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A importância da família no tratamento do dependente químico

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(1)Encontro. Revista de Psicologia Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO DO DEPENDENTE QUÍMICO. RESUMO Carolina Santos de Azevedo Faculdade Anhanguera do Rio Grande carollinaazevedo@hotmail.com. Rodrigo Sinnott Silva Faculdade Anhanguera do Rio Grande rodrigo.ss.79@hotmail.com. Independente da estrutura, a família se faz necessária na vida do usuário de drogas, na qual é preciso uma imposição de limites, respeito e conversas entre os membros, uma vez que todos os componentes desse âmbito familiar se influenciam, devendo haver uma coesão entre eles. Este estudo tem como objetivo analisar a importância que o familiar exerce no tratamento do usuário, sob o olhar do próprio dependente e do familiar. A amostra foi composta por 25 familiares e 53 usuários que frequentam os grupos de apoio/reabilitação do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS Ad), da Prefeitura Municipal do Rio Grande e no Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Os familiares são de suma importância no tratamento da dependência química, o qual deve incluir desde a família nuclear até a família extensa. Palavras-Chave: Dependência química; família, drogas; usuário.. ABSTRACT Regardless of the structure, the family is necessary in the user’s drug life in which is necessary an imposition of limits, respect and dialog among members once all of them use to influence each other and cohesion between them must exist. The objective of this article is to analyze the importance that the family has in the treatment of the user, from the perspective of this one and from the family’s. The sample consists of 25 family members and 53 users who go to support groups/ rehabilitation in Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS Ad), which belongs to Rio Grande Municipality and in Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE), which belongs to Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Relatives are very important in the treatment of chemical dependence, which should include from the nuclear family to the extended family. Keywords: chemical dependence; Family; drugs; addict.. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@anhanguera.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 12/12/2012 Avaliado em: 10/02/2013 Publicação: 18 de dezembro de 2013. 151.

(2) 152. A importância da família no tratamento do dependente químico. 1.. INTRODUÇÃO De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), a dependência química consiste em uma “reunião de sintomas fisiológicos, comportamentais e cognitivos que se propagam após o consumo da droga, por vezes consecutivas“. Ainda explica a CID 10, o desejo de consumir, bem como a relutância em conseguir controlar o uso, mesmo sendo percebíveis as consequências negativas que a droga irá causar, se torna essencial e prioritária na vida do indivíduo. Segundo Kalina (1987), em sua grande maioria, as dependências têm sua origem dentro da família ou meio no qual o indivíduo está inserido, ninguém nasce com essa patologia instalada. Para ele, há dois modelos de famílias preponderantes nesse sofrimento. As simbióticas são caracterizadas por serem invasoras, todo mundo está dentro da vida de todo mundo, não havendo liberdade, autonomia dentro da sua própria vida. Já nas famílias cismáticas, não há invasão de um indivíduo na vida do outro, mas a comunicação só vai ocorrer individualmente, não sendo possível haver encontros e conversas grupais em família sem que haja desentendimento. A família, segundo Michuchin e Fishman (1990, p.21) é formada por: “um grupo natural que desenvolve padrões de interação, que governam o funcionamento dos membros da família, delineando seus comportamentos e facilitando seu convívio, constituindo um sistema.” Além disso, elucidam que dentro desse sistema familiar, pode haver subgrupos compostos por afinidades, gênero e idade, onde o comportamento de um membro influenciará o comportamento dos outros membros. Muitas famílias usam drogas como o álcool em casa e acabam oferecendo desde cedo aos filhos, iniciando o consumo dentro do próprio lar. Além deste fator, deve-se levar em conta a não estruturação do núcleo familiar, onde não existem definições