*
DO
FACULDADE
DE MEDICINA
DA
BAHIA.
CONCURSO
Mii
ii
íâêm
m
«Hf
©a
DA
SECÇÃO
MEDICA.
FUNCCOES
DO
FÍGADO.
SUSTENTADA
EM
FEVEREIRO
DE
1871
PELOPsns sapériodeantéscientiflque,la niédecine a ptiexisteren dehors deIaphysiologie; etill'a bien faliu, puisquela phjsiologie n'étaitpas encore néc.Maisaiijourdliui queIa niédecinea
Iapretentioude devenir uue seience véritable,il fautabsolument quclleajl recours àla physio-lojjie, soit pour comprendreIe mécanismè des
iitaladie*, soit, pourexpliquei- laclion des
ine-«íTeífiiifnts.Cest qu'aufoud, dansla médiciue,il \\ya qu'une seule scieuce: lascienec dela vie ou la plnsiologic.
Cl. BERNABD.—LÈTohlUonde la
medicine scieulilique. is-7".
FACULDADE
DE
MEDICINA
DA
BAHIA.
DIRECTOR
O Ex.raoSnr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães.
OS«RS.DOUTORES l.*ANNO. MATEHIASQUE LECCIONAM
«Cons.Vicente FerreiradeMagalhães.
{ P
^pUc5^^
em**** Francisco RodriguesdaSilva ChimicaeMineralogia.AdrianoAlvesdeLimaGordilho . . . Anatomiadescriptiva.
!f.«ANNO.
AntoniodeCerqueira Pinto Chimicaorgânica.
JcronymoSodré Pereira.
...
. Physiologia.Antonio Mariano doHomfim BotânicaeZoologia.
AdrianoAlvesdeLimaGordilho. . . . RepetiçãodeAnatomiadescriptiva.
3.»ANNO.
0>ns.EliasJoséPedroza Anatomiageralepathologica. Joséde Góes Sequeira Pathologiageral.
JeronymoSodré Pereira Physiologia.
4."ANNO;
£ons.ManoelLadlslàoAranhaDantas. . Pathologia externa.
Pathologiainterna. ConselheiroMathias MoreiraSampaio .
j V
f^M^iáot
d6 mulherespejadasedcmen,,os5. »ANNO.
• Continuação de Pathologiainterna. José AntoniodeFreitas j
^^S
bSP ograplllca
' Medicina°Peralor,a'e , Matéria medica,etherapeutica.
6."ANNO,
„ Pharmacia. Salustiano Ferreira Souto.
...
Medicinalegal.DomingosRodriguesSeixas Uygiene,e UisloriadaMedicina.
e Clinicaexternado3.*c 4
oannoi Antonio Januário de Faria Clinicainternado5."e0.* anrio.
Itozcndo Aprígio Pereira Guimarães. IgnacioJosedaCunha (
PedroKibeiro de Araujo /SecçãoAccessoria.
José Ignacio de Barros Pimentel. . .\ VirgilioClymaco Damazio /
José AITonso Paraizo deMoura. . .
Augusto Gonçalves Martins.
...
DomingosCarlos daSilva > Secção Cirúrgica.
DemétrioCyriacoTourinho
Secção Medica.
S!8(Êja>8s.P&!&2$)»
O
Kr.B)r.tCincinnatoPinto«laSilva.(I'j'jf2í)2â2,IDA 8IB®:RlttMi:i&
O
Sr. Dr.Thomaz
il'A«iuiuo Gaspar.DE
MEU
FAE
FIRMINO
SORIANO
CALDAS.
Algumas
considerações
anatomo-histologicas
sobre
o
fígado.PRIMEIRA
PARTE.
I
Xesfonclions d'un organe déceulent presquc 'nécessaircment de la connalssance de la slru-cture decet organe; et si Cétait ici le lieu,il meserait facilede prouver quelaconnalssaiicc des fonclions a toujours suivi pasàpas les pro-grèsde 1'anatomie.
CntVEimiER—Trailé danalomie descriptive.
T. I.p.XV.
^
FÍGADO
cum
orgam
glanduloso, iiMBS^
tavel,não
só por ser a sede da conv€insymetrico e impar, no-convergencia
d'um
duplosys-^tema
venosono
feto, e do systema da veia das portasno
homem,
senãotambém
porque
em
peso eem
volume
seavantaja a todas as glândulas
do
corpohumano
reunidas.Situado por baixo do
diaphragma
que
o separa dos órgãosthoraeicos, para diante da veia cava inferior, do
esophago
edos pilares diaphragmaticos, entre o baço, cuja extremidade
superior
algumas
vezes alcança e reveste, e as seteou
oitoultimas costellas,
que
com
o seu rebordoocontornêam
tam-bém
para diante, resguardando-o, d'est'arte, da acção nocivados corpos exteriores, o fígado, emfim, repousa sobre o
estô-mago,
o duodeno, o cólon transverso e as ílexuosidadesflu-ctuantes do jejuno e do ileon.
Quatro
dobrasmembranosas,
dependentesdo
peritoneu, designadaspelas
denominações
de ligamento suspensório, de ligamentocoronário edeligamentos laleraes,
mantcem
a víscera hepática na sua respectivaposi-ção de concomitância
com
os órgãosque
acircumdam.
peri-o
toneu, fouce
da
veia umbilical),formado
por duas laminas da serosapéri-toneal, unidas por tecido cellular assas denso, ao passo
que
pela suametade
inferiortem
por principal destinaçãopremunir
a veia umbilicaldo
feto de ser estrangulada pelascircumvoluções intestinaes, o que, porcerto, poderia acontecer, se, acaso, ella
permanecesse
livre c fluctuantena
cavidade abdominal; pela suametade
superior contribuepoderosa-mente
para fixar a glândula hepáticana
sua situação physiologica, con-servando as suas relaçõesnormaes
com
o baço e o estômago, eobstan-do
ás deslocações rotatórias,que
occasionariam os decúbitos, dorsal elateral direito.
O
ligamento coronário, constituidotambém
por duas laminasdo
peri-toneu,não
encostadas,mas
separadas porum
intervallo de dois a trescentrimetros, as quaes
descem
dodiaphragma
para as faces superior einferior do fígado, concorre
egualmente
para fixaraposição d'esteorgam
e impedir as deslocações
que
sepoderiam
dar nas direcções, verticalantero-posterior e transversa.
Os
ligamentos lateraes, provenientes do encostamento dasmesmas
laminas peritoneaes
que
formam
o ligamento coronário, cujasdependên-cias elles
parecem
ser, apresentam,segundo
o Sr. Sappey,a configuraçãodum
triangulo isosceles, adherindo pelo vértice ao ligamento coronário,por
um
lado ao diaphragma, pelo outro ao fígado,mas
conservando
abase livre e fluctuante.
Durante
as vidas embryonaria, fetal e infantil,o fígado,em
comparação
com
as vísceras abdominaes, offereceum
notável predominio devolume,
o qnal vae-se reduzindo
com
os progressos da edade, atéque
aos sete annos,pouco
maisou menos,
attinge as suas proporções definitivas.Sob
este aspecto se poderia dizer
que
ovolume
do fígado estáem
razão in-versa da idade,mas
absolutamente fallando, deve-se, ao contrario,admittir,
que
ovolume
desta víscera vae grudual e progressivamenteaugmentando
desdeo primeiro instante do seu apparecimentono
seiodo
organismo até a idade de trinta annos.
