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Perfil psicológico de prestação, orientações cognitivas e negativismo do futebolista português - estudo comparativo entre jogadores profissionais e amadores.

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Academic year: 2021

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(1)PERFIL PSICOLÓGICO DE PRESTAÇÃO, ORIENTAÇÕES COGNITIVAS E NEGATIVISMO DO FUTEBOLISTA PORTUGUÊS: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE JOGADORES PROFISSIONAIS E AMADORES Dissertação apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, no âmbito do Curso do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo, de acordo com o Decreto de Lei nº 74/2006 de 24 de Março.. Orientador: José Vasconcelos Raposo – Professor Catedrático da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Luís Manuel de Oliveira Marques de Almeida Porto, Setembro de 2013.

(2) Ficha de catalogação Almeida, L. M. O. M. (2013). Perfil Psicológico de Prestação, Orientações Cognitivas e Negativismo do Futebolista Português: Estudo Comparativo entre Jogadores Profissionais e Amadores. Dissertação de Mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, PSICOLOGIA DO DESPORTO, FATORES PSICOLÓGICOS, RENDIMENTO, PROFISSIONALISMO.. II.

(3) DEDICATÓRIAS “O sofrimento é a forma suprema de aprendizagem” (Enrique Rojas). Dedico este trabalho à Inês e ao Arlindo, os meus pais, a quem quase tudo devo.. III.

(4) .. IV.

(5) AGRADECIMENTOS. Foram vários os que, direta ou indiretamente, contribuíram concretização deste meu trabalho. Agradeço assim. para a. à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto a oportunidade concedida para realizar esta formação. Ao Professor Vasconcelos-Raposo, mais uma vez, pela sua imensa sabedoria, pelo elevado nível de exigência a que já me habituou e ao qual tanto devo, pelo incentivo, entusiamo, paciência e, acima de tudo, pela amabilidade e disponibilidade sempre demonstradas. Muitas mais palavras e páginas seriam necessárias para demonstrar a imensa gratidão que sinto para consigo, Professor. Bem haja. Aos dirigentes, treinadores e, acima de tudo, aos futebolistas, que tornaram possível este trabalho. Ao meu “mano”, José Quadros, e à Liceth Santos, pela amizade e apoio incondicionais.. V.

(6) VI.

(7) ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ......................................................................................... V ÍNDICE GERAL ................................................................................................ VII ÍNDICE DE QUADROS ..................................................................................... IX RESUMO........................................................................................................... XI ABSTRACT..................................................................................................... XIII LISTA DE ABREVIATURAS........................................................................... XV 1. INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................ 17. 2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 23 2.1 FATORES PSICOLÓGICOS DETERMINANTES DO RENDIMENTO DESPORTIVO ..... 24 2.2 AUTOCONFIANÇA ..................................................................................... 28 2.3 NEGATIVISMO .......................................................................................... 29 2.4 ATENÇÃO ................................................................................................ 30 2.5 IMAGÉTICA ............................................................................................... 32 2.6 PENSAMENTOS POSITIVOS ........................................................................ 33 2.7 ATITUDE COMPETITIVA .............................................................................. 34 2.8 MOTIVAÇÃO ............................................................................................. 35 2.8.1 Orientações cognitivas ................................................................... 37 2.9 ESTUDOS REALIZADOS COM O PERFIL PSICOLÓGICO DE PRESTAÇÃO............ 39. 3. OBJECTIVOS E HIPÓTESES .................................................................. 41. 4. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 43 4.1 AMOSTRA ................................................................................................ 43 4.2 VARIÁVEIS ............................................................................................... 45 4.3 INSTRUMENTOS ........................................................................................ 45 4.3.1 Questionário para dados pessoais ................................................. 45 4.3.2 Perfil Psicológico de Prestação ...................................................... 46 4.3.3 Questionário de Orientação para a Tarefa e Ego no Desporto ...... 47 4.3.4 Escala de Negativismo e Autoconfiança ........................................ 48 4.4 PROCEDIMENTOS ..................................................................................... 49 4.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ....................................................................... 50 4.6 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES ..................................................................... 51. 5. RESULTADOS ......................................................................................... 53 5.1 SKILLS PSICOLÓGICOS .............................................................................. 53 5.1.1 Estatuto laboral............................................................................... 53 5.1.2 Idade .............................................................................................. 54 5.1.3 Experiência Competitiva ................................................................. 55 5.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS ....................................................................... 56 5.2.1 Estatuto laboral............................................................................... 56 5.2.2 Idade .............................................................................................. 56 5.2.3 Experiência competitiva .................................................................. 57 5.3 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA .............................................................. 58 5.3.1 Estatuto laboral............................................................................... 58 VII.

(8) 5.3.2 Idade .............................................................................................. 59 5.3.3 Experiência competitiva .................................................................. 59 5.4 RESUMO DOS RESULTADOS ....................................................................... 60 6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................................................. 63 6.1 SKILLS PSICOLÓGICOS .............................................................................. 63 6.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS ....................................................................... 73 6.3 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA .............................................................. 77. 7. CONCLUSÕES ......................................................................................... 81 7.1 REFLEXÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................... 82. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 85. VIII.

(9) ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 - caracterização da amostra em função idade (grupos etários) ........ 44 Quadro 2 - caracterização da amostra em função do estatuto laboral ............. 44 Quadro 3 - caracterização da amostra em função da experiência competitiva 45 Quadro 4 - itens utilizados para o cálculo de cada skill psicológico do PPP .... 46 Quadro 5 - correspondência entre valores e o seu significado no PPP ........... 47 Quadro 6 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do TEOSQ ......... 48 Quadro 7 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do ENAC ............ 49 Quadro 8 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função do estatuto laboral ................................................................................................. 53 Quadro 9 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da idade ................................................................................................................ 54 Quadro 10 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da experiência competitiva .................................................................................... 55 Quadro 11 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função do estatuto laboral ............................................................................................ 56 Quadro 12 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função da idade ........................................................................................................... 57 Quadro 13 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função da experiência competitiva ............................................................................... 57 Quadro 14 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função estatuto laboral ............................................................................... 58 Quadro 15 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função da idade .......................................................................................... 59 Quadro 16 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função da experiência competitiva ............................................................. 60. IX.

(10) X.

(11) RESUMO Objetivou-se caracterizar e comparar futebolistas de diferentes estatutos laborais, idades e experiências competitivas quanto aos skills psicológicos, às orientações cognitivas, à autoconfiança e ao negativismo. Participaram 379 futebolistas portugueses do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 36 anos. Utilizaram-se o PPP (Perfil Psicológico de Prestação), o TEOSQ (Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire) e a ENAC (Escala de Negativismo e Autoconfiança). A metodologia foi dos tipos correlacional, pela intenção de relacionar variáveis e apreciar interações entre si, e diferencial, por contemplar as diferenças entre grupos ou condições para a análise das relações entre as variáveis. Os resultados sugerem que os jogadores de futebol portugueses se preparam mentalmente para a competição, embora não o façam de forma sistemática. Os futebolistas profissionais apresentam skills psicológicos mais desenvolvidos que os amadores, encontrando-se diferenças significativas no controlo do negativismo, na atenção, na motivação e na atitude competitiva. Têm médias mais altas na orientação para a tarefa e mais baixas na orientação para o ego, não se constatando diferenças significativas ao nível do estatuto laboral. Os profissionais revelam índices mais baixos e mais altos, respetivamente, no negativismo e na autoconfiança aferidos pela ENAC, evidenciando diferenças significativas no negativismo. A idade e a experiência competitiva influenciam o desenvolvimento dos skills psicológicos, das orientações cognitivas, da autoconfiança e do negativismo, embora, por si só, não garantam um nível excelente de preparação mental. Conclui-se que o autocontrolo emocional se poderá constituir como fator determinante do rendimento desportivo face às especificidades e exigências dos contextos sociocultural e económico-financeiro que caracterizam o futebol profissional como indústria. A prática profissional e o compromisso do ponto de vista laboral que lhe é inerente parecem promover a robustez mental dos jogadores.. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, PSICOLOGIA DO DESPORTO, FATORES PSICOLÓGICOS, RENDIMENTO, PROFISSIONALISMO.. XI.

