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Indicadores de vulnerabilidade socioambiental: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN

ANA CECÍLIA FEITOSA DE VASCONCELOS

Natal - RN 2019

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INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação ampla em Rede, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor.

Orientadora: Profª. Drª. Eliza Maria Xavier Freire. Co-orientador: Prof. Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido.

2019 Natal - RN

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ

Vasconcelos, Ana Cecília Feitosa de.

Indicadores de vulnerabilidade Socioambiental: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN / Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos. - 2019.

127 f.: il.

Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019. Orientador: Profa. Dra. Eliza Maria Xavier Freire. Coorientador: Prof. Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido.

1. Vulnerabilidade Socioambiental - Indicadores - Tese. 2. Indicadores Socioambientais - Natal (RN) - Tese. 3. Meio ambiente - Tese. 4. Sociedade -Tese. I. Freire, Eliza Maria Xavier. II. Cândido, Gesinaldo Ataíde. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 502.1(813.2)

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Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação ampla em Rede, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor.

Aprovado em: 08 de março de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Profª Drª Gesinaldo Ataíde Cândido (Co-Orientador)

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

__________________________________________________ Profº. Drº. Sérgio Murilo Santos de Araújo

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

_______________________________________________ Profª. Drª. Mônica Maria Souto Maior

Instituto Federal da Paraíba (IFPB)

______________________________________________ Profª Drª Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

______________________________________________ Profº. Drº. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa

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Pela certeza que tenho na vida após a vida, dedico esta tese àquela que trilhou esse caminho junto comigo sem medir esforços para que esse momento se concretizasse. À minha mãe, Elsa Feitosa, a minha gratidão pela vida!

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A conclusão de um curso de doutoramento é um objetivo de vida alcançado e sonhado em conjunto com muitas pessoas da minha vida. Escrever os agradecimentos é um momento muito especial por me fazer recordar de muitos momentos sublimes, nem sempre fáceis, mas decisivos para o cumprimento dessa jornada.

Difícil é elencar todos os atores que, de alguma forma, estiveram presentes na minha vida ao longo desses quatro anos. Mesmo correndo o risco de omitir ou deixar de lado alguém e, sem a intenção de cometer alguma injustiça, gostaria de agradecer a contribuição de algumas pessoas em particular.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

CAPES, pelo suporte financeiro por meio do Edital Nº55/2013 Pro-Integração/CAPES.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Programa de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela oportunidade de cursar

uma pós-graduação em uma universidade pública e de forma gratuita.

Aos Professores do Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pelos ensinamentos compartilhados e que muito contribuíram para o enriquecimento dos meus conhecimentos.

À David e Érica pela disponibilidade e presteza de quem sempre estavam dispostos a nos ajudar.

À Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e aos colegas da

Unidade Acadêmica de Administração e Contabilidade (UAAC), por terem concedido

minha liberação para que esse projeto pessoal e profissional pudesse ser concretizado. À Professora Dra. Eliza Freire, minha querida e admirada orientadora, pelo exemplo de pesquisadora e profissional e pela referência que se tornou na minha vida. Obrigada por todo o seu apoio, incentivo, pelo exemplo de força e coragem ao longo desses quatro anos.

Ao Professor Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido, co-orientador e amigo, por confiar no meu trabalho. Obrigada por seu apoio, incentivo, amizade e paciência despendidas ao longo desses anos e que tanto contribuíram para o meu crescimento profissional e pessoal.

Aos Professores Dr. Sérgio Murilo Santos de Araújo, Dra. Mônica Maria Souto Maior, Dra. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo e Dr. Magdi Aloufa, por se disporem a participar da banca examinadora e pelas importantes contribuições a este trabalho.

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Às meninas do GEGIT pela parceria, pelos cafés diários e pela companhia nos momentos difíceis. A presença de vocês contribuiu para que o caminho fosse mais leve e mais divertido.

Aos meus colegas de turma Douglisnilson, Ilton, Josimar, Luciana, Luziana, Mikaelle e Thiago pela amizade construída e pelo conhecimento compartilhado.

À Mikaelle Kaline, presente que o doutorado me deu. Gratidão por sua amizade e por todo o apoio e incentivo em todos os momentos.

Aos meus queridos amigos da SEJA, pelo apoio incondicional, pelo colo sempre disponível e pela força quando as minhas faltaram.

Aos meus pais, à minha família, em especial aos meus irmãos Arrinho,

Viviane, Eduardo e Stephanie, e meus cunhados Rodolfo e Luana. Obrigada por

cuidarem de mim e pelo apoio concedido em todas as decisões que tomei na minha vida. Obrigada por acreditarem!

À Maria Eduarda, minha amada sobrinha, a “ratinha de titia”, que me ensina e me inspira todos os dias a ser uma pessoa melhor.

À Paulo Ribeiro, meu esposo amado, por sua presença constante, por ser força quando eu quis sucumbir, por ser colo quando precisei chorar, por ser pleno em amor. Gratidão por sua presença em minha vida e por toda ajuda no desenvolvimento desse trabalho. Sem você, eu não teria conseguido!

Sobretudo, agradeço à Deus, por renovar a cada dia o dom de minha vida, ser luz no meu caminho, ser força quando sou fraca e ser a perene e mais presente companhia nos momentos de imprescindível solidão.

Por fim, sou grata a tantas outras pessoas que, de forma direta ou indireta, também partilharam comigo desta conquista.

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“Acredite e não se explique pois poucos vão entender: só se compreende um sonho se o sonhador for você. Há quem possa lhe animar,

há quem possa duvidar, há quem lhe faça seguir. Mas não descuide um segundo pois muita gente no mundo quer lhe fazer desistir.

Acredite, pense e faça, use sua intuição, transforme sonho em suor, pensamento em ação. Enfrente cada batalha sabendo que a gente falha e que isso é natural, cair pra se levantar, aprender para ensinar que o bem é maior que o mal.”

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A Tese tem como título “INDICADORES DE VULNERABILIDADE

SOCIOAMBIENTAL: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN” e, conforme padronização aprovada pelo colegiado do Doutorado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente (DDMA) local, se encontra composta por uma Introdução geral (embasamento teórico e revisão bibliográfica do conjunto da temática abordada, incluindo a identificação do problema da Tese), uma Caracterização geral da Área de estudo, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra e por três Capítulos que correspondem a artigos científicos. O Capítulo 1, intitulado de “Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades brasileiras”, submetido e aprovado pela Revista Gaia Scientia. O capítulo 2, intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental: uma análise dos indicadores na cidade de Natal (RN)”, submetido e aprovado pela Revista RICCA e o capítulo 3, intitulado “Análise hierárquica e de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de vulnerabilidade socioambiental” que foi submetido à Revista Urbe. Os 03 artigos estão no formato do periódico aos quais foram aceitos e as informações referentes a cada periódico consta no rodapé da página inicial de cada artigo. Ainda compõe o presente trabalho o item de Considerações Finais, as Referências Gerais e os Anexos.