O
volume
do fígado muitodepende
do estado da sua circulação; assimelle cresce ou decresce
em
proporção da plenitudeou
vacuidade dos vasosque
o percorrem.A
hypcrhemia
hepática,que pode
resultarduma
causa physiologica,
como
no
período da digestão,quando
se activa a fluxão da systema venoso abdominal, procede muitas vezes,também,
duma
origem mórbida,como
são asque occasionam
a eslascsanguínea
5
has cavidades cardíacas direitas e nos grossos troncos
que
ahidesembo-cam,
asque
estorvam apassagem
do sangue atravez da tramapulmonar
e, finalmente, as que, residindo
no
próprio orgam, lhe alteram oparen-chyma
ou lheperturbam
as funeções.A
configuração da glândula hepática nos apresenta o seguinte: duasfaces,
uma
antério-superior, convexa, outra postero-inferior, concava;dois bordos
que
se distinguemem
antero-inferior, muito delgado, epos-tero-superior,
mui
espesso; e, finalmente, duas extremidades, situadas ádireita e á esquerda da glândula.
A
face superior é dividida pelo ligamento falciforme que,segundo
a maioria dos anatomistas,demarca
os limites entre os lobos esquerdo edireito do fígado,
demarcação
que, para o Sr. Cruveilhier, épuramente
nominal.
Por
esta face o fígado se relacionacom
o diaphragma,que
o reveste quasi completamente, separando-o daface inferior do coração,da base dopulmão
direito e das seisou
sete ultimas costellas direitas.As
relaçõesque
esta face entretémcom
a paredeabdominal
anteriorsão variáveis;
algumas
vezes apenas secorrespondem
na parte superiordo
epigastrio* e, neste caso, o fígadopermanece
pordetraz dorebordo dasfalsas costellas direitas, outras vezes se
correspondem
tanto maisexten-samente
quanto mais desce o fígado do rebordo das falsas costellascor-respondentes.
E' pela face postero-inferior
que
a glândula hepática recebe os vasosencarregados de lhe subministrarem os elementos necessários para suas attribuições physiologicas e nutrição própria.
Distinguem-se nesta face trez regiões: a lateral esquerda, a lateral
direita e a
media ou
central.A
primeira,que
abrange todaaface inferiordolobo esquerdodo
fígado, estáem
relaçãocom
obordo superiore aface anterior do estômago, ecom
o epiploon gastro-hepatico
que
a separa do pâncreas,A
segunda
oceupaos dois terços externos da face inferior do lobo hepático direito, c apre-senta trez facetas, denominadas, supra-renal, renal, c cólica; a primeira
mantém
relaçõescom
a capsula supra-renal direita; a segunda applica-sesobre a face anterior do rim direito, e a ultima descança sobre o angulo
formado
pela porção ascendentecom
a porção transversado
cólon.A
regiãomedia
apresentauma
depressão, de seis a oito centímetros decomprimento
e de doze a quinze millimetros de largura, designadapelos
nomes
de: sulco da veia poria, sulco transverso, fenda transversal,grande fenda. E' por este sulco, verdadeiro
MU
do fígado,que
a glândularecebe,
não
soo
seio daveia porta hepática, a artéria hepática, eosnervosque
acompanham
estes dois troncos vasculares,mas
também
emitte asraizes principaes do seu conducto excretor e
numerosos
vasoslympha-ticos
que
emergem
da sua espessura.O
epiploon gastro-hepaticotam-bém
se insere neste sulco.Perpendicularmente á extremidade esquerda
do
sulco transverso vê-seo sulco antero-posterlor,
que
seestende dobordo
anterioraobordo
poste-rior
do
fígado, conhecido,também,
pelonome
de sulco da veia umbilicale do canal venoso ou sulco longitudinal. Este sulco é dividido pelo hilo
do
fígadoem
duas porções: a anterior aloja a veia umbilicalno
feto, eno
adulto ao cordão fibroso resultante da obliteração deste vaso, a postérior
recebeo canal venoso
no
feto eo cordão fibrosoque
o substituedepoisdo
nascimento.
Pararellamente ao sulco antero-posterior nota-se a gotteira da
vesicu-la biliar e da veia cava inferior, cruzando perpendicularmente o sulco transverso e sendo por este dividida
em
duas partes: a anterior éoccu-pada
pela bexigado
fel, d'onde onome
de fossula da vesícula biliar, pelaqual a
conhecemos;
a posteriorrecebe a veia cava inferior.Para diante da fenda transversal, entre o sulco longitudinal e a fossula
da vesícula felea,encontra-se
uma
saliência rectangular,em
relaçãocom
a primeira porção do duodeno; é a eminência porta anterior, o lóbulo
in-ferior do fígado, o lobo quadrado. Para traz da fenda transversal e para
diante da
embocadura
das veias hepáticas, entre o sulco do canalvenoso
e o da veia cava inferior, observa-se
uma
saliência,muito mais
accusadaque
a precedente, é a eminência portaposterior,ou
lobo de Espigelio,que
pela sua face posterior descança sobre os pilares
do
diaphragma; para aesquerda está
em
relaçãocom
o cárdia, para baixocom
o pâncreas, o tronco celiaco etambém
com
apequena
curvatura do estômago, duranteo
período darepleção deste.A
circumferencia do fígado apresentano
seubordo
anteriorduaschan-fraduras,
uma
que
precede o sulco da veia umbilical, outramais
super-ficial situada ao nivel do fundo da vesícula felea;
no
seubordo
posterior,semelhantemente, ofFerece duas ehanfraduras; a
maior
corresponde aconfluência das veias cava e hepáticas, a
menor
ao esophago.feio,
mas
cujos vestígios ainda sedescobrem no
adulto, o fígado receb»os seguintes vasos afferentes: a artéria hepática, a porção divergente da
porta
ou
veia porta hepática, e emitte duas ordens de vasos efferentes:as veias hepáticas
ou
supra-hepaticas (Chaussier) e os canaes biliares.A
glândula hepática, considerada sob o aspecto angiologico,differença-se de todas as
demais
glândulasda economia.De
feito, ao passoque
todosos corpos glandulares se limitam a receber sangue arterial,o fígado,
exi-mindo-se
desta lei, recebe, aum
tempo,não somente
sangue arterioso,,senão
também
sangue venoso, o qual apresenta notáveisparticularida-des na sua constituição, dependentes das origens diversas
em
que
o vac buscar a porção convergente da porta ventral, a saber: toda aporçãa
sub-diaphragmatica
do
tubo digestivo, o pâncreas, o baço, enumerosos
glanglios lymphaticos
do
abdómen.
A
artéria hepática, depois de collocar-se adiantedo
tronco da veiaporta, costeando o seu lado esquerdo, penetra
no
fígado os seusramos
terminaes, pelas extremidades do sulco transverso. Estes
ramos
distri-buem-se
por toda a víscera,onde completamente
se esgotam,acompa-nhando
sempre
as divisões da veia porta e do canal excretorda
glândula.
A
porção divergente da veia porta, bifurcando-se,lambem,
entra no>ligado pelasextremidades dosulco transverso.
Cada
um
dos seus ramos^ horisontalmente se dirige para o loboque
lhe corresponde,em
cujaes-pessura vae-se dividindo e subdividindo
dichotomicamente
ámaneira
das artérias, de tal sorte
que
envia ramúsculos para todos os lóbulosda
glândula.
As
divisõos successivas e progressivamente decrescentes da veia portapercorrem
os canaesque
lhes são fornecidos pela capsula de Glisson^sempre
em
companhia
da artéria hepática edos conductos biliares. Estasdivisões,
que apresentam
durante o seu transitouma
direcção parallelaasuperfícieinferiordo fígado,
nunca
seanastomosam.
