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Everton Ricardo dos Reis DEFICIÊNCIA FÍSICA E A ATIVIDADE TURÍSTICA EM MINAS GERAIS

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Academic year: 2021

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Everton Ricardo dos Reis

DEFICIÊNCIA

FÍSICA

E

A

ATIVIDADE

TURÍSTICA

EM

MINAS GERAIS

Belo Horizonte-MG

Centro Universitário UNA

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Livros Grátis

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Everton Ricardo dos Reis

DEFICIÊNCIA

FÍSICA

E

A

ATIVIDADE

TURÍSTICA

EM

MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Turismo e Meio Ambiente.

Área de Concentração: Turismo e Meio Ambiente

Orientador: Prof. Dra. Marta Araújo Tavares Ferreira

Belo Horizonte

Centro Universitário UNA

Junho / 2008

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R375d Reis, Everton Ricardo dos

2008 Deficiência física e a atividade turística em Minas Gerais/ Everton Ricardo dos Reis. - 2008

98 f.: il.

Orientador: Marta Araújo Tavares Ferreira

Dissertação (mestrado) – UNA – Centro Universitário Una, 2007.

Inclui bibliografia.

1. Deficiente físico – tese. 2. Turismo – Minas Gerais – tese. 3. Acessibilidade – tese. I. Marta Araújo Tavares Ferreira. II. UNA. III. Título.

CDU: 380.8

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"Às pessoas portadoras de deficiências, assiste o direito, inerente a todo a qualquer ser humano, de ser respeitado, sejam quais forem seus antecedentes, natureza e severidade de sua deficiência. Elas têm os mesmos direitos que os outros indivíduos da mesma idade, fato que implica desfrutar de vida

decente, tão normal quanto possível". Artigo 3º da Declaração dos Direitos das Pessoas

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AGRADECIMENTOS

Ao terminar este trabalho, realizado ao longo de mais de dois anos, sou grato a Deus que me concedeu a graça da dedicação para alcançar com plenitude o objetivo estabelecido.

Com muito carinho, agradeço ao grupo de deficientes da Associação Mineira de Paraplégicos e demais atores que participaram da minha pesquisa, pois sem a ajuda deles já mais teria conseguido fazer este estudo.

Ao Ailton Cunha, que foi muito compreensivo nas diversas horas em que não me foi possível lhe dar a devida atenção e que me apoiou e me estimulou durante todo o período de realização do Mestrado.

Agradeço a Professora Marta Araújo, minha orientadora, pela dedicação, paciência e estímulo sempre disposta a me atender nas horas que entrava em “parafuso” durante a preparação desta dissertação.

Aos meus familiares, principalmente aos meus pais: José Tomé e Elza, minhas irmãs Rosane e Lena, pela amizade, carinho e compreensão, durante este período.

A amiga Paula Ziviani, pelo apoio e incentivo, além da ajuda nos momentos difíceis.

Agradeço aos Professores componentes da banca examinadora, Eloísa Helena Santos, e Prof. Nelson Antonio Quadros, pela colaboração com que realizaram a análise e sugestões que enriqueceram esta pesquisa.

Agradeço ao Centro Universitário UNA, em especial a pessoa do Átila Simões, pelo apoio. Não poderia deixar de agradecer aos mentores Professora Elaine Linhares e Professor Wagner Saleme, que sempre me incentivaram durante todo o período do mestrado.

A todos os Professores do programa mestrado e as colegas Kândice e Andréia da Pró-Reitoria de Pós Graduação, e todos outros que de alguma forma, contribuíram para esta dissertação, meu muito obrigado.

