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PROJECTO DE LEI N.º 68/VIII LEI DA CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE FÁTIMA

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PROJECTO DE LEI N.º 68/VIII

LEI DA CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE FÁTIMA

1. O povoado de Fátima tem origem em tempos imemoriais, apesar de na

documentação histórica existente, ser incerta a data da sua fundação, ou sequer da atribuição do foro. A sua denominação tem origem nas invasões mouras e terá como madrinha Fátima, filha de Maomé (Vali de Alcácer), que, feita prisioneira pelo bravo Gonçalo Herminguez, numa das muitas incursões vitoriosas a Alcácer do Sal, terá vivido na região.

2. Em 1568, é certo que aquele povoado se autonomizou da Colegiada de Ourém, surgindo a freguesia de Fátima, por força de uma importância a nível religioso, resultante da existência de numerosas capelas que ainda hoje se mantêm e entre as quais se destaca a dedicada a Nossa Senhora da Ortiga. Desde então, meados do século XVI, que Fátima jamais deixou de crescer enquanto local de culto e peregrinação. O século XX viria a transformar Fátima no centro religioso do mundo cristão que todos conhecemos.

3. Os crescentes fluxos de forasteiros que em peregrinação se deslocavam a Fátima, provocaram um enorme crescimento demográfico, cultural, social e económico da região. Todo este fervor religioso acentuou-se quando, em 1917, se deram as aparições de Nossa Senhora num local ermo hoje designado por Cova da Iria, denominação da propriedade onde Lúcia de Jesus, Francisco e Jacinta Marto, três crianças de Aljustrel, com dez, nove e sete anos de idade respectivamente, apascentavam um rebanho e avistaram por detrás de uma azinheira uma luz envolvendo Nossa Senhora, que lhes exortou para que rezassem naquele momento e voltassem a fazê-lo nos meses

seguintes.

Assim fizeram em cada dia treze dos meses de Junho a Outubro daquele ano, onde, segundo relatos da época, mais de 7000 pessoas estiveram presentes. Nos locais das aparições, Cova da Iria e Valinhos, os crentes construíram um arco de madeira com uma cruz. Mas, estando sujeita à erosão e à fé de milhares de pessoas, esta construção cedo se manifestou insuficiente e uma colecta das esmolas dos fiéis permitiu que, a 6 de

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Agosto de 1918, se iniciasse a construção de uma pequena capela em homenagem a Nossa Senhora, feita de pedra e cal e coberta de telha com o cumprimento de 3,30 m, 2,80 m de largura e 2,85 m de altura.

Desde então, milhares de peregrinos deslocavam-se a Fátima para manifestações religiosas mensais que ocorriam naquele local. Toda esta manifestação de fé levou à criação, em 1922, de uma comissão canónica com vista à averiguação da ocorrência destes factos. Esta comissão elaborou um relatório onde o Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, na sua pastoral «A Divina Providência» escrevia : «Havemos por bem poder declarar, como dignas de crédito, as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de Maio a 13 de Outubro», permitindo «oficialmente o culto a Nossa Senhora de Fátima».

4. Em resultado deste parecer, a partir de 13 de Outubro de 1930, não mais deixaram de se realizar em Fátima cerimónias mensais de homenagem a Nossa Senhora, que congregam anualmente milhões de crentes vindos de todo o mundo e que tornam

Fátima, hoje, mais do que uma cidade desenvolvida do centro de Portugal, numa cidade conhecida em todo o vasto mundo cristão, encarada como um verdadeiro «altar do mundo», facto que lhe confere uma singularidade em relação a qualquer outra cidade ou vila do nosso país e que carece de resposta no ordenamento político-administrativo.

5. Por tudo isto, já em meados do século XX, a região de Fátima, mais do que um povoado dedicado ao culto religioso, transformou-se num centro urbano, autónomo e com características próprias. A sua elevação a vila apareceu assim como um imperativo em torno do qual os cidadãos de Fátima se uniram, como demostra o artigo publicado no jornal «Fátima», em 1967, e onde se sugeria a criação da vila. Resultante deste movimento, foi criada em 21 de Março de 1977 uma comissão com aquele objectivo e que integrava, entre outros, o Reitor do Santuário, os membros da Junta e da

Assembleia de Freguesia e até da Assembleia Municipal de Vila Nova de Ourém. Não surpreendeu, assim, que a 19 de Agosto de 1977, por portaria governamental, tenha sido criada a vila de Fátima, composta pelos lugares de Cova da Iria, Aljustrel, Fátima, Lomba d´Ègua e Moita Redonda.