As
primeiras radiculas das veias hepáticas, nascendo da espessura doslóbulos
do
fígado,onde
secommunicam com
as divisões terminaesda
artéria e da veia porta hepática,
vam
convergindo de diante para traz eformando
pela sua reunião canaes tanto mais calibrosos quantomenos
numerosos
sam.A
semelhança
das ramificações da veia portaellascami-nham
pela espessura da glândulasem
ofFerecerem anastomoses cAs
veias porta e hepáticasmutuamente
sedestinguem
pelos seguintes caracteres: l.oporque
a direcção das divisões da primeira é transversal, ao passoque
a dassegundas é antero-posterior; 2.oporque
asramificaçõesvenosas portaes são envaginadas pelacapsula de Glisson,
em
quantoque
as divisões venosas hepáticasestam
em
contactoimmediato
com
oparen-chyma
glandular,aoqualadherem
não
só pela venulasque
recebem,mas
também
porum
tecido cellular fino edenso; demodo
que
incisando-se ofígado, observa-se
que
as paredes das ramificaçõesda veia porta seaba-tem
em
razãode adheriremfrouxamente
ás bainhasque
percorrem,e, pelocontrario, as das veias hepáticas
permanecem
hiantes, ásemelhança
detubos, cujas paredes fossem inílexiveis.
A
glândula mais ricaem
vasos lymphaticos, depois das glândulasmammaria
é testicular, é o fígado.Os
vasos lymphaticos desta glândulanascem
da peripheria de cadaum
dos seus lóbulos, eformam
pelas suasmultiplicadas anastomoses
um
vastíssimo plexo,que
apresenta tantos va-cuolos,quantos são os lóbulos hepáticos respectivosEstesvasos se distinguem
em
superficiaes e profundos. Aquellesmui-to numerosos, partindo dos lóbulos periphericos,
serpeam
por toda asu-perfície daglândula, estesmais
volumosos
sesubdividemem
descendentesou
satellites da veia porta e ascendentesou
satellites das veias hepáticas.Os
descendentes seestendem
pela capsula de Glisson,que
os separada
veia porta, da artéria hepática dos conductosbiliares e dos nervos
corres-pondentes, os ascendentes mais
numerosos
e muito maisvolumosos
que
osdescendentes fornecem para cada
uma
das divisõesdasveiashepáticasuma
bainha plexiforme,que se presta muito a injecção.Os
nervos do ligadoprocedem
dopneumogastico
esquerdo edo
plexosolar.
O
pueumogastrico esquerdo, logo depois de entrarno
abdómen
emittemuitos filetes nervosos, os quaes, inclinando-se para direita e para baixo
e
caminhando
por entre as duas laminasdo
epiploon-gastro-hepatico,introduzcm-se
no
fígado pelo sulco transverso, seguindoas divisõesdaveia porta até a peripheria dos lóbulos.Do
plexo solar,que
éconstituido pelo entrelaçamento de copiosonumero
de ramificações nervosas plexiformes, provenientes dos quatros nervos
splanchnicos, de muitas divisões dos nervos phrenicose da parte
através-sado os ganglios semi-lunares, partem,
como
d'um
centro,nove
plexossecundários,
um
dos quaes é o plexo hepático.Deste plexo
emanam
não só osraminhos
nervososque
formam
oplexohepático anterior de Lobstein
ou
o plexo hepático esquerdo deSoemme-ring,
que
abraça a artéria hepática e as suas principaes divisões,mas
também
osramos
nervosos,pouco
volumosos, conhecidos pelosnomes
de plexo hepáticoposterior, de plexo hepático direito, de plexoda veia porta,que
se dirigem para o ligado,caminhando
entrea artériahepática ea veiaporta, sobre a face anterior do tronco daqual se applicam,até o ponto
em
que
ella se bifurca paramergulhar no
fígado suas ramificações, a cujadistribuição, egualmente,
acompanham.
O
plexo da veiaporta, seanastoma, a principio,com
o plexo da artériahepática, depois, aonivel do sulco transverso,
com
algunsfiletes dopneu-mogastrico esquerdo, e, por fim, na capsula de Glisson
com
filetes das duas origensque acabamos
de mencionar.Em
resumo: os plexos daartériahepática e da veia porta, sendono
seucomeço
distinctos, se entretecem ao depois portal forma, que,afinal,seconfundem
inextricavelmente na espessura da glândula hepátican'um
só plexo,que
a cada lóbulo forneceuma
ou
mais divisões,mas
cuja termi-nação ainda é desconhecida (Sappey). Muitos anatomistastambém
admit-tem que
alguns filetes do nervo diaphragmatico direitovam-se
derramarII
Lastructuredufoie exercelasagaeilédei anatomisies depuisplusieurs sièclcs, et telles sont cependantles diíficullés donl s'enlourc sonélude,quelantd*cfforts réuns semblent n'avoir produil jusqu'àprésent qu'un
déda-led'opinions conlradktoires. A voir ce leu croisé d'afflrmatioris siconlraires, de propo-sitions sidisparates,de condusionssioppoíées, qui divisent la plupart des observaieurs on serait presque tentéde croireen tileiquela science estrcstée stéiiie sur ce poinl, elque toutelastructuredu foieestencoreà refaire. Mais cn reunissant à une observation atlen-tive desfaits unexamen plus approfondi des travauxpubliés par nos prédécesseurs,on nc tarde pas à rcconiialire que 1'histoire de la structure dufoiesestenrichie depuistrente ans d'un grand nnnibre ri'acquisitions im-portantes,et quesileproblèmede ectte stru-cturen'eslpas cornplétenicmrésolue, les
dou-néesprincipales du moins en sont déjá ras-semblées.
Sappey. Traitèd'Ana(omicde$criptÍLe T.3.,pag. 2G8.
Duas
suo as túnicasque
envolvem
a glândula hepática; a peritonealou
eommum
e a fibrosaou
túnica própria.A
primeira, cujadependên-cia é claramente indicada pela sua denominação,
tem
a dupla destinaçãode
isolara víscera e facilitar-lhe osmovimentos,
e a envolveriacomple-tamente, seo
bordo
superiordesta,ao niveldo ligamento coronário, assimcorno a sua face inferior,ao nivel
do
sulco transverso, da gotteirada veia cava, da fossula da vesícula felea e da faceta supra-renal, delia senão
achassem
desprovidos.A
segunda,composta
de fascículos de tecido con-junctivoque
reciprocamentesecruzam,e denumerosas
fibras elásticasmuitofinas (Cruveilhier), é
uma
membrana
extremamente
delgada, bastanteresis-tente, semi-transparente, fibrosa
ou
antesfibro-cellulosa (Sappey),que
re-veste toda a superfície daglândula, entretendopela face externa relações
tão intimas
com
amembrana
peritoneal,que
com
ella se confunde, eadherindo pela face interna ao tecido próprio da víscera, a cuja
—
10—
Ao
passoque
a túnica própriado
fígadono
ponto de emergência dasveias supra-hepaticas adhere aosseus contornos, por
forma que
sedei-xa
por ellasperíbrar,na região central daface inferior, porém,secompor-ta de
modo
inteiramente diverso, por quanto, depois de entapizar o sulco transverso, enviaum
prolongamento
canaliculadoque
envolvea veia porta,a artéria hepática, os nervos do plexo hepático, os vasos lymphaticos
do
fígado e os canaes biliares,prolongamento
que, logono
hilo daglân-dula, biparte-se
em
direito eesquerdo,os quaes por seu turnovão passandopelas divisões e subdivisões dos elementos vasculares e nervosos
que
acompanham
atravez doparenchyma
hepático. Estesprolongamentos
são collectivamenle conhecidos pelonome
de capsula de Glisson.Esta capsula pela sua superfície interna adhere por
um
tecido frouxo efilamentoso aos conductos
que
envagina, e pela sua superfície externacontactêa
immediata
e intimamente oparenchyma
daglândula.No
fígadode certos animaes, por exemplo: o porco e o urso, a capsula de Glisson,
alem
de proteger os conductos vascularescom
os nervoscorresponden-tes,
forma
com
os prolongamentos, laminas, e trabéculasque
emitte,pe-quenas
areolas,que
distinctamente dividem a substancia própriado
fíga-do
em
pequenas
porções,que receberam
onome
de ilhotas, lóbulosou
lobolinos, os quaes
medem
um
a dois millimetros de diâmetro.Segundo
o Sr.Sappey
alguns vestígios desta disposição observa-seainda
no
cavallo eno
boi,mas
nos outrosanimaes
e especialmenteno
homem
a capsula de Glisson, depois de soffrerum
adelgaçamento
gra-duale progressivo, desapparece de todoantes de chegar a peripheria doslóbulos.
