencia, una representación social o un imaginario hegemónico, pero va más allá de establecer un marco de sentido o interpretación de los afectos y relaciones para convertirse en un conocimiento práctico que genera actitudes, regula vivencias, arma estrategias y perfila unos tipos de agentes (amantes), etc., cobrando materialidad en los propios cuerpos y acciones de los enamorados, en las formas y legitimaciones predominantes de las parejas y en la producción cultural (música, novelas, películas, etc.) que nos envuelve (GARCÍA; CASADO, 2010, p. 136-137).

O ideal de amor romântico – através de seus componentes, como o ciúme, a honra, o mito da meia laranja, do amor eterno etc. – emerge como um tema relevante no âmbito das investigações que realizamos sobre violência de gênero, especialmente junto a mulheres em situação de violência e a meninas e meninos adolescentes de baixa renda. De modo que, ao debruçar-nos sobre as narrativas produzidas nessas pesquisas, somos convidadas e convidados a perguntar e analisar sobre: O que é o amor? Que modelo ou modelos de amor (co)existem entre os casais que conhecemos? Há relação entre amor-ciúme-violencia de gênero? Como e porque o ciúme se insere no contexto de muitas relações afetivo-sexuais como sinal de amor? Amor de quem? Para quem? Se o ciúme é construído como sinônimo do zelo/cuidado o que isso significa? Que modos de subjetivação e de socialização são construídos, constroem e sustentam essa possível relação mito do amor romântico-ciúme-violência de gênero?

Enfim, essas e outras questões são refletidas à luz da perspectiva feminista de gênero, posto que identificamos que, na atualidade, nos encontramos diante de pessoas e casais que “[…] ao mesmo tempo em que almejam construir uma relação igualitária, não conseguem se desvencilhar totalmente de um modelo hierarquizado” (TAVARES, 2010, p. 123). De maneira que, a partir de um diálogo entre teoria-prática, analisamos algumas narrativas produzidas pelos sujeitos participantes de uma pesquisa de doutorado: adolescentes de ambos os sexos, oriundas/os de comunidades de baixa-renda, vinculadas/os, na época da investigação4 , a um projeto social desenvolvido por uma organização não-governamental feminista sediada em Recife5.

O ciúme como um componente do mito do amor romântico no contexto do namoro e do ficar

[…] Entenda que no meu coração / Tem amor demais, meu bem e essa é a razão / Do meu ciúme / Ciúme de você...

(Compositor: Roberto Carlos e Erasmo Carlos).

O ciúme aparece como um componente chave das narrativas construídas pelos/as

4 Essa investigação foi realizada no ano de 2011, no marco dos estudos de doutorado em Estudos de Gênero vinculado à Universidade de Valencia/Espanha. Tratou de uma investigação qualitativa em que foram realizados 06 Grupos Focais intra e inter-sexo, com meninas e meninos adolescentes, visando pesquisar as temáticas da adolescência, do mito do amor romântico e da violência de gênero.

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adolescentes protagonistas de nosso estudo, quando abordam e debatem acerca das relações de namoro e ficar. De maneira que suas experiências e sentidos parecem o revelar como expressão de amor, de cuidado, ou seja, como aquele componente que dá um toque extra às relações amorosas, como apresentamos a seguir6:

H1: […] Oxe, todo mundo tem que ter ciúme, meu véio. Porque quem ama ta cuidando. M1: Sem ciúme é uma relação de quem não ama…

Porém, os jogos discursivos também revelam outros significados para o ciúme. Assim, as/os adolescentes o relacionam e o abordam, ainda que silenciosamente, como um dos aspectos significativos presentes no processo de construção da violência de gênero (TEIXEIRA, 2009):

H3: Mas, tem que ter pouco […] o ciúme pode causar violência, mas aí também já é um ciúme fora do controle, né.

M3: Meu namorado tem ciúme de mim por causa da roupa... ele não deixa eu vestir roupa curta.

M5: Oxe, eu mesma, mesmo que eu não goste da pessoa. Mas, se eu to com ele, ele é meu e eu tenho ciúme sim.

Como vemos, as narrativas apresentadas apontam para o ciúme como ferramenta de controle e de dominação nas relações afetivo-sexuais. Convergindo com as reflexões produzidas pela teoria feminista de gênero que chama a atenção, por um lado, para analisarmos críticamente as situações em que o ciúme emerge como sinônimo de amor. E, por outro lado, identificar as possíveis conexões entre o mito do amor romântico, o ciúme e a violência de gênero.