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As visitas papais ao Santuário, a presença de iminentes figuras públicas nacionais e internacionais, ligadas a áreas tão distintas como a política, a economia ou o desporto que continuamente visitaram Fátima e sobretudo, a fidelidade dos milhões de

peregrinos que fervorosamente visitavam o nosso país com o propósito de prestarem a sua devoção a Nossa Senhora, contribuíram para o contínuo desenvolvimento da cidade e da região que, em meados do anos noventa, se tinha transformado num importante centro turístico e comercial. Por isto, a 12 de Julho de 1997, pela Lei n.º 42/97, Fátima ascendeu à categoria de cidade, correspondendo aos anseios da população de toda a região.

6. Do ponto de vista geográfico, a cidade de Fátima encontra-se situada em pleno centro do país, nas palavras de Pequito Rebelo num «planalto na serra e uma depressão na cumeada» em pleno Maciço Calcário Estremenho, a 115 Km de Lisboa e a 197 Km do Porto, localizando-se numa forte confluência de vias com destaque para a A1 que liga Lisboa ao Porto, encontrando-se a apenas 14 Km com uma estação de portagem específica. É uma cidade geograficamente próxima quer de Lisboa, capital do país, quer do Porto, a segunda cidade do país, rodeada de boas acessibilidades para várias regiões.

A actual freguesia de Fátima, a maior do concelho de Ourém, confina a norte com as freguesias de Santa Catarina da Serra (concelho de Leiria) e da Atouguia a sul, a

nascente com Ourém e a poente com Minde (concelho de Alcanena) e São Mamede (concelho da Batalha). É composta pelos lugares de Aljustrel, Alveijar, Amoreira, Boleiros, Casa Velha, Casal de Santa Maria, Casal Farto, Casalinho, Chã, Cova da Iria, Eira da Pedra, Fátima, Gaiola, Giesteira, Lameira, Lomba, Lomba d`Égua, Maxieira, Moimento, Moitas, Moita Redonda, Montelo, Ortiga, Pederneira, Pedreira, Poço do Soudo, Ramila, Vale de Cavalos, Vale Porto e Valinho de Fátima.

7. Do ponto de vista económico, nos primórdios, Fátima vivia de uma agricultura de subsistência, com as culturas lavradas num solo pobre, composto de rocha e calcário, da pastorícia e da criação de gado, para consumo doméstico.

Seriam três crianças ligadas a esta última actividade que iriam mudar o curso económico de Fátima. Com as aparições de 1917 e o consequente acréscimo de população e de visitantes, a actividade comercial desenvolveu-se acentuadamente,

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começando pelas barracas de madeira ao longo da estrada principal onde se vendiam comidas, bebidas e artigos variados a todos quantos visitavam o Santuário.

Pela consulta de um pequeno inquérito realizado em Outubro de 1948, pode-se afirmar que, na altura, existiam sete pensões, oito casas de pasto, seis mercearias, duas lojas de fazenda, uma fábrica de serração, uma oficina de bicicletas e uma oficina de reparação de automóveis, para além de 50 estabelecimentos comerciais.

Hoje, Fátima possui uma significativa capacidade hoteleira, com uma oferta de mais de 10 000 camas que a torna uma das maiores do país. Nos dias 12 e 13 de cada mês, a partir de Maio, a capacidade de resposta aos peregrinos torna-se por vezes insuficiente, levando-os a procurar hotéis de zonas limítrofes.

Quanto aos restantes sectores, Fátima constitui o maior centro de comércio a retalho do concelho de Ourém, sendo de salientar a sua pujança em: Armazéns de materiais de construção; Artesanato religioso; Agências de viagem (sete); Cabeleireiros; Cafés; Casas de Móveis; Casas de pasto; Casas de electrodomésticos e de equipamento informático; Escolas de condução; Estalagens; Fotógrafos; Hotéis; Imobiliárias; Livrarias e Papelarias; Lojas de artigo religiosos e regionais; Lojas de brinquedos; Lojas de fazenda; Malhas; Ocupações de Tempos Livres; Oficinas de automóveis; Ourivesarias; Padarias; Pastelarias; Pensões; Postos de abastecimento de combustíveis; Pronto a vestir; Restaurantes; Sapatarias; Seguradoras (doze); Serrações de madeiras; Serrações de mármores; Serralharias, Táxis; Postos de turismo; Centros de inspecções de automóveis.