Mas
para o Snr. Ch. Robin, ha, entre os lóbulos, delgados septosde fibras laminosas, muitas das quaes se
acham
em
estado fusiforme, eacompanhadas
de matériaamorpha,
cuja quantidadediminue no
tecidolaminoso
que
cinge a veia porta e os conductos hepáticos,com
o qualtecido o dos septos esta
em
continuidade de substancia.O
parenchyma
do fígado é constituído por lóbulosque
seacham
im-plantados nas
malhas
datrama
ricamente vascular da viscera.Na
com-posição de cada lóbulo (lobulino
ou
ilhota do fígado)concorrem além
dos septos fibrosos
que
oscircumscrevcm
(Ch. Robin), ramificações dasveias portae supra-hepaticas, da artéria hepática, dos canaliculosbiliares e de considerável multidão de acinos (cellulas
ou
corpúsculoshepá-ticos), cujo
numero, segundo
oSr. Sappey. eleva-se aproximativamente a—
II—
O
Sr. Nathalis Guillotnão
créque
os acinos hepáticossejam
ocos, e porisso os
denomina
—
partículas, opiniãoque
justamente é condemnacla pelamoderna
microscopia.Cada
acinodo
fígado cuma
verdadeira cellula, ecomo
tal constituídopor
uma membrana
hyalinaou
saccocompletamente
fechado, encerrando na suacavidade,alem
definasgranulações de cor escuraouamarellada,cha-madas
poruns micrographos
moleculares e por outros poeira orgânica,em
razão das diminutasdimensões
que apresentam
entre0,<"m 0005
e0mm003
ede
algumas
gottasinhas de gordurad'um
amarello esverdinhado (Robin),um
núcleo,em
cujo interior haum
ou
mais nucleolos.As
cellulas hepáticas enfileiradasem
series linearesconvergem
dacir-cumferencia
do
lóbulo para o centro, disposiçãoque
em
geral senão
observam
nas glândulas acinosas, cujas granulações irregularmente seagrupam
em
derredor das primeiras radiculas dos seus conductosex-cretores.
Para muitos
micrographos
a capa exterior dos aeinos hepáticos éde natureza epithelial,
mas
um
illustre anatomista, cuja valiosacom-petência
no
presenteassumpto
ninguém
lhepode
contestar,em
vistadas suas aceuradase
bem
dirigidas investigações ácêrea da anatomiainti-ma
do
fígado, contra esta opinião assim se exprime: « lamembrane
propre desacini hépatiques estd'une nature toute spéciale,
comme
cellede
chaque
glandeconsiderée isolérnent; et cest à cette différence dena-ture dansles glandesles plus identiques en apparence, quelle est
rede-vable de Ia différence de ses proprietes physiologiques.
Au
premierrang,parmi
les éléments qui entrent dans sa constitution, ilfaut placer la ma-tière glycogène, dont elle parait être essentiellement composée,daprès
les recherches de
M.
Cl. Bernard (1).No
interior dacellula hepática encontram-sealgumas
gottasinhasolea-ginosas,
que
em
certos estados pathoiogicos,augmentam
de volume, etor-nam-se
mui
numerosas,enchendo
as cellulas a ponto de as distenderem consideravelmente, produzindo, d'est'artc, asteatose hepáticaou
degene-rescência gordurosa
do
fígado.A
natureza das granulações coloradasque
seobservam
na cavidade decellula hepática
não
está perfeitamente determinada.O
Sr. Cárterentendeque
essas granulações são formadas deamido
animal, o Sr. Schiff não só(l) Syppey.—Trailc (rauatomio desciiplíve T. 3.° pâg. 273.
—
12
—
observou
no
interior das eellulasdo
fígado, granulações amiláceas, senãotambém
uma
matéria xaroposa,que
paraelle é dextrina liquida; isto é, aphase intermediaria pela qual passa a matéria glycogenica antes
de
setransformar
em
assucar. Esta observação foicomprovada
pelos Snrs.Nasse e
Weber.
Também
o Sr. Beélard asseveraque
nas eellulas hepáticasde todos osmammiferos
constantemente existem grânulos deamido
animal,exceptuan-do-se,
porém,
a primeirametade
da vida intra-uterina e alguns estados mórbidos.O
modo
pelo qual as ridículas primitivas dos conductos biliares secomportam
com
as eellulashepáticastem
sidoobjecto degrande
contro-vérsia entre os
mais
sábios e hábeis micrographos.Os
Srs. HandfieldJo-nes e Kolliker, não
podendo acompanhar
os conductos biliaresalem da
peripheria dos lóbulos hepáticos,
pretendem que
estes conductosnão
se originam
no
interior dos lóbulos, esim
de plexosque
os últimos ca-naliculosformam
nos espaços interlobulares.Segundo
esta opinião,que
também
é abraçada pelos Srs. Dujardin e Verger,Huss
e Morel, os conductos biliares originariamente constituídos por canaliculosinter-lobulares reticularmente entresachados,
não
entreteemconnexão
algu-ma
com
as eellulas hepáticas.De
passagem, diremosque
esta disposição dos canaliculos primitivosdos conductos biliares
plenamente
justifica a separaçãodo
fígadoem
duasglândulas inteiramente distinctas: a glândula glycogena ea glândula
biliar; importante separação anatomo-physiologica
que
a principioadmit-tida pelo Sr. Cl. Bernard,
tem
sido ao depoispropugnada
pelos Srs. Ch.Hobin, Henle, Morel, Villemin, Liégeois e Paulet.
Outros micrographos não
menos
eminentesque
os primeirospoderam
reconhecer e seguir os canaliculosbiliaresaté no interior dos lóbulos
he-páticos;
mas
não secoadunam
quanto aomodo
porque
terminam.Assim, para os Srs.Henle, Gerlach,Hyrtl, NathalisGuillot, Lereboullet cReichert,os canaliculos biliares, no interior dos lóbulos
não apresentam
paredespróprias, de forma
que
sãosimplesmente
constituídos peloses-paços lacunares formados pelas eellulas hepáticas; ao passo
que
para osSrs. Milne-Edwards, Kiernan, Leidy, Leonel Beale, Andrejewicz,
Mac-Gillavry,
Budge
e Schmidt, estes canaliculospossuem
paredes distinctasno
interior dos loboloseformam
pelo seu entrelaçamento reciprocouma
Quanto
as relaçõesque
os candieulos biliares intralobularesteem
com.as cellulas hepáticas é
uma
questãoque
também
ainda não estádefiniti-tivamente resolvida.
À
maioria dosauctoresque
sobre esteassumptotemos
citado
entendem que
estes caniliculos sãocompletamente
independentes,em
quantoque
os Srs.Krakenberg,
Backer,Retzius,Theile,Weja,
A.Kra-mer
julgam que
cada canaliculo libiar termina-seporuma
dilataçãoam-polliforme, (contendo
em
sua cavidade cellulas hepáticas.O
Sr.Sappey
inelina-se a crerque
esta ampolla terminal é constituídapor
um
acino hepático,que
para elle éuma
cellula, ao passoque
paraBurdach
ella éformada
pelas reunião de muitos utriculos, appensos todos aum
só canaliculo.O
Sr.Longet
presume que
actualmente estábem
demonstrado
que
osconductos biliares interlobulares
enviam
para o interior dos lóbulos ra-mificações,que,seanastomosando
entresi,formam
uma
rededecanaliculosextremamente
finos, abraçandoem
cadauma
das suasestreitissimasma-lhas
uma
cellula hepática;comtudo
o actual professor deAnatomia
descriptiva
na
Faculdade de Medicina deParis, depoisdepacientesinves-tigações ácêrea da histologia hepática, francamente declara,
que
omodo
porque
secomporiam
os dezou
doze conductos bibiaresque
nascem
de
cada lóbulo relativamente aos acinos destes lóbulos,
no
estado presenteda sciencia, é
uma
questão insolúvel.A
veia porta attingindo os espaços interlobulares se dividéem
quatroou
cinco venulas (Kolliker, Cruveilhier e Sappey), cadauma
dasquaes se lança,aum
tempo,
sobre muitoslóbulos,formando-lhes,d'estarte,uma
es-pécie de corôa vascular(veias perilobulares
ou
interlobulares deKiernan).Desta coroa
partem
ramúsculosem
numero
de 8a 12.e de0,mm
02a
0,mm 0 3
de diâmetro (Sappey),que
se espraiam sobre o lóbulo, conver-gindo da circumferencia.para o centro,onde
formam
com
asnumerosas
ramificações capillares
que
da suaperipheria sedestacam
em
angulorecto,para logo se
anastormosarem
entre si, urna redeextremamento
delicada (rede capillardo
lobulo)^em cujas diminutíssimasmalhas
sealojamascel-lulas hepáticas.