(12) XII.

(13) ABSTRACT The aim was to characterize and compare football players of various statutes, ages and competitive experiences, in what respects to psychological skills, cognitive guidance, self-confidence and negativism. 379 Portuguese male football players participated, with ages between 18 and 36. The PPP (Psychological Performance Inventory), the TEOSQ (Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire) and ENAC (Scale of Negativism and Self Confidence) were used. The methodology was from the correlational type, for the intention to relate variables and appreciate interactions between them, and differential type, for contemplating the differences between groups or conditions for the analysis of relationships between variables. The results suggest that Portuguese players prepare themselves mentally for the competition, although they do not do it frequently.. The professional football players present. more. developed. psychological skills than amateur players, with significant differences being found in the control of negativism, in the attention, in the motivation and in the competitive attitude. They have high averages in the orientation for the task and lower averages in the orientation for the ego, with no significant differences being found at the level of employment status. Professional players have lower indices and higher indices, respectively, in negativism and self-confidence assessed by ENAC, showing significant differences in negativism. Both the age and the competitive experience influence the development of psychological skills, cognitive guidance, self-confidence and negativism, although they do not ensure an excellent level of mental preparation by themselves. It is concluded that emotional self-control may constitute a determinant factor for sports performance given the specificities and demands of the socio-cultural and economic contexts that characterize the professional football as an industry. The professional practice and the commitment from a labor status viewpoint inherent to it seem to promote the mental strength of the players.. KEYWORDS:. FOOTBAL,. SPORTS. PSYCHOLOGY,. FACTORS, PERFORMANCE, PROFESSIONALISM.. XIII. PSYCHOLOGICAL.

(14) XIV.

(15) LISTA DE ABREVIATURAS. CSAI. Competitive State Anxiety Inventory. DP. Desvio padrão. ENAC. Escala de Negativismo e Autoconfiança. F. Razão F. M. Média. PPP. Perfil Psicológico de Prestação. SPSS. Statistical Package for the Social Sciences. TEOSQ. Task and Ego Orientation in Sport Questionaire. η. 2. Partial eta-squared. XV.

(16)

(17) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. 1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA O. futebol. profissional. atual,. ao. reger-se. pelos. princípios. da. competitividade, do rendimento e da eficácia, personifica, na perfeição, os paradigmas produtivista e consumista da cultura industrial de hoje. Constitui-se, numa abordagem maussiana, como um facto social total, um fenómeno complexo no qual as instituições sociais se exprimem e o todo social pode ser observado (Costa, 1997). É uma área comercial, uma indústria, que tem vindo a. assumir. importância. e. protagonismo. crescentes. na. sociedade. contemporânea, não só porque movimenta inesgotáveis recursos humanos, materiais e financeiros, mas também porque se tem vindo a evidenciar como um fenómeno global e globalizante, com um número exponencialmente crescente de praticantes, adeptos e consumidores despertando, cada vez mais, a atenção da comunicação social, especialmente da televisão. Deixou de ser apenas um jogo para se tornar num campo onde se disputam interesses desportivos, económicos, financeiros, sociais e, por vezes, políticos. Como argumenta Santos (2004), o futebol largou a sua dimensão de desporto, na sua aceção antropológica, para se converter numa mercadoria subordinada às regras do mercado, da oferta e da procura. As dimensões sociocultural e económico-financeira do fenómeno futebolístico de hoje, das quais tem resultado a emergência de inúmeros clubes-empresa, cuja sobrevivência, interesses e visibilidade dependem do sucesso desportivo das suas equipas, exigem mais que nunca, à imagem dos contextos empresarial e industrial, consistência e excelência no rendimento, produtividade e resultados obtidos, tudo isto durante os 11 meses que compõem a tradicional época desportiva. Esta envolvência atingiu uma dimensão tal que transcende a mera prática e performance daqueles que deveriam ser os principais atores do espetáculo, os jogadores. A profundidade do futebol profissional contemporâneo é tão grande que tudo o que se passa no jogo e todos os seus intervenientes são analisados ao pormenor (Joyce, 2002). Trata-se de um contexto extremamente exigente, nivelado e seletivo, profundamente marcado pela competitividade, em que o que conta é a. 17.

(18) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. produtividade, a eficiência e o resultado. Não há lugar para os derrotados. Costa (1997) lembra que já os romanos usavam uma expressão que ainda hoje personifica a sociedade em que vivemos: “ai dos vencidos”. A história só fala dos pequenos quando eles se encontram com ela na qualidade de vencedores. Trata-se assim de um contexto que requer um estudo constante dos fatores que influenciam a performance desportiva, visando não só a identificação das variáveis que a determinam, mas também das que permitem diferenciar os futebolistas de sucesso dos outros, numa demanda incessante pela maximização do rendimento. É consensual o reconhecimento da multidimensionalidade do rendimento desportivo por serem vários os fatores que o determinam (Barreiros, Silva, Freitas, Duarte, & Fonseca, 2011; Garganta, Marques, & Maia, 2002). A otimização da performance e a procura da excelência têm recebido, ao longo dos tempos, o contributo de um conjunto variado de ciências do desporto. Contudo, a fisiologia, a biomecânica, a medicina, entre outras áreas, estão de tal forma desenvolvidas e “espremidas” que o seu contributo para a melhoria do rendimento desportivo já não é tão diferenciador como o foi no passado. As próprias dimensões física e técnica ao nível dos jogos desportivos coletivos, muitas vezes sustentadas em abordagens castradoras porque encaradas isoladamente da componente globalizante – a tática -, estão de tal forma exploradas que é de facto o “psicológico” aquele que cada vez mais faz a diferença. Esta realidade é mais evidente no contexto de equipas de futebol de alto rendimento, em que a filosofia de vitória (jogar sempre para ganhar) está sempre presente. Nem sempre as de maior sucesso são as que contam com os jogadores mais habilidosos, os que correm ou treinam “mais metros” ou, até, as que têm os modelos de jogo mais desenvolvidos ou consolidados (Almeida, 2010). Fonseca (2004) sustenta que, no futebol, os fatores psicológicos são os que mais vezes são apontados como justificação do desempenho desportivo, especialmente quando este fica aquém do desejado. Segundo aquele autor e Almeida (2010), da análise das declarações de jogadores, treinadores, dirigentes ou mesmo adeptos, resulta a perceção de que poucas vezes os. 18.

