4
Incerteza
4.1
Processos estoc´
asticos em Macro
4.1.1 Cadeias de Markov
Defini¸c˜ao: seja xt ∈ X, em que X = x1, x2, · · · , xn ´e um conjunto finito de valores.
Uma cadeia de Markov estacion´aria ´e um processo estoc´astico {xt}∞t=0definido por X10, uma
matriz de transi¸c˜ao Pn×n e uma distribui¸c˜ao inicial de probabilidade (π0)1×n (o primeiro
elemento do processo estoc´astico). Os elementos da matriz de transi¸c˜ao Pn×n representam
as seguintem probabilidades:
Pij = P r[xt+1= xj | xt = xi]
Ou seja, o elemento Pij11 ´e a probabilidade de sair do estado “i ”e ir para o estado “j ”.
Propriedades:
i. A probabilidade para dois per´ıodos a frente ´e dada por [P2] i,j12. P r[xt+2= xj | xt = xi] = n X k=1 pik× pkj = [P2]i,j Exemplo: P = p11 p12 p13 p14 p21 p22 p23 p24 p31 p32 p33 p34 p41 p42 p43 p44 Se for requerido [P2]1,1: p211+ p12× p21+ p13× p31+ p14× p41 . ii. Pn k=1pik = 1.
Dado π0 − um vetor 1 × n tal que π0i = P r[x0 = xi], ou seja, o primeiro elemento de π0 ´e
a probabilidade de o primeiro elemento do processo estoc´astico possuir valor x1, o segundo
10X ´e todo universo de possibilidade de estados.
11Observe que essas probabilidades s˜ao independentes do tempo.
12Ou seja, o elemento (i, j) da matriz P2´e igual a soma dos produtos dos elementos da linha i de P pelos elementos da coluna j de P
elemento de π0 ´e a probabilidade de x0 possuir valor x2 etc − ent˜ao π1 = π0P . Ou seja, π1
´
e a distribui¸c˜ao de x1 a partir do per´ıodo t = 0.13
Exemplo: Seja n = 4, π0= h π01 π02 π03 π04 i , π1 = π0P = h π01 π02 π03 π04 i p11 p12 p13 p14 p21 p22 p23 p24 p31 p32 p33 p34 p41 p42 p43 p44 (π1)1×n= h Pn k=1π0k× pk1 Pn k=1π0k× pk2 Pn k=1π0k× pk3 Pn k=1π0k× pk4 i . Analogamente, π2 = π0P2 π3 = π0P3 π4 = π0P4 .. . πt = π0Pt Ou ainda, π2 = π0P2 = π1P π3 = π0P3 = π2P π4 = π0P4 = π3P .. . πt+1 = πtP
Defini¸c˜ao: uma matriz de transi¸c˜ao P ´e considerada estacion´aria (ou invariante) quando o
13H´a a possibilidade de ter-se π
0 = 0 0 · · · 1 · · · 0, ou seja, ser o caso degenerado, em que tem-se, com certeza, x0= xi.
vetor de probabilidade π ´e tal que:
π = πP Ou seja, uma distribui¸c˜ao estacion´aria para P satisfaz:
πI = πP π[I − P ] = ~0
Observe que ~v ´e um autovetor de A se ~v 6= ~0 e atende a A~v = λ~v para algum escalar λ. Analogamente, π ´e um autovetor de P associado com o autovetor λ = 1.
Exemplo: i. P = " 0.7 0.3 0.6 0.4 # Seja π =hπ1 π2 i , ent˜ao π = πP : h π1 π2 i = h π1 π2 i " 0.7 0.3 0.6 0.4 #
Sabendo que π1+ π2 = 1, encontra-se: π =
h 2 3 1 3 i ii. P = " 0.1 0.9 0.9 0.1 # , encontre π. iii. P = " 1 0 0 1 # , encontre π. ´
E preciso saber quando πt converge para um distribui¸c˜ao estacion´aria ´unica. Ou seja, existe
algum vetor π∞ao que quando t −→ ∞, tenha-se π∞ = π∞P n˜ao dependente das condi¸c˜oes
iniciais π0? Caso isso aconte¸ca, diz-se que o processo estoc´astico ´e assintoticamente
esta-cion´ario com uma ´unica distribui¸c˜ao invariante.
Teorema: P tem uma ´unica distribui¸c˜ao invariante (e assintoticamente estacion´aria) se: Pij > 0 ∀i, ∀j
4.1.2 Equa¸c˜oes em diferen¸ca lineares e estoc´asticas
Seja xt∈ Rn, wt∈ Rm, A uma matriz n × n e C uma matriz n × n,
xt+1 = Axt+ Cwt+1
. Supondo,
Et[wt+1] = Et[wt+1 | wt, wt−1, · · · ] = 0
Et[wt+1wt+10 ] = I
´
E comum em evolu¸c˜oes baseadas em AR(1).