Á
cada venula interlobular correspondesempre
um
ramúsculo
arterial,..o qual se divide
em
tresou
quatro ramificações muito finas,que
sein-troduzem
no
lóbulo,onde
por fimdesapparecem
na rede capillarfornecida,pela veia porta.
U
—
ripheria e espessurade cada lóbulo,
surgem
iunumcraveis radiculasque
a principio
convergem
para tresou
quatro tronculos, os quaesformam,
reunindo-se,
uma
pequena
veiaque occupa
o centro dolóbulo (veiaintró-lobidar de Kiernan, veia central de Krukenberg), a qual despeja-se ao
sabir
do
lóbulono
primeiroramúsculo
interlobularque
depara.Os
ra-músculos
interlobularesdão
nascimento a outrosmais
volumosos, dos quaes se originamramos que
successivamente vão sendomenos
nume-rosos ecada vezmais calibrosos.
Alguns
destes ramos,emanados
do
lobodireito, de calibre muito variável,
abrem-se na
veia cava aonivel dagot-teira
que
obordo posterior do fígado lhe offerece,outros,porem,
formam
dous
a tres troncosmui
volumosos,os quaes,convergindo para ametade
superiordagotteira referida,
desembocam
na
veia cavaimmediatamente
abaixo da abertura do diaphragma.
Os
vasos lymphaticos doslóbulos hepáticospermaneceram
ignotos até1852,
epocha
em
que
o Sr.Sappey
em
uma
memoria
dirigidaaAcademia
de Sciencias de Paris, delles manifestamente assignalou aexistência.
Se-gundo
este exímio anatomista cada lóbulo apresentana
sua peripheriauma
profusaredelymphatica,superposta a dosvasossanguíneos,formada
pelas radiculas
summamente
ténuesque
affluemdo
âmago
do
lóbulo,largamente
anastomosando-se
entre si.Das
ligeiras considerações angiologicasque
tentamos fazer ácêrcada
da anatomiaintima
do
fígado, deprehende-seo seguinte:i.°
Que
os vasos venosos aíFerentes e efíerentes da glândula hepáticacommunicam-se
pormeio d'uma
immensa
multidão de capillares,que
liga as radiculas terminaes de uns ás primitivas radiculasdos outros;2.o
que
as derradeiras ramificações daartéria hepáticaeda
veia portaformam
com
as radiculas originarias das veias hepáticasuma
profusa rede vas-cularem
cujas delicadíssimasmalhas
repousam
os lóbulos hepáticos; 3.°que
em
cada lóbulo póde-se distinguir tres planos vasculares:um
pro-fundo ou centralformado
pelasprimeiras veniculas hepáticas,um
médio,constituídopelas subdivisões extremas da veia porta eda artéria hepática
edas conductos biliares, e, finalmente,
um
superficialcomposto
deFuncçoes
do
fígado.SEGUNDA
PARTE.
I
LIGEIRAS
CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS.Thetrceof knoflleilge, wtiílitsflowersand fmits,appearsless strange lo us, when we
follow i!sroolf, as thcybiiinch out, atoiie
time more decply,and al olher limes
les»-so,intolheregionoi'bistory, andwhen wc
search out lhe spiings whicli nave tnndcit bear fruit. Tbat which at present day Is brouglitforward asnsw hasnot
unfrequcn-lly hecn knowncenturiesago.
Wilh ivgardtonoorgan doeshistoryatte.st a change ofviews ia a more remarkanla mamier thaninthe case ofthelíver.
Fiierichs.—A.clinicaltreathe on desease ofthe livcr.V.1p.i.
Desde
a maisremota
antiguidade o fígadotem
sido successivamenteobjecto de muita conjectura aventurosa,de muita investigação paciente e
de
muito
estudo consciencioso e profundo.Os
antigos, levadosmais
pelosdevaneos da imaginativa do
que
pelos sãos discursos da razão,graciosa-mente
deram
ao fígado a investidura de varias funcçoes, elevando-o atéa categoria
d'um orgam
central, presidente da vida vegetativa.Hippocrates presumia
que
o fígado era a origem anatómica das veias,e
que
também
preparava a bile,que
tinha o préstimo de aquecer oven-trículo
ou
estômago.Para
Platão o fígado eraum
verdadeiro espelho,em
que
aalma
instinctiva mirava asimagens que
lhe enviava o espirito,imagens
que,segundo
o grau de impressionabilidadeque
oamargor
dabile e os suecos doces
causavam
no
fígado, revestiamum
caracter, oraperturbador e tristonho, ora tranquillisador e alegre. Para Aristóteles o
—
11)—
associado ao
do
baço e dos rins,jazeriam pendentesno
precintoabdomi-nal, promovia,
também,
a cocção dos alimentos (1).Seria, por certo, fastidioso e improfícuo, passar
uma
revistaretrospe-ctiva,ainda
que
ligeirae circumscripta ao nosso assumpto, aosdesvariosda
physiologia romântica e absurda, e da anatomia superficial e grosseira
do
dogmatismo
hippocratico,do
anti-dogmatismo de Erasistrato e deHero-philo, e das seitas dos empericos, dos eclécticos dos melhodistas e
outras,
que
por longotempo
reinaram nos domínios da antiga medicina.Não
podemos,
todavia, deixarem
silencio as vistasque
destafamosa
entranha concebera o grande Cláudio Galeno, cuja auctoridade soberana,
pelo decurso de quatorze séculos, despoticamente imperára
em
todasas escholasmedicas
de então.O
celebremedico
dePergamo
entendiaque
o fígado nãosomente
erao foco do caloranimal, senão
também
a vísceraincumbida
de completar aformação
do
sangue, que,segundo
a sua opinião, principiavana
veia porta pelamctamorphose
que
ahi soffriam ossuecos nutritivos, para irterminar-se
no
fígado,onde
se realisava a extracção dabile amarella,que
passava para a vesícula
do
fel e a da bile negra,que
era depositadano
baço.
Galeno,
negou
aexistência de vasoschyleferos, ja entrevista pelos doismais
notáveis anatomistasda
eschola de Alexandria, Erasistrato eHero-philo;
mas
vendo que
ossuecos reparadores fornecidos pela alimentaçãoeram
do
tubodigestivo transportados para a torrente sanguínea,profes-sára
que
as veias mesaraicas depois de haurirem pelas suas radiculas ossuecos nutrientes na
mucosa
do canal alimentar, osconduziam
ao seioda
víscera hepática, onde, passando por intimas modificações, adquiriam as
propriedades característicasdo liquido sanguíneo.
Nesta theoria, portanto, o systema da veia das portas representava o
papel de
orgam
de absorpção e de assimilação, e o fígado o deorgam
de
hematose.