(19) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. resultados ou níveis de rendimento no futebol são determinados por aspetos físicos, técnicos e até táticos. Na verdade, não existe uma única jornada, ou mesmo um único jogo, em que não sejam evocadas razões ou variáveis de natureza psicológica para procurar predizer, interpretar ou justificar resultados e desempenhos (Fonseca, 2004). Há, sem dúvida, um reconhecimento do papel exercido pelos fatores psicológicos no rendimento desportivo no futebol, tanto o dos atletas como o das suas equipas. No contexto da investigação, tem sido inquestionável o reconhecimento da importância que os fatores e as competências psicológicas têm no rendimento desportivo, podendo, inclusive, constituir-se como elementos diferenciadores entre atletas de sucesso e os outros, de menor sucesso (Coelho, 2007; Cruz, 1996a; Dias, Cruz, & Fonseca, 2009; Gomes & Cruz, 2001; Loehr, 1986; Sigh & Kumar, 2011; Vasconcelos-Raposo, 1993). Também que a psicologia do desporto pode ter um papel muito importante na melhoria da performance desportiva (Fonseca, 2001; Vasconcelos-Raposo & Aranha, 2000). Vasconcelos-Raposo (1993) sustenta que a psicologia é a área onde se podem obter ganhos mais significativos, já que ela permite o desenvolvimento das capacidades humanas até níveis ainda desconhecidos. Sublinha ainda que quanto mais elevado é o nível competitivo maior é a importância que dimensão psicológica assume. Contudo, no que se refere ao “estado da arte”, se por um lado existem numerosas investigações no âmbito da influência que os fatores psicológicos têm no rendimento em desportos individuais, por outro lado, no contexto dos desportos coletivos, nomeadamente no futebol, e concretamente em Portugal, os trabalhos realizados são muito poucos. De facto, apesar de unanimemente reconhecida a necessidade da integração da preparação psicológica no quotidiano das equipas e seus futebolistas, a verdade é que a realidade da psicologia do desporto aplicada ao futebol, tanto no campo da investigação como no “terreno”, está muito abaixo do desejável (Almeida, 2005; Coetzee, Grobbelaar, & Gird, 2006; Fonseca, 1997, 2004).. 19.

(20) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. Da análise da evolução do processo de treino desportivo no futebol, resulta a perceção de que existe uma clara assimetria quanto ao valor atribuído às distintas componentes do rendimento. A componente psicológica, na opinião de Fonseca (2004) e de Barreiros et al. (2011) ainda não é suficientemente valorizada, situação que se repercute ao nível do treino das equipas profissionais. Sem dúvida que o reconhecimento da relevância dos aspetos psicológicos no sucesso desportivo ainda não tem correspondente expressão na importância do papel que o psicólogo do desporto pode desempenhar no “terreno”. De facto, no que concerne ao Futebol, ainda se está a dar os primeiros passos ao nível da aplicação dos conhecimentos da psicologia, sendo evidente a falta de especialistas neste sector a colaborar com as equipas técnicas, particularmente no que se refere às que competem ao mais elevado nível (Barreiros et al., 2011; Fonseca, 1997). Ao contrário do que acontece com a componente fisiológica do rendimento, poucos têm sido os estudos sobre a influência das competências psicológicas na performance de futebolistas, isto apesar de o futebol ser a modalidade mais popular e praticada do planeta (Coetzee et al, 2006). Em Portugal o panorama não é diferente. Assim, para que os objetivos da psicologia do desporto, neste contexto aplicada ao futebol, sejam atingidos, é necessário aumentar o número de investigações que objetivem o estudo dos processos psicológicos que envolvem e influenciam o desempenho desportivo dos jogadores e suas equipas. As pressões sociais, culturais e económico-financeiras que envolvem o futebol, a par das especificidades e evoluções do próprio jogo, com intensidades e densidades cada vez mais elevadas, onde o tempo para os processos de tomada de decisão são cada vez mais reduzidos, exigem cada vez mais futebolistas mentalmente robustos e determinados. Trata-se de um universo pautado por crescentes níveis de exigência e pressão, onde o pormenor faz a diferença e o erro se pode pagar muito caro, não havendo lugar para qualquer tipo de amadorismo. Assim, a dedicação em exclusividade e, acima de tudo, um elevado compromisso dos atletas em relação à sua atividade profissional, entidades patronais, patrocinadores e outros agentes,. 20.

(21) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. parecem constituir-se, simultaneamente, como necessidade e exigência tendo em vista a sobrevivência e o sucesso no atual futebol de alta competição, especialmente quando se almeja o rendimento superior. Face à comprovada influência da componente psicológica sobre o rendimento desportivo no futebol e ao contexto sociocultural e económicofinanceiro que o envolvem, o problema a que pretendemos atender neste trabalho, traduz-se, genericamente, na seguinte questão: de que forma a prática profissional do jogador de futebol influencia o desenvolvimento das suas competências psicológicas? O estudo, por um lado, das características, fatores e competências psicológicas relevantes para o desempenho no futebol de alta competição, e, por outro, do impacto que esta modalidade, enquanto fenómeno social total e indústria, tem na multidimensionalidade do rendimento desportivo individual e coletivo no futebol profissional, considera-se pertinente dado que permitirá o acesso a dados preciosos para a melhoria do processo de treino e potenciação dos desempenhos individual e coletivo em competição. O caso do futebol de alta. competição,. nomeadamente. o. de. alto. rendimento,. pelas. suas. especificidades e exigências ao nível dos seus processos físicos, táticotécnicos e psicológicos, por um lado, e envolvências socioculturais e económico-financeiras, por outro, requerem da psicologia do desporto uma intervenção contextualizada e de carácter aplicado, numa abordagem ecoantropológica que contemple a interação futebolista-equipa-contexto. Os propósitos da presente investigação, realizada no âmbito da psicologia do desporto aplicada ao futebol e à luz das propostas de Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo (1993), são, para além da caracterização do perfil psicológico de prestação do futebolista português, tanto profissional como amador, a identificação das variáveis psicológicas que diferenciam praticantes enquadrados naqueles estatutos laborais. A contemplação desta variável constitui-se como uma abordagem inovadora no panorama da investigação nacional realizada no contexto não só da psicologia do desporto em geral, mas também no que toca à sua aplicação ao futebol. Por outro lado, a existência de uma realidade e de um contexto de realização, como é o caso do futebol, com. 21.

(22) INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA. as suas exigências e especificidades, exige que neste trabalho se contemple também a análise da relação atleta-meio, nomeadamente a forma como o atleta interpreta esse meio, a relação que tem com ele e a maneira como todos estes aspetos influenciam os seus comportamentos. Acrescentamos assim, à presente investigação, o estudo das orientações motivacionais e do negativismo, denominado no contexto clínico de ansiedade. O presente trabalho está estruturado por capítulos. Assim, à descrição e delimitação da área em que se insere o problema, não esquecendo os propósitos e pertinência da presente investigação, segue-se a revisão da literatura, na qual é realizada um enquadramento teórico da abordagem adotada. No capítulo da metodologia são descritas a amostra, as variáveis e instrumentos utilizados, os procedimentos para a elaboração do trabalho e as dificuldades e limitações do estudo. De seguida, são expostos os resultados obtidos na pesquisa, posteriormente discutidos com base na revisão da literatura. anteriormente. efetuada.. A. concluir,. antes. das. referências. bibliográficas, são apresentadas as principais conclusões, além de algumas reflexões sobre as temáticas abordadas.. 22.