Por certo, o ciúme disfarçado de amor contribui para a construção de um imaginário machista que o naturaliza, como próprio das relações afetivo-sexuais. E, ao mesmo tempo, invisibiliza as possíveis tensões e conflitos, intra e interpessoais, geradas face ao ideal de amor romântico, modelo de amor propagado e (re)produzido no cotidiano de muitos casais apaixonados (CORIA, 2007; ESTÉBAN; MEDINA; TÁVORA, 2010; LAGARDE, 2010; HERRERA, 2011).

Para Bosch et al. (2007, p. 15), a (re)produção e vivência dessa vinculação (amor romântico-ciúme-violencia de gênero) por parte de alguns casais se dá através dos lugares, papéis e posições que assumem/exercem no contexto de uma sociedade patriarcal e heternormativa, que privilegia a construção de relações assimétricas de poder entre os sexos/gênero. De acordo com essa teórica, o sistema sexo/gênero incide na forma como as/os adolescentes vivenciam suas relações afetivo-sexuais, de modo que

[…] ellas se caracterizan por mostrar una idealización del amor y una entrega incondicional a la relación amorosa […], un elevado sentimiento de protección y cuidado del otro por encima de la satisfacción de sus propias necesidades e intereses, un concepto de amor que

6 Todas as citações apresentadas nesse artigo são fragmentos dos discursos produzidos pelas meninas e meninos adolescentes nos Grupos Focais realizados na nossa pesquisa.

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implica sacrificio del yo […]. En cambio, los chicos muestran una disposición mucho menor a la renuncia total, el sacrificio personal y la entrega y una mayor contención emocional. (BOSCH, et.al, 2007, p. 15).

É evidente, portanto, que o ciúme – considerado um dos principias componentes do mito do amor romântico – funciona como ferramenta de reforço da submissão de uma pessoa sobre a outra. De modo que, no caso dos sujeitos adolescentes, tendem a permear as relações de namoro e de ficar, atuando também na forma como os/as adolescentes constroem a noção de mulher/feminino e de homem/masculino construídas no âmbito de uma sociedade patriarcal, heteronormativa, capitalista, racista e adultocêntrica. Noção essa que ainda tende a significar (e resumir) o ser social mulher como sinônimo de submissão, fragilidade, inferioridade, maternidade sentimento etc. enquanto que o ser social homem assume a conotação de dominação, virilidade, objetividade, agressividade, entre outros (MARTÍNEZ BENLLOCH, et. al, 2008).

Sem dúvida, esse panorama nos leva a pensar que o mito do amor romântico não está ultrapassado nem tão pouco superado, como algumas pessoas pensam/acreditam/desejam. A fala de duas adolescentes chamam nossa atenção para isso:

M6: Amor romântico é aquele que não tem desconfiança, que dá atenção, carinho. [...] eu acredito que existe [...] é porque a gente ainda não encontrou a pessoa ideal pra gente. Mas, para cada uma da gente, tem uma alma gêmea, um homem...

M5: Eu acredito que para gostar de uma pessoa tem que ter desejo. [...] assim, eu não sou nada romântica, nem um pouquinho. Mas, se fosse por mim, eu amo de verdade, eu fico 24 horas ao lado da pessoa. Eu desligo o telefone e já to querendo falar com ele de novo. Eu fico doidinha porque quero ta do lado o tempo todo...

No imaginário dos sujeitos adolescentes7, o mito do amor romântico aparece presente através da expressão de idéias como, por exemplo: as do mito da meia laranja, de que cada pessoa tem uma alma gêmea/sua cara metade, encontrará seu par perfeito, único e verdadeiro amor da vida etc. Ao mesmo tempo, nos parece que esse referencial de amor parece co-habitar, na atualidade, com a noção de “amor líquido” (BAUMAN, 2004) e de relações mais plásticas (JUSTO, 2005) debatidas por esses téoricos. Que consideram que, na pós-modernidade, a noção de amar surge vinculada à ideia do consumismo instantâneo e descartável, protótipo de uma sociedade capitalista, que se fundamenta pela cultura da objetificação do humano nos mais variados contextos e relações, com ênfase nas afetivo-sexuais.