As
doutrinas galenicas ligeiramentemodificadaspelosmédicos
árabes
permaneceram
em
voga
até omeado
do
séculoXY1I.Bem
que
Yesaliuscom
assuas pesquizasanatómicasmuito
concorresse para infirmar o galenismo, todavia,não
se abalançou aimpugna-lo
no
tocante asfuneções
do
fígado, limitando-se tãosomente
a refutar aspro-(1) Broussais. Examen des doctrines médicales. 1829, 3.e édilion, T. 1. pag. 15r 4Í), 6».
—
17—
fpriedades assimiladoras de
que
aveia porta se achava gratuitamentein-vestida.
É
verdadeque
Argentieri muitastentativas fizeraparadesapossaro fígado das importantíssimas attribuições
que
o physiologismo de entãolhe attribuia,
mas
foram, de todoo ponto, infructiferas.Em
1622
ofamoso
anatomista italianoGaspard
Aselli, claramentede-monstrando
a existência dos vasos lymphaticosdo
tubointestinal, aos quaesdenominara
veias lácteas, não hesitouem
proclama-los agentesda
absorpção
do
chylo.A
vista disto os sectários de Galeno viram-secon-strangidos areconhecera destituiçãodas propridades absorventes da veia
porta, apezar das enérgicas contestações deRiolan e de Harvey.
No
em-tanto o fígado continuavaagozarde seu poderelaborador.
Mas
em
1640
JeanPecquet
descobrindo averdadeira terminação dos vasos absorventes, perfeitamente verificou-seque
o chylo não atravessava o glândula hepática, e que, pelocontrario, ia,directamenteconduzidopelo canal thoracico, lançar-se natorrente sanguinea, penetrando naveiasub-clávia esquerda.
Foi, então,
que
o galenismo vendo, a principio, Aselliprivara veiaportadas suas propriedades assimiladorasepor íimPecquet, peremptoriamente,
despojar o fígado das suas funeções sanguificativas,
tombou
do pedestalem
que
por tantos séculos absolutamente dominara.Estabelecido
que
o ehylo passava damucosa
intestinal para a correntesanguinea
sem
a intervenção directanem
da veia porta,nem
do fígado,Bartholin e Glisson foram os primeiros a
conclamar
a não-interferencia absoluta destes órgãos nosphenomenos
da sanguificação; opiniãoque
prevaleceu por quasi dois séculos, a despeito da viva opposição
que
suc-cessivamentelhe fizeram, Riolan, deBils e
Swammerdamm.
Até a
epocha
em
que Pecquet
demonstrara a continuidade dosvasoslvmphaticos
com
o canal thoracico, todas as noções, a este respeito, secircumsereviam exclusivamenteaos chyliferos,mas,afinal,
em
1651 OlausRudbeck,
depois de aturadasinvestigações,descobrindo vasos lymphaticosno
thorax,na superfíciedospulmões
etc,foinaturalmentelevado aerigi-losem
systema, generalisando, assim, a existência destes vasos, até então restringida aos intestinos, á todas as partes do organismo.João
Hunter
em
1780
investigandocom
todo oesmero
quaeseram
asfuneções do systema lymphatico,julgou-se,poríim, habilitadoaresumi-las
^ys-—
18—
temas
absorvente e lymphalieo,em
virtude dneommunidade
ou antes identidadedas suas funcções.A
theoria hunteriana,eom
quanto se oppuzesse as ideas physiologicasde
ha
muito vigentes, foi, todavia, bastante festejada.Mas
no
eomeço
do
presente séculoMagendie
experimentalmente
pro-vando que
a absorpçãodas matérias alibiles nãosomente
era íeita peloschyliferos, senão
também
pelo systema portal,deu
o primeiroimpulso
para reintegrar as veias nas suas funcções absorventes, sendo, neste
empenho,
imitadoporDelillena França,Tiedemann
eGmelin na Allemanha
e Flandrin eEmmer
na Inglaterra.Os
trabalhos dos Srs. Blondlot eClaude Bernard
e de muitos ontrosinvestigadores ainda
mais
plenamente
vieram confirmar a participaçãodas veias na absorpção intestinal; ficando só
em
litigio a determinação do grau de extensão e de importância,que
as veias e os vasoslym-phaticos, respectivamente, possuíam,
como
agentes da absorpção.Depois de muitas indagações experimtntaes tem-se, ultimamente,
esta-belecido
que
os chyliferos seencarregam
com
especialidade de absorveras matérias graxas; ao passo
que
as veias principalmenterecebem
osproductos resultantes da transformação dos alimentos feculentos e albu-minosos, a
agua
com
os saes alimentaresem
dissolução, o alcohol, eoutrasbebidas.
Alem
distotem-se
verificadoque
é quasi exclusivamente pelas veiasque
se eífectua a absorpção das substancias não alimentares,indif-erentes
ou
toxicas, odoríferasou
colorantes.A
physiologiamoderna
depois derehabilitaro systema daveia dasportasnas suas funcções absorventesprocurou saber,
como
para dianteveremos,
quala influencia que a poderosa glândula hepática exercia sobre os
pro-ductos da absorpção digestiva,levados ao seu
parenchyma
pelaabundant
e circulação portal.«
On
est de la sorte, escreveum
profundo physiologista,ramené
vers1'opinionquifut celle detoute1'abtiquité, àsavoir,
que
le faieestun
orga-ne épuratoíro
du
sang; opinionque
lesmodsrnes
ont préciséedavantage
en regardant le foie
comme
1'auxiliairedu
poumon,
en
signalant desrapports inverses dactivilé entre ces
deux
organes dans les divers agesde
la vie
ou
suivant les diffcrents degrés de Féehelle animale (1).(1) Longet.— Tnulc de physiologic. 1809, T. 2n
II
FUNCÇÃO
BILIAR.La bile n'est pas sécreléeparlamasse principale du foie, dontle Tolume est disproportionné aveccelui descondulis hépatlquesexcréteuri cl avecle volume dureservoirc«mparativementacequ'on peut observer dans le rein,parexemple, ou danslesglandes, cominelepâncreas,
etc. Labileest formé parles acini,qui sont disperses le long descanaux ex-créteurs bilialres, mômedans le epals-seurdufoie, aciní qu'aulrefois on con-sidéraiicommeétant chargésde fournlr
le mucus.
Ch. robin. Dictionnaire encyclo-yedique de*teiencesmiãicalts
1868. T.9.*,p.315.
A
primeira funeçãoque
seconheceu
na glândula hepática foi a da se-creção da bile, cuja attribuição physiologica é,deharmonia
com
ospro-ductos secretorios dasglândulassalivares, estomachaes,intestinaes e
pan-creática,provocar nos alimentos destinados a restaurar as perdas
inces-santes
do
organismo, asmutações
diversas,que
ellesteem
desoffrer,antesde se
transformarem
nos suecosassimiláveis,que
a torrentecirculatória seencarrega de distribuir por todas as moléculas orgânicas da
economia
animal.
O
estudo sobre aorigem
physiologica da bile deveser feito a tresluzesdiversas: pelo que, indagaremos,
em
primeiro logar, qual dos dois vasosafferentes da glândula hepática é preposto a secreção biliar;
em
segundo, qual das duas ordens de elementos secretoriosque
esta entranha contem, a saber: cellulas hepáticas e utriculos glandularesabundosamente
derra-mados
pelos seus conductos excretores, está particularmenteincumbido
da
producção
da bile; e, finalmente, se os princípiosque entram
na—
20
—
ucoiitrario, são passíveis de modificações especiaes no seu transito
physio-logicopelo
parenchyma
glandular.A
determinação da espéciedo sangue
que
preside asecreçãobiliartem
sido
assumpto
assas controvertido pormui
babeis experimentalistas.Pondo
amargem
as tentativas infructuosas de Bichate as incompletasexperiênciasdeMalpighi, é,propriamente, de
1828 que datam
asmais
re-gulares investigações que,a este respeito, foram
emprehendidas
porSimon
(de Metz). Essasexperiências,perfunctoriamente examinadas,
parecem,
lo-gicamente, attribuir aformação dabile ácirculaçãoportal;ellas,
porém,
são,na
realidade, improcedentes,em
virtude do seu auctor ignorarque
nosanirnaes (pombos) de
que
se servira nas suas observações,ha
constante-mente
mais deuma
artéria hepática, fazendo elle, ao contrario,menção
somente
deuma.
