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O diálogo como dispositivo para a construção coletiva da cultura de paz: uma reflexão inicial

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DIÁLOGO COMO DISPOSITIVO PARAA CONSTRUÇÃO COLETIVA DA CULTURA DE PAZ: UMA REFLEXÃO INICIAL

Manoel Sampaio da Silva

Introdução

Verbo lindo, lindissimo, que muitos pensam que sabem conjugar, eraro conjuga de verdade, é dialogar. Quantas vezesduas pessoas dãoaimpressão de estar dialogando e apenasestão em monólogos paralelos.

(Dom Hélder Câmara)

Vivemos um início de século marcado por uma profunda crise civilizatória. A violência grassa por todos os quadrantes do planeta Terra. Vemos e ouvimos, pelos meios de comunicação de massa,os ataques terroristas dos fundamentalistas em tempo real.

Osataques de nações contra nações. Aviolência sob osseus vários matizes perpassa o cotidiano dos lares e das escolas, seja de forma literal ou simbólica.

Diante de tais desafios, encontramos o diálogo como o lídimo dispositivo com força capaz de auxiliar na superação dos obstáculos e contribuir de modo consistente na construção coletiva de uma cultura de paz, verdadeiramente duradoura.

Neste sentido, o presente estudo tem o propósito de ana-lisar as contribuições e características que envolvem o diálogo enquanto dispositivo na construção de uma cultura de paz, procu-rando a explicitação do mesmo nas macros e micros articulações e mobilizações para uma bifurcação que almeje a elaboração de uma outra lógica de vivência e convivência.

Para a concretização deste estudo, adotou-se como meto-dologia a pesquisa bibliográfica somada ao conjunto das discussões que foram feitas ao longo dos nossos encontros na Disciplina de Educação Ambiental e Cultura de Paz, baseado nas contribuições de Freire (2005), Figueiredo (2007)e Matos (2006).

A importância deste estudo está na sua capacidade de contribuir direta e indiretamente com os grupos de estudo e com osprofissionais da educação, que se encontram angustiados para encontrar algumas veredas para a problemática que nos desafiam

PERGAMUrv BCCE/UFC

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a convivência no dia a dia e que possa auxiliar na elaboração de políticas públicas juvenis.

Este escrito compõe-se de duas partes: uma introdutória e uma segunda parte em que se procura, de forma sucinta e instigan

-te, levantar algumas reflexões sobre a pulsão de resistência e as dimensões que abarcam o diálogo como dispositivo."

o

Diálogo como Dispositivo para a Construção Coletiva da Cultura de Paz: uma Reflexão Inicial

o

diálogo como dispositivo capaz de colaborar efetivamente na convivência com a paz, possui em si uma gama de dimensões que precisam ser analisadas para que possamos compreender as veredas que temos de seguir

Individual e coletivamente com o propósito de construirmos juntos, independentemente da cor de nações, partidos políticos, ideologias, fundamentalismos religiosos. O diálogo tem uma pulsão de resistência para a superação de uma crise ou conflito, que são as forças motrizes da paz para além de uma concepçãp tradicional e ingênua.

O diálogo como "máquina de fazer ver e fazer falar" possui caracterísitcas que, por excelência, são "as curvas de visibilidade e as curvas de anunciação."

Na Busca de um Conceito de Paz

A cultura de paz não é algo vazio no ar.A paz é uma constru-ção histórico-sociocultural dos homens de boa vontade.

Matos (2006, p.20) afirma com bastante propriedade que

O conceito de paz não

é

a ausência de guerra ou conflito. Ao contrário, a paz

é

a capacidade de lidar com conflitos, de

trabalhá-tos esuperá-tos, A paz busca instaurar a cooperação, a compreensão entre as partes envolvidas.

Depreende-se das colocações da autora que a prática da cooperação e a compreensão dos autores sociais terá que ser uma

1Dispositivo é utilizado no presente artigo com a mesma conotação e significação com que foi empregado por Gilles Deleuze in Michel Foucault no texto O que é um dispositivo? Barcelona; Gedisa, 1990. p.155-161. " é uma espécie de novelo ou meada, um conjunto multilenear ... Máquina de fazer ver e fazer falar.