A fala de M2 nos convida a dialogar sobre uma possível interface entre o ideal de amor romântico e a noção de relação líquida, quando assumimos a perspectiva de que essa mesma sociedade capitalista também é patriarcal. Isto é, continua (re)criando um padrão de ser homem e

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mulher de acordo com a lógica da oposição binária; que define os estereótipos/papéis/posições/lugares, masculinos e femininos, respectivamente, como sendo necessariamente antagônicos, complementares e hierárquicos (SCOTT, 1990).

Assim, os discursos abaixo demonstram que o amor no âmbito das relações afetivo-sexuais entre adolescentes assume múltiplos sentidos, que não essencialmente se opõem e se excluem. Mas bem revelam contradições, inovações, repetições e singularidades quanto a forma de senti-lo, construí-lo e expressá-lo:

M2: É, enquanto a gente vai buscando o par perfeito, a gente vai ficando com um e outro... até encontrar.

H3: Na minha opinião, eu escolho a menina mais de casa. […] uma menina correta, educada, que estuda […]. Essa é a melhor. […] porque eu quero um amor pra toda vida. […] ainda que lá na comunidade, a gente joga porrinha pra ver qual é a menina que a gente vai beijar. Aí a gente vai, conhece ela e depois de um tempo já vai beijando. […] e depois vai embora e começa a procurar outra...

M5: É porque a mulher tem que deixar uma certa dúvida para o cara. Deixar ele curioso pra que ele não chegue logo com vontade de fazer tudo de uma vez (sexo)... porque assim ela perde o valor.

Como vimos, as/os adolescentes parecem de fato acreditar (e desejar) encontrar um amor “perfeito, único, verdadeiro”, premissa típica do ideal do amor romântico. Ao mesmo tempo que – enquanto não encontram o “par perfeito” –, ficam com uma e outra pessoa, muitas vezes por meio de vinculações líquidas e/ou descartáveis (JUSTO, 2005). E é nessa interface de desejos que podem utilizar/objetificar os corpos, sentimentos, desejos e ideais (de si e do/a outro/a) sob a justificativa de que estão a procura do homem/mulher/par “ideal”.

Frente a esse contexto, os estudos feministas de gênero nos convidam a adentrarmos nesse universo complexo e multifacetado que diz das relações afetivo-sexuais, a fim de continuarmos refletindo sobre a construção de estratégias eficazes para prevenir e enfrentar a violência de gênero. Considerando, portanto, como afirma Estebán (2011, p. 40), que “[…] el amor influye no solo en la socialización y generización de las personas […] sino en la organización general de la vida cotidiana. El amor inspira leyes […] y afecta la vida política e institucional en su conjunto”.

Conexões (disfarçadas) entre o mito do amor romântico, o ciúme e a violência de gênero

Como destacamos anteriormente, o ciúme aparece na narrativa dos sujeitos adolescentes como um dos motivadores dos conflitos vividos por elas e eles, no âmbito das relações afetivo-sexuais (assimétricas) que constroem:

M1: Meu namorado era igualzinho ao teu. Ele não deixava eu usar short curto nem blusa curta.

H3: Tu deixaria tua namorada sair com uma menina que é falada, como M1, por exemplo? H1: Se houvesse confiança.

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H3: Mas, tu ia deixar?

H1: Mas, H3, e eu ia proibir era?

H3: Não, deixar tu ia. Mas, tu ia ficar com ciúme, não ia não?! Oxe, eu ia era com ela... Não ia deixar ela ir só não.

Tais falas parecem mostrar que os/as adolescentes, ao construírem sentidos sobre o ciúme, vão tecendo ideias que apontam para um contexto atravessado pela violência silenciosa – também nomeada de violência simbólica ou micro-machismos (KAUFMAN, 1994; BOURDIEU, 2000). Bem como por outros tipos de violência, como a psicológica, a física, a sexual etc., que geralmente compõem o universo do amor de muitos casais.

De acordo com Bourdieu (2000), a violência simbólica deve ser entendida a partir da lógica do poder e da dominação masculina, que impõe valores, ideais e padrões patriarcais como aspectos naturais aos sexos, que (re)criam mecanismos que dificultam sua identificação (LAMAS, 2003). Neste sentido, a construção de uma sociedade sem violências, principalmente no âmbito das relações afetivo-sexuais entre adolescentes, passa também por um processo de (re)significação do ciúme e do referencial de amor que esses sujeitos (re)produzem. De modo que o desafio estar em desmitificar o ciúme como expressão de amor e visibilizá-lo a partir de sua possível conexão com a violência de gênero.