Cinco
annos
depois, B.Philip,ligandoa artériahepáticaem
cães,viuque
a fabricação
do
bile continuavaaconsummar-se,
obtendo idêntico resul-tadocom
a ligadura daveia porta, e, oque
é aindamais singular,com
a ligadura semultanea deambos
estes vasos. Este factoexuberantemente
prova
que
este experimentalista olvidára-se das imprescindíveis cautelasque exigem
pesquizas dessa natureza.Além
disto,como
judiciosamente observou Valentin, as veiasdavesículafelea edas viasbiliares, abrindo- senas divisões intra-hepaticas da veia porta,ainda mais difficultavam a
so-lução deste obscuro problema.
Este estadode duvida e de incerteza se protrahiu-se pelo período
de
vinte e tres annos; até
que
o Sr.Oré
(de Bordeaux)deparando
em
um
exame
necroscopicocom uma
obliteração daveia porta,que não
havia cau-sado notáveisperturbaçõesna producção dabile,despertou-se-lheo desejo de reconsiderar o assumpto; e, depois de muitas experiênciasem
cães,julgou-se habilitado para proclamar, de
um
modo
absoluto,que
a elabo-ração da bile não dependia do sangue da veia porta, e simdo sangue da
artériahepática.Kuthe, porém,
provando que
nasexperiênciasdo
Sr.Oré
asveiasbiliaresde Valentin
haviam permanecido
permeáveis,infirmára, asde-ducções physiologicas deste dislincto investigador, e
propugnava
com
Kottmeier pelaopiniãode Simon, ao passo
que Chassagne tenazmente
de-fendiaa opinião contraria.
As numerosas
experiências destes auctores,longe de elucidarem aques-tão, cada vez mais a obscureciam. Nesta conjunctura
um
preclaro—
21-e
procurou
remover
todas as difficuldades,premunindo-se
de todos os requisitos physiologicos indispensáveis para o cabaldesempenho
de suas observações.Dos
seus trabalhos experimentaes o Sr. Schiffaufere a illaçãoque
asecreção
do
bile,no
estadonormal, estádebaixo deexclusivadependênciada veia porta.
Esta opinião,
que
foi definitivamente abraçada pelo Sr. Jaccoud, c\comtudo
passível de objecçõesmui
ponderosas, fornecidas por observa-ções deindivíduos,em
que
a secreçãobiliarpersistiu,apesarda veia portanão
atravessar o fígado, indo por anomalia, despejar-se directamentena
veia cava perto das renaes.
Estas observações, testificadas por
Abernethy
e Lawrence,homens
de
grande méritoscientifico, estabelecem, de
modo
inconcusso, a influenciado sangue
arterialna
producção da bile.Quando
oSr. Cl.Bernard
patenteou aomundo
scientificoa sua brilhantedescoberta da funeção glycogenica do fígado,procurou determinar qual o
elemento anatómico desta glândula
que
se incumbia de fabricar a bile,a
fim de poder
demarcar
asedehistológicade cadauma
destas elaborações.As
experiências que,com
este intento, fizeraem
mammiferos
com
fis-tulas biliares effectivamente
confirmaram
a independência physiologica,
entre as funeções glycogenica e biliar; porquanto reconheceu
que
oes-coamento
da bile se tornavamais
copioso,quando
o trabalho digestivochegava
ao seu termo;isto é,setehoras depois daingestão dos alimentose que, pelo contrario, a
maior
actividadena
producção do assucarcoin-cidia
com
aepocha
em
que
a digestão intestinal attingia ao seu plenoexercício; isto é,
3
ou
4 horas depois da ingestão alimentar. Estasexpe-riências
foram
ratificadaspor Muller e Kòlliker.Conseguintemente
a elaboração do bilenão
se realisaquando, poroc-casião da digestão,o systema da circulação portal apresenta-se túrgido pelos sueconutriente absorvido na
mucosa
intestinal, e simquando
esse sueco, depois de despejadono
canal de sangue vermelho,promover
oaugmento
da tensão sanguínea geral, e,nomeadamente,
a da artériahepática.
O
Sr. Cl.Bernard
inferiu das suas observaçõesque
c nas radiculasbiliares
que
seconsumma
a secreção biliar e nas cellulas hepáticasonde
se effectua a
producção
da matéria glycogenica.Segundo
esteengenhoso
articulados,
mormente
nos insectos, cujos appcndices tubularesdo
estô-mago,
terminados por extremidades cegas, são physiologicamcnlcmui
semelhantes aos conductos biliares, ao passo
que
as cellulasque
lhes en-tapizam as paredes intestinaes representam as cellulashepáticas dos ver-tebrados.De
mais:quando
seimpelle pela artéria hepáticauma
injecçõopene-trante convenientemente dirigida, observa-se
que
as glaridulas dos con-ductosbiliares seostentamuniformememènte
coloradas, oque
denunciaa profusão das artericulas
que
rastejam pela sua superfície;em
quanto
que
as ramificações terminaesdo
veia porta,permanecendo
separadasdestasglândulas porseptoslaminosos,apenas
com
ellasmanteem
relaçõesmediatas.
A
ideia deque
as duas funCções da glândula hepáticaeram
desempe-nhadas
por elementos anatómicos distinctosa principio aventada peloSr.Bernard
foi ao depois calorosamente defendida pelofamoso micrographo
francez o Sr. Robin, que,
em
definitiva, considerano
fígado doisappare-Ihos
anatomicamente
differentes,um
destinado a secreção da bile (fígadocholegenico), outro prepostoa preparação
do
assucar(fígado glycogenico).Esta
nova
theoriatem
ja conquistado muitos adherentes, d'entre osquaes
sobresaCm
os Srs. Morel,Henle, Villemin e Liégeois.Resta-nos, emfim, inquirir se os materiaes
componentes
da bile saòpreformados
no
sangue e ao depoissimplesmente
expellidos pelo fígadoou
se as glândulas biliares, fabricam, realmente, estes materiaes a custados princípios
immediatos
da circulação geral.Até ao presente não se
tem
encontradoos saesbiliaresno
sangue,apezar da precisão minuciosacom
que
actualmenteem
semelhantesinvestigaçõesse os
pode
distinguir pormeio do
reactivode Pettenkofer.A
matéria colorante da bile apenas setem
encontradono sangue
em
condições inteiramente accidentaes, sobretudo
quando ha
estase biliar.Os
elementos característicos da bile, por tanto,não
seacham
prefor-mados
no
sangue; pelo contrario, são o resultadodum
trabalhophysio-logico realisado nas glândulas biliares.
Esta opinião é
plenamente
corroborada pelasconcludentes experiênciasdos Srs.
Kunde
e Moleschott.Estes eminentes physiologistas
nunca
verificaramno sangue
dosani-maes
(rans)que
sobreviveram alguns dias á extirpaçãodo
fígado, ã—
23
—
A
aguas e os saes anarganicos da bile,são indubitavelmente elementosnão
modificadosdo
sangueque
a secreção biliar se encarrega apenas deeliminar. Actualmente,
também
é forade questãoque
as glândulasbiliaressejam
verdadeiros emunctorios de cholesterina,que,segundo
os recentestrabalhos
do
Sr. Flint, éum
producto de desassimulação do cérebro edos
nervos.A
determinação dos elementos sanguíneos deque procedem
os saesbiliares
permancem
aindatenebrosa.Presume-seque
o acido cholico(Strce-cker)
ou
glycocholico(Lehmann) provenha
das matériasgraxas dosangue
e o acido choleico (Demarçay)
ou
taurocholico(Lehmann)
dos princípiosalbuminóides.