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INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal - RN

A definição de vulnerabilidade socioambiental envolve uma percepção mais integrada das condições de vida de uma dada população. Deve-se olhar e perceber que os impactos advindos dos desastres naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das pessoas, mas também, que o contexto de construção da sociedade e do processo de expansão urbana nas cidades brasileiras, faz com que uma parte da população desconheça seus direitos e experimentem de forma intensa uma sobreposição de desigualdades sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de conforto urbano e, principalmente, os direitos à cidadania. Nesse contexto, esta tese tem como objetivo propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que considerem questões sociais e urbanas. Para tanto, caracteriza-se quanto ao método como dedutivo, classificando-se como pesquisa qualitativa e quantitativa. Quanto aos objetivos se caracteriza como sendo uma pesquisa exploratória e descritiva, por se tratar de um tema atual, recente e que abre várias possibilidades de investigação, oferecendo subsídios para ampliar o debate e propiciando significativas contribuições científicas e práticas. Os resultados apresentam um conjunto de oito temas e 133 indicadores que viabilizam uma nova perspectiva para a análise da vulnerabilidade socioambiental, os quais foram aplicados na cidade de Natal (RN) e apontaram que o nível de vulnerabilidade socioambiental foi de 0,4709, classificado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante, pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência na sua resolução, como forma de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. No entanto, é importante salientar a importância de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para cada tema e cada indicador analisado e identificar quais deles necessitam de mais atenção para sanar as problemáticas que os envolvem. Ademais, foi possível identificar que a região Norte foi a que apresentou o nível de vulnerabilidade classificado como ‘Alto’. Essa também é a região mais pobre de Natal e, por conseguinte, a que apresenta os problemas mais latentes nas questões referentes aos temas analisados, sobretudo, Saúde, Trabalho e renda, Infraestrutura Urbana, Educação e cultura. Tal fato o coloca em um nível de correlação linear fraca e de disparidade frente as regiões mais abastadas da cidade: região Leste e região Sul. Desse modo, o estudo apresentado representa um conjunto de informações da cidade de Natal (RN) de fácil entendimento e capaz de gerar comunicação na sociedade e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Portanto, poderá servir de suporte aos interesses do poder público, pois poderá avaliar e monitorar os indicadores em dado espaço temporal, garantindo eficiência das políticas adotadas e, por conseguinte, melhorando a cidade para os cidadãos.

Palavras-chave: Indicadores. Vulnerabilidade Socioambiental. Social. Ambiental.

Cidades.

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ABSTRACT

SOCIOENVIRONMENTAL VULNERABILITY INDICATORS: proposal of framework and application in the city of Natal - RN

The definition of socio-environmental vulnerability involves a more integrated perception of the living conditions of a given population. It should be noted that the impacts of natural disasters reconfigure urban scenarios and impact the form and condition of people's lives, but also, that context of society construction and the process of urban expansion in Brazilian cities, makes a part of the population does not know their rights and intensely undergo an overlapping of social inequalities: poverty, spatial segregation, lack of urban comfort and, above all, the rights to citizenship. In this context, this thesis aims to propose a model for the analysis of socio-environmental vulnerability of Brazilian cities, based on the proposal of a set of social and environmental indicators that consider social and urban issues. For this, it is characterized concerning the method as deductive, being classified as qualitative and quantitative research. Regarding the objectives, it is characterized as an exploratory and descriptive research, because it is a current and recent theme that opens up several possibilities for investigation, offering subsidies to broaden the debate and providing significant scientific and practical contributions. The results present a set of eight themes and 133 indicators that make possible a new perspective for the socio-environmental vulnerability analysis, which were applied in the city of Natal (RN) and indicated that the level of socio-environmental vulnerability was 0.4709, classified as 'High'. This result is considered unsatisfactory and worrying, because it places the city in front of many problems that demand urgency in its resolution, as a way of guaranteeing minimal quality of life conditions for its citizens. However, it is important to stress the importance of analyzing the city with a more targeted look at each theme and each indicator analyzed and identifying which ones need more attention to address the issues that surround them. In addition, it was possible to identify that the North region was the one that presented the level of vulnerability classified as 'High'. This is also the poorest region of Natal and, therefore, the one that presents the most latent problems in the issues related to the topics analyzed, especially Health, Work and Income, Urban Infrastructure, Education and Culture. This fact places it in a level of weak linear correlation and disparity against the richest regions of the city: East region and South region. Thus, the presented study represents a set of information of the city of Natal (RN) of easy understanding and capable of generating communication in society and providing adequate information for decision making. Therefore, it can support the interests of public power, since it can evaluate and monitor the indicators in a given time space, guaranteeing efficiency of the adopted policies and, consequently, improving the city for the citizens.

Keywords: Indicators. Socio-environmental vulnerability. Social. Environmental. Cities.

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Figura 1: Estrutura da Tese ... 22 Figura 2: Mapa de localização da cidade de Natal – RN... 35 Figura 3: Mapa das regiões administrativas e bairros da cidade de Natal – RN ... 37 Figura 4: Framework proposto para análise da vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras ... 40

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Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental ... 31 Quadro 2: Aspectos tratados pelos autores para estudar as problemáticas urbanas ... 33

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL ... 15 1.1 Caracterização do problema ... 15 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ... 20 1.2.1 Objetivo Geral ... 20 1.2.3 Objetivos Específicos... 20 1.3 Estrutura do trabalho ... 20 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 24 2.1 Urbanização no Brasil ... 24 2.2 Vulnerabilidade Socioambiental ... 27

2.3 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental ... 30

3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ... 34

4 METODOLOGIA GERAL ... 38

4.1 Caracterização da pesquisa ... 38

CAPÍTULO 01 ... 42

CAPÍTULO 02 ... 69

CAPÍTULO 03 ... 94

CONSIDERAÇÕES FINAIS DA TESE ... 119

REFERÊNCIAS DO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO DA TESE ... 122

ANEXOS ... 126

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1 INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Caracterização do problema

A intensidade com que o processo de urbanização ocorreu no Brasil no século XX foi uma das principais causas que fomentaram as problemáticas sociais que envolveram e ainda envolvem o país até os dias atuais. Ao passo que a urbanização impulsionou o crescimento econômico, favoreceu um cenário de injustiças e desigualdades. Uma das principais características do processo de urbanização era ter, na construção das cidades, um meio de dominação no qual explorar e enriquecer eram prioridades maiores que cuidar e planejar o seu surgimento adequado.

Conforme expõe Maricato (2001), o surgimento dos primeiros centros urbanos se deu com os espaços de financiamento de comercialização dos bens primários. Esses espaços surgiram em função da produção, em meados do século XVI em função da produção do açúcar; nos séculos XVII e XVIII com a descoberta do ouro; e no século XIX com a produção de café como necessidade de um ambiente de comercialização desses produtos que atendessem ao mercado europeu.