específicas de papéis, conflitos e o não estabelecimento de regras e limites (HERMETO; SAMPAIO; CARNEIRO, 2010). Além disso, de acordo com Lehen (1996), o indivíduo não nasce inserido na sociedade, vai ser o convívio com a família que vai inseri-lo e atribuir valores. As práticas educativas e os modos de viver de cada família poderão ou não servir de estimulante para seus filhos buscarem o uso das drogas como fonte prazerosa e de fuga. Outro fator que merece atenção segundo Lehnen (1996), é quando o sintoma drogadição já está instalado dentro do contexto familiar. As atenções ficam em torno da espera pelo usuário ou pela sua saída de casa. Esse fato de estar ausente ou presente no ambiente familiar serve para o casal acobertar seus problemas e com isso manter a homeostase familiar. Ressalta que. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(3) Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva. 153. sempre existe um membro da família, que vai ser uma espécie de cúmplice do usuário, que geralmente é a mãe, caracterizando uma relação simbiótica. Esta relação mãe e filho sugere uma exclusão da figura paterna, o que é uma mistificação. O que ocorre é que a figura paterna permite que a mãe assuma o posto de cuidadora, assumindo o posto maternal como era na infância. Consequentemente quando se dá a recuperação, os pais vão se configurar novamente como um casal, porém o sistema familiar sofre novamente com interações disfuncionais, que vai acarretar outra vez na busca do sintoma, sendo um processo cíclico. Para Kalina (1983), dependência química é o resultado de uma espécie de fuga dos problemas vivenciados no dia a dia do sujeito. No âmbito familiar, há um “escolhido”, que vai ser o culpado por essas tensões e que acaba se tornando dependente químico com o intuito de diminuir e conseguir aguentar fatores como: depressão, tristeza e ansiedade em que se encontra. Segundo Souza, Kantorski e Mielke (2006), o âmbito de recuperação é formado pela união da família, amigos e demais pessoas que são importantes para o usuário. É necessário que as famílias se livrem de preconceitos e busquem informações sobre assuntos relacionados à patologia e, com isso, saber lidar melhor com as articulações que poderão ocorrer por parte do usuário. A participação da família no tratamento já é algo acordado e referido por vários autores que dão ênfase e partilham um pensamento certificado de que todos, dentro do sistema familiar, estão ligados e a mudança no comportamento do usuário provocará melhora em todo o restante da família. Este estudo teve como seu objetivo analisar a importância que o familiar tem no tratamento do dependente, sob o olhar do próprio familiar e do usuário.. 2.. METODOLOGIA Consiste em uma pesquisa de campo transversal, com teor quantitativo, com o objetivo de analisar a importância que o familiar exerce no tratamento do usuário, sob olhar do próprio dependente e do familiar. A pesquisa foi realizada com indivíduos que frequentam grupos de apoio/reabilitação no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS ad) da Prefeitura Municipal do Rio Grande e no Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). A aplicação do instrumento foi na totalidade dos indivíduos que estavam em atendimento nos locais estabelecidos, no período de um mês. A seleção desses se deu. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(4) 154. A importância da família no tratamento do dependente químico. através da disponibilidade dos mesmos a participarem. Foram excluídos aqueles que não tinham condições de responder ao instrumento, por estarem em uso de alguma substância química no momento das entrevistas, desta forma, ficando incapacitados de responder as questões abordadas. Também foram entrevistados os familiares, com um instrumento de onze perguntas, resultando em uma amostra de vinte e cinco familiares, enquanto o instrumento utilizado nos usuários, contou com quinze perguntas, onde a amostra foi de cinquenta e três usuários. Cada aplicação levou em média, dez minutos e as abordagens foram realizadas individualmente. Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa sob o parecer número 75850. A entrevista foi aplicada pela pesquisadora responsável. A análise dos dados foi realizada através do programa estatístico Statical Package for the Social Science (SSPS) – versão 13.0 (1999) para Windows e teve como objetivos, obter as frequências de todas as variáveis de interesse, examinar as suas distribuições e escolher pontos de corte para as variáveis quantitativas. O teste Qui – quadrado foi utilizado, com objetivo de descrever a amostra segundo a prevalência associada às variáveis independentes.. 3.. RESULTADOS Resultado do instrumento aplicado aos familiares A amostra foi composta de 25 familiares, que participam de grupos de apoio a famílias nos centros já citados. A idade média desses indivíduos foi de 53 anos, variando entre 37 até 68 anos, distribuídos de 37 a 47 anos (28%), 48 a 57 anos (28%) e 58 e 68 anos (44%). Em relação ao gênero, 16% são do gênero masculino, enquanto 84% feminino. Destes, 84% tem o ensino fundamental incompleto, 12% o ensino fundamental completo e 4% o ensino superior. Dentre as profissões, 48% são autônomos, 48% aposentados e 4% professores. Quanto ao grau de parentesco, predominam as mães (64%), seguido por pai (16%), cônjuge (16%) e irmão (4%). No que diz respeito a quando este familiar percebeu o uso, 44% perceberam algum tempo após o início, 28% perceberam no início do uso e 24% quando já estava em estado avançado. Os familiares dos usuários, em sua maioria, acreditam que o meio que o usuário vivia foi determinante para que ele iniciasse o uso (40%), enquanto outros acreditam que foram problemas pessoais, como falta de emprego, separação, entre outros (36%) e os outros 24%, atribuem o início do uso devido à falta de apoio familiar.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(5) Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva. 155. No que se refere ao apoio familiar ser essencial ao tratamento, os familiares, em sua maioria (84%), disseram ser fundamental, enquanto 8% acreditam ser indiferente e 4% dos familiares, dizem não ser essencial o apoio para que o parente se mantenha no tratamento. (Gráfico 1). Em caso de recaída, 96% propiciam ajuda e apenas 4% dizem não ajudar caso isto venha a acontecer. Os familiares acreditam que 88% dos parentes reconhecem o apoio, enquanto 8% é indiferente ao apoio familiar e 4% dizem que o usuário se sente pressionado. Por fim, estes familiares atribuem valores de um a cinco, ao valor que o apoio familiar tem no tratamento de seu parente, onde 72% atribuem o valor máximo, 20% o valor quatro e 4% o valor três e alguns não souberam dar um valor ao apoio familiar (4%). (Gráfico 3). Associando as seguintes variáveis: grau de escolaridade e quando percebeu o uso de drogas do familiar, obteve-se o seguinte: familiares com ensino fundamental incompleto, perceberam o uso no início (85,7%), enquanto os que têm o ensino fundamental completo perceberam o uso em estado avançado (16,7%) e os que têm o terceiro grau, perceberam em estado avançado também (9,1%). No entanto, não foram diferenças estatisticamente significativas (P: 0,999).. Resultado do instrumento aplicado com usuários A amostra de usuários foi composta por 53 indivíduos, onde 73,6% são do gênero masculino e 26,4% do gênero feminino. A média de idade entre eles foi de 37 anos, distribuídos de 15 a 21 (15%), 22 a 31 (24,5%), 32 a 41 (18,9%), 42 a 51 (18,9%) e 52 a 63 (22,6%). Em relação ao estado civil, os solteiros são a maioria (58,5%), os casados 28,3% e os separados são 13,2%. O grau de escolaridade dos mesmos varia entre ensino fundamental incompleto (50,9%), ensino fundamental completo (20,8%), ensino médio completo (15,1%), ensino médio incompleto (9,4%) e terceiro grau incompleto (3,8%). Desses, predominam autônomos (77,4%), seguidos por estudantes (17%) e aposentados (5,7%). Da amostra obtida, há um predomínio de indivíduos que moram com a mãe (45,3%), seguidos pelos que moram com cônjuge (35,8%), também os que moram sozinhos (11,3%), os que moram com irmão (5,3%) e apenas 1,9% moram com a figura paterna. A maioria dos usuários iniciou o consumo antes dos quinze anos (34%), até os 20 anos (41,5%), depois dos vinte anos (20,8%) e com mais de trinta anos (1,9%). Eles. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(6) 156. A importância da família no tratamento do dependente químico. acreditam em sua maioria, que iniciaram o uso por falta de apoio familiar (32,1%), outros acreditam que tenha sido a falta de apoio familiar, mas não foi o único fator (26,4%), existem os que acreditam que a família contribuiu quase nada para que iniciassem o uso (15,1%) e os que acreditam que a família foi indiferente para isto formam (3,8%) e uma parcela diz que a família não contribuiu em nada para o início do uso 22,6%. Grande parte acredita que o meio foi influente para iniciar o uso (58,5%), outra parcela diz que o meio contribuiu bastante, porem existem outros fatores aliados (32,1%), uma parte diz que contribuiu muito pouco (3,8%) e os que dizem não ter contribuído formam 1,9%. No que se refere à contribuição familiar para o sucesso do tratamento, os usuários consideram fundamental (62,3%), outros consideram que contribui bastante, mas não é fundamental totalizando 20,8%, enquanto os que consideram indiferente, ou não contribui em nada formam 11,4% e os que dizem contribuir muito pouco (1,9%). (Gráfico 1). Gráfico 1. Contribuição familiar ao tratamento.. Quanto à recaída, os usuários consideram que o apoio vai ser fundamental para retomar o tratamento (58,5%), outros acreditam que contribui bastante (20%), a contribuição é pouca (9,4%), para alguns não contribuiu em nada (7,5%) e para alguns esse auxílio se configura como indiferente (3,8%). (Gráfico 2). Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(7) Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva. 157. Gráfico 2. Recaída.. Se existisse uma maior contribuição, um maior auxílio da família no enfrentamento do tratamento, uma grande parcela acredita que contribuiria bastante chegar à reabilitação (56,6%), outros consideram que esse fato seria de suma importância, se caracterizando como fundamental (18,9%), alguns dizem que a família já contribui o bastante e se configura como algo indiferente (5,7%), enquanto os que acham que contribuiria muito pouco ou não contribuiria em nada são 7,2%. No que se refere na união do tratamento com o apoio recebido pelos familiares, 58% dos usuários, dizem ter recuperado amizades, convivência familiar, bens materiais, 22,6% dizem que contribui bastante, mas não são os únicos fatores, os que acreditam contribuir pouco são 9,4%, os que acreditam ser indiferente a união desses fatores são 5,7% e os que dizem não contribuir em nada formam 1,9%. Quanto aos valores atribuídos à importância familiar, em uma escala, onde cinco corresponde ao maior valor e um ao menor, a maioria dos usuários considerou que a família recebe o valor máximo (71,7%), 11,4% o valor quatro, apenas 1,9% atribuiu o valor três, seguidos por dois que abrangeu 5,7% enquanto o valor mínimo foi atribuído por 9,4% dos participantes. (Gráfico 3).. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(8) 158. A importância da família no tratamento do dependente químico. Gráfico 3. Escala de valor atribuído ao apoio da família.. 4.. DISCUSSÃO Segundo Sharanck e Olschowsky (2007, p. 129): A família consiste em uma unidade cuidadora, nas situações de saúde e doença de seus membros. Assim o tratamento não se restringe a internações e medicamentos, mas em ações e procedimentos que visem à reintegração familiar, bem como uma melhoria na qualidade de vida do doente e do familiar.. Desta forma, através dos resultados podemos observar a mencionada importância da família na participação do tratamento dos usuários. Indicou que as mães são a maioria dentro dos centros de apoio, elas compõem 64%, enquanto cônjuge 16%, pai 16% e irmãos apenas 4%. Esses familiares constituem uma parte de suma importância no tratamento da dependência química, onde se deve incluir o maior número de pessoas desde a família nuclear até a família extensa. Quanto mais cedo forem incluídos os familiares no tratamento, melhores as chances de adaptação e engajamento do usuário (SEADI; OLIVEIRA, 2009). No que se refere à importância do apoio durante o tratamento, tanto os familiares, quanto os usuários em tratamento, consideram fundamental o apoio e participação da família para se manterem no tratamento e consequentemente, recuperarem bens, convívio com amigos, coisas que com o uso de drogas haviam perdido. Isso vai ao encontro do que Kalina (1999, apud MOREIRA, 2004) enfatizou: “A família está sendo focalizada em diversas modalidades de tratamento em saúde. A importância da sua colaboração para adesão e manutenção de programas já oferecidos, foi mencionada e. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(9) Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva. 159. estudada em diversos trabalhos científicos, principalmente no que se refere à saúde mental”. É interessante observar o fato de que os familiares não atribuem o fato de seu parente ter iniciado o uso de substâncias por falta de apoio ou suporte familiar, eles atribuem o fato ao meio que estão inseridos ou a problemas pessoais. No entanto, deve-se, de acordo com Seleghin, Marangoni, Marcon e Oliveira (2011), salientar que a família é um dos elos mais importantes que pode levar ao uso de drogas, assim como atuar como fator de proteção. A falta do apoio dos familiares e de uma hierarquia configura um espaço favorável ao uso de substâncias. Atitudes permissivas, o uso dentro do próprio ambiente familiar, falta de controle sobre os filhos, são fatores que tendem a dar continuidade ao uso ou iniciar o consumo de drogas. Ainda explicam Hermeto, Sampaio e Carneiro (2010), que o uso de drogas é uma espécie de fuga, fazendo o papel de entidade protetora, enquanto o indivíduo está sendo recusado e excluído pelos demais que o cercam. Desta forma recorrem ao uso de drogas, como forma de terem atenção, de serem colocados em primeiro plano dentro do âmbito familiar, com isso, a família também deixa de lado seus problemas, colocando toda sua atenção e tensões em cima do usuário, formando um ciclo, que pode indicar a sobrevivência familiar. Como resultado do cruzamento do gênero com a idade, o estudo indica que a maioria são homens, que iniciaram o uso antes dos 15 anos de idade (43,6%), enquanto as mulheres iniciaram até os 20 anos 53,8% (P = 0,035), o que corrobora com as ideias de Broecker e Jou (2007), onde as primeiras experiências com drogas ocorrem na adolescência, quando as regras começam a serem questionadas, se sentem fora do contexto familiar e querem pertencer a algum grupo, época esta que também ocorre o primeiro conflito dentro do núcleo familiar. Já no que se refere ao gênero, como lembra Elbreder, Laranjeira, Siqueira e Barbosa (2008), pesquisas indicam que o consumo está aumentando entre as mulheres e devido ao efeito das drogas acontecerem de uma forma mais lenta, elas tem uma predisposição maior em relação aos prejuízos causados pelo consumo. Também costumam abandonar o tratamento antes do término, o que pode justificar o número ínfimo de mulheres nos centros de tratamento. De acordo com Halpern (2001, apud SEADI; OLIVEIRA 2009): “Para cada pessoa que utiliza alguma substância psicoativa, se tem ideia de que quatro ou cinco pessoas também serão afetadas direta ou indiretamente.” Quando se dá a recaída de um dependente, acaba envolvendo uma grande parte dos familiares, tentando solucionar o acontecido. Uma grande parcela dos usuários (58,5%) considera que, quando há recaída, o apoio familiar se configura como algo fundamental, enquanto 96% desses familiares de. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(10) 160. A importância da família no tratamento do dependente químico. usuários em tratamento dizem que quando acontece a recaída ajudam seu familiar. Para Rigotto e Gomes (2002), a recaída consiste em: “um retorno ao uso de drogas após um determinado período de abstinência.” Essa experiência de recaída é associada a situações como falta de apoio familiar, falta de acompanhamento, reencontro com amigos usuários, tal como frustração diante algumas circunstancias de sua vida. Outro dado de suma importância é o fato de terem poucos familiares de usuários nos centros de tratamento. Diante do uso abusivo de drogas, a família se coloca em uma situação que não estava prevendo ou esperando, focando na droga e não no sujeito que está usando. Não reconhece de imediato que o familiar necessita de apoio e não admite que a drogadição está instalada. O familiar vê a droga como algo externo ao meio familiar, pertencente aos amigos e conhecidos. A família se configura co-dependente deste problema. Muitas vezes, desejam o imediatismo, eliminar o problema rapidamente, não conseguindo lidar com as frustrações advindas durante o tratamento (ZEMEL 2001). Ainda lembra Moraes et al. (2009), que esses familiares que são co-dependentes, têm dificuldades de aceitar e buscar ajuda, tornam-se extremamente dependentes de seu parente usuário, não conseguem impor regras nem limites, deixando de lado sua própria vida e afazeres, sentindo-se úteis somente frente ao dependente químico. Por consequência, esses familiares acreditam que estão ajudando seu parente adicto, no entanto, na maior parte das vezes estão dificultando o tratamento. “A esfera familiar tem um papel importante nas condições tanto ao uso abusivo de drogas (...) quanto aos fatores de proteção, funcionando igualmente como um antídoto, quando o uso de drogas já estiver instalado.” (LIDDLE; DAKOFF 1995, apud SCHENKER; MYNAYO, 2004).. 