A
theoriaque
admitteque
a biliverdinaprovenha
da matéria colorantedo sangue fundamenta-se
na relação de composiçãoque
existe entrees-tes
dous
princípios, nas modificações de cor,mui
semelhantes entre si,que
cadaum
destes princípiosapresentam
soba influenciado
acidonítrico,como
o Sr.Gubler
demonstrára,e,finalmente,noscrystaesque
abiliver-dina
forma
quando
soffre longo estacionamentona
vesícula felea,inteira-mente
idênticos aos fornecidos pela hematoidina, quando, poroccasião de extravasamento de sangueno
seio dos orgams, ha estagnações sanguíneas.III
FUNCÇÃO
GLYCQGENICA-Iconsiderlhequcslionsctlled, thatsugaris not conlained In lhe blood of tbc portal vein iu animais conflned to nitrogenized íbod,but is always containedin lhe blood of lhe hepatic veins.ItseemstomethatIhavesiUledthe
qucs-lion, also,that sugaris not contained in lho substance ofthe liverduringlife;butthatitis none the lessformed In the liver duringlife, beingwashedout by thecurrent ofbloodas it passes through, appearing, ofcourse, in lhe blood ofthe hepalic velns.Thesefaetsharmonize lheappurenlly discordanl observations of Ber-nard andof Pavy and give the fist aceurate nction of the exact mechíiiism of glycogenesis whichisinaccordance wilhalilhe vell-cstabli-shed experimentalfaets.
Austin Flint. Neic-YorKMedicai
Journal,,luly,1870, p. 572.
Em
1848, o Sr.Claude Bernard,depoisdememoráveis
experiências, an-nunciava pela primeira vez aomundo
scientiíico,que
o fígado, querhu-mano,
queranimal, tinha a propriedade de produzir assucar, a custa dos elementos albuminóides contidos nos alimentoseno
sangue,em
opposicãoá antiga theoria
que
professavaque
os princípios immediatos existentesno organismo provinham
exclusivamente do reino vegetal.A
nova
doutrina physiologiea do illustreprofessordoCollegio deFrançafôra geralmente applaudida. Ella, de feito, surgitava promettedora
de
resultados fecundos, especificadamente paraa pathogenia da diabete,
que
ainda
permanecia
em
profunda obscuridade; por quanto, estatuídoque
aglândulahepática era preposta a fabricação da glycose animal era de
in-tuição
que no
exaggero ultra-physiologico destafuneção residisse acausapróxima
desta entidade mórbida.Os
resultados denumerosos
trabalhos experimentaes publicados na França, Inglaterra, Hollanda,Allemanha
e America, por notáveisobser-—
20
—
vadores,
plenamente confirmaram
a doutrina da glycogenia hepática.O
triumpho
doeminente
plysiologista francez era,na
verdade, esplendido.Apenas
o Sr.Schmidt
(de Dorpat)em uma
memoria
que
publicaraem
1850, estribando-se
em
experiências, destituidas das condições physiolo-gicasrequeridas,julgava inadmissivelanova
funeçãodo
fígado: para elleaglycose alimal era
comparável
á urea, deforma que
o fígado vinha aserparaa matéria assucarada, o
que
orim
é para á urea; isto é,um
mero
orgam
de expulsãoou
de excreção.Convém,
todavia,notarque
oSr.Schmidt, repetindo assuasexperiênciascom
as precauções indicadas pelo Sr. Bernard, abnegou,promptamente,
as suas as primitivas idéas, proclamando-se apologista da
nova
funeção glycogenicado
fígado.O
Sr. Figuier,porém,
em
1855
declarára-se acérrimo antagonistada
moderna
theoria sobre a formaçãodo
assucarno organismo
animal,in-dependentemente
da alimentação amilácea, reputando o fígado,não
como
um
orgam
creador, e simcomo
um
orgam,
ásemelhança
dos rins,separador
do
assucar, que, para elle, era, unicamente,resultante dasmodi-íicações por
que
passavam
os alimentosfeculentosno
canalintestinal.Mas
oSr.Lehmann,
procedendo
com
toda a mestria a analysecompa-rativa entre a
composição do sangue
da veia porta e o das veiassupra-hepaticas, estabeleceu, de
um
modo
peremptório,não
sóque
osangue
portal é privado de assucar, se não
também
que
osangue
incomparavel-mente
mais
assucarado de toda aeconomia
era oque
o fígado projecta pelas veias hepáticas para atorrente da circulação geral, eque
a propor-çãodo
assucarera tantomenor
quanto mais se apartava da glândulahe-pática,foco
da
sua origem.A
difFusão do assucarno
sangue,que
jáem
1846
havia sido indicadapor
Magendie
explica cabalmente a possibilidade de se encontrar esta substanciaem
qualquerparte do organismo.D'est'arteas valiosíssimas analyses do insigne chimico
de
Leipzigbri-lhantemente sanecionaram os resultados
que
o Sr.Bernard
havia colhidodas suas bellas experiências acerca
do
glycogeniaanimal.Os
curiosos trabalhosexperimentaes dosSrs. Poggiale,LeconteeMoles-chott
que
successivamente sobrevieram, continuaram a roborar asnovas
idéas physiologicas, emittidas pelo Sr. Cl. Bernard. Finalmente a
com-missão,
composta
dos Srs. PelouzeBayer
eDumas,
que
aAcademia
de
me-—
27—
morias attinentes ás verdadeiras funcções do fígado,
que
lhe foram apre-sentadas pelos Srs. Figuier, Poggiale e Leconte, assim se exprime,em
sessão de 18 de
Junho
de 1855, peloorgam
doseu distincto relator o Sr.Dumas:
«
Tous
lesfáitsannoncés
parnotre eonfrère M. Claude Bernard, au sujet<le la fonction qu'il attribue au foie, ont été vcrificspar nous, et
nous
ne
pouvons quapplaudir
àla rare habilitedu
savant physiologiste quilesa
mis
lepremieren
évidence. »De
feito, todas as pesquisasaté entãoemprehendidas
seconspiravamem
confirmararealidadeda nova tbeoriascientifíca,
que
aprofunda sagacidadetio Sr. Cl.
Bernard
haviaconquistado nosubertososdomínios daphysiologiaexperimental, e assim, este preclaro physiologista podia, legitimamente, exclamar, nas glorias
do
seu triumpho-:« Toutes les experiences s'enchainent naturellement
pour
établirque
le sucre, véritableproduitd'unesócrétion intérieure,à laquelle j'ai
donné
le
nom
deglycogéiúe,])venà naissancedans lefoieaux
dépens des élémentsdu
sangetindependamment
deFalimentation féculenteet sucrée,pour
serépandre ensuite dans tout 1'organisme
oú
il se détruit successivementen
s'éloignant deson lieu d'origine (1).»Não
estando maisem
litigio a producção do assucar hepático, asat-tençõesdos experimentadores seconcentraram na averiguação do seu
me-chanismo
physiologico.Uns
pretendiamque
nestemechanismo
intervinhadirectamenteosanguepelasubministracãode alguns dos seus elementos immediatos: assim para
oSr.
Schmidt
a formação da glycose animal dependia da oxydação dasma-térias gordas do sangue, para o Sr.
Lehmann
o fígado desdobrava certassubstanciasalbuminóides
do
sangueem
assucar eem
matérias azotadas,que
concorreriam para a formaçãodabile,e paraoSr.Frerichs (deBreslau),em
íim,a glândulahepáticadecompunha
os princípiosproteicosdosangue
em
assucar eem
uica.O
Sr. Ci.Bernard,a principio,também,
suppozque
a substancia engen-dradorado
assucar do fígado fosseum
principio albuminóide, alterávelpelo calor;
mas
ulteriores experiências,melhormente
dirigidas, lhereve-laram