Observa-se, desse modo, que a história da urbanização brasileira tem sua raiz no período colonial. Neste período, já havia no Brasil cidades de grande porte; entretanto, só a partir da virada do século XIX que o processo de urbanização da sociedade brasileira começa realmente a se consolidar. Conforme reitera Maricato (2001), essa urbanização foi impulsionada por vários fatores, dentre eles: a libertação dos escravos em 1888, Proclamação da República 1889 e a expansão da indústria, que, ainda incipiente, se desenrolava na esteira das atividades ligadas à cafeicultura e às necessidades básicas do mercado interno.

Com o passar dos anos, com o início do processo de industrialização, da concentração fundiária e da mecanização do campo, o país começa a apresentar as condições favoráveis para o aumento do êxodo rural que está diretamente ligado ao excedente de mão-de-obra no campo, favorecendo a mudança do modelo agrário-exportador para um modelo predominantemente urbano-industrial. É nesse contexto que o fenômeno da urbanização começa a se consolidar e demonstrar suas características, de forma mais intensa, na paisagem urbana das cidades e metrópoles brasileiras.

A partir da década de 1930 foi que o Estado passou, de fato, a investir em uma melhor infraestrutura nas cidades, permitindo com que houvessem melhores condições

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para o desenvolvimento industrial, como forma de atender, principalmente, a substituição de importações, delineando-se assim, um contexto em que a burguesia industrial assume a dominação política do país. No entanto, esse período é caracterizado pelo fortalecimento da economia interna e das forças de produção e modernização da sociedade (MARICATO, 2001). Assim, esse processo de industrialização deve ser compreendido em seu sentido mais amplo, não só como promotora de atividades industriais nas cidades, mas também, como processo social complexo e propulsor da urbanização no país. Dessa forma, a urbanização, segundo Castells (2006), deve ser entendida como um processo que se refere à criação de formas espaciais em função da concentração de atividades e pessoas em um único espaço, ao mesmo tempo que se tem a presença e a cultura constituída por hábitos da vida urbana.

Neste contexto, o processo de urbanização passa a ter um papel preponderante na estruturação da moderna sociedade, pois assim como o território, a própria sociedade impulsiona o seu processo de urbanização, não só com o foco nas atividades econômicas, mas, sobretudo, como incentivadora de novos padrões de relações sociais, como as de produção e de estilo de vida (LEFEBVRE, 2008).

No âmbito brasileiro, observa-se que o processo de urbanização caracteriza-se como acelerado, desigual e concentrador, bem como diversificado e completo em virtude de ter acontecido de forma heterogênea nos variados territórios do país (SANTOS, 2013). O intenso e desordenado processo de urbanização, derivado da falta de um melhor planejamento urbano, ocasionou uma série de impactos e consequências para as cidades, dentre as quais pode-se citar a favelização, o aumento da violência nas cidades, os níveis de poluição, maior incidência de enchentes e aumento do número de subempregos.

É fato que o crescimento urbano é um processo diferenciado de região para região e entre os países, sobretudo, nos países em desenvolvimento, onde coexistem significativas desigualdades sociais, grandes injustiças ambientais atreladas à ausência e à privação de liberdades substantivas (SEN, 2000). Essa disparidade torna-se mais premente à medida que se observam as dificuldades históricas de expansão de direitos, e que, na atualidade, está diretamente interligada com restrições e processos de destituição de direitos civis e sociais.

É importante salientar que o aumento da riqueza no mundo é muito superior ao aumento da população, mas também cresce na mesma proporção o grau de pobreza e o número de pobres (ROGERS, 2015). Assim, muitos destes pobres passam a viver em

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lugares desfavoráveis, expostos a níveis de pobreza social e ambiental, em um processo de retroalimentação de destruição e poluição.

Na maioria das cidades brasileiras é bastante visível a segmentação socioespacial, onde a parte mais periférica, constituída pela parte mais pobre da população, encontra-se desprovida de serviços e até mesmo de espaços adequados de convivência social. Isto demonstra que uma parte da população fica à margem da vida das cidades, que para Kaztmam (2005), forma um processo de segregação e “isolamento social” resultante da precariedade e instabilidade do mercado de trabalho e segmentação dos serviços que não são oferecidos a esta parte da população. Conclui-se, desse modo, que a pobreza é resultante não só do modelo socioeconômico vigente, mas também da forma como se apresenta a estrutura espacial da cidade que faz com que determinadas regiões estejam mais suscetíveis a um processo de vulnerabilidade.

A vulnerabilidade possui diversos significados e diversas percepções de análise. No entanto, pode ter pelo menos duas linhas de interpretações bem definidas:

a) enfoque em aspectos biofísicos em que consideram que as pessoas mais vulneráveis são os que vivem em ambientes físicos precários ou em ambientes que terão os efeitos físicos, ocasionados pelas mudanças climáticas, mais intensos (LIVERMAN, 2001; TOMINAGA et al. 2009);

b) entendimento de que existem múltiplos fatores e processos (ambientais, sociais, econômicos, políticos e culturais) que influenciam a vulnerabilidade dos indivíduos e sua capacidade de resposta frente aos efeitos das mudanças climáticas. (BLAIKIE et al. 1994; CUTTER, 1996; CUTTER et al. 2003; O’BRIEN et al. 2004; 2013; WISNER et al. 2004; ALEXANDER, 2011; ADGER et al. 2009; 2013).

Não é só a relação natureza e sociedade que gera a vulnerabilidade, mas existe vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também, em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em perda de direitos adquiridos (KOWARICK, 2000). Desse modo, se reconhece que o estudo da vulnerabilidade socioambiental envolve uma discussão ampla, por ter caráter multi e interdisciplinar.

A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela

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concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem e de sua dimensão”.

Em um de seus trabalhos, Cutter (2011) se refere à necessidade de uma abordagem integradora e interdisciplinar para o estudo da vulnerabilidade social e/ou socioambiental e essa necessidade decorre, sobretudo, da complexidade das interações entre os sistemas naturais, sociais, econômicos e culturais em jogo. A autora elege também, como princípio fundamental o que chama a "ciência da vulnerabilidade", o "requisito do conhecimento geoespacial da investigação, com base nos locais" (CUTTER, 2011, p. 61), relacionando ao conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam, pelo mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK, 2009).

Além desta, outra discussão se destaca como um dos principais desafios à análise da vulnerabilidade: a criação de instrumentos de mensuração que sejam capazes de retratar uma realidade vivida por muitos e percebida por poucos. Em uma análise mais específica, verifica-se, inicialmente, nos indicadores uma oportunidade de mensurar variáveis de grande representatividade para o contexto contemporâneo. Ademais, a sua utilização possibilita traçar diagnósticos acerca das reais circunstâncias nas quais as variáveis se apresentam.

Alguns autores (FERREIRA, 2000; 2004; BRAGA ET AL. 2006; EVANS ET AL. 2009; MORAN, 2009; 2011; BUARQUE ET AL. 2014) apontam para a necessidade cada vez mais urgente de se desenvolver abordagens interdisciplinares e que ofereçam métodos de integração, análise e monitoramento dos processos de mudanças em sistemas ecológicos e sociais (CLARK, 1985; TURNER II et al., 1990; ROTMANS e ROTHMAN, 2003; MEA, 2003; 2006; VANWEY et al., 2009; MORAN, 2011).