5.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como finalidade analisar a importância dos familiares no tratamento do dependente químico, entendendo que a família compõe um sistema e todos os componentes desse sistema influenciam o comportamento uns dos outros. São os familiares que exercem o papel de motivadores ou desmotivadores no percurso do tratamento do farmacodependente, ficando evidente sua importância. Foi observado um número pequeno de familiares dentro dos centros de tratamento, onde mães são em maior número. Devemos levar em conta que a dependência química é uma doença, porém é importante salientar que essa patologia, indica que alguma coisa dentro do contexto familiar não está bem e, com esse filho ou. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

(11) Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva. 161. esposo (ou qualquer outro familiar) estando doente, tira todo o foco de cima do outro problema existente no meio familiar e com isso mantêm o equilíbrio entre os membros dessa família. Diante disso, fica claro que trazer a família para o tratamento é um dos meios mais concretos de chegar à reabilitação dos familiares. Com a família participando de grupos, sabendo como lidar em casos de recaída, vai permitir que esses familiares também sejam acompanhados. Salienta - se a importância de novas pesquisas acerca deste tema, uma vez que se trata de um tema relevante e de importância para o meio acadêmico e sociedade em geral. Sugere-se pesquisas que priorizem sobre as mães que são a prevalência de familiares que participam desses grupos.. REFERÊNCIAS BROECKER, Carla Zart; JOU, Graciela Inchausti de. Práticas educativas parentais: a percepção de adolescentes com e sem dependência química. Psico-USF, Itatiba, v.12, n.02, dez. 2007. Disponível em: <http//www.scielo.br/scielo.php¿script=sci_arttext&pid=S141382712007000200015& lng=pt&nrm=isso>. Acesso em: 08 maio 2012. ELBREDER, Márcia Fonsi et al . Perfil de mulheres usuárias de álcool em ambulatório especializado em dependência química. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 57, n. 1, 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S004720852008000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 nov. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852008000100003. HERMETO, Edyr Marcelo Costa; SAMPAIO, José Jackson Coelho; CARNEIRO, Cleide. Abandono do uso de drogas ilícitas por adolescente: importância do suporte familiar. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 34, n 3, p. 639-652, 2010. Disponível em: <http://pesquisa.bvsallud.org/ regional/resources/lil-592259>. Acesso em: 06 maio 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S010356652009000200008. KALINA, Eduardo. Psicologia do Fumante. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. KALINA, Eduardo; KOVADLOFF, Santiago. Drogadição, família e sociedade. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. LEHNEN, Lacete. A taxomania e a cadeia circular das interações familiares – a terapia familiar como teoria para a reconstrução da cidadania. Revista Psicologia – ciência e profissão, v.16, p.1824, 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v16n2/05.pdf>. Acesso em: 23 set. 2012. MINUCHIN, Salvador; FISHMAN Charles H. Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. MORAES, Leila Memória Paiva, et. al. Expressão da codependência em familiares em dependentes químicos. Rev. Min. Enferm., v.13, n.1, jan./mar. 2009. Disponível em: <http://www.enf.ufmg.br /site_novo/modules/mastop_publish/files/files_4c0e47a93ae90.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2012. MOREIRA, Maria Stela Setti. A dependência familiar. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 5, n.5, dez. 2004 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1677-29702004000100015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 11 nov. 2012.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162.

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