No entanto, é interessante observarmos que, a princípio, os sujeitos adolescentes negam qualquer conexão (objetiva) entre o mito do amor romântico e a violência de gênero:

Grupo entre Homens Adolescentes:

Facilitador: Vocês acreditam que existe alguma relação entre o amor romântico e a violência contra as mulheres?

H3: Nenhuma, nenhuma, nenhuma mesmo. Grupo entre Meninas:

Facilitadora: Vocês acham que existe alguma relação, algum tipo de relação, entre o amor romântico e a violência contra as mulheres?

M3: Eu acho que não.

M5: Oxe, o amor romântico é…

M1: É uma coisa tão de mimo, tão amorosa, tão tão… M2: A pessoa chega fica derretida…

M1: É isso aí, não tem nada a ver.

Porém, em seguida, concebem a possibilidade de que, por amor, essa violência exista e seja justificada:

Facilitador: Mas, acham que em algum momento a mulher merece ou mereceria sofrer violência?

H1: […] nenhuma violência é justificável, nenhuma …

H6: Mas, tem umas mulheres que gosta. Tipo assim: ela é maltratada e nunca quer denunciar ao marido. […] é porque ela gosta…

Facilitadora: E por que muitas mulheres sofrem violência?

M1: É porque, às vezes, a mulher provoca também […]. Minha mãe mesmo, meu pai dava nela toda semana […] Minha vó dava conselhos a ela pra ela denunciar, mas ela não ia.

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Facilitadora: Por que tu achas que ela não denunciava?

M1: Porque ela dizia que não tinha coragem, porque ela amava muito ele.

E, finalmente, concebem que, por amor, a mulher pode/deve perdoar o autor (na maioria das vezes homem, companheiro ou ex-companheiro da vítima) que cometeu a violência contra ela:

Grupo Inter-sexo:

Facilitadora: Então vocês perdoariam um cara por amor, se ele batesse em vocês? M6: Perdoaria.

M5: Depende da situação. H4: É, depende do motivo.

M6: Perdoaria se ele quisesse continuar comigo e prometesse que não iria fazer mais.

Recorremos, portanto, a uma citação de Castro (2009, p. 36 apud MENDÉZ; HERMANDÉZ, 2001) que sintetiza e fomenta a importância de seguirmos produzindo conhecimentos acerca dos riscos e desafios que se apresentam quando, no âmbito das relações afetivo-sexuais entre adolescentes, não se discute, reflete e visibiliza a presença das conexões disfarçadas entre o mito do amor romântico, o ciúme e violência de gênero. Pois, como destaca o pesquisador,

A crença de que o amor pode tudo, leva algumas jovens a considerar que os seus esforços conseguiriam aplacar qualquer inconveniente que surja na relação. O desprezo, e inclusive as agressões podem ser interpretados como um obstáculo a vencer (p. ).

Considerações

Las mujeres conquistamos libertades cada vez que eliminamos opresiones. (LAGARDE, 2005, p.338).

As ideias apresentadas ao longo desse artigo nos mostram a relevância de seguirmos problematizando e relacionando as temáticas em questão (ciúme, mito do amor romântico, adolescência e violência de gênero), a fim de identificarmos os possíveis entraves para o desenvolvimento de relações afetivo-sexuais prazerosas, livres e simétricas entre os sujeitos adolescentes.

Certamente, este artigo não visa propor receitas (mágicas) para o amor e o amar. Buscamos, reivindicamos a capacidade criativa de cada pessoa e casal, no intuito de (des)construir e viver a sexualidade a partir da valorização do princípio da diversidade. Assim, vale a pena investigarmos, por exemplo, as vinculações não heteronormativas, bem como experiências e relações que contemplem o auto-erotismo, ou seja, o prazer que cada sujeito pode sentir e dar a si mesmo.

Neste sentido, é importante continuarmos construindo pesquisas que promovam uma (re)visão do lugar que a categoria sexo/gênero e mito do amor romântico ocupa na sociedade atual. Na tentativa de rompermos com os paradigmas (científicos e sociais) que perpetuam e/ou negam a

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questão das desigualdades de poder entre os sexos/gênero. De modo que no sintamos todas e todos convidadas/os para nos (re)visitarmos e nos (re)construirmos como sujeitos diversos e singulares que prezam por formas mais éticas, autônomas e prazerosas de amar (LAGARDE, 2005).

Referências

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