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RESUMO

O estudo faz uma análise das condições de acesso dos portadores de deficiência física de Minas Gerais à atividade turística: traz um levantamento da legislação vigente no país relativa ao acesso dos portadores de deficiência física à atividade e descreve o turismo como um fator de inclusão social. O estudo tem como objetivos específicos analisar como o setor de turismo tem atendido a este público a partir da percepção dos portadores de deficiência física e de lideranças de associações representativas. Optou-se pela realização de pesquisa qualitativa com caráter exploratório Neste sentido, feito grupo focal com deficientes físicos e entrevistas individuais com os representantes de associações empresariais de turismo assim como lideranças de associações de deficientes de Minas Gerais. Foi possível perceber nas informações coletadas que grupo de deficientes físicos ainda possuem muitas dificuldades para a prática do turismo, principalmente pela falta de acessibilidade e disponibilidade econômica. Percebe-se uma melhora nos problemas enfrentados pelo deficiente de maneira geral, mas o acesso ao turismo ainda é uma das questões que merecem maior atenção por parte do poder público, das associações de deficientes e, principalmente, de associações empresariais turísticas.

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ABSTRACT

This study presents assessment conditions analysis of disabled persons for tourist activities in the Minas Gerais state. The Brazilian legislation was analyzed related to disabled and their access to tourism activities, describing tourism as a factor of social inclusion. The purpose of this study was to analyze how tourism sector has treated this segment of the society, from the starting point perception of both, disabled persons and the leaders of representative associations. For methodology, a qualitative research of exploratory nature was carried out. A focal group with disabled persons and individual interviews with the representative of entrepreneur tourism associations and the leadership of associations for the disabled, of Minas Gerais state. Data revealed that disabled persons still face difficulties to access tourism activities, due, mainly, to the lack of both, accessibility and financial resources. A slight improvement in the conditions to attend disabled, was verified in tourism, but this is, still, one of the questions that deserve attention from public authorities, associations for the disabled, and, mainly, from entrepreneur tourism associations.

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Caracterização do Grupo Focal ... 46 Quadro 2 Quadro Comparativo das Percepções dos Diferentes Atores... 70

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIH–MG - Associação Brasileira das Indústrias Hoteleiras

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRASEL– MG - Associação Brasileira de Bares e Restaurantes

AMP - Associação Mineira dos Paraplégicos

BITS - Bureau Internacional de Turismo Social

CAADE - Centro de Apoio e Assistência a Pessoa com deficiência

CONADE - Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de

Deficiência

EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LER - Lesões por Esforços Repetitivos

MG - Minas Gerais

NBR - Norma Brasileira

OMS - Organização Mundial de Saúde

OMT - Organização Mundial do Turismo

ONU - Organização das Nações Unidas

PDF - Portador de Deficiência Física

PMR - Pessoa com Mobilidade Reduzida

PNDH - Programa Nacional de Direitos Humanos

PNE - Portadores de Necessidades Especiais

PNT - Plano Nacional do Turismo

PPD - Pessoas Portadoras de Deficiência

SESC - Serviço Social do Comércio

UH’s - Unidades Habitacionais

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LISTA DE APENDICES

APÊNDICE I Instrumento de pesquisa I- Grupo focal – Deficientes físicos

APÊNDICE II Instrumento de pesquisa II- Representantes de associações empresariais