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ação executada por sujeitos que visem construir a cultura de paz,

por meio de articulação e de um diálogo sincero.

A construção de uma cultura de paz exige que cada um de

nós sejamos ousados e mudemos as nossas relações, nas menores

ações do nosso cotidiano, principalmente, nas relações com os

mais humildes, os chamados descamisados. Temos que transformar os nossos hábitos de intolerância de todos os matizes, sejam os fundamentalismos religiosos sejam as picuinhas dos frutos de inte-resses particulares ou ligadas ao vil metal.

Para Mello (2008) a dialogicidade

é

o legado mais importan-te que precisamos cultivar para a superação da tradição da edu

-cação bancária e transmissiva. Uma relação dialógica caracteriza uma educação crítica e progressista, estabelecendo o necessário vínculo entre educador e educando, entre escola e comunidade,

entre conhecimento sistematizado e conhecimento popular, em

que nossas programações pedagógicas fazem sentido e têm

sig-nificado para os educandos (MELLO,2008, p.237). Percebemos da afirmação de Marco Mello a pulsão de resistência que o diálogo tem para a superação dos obstáculos existentes para a vivência de uma educação libertadora e pertinente.

As Tipificações do Diálogo como Dispositivo para a Construção Coletiva da Paz

o

diálogo como dispositivo tem a capacidade de anunciar e denunciar e possibilitar aos homens mecanismos de superação das suas pendengas, de suas desavenças e pontos de vista contrários, diferentes.

O diálogo que tem em si a capacidade de contribuir na cons-trução de uma cultura de paz

é

capaz de uma invenção de

subjeti-vidade, pois uma gama de componentes peculiares, tais como uma

linha de visibilidade, linhas de enunciação, linhas de força, linhas de subjetivação, linhas de ruptura, de fissura e entrecruzam-se.

O diálogo tem em si a força e a capacidade de compreender enunciações contraditórias. A linha de visibilidade que envolve o diálogo não pelo poder de luz, mas a sua pulsão de inovar, criar,

mapear, sem a pretensão de construir verdades ou universais. Ante o conjunto de contradições, fruto de interesses par-ticulares e muitas vezes mesquinhos, resultante de uma ausência

oOIÁLOGO COMO DISPOSITIVO PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA CULTURA DE PAZ:

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de uma proposta educativa libertadora capaz de despertar nas pessoas o respeito pelo outro como verdadeiro outro.

Freire ( 2005) listou de forma lúcida e transparente uma

gama de tipificações do diálogo que poderá auxiliar de forma

concreta na reflexão e construção de uma cultura de paz. Freire

(2005,p.91-92). "Não diálogo, porém, se não há um profundo amor

ao mundo e aos homens. Não é possível a pronuncia do mundo, que é um ato de criação e re criação, se não há amor que a infunda."

Mahatma Gandhi já nos afirmou que: " se um único homem atingir a plenitude do amor, mobilizará o ódio de milhões." Para

que possamos vivenciar esse sentimento para a paz, faz-se mais

urgente que possamos somar formas e buscar a contribuição de

todos os meios de comunicação com o propósito de levarmos

avan-te a bandeira da paz em todos os quadranavan-tes do planeta, pois os

principais beneficiados seremos nós mesmos,uma vez que teremos

a chance de vivermos num mundo onde a paz possa reinar. Vamos

dar uma chance a Paz.

Paulo Freire, de maneira lúcida, aponta um conjunto de

características que envolvem o diálogo como dispositivo para a

construção de um outro mundo possível, principalmente, um

mun-do onde a paz possa reinar entre todas as criaturas, tais como,

humildade, fé nos homens, a esperança, a utopia.

°

professor Figueiredo, parafraseando Freire, defende que

o diálogo constitui a própria intersubjetividade humana, sendo ela

relacional e consubstaciadora da democracia, da alteridade, no

afeto, na fé, humildade de saber-se inacabado e histórico. "Ente de relação, o ser humano constrói sua transcendência na interação com o mundo, com os outros." (FIGUEIREDO,2007, p.41).

Sabedores que somos que o ser humano é por excelência um

ser de múltiplas relações, tendo a capacidade de uma superação

muitas vezes surpreendente, principalmente, na sua condição

ontológica de ser mais. Frente a um desafio, um obstáculo.