De acordo com o documento final da Conferência Mundial para a Redução de Desastres em Kobe (UN, 2005) é latente a necessidade de se desenvolver sistemas de indicadores de risco e vulnerabilidade nos níveis nacional e subnacional como forma de permitir aos tomadores de decisão um melhor diagnóstico das situações de risco e vulnerabilidade.

O sistema de indicadores que analise a vulnerabilidade socioambiental deve ser absolutamente transparente, de fácil entendimento, capaz de gerar comunicação na sociedade e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Deve servir de suporte aos interesses do poder público, avaliando a eficiência das políticas adotadas e servindo aos interesses dos cidadãos.

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Ademais, é preciso compreender que a definição de vulnerabilidade socioambiental deve envolver uma percepção mais integrada das condições de vida de uma dada população. Deve-se olhar e perceber que os impactos advindos dos desastres naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das pessoas, mas também, que o contexto de construção da sociedade e do processo de expansão urbana nas cidades brasileiras, faz com que uma parte da população desconheça seus direitos e experimentem de forma intensa uma sobreposição de desigualdades sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de conforto urbano e, principalmente, os direitos à cidadania.

É importante destacar que o Brasil, por se caracterizar como um país tropical e está no centro de uma placa tectônica, não sofre com grandes catástrofes causadas por fenômenos naturais, tais quais terremotos, vulcões e furacões, os quais caracterizam o cerne dos estudos sobre vulnerabilidade socioambiental. Conforme expõe Almeida (2012), diante dessas condições geoambientais, os perigos naturais mais recorrentes no Brasil e que são mais perceptíveis nas cidades, têm relação com modificações substanciais no ciclo hidrológico natural, nas mudanças nas formas de uso e ocupação nas cidades. A impermeabilização do solo, a retilinização de canais fluviais são exemplos de causas que podem incrementar as inundações e que se tornam potencialmente mais perigosas (ALMEIDA, 2012).

Nesse contexto, é premente que os estudos que analisem a vulnerabilidade socioambiental no Brasil, estejam pautados sob a ótica das questões de urbanização, do crescimento e desenvolvimento das cidades, dos processos de conurbação e periferização. Por esses motivos, torna-se particularmente importante analisar estas questões nas capitais brasileiras, dado o processo de adensamento populacional que colaboram para compor um quadro de vulnerabilidade socioambiental.

Tomando como base todas as discussões até aqui apresentadas, o presente estudo adota como recorte espacial a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, em razão da sua diversidade ambiental e das características sociais da sua população. A referida capital tem sido alvo de muitos investimentos, sobretudo em torno das atividades turísticas e do setor imobiliário, tanto no âmbito público quanto no privado, ao passo que percebe-se outras áreas que, em decorrência do crescimento desordenado, exigem uma maior demanda por serviços de infraestrutura e moradia. Deste modo, a escolha de Natal está relacionada ao seu processo de expansão urbana, bem como por sua importância econômica e política que possui, por ser capital do estado.

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Nesse contexto, a premissa estabelecida para este estudo é, considerando o

processo de expansão urbana e suas implicações, os espaços territoriais que serão menos afetados por problemas de ordem social e que possuirão menores níveis de vulnerabilidade social e ambiental serão os que detém a população com maior poder aquisitivo.

A partir dessa premissa, pode-se definir o problema da pesquisa como sendo:

Como analisar a vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras considerando o processo de expansão urbana e suas implicações sociais?

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.2.1 Objetivo Geral

Propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que considerem questões sociais e urbanas.

1.2.3 Objetivos Específicos

1. Propor um framework de indicadores que permita avaliar a vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras;

2. Definir o percurso metodológico para cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental;

3. Calcular o índice de vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal;

4. Apresentar como a vulnerabilidade socioambiental dos bairros de Natal se apresentam hierarquicamente;

5. Analisar as correlações lineares existentes entres as regiões de Natal.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está estrutura atendendo a padronização estabelecida pelo Programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação ampla em Rede, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Portanto, é composto da Introdução Geral, Caracterização geral da área de estudo, Metodologia Geral (utilizada para o conjunto do trabalho) e as metodologias específicas utilizadas para a realização de cada capítulo. Por

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fim, apresenta-se 3 capítulos que correspondem a artigos científicos submetidos à publicação.

O Capítulo 1, intitulado de “Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades brasileiras”, submetido e aprovado pela Revista Gaia Scientia. O capítulo 2, intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental: uma análise dos indicadores na cidade de Natal (RN)”, submetido e aprovado pela Revista RICCA e o capítulo 3, intitulado “Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de vulnerabilidade socioambiental” foi submetido à Revista URBE. Ainda compõe o presente trabalho o item de Considerações Finais, as Referências Gerais, os Apêndices e Anexos.

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Figura 1: Estrutura da Tese

CONSIDERAÇÕES FINAIS ARTIGO 03

Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de vulnerabilidade socioambiental

ARTIGO 02

Vulnerabilidade Socioambiental: uma análise dos indicadores na cidade de Natal (RN)

ARTIGO 01

Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades brasileiras

METODOLOGIA GERAL DA TESE

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental Vulnerabilidade Socioambiental Urbanização no Brasil INTRODUÇÃO GERAL

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É importante considerar que este trabalho é parte integrante dos resultados alcançados com o Projeto financiado pela CAPES por meio do Edital Nº55/2013 Pro-Integração/CAPES sob o projeto intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental como decorrência do transbordamento urbano: estudos longitudinais em regiões metropolitanas no Nordeste brasileiro.” Este projeto aconteceu em integração da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) por meio do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais (PPGRN), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFCG) por meio do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente e do Programa de Pós-graduação em Geografia.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Urbanização no Brasil

O processo de urbanização e industrialização no Brasil, especialmente, a partir da década de 1950 foi fruto de políticas desenvolvimentistas de Estado que trouxe, como consequência, o acúmulo de população em algumas regiões privilegiadas do país. É nesta referida década que o processo de industrialização do país está em ascensão e passa a exigir mão de obra nas cidades. Assim, as regiões mais industrializadas eram as que detinham o maior poder atrativo, pois revelavam a expectativa de oferecer melhores condições de vida, representadas na maioria dos casos pelas capitais dos estados (MARICATO, 2002).

A precariedade da vida no campo levaram grandes fluxos migratórios às cidades, que vislumbravam nessa ação a possibilidade de obterem melhor qualidade de vida, melhores oportunidades de trabalho e facilidade de acesso aos serviços básicos de saúde e educação. Porém, estas expectativas não se concretizaram para a maioria da população e gradualmente surgiram fenômenos negativos, constituindo-se em graves problemas urbanos apresentados até hoje, dentre os quais pode-se destacar: invasões, loteamentos ilegais, favelas e cortiços.