4.2
Maximiza¸
c˜
ao sob incerteza
A introdu¸c˜ao do t´opico de maximiza¸c˜ao sob incerteza ser´a feita a partir da apresenta¸c˜ao de um modelo simples de dois per´ıodos de tempo, mas bastante informativo, atrav´es do qual ser˜ao apresentados as estruturas de mercado completas (complete markets) e incompletas (incomplete markets). Em seguida, estudaremos a maximiza¸c˜ao sob incerteza no ambiente de equil´ıbrio competitivo Arrow-Debreu e sequencial e nas formas sequencial e recursiva do “Social Planner ”.
Admita um modelo simples com dois per´ıodos de tempo, em que um agente representativo precisa decidir sobre suas escolhas de consumo e lazer, mas com incerteza sobre o sal´ario (estoc´astico):
1. Consumo e poupan¸ca no per´ıodo 0. 2. Consumo e trabalho no per´ıodo 1.
Observe que com o sal´ario estoc´astico, a renda do per´ıodo 1 (segundo per´ıodo) ´e incerta. Note que n˜ao h´a trabalho no per´ıodo 0 (primeiro per´ıodo), apenas uma decis˜ao por consumo e poupan¸ca via dota¸c˜ao. Assuma n poss´ıveis estados da natureza para o sal´ario no per´ıodo 1, de forma que se tem:
w2 ∈ {w1, · · · , wn}
em que πi ≡ P r[w2 = wi] ∀i ∈ {1, · · · , n}. Assuma tamb´em que o consumidor define suas
maximiza sua utilidade esperada). Em que o lazer no segundo per´ıodo vale: U = n X i=1 πiu(c0, c1i, ηi) ≡ E[u(c0, c1i, ηi)]
Especificamente, assuma que a fun¸c˜ao utilidade tenha a forma:
U = u(c0) + β n
X
i=1
πi[u(c1i+ v(ηi)]
Assuma ainda que mais trabalho gera desutilidade, isto ´e, v0(ηi) < 0.
4.2.1 Mercados incompletos14
Assuma que existe um ativo livre de riscos para transferir recursos do per´ıodo 0 para o per´ıodo 1, que entrar´a no modelo como uma escolha do consumidor por a unidades deste ativo, cujo pre¸co ´e q. Assim, cada unidade de a adquirida no per´ıodo 0 paga uma unidade na forma de renda no per´ıodo 1, em qualquer15 estado da natureza que tenha acontecido. O
consumidor se depara com a seguinte restri¸c˜ao or¸cament´aria no per´ıodo 0: c0+ aq = I
Para cada estado da natureza que se realiza, o consumidor pode se deparar com a seguinte restri¸c˜ao or¸cament´aria:
c1i= a + wiηi i ∈ {1, · · · , n} Problema do consumidor: max c0,a,{c1i,η1i}ni=1 u(c0) + β n X i=1 πi[u(c1i+ v(ηi)] s.a. c0+ aq = I c1i = a + wiηi i ∈ {1, · · · , n}
14S˜ao incompletos porque o agente n˜ao consegue se proteger dos casos em que seu sal´ario ´e menor do que o que ele est´a esperando.
15Observe que no per´ıodo 0, o consumidor se depara com n estados da natureza poss´ıveis de se realizarem no per´ıodo 1; j´a no per´ıodo 1, apenas um destes estados da natureza se confirma.
Resolvendo o problema: L = u(c0) + β n X i=1 πi[u(c1i+ v(ηi)] − µ[c0+ aq − I] − n X i=1 λi[c1i− a − wiηi] i. c0: ∂ L ∂c0 = u0(c0) − µ = 0 ∴ u0(c0) = µ
Mas observe que a = f (c0), j´a que cada unidade de renda destinada ao consumo no
per´ıodo 0 representa menos renda destinada a aquisi¸c˜ao do ativo livre de risco, de forma que a = (I−c0)
q . Ent˜ao, da dc0 = − 1 q. L = u(c0) + β n X i=1 πi[u(c1i+ v(ηi)] − n X i=1 λi[c1i− a(c0) − wiηi] ∂ L ∂c0 = u0(c0) − n X i=1 λi −da dc0 = 0 ∂ L ∂c0 = u0(c0) − n X i=1 λi − −1 q = 0 ∂ L ∂c0 = u0(c0) − 1 q n X i=1 λi = 0 u0(c0) = 1 q n X i=1 λi ii. c1i: ∂ L ∂c1i = βπiu0(c1i) − λi = 0 ∴ βπiu0(c1i) = λi ∀i ∈ {1, · · · , n} iii. ηi: ∂ L ∂ηi = βπiv0(ηi) + λiwi = 0 ∴ −βπiv0(ηi) = λiwi ∀i ∈ {1, · · · , n}
Observe do item ii. que βπiu0(c1i) = λi implica que βπiu0(c1i)wi = λiwi. Pelos itens ii. e iii.