°

professor Figueiredo mais adiante compreende, com base no pen-samento freireano que o diálogo como um processo que se dá em

uma relação horizontal, fundado em uma matriz crítica e geradora

de criticidade, nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e disi

-cplina. (idem).

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Bifurcações Finais

Guisa de Conclusão)

Após as reflexões e discussões que foram realizadas aolongo

de todo semestre, somadasàs leituras quefiz como embasamento

para a elaboração deste artigo foi possível constatar que a

cons-,trução de uma cultura de paz sem que se tenha quevivenciar

ex-periências de conflitos e crises, uma vez que a mesma está prenhe

de desafios e sofrimentos como premissa para práxis de uma paz

duradoura.

Numa época em que as religiões não são mais formadoras de

opinião e sentido da vida, temos concretamente que a educação

dia lógica é um dispositivo por excelência para a construção de uma cultura de paz.

Constatamos que o diálogo é, por excelência, a dimensão

sine qua non para a construção e vivência de uma verdadeira ação

de pazentre asnações, religiões, as torcidas e os indivíduos, assim

como pelo coletivo dos movimentos sociais, com o propósito de

efetivação de construirmos um espaço público e relações entre

si, assim como harmônicas, fraternas e solidárias entre os seus

diferentes sujeitos, no momento que os mesmos autores sociais

sintam-se construtores do seu destino histórico-sociocultural,

mediatizados pela ação comunicativa, a fala entre iguais e a

dialo-gicidade amorosa de Paulo Freire.

O que realmente caracteriza a experiência de uma cultura de paz são os objetivos comuns, a identidade coletiva nos ideias

sociais e uma gama de desafios identificáveis entre os autores

sociais, constando-se com uma visibilidade dos homens na sua

singularidade e com a presença de um diálogo amoroso, crítico e respeitoso entre iguais.

Nesse sentido, constatamos, nessas breves reflexões, que é

possível construirmos uma cultura de paz nointerior da sociedade,

mesmo com a presença da tensão entre os diferentes autores, que

interagem, que há necessidade de uma maior clareza dos objetivos comuns e da construção da identidade dos mesmos e do coletivo

das dimensões dialógicas que aqui foram abordadas.

Para que possamos exercitar no nosso cotidiano uma cultura de paz duradoura no seio social, faz-se mister que, nós os

educa-dores, pais e formadores de opinião tenhamos bastante clareza na

oDIALOGO COMO DISPOSITIVO PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA CULTURA DE PAZ:

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seleção, organização e proposição de conteúdos atitudinais, que deverão ser trabalhados numa proposta de educação dialógica que vise uma práxis educativa instigante rumo a uma propositura de cultura de paz.

Para que possamos, realmente, construir uma cultura de paz no nosso entorno, não basta que vivamos o diálogo como dispositivo da paz, faz- se necessário que lutemos, urgentemente, com todas as nossas forças para a diminuição das injustiças e de -sigualdades sociais, para que possamos construir uma sociedade mais igualitária, com inclusão social e alimentar, com condições mínimas de vida digna para os mais carentes econômica, cultural e espiritualmente.

Para que possamos construir uma sociedade que venha a conviver num clima de harmonia e de uma cultura de paz, temos que lutar para criar juntos as camadas subalternas canais de vez e voz para todos os interlocutores, respeitando a diversidade de gênero, etnia, religião ou nacionalidade.

Nessa tentativa de construirmos um outro caminho possível na construção da paz, temos que colocar em prática uma relação dialógica, prenhe de afetividade, amorosidade e a abertura ao ou-tro, respeitando e se responsabilizando pelo outro como legitimo outro.

Finalmente, o diálogo como dispositivo para a construção de uma cultura de paz

é

o processo singular e multilinear que tem a força de valorizar os homens como sujeitos históricos do seu próprio destino, que seja capaz de lhe oferecer uma pulsão de resistência e poder para pronunciar, anunciar e denunciar as injustiças do mundo dos oprimidos, sem perder a crença de uma utopia de um outro mundo possível.

Referências Bibliográficas

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oDIALOGO COMO DISPOSITIVO PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA CULTURA DE PAZ:

Referências

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