Fatalmente, as desigualdades sociais aumentam exponencialmente e esses grupos que vivem na margem das cidades, vão sendo cada vez mais empurrados para os vazios urbanos, comumente constituídos por áreas ambientalmente vulneráveis e com a ausência de serviços básicos para a sua sobrevivência (esgotamento sanitário, acesso à agua, coleta de lixo, etc.) Desse modo, o papel do Estado é fundamental, principalmente, porque o investimento que coloca no tecido urbano é um fator de intensa valorização da terra, aparecendo como ator importante no processo de especulação imobiliária e segregação social (KOWARICK, 2000).

O comportamento especulativo do capital imobiliário aliado a uma gestão urbana omissa, favorece o cenário de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras, pois levam os pobres, tidos como a força de trabalho barata e que é excluída do mercado formal, a buscarem a criação de uma cidade ilegal (MARICATO, 2002).

Nesse sentido, é com esse entendimento que Santos (2013, p.10) apresenta que:

O processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com a da pobreza, cujo locus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria

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se desenvolve com a criação de pequeno número de empregos e o terciário associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.

É neste cenário de contradições que a desigualdade nas cidades se instala, dado que uma minoria da população rica e com infraestrutura, consegue ter acesso a melhores condições de trabalho, de renda e de moradia e, por que não dizer, urbanísticas. Por outro lado, a maioria da população que é pobre fica a margem da cidade, em uma situação de exclusão, em trabalhos precários, em condições arriscadas de moradia e sem ter acesso a vida da cidade.

Neste cerne, Kowarick (2000) chama a atenção ao pontuar que os principais investimentos públicos são comumente realizados em áreas onde vivem e trabalham os grupos com renda média e alta, uma vez que os investimentos públicos em bens de consumo coletivo, têm sido, tradicionalmente, realizados com prejuízo para a grande massa de trabalhadores. São nestas ações por parte do Estado que privilegiam uma parcela da população e segrega a outra parcela que tem o seu direito à cidade negado.

O termo “direito à cidade” foi inicialmente posto por Henri Lefebvre em sua obra “O direito à cidade” que teve sua primeira publicação em 1968, cujo título original é Le Droit à la ville. De um modo geral, o direito à cidade defendido por este autor, se entrelaça com o próprio direito à vida. Seria o “direito à vida urbana, à centralidade renovada, aos locais de encontro e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo que permitem o uso pleno e inteiro desses momentos e locais” (LEFEBVRE, 2008, p. 143). É importante destacar que a vida urbana, para o autor Lefebvre (2008, p. 15), implicaria “encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver”.

De forma prática, Maricato (2002) exprime que no Brasil, a população trabalhadora não consegue ter acesso a cidade formal que muitas vezes constroem com as próprias mãos. Esta fatia da população está restrita na periferia, excluída, sem acesso a transporte público de qualidade, sem escolas, sem universidades, sem saneamento, sem iluminação pública, sem vida. É esta parcela da população que tem o seu direito à cidade negado.

Conforme explicita Harvey (2014), o direito a cidade é muito mais do que a liberdade individual para acessar recursos urbanos, mas constitui também o direito de mudar a si por mudar a cidade. Ademais, envolve um direito coletivo, uma vez que exige o envolvimento da coletividade para dar nova forma ao processo de urbanização.

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Quando se conjectura sobre o direito à cidade, inevitavelmente, se reflete sobre os aspectos que são fundamentais à vida urbana: o direito à moradia digna e que fomente as relações sociais, espaços urbanos que estimulem a participação das pessoas nas ruas, nas praças, nos calçadões, proporcionando maior convivência entre as pessoas e um sentimento de pertencimento à vida da cidade. É na cidade e no uso que se faz dela, que as pessoas socializam, se comunicam, se transformam e as mantem viva, ou seja, é uma via de mão dupla: as pessoas precisam dos espaços das cidades para viver e as cidades existem porque existem pessoas que a fazem estruturalmente e dinamicamente.

Nesse sentido, vale lembrar o que disse Swyngedouw (2001, p. 84) sobre a relação sociedade-natureza na cidade:

[...] a cidade e o processo urbano são uma rede de processos entrelaçados a um só tempo humanos e naturais, reais e ficcionais, mecânicos e orgânicos. Não há nada “puramente” social ou natural na cidade, e ainda menos antissocial ou antinatural; a cidade é, ao mesmo tempo, natural e social, real e fictícia. Na cidade, sociedade e natureza, representação e ser são inseparáveis, mutuamente integradas, infinitamente ligadas e simultâneas; essa “coisa” híbrida socionatural chamada cidade é cheia de contradições, tensões e conflitos. Compreender essas múltiplas faces que envolve o cenário urbano é desafiador, principalmente, na tentativa de resolver as problemáticas que o circundam. É fato que ações foram e continuam sendo implementadas, no entanto, não são suficientes para diminuir ou resolver os problemas que envolvem a maioria da população que é pobre e vive à margem e de forma precária nas cidades.

A concentração da população nas áreas urbanas tem transformado as cidades em lugar oposto à sua proposta, que é de ser um lugar para se viver bem (RATTNER, 2009). Assim, as populações, sobretudo, as de baixa renda esperam do Estado uma resposta que visem a melhor organização do território, mitigando os problemas urbanos e proporcionando a todos acesso à cidade.

Nesse sentido, Rogers (2008), expõe que as cidades cresceram e transformaram-se em estrutura tão complexas e difíceis de administrar que raramente são lembradas como um espaço para satisfação das necessidades humanas e sociais da população. Por esse motivo, o planejamento urbano tem a função de ordenamento, na tentativa de reestabelecer o crescimento desordenado das cidades e torná-las capazes de oferecer qualidade de vida para os cidadãos.

A Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade, 2001) regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1998 e constitui o capítulo relativo à Política Urbana. Com esta Lei, o Brasil reúne normas relativas ao uso da propriedade

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urbana que seja do interesse público, à segurança e bem estar dos cidadãos e o equilíbrio ambiental.

A instituição do Estatuto da Cidade, gera a expectativa de que haja uma mudança no cenário dicotômico e excludente que permeiam as cidades, muito embora se saiba que a lei, por si só, não resolverá nenhum dos problemas existentes. No entanto, constitui uma importante ferramenta de ação para o direcionamento das políticas urbanas que podem viabilizar ações para minimizar os graves problemas existentes nas cidades brasileiras e que coloca a população em um quadro de agravamento de exclusão social e, consequentemente, de vulnerabilidade socioambiental.

Isso posto, a busca pelo equacionamento dos problemas nas cidades brasileiras, demanda a elaboração do planejamento urbano e a implementação de ações capazes de entender as especificidades de cada cidade, de cada bairro, proporcionando melhores condições de vida e a minimização dos aspectos que os colocam em um cenário de riscos e de vulnerabilidade socioambiental.

2.2 Vulnerabilidade Socioambiental

O conceito de vulnerabilidade auxilia no entendimento da desigual exposição aos fatores ameaçantes. Para tanto, para se compreender o conceito de vulnerabilidade é preciso compreender o conceito de risco, uma vez que estão interligados.