βπiu0(c1i)wi = −βπiv0(ηi). Ent˜ao:
−u0(c1i)wi = v0(ηi)
Pn
i=1βπiu 0(c
1i) = Pni=1λi ∴ 1qβPni=1πiu0(c1i) = 1qPni=1λi. Segue ent˜ao que,
u0(c0) = 1 qβ n X i=1 πiu0(c1i) = β n X i=1 πiu0(c1i) 1 q ≡ βE u0(c1i) 1 q
Isto significa que, a utilidade marginal do consumo no per´ıodo 0 se iguala a expectativa marginal descontada de se consumir 1q unidades no per´ıodo 1.
4.2.2 Mercados completos
Neste caso, ao inv´es dos ativos livres de risco que pagam o mesmo montante em qualquer um dos estados da natureza, assuma a existˆencia de direitos de propriedade contingentes a cada estado da natureza, tamb´em conhecidas como “Arrrow securities”. S˜ao n ativos negociados no per´ıodo 0 em que cada unidade do ativo i adquirida retorna uma unidade no per´ıodo 1 caso aconte¸ca o estado da natureza i ou retorna zero caso contr´ario.
Restri¸c˜ao or¸cament´aria para o per´ıodo 0:
c0+ n
X
i=1
qiai = I
Restri¸c˜ao or¸cament´aria para o per´ıodo 1:
c1i= ai+ ηiwi i ∈ {1, · · · , n}
Observe que agora o indiv´ıduo pode escolher um ativo livre de risco ao adquirir uma unidade de cada ativo ai. Suponha que o pre¸co de aquisi¸c˜ao deste portfolio seja igual ao
pre¸co do ativo livre de risco de antes, ou seja, q =Pn
i=1qi. Note que, dessa forma, o
consu-midor consegue transferir recursos atrav´es do tempo da mesma forma que fazia nos mercados incompletos, j´a que a mesma cesta de bens pode ser adquirida ao mesmo custo, isto ´e, o consumidor n˜ao pode estar pior. Al´em disso, ´e permitido ao agente que a transferˆencia de riqueza seja espec´ıfica por estado da natureza, o que implica numa melhora de bem-estar se a distribui¸c˜ao de sal´arios wi’s for aleatoriamente n˜ao-trivial e se as preferˆencias do agente
forem de avers˜ao ao risco. ´
E poss´ıvel consolidar as restri¸c˜oes or¸cament´arias observando para o per´ıodo 1 que c1i =
ai na restri¸c˜ao do per´ıodo 0: c0+ n X i=1 qic1i = I + n X i=1 qiηiwi
Observe que as despesas e a renda est˜ao em termos do consumo c0, isto ´e, seu pre¸co foi
normalizado para 1. Ent˜ao, qi ´e o pre¸co, em termos de c0, do consumo de bens no per´ıodo 1
se o estado da natureza i se confirmar, assim como qiηi ´e a remunera¸c˜ao do trabalho neste
estado da natureza. Resolvendo o problema: L = u(c0) + β n X i=1 πi[u(c1i+ v(ηi)] − λ[c0+ n X i=1 qic1i− I − n X i=1 qiηiwi] i. c0: ∂ L ∂c0 = u0(c0) − λ = 0 ∴ u0(c0) = λ ii. c1i: ∂ L ∂c1i = βπiu0(c1i) − λqi = 0 ∴ βπiu0(c1i) = λqi iii. ηi: ∂ L ∂ηi = βπiv0(ηi) + λqiwi = 0 ∴ βπiv0(ηi) = −λqiwi
Das condi¸c˜oes de primeira ordem dos itens i. e ii., tem-se: u0(c0)qi = λqi βπiu0(c1i) = λqi u0(c0)qi = βπiu0(c1i) u0(c0) = βπiu0(c1i) qi qi = βπiu0(c1i) u0(c 0)
Sob a aloca¸c˜ao da condi¸c˜ao de equil´ıbrio, a taxa marginal de substitui¸c˜ao do consumo no per´ıodo 0 pelo consumo no per´ıodo 1, para cada uma das realiza¸c˜oes de estado da natureza, ´ e: T M S(c0, c1i) = U0(c1i) U0(c 0) = βπiu 0(c 1i) u0(c 0) = qi
E a taxa marginal de substitui¸c˜ao entre os estados da natureza ´e: T M S(c1i, c1j) = U0(c1j) U0(c 1i) = βπju 0(c 1j) βπiu0(c1i) = qj qi
4.3
Equil´ıbrio competitivo sob incerteza
Modelo de crescimento neocl´assico estoc´astico
A incerteza ´e introduzida no modelo neocl´assico de crescimento atrav´es de choques na produtividade total dos fatores (TFP). A fun¸c˜ao de produ¸c˜ao agregada neocl´assica sob re-torno constantes de escala apresenta a seguinte forma geral:
Ft(Kt, Lt)
O ajustamento da fun¸c˜ao por trabalhador retorna a seguinte forma: Ft(Kt, Lt) Lt = Ft Kt Lt ,Lt Lt = Ft(kt, 1)
E assume a forma espec´ıfica que explicita os choques na TFP: Ft(kt, 1) = ztf (kt)
Em que z ´e um processo estoc´astico (processo gerador) e as realiza¸c˜oes zt s˜ao retiradas de
um conjunto Z. Ou seja, zt ∈ Z ∀t.