APÊNDICE III Instrumento de Pesquisa III- Líderes de Associações de Deficientes

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ...11

2 TURISMO E ACESSIBILIDADE ...15

2.1 Deficiência e Inclusão Social...15

2.2 Deficiência Física e Mobilidade Reduzida ...19

2.3 O Turista Portador de Necessidades Especiais: Legislação e Normas...22

2.4 Turismo Inclusivo ...25

2.5 Qualidade Turística para Pessoas com Necessidades Especiais ...31

2.6 Turismo Social...34

2.6.1 O Turismo Social na Europa ...36

2.6.2 O Turismo Social no Brasil...39

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...42

3.1 Caracterização da Pesquisa:...42

3.2 Técnicas de Pesquisa ...43

3.3 Instrumentos de Coleta de Dados ...44

3.4 Tratamento e Análise das Informações Coletadas...44

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...45

4.1 A Percepção dos Deficientes ...45

4.2 A Percepção dos Representantes de Associações de Deficientes ...54

4.3 A Percepção dos Representantes de Associações Empresarias do Setor de Turismo ...61

4.4 Comparação e Análise dos Resultados ...69

5 CONCLUSÃO ...80

REFERÊNCIAS...83

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1 INTRODUÇÃO

Diversos segmentos sociais, tais como os sem-terra, os índios e tantos outros excluídos, estão lutando pelos seus direitos de inclusão na sociedade. Como esses, há um outro grupo de excluídos conhecidos como “Pessoas Portadoras de Deficiência” (PPD), que também não têm acesso aos serviços aos quais têm direito.

Para Silva (2004) tais pessoas têm dificuldades de participação social, e de alguma forma não conseguem usufruir dos bens e espaços coletivos pensados e planejados para as pessoas “normais”. Sendo assim, o problema dos portadores de deficiência pode ser considerado uma das graves questões sociais brasileiras. No entanto, para que sejam realizadas intervenções em seu benefício, torna-se necessário primeiramente conhecê-los, saber como vivem, ter em vista suas expectativas, necessidades e alternativas.

Sabe-se de antemão que as pessoas com deficiência não constituem um grupo homogêneo, pois os tipos de deficiência e as questões relacionadas com a deficiência são muito variáveis. As deficiências podem ser visíveis ou ocultas, graves ou ligeiras, únicas ou múltiplas, crônicas ou intermitentes (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2000).

Dentro desse contexto, várias são as formas de se agrupar e de definir as deficiências, levando-se em consideração, entre outros pontos, a forma como as pessoas se integram na sociedade. A classificação mais difundida e aceita no Brasil é a proposta pela ONU e compreende as seguintes categorias:

a) Deficiência física: é todo comprometimento da mobilidade, coordenação motora geral ou da fala, causado por lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas ou ainda por má formação congênita ou adquirida;

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b) Deficiência sensorial: está dividida em auditiva e visual:

 Visual: é caracterizada por uma limitação no campo visual. Pode variar de cegueira total à visão subnormal. Neste caso, ocorre diminuição na percepção de cores e mais dificuldades de adaptação à luz;

 Auditiva: é a perda total ou parcial da capacidade de compreender a fala através do ouvido. Pode ser surdez leve - nesse caso, a pessoa consegue se expressar oralmente e perceber a voz humana com ou sem a utilização de um aparelho. Pode ser ainda, surdez profunda;

c) Deficiência mental: é um atraso ou lentidão no desenvolvimento mental que pode ser percebido na maneira de falar, caminhar, escrever. O grau de deficiência mental varia de leve a profundo; e,

d) Deficiências múltiplas: concomitância de um ou mais tipos na mesma pessoa.

Dentre as várias classes de deficiência, a presente pesquisa pretende estudar o grupo de portadores de deficiência física, pois se acredita que este grupo é o que mais necessita de adaptações para sua inserção na atividade turística.

Documentos internacionais e nacionais tais como a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os pactos internacionais e outros instrumentos relativos a direitos humanos, afirmam que as pessoas que sofrem de deficiência devem poder exercer os seus direitos civis, políticos, sociais e culturais em condições de total igualdade em relação às pessoas não deficientes.

Todos os seres humanos apresentam características diferentes. Mas as pessoas com mobilidade reduzida têm as suas diferenças mais notáveis, pois são portadoras de seqüelas diferenciadoras. Essas diferenças biológicas não podem jamais serem transportadas para as diferenças sociais, pois elas fabricam mecanismos de exclusão, obrigando os “diferentes” a construir um próprio “mórbido”, na medida em que não se “encaixam” e não se reconhecem num mundo que também é deles (RIBAS, 1997, p. 73).

Segundo o Censo do IBGE de 2000, 14,5% da população brasileira é portadora de algum tipo de deficiência.