(23) REVISÃO DA LITERATURA. 2 REVISÃO DA LITERATURA Na atualidade, o futebol de alto rendimento, concretamente o de cariz profissional, e os contextos sociocultural e económico-financeiro que o envolvem, exigem dos jogadores níveis de desempenho nunca antes vistos. A procura incessante de prestações de alto rendimento e da sua manifestação de forma consistente, sem as quais não é possível alcançar-se e manter-se o sucesso, requerem dos atletas uma capacidade de superação na procura da otimização do rendimento. A sociedade contemporânea valoriza cada vez mais o sucesso, a ascensão e a vitória. O que leva um atleta a ultrapassar barreiras é um conjunto de fatores técnicos, físicos, materiais e psicológicos que, quando bem trabalhados, ampliam muito os seus limites (Silva & Rubio, 2003). É cada vez mais importante auxiliar cada atleta na identificação e caracterização dos fatores que tendem a facilitar ou a dificultar o aparecimento e a manutenção do próprio estado ótimo para o desempenho desportivo. Alves (2004) acrescenta que os desportistas devem ser sujeitos a uma prática sistemática de treino nas diferentes facetas do rendimento desportivo, nomeadamente na psicológica, de forma a obterem uma adaptação ótima às exigências da modalidade e da competição. Segundo Cruz (1996a) e Gomes e Cruz (2001), uma grande quantidade de literatura no âmbito da Psicologia do desporto tem procurado identificar e analisar, nos últimos tempos, as características, competências e processos psicológicos implicados ou subjacentes ao rendimento e ao sucesso desportivo. A investigação realizada tem gerado um corpo próprio de conhecimentos, proporcionando a emergência de novos modelos teóricos, técnicas, estratégias e instrumentos que, por procurarem compreender a especificidade dos contextos desportivos e da dimensão psicológica dos sujeitos e grupos que o integram, identificam e definem um espaço próprio de intervenção (Pacheco, 2003). Contudo, para que esta evolução continue, é necessário. continuar. a. estudar. os. fatores. psicológicos. específicos,. frequentemente resultantes de contextos igualmente específicos, assim como. 23.

(24) REVISÃO DA LITERATURA. questionar as teorias relevantes do alto rendimento desportivo com o objetivo de se melhor compreender os processos psicológicos que contribuem para a performance de excelência. Tendo em consideração o problema equacionado, será apresentada de seguida uma revisão da literatura no âmbito dos constructos e das variáveis psicológicas consideradas como determinantes e influentes do rendimento desportivo.. 2.1 Fatores. psicológicos. determinantes. do. rendimento. desportivo As primeiras abordagens neste âmbito partiram da contemplação da personalidade dos atletas, procurando saber-se se as diferenças entre atletas com níveis de rendimento diferenciados se deviam às variabilidades individuais no campo da personalidade. Os resultados não permitiram encontrar "perfis" na "maneira de ser" que justificassem as diferenças de rendimento (Gomes & Cruz, 2001). Assim sendo, os investigadores procuraram encontrar outras justificações, fora do contexto da personalidade, numa área mais focalizada na análise dos processos e fatores cognitivos envolvidos no rendimento dos atletas. Ou seja, para além das características psicológicas que diferenciam os desportistas entre si, passou a analisar-se o modo como eles percebem e avaliam, do ponto de vista cognitivo, as competições (Gomes & Cruz, 2001). A existência. de. um. determinado. contexto. desportivo,. com. as. suas. especificidades e exigências, implica que se considere a relação atleta-meio, nomeadamente a forma como o atleta interpreta esse meio, a relação que tem com ele e de que forma todos estes aspetos influenciam o seu comportamento. Ao longo das últimas décadas, algumas abordagens concentraram-se não apenas no estudo dos fatores e competências psicológicas que distinguem futebolistas de diferentes níveis competitivos e rendimento e nos efeitos e benefícios do treino mental, mas também nos processos sociopsicológicos que envolvem e influenciam o seu desempenho desportivo.. 24.

(25) REVISÃO DA LITERATURA. Corrêa, Alchieri, Duarte e Strey (2002) identificaram a motivação, a confiança, a preparação mental e o momento psicológico no decorrer da partida como sendo considerados, por jogadores, ex-jogadores, treinadores e preparadores físicos, importantes para a performance desportiva no futebol. Coetzee et al. (2006), num estudo com 36 futebolistas, identificaram a preparação mental, a concentração, a capacidade de lidar com a pressão, a formulação de objetivos, a motivação para a realização e o controlo da ativação como fatores diferenciadores das equipas de sucesso. Verificaram ainda que os. jogadores. mais. bem-sucedidos. revelavam. superiores. índices. de. concentração, treinabilidade e preparação mental comparativamente aos seus colegas de menor sucesso. Num trabalho também realizado no contexto do futebol, Pain e Harwood (2008) apresentaram um conjunto de variáveis sinalizadas por atletas, treinadores,. fisioterapeutas,. médicos. e. fisiologistas,. como. sendo. influenciadoras dos desempenhos individual e coletivo nesta modalidade. Esses fatores foram o suporte positivo da família e dos amigos, a existência de rotinas pré-competitivas, a formulação clara de objetivos individuais e coletivos, a compreensão do papel a desempenhar, a existência de uma liderança positiva, forte coesão e compromisso coletivo, uma boa relação treinadorequipa, forte resiliência de equipa, bons feedbacks por parte dos treinadores, análise de jogos em vídeo, saber o que se espera da equipa adversária, atuação clara e de forma simples por parte do treinador, boa recuperação física, disponibilidade das equipas médicas e uma boa preparação física e mental. Sublinhando a necessidade da existência de uma psicologia do desporto aplicada ao futebol, concretamente no âmbito tático-técnico, apontamos o trabalho de Thelwell, Greenlees e Weston (2006). Estes autores viram reconhecidos por parte de futebolistas os benefícios sobre o seu rendimento de uma intervenção psicológica específica sobre atletas da posição médio-centro, através de práticas de relaxamento, imagética e self-talk. Num estudo de Thelwell, Greenlees e Weston (2010), os resultados de uma intervenção, que incluiu self-talk, relaxamento e imagética, sobre algumas. 25.

(26) REVISÃO DA LITERATURA. habilidades psicológicas específicas de futebolistas, revelaram efeitos positivos sobre alguns aspetos do desempenho. Os atletas melhoraram a qualidade e eficácia do passe, o primeiro toque e a capacidade de confronto na segunda parte dos jogos. Os dados forneceram algumas evidências de que as competências psicológicas podem afetar o desempenho de diferentes maneiras ao longo do jogo. Após a concretização de uma planificação de dezanove semanas de preparação psicológica com base em rotinas pré-competitivas, com recorrência a técnicas de música assíncrona e imagética, Pain, Harwood e Anderson (2011) constataram um impacto positivo não só ao nível do flow mas também da performance desportiva dos futebolistas intervencionados. Johnson, Ekengren e Andersen (2005) realizaram uma intervenção com futebolistas antecipadamente identificados como tendo elevado risco de se lesionarem no futuro. Este trabalho evidenciou a potencialidade da psicologia do desporto ao nível da prevenção de lesões, dado que dele resultou uma redução significativa destas no grupo alvo. Neste âmbito, Ivarsson, Johnson e Podlog (2013) sublinham a necessidade de atletas, treinadores e médicos recorrerem a técnicas proactivas de gestão de stress tendo em vista a redução do risco de lesões em futebolistas. Zafra et al. (2006) defendem que os jogadores que possuem melhores recursos psicológicos tendem a lesionar-se menos. Vasconcelos-Raposo (1993) refere que o treino mental visa maximizar o uso pleno das capacidades humanas dos atletas, fazendo com que sejam minimizados, e de preferência neutralizados, os elementos prejudiciais ao seu rendimento. González e Garcés de los Fayos (2009) e Olmedilla, Ortega, Andreu e Ortín (2010) acrescentam que o treino psicológico se deve constituir numa prática habitual, em que deverão ser contempladas, além das competências psicológicas, estratégias de afrontamento, incidindo-se na sua aprendizagem e no seu uso, não esquecendo ainda os processos de reflexão e tomada de decisão, tanto a nível individual, com cada atleta, como a nível coletivo, no seio da equipa.. 26.