Existem inúmeras e fortes associações profissionais como a Associação de

Hoteleiros de Fátima, a Cooperativa de Olivicultores, a ASSOCIDAIRE - Maxieira e Casal Farto - e a Associação de Apicultores.

Por tudo isto, a freguesia de Fátima ocupa o primeiro lugar nas taxas de

desenvolvimento das várias freguesias do concelho de Vila Nova de Ourém, com cerca de 1174 de empresas em nome individual e de 219 sociedades comerciais, detendo as duas maiores empresas ligadas à restauração e serviços do actual concelho - a J. Justino das Neves, S.A e a Petroibérica S.A., e a segunda e terceira empresas ao nível da

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É indiscutível que a força económica de Fátima excede, em muito, a que

tradicionalmente podia conceber-se para uma freguesia. Muitos concelhos portugueses não têm essa pujança que caracteriza Fátima.

8. Com a explosão demográfica ocorrida após as aparições de Fátima, o sistema de saúde da região foi ganhando paulatinamente uma efectividade que não possuía. Em 1967, aparece a primeira clínica com capacidade para 30 pessoas. No entanto, tal infra-estrutura manifestou-se insuficiente, sendo necessário um reforço do equipamento do Hospital do Santuário para a realização de intervenções cirúrgicas.

Para além deste Hospital, dispõe ainda de serviços médicos particulares de clínica geral e de especialidades tão diversas como a odontologia e a oftalmologia, para além de várias farmácias.

Ainda no campo da saúde e da assistência social, Fátima e os lugares da sua

freguesia dispõe ainda de um dispensário médico na Casa das Irmãs de São Vicente de Paula, que presta também apoio materno-infantil; um Centro de Saúde com serviços de clínica geral e vacinação, com cinco médicos e quatro enfermeiros; o consultório

médico de Fátima com serviços de pediatria, psiquiatria, ginecologia, análises e cardiologia; o centro Nacional de apoio a Deficientes Profundos ( Santa Casa da

Misericórdia João Paulo II), um empreendimento da responsabilidade directa da União das Misericórdias Portuguesas destinado a acolher deficientes profundos. Este

estabelecimento tem capacidade para 450 internados em regime de lar e de hospital, incluindo instalações para a comunidade de irmãs que tomam conta dos serviços, e para outro pessoal assalariado e voluntário. O conjunto de todo o edifício cobre uma área de 14.700 m2; diversas casas de acolhimento para a terceira idade, deficientes do sexo feminino e crianças abandonadas, das quais se destacam a Casa do Bom Samaritano, o Centro de Dia da Freguesia de Fátima-Boleiros e a Creche de Nossa Senhora da

Purificação.

Todas estas infra-estruturas tornam Fátima também nesta área da saúde e assistência social, uma região auto-suficiente e desenvolvida.

9. Como muitas cidades do país, Fátima durante muitos anos debateu-se com a tradicional falta de meios de promoção sócio-cultural, com a dificuldade de contactar

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com novas realidades, resultante de acessibilidades deficientes e alguma resistência ao nível da mentalidade às questões culturais. Por essa altura apenas os jogos populares e grupos de folclore demonstravam maior interesse cultural na região.

A melhoria das condições de vida, das acessibilidades e dos contactos com as

populações, a constante dinamização do clero, claro, os fluxos de visitantes, peregrinos e estudantes, permitiram uma inquestionável evolução cultural na região.

Também nesta área é notória a especificidade de Fátima, resultante da sua vertente religiosa. Quantas cidades do país tiveram o privilégio de ser visitadas por tantos e tão renomados artistas, escultores, pintores, cinzeladores, ourives, vitralistas e arquitectos, nacionais e estrangeiros que, fascinados pela história, tradição, monumentalidade e espiritualidade de Fátima, não resistiram a procurar inspiração na região.