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A Constituição Federal consagra o lazer como um dos direitos de todos os brasileiros. E sendo o turismo uma atividade de lazer, contribui e muito para o alívio das tensões do mundo moderno, para o equilíbrio psicossocial do indivíduo e para a aquisição do conhecimento.

Nas últimas décadas, vem acontecendo, de forma lenta mas contínua, uma mudança profunda na sociedade, que deixou de esconder a deficiência como se ela fosse uma vergonha familiar e social, passando a considerá-la como uma situação normal que não tem razão para ser ocultada (AGUIRRE, et al. 2005, p.69).

Assim, a Pessoa com Mobilidade Reduzida (PMR) vai exercendo, aos poucos, os seus direitos e ocupando o espaço que textos constitucionais e internacionais lhe outorgam como a qualquer outro membro da sociedade.

Pode-se citar a celebração do Dia do Deficiente (3 de dezembro) e a Década das Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência (1983-1992) como marcos importantes na luta pelo direito das pessoas com mobilidade reduzida, luta essa iniciada em Singapura, no primeiro Congresso da Organização Mundial de Pessoas com Deficiência, em 1981.

Silva (2005) afirma que quem utiliza uma cadeira de rodas para locomoção não quer ser carregado no colo para poder jantar num bom restaurante. Quem busca um hotel, seja ou não portador de alguma deficiência, espera acolhimento e conforto. O acolhimento e a hospitalidade para as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida exigem a quebra de preconceitos e incluem não somente a qualificação dos estabelecimentos, mas também a capacitação de trabalhadores dos diversos segmentos que compõem a rede de produtos e serviços da cadeia turística.

Os portadores de mobilidade reduzida acabam sendo prejudicados para a prática do turismo. São pessoas que enfrentam inúmeras dificuldades para viajar e aproveitar os seus momentos de lazer. Escadas, portas e cadeiras estreitas, calçadas ocupadas por automóveis, prédios públicos e pontos turísticos praticamente inacessíveis são alguns obstáculos que o portador de mobilidade reduzida precisa enfrentar diariamente (EMBRATUR, 1994).

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No contexto de turismo inclusivo, a acessibilidade, que é a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbano por elementos portadores de necessidades especiais (PNE), é um tema a merecer maior atenção, conscientização e sensibilização entre os responsáveis pelos estabelecimentos turísticos, visto que estes, muitas vezes, não possuem infra-estrutura adequada para os portadores de necessidades especiais.

A falta de acessibilidade para portadores de necessidades especiais, ou pelo menos parte deles, demarca uma separação de pessoas “os cidadãos bem vindos e os cidadãos indesejados na infra-estrutura turística” (MELO, 2005).

A impossibilidade de uma pessoa realizar uma tarefa simples como se hospedar em um hotel ou freqüentar restaurantes pode funcionar como fator de exclusão social, entrando em contradição com as leis federais e também com as normas da EMBRATUR que “visam proporcionar às pessoas portadoras de deficiência, condições seguras e adequadas de recepção e acessibilidade autônoma a edificações e equipamentos de interesse turístico” (EMBRATUR, 1996).

Apesar da importância do tema, constata-se a existência de reduzida literatura sobre a situação do portador de necessidades especiais na prática do turismo e do lazer, poucos artigos científicos podem ser citados dentre eles o trabalho de Melo, Megali, Ferreira e Vieira Filho (2006), ressaltam sobre o tema da Acessibilidade na infra-estrutura turística de Tiradentes – MG. Portanto, a presente pesquisa buscará contribuir para a reflexão sobre esta questão.

O objetivo principal que motivou a realização deste trabalho foi analisar as condições de acesso dos portadores de deficiência física de Minas Gerais à atividade turística. Este objetivo foi desmembrado nos seguintes objetivos específicos: levantar a legislação vigente no país relativa ao acesso dos portadores de deficiência física à atividade turística; analisar como o setor de turismo tem atendido a este público a partir da percepção dos portadores de deficiência física e de suas lideranças e representantes do setor de turismo.