(27) REVISÃO DA LITERATURA. O modelo teórico que sustenta o presente trabalho tem por base a linha de investigação proposta por Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo (1993). O primeiro autor faz referência ao conceito de robustez mental, definindo-a como a capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades, um estado ideal de performance durante a competição. Para este autor, a consistência da performance resulta da consistência psicológica, constituindo-se o controlo psicológico como um pré-requisito fundamental para o controlo da performance. Assim sendo, estabelecer e manter um clima interno estável durante a competição é um dos fatores mais importantes no sucesso desportivo. O modelo de Loehr (1986) tem como base a aplicação do instrumento PPP (Perfil Psicológico de Prestação), o qual contempla o estudo dos skills psicológicos autoconfiança, controlo do negativismo, atenção, visualização, motivação, pensamentos positivos e atitude competitiva. Segundo esta abordagem, os atletas que melhor controlam estas competências atingem uma maior consistência nas suas prestações. Também que desportistas de igual nível competitivo apresentam um perfil psicológico idêntico, devendo os valores mais elevados ser obtidos pelos atletas de nível de prestação desportiva superior. Contudo, na atualidade, apesar do reconhecimento da importância do treino psicológico na preparação para a competição por parte de atletas e treinadores, a verdade é que na prática ele raramente é contemplado. Entre outras razões, porque existe a crença errada, segundo Loehr (1986), de que os skills psicológicos são inatos. Para este autor, estas competências são aprendidas, não inatas, sendo necessário treino para o seu desenvolvimento. Ao estudar o processo que determinou o desenvolvimento dos perfis psico-socioculturais dos atletas olímpicos portugueses que se apresentaram nos Jogos Olímpicos de 1992, Vasconcelos-Raposo (1993) desenvolveu um modelo sustentado nas teorias de Loehr (1986) e de Hemery (1986). Este último argumenta que os domínios sociocultural, físico, mental e moral, influenciam e determinam os comportamentos dos indivíduos e as suas prestações desportivas. Vasconcelos-Raposo (1993) concluiu que entre os fatores físicos, psicológicos, sociais e morais, somente os psicológicos. 27.

(28) REVISÃO DA LITERATURA. permitiram diferenciar níveis de rendimento, evidenciando-se a preparação mental como um fator determinante para a alta competição. Também que os atletas com maior controlo sobre esses fatores atingiram superiores prestações desportivas, que os mais velhos e mais experientes em termos competitivos têm melhores índices de skills psicológicos, que os de superior nível de rendimento são significativamente mais orientados, em termos de objetivos de realização, para a tarefa e menos para o resultado, e que os de menor sucesso demonstram uma orientação cognitiva mais direcionada para o resultado. Vasconcelos-Raposo (1993) sublinhou ainda que os atletas mais orientados para o resultado, por dependerem de fatores externos para se sentirem bemsucedidos, tendem a experimentar um maior sentimento de frustração e de negativismo.. 2.2 Autoconfiança Loehr (1986) defende que o nível de autoconfiança é um dos melhores preditores do sucesso desportivo, permitindo aos atletas acreditar que têm competências psicológicas e mentais para atingir o seu potencial máximo, independentemente do talento e da habilidade física. A autoconfiança é percecionada como um sentimento de que somos capazes de realizar uma boa prestação, de crença em nós próprios e de que assim seremos mais bemsucedidos, constituindo-se o sucesso percebido como o ingrediente. Para Williams (1991) a autoconfiança desenvolve-se ao longo dos anos, sendo fruto de pensamentos positivos e da acumulação de experiências bemsucedidas. Os pensamentos positivos dos atletas confiantes conduzem, com maior probabilidade, a sentimentos capacitantes e a uma boa atuação, sendo oposto o resultado dos pensamentos inapropriados. A melhoria da destreza física é uma maneira de edificar a autoconfiança, dado que pode gerar uma história de experiências de êxito, promovendo a confiança e a emergência expetativas de êxito futuras. A Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva, de Martens, Burton, Vealey, Bump e Smith (1990), apresenta a autoconfiança como uma. 28.

(29) REVISÃO DA LITERATURA. componente cognitiva, contrária ao estado de ansiedade pré-competitiva, esta considerada como ausência de pensamentos negativos. Pressupõe que a autoconfiança se relaciona de forma positiva e linear com o rendimento, em que o estado de autoconfiança aumenta, assim que as expectativas positivas de sucesso aumentam, sendo que os atletas mais habilidosos e capazes possuem, antes da competição, níveis de autoconfiança superiores aos seus colegas menos competentes.. 2.3 Negativismo Vasconcelos-Raposo (1993) defende que o conceito de ansiedade foi erradamente adaptado, por psicólogos clínicos e psiquiatras, ao contexto desportivo, pois parte do pressuposto da universalidade das experiências e das suas classificações pelos indivíduos. Argumenta, posteriormente, que é necessário proceder a uma reclassificação daquele conceito, por se enquadrar na psicologia clínica (Vasconcelos-Raposo, 2000). Para ele, o que está em causa é estado emocional vivido no contexto desportivo, concretamente as sensações e dúvidas que os atletas podem ter relativamente às suas capacidades nos momentos que antecedem a competição. Neste nosso trabalho aceitamos as propostas apresentadas, substituindo o termo ansiedade por negativismo. Foram várias as abordagens ao negativismo pré-competitivo no desporto, nomeadamente à sua relação com o rendimento. Uns argumentam que a situação desportiva competitiva é sempre geradora de pensamentos negativos prejudiciais à performance desportiva, existindo uma relação inversa entre negativismo pré-competitivo e rendimento (Martens, Vealey, & Burton, 1990). Outros que o negativismo pré-competitivo, na mesma situação, pode ser facilitador para uns atletas e prejudicial para outros (Cruz, 1996b). A Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva, de Martens et al. (1990a), pressupõe que as três dimensões (negativismo, ativação e autoconfiança) se relacionam de forma diferente com o rendimento: o negativismo de forma negativa e linear, a ativação de forma curvilínea, em U-. 29.