Entre os monumentos, pela sua volumetria e impacte arquitectónico, cumpre destacar o Centro Pastoral Paulo VI, situado entre as Avenidas de D. José Alves Correia da Silva e Papa João XXIII, construído em homenagem àquele Sumo Pontífice, pela sua peregrinação em 13 de Maio de 1967, presidindo às Comemorações do Cinquentenário das Aparições. Um edifício de quatro pisos correspondentes a uma área coberta de 14.000 m2, projectado pelo arquitecto Carlos Loureiro e frequentemente utilizado para a realização de encontros, reuniões, congressos e dos mais variados eventos de índole religioso, científico e cultural, possuindo para tal um anfiteatro com capacidade para 2124 pessoas e um salão divisível em duas salas que comporta, um total de 700

pessoas, além de outras salas para 80 pessoas e 30 pessoas. Dispõe ainda de um centro de acolhimento com alojamento e self-service para peregrinos.

Junto da Igreja Matriz foi erigido o Centro Pastoral Três Pastorinhos, onde se desenvolvem diversas actividades religiosas, culturais e recreativas, nomeadamente a Academia de Musica de Santa Cecília e, durante muitos anos, a Rádio Fátima.

Na Cova da Iria, podemos encontrar o Museu de Cera que, numa área coberta de 1600m2, representa em 28 cenas cerca de 110 figuras de cera, entre as quais as

aparições e dos factos históricos com elas conexos; o Museu vivo de 1917, inaugurado a 2 de Agosto de 1984 e que representa cenas das seis aparições de Nossa Senhora e do

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Anjo e o Presépio e a Aldeia de Belém animados, inaugurado a 2 de Agosto de 1984 e únicos no mundo no estilo.

Cabe ainda referenciar o Centro de Animação Missionário Allamano das Missões Consolata, inaugurado a 13 de Outubro de 1991 e que dispõe de salas de Conferências e de exposições de Arte Sacra.

Em Aljustrel encontram-se um conjunto de habitações e páteos restaurados integrados na ruralidade do lugar e onde se localiza a denominada Casa Museu,

expondo numerosos objectos de adorno, utensílios de lavoura, trajes e louças, para além de diversas peças relacionadas com os ofícios da época pré-aparições (entre 1860 e 1890).

Para além de todos estes locais que recebem a visita de milhões de cidadãos do mundo, a região de Fátima dispõe ainda de um conjunto de associações e entidades que pugnam pelo desenvolvimento cultural da sua região como: o Rancho Folclórico,

fundado e mantido pela Casa do Povo em 1977; a Associação de Amantes de Sophie, criada em 1968 e que se dedica à realização de exposições de pintura, artesanato e fotografia; o Rotary Clube de Fátima; a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva da Moita Redonda; a Associação Fátima Cultural; centros de música para jovens com cerca de 100 alunos; Rádio Fátima; Jornal «Voz de Fátima», órgão oficial do Santuário fundado em 1922; Jornal «Notícias de Fátima» fundado em 1988 e gerador do actual «Voz Imparcial»; Numerosas revistas como a «Fátima Missionária» (Missões

Consolatas) e «Stella» (Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores); três livrarias especializadas em livros de estudo pastoral e do tema Fátima

Também quanto a esta vertente Fátima é uma cidade completa e cuja a oferta cultural não encontra, pela sua especificidade, paralelo em Portugal.

10. Sendo Fátima uma cidade jovem, com múltiplos colégios frequentados por inúmeros estudantes das freguesias e concelhos limítrofes, o desporto não poderia deixar de assumir um papel fundamental na vida da cidade. Assim na freguesia de Fátima encontram-se numerosas associações em que o desporto é o acervo fundamental do seu património e que destacamos: a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Moita Redonda; o Centro Desportivo de Fátima que representa a cidade nos

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Campeonatos Nacionais; a Associação Recreativa e Cultural Vasco da Gama; o Clube de Veteranos de Fátima; o Eirapederense, da Eira da Pedra; o Giesta Sport Clube; o Clube de Caçadores de Fátima; o Aero Clube de Fátima; Cicloturismo; o Páraclube de Fátima; o Montamora Sport Clube; o Grupo de Atletismo de Fátima (GAF) em

actividade desde 1985 e várias classes de ginástica e de artes marciais.