Quadro geral:
i. zt ´e a realiza¸c˜ao do processo estoc´astico z no per´ıodo t.
ii. zt´e o hist´orico de realiza¸c˜oes (o caminho amostral) − ´e um vetor de dimens˜ao t + 1 com
a seguinte composi¸c˜ao:
zt= (zt, zt−1, · · · , z1, z0)
.
iii. Por consequˆencia, z0 = z0 e zt = (zt, zt−1)
iv. Z ´e um conjunto cont´avel, ou seja, possui quantidade de elementos igual a algum sub-conjunto dos naturais. Al´em disso, Zt ´e um produto cartesiano t-vezes de Z.
v. π(zt) ´e a probabilidade de ocorrˆencia do evento (zt, zt−1, · · · , z0). Sob essa nota¸c˜ao, um
processo de Markov de primeira ordem segue:
π[(zt+1, zt) | zt] = π[(zt+1, zt| zt)]
4.3.1 Forma sequencial do problema do Social Planner
O problema do planejador social na sua forma sequencial pede a maximiza¸c˜ao da seguinte fun¸c˜ao: U = ∞ X t=0 X zt∈Zt βtπ(zt)u[ct(zt)] ≡ E " ∞ X t=0 βtu(ct) #
O consumidor precisa escolher:
ct(zt) ∀zt ∀t
kt+1(zt) ∀zt ∀t
Observe que a escolha do consumidor indica que esta ´e baseada no caminho amostral (zt)
at´e a data t, sendo esta a ´unica informa¸c˜ao dispon´ıvel ao agente. ´E poss´ıvel, com base nessas informa¸c˜oes, construir a restri¸c˜ao or¸cament´aria do agente. A cada par (t, zt) o agente deve
decidir quanto de sua renda vai destinar ao consumo de bens e ao montante investido para o per´ıodo seguinte. Todas as despesas com consumo para o per´ıodo corrente e investimento para o per´ıodo seguinte devem ser no m´aximo iguais a renda gerada por uma produ¸c˜ao − que depende da quantidade de capital investida no per´ıodo anterior pelo agente − que ´e afetada por uma TFP estoc´astica, somada da renda auferida pelo investimento l´ıquido (expurgada sua deprecia¸c˜ao).
ct(zt) + kt+1(zt) ≤ ztf [kt(zt−1)] + (1 − δ)kt(zt−1) Formalmente, max {ct(zt),kt+1(zt)}∞t=0 ∞ X t=0 X zt∈Zt βtπ(zt)u[ct(zt)] s.a. ct(zt) + kt+1(zt) = ztf [kt(zt−1)] + (1 − δ)kt(zt−1) k0 > 0 dado.
4.3.2 Formula¸c˜ao recursiva do problema do Social Planner O problema em sua vers˜ao recursiva consiste em:
V (k, z) = max k0 ( u [zf (k) − k0+ (1 − δ)k] + βX z0∈Z π(z0 | z)V (k0, z0) )
em que a TFP (z) surge como novo estado e P
z0∈Zπ(z0 | z)V (k0, z0) = Ez[V (k0, z0)].
Usa-remos Programa¸c˜ao Dinˆamica para utilizar m´etodos num´ericos de aproxima¸c˜ao, j´a que esse problema n˜ao apresenta solu¸c˜ao anal´ıtica.