(30) REVISÃO DA LITERATURA. invertido, e a autoconfiança de forma positiva e linear. Por outras palavras, o aumento do negativismo faz desviar, erradamente, a atenção dos aspetos relevantes à tarefa para aspetos de avaliação do "eu" ou avaliação social, irrelevantes para a tarefa, reduzindo a performance. O modelo defende ainda que os pensamentos negativos têm uma correlação mais forte com a performance que a ativação, dado que são indiciadores das expectativas negativas do sucesso numa determinada tarefa, tendo, como tal, um forte impacto na performance. A diminuição da ativação no início da competição leva a que o negativismo e a autoconfiança se tornem mais fortemente preditores da performance. Contudo, caso a correlação seja superior, nomeadamente quando a ativação é tão elevada levando a um desvio da atenção da tarefa a realizar, por exemplo por estados internos como preocupação e pensamentos negativos, a performance é prejudicada. Em termos gerais, é sugerido que os atletas mais habilidosos têm uma superior capacidade para lidar com os pensamentos negativos comparativamente aos menos hábeis, revelando também, antes da competição, níveis de negativismo e ativação inferiores e uma autoconfiança superior.. 2.4 Atenção Loehr (1986) sustenta que a atenção se refere à capacidade de manter a focalização, de forma contínua, numa tarefa, executando-a na perfeição, e que este skill não é mais do que a habilidade de se focalizar naquilo que é importante em detrimento do que não interessa. Como exemplificam Viana e Cruz (1996), durante um jogo de futebol, o barulho provocado pela assistência, a movimentação das pessoas fora das quatro linhas ou o pensamento numa jogada já passada, serão, em princípio, irrelevantes para a realização da tarefa. Já a localização da bola, o posicionamento do guarda-redes ou a movimentação de um adversário, constituem pistas importantes a atender. Contudo, para além da importância ou relevância dos estímulos inerentes a cada situação, existem, para Viana e Cruz (1996), outras características da estimulação que podem influenciar o processo de seletividade: a quantidade e. 30.

(31) REVISÃO DA LITERATURA. complexidade das pistas a atender, a sua origem interna ou externa, o facto de constituírem ou não novidade ou de serem particularmente valorizadas pelo indivíduo. Viana e Cruz (1996) sublinham o facto de que determinadas modalidades, como o futebol, obrigam o atleta a prestar atenção a um grande número de estímulos em constante transformação: movimentação da bola, colocação dos colegas e adversários, flutuação dos processos coletivos, a localização das balizas, as instruções do treinador, o planeamento e execução de uma estratégia, entre outras. Noutras modalidades, o número de pistas relevantes é menor e mantém-se relativamente constante ao longo da competição. O denominado reflexo, ou resposta de orientação, dirige automaticamente a nossa atenção para a ocorrência percebida como pouco usual. É um mecanismo que permite a deteção, sem esforço voluntário, de estímulos mais intensos que o habitual (luzes, ruídos, cheiros), com alguma novidade ou que estejam em movimento, como por exemplo a deteção rápida da desmarcação de um adversário dentro do campo visual. Weinberg e Gould (2001) acrescentam que muitos atletas reconhecem que, durante as competições, têm dificuldades de concentração causados por um foco atencional desadequado, seja por distrações seja por outros processos como pensamentos e emoções. Tais constrangimentos podem dever-se tanto a fatores internos como externos. É proposto que quando o ambiente muda rapidamente, o foco de atenção também o deverá fazer, dado que o pensamento no passado ou no futuro pode originar sinais irrelevantes indutores de erros. Uma dimensão importante da atenção seletiva, nomeadamente no futebol, é a flexibilidade. O jogo é extremamente dinâmico, obrigando os jogadores a selecionar diferentes tipos de pistas consoante os diferentes momentos e fases do jogo. Viana e Cruz (1996) sustentam que a flexibilidade da atenção é a capacidade que o indivíduo tem de mudar o foco atencional (conjugação da seletividade e direção) de acordo com as exigências da tarefa. A sequência da situação pode exigir ao atleta que foque a atenção internamente em vez de o fazer na direção de objetos ou acontecimentos. 31.

(32) REVISÃO DA LITERATURA. externos. Pode ainda levar o atleta a focar a atenção num pormenor, em vez de estar atento a um amplo espectro de índices. A focalização sequencial da atenção em diferentes objetos e acontecimentos pelo período de tempo necessário constitui-se, possivelmente, como uma das fontes mais importantes das oscilações da atenção que acontecem durante o desempenho desportivo. Trata-se, segundo Viana e Cruz (1996), de um aspeto tanto mais importante quanto menor for o tempo disponível para iniciar uma resposta. Nas modalidades coletivas, como o futebol, as ocorrências sucedem-se, na maioria das vezes, sem que o atleta tenha a possibilidade de poder controlar o seu desencadeamento, sendo crítica a capacidade de mudar o focus atencional com rapidez e de forma adequada às exigências da tarefa.. 2.5 Imagética Da revisão da literatura, conclui-se que existem vários constructos neste âmbito: prática mental, visualização e imagética. Suinn (1993) sustenta que a expressão prática mental é utilizada para a distinguir da prática física ou motora. É usada para referenciar as técnicas de natureza mental a que por vezes se recorre para a melhoria da performance desportiva. Etnier e Landers (1996) consideram aquele construto como a performance mental de uma tarefa realizada sem qualquer movimento físico. Para Vasconcelos-Raposo (1998), enquanto a visualização se refere à capacidade de imaginar situações, já a imagética significa "pensar com os músculos". Ou seja, a imagética contempla não só o uso da visão, mas também de todos os sentidos que dão forma às sensações cinestésicas. Vasconcelos-Raposo, Costa e Carvalhal (2001) consideram-na como a habilidade de nos vermos a nós próprios a desempenhar tarefas, recorrendo a pensamentos e imagens. Consiste na recuperação da informação armazenada na memória, através de todo o tipo de experiências, remodelando-a através dos processos cognitivos. Recriam-se experiências passadas, transportando-as para o presente, reconstruindo-as e ajustando-as ao estado emocional desejado (Vasconcelos-Raposo, 1998).. 32.

(33) REVISÃO DA LITERATURA. Godinho e Serpa (2005) argumentam que ao falarmos de imagética estamos a falar de imagens mentais. Contudo, segundo estes autores, as características daquelas não se limitam apenas às imagens visuais e a objetos estáticos. Eles consideram como imagética o uso dos sentidos para recriar uma experiência na mente. Esta definição, embora sintética, considera como principais características desta técnica a localização na mente, a possibilidade de recriação de experiências conhecidas ou criação de experiências inéditas e o uso dos sentidos, não apenas a dimensão visual. No fundo, ela pode ser considerada como sendo o relembrar ou re-percecionar das possibilidades de ação que um envolvimento em particular oferece. Pode servir para preparar a competição, desenvolver habilidades e prevenir e reabilitar lesões (Godinho & Serpa, 2005). Face à literatura revista, pode-se argumentar que a diferença entre visualização e imagética está na forma como estes conceitos se aplicam à prática. Assim, enquanto a visualização se refere à capacidade de imaginar situações recorrendo-se unicamente a imagens visuais, já a imagética implica uma vivenciação dessas mesmas situações como se elas fossem reais no momento. Aqui a experiência é concretizada recorrendo-se a todos os sentidos, não apenas à visão. Neste trabalho optamos pelo termo imagética.. 2.6 Pensamentos positivos Loehr (1986) defende que para se ter sucesso em competição é determinante uma boa capacidade de controlo das emoções negativas. Na sua opinião, os pensamentos positivos, ao estarem relacionados com fatores motivacionais e com o desenvolvimento de atitudes, tornam possível a performance máxima. Constituem-se como um fluxo de energia positiva que permite elevada ativação enquanto, simultaneamente, se evidencia calma, baixa tensão muscular e forte controlo atencional. Os pensamentos positivos, denominados por Bunker e Williams (1986) como self-talk, podem ser positivos para a performance quando a beneficia, se relacionam com a tarefa e aumentam a autoconfiança. Aqueles investigadores. 33.