11. Como tem sido referido por diversas vezes, Fátima é também uma cidade estudantil que recebe centenas de estudantes vindos de lugares da freguesia e do concelho de Ourém e até do concelho de Alcanena. Todos estes estudantes, calcula-se que em número 3071, entre locais e forasteiros, deslocam-se pela qualidade de ensino que é ministrado nos três colégios da cidade, dois deles com autonomia e um com paralelismo pedagógico. A saber :

- O Colégio do Sagrado Coração de Maria, com frequência de cerca de 500 alunos e 50 docentes, até ao 9.º ano de escolaridade;

- O Centro de Estudos de Fátima (CEF), dimensionado para cerca de 1000 alunos e 70 professores, com frequência até ao 12.º ano e onde funciona o Pólo de Fátima de Escola Profissional;

- O Colégio de São Miguel, com 980 alunos e 70 professores, com frequência até ao 12.º ano de escolaridade;

Devem reportar-se, ainda, numerosos jardins de infância, oficiais e particulares, entre os quais salientamos o Centro de Assistência da Casa da Criança do Valinho de Fátima e o Centro de Recuperação Infantil (CRIF) destinado a apoiar deficientes, com uma vertente educacional - até à 4.ª classe - e outra destinada à promoção de vias

profissionalizantes de reinserção social como a carpintaria, tapeçaria, bordados, actividades domésticas e de construção civil.

12. Fátima tem cerca de 14 000 habitantes permanentes, dos quais 7033 são eleitores, que formam uma sociedade, tal como a cidade, dinâmica, ambiciosa e participativa, como atesta a criação de várias associações para a prossecução de interesses comuns. Como aquela que em 1977 lutou para a elevação do povoado a vila, ou uma outra que em meados dos anos noventa pugnou pela sua elevação a cidade. Pela existência ainda de numerosas associações de cidadãos que civicamente procuram defender os seus

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interesses e dos seus concidadãos, como a Associação de Moradores de Boleiros, a Associação Velhamento, a Casa da Criança do Valinho, o Centro de Recuperação Infantil de Fátima, o Centro de Dia da Freguesia de Fátima, a Ramalégua ou os Bombeiros Voluntários de Fátima.

Neste sentido e com este espírito foi criado em 1992 o movimento pró-concelho de Fátima e que desde então pugna pela criação do concelho de Fátima. É o sinal

inequívoco que a população da freguesia se encontra unida em torno deste objectivo. Neste sentido, durante os últimos anos diversas instituições e personalidades da região têm vindo a pronunciar-se a favor da criação do concelho, destacando-se a Junta de Freguesia de Fátima, a Assembleia de Freguesia de Fátima, a Câmara Municipal de Ourém, a Assembleia Municipal de Ourém, o Governador Civil de Leiria, o

Governador Civil de Santarém, a Federação Nacional das Religiosas de Fátima, o Presidente da Região de Turismo Leiria-Fátima, o Centro de Estudos de Fátima, a Associação de Municípios de Hotelaria, Restaurantes e Similares do Centro e a Associação do Comércio, Indústria e Serviços de Ourém (ACISO).

Todos estes pareceres e intervenções a favor da criação do concelho de Fátima oriundas de ilustres personalidades e órgãos não só desta freguesia como do concelho que a engloba (Ourém), são elucidativos que a criação do concelho de Fátima é um anseio antigo e amadurecido da população e que merece a concordância de toda uma região.

A ESPECIFIDADE DE FÁTIMA

13. A todos estes factores, que só por si justificariam a criação do concelho, acresce um outro da maior importância - a especificidade de Fátima. É essa especificidade que enquadra toda a argumentação a favor do concelho.

Com efeito, pela sua história religiosa, a cidade de Fátima tem um carácter ímpar em Portugal e não só. Trata-se de um dos maiores centros católico e religioso do Mundo, o que lhe permite ter uma população flutuante anual de cerca de 5 milhões de pessoas, habitantes, visitantes e peregrinos que nenhuma outra cidade ou região de Portugal,

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nem mesmo Lisboa ou Faro, se podem orgulhar de ter. É o resultado de um fenómeno espontâneo, nascido pela fé e vontade dos homens.

O seu Santuário possui hoje, não só um vasto conjunto de edifícios, como também um amplo recinto ao ar livre com uma área de 86 400 m2, com capacidade para cerca de 300 000 pessoas. O centro de toda esta actividade, para além da Capelinha das

Aparições, é a Basílica, cuja primeira pedra foi benzida a 13 de Maio de 1928 pelo Arcebispo de Évora e Sagrada a 7 de Outubro de 1953. A 12 de Novembro de 1954 recebeu o actual título de Basílica concedida por Sua Santidade o Papa Pio XII no breve Luce Suprema.