A solu¸c˜ao tanto para a formula¸c˜ao sequencial quanto para a formula¸c˜ao recursiva remonta a Equa¸c˜ao de Euler: u0[ct(zt)] = βEztu 0c t+1(zt+1) zt+1f0[kt+1(zt) + 1 − δ 16 u0[zf (k) + (1 − δ)k − k0] = βEz{u0[z0f (k0) + (1 − δ)k0− k00] × [z0f0(k0) + 1 − δ]}
4.3.3 Modelo neocl´assico de crescimento com mercados completos O equil´ıbrio competitivo Arrow-Debreu ´e dado pela sequˆencia:
ct(zt), kt+1(zt), lt(zt), pt(zt), rt(zt), wt(zt)
∞
t=0
tais que:
1. Dados os pre¸cos e eventos realizados, {pt(zt), rt(zt), wt(zt)} ∞ t=0 resolve o problema do consumidor: max {ct(zt),kt+1(zt),lt(zt)}∞t=0 ∞ X t=0 X zt∈Zt βtπ(zt)uct(zt), 1 − lt(zt) s.a. ∞ X t=0 X zt∈Zt pt(zt)[ct(zt)+kt+1(zt)] ≤ ∞ X t=0 X zt∈Zt pt(zt) rt(zt) + 1 − δ × kt(zt−1) + wt(zt)lt(zt) ∀t, zt
16Observe que, sem incerteza, t´ınhamos: u0(c
2. O problema da firma ´e resolvido como: rt(zt) = ztFkkt(zt−1), lt(zt) wt(zt) = ztFlkt(zt−1), lt(zt) 3. Market clearing17 ´e: ct(zt) + kt+1(zt) − (1 − δ)kt(zt−1) = ztF kt(zt−1), lt(zt) ∀t, zt
4.3.4 Equil´ıbrio sequencial com incerteza
Ilustraremos o equil´ıbrio sequencial com incerteza a partir de uma endowment economy com I tipos de agentes, com a incerteza sendo introduzida pela dota¸c˜ao wi(zt), sendo zt o hist´orico de estados da natureza.
O equil´ıbrio competitivo sequencial ´e composto por uma sequˆencia de aloca¸c˜oes: nn cit(zt),ait+1(zt+1, zt) zt+1∈Z o∞ t=0 o zt∈Zt i∈I e pre¸cos: nn qt(zt+1, zt) zt+1∈Z o∞ t=0 o zt∈Zt tais que: 1. Dados os pre¸cos nn {qt(zt+1, zt)}zt+1∈Z o∞ t=0 o zt∈Zt, as aloca¸c˜oes nn ci t(zt),ait+1(zt+1, zt) zt+1∈Z o∞ t=0 o zt∈Zt i∈I resolvem: max ( ci t(zt),{ait+1(zt+1,zt)}zt+1∈Z ∞ t=0 zt∈Zt ) i∈I ∞ X t=0 X zt∈Zt βtπ(zt)u[cit(zt)] s.a. i. ci t(zt) + P zt+1∈Zqt(zt+1, z t)ai t+1(zt+1, zt) ≤ wti(zt) + ait(zt) ∀t, ∀zt∈ Zt ii. ci t(zt) > 0 ∀t, ∀zt iii. ait+1(zt+1, zt) > −A i ∀t, ∀zt∈ Zt
17Observe que o investimento no per´ıodo t para cada caminho amostral zt ´e I
t(zt) = kt+1(zt) − (1 − δ)kt(zt−1).
2. Market clearing18 ´e: X i∈I cit(zt) =X i∈I wti(zt) ∀t, ∀zt ∈ Zt X i∈I ait+1(zt+1, zt) = 0 ∀t, ∀zt∈ Zt, ∀zt+1 ∈ Z
4.4
Exerc´ıcio
1. Considere uma economia que produz duas commodities f´ısicas, em dois per´ıodos de tempo, com dois poss´ıveis estados da natureza, numa economia de troca pura. Os estados da natureza s˜ao z ∈ {g, b}; os bens s˜ao indexados por n = 1, 2. H´a apenas dois tipos de agentes, cada um com um continuum de medida 1, uniformemente distribu´ıdo no c´ırculo unit´ario denotado por i = A, B.
i. Dota¸c˜oes: as dota¸c˜oes dos dois bens f´ısicos no primeiro per´ıodo s˜ao determin´ısticas. As dota¸c˜oes dos dois bens f´ısicos no segundo per´ıodo s˜ao vari´aveis aleat´orias. Isto ´e, as dota¸c˜oes do agente do tipo i no segundo per´ıodo depende do estado da natureza. Denotaremos a dota¸c˜ao do agente do tipo i, do bem n, no per´ıodo t = 2, ao estado da natureza z como sendo ωi
ntz ≥ 0.
ii. As probabilidades individuais do consumidor do tipo i no estado da natureza bom (g), e no estado da natureza ruim (b) s˜ao respectivamente πi e 1 − πi. A utilidade do
consumidor do tipo i em cada per´ıodo ´e dada por log(ci
1t) + φ log(ci2t). Cada agente
disconta o futuro a uma taxa βi.
a) Defina o Equil´ıbrio Competitivo desta economia ao estilo Debreu.