(34) REVISÃO DA LITERATURA. preconizam que atletas autoconfiantes têm um self-talk, imagens e sonhos positivos, vendo-se eles próprios a ganhar e a ter sucesso. Nunca minimizam as próprias capacidades, concentram-se na realização da tarefa em mão sem se preocuparem com as consequências negativas do fracasso e reconhecem as próprias capacidades e limitações. O self-talk é negativo para o desempenho quando o prejudica, é inapropriado ou tão frequente que dificulta a automatização dos skills. Vasconcelos-Raposo. (1994a). argumenta. que. quando. um. atleta. percepciona que pode não ter um desempenho suficientemente bom para atingir um objectivo importante poderá sentir-se preocupado ou em stress. É quando o desafio que se estabelece é demasiado fácil ou demasiado difícil que a competição se torna geradora de stress. No primeiro caso o atleta sentir-se-á aborrecido, não se mentalizando o suficiente para manter uma performance ao mais alto nível. Na segunda situação poderá ficar preocupado com a obtenção do sucesso. Vasconcelos-Raposo (1994b) defende que esta sensação é causada pelo receio de falhar, originado um esforço excessivo ou pressão, que impedirá o seu integrador de guiar automaticamente a performance. É assim desejável que o atleta seleccione um desafio similar ao seu nível de habilidade para que se sinta menos stressado.. 2.7 Atitude competitiva Dias (2000) concluiu que as equipas de futebol que jogam para ganhar e que para isso assumem o jogo através da procura constante da posse da bola, ganham mais vezes do que aquelas que têm atitudes menos dinâmicas. Vasconcelos-Raposo (1993) sustenta que as atitudes expressas nos sentimentos e comportamentos dos indivíduos é um dos temas que mais tem fascinado os estudiosos do comportamento humano. Loehr (1986) sublinha que a atitude competitiva é um reflexo dos hábitos de pensamento de um atleta, sendo certo que as atitudes certas permitem o controlo das emoções, promovendo um fluxo de energia positiva.. 34.

(35) REVISÃO DA LITERATURA. Foram várias as investigações realizadas em Portugal, com recorrência ao PPP, sob a orientação de docentes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Concluiu-se que a atitude competitiva: - reflete a forma como o atleta encara a competição (Coelho, 1995); se é negativa e com pouca autoconfiança, surgem dúvidas pessoais e receio de falhar, o que reduz o prazer na participação (Linhares, 1998); só as atitudes positivas podem ser benéficas para alcançar os objetivos propostos (Linhares, 1998), para o empenhamento e a vontade de ganhar (Simões, 1995). - parece estar relacionada com a vontade que o atleta demonstra em atingir o sucesso e a direção dada ao seu comportamento para o conseguir (Silva, 2002); - é entendida como um dos aspetos da agressividade no desporto (Cortesão, 1995); esta relação pode ser aceite se a agressividade for positiva (Luzio, 1995), não destrutiva, com respeito pelo adversário (Silva, 1997) e fair-play (Silva, 2002). - é determinante para a performance (Luzio, 1995; Nave, 2008), sendo assumida como um dos mais importantes, senão o mais importante, fatores do sucesso desportivo (Linhares, 1998); é espectável que atletas com níveis de rendimento superiores tenham valores superiores na atitude competitiva, dado que esta variável contempla a vontade, dedicação e empenho numa determinada tarefa (Mahl, 2005).. 2.8 Motivação No contexto do futebol, a motivação é um dos fatores mais apontados para justificar o sucesso ou insucesso das equipas ou jogadores. Treinadores, futebolistas e espectadores associam, frequentemente, as performances individual e coletiva a diferentes estados motivacionais (Eubank & Gilbourne, 2005). É um dos conceitos que mais se desenvolveu, tendo sido alvo de inúmeras investigações ao longo dos anos (Fonseca, 2001; Roberts, 2001). Contudo, para Vallerand (2004), compreender a motivação é uma questão de tal forma complexa que, nos últimos tempos, os psicólogos do desporto têm. 35.

(36) REVISÃO DA LITERATURA. passado uma grande quantidade de tempo a tentar perceber o complexo quadro da motivação no contexto do desporto. Entre a bibliografia de referência mais recente, destaca-se o conceito de motivação que se refere a “disposições, variáveis sociais, e/ou variáveis cognitivas que intervêm quando um sujeito se envolve numa tarefa, na qual ele ou ela é avaliado, entra em competição com outros ou tenta atingir um patamar de excelência “ (Roberts, 2001, p. 6). Coloca-se como hipótese que as determinantes dos comportamentos de realização são as atitudes de aproximação ou de afastamento, as expectativas, os valores que conduzem ao sucesso ou fracasso, o entendimento desse mesmo sucesso ou fracasso e a própria possibilidade de ser bem-sucedido ou de fracassar (Roberts, 2001). É. habitual. que. o. indivíduo. evidencie,. no. contexto. desportivo,. comportamentos de esforço, concentração e persistência, objetivando o melhor desempenho possível (Roberts, 2001). Sendo um contexto de carácter competitivo, o desporto é um meio orientado para a realização (Roberts, 1993) no qual os indivíduos empenham o seu esforço para cumprir tarefas (objetivos), que são posteriormente avaliados em termos de sucesso ou fracasso (Roberts, 1993, 2001). Assim, o estudo da motivação para a realização implica a análise das variáveis que potenciam e direcionam os comportamentos dos indivíduos, ou seja, a sua intensidade e direção (Fonseca, 1993; Roberts, 2001; Vallerand, 2001). A primeira refere-se à quantidade de esforço que o sujeito coloca em determinada situação. A direção corresponde ao esforço e à procura ou aproximação a dada situação (Weinberg & Gould, 2001). Os. estudos. sobre. a. motivação. têm-se. baseado. em. teorias. sociocognitivas, as quais encaram o homem não apenas como um ser reativo, mas também ativo, considerando que as cognições desempenham um papel mediador entre os estímulos e os comportamentos dos indivíduos. Segundo esta perspetiva, as pessoas avaliam os seus comportamentos, pensamentos, acontecimentos e contextos em que estão envolvidas de uma forma recíproca, sendo a partir deste processo que antecipam as consequências futuras (Fonseca, 1999).. 36.