Esta obra magnífica projectada pelo arquitecto holandês Gerard Van Kriechen foi construída com o recurso a pedra da região e os altares foram concebidos em mármore de Estremoz. Na capela lateral esquerda, repousam os restos mortais da vidente Jacinta e na Capela lateral direita os do vidente Francisco, que irão receber a sua beatificação em Maio de 2000, conforme anseio antigo da população de Fátima, de Portugal e do Mundo inteiro.

Segundo notícias publicadas recentemente, está para breve a assinatura de um contrato com um arquitecto grego, demonstrativo da internacionalização do fenómeno Fátima, para a realização de uma nova Basílica - a Igreja da Santíssima Trindade. Esta obra que reveste a maior importância tem o lançamento da primeira pedra previsto para 2001 e inauguração marcada para 2004. Com um orçamento de 5,5 milhões de contos e capacidade projectada para 10 000 pessoas, esta obra irá ser acompanhada da criação de novos parques de estacionamento para acolher os visitantes.

A questão da construção de um aeródromo para receber os milhões de fiéis é um tema recorrente e que esporadicamente é discutido. É que a visita de milhões de fiéis não é um fenómeno de hoje, mas de sempre. Já por altura das comemorações do Cinquentenário das Aparições, em 1967, estiveram presentes cerca de 3 milhões de pessoas, apesar das dificuldades ao nível dos transportes na altura existentes, se comparadas com as dos nossos dias. Hoje, Fátima é visitada anualmente por mais de 5,5 milhões de peregrinos, tem uma população flutuante de entre habitantes, estudantes e média de visitantes de cerca de 17 000 pessoas. Só no ano de 1998 foram celebradas

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cerca de 2527 missas oficiais, às quais assistiram 2.875.261 de pessoas e 5284 outras celebrações de índole religiosa em que estiveram presentes 3.155.873 de pessoas.

Nenhuma outra cidade ou região portuguesa poderá dispor destas características, só comparáveis em toda a Europa com Santiago de Compostela em Espanha ou Lourdes em França. Nenhuma cidade portuguesa se pode orgulhar de ter recebido quatro papas -Sua Santidades João XXIII, na altura Cardeal Roncalli de Veneza Paulo VI, João Paulo I, na altura Cardeal Albino Luciani e João Paulo II, por entre dezenas de personalidades nacionais e internacionais.

Por fim a criação do concelho de Fátima merece a aprovação dos representantes eleitos, que legitimamente demonstram a vontade das populações que os elegem, de toda a freguesia e do concelho de Ourém e até dos Governadores civis do Distrito a que actualmente pertence - o de Santarém - e daquele que lhe está mais próximo - o de Leiria. Trata-se de uma unanimidade que raras vezes encontramos quando são discutidas esta questões.

14. Por todos estes factores conjugados, o actual enquadramento da freguesia de Fátima no concelho de Ourém não corresponde às necessidades de Fátima, dos lugares que a integram, das freguesias limítrofes do Concelho de Ourém e da cidade de Ourém.

Os Municípios são a pedra angular da organização administrativa portuguesa e constitucionalmente consagrados como princípio fundamental da organização do Estado. A sua ancestral existência no nosso ordenamento e que remonta ao período da reconquista, solidificando-se durante a Idade Média, não é mais do que a consequência do sentimento das populações de que esta forma de organização é aquela que melhor satisfaz o desenvolvimento regional e local, condição necessária para o

desenvolvimento do nosso país. As autarquias locais são por excelência os órgãos representativos da vontade popular e da democraticidade de um Estado de direito. É hoje pacífico, até ao nível comunitário, o entendimento que são aqueles que estão mais próximos dos problemas, os que melhor os conseguem resolver. É por demais evidente que a especificidade de Fátima exige que sejam aqueles que residem na região e que melhor compreendem as suas necessidades, a tomar conta do seu destino.

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Por outro lado, a criação do concelho de Fátima e consequente desanexação da freguesia do concelho de Ourém, permitiriam um maior desenvolvimento deste

concelho e das freguesias de menor dimensão nele integradas e que estão carenciadas de um investimento mais efectivo. A criação do novo concelho possibilitaria a

canalização de verbas e fundos do Orçamento de Estado e da União Europeia, até aqui atribuídos a Fátima, para o desenvolvimento de toda a região.