b) Especialize esta economia tal que no per´ıodo 1, o agente do tipo A possui 1 unidade do bem 1 e 0 unidades do bem 2, e o agente do tipo B possui 0 unidades do bem 1 e 1 unidade do bem 2. No per´ıodo 2, no estado da natureza bom, o agente do tipo A recebe 1 unidade do bem f´ısico 1 e 1 unidade do bem f´ısico 2, enquanto o agente B recebe 0 unidades de ambos os bens. No estado na natureza ruim, o agente do tipo A recebe 0 unidades de cada bem, enquanto o agente do tipo B recebe 1 unidade de cada bem. Suponha que os estados da natureza bom e ruim s˜ao igualmente prov´aveis de maneira que πi = 0.5 para i = A, B. Encontre as quantidades e pre¸cos para o Equil´ıbrio Competitivo.
18Observe que no curto prazo, os agentes negociam ai
t+1(zt+1, zt) ao pre¸co qt. No per´ıodo seguinte, se zt+1 acontecer, um agente recebe uma unidade de at+1 e outro agente perde uma unidade de at+1. Em outras palavras, a conta deve fechar.
c) Introduza as Arrow Securities e defina o Equil´ıbrio Competitivo Sequencial associado. Encontre as solu¸c˜oes para este equil´ıbrio sob o padr˜ao de dota¸c˜ao especificado no item (b).
5
Heterogeneidade
Neste cap´ıtulo, ser´a estudado o papel da heterogeneidade dos agentes e da agrega¸c˜ao, no modelo neocl´assico de crescimento com mercados completos. A quest˜ao fundamental ´
e: O que entendemos por agrega¸c˜ao? E dito que uma economia admite agrega¸c˜´ ao se o comportamento das quantidades de equil´ıbrio agregada, isto ´e, pre¸cos, consumo agregado, investimento, entre outros, n˜ao depende da distribui¸c˜ao de quantidades individuais entre os agentes. Em outras palavras, ´e poss´ıvel agregar sempre que for poss´ıvel definir um agente representativo fict´ıcio que se comporta, em equil´ıbrio, como a soma de todos os consumidores individuais.
5.1
Agrega¸
c˜
ao de firmas
Considere uma economia com M firmas indexadas por i = 1, . . . , M que produzem um bem homogˆeneo com a mesma tecnologia zF (ki, ni) em que z ´e a produtividade agregada.
Assuma que F ´e estritamente crescente, estritamente cˆoncava e diferenci´avel em ambos os argumentos, al´em de possuir retornos constantes de escala. ´E poss´ıvel agregar essas firmas individuais em uma firma representativa?
Suponha que o mercado de insumos seja perfeitamente competitivo, portanto, cada firma i ´e uma tomadora de pre¸cos e resolve o seguinte problema
max
{ki,ni}zF (k
i, ni) − wni− rki
Das condi¸c˜oes de primeira ordem, pode-se obter zFk(ki, ni) = r
zFn(ki, ni) = w
Lembre que, por conta da condi¸c˜ao de retornos constantes de escala, Fk, Fn s˜ao homogˆeneas
de grau zero, portanto
Fk(ki, ni)
Fn(ki, ni)
= fk(k
i/ni)
fn(ki/ni)
Substituindo esse resultado nas condi¸c˜oes de primeira ordem, temos o seguinte resultado fk(ki/ni)
fn(ki/ni)
= r w , ∀i
decrescente em rela¸c˜ao a (ki/ni)19, existir´a uma fun¸c˜ao inversa g, tal que gr w = k i ni = K N , ∀i = 1, . . . , M
Em que K e N denotam m´edias. Isto implica que todas as firmas escolhem a mesma raz˜ao de capital e trabalho. Utilizando esse resultado nas condi¸c˜oes de primeira ordem e realizando a m´edia entre todos os i0s, pode-se obter o seguinte resultado
zFK(K/N ) = r
zFN(K/N ) = w
Que por sua vez implica na existˆencia de uma firma representativa com tecnologia zF (K, N ).