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2 TURISMO E ACESSIBILIDADE

2.1 Deficiência e Inclusão Social

Atualmente, não é difícil deparar-se com a desinformação e a presença de preconceitos e discriminação que atingem as pessoas com deficiências.

Para se entender o desprezo e o preconceito para com essas pessoas portadoras de necessidades especiais se faz necessário recorrer-se à história.

O tratamento destinado às pessoas com deficiência variou conforme a sociedade, dentro de contextos histórico-culturais e sócio-políticos distintos. Segundo Silva (1987), podem-se observar dois tipos de atitudes em relação a esse público ao longo dos tempos: ora uma postura de aceitação, tolerância, apoio e assimilação, ora uma atitude de exclusão, eliminação ou menosprezo.

Nas culturas de menor escala, nas quais predominava o estilo de vida nômade, os incapazes de assegurar a própria sobrevivência por meio da caça, da pesca, de resolver a questão do seu abrigo e vestimenta, eram vistos como aqueles que poderiam colocar em risco a própria sobrevivência do grupo. Diante disso, pessoas com deficiências eram, não raramente, abandonadas à própria sorte, condenadas à morte por fome ou ainda serviam de alimento para animais mais ferozes.

Dentre os gregos antigos, em Esparta, predominavam os ideais atléticos e clássicos, base da organização sócio-cultural da época e que tornavam absolutamente legítimos a exclusão e o abandono de crianças com deficiência física ou mental, então consideradas como criaturas sub-humanas (PESSOTI, 1984).

Por influência do Cristianismo, a partir do século VI, as pessoas portadoras de necessidades especiais passaram a ser consideradas “filhas de Deus”, sendo da divindade a responsabilidade pela deficiência, e a aparente aceitação dessas pessoas passou a ser marcada pela compaixão, tolerância e caridade. Já na Idade

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Média, os indivíduos que apresentavam “desvios de conduta”, anormalidade ou ausência de alguns dos sentidos eram associados à presença de espíritos malignos e bruxaria.

Durante o período renascentista, surgiram os primeiros avanços nos campos da educação e da ciência, interferindo nos valores morais e éticos das pessoas em relação à questão da deficiência, trazendo grandes avanços no campo da reabilitação física (CARMO, 1991).

No século XVIII surgiram as primeiras instituições que passaram a abrigar pessoas com deficiência. Contudo, ao mesmo tempo em que garantiam moradia e alimentação, também “escondiam” e isolavam o incômodo e o inútil, condenando pessoas com deficiência à marginalização, à segregação, ou seja, à exclusão social.

Existem atualmente inúmeras organizações da sociedade civil, a maioria presidida e composta por pessoas que possuem algum tipo de necessidade especial, com a finalidade de reivindicar em defesa dos direitos de sua classe. Pode-se apontar como exemplo de tais reivindicações, só para citar algumas situações corriqueiras: transportes públicos com elevadores adaptados, acessos a pontos turísticos ou a serviços públicos como rampas e banheiros adaptados, centros de informações em braile, uso de cães-guia na circulação livre pelas vias da cidade e dentro de museus, hotéis, pinacotecas, centros de lazer e outros recintos onde seja proibida a entrada de animais.

A deficiência deve ser reconhecida como capacidade restrita não desejada, e é importante que essa consciência social seja propagada. A resolução do problema virá essencialmente das ações coletivas promovidas pelas várias frentes:

Ação coletiva que, concretamente, se expressa no planejamento e nas ações social, setorial e multisetorial, em pesquisas científicas e tecnológicas, em campanhas de prevenção e tratamento, na construção de centros adequados, na legislação pertinente, na atuação associativa, na promoção de ajuda mútua, etc (AGUIRRE, et al. 2005, p.35).