Por terem a consciência de tudo isto e da auto-suficiência da freguesia de Fátima, a criação do concelho é tema consensual entre as mais diversas personalidades do concelho e do distrito e encontra o maior consenso entre as populações.

É obrigação do Estado pugnar pelo desenvolvimento regional e local, enquanto sustentáculo de um desenvolvimento integrado e sem criação de assimetrias do país. Nesta conformidade, deverá encarar a criação de novos concelhos de forma

responsável, não criando pólos de instabilidade ou de desenvolvimento desordenado, tratando situações iguais de forma igual e situações desiguais de forma desigual. Neste contexto, a criação do concelho de Fátima merece a concordância das populações e representa um caso único no país, diverso de todos do outros ao qual a Assembleia da República não pode ficar alheia. Aliás, com estes argumentos, a Lei n.º 63/98, de 1 de Setembro de 1998, criou o concelho de Vizela, reconhecendo tratar-se de um caso específico que merecia um tratamento em consonância com as especificidades que o caracterizavam, apesar de também não preencher todos os requisitos legais . Do mesmo modo, e até de forma mais acentuado, a criação do concelho de Fátima aparece como uma acto da maior justiça, até por cumprir a quase totalidade dos requisitos previstos na Lei n.º 142/85 de 18 de Novembro - Lei quadro da criação de Municípios.

A OPORTINIDADE DA CRIAÇÃO

15. O ano que ora se inicia irá constituir um marco na história de Fátima e de Portugal. No próximo mês de Maio, Sua Santidade o Papa João Paulo II visitará o Santuário de Fátima e ao mesmo tempo procederá à beatificação dos pastorinhos,

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culminando um processo antigo e no qual grande parte da população portuguesa se empenhou.

A criação do concelho de Fátima neste contexto, para além de desenvolver a região, constituirá mais uma forma de celebrar este acontecimento que toca a milhões de portugueses e de católicos no mundo inteiro.

A NECESSIDADE DA REORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DE FÁTIMA

16. A actual freguesia de Fátima está inserida no concelho de Ourém e no distrito de Santarém, encontrando-se num extremo daquele distrito a cerca de 60 Km de Santarém, a capital.

Ao invés, a distância que separa Fátima de Leiria é de apenas cerca de 15 Km, facilitando um relacionamento próximo entre estas cidades e as restantes do distrito de Leiria. Por ser assim, os cidadãos destas localidades têm trabalhado em conjunto, associando-se nomeadamente ao nível da Comissão Regional de Turismo de Leiria, ao qual Fátima sempre pertenceu e que recentemente modificou a sua denominação para Comissão Regional de Turismo Leiria/Fátima. Também ao nível religioso, Fátima faz parte da Diocese de Leiria e não de Santarém.

Estes factos, em conjunto com o sentimento de alguns sectores da população, da eventual necessidade de o futuro município de Fátima ficar integrado no distrito de Leiria, não poderão passar despercebidos ao poder legislativo. A criação do município de Fátima constitui o momento certo para a promoção de uma reflexão ao nível local das vantagens e desvantagens, que uma hipotética integração desta região no distrito de Leiria, trariam para as populações afectadas.

Mas todo o amplo debate a que deverá ser sujeita esta matéria, atenta à sua

delicadeza, ficaria incompleto se não resultasse na devolução do Estado às populações do poder de decidir o seu futuro.

Neste contexto, a figura do referendo local aparece-nos como o meio por excelência de devolução às populações, do poder de decidir sobre matérias que só a estas afectam.

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Os referendos locais constituem o meio mais eficaz do exercício do dever cívico da participação no processo de produção legislativa, traduzindo-se no exercício da democracia na sua forma mais directa e nobre .

Nestes termos e após a promoção de um amplo debate, a população do futuro

município de Fátima deverá ser submetida a um referendo local, onde possa expressar a sua concordância com a integração do município a constituir no distrito de Santarém ou, no caso contrário, com uma restruturação ao nível da organização administrativa e consequente integração no distrito de Leiria .

Nestes termos os Deputados do Grupo Parlamentar do CDS-PP apresentam o seguinte projecto de lei :

Artigo 1.º

(Criação do Município de Fátima )

1. — É criado o município de Fátima com sede nesta cidade.