De uma forma ampla, o risco “refere-se à probabilidade de ocorrência de processos no tempo e no espaço, não constantes e não determinados, e à maneira como estes processos afetam (direta ou indiretamente) a vida humana” (CASTRO et al. 2005, p. 12). Segundo o relatório sobre Redução de Risco de Desastres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), risco é “o número de mortes em um evento perigoso em relação à população total exposta a tal evento” (UNDP, 2004; p. 98).

Para Almeida (2012), o risco é um constructo eminentemente social, ou seja, é a percepção de como um indivíduo enxerga a probabilidade de um perigo acontecer, em que as consequências decorrem da vulnerabilidade inerente desse indivíduo. Dessa forma, parte-se do pressuposto comum de que é a vulnerabilidade que explica o porquê dos diferentes níveis de risco e que diferentes grupos experienciam ao serem submetidos a perigos naturais de mesma intensidade (BRAGA et al. 2006).

O aumento das desigualdades sociais, da pobreza da segregação socioespacial correlacionados com a degradação do ambiente são resultantes dos processos de

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industrialização e urbanização que fez emergir nos anos de 1980, uma abordagem teórico-metodológica que enfocou os desastres para além dos fatores desencadeantes, mas considerando, sobretudo, as populações atingidas. Foi a inclusão da análise social dentro da problemática ambiental, que surge o conceito de vulnerabilidade (ALMEIDA, 2012).

Desse modo, conclui-se que a discussão sobre vulnerabilidade passou a despertar o interesse de pesquisadores e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes índices de desigualdades sociais, da segregação socioespacial e do processo de urbanização desordenado das cidades.

D’Ercole (1994), Blaikie et al. (1994) e Acserald (2006) estabelecem uma relação de causa e efeito gerada entre natureza e sociedade, reconhecendo que os fatores de risco estão associados a um certo grau de exposição a uma situação crítica, natural ou social, que gera vulnerabilidade em determinados grupos. Sendo assim, a noção de vulnerabilidade passa a ser um produto de determinados contextos espaciais, socioeconômicos, demográficos, culturais e institucionais, sensível às condições locais e à dimensão temporal (KUHLICKE et al. 2011).

Para Cutter (2001) vulnerabilidade corresponde ao “potencial para a perda”. Para esta autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de exposição ao risco” como os “fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou reduzem as capacidades da população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para responder e se recuperar de ameaças ambientais” (CUTTER; 2011, p. 60).

É nesse sentido que os problemas advindos da poluição e degradação do meio, da crise dos recursos naturais, das mudanças climáticas que atingem todo o planeta, se tornam mais impactantes em áreas periféricas, que além de acometidos pela pobreza, sequer tem os seus direitos civis atendidos. São nessas áreas periféricas que o poder público, em geral, está ausente e onde existe uma deficiência de estrutura capaz de oferecer à população oportunidades dignas de serviços, trabalho e lazer.

Estudar a vulnerabilidade envolve uma discussão ampla e relevante por ter caráter multidisciplinar. Além disso, indica que a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos está relacionada, principalmente, ao conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais (KOWARICK, 2009). Um conceito viável para analisar essas relações é o de ‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definido como a coexistência, cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação social e de situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente

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a combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES, 2006).

A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem e de sua dimensão”.

Nesse sentido, Mendonça (2010) defende que a vulnerabilidade socioambiental urbana evidencia a heterogeneidade dos impactos advindos dos riscos que se abatem sobre uma dada população, constituindo ambos (risco e vulnerabilidade socioambiental urbana), uma seara de alta complexidade para a compreensão e gestão urbana.

Segundo Jacobi (2006), a dinâmica urbana excludente e segregadora determina uma paisagem cada vez mais vulnerável, marcada pela prevalência da estratégia de sobrevivência que privilegia práticas de deterioração do ambiente urbano e exposição ao risco. Neste sentido, Kowarick (2009) afirma que o quadro de risco de desastres é decorrente do processo de favelização urbana no Brasil e das precárias condições de vida das populações pobres aglomeradas em territórios abandonados e excluídos de todos os direitos.

Nesta perspectiva, a contribuição nos estudos de vulnerabilidade e pobreza tem focado os aspectos estruturais e subjetivos das famílias, levando em consideração o contexto em que estão inseridas: pobreza, exclusão/inclusão, periferização, segregação, dependência e elevado risco (HOGAN; MARANDOLA JR., 2005). Por isso que se entende que não é apenas a relação natureza e sociedade que gera a vulnerabilidade, mas existe muita vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também, em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em perda de direitos adquiridos (KOWARICK, 2000).

Como defende Maior (2014), a experiência desse processo de vulnerabilidade, e o que fazer com ela, está associado à condição socioambiental da população e sinaliza a preparação dos indivíduos em busca de seus direitos e também na geração de ativos para amenização dos problemas, que, no caso das cidades, estão ligados ao processo de expansão urbana. Assim, os processos de urbanização podem amenizar os efeitos para o meio ambiente. Deste modo, torna-se necessário induzir ou deduzir quais as

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consequências e causas de fatores ambientais, sociais e econômicos que geram vulnerabilidade e, dessa forma, poder intervir.

Com base em todas as discussões até aqui realizadas, é fato que o fenômeno da vulnerabilidade socioambiental nas cidades envolve também as questões sociais de uma população que vai ficando cada vez mais à margem das decisões e encaminhamentos do planejamento urbano. Isso posto, é com esse entendimento que se defende que, para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados e que agreguem informações que possam retratar fielmente uma realidade, bem como para realizar seu monitoramento e direcionar ações.

2.3 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental

A palavra indicador é originário do latim indicare e refere-se a algo que serve para apontar, indicar, estimar, mostrar algo através de sinais ou indícios (HAMMOND et al. 1995). Pode-se considerar que são variáveis que são escolhidas para medir um conceito abstrato com o intuito de orientar decisões sobre determinado fenômeno de interesse.

Para Van Bellen (2005) os indicadores devem ser entendidos como variáveis, ou seja, a representação operacional de um atributo (qualidade, característica, propriedade) de um sistema, cujo objetivo principal consiste em agregar e quantificar informações ressaltando sua significância, visando melhorar o processo de comunicação e entendimento dos fenômenos complexos.

A utilização dos indicadores tem sido basilar na formulação de políticas públicas, pois possibilitam uma análise atual, conhecendo verdadeiramente a situação que se almeja modificar, como também o monitoramento temporal, permitindo um melhor acompanhamento das variáveis analisadas, uma melhor avaliação dos processos e planejamento de ações e, por conseguinte melhor utilização dos recursos investidos.

Para o IBGE (2010, p. 33),

Indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que associadas através de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos a que se referem. Entretanto, a complexidade desse conceito com suas múltiplas dimensões e abordagens tem dificultado a utilização mais consciente e adequada destas ferramentas.