5.2
Heterogeneidade nas dota¸
c˜
oes iniciais
Inicialmente, ser´a estudado um modelo neocl´assico de crescimento com heterogeneidade em que os consumidores s˜ao diferentes apenas em suas dota¸c˜oes iniciais de riqueza. A economia ´e habitada por N tipos de agentes que vivem infinitamente, indexados por i = 1, . . . , N . Denote por µi o measure do agente i e normalize o measure total dos agentes para
1, isto ´e, PN
i=1µi = 1. As preferˆencias dos agentes definidas por um conjunto de aloca¸c˜oes ´e
definido por U = ∞ X t=0 βtu(cit)
Em que a fun¸c˜ao utilidade pertence a uma das seguintes classes
u(c) = γln(c + c) com c + c ≥ 0 γ(c + c)σ com c + c ≥ 0 −ce−ηc
Note que, por agora, ´e permitido que c ≤ 0 afim de se modelar consumo de subsistˆencia. Considere a seguinte fun¸c˜ao de produ¸c˜ao agregada yt = f (Kt), com f sendo estritamente
crescente, estritamente cˆoncava e diferenci´avel. Suponha que a firma representativa seja
19 ∂Fk(ki/ni) ∂(ki/ni) < 0 e
∂Fn(ki/ni) ∂(ki/ni) < 0
detentora do capital e que realiza a decis˜ao de investimento ao resolver At= max {It} ∞ X τ =t pτ pt [f (Kτ) − Iτ] s.a: Iτ = Kτ +1− (1 − δ)Kτ
Em que pt ´e o pre¸co do bem final no per´ıodo t. Vamos definir o lucro real da firma
como sendo πt≡ f (Kt) − It. Portanto, ´e f´acil notar que At ´e o valor futuro dos lucros reais
descontados a uma taxa pt/pτ, isto ´e, o pre¸co relativo do consumo entre t e τ 20.
Considere que os mercados s˜ao completos, ou seja, n˜ao existe barreira para a transferˆencia de renda entre os per´ıodos, portanto, ´e poss´ıvel usar a formula¸c˜ao de Arrow-Debreu para o problema do consumidor. Logo, o problema de maximiza¸c˜ao da fam´ılia i pode ser descrito da seguinte forma max {ci t} ∞ X t=0 βtu(cit) s.a: ∞ X t=0 ptcit≤ p0ai0 Onde ai
0 ´e a riqueza inicial do agente i em termos de unidade de consumo. Note que, em
geral, pode-se definir a riqueza do agente i no per´ıodo t como sendo
ptait = sit ∞ X τ =t pτπτ Em que si
t ´e a participa¸c˜ao no valor da firma do agente i no per´ıodo t. Considere a equa¸c˜ao
anterior, ao somar ambos os lados em rela¸c˜ao a i e explorar o fato de que PN
i=1µis i
t= 1, ∀t,
´
e poss´ıvel obter At como definido anteriormente. Portanto, a riqueza agregada da fam´ılia ´e
o valor da firma.
Considere a preferencia como sendo a logar´ıtmica, sendo assim, das condi¸c˜oes de primeira ordem do problema do consumidor, obtemos
βtu0(cit) = λipt ⇒ cit=
βtγ
λip t
− c
Substituindo a condi¸c˜ao de primeira ordem na restri¸c˜ao or¸cament´aria do problema do
con-20Lembre que pt
sumidor, temos que ∞ X t=0 pt βtγ λip t − c = p0ai0 ⇒ ⇒γ λi = (1 − β)p0ai0+ (1 − β)c ∞ X t=0 pt
Substituindo essa ´ultima express˜ao na condi¸c˜ao de primeira ordem para t = 0, obtemos a seguinte express˜ao ci0 = c " (1 − β) ∞ X t=0 pt p0 − 1 # + (1 − β)ai0 = Θ(p0, c) + (1 − β)ai0
Em que Θ(p0, c) define uma fun¸c˜ao do consumo de subsistˆencia e de toda sequˆencia de
pre¸co. Essa deriva¸c˜ao pode ser generalizada para qualquer t > 0 ao se utilizar a restri¸c˜ao or¸cament´aria de Arrow-Debreu para o tempo t, sendo assim
cit= Θ(pt, c) + (1 − β)ait
A express˜ao acima mostra que o consumo no per´ıodo t do agente i ´e uma fun¸c˜ao afim de seus ativos no per´ıodo t para cada tipo i.
A primeira consequˆencia da equa¸c˜ao anterior ´e de que para se estudar a dinˆamica das vari´aveis agregadas neste modelo de economia, n˜ao ´e necess´ario saber a distribui¸c˜ao da riqueza. Pode-se mostrar que o consumo agregado apenas depende das vari´aveis agregadas.
Ct = Θ(pt) + (1 − β)At
No qual At pode ser expressa em fun¸c˜ao da sequˆencia de pre¸cos {pt} ∞
t=0 e do estoque
de capital agregado {Kt} ∞
t=0. Por fim, pode-se concluir que quando as preferˆencias s˜ao
homot´eticas e os agentes s˜ao homogˆeneos quanto a dota¸c˜ao inicial, a dinˆamica agregada permite agrega¸c˜ao.