2. — O futuro enquadramento distrital deste município será objecto de nova

iniciativa legislativa, tendo em conta a vontade dos eleitores do concelho, expressa em referendo local a realizar nos termos do artigo 3.º.

Artigo 2.º (Âmbito )

O município de Fátima abrangerá a área da freguesia de Fátima, a destacar do concelho de Ourém.

Artigo 3.º (Referendo local )

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1. — No prazo de 90 dias a contar da entrada em vigor da presente lei, terá lugar na área do novo concelho, um referendo aos eleitores nele recenseados, no qual estes devem indicar se, no futuro, o concelho de Fátima ficará a pertencer ao distrito de Santarém ou de Leiria.

2. — As consultas locais referidas no número anterior realizar-se-ão nos termos da lei.

Artigo 4.º

(Comissão instaladora)

1. — Com vista é instalação do Município de Fátima é criada uma comissão instaladora com sede na cidade de Fátima.

2. — A comissão referida no número anterior iniciará funções no trigésimo dia posterior à publicação deste diploma

3. — A comissão instaladora será composta por um presidente que exercerá funções a tempo inteiro e mais quatro membros a designar por despacho conjunto dos Ministros do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território e tomará em

consideração os resultados eleitorais globais obtidos pelas forças políticas nas últimas eleições autárquicas para a assembleia de freguesia de Fátima.

4. — A comissão integrará ainda dois membros a designar pelo Movimento Pró-Concelho de Fátima.

Artigo 5.º

(Competências da Comissão)

1. — Compete à comissão instaladora :

a) elaborar um relatório onde conste a discriminação de todos os bens,

universalidades e quaisquer direitos e obrigações da freguesia de Fátima que se transferem para o novo município;

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b) a transmissão dos bens, universalidades, direitos e obrigações referidas no número anterior efectua-se por força da lei, dependendo o respectivo registo de simples

requerimento;

c) promover um amplo debate sobre o futuro enquadramento distrital do concelho, assim como tomar todas as medidas necessárias à realização do referendo previsto no artigo 3.º

d) fixar a data das eleições intercalares, o calendário do processo de actualização dos cadernos eleitorais e tomar ao demais medidas necessárias ao normal desenvolvimento do processo eleitoral;

e) praticar todos os actos preparatórios que se mostrem necessários à instalação do novo município;

f) exercer as demais competências atribuídas por lei.

2. — No exercício das suas competências, a comissão terá o apoio técnico e financeiro do Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do território, competindo ao Instituto Geográfico e Cadastral dar assistência técnica própria da sua competência.

Artigo 6.º

(Processo de discussão)

Elaborado o relatório previsto no artigo 7.º, n.º 2, da Lei n.º 142/85, de 18 de

Novembro, o Governo, no prazo de 15 dias, abrirá um processo de consulta e discussão da presente lei a todos os eleitores recenseados e abrangidos pela criação do novo município nos termos do artigo 2º.

Artigo 7.º (Disposição final )

Com a entrada em vigor do presente diploma cessam as funções dos membros da Assembleia de freguesia eleitos nas áreas do novo município.

(17)

Palácio de São Bento, 11 de Janeiro de 2000. — Os Deputados do CDS-PP: Paulo

Portas — Herculano Gonçalves.

Despacho n.º 20/VIII, de admissibilidade do projecto de lei

Admito o presente projecto de lei, com as seguintes reservas:

Creio poderem estar feridas de inconstitucionalidade as normas do n.º 2 do artigo 1.º e dos n.os 1 e 2 do artigo 3.º do projecto, na medida em que, por força do disposto no artigo 291.º da Constituição, a actual divisão distrital do espaço nacional não está na disponibilidade dos cidadãos eleitores.

Creio ainda que o «processo de consulta e discussão a todos os eleitores recenseados e abrangidos pela criação do novo município», previsto no artigo 6.º do projecto,

dificilmente escapará a um juízo de inconstitucionalidade. Falta, com efeito, credencial constitucional que habilite o legislador a prever a sujeição a referendo das iniciativas legislativas de criação de municípios, reduzindo a mera formalidade, sem quaisquer consequências jurídicas relevantes, a «consulta dos órgãos das autarquias abrangidas», prevista no artigo 249.º da Constituição.

Baixa à 4.ª Comissão.

Registe-se, notifique-se e publique-se.

Palácio de S. Bento, 13 de Janeiro de 2000. — O Presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos.

Referências

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