Vale destacar que a função dos indicadores é o de mensurar uma realidade complexa e que é constituída por uma variedade de partes que se complementam e estão

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em constante relação de interdependência. Nessa perspectiva, torna-se preponderante identificar as interligações existentes entre os diversos aspectos relacionados ao conceito do fenômeno que se está estudando, aqui de forma específica, a vulnerabilidade socioambiental, para se obter soluções também interligadas para os problemas existentes e potenciais.

Desse modo, qualquer indicador, quer seja ele descritivo ou normativo, se apresenta com uma significância própria. Ou seja, quando comparado com os outras formas de informação dentro do contexto que se está sendo estudado, que definirá a sua importância no direcionamento do planejamento e de ações. Assim, não basta ser apenas significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.

Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen (2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.

Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma realidade.

Com base nesta compreensão, e por entender que a vulnerabilidade socioambiental é um tema abrangente, complexo e multifacetado, diversos enfoques tem sido dado nos estudos realizados por instituições e pesquisadores, com o objetivo de se obter uma forma mais adequada de sintetizá-la e mensurá-la. Vários são os sistemas de indicadores de vulnerabilidade socioambiental existentes na literatura, dentre os quais, alguns estão destacados no Quadro 1.

Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental

Modelos de Mensuração da

Vulnerabilidade Socioambiental Abordagem

Indicadores de Vulnerabilidade (Maior, 2014)

Refere-se a uma metodologia de cunho participativo para cálculo e análise do nível de vulnerabilidade socioambiental da população na cidade de João Pessoa. Para tanto, fez uso da análise de percepção dos citadinos em relação a sua situação de vulnerabilidade.

Indicador e avaliação da vulnerabilidade socioambiental no

Este trabalho apresenta uma análise multidimensional da vulnerabilidade do município de São Paulo frente a processos relacionados a eventos extremos de precipitação, sobretudo

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município de São Paulo (Gamba e Ribeiro, 2012)

escorregamentos de vertentes. Ele indica a estreita relação entre vulnerabilidade social e infraestrutural com áreas mais suscetíveis a este tipo de fenômeno, situação que caracteriza a segregação urbana.

Modelo de Mensuração da Vulnerabilidade de Alves (2010)

Foi desenvolvido no contexto urbano do Litoral Paulista, contendo 16 cidades, para identificar áreas com alta vulnerabilidade às mudanças climáticas, permitindo, assim, a construção de indicadores em escala desagregada, que representem as dimensões da vulnerabilidade – susceptibilidade e exposição ao risco ambiental – com a integração de dados socioeconômicos, demográficos e ambientais.

Modelo de Mensuração de Almeida (2010)

Refere-se a sua pesquisa de tese, na qual estudou as vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos na Região Metropolitana de Fortaleza-CE e teve como objetivo analisar os riscos e as vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos no Brasil, tendo a bacia hidrográfica do rio Maranguapinho, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como área de estudo de caso para compreensão das inter-relações das vulnerabilidades sociais e exposição aos riscos naturais, principalmente os riscos de inundações.

Índice de vulnerabilidade socioambiental para a vigilância e gestão de desastres naturais no RJ – IVSA

(Guimarães et al. 2005)

Tem como objetivo um indicador composto para predição de vulnerabilidade na ocorrência de desastres naturais. O índice foi aplicado nos municípios do estado do Rio de Janeiro e comparado aos números oficiais da Defesa Civil.

Social Vulnerability Index (SoVI) (Cutter et al. 2003)

É uma avaliação quantitativa das características que influenciam a vulnerabilidade social aos riscos (pré-acontecimentos) e facilita a comparação entre unidades geográficas (distritos, secções censitárias) em termos dos seus níveis relativos de vulnerabilidade social. Os perfis socioeconómicos são gerados a partir da informação dos censos e submetidos a um procedimento estatístico para reduzir o número de variáveis a um conjunto menor de fatores que descrevem a vulnerabilidade.

Fonte: Elaboração própria (2019)

A partir da identificação e da análise dos diversos sistemas de indicadores existentes, percebe-se que ainda existem lacunas na literatura para se estudar as cidades brasileiras. É possível atentar para outras variáveis imprescindíveis no estudo da vulnerabilidade socioambiental, como por exemplo, as questões que envolvem o processo de expansão urbana nas cidades. Como identificar essas variáveis?

Para tanto, alguns estudos desenvolvidos no contexto urbano enfatizam as problemáticas que acometem as cidades. Dentre eles, destacam-se os autores: Herculano (2000), Sposati (2000), Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003), Machado (2004), Braga (2006), Alves (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro (2008), Roggero (2009), Florissi (2009), Kowarick (2009), Souza (2009), Veiga (2010), Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014), Maior (2014), Maricato (2014),

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Gehl (2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015), Pereira e Vieira (2016), Gomes e Gomes (2017).

Após a análise dos estudos desenvolvidos por esses autores, constatou-se que as variáveis apresentadas circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Desse modo, foi possível listar uma série de variáveis que são imprescindíveis ao estudo da vulnerabilidade socioambiental nas cidades, sobretudo, as cidades brasileiras, uma vez que a maioria dos estudos empíricos objetivaram a análise destas como cenário.

O Quadro 2 lista os temas abordados pelos autores citados, possibilitando a identificação de quais aspectos são mais enfatizados nos estudos.

Quadro 2: Aspectos tratados pelos autores para estudar as problemáticas urbanas

Autores

Aspectos analisados pelos autores

So cia l E du ca çã o e Cultura T ra ba lho e Renda Ambi ent a l M o ra dia P o lític a J us tiça Sa úd e Infr a estr utura urba na Seg ura nça Herculano (2000) Sposati (2000)

Braga, Freitas e Duarte

(2002) Nahas (2002) Rossetto (2003) Machado (2004) Braga (2006) Morato (2008) Figueiredo (2008) Ribeiro (2008) Souza (2009) Roggero (2009) Kowarick (2009) Florissi (2009) Veiga (2010) Jacobs (2011) Pessoa (2012) Araújo e Cândido (2014) Maricato (2014) Maior (2014) Roggero (2015) Rogers (2015) Gehl (2015) Rolnik (2015) Martins e Cândido (2015)

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Pereira; Vieira (2016)

Gomes e Gomes (2017)

Fonte: Elaboração própria (2019)

A elaboração desse Quadro 2 foi importante, na medida em que permite identificar os aspectos analisados por cada autor ao desenvolverem seus estudos sobre a vulnerabilidade socioambiental e sobre as questões urbanas.

Desse modo, torna-se premente tomar como base tais autores para que se consiga propor um arcabouço de indicadores que permita avaliar e a vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras. Tal embasamento, proporcionará a análise do fenômeno da vulnerabilidade socioambiental, de forma complexa e envolvendo variáveis que abrangem vários aspectos das cidades brasileiras.

Embasada em todas as discussões até aqui realizadas, o tópico seguinte explicitará área de estudo que será aplicada o sistema de indicadores proposto neste estudo.

3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal (Figura 2), capital do estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2010) a referida cidade possui uma área territorial de 167,264 km2 e sua população está estimada em 885.173 habitantes.