(37) REVISÃO DA LITERATURA. Existem quatro teorias da motivação: a Teoria da Necessidade de Realização, a Teoria da Atribuição, a Teoria da Motivação para a Competência e a Teoria dos Objetivos de Realização (Coelho, 2007; Weinberg & Gould, 2001). No presente trabalho opta-se por esta última por se constituir como base teórica para o questionário a utilizar (TEOSQ).. 2.8.1 Orientações cognitivas Uma das atuais linhas de investigação no âmbito da motivação no desporto direciona-se para a identificação dos objetivos de realização que os atletas consideram prioritários na sua prática desportiva (Fonseca & Maia, 2000). Tal decorre dos pressuposto sociocognitivos, segundo os quais, para se perceber as determinantes motivacionais dos indivíduos, é necessário conhecer o que eles consideram como sucesso, sucesso este entendido como demonstração de competência (Duda, 2001; Fonseca & Maia, 2000; Roberts, 2001). Em função dos seus objetivos, o indivíduo investe os seus recursos pessoais numa determinada atividade (Roberts, 2001), pois todos, tal como subscrevem Fonseca e Maia (2000), têm a necessidade de demonstrar competência. Tudo indica, segundo estes autores, que o que significa competência ou sucesso para uns não é, necessariamente, o mesmo para outros. Assim sendo, é importante saber o que cada um entende a esse respeito. A Teoria dos Objetivos de Realização emergiu em contexto escolar. Assume o indivíduo como um organismo intencional, direcionado por objetivos, que atua de forma racional, gerando e guiando crenças, decisões e comportamentos em contextos de sucesso (Eubank & Gilbourne, 2005; Fonseca & Brito, 2005; Fonseca & Maia, 2000; Roberts, 2001). Os objetivos influenciam a interpretação e a resposta em situações de realização, afetando a autoavaliações da habilidade demonstrada, o esforço despendido e as atribuições para o sucesso e fracasso (Duda, 1992). São percecionados como teorias pessoais de realização que direcionam não só a forma como os indivíduos configuram os contextos de realização, mas também o modo como. 37.

(38) REVISÃO DA LITERATURA. interpretam, avaliam e reagem a feedbacks de realização (Fonseca, 2000; Fonseca & Maia, 2000). De um modo geral, os indivíduos definem competência de duas formas diferentes, orientando-se, por esse motivo, de um ponto de vista cognitivo, para alcançarem dois tipos principais de objetivos de realização ou orientações cognitivas (Duda, 1992, 1993; Roberts, 1992, 1993, 2001; VasconcelosRaposo, 1993). Apesar de habitualmente denominadas de orientação para a tarefa e ego, contudo, alguns autores propuseram outras designações: aprendizagem. e. performance,. mestria. e. habilidade. ou. mestria. e. competitividade (Roberts, 1992; Fonseca & Brito, 2005). Contudo, as diferentes conceções parecem ser, na sua essência, relativamente semelhantes: a) Orientação para a performance, habilidade ou competitividade, ego ou resultado – definição de sucesso de um modo normativo ou socialmente comparativo (por exemplo “ganhar”, “fazer melhor que os outros”); existe uma preocupação em demonstrar habilidade quando em comparação com outros, maximizando as probabilidades de atribuição de uma elevada competência e minimizando as possibilidades de atribuição de uma reduzida competência aos próprios; é privilegiada a superioridade sobre outros, em que o sucesso reside na comparação favorável da própria capacidade ou resultados com outros; “ter sucesso é ser melhor que os outros”; b) Orientação para a aprendizagem ou mestria, a tarefa ou processo – existe um objetivo de realização relativamente à tarefa quando o indivíduo define sucesso de um modo autorreferenciado (por exemplo “melhorar o rendimento pessoal”, “realizar com sucesso um gesto técnico”, “completar uma tarefa”); prevalece uma preocupação em demonstrar mestria na realização da tarefa; há uma procura da demonstração de competência relativamente aos próprios indivíduos, quer aumentando os seus conhecimentos, quer resolvendo determinadas tarefas com sucesso; são enfatizadas a aprendizagem, a melhoria contínua, a tentativa de alcançar objetivos próprios da modalidade; “ter sucesso é ser melhor que antes”. A literatura refere tanto a ortogonalidade (i.e. independência) como a bipolaridade da associação entre as orientações cognitivas (Duda, 1992, 1993;. 38.

(39) REVISÃO DA LITERATURA. Fonseca & Balagué, 2001; Fonseca & Biddle, 2001; Fonseca & Maia, 2000; Mahl, 2005). Duda (1993) argumenta que as pessoas podem ser fortemente orientadas para a tarefa e ego, apresentar baixos índices em ambas as orientações ou então altos numa e baixos noutra. Conclui-se que a motivação é um fator psicológico de grande relevância no contexto desportivo, contemplando a intensidade e a direção do comportamento dos indivíduos em contexto desportivo. Assim, é necessário ter em consideração o significado que o sucesso tem para os atletas e compreender os objetivos da sua ação.. 2.9 Estudos realizados com o Perfil Psicológico de Prestação O Perfil Psicológico de Prestação (Loehr, 1986) avalia as forças e fraquezas. mentais. dos. atletas,. concretamente. os. skills. psicológicos. autoconfiança, controlo do negativismo, atenção, imagética, motivação, pensamentos positivos, atitude competitiva e robustez mental. Segundo Loehr (1986), quanto mais consistentes forem as prestações desportivas, mais elevados serão os valores obtidos. Uma das conclusões resultantes da utilização deste instrumento é a de que atletas de diferentes níveis competitivos utilizam os skills psicológicos de forma diferenciada, constatando-se que, de uma forma geral, os de níveis mais altos revelam índices superiores (Almeida, 2010; Carvalho, 1998; Casimiro, 2004; Coelho, 2007; Golby & Sheard, 2004; Mahl, 2005; Nave, 2008; Vasconcelos-Raposo, 1993, 2002, 2005; Silva, 1997; Silva, 2002). Constatouse, ainda, que quanto mais próximo for o nível competitivo dos atletas, maior a similaridade encontrada em termos psicológicos (Carvalho, 1998; Casimiro, 2004; Mahl, 2005; Violas, 2009). No campo da maturidade competitiva, concretamente no que toca à associação entre a idade e os skillls psicológicos, os resultados são contraditórios. Casimiro (2004) e Linhares (1998) verificaram que a idade não influencia de forma significativa o desenvolvimento dos skills psicológicos. Já as conclusões de Almeida (2010) e de Mahl (2005) apontam em sentido. 39.

(40) REVISÃO DA LITERATURA. contrário,. indiciando. uma. associação. positiva. entre. aquela. variável. independente e a maior parte dos skills psicológicos. No que concerne à experiência competitiva, alguns trabalhos (Almeida, 2010; Casimiro, 2004; Linhares, 1998; Mahl, 2005; Simões, 1995) indiciaram que os anos de prática competitiva favorecerem o desenvolvimento das habilidades psicológicas, reforçando-se a importância do treino mental para a melhoria da performance desportiva. Em termos gerais, os estudos referenciados evidenciam a tendência para os atletas de níveis competitivos superiores apresentarem índices mais altos nas escalas do PPP comparativamente aos restantes, reforçando-se a consistência do uso deste instrumento na diferenciação por níveis de rendimento. Também que quanto mais próximo é o nível competitivo maior é a semelhança no perfil psicológico de prestação. Realçam ainda que a idade e a experiência competitiva favorecem o fortalecimento dos skills psicológicos. Por outro lado constatou-se que, de uma forma geral, os atletas se preparam mentalmente para a competição, embora não o façam de forma sistemática. Como tal, além de se reforçar o reconhecimento da importância dos fatores psicológicos no processo de rendimento desportivo, acentua-se a necessidade da integração da preparação mental no quotidiano dos atletas, especialmente ao nível do controlo dos pensamentos negativos.. 40.

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