5.2.1 Algoritmo de Negishi
A quest˜ao agora ´e: Como encontrar o equil´ıbrio competitivo, pre¸cos e aloca¸c˜oes, para economias que n˜ao permitem agrega¸c˜ao? Ou o uso do agente representativo? Um m´etodo utilizado ´e o algoritmo proposto por Negishi (1960). Trata-se de um m´etodo v´alido para os casos em que o primeiro teorema do bem-estar se aplica. Do primeiro teorema do bem-estar, sabemos que qualquer equil´ıbrio competitivo ´e um ´otimo de Pareto. Portanto, o equil´ıbrio
competitivo pode ser encontrado como a solu¸c˜ao do problema do planejador social benevo-lente com algum ”peso de Pareto”dado para cada agente. Suponha que se deseja computar o equil´ıbrio competitivo de uma economia em que os agentes s˜ao dotados inicialmente de diferentes fra¸c˜oes da riqueza agregada, isto ´e, {si
0} N
i=1. Podemos usar o problema do
plane-jador social para esse prop´osito? Negishi mostra que o segredo ´e encontrar os ”pesos”certos para cada agente na fun¸c˜ao de bem-estar social do planejador social para fazer com que a aloca¸c˜ao eficiente de Pareto corresponda a aloca¸c˜ao de equil´ıbrio competitivo.
Suponha uma economia com dois consumidores, isto ´e, N = 2. O problema do planejador social consiste em max {c1 t,c2t,kt+1} ∞ X t=0 βtα1u(c1 t) + α 2u(c2 t) s.a: c1t + c2t + kt+1≤ f (kt) + (1 − δ)kt, ∀t k0 dado
Onde (α1, α2) s˜ao os pesos dados pelo planejador social para cada tipo de agente na fun¸c˜ao de bem-estar agregada. Montando o lagrangiano, temos
L = ∞ X t=0 βtα1u(c1t) + α2u(c2t) − ∞ X t=0 λtc1t + c 2 t + kt+1− f (kt) − (1 − δ)kt
Das condi¸c˜oes de primeira ordem, obtemos ∂L ∂c1 t = βtα1u0(c1t) − λt= 0, ∀t (11) ∂L ∂c2 t = βtα2u0(c2t) − λt= 0, ∀t (12) ∂L ∂kt+1 = −λt+ λt+1[f0(kt+1) + (1 − δ)] = 0, ∀t (13)
Das equa¸c˜oes (11) e (12), pode-se obter o seguinte resultado u0(c1 t) u0(c2 t) = α 2 α1 (14)
Da equa¸c˜ao (14), podemos concluir de que o consumo ´otimo ser´a proporcional aos pesos de Pareto, ou seja, ci∗
t (α
∗). Da equa¸c˜ao (13), temos que
λt λt+1 = u 0(c1 t) βu0(c1 t+1) = u 0(c2 t) βu0(c2 t+1) = f0(kt+1) + (1 − δ), ∀t
Como isso nos ajuda a resolver o equil´ıbrio competitivo? Individualmente, os agentes est˜ao diante do seguinte problema
max {ci t} ∞ t=0 ∞ X t=0 βtu(cit) s.a: ∞ X t=0 ptcit≤ p0ai0
Montando o lagrangiano, temos
L = ∞ X t=0 βtu(cit) − λi " ∞ X t=0 ptcit− p0ai0 #
Da condi¸c˜ao de primeira ordem, obtemos
βtu0(cit) = λipt
Utilizando esse resultado e a condi¸c˜ao de primeira ordem do problema do planejador social, temos que βtu0(cit) = λt αi = λ i pt ⇒ αiλi = λt pt
Portanto, pode-se concluir que 21
α2
α1 =
λ1
λ2
Note que, da condi¸c˜ao de primeira ordem, temos que
cit= β
t
λip t
− c Usando esse resultado na restri¸c˜ao or¸cament´aria, obtemos
∞ X t=0 pt βt λip t − c = p0ai0 ⇒ ∞ X t=0 pt βt λip t − c ∞ X t=0 pt= p0ai0 ⇒ 1 λi(1 − β) = p0a i 0+ c ∞ X t=0 pt⇒ λi = 1 (1 − β) [p0ai0+ c P∞ t=0pt]
Vamos considerar c = 0, ent˜ao
λi = 1 (1 − β)p0A0 1 si 0 21Considere u(ci t) = ln(cit+ c)
Sendo assim, podemos concluir que o consumo ´otimo depende dos pesos de Pareto dado pelo problema do planejador social. Al´em disso, os pesos de Pareto dados a cada agente v˜ao ser iguais a participa¸c˜ao inicial dos agentes na riqueza inicial agregada22, isto ´e, αi =
si
0. Quanto maior a participa¸c˜ao na riqueza inicial agregada (maior si0), menor vai ser o
multiplicador (λi) e, consequentemente, maior vai ser o peso de Pareto (αi) no problema de
Negishi. c2 t c1 t = α 2 α1 = s2 0 s1 0
A conclus˜ao ´e de que, o planejador social deve colocar um maior peso no consumo do agente que possui uma maior fra¸c˜ao na riqueza inicial.