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Figura 2: Mapa de localização da cidade de Natal – RN

Criada já com caráter de cidade, Natal foi fundada em 25 de dezembro de 1599 (IBGE, 2010). Sua urbanização teve início por meio da colonização portuguesa e o aumento populacional ocorreu de forma lenta. No final do século XIX a cidade possuía apenas 16.050 habitantes (IBGE, 2010).

Nas décadas finais do século XX, o desenvolvimento da cidade atraiu substancial migração para a denominada Região Metropolitana de Natal, cuja população, a partir de 2000, ultrapassou um milhão de habitantes. A cidade de Natal tem como cidades limítrofes Parnamirim, São Gonçalo e Extremoz e juntos, segundo o IBGE (2010), concentra 42,64% da população do estado (1.361.445 habitantes).

O investimento de infraestrutura tornou-se mais intenso a partir da década de 1980, onde diversas ações de políticas públicas foram colocadas em prática, como por exemplo, a habitação popular, o investimento na área industrial e investimento no turismo, atividade que se tornou a principal atividade econômica da cidade.

Conforme Costa (2000) o crescimento urbano da cidade, mesmo com as intervenções e os planos urbanísticos, ocorreu segregando o espaço entre as classes de

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alta renda e as classes de baixa renda. Assim, observa-se que mesmo não sendo áreas homogêneas, pode-se afirmar que nas áreas Norte e Oeste da cidade estabeleceram-se a população mais pobre da cidade, colocando-as em situações de maior vulnerabilidade socioambiental, e as áreas Sul e Leste foram ocupadas pela população mais rica. Desse modo, a cidade possui segregação social e espacial e que não é sua característica exclusiva, mas uma característica das cidades brasileiras.

Segundo Costa (2000), os investimentos habitacionais e as políticas públicas de Estado e de Governo em Natal também foram estabelecidas segregando espacialmente a cidade. Ao passo que as habitações para a população de alta renda eram realizadas na Zona Sul da cidade, pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais do Rio Grande do Norte, (INOCOOP-RN) e que tinha uma parceria de financiamento com a Caixa Econômica Federal; as habitações para a população mais pobre eram construídas na Zona Norte da cidade pelo Estado através do Plano Habitacional Popular, por meio da Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte (COHAB-RN) e que tinha como financiador o Banco Nacional de Habitação.

Atualmente, a cidade de Natal apresenta crescimento vertical, em decorrência de sua região metropolitana se apresentar conurbada, o que impossibilita que se cresça horizontalmente. A espacialização da cidade de Natal pode ser observada no Figura 3 e que segundo dados do IBGE (2010), hoje é composta por 36 bairros subdivididos em quatro regiões administrativas.

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Figura 3: Mapa das regiões administrativas e bairros da cidade de Natal – RN

A região administrativa Norte é composta por 07 bairros (Lagoa Azul, Nossa Senhora da Apresentação, Igapó, Potengi, Pajuçara, Redinha e Salinas) e abriga 303.543 habitantes, segundo dados do IBGE (2010), sendo considerada a maior tanto em área territorial, quanto em número de habitantes dentre as quatro regiões.

A região administrativa sul é composta por 07 bairros (Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, Neópolis, Ponta Negra) e abriga 166.491 habitantes (IBGE, 2010).

A região administrativa Leste é composta pelos primeiros bairros da cidade, e no total, compreende uma área composta por 12 bairros (Santos Reis, Rocas, Ribeira, Praia do Meio, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta, Alecrim, Barro Vermelho, Lagoa Seca, Tirol, Mãe Luiza) e contam com 115.300 habitantes (IBGE, 2010).

A região administrativa Oeste compreende 10 bairros (Nordeste, Quintas, Bom Pastor, Dix-Sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré, Felipe Camarão, Cidade da Esperança, Guarapes, Cidade Nova, Planalto) e abriga um total de 218.405 habitantes, segundo o IBGE (2010).

É importante também destacar as característica naturais da cidade em questão. Natal apresenta uma diversidade de ecossistemas, dentre os quais destaca-se os estuários, planícies de mangue, praias, terraços e vales fluviais, campos dunares, restingas e mata

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atlântica. De acordo com Nunes (2000), quanto a sua morfologia, Natal apresenta terrenos com suaves ondulações que tem sua continuidade interrompida pelo aparecimento de verdadeiros cordões de dunas.

Ainda de acordo com Nunes (2000), os recursos hídricos na cidade apresenta-se de forma abundante e com qualidade, pois dispõe de águas subterrâneas dos aquíferos Dunas e Barreiras. Ademais, o supracitado autor ainda faz menção as águas superficiais (bacias dos rios Ceará-Mirim, Doce, Potengi, Jundiaí, Pitimbu e Pium) e de lagoas naturais.

Com base na descrição que aqui foi realizada, desperta o interesse de desenvolver a pesquisa na referida cidade, exatamente para se analisar o nível de vulnerabilidade socioambiental urbano e oferecer subsídios para que um melhor planejamento ocorra e possa minimizar os impactos ocasionados pelo processo de urbanização.

Após a explanação da cidade de Natal, área de estudo, o tópico seguinte trata da metodologia geral do estudo, bem como de cada um dos artigos elaborados para o alcance do objetivo estabelecido.

4 METODOLOGIA GERAL

4.1 Caracterização da pesquisa

Este estudo tem como objetivo propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que considerem questões sociais e urbanas. Para tanto, caracteriza-se quanto ao método, como dedutivo, por estabelecer uma nova relação a partir da teoria estudada: considerando o processo de expansão urbana e suas implicações, os espaços territoriais que serão menos afetados por problemas de ordem social e que possuirão menores níveis de vulnerabilidade social e ambiental serão os que detém a população com maior poder aquisitivo.

No que se refere a forma de abordagem, classifica-se como pesquisa qualitativa

e quantitativa, dada a revisão teórica inicialmente realizada para a proposição de um

arcabouço teórico composto de temas e respectivos indicadores capazes de, ao serem aplicados, traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras e, considerando o levantamento de dados quantitativos necessários à aplicação do sistema de indicadores proposto na cidade de Natal-RN.

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Quanto aos objetivos da pesquisa, pode ser caracterizado como sendo uma pesquisa exploratória e descritiva, por se tratar de um tema atual, recente e que abre várias possibilidades de investigação, oferecendo subsídios para ampliar o debate e propiciando significativas contribuições científicas e práticas. Ademais, por meio da sua aplicação na cidade de Natal-RN, descreve uma realidade de forma clara e objetiva por meio do conjunto de indicadores propostos.

Inicialmente, esta tese propõe um framework que permite analisar a vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras. A figura 04 apresenta as dimensões da vulnerabilidade (social e ambiental) e seu respectivo conjunto de temas e indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade socioambiental urbana.

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Figura 4: Framework proposto para análise da vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras

Fonte: Elaboração própria (2019)

Legenda: Negrito: indicadores propostos nesta tese para análise da vulnerabilidade socioambiental; Sem

negrito: indicadores existentes e utilizados em outros trabalhos para análise da vulnerabilidade socioambiental

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