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Somente a clareza sobre essa problemática pode viabilizar a obtenção de recursos necessários para se implementar soluções eficazes. É muito relevante a participação dos organismos públicos com vontade política para a discussão do problema, uma vez que a busca pela conscientização popular é um primeiro grande passo para a inclusão social das pessoas com necessidades especiais.

Em uma análise mais rigorosa, verifica-se que o debate em torno da deficiência tem como preocupação fundamental evitar a rotulação do ser humano ou a estigmatização que advém dos desqualificados termos deficiente, anormal, incapaz (CARMO, 1991).

No “senso comum”, por exemplo, os conceitos de “anormalidade” e “normalidade” são freqüentemente utilizados; no entanto, poucas pessoas conseguem indicar claramente os limites do que é normal ou anormal, quer numa mesma cultura ou em culturas diferentes (CARMO, 1991).

Os conceitos são fundamentais para o entendimento das práticas sociais. Eles moldam ações e permitem analisar programas, serviços e políticas sociais, pois os conceitos acompanham a evolução de certos valores éticos. Portanto, é imprescindível dominar os conceitos inclusivistas para que se possa ser participante ativo na construção de uma sociedade que seja realmente para todas as pessoas, independente da cor, idade, gênero, tipo de deficiência e qualquer outro atributo pessoal (SASSAKI, 1999).

O modelo médico da deficiência tem sido responsável, em parte, pela resistência da sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para incluir em seu seio as pessoas portadoras de deficiência, para que essas possam, aí sim, buscar o seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Este modelo médico da deficiência designa um papel passivo aos deficientes, e nele os deficientes são considerados dependentes do cuidado de outras pessoas, incapazes de trabalhar, isentos dos deveres normais, levando vidas inúteis (SASSAKI, 1999).

É sabido que a sociedade sempre foi de um modo geral, levada a acreditar que, sendo a deficiência um problema existente exclusivamente na pessoa deficiente,

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bastaria prover-lhe algum tipo de serviço para solucioná-lo. Porém, estes serviços devem ser feitos com elas e não para elas, para que efetivamente haja inclusão social (SASSAKI, 1999).

A idéia de integração surgiu para derrubar a prática da exclusão social a que foram submetidas às pessoas deficientes por vários séculos. Se algumas culturas simplesmente eliminavam as pessoas deficientes, outras adotavam a prática de interná-las em instituições de caridade, junto com doentes e idosos. Essas instituições serviam basicamente para dar abrigo, alimento, medicamento e alguma atividade para ocupar o tempo ocioso. A década de 60 testemunhou o boom de instituições especializadas, tais como: escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas de trabalho, clubes sociais especiais, associações desportivas especiais. Mais ou menos a partir do final década de 60, o movimento de integração social começou a procurar inserir as pessoas portadoras de deficiência nos sistemas sociais gerais, como: a educação, o trabalho, a família e o lazer (SASSAKI, 1999).

Conceitua-se a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluídas e a sociedade buscam em parceria equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos (SASSAKI, 1999).

Para CECCATO (2004), para incluir todas as pessoas, a sociedade precisa ser capaz de entender às necessidades de seus membros. O desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação, qualificação profissional, etc.) das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro de um processo de inclusão e não como um pré-requisito para estas pessoas poderem fazer parte da sociedade, como se elas precisassem pagar “ingressos” para integrar a comunidade (CLEMENTE FILHO, 1996).

A prática da inclusão social repousa em princípios até então considerados incomuns, tais como: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a

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convivência dentro da mesma diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação. A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade, através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas e do próprio portador de deficiências (SASSAKI, 1999).

2.2 Deficiência Física e Mobilidade Reduzida

Para Silva (2005), a deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, muscular e nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporal (is) afetado (s) e o tipo de lesão ocorrida (REDE DE INFORMAÇÕES SOBRE DEFICIÊNCIA, 2007). Como exemplo e dentre as mais conhecidas, cita-se: lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias); lesão medular (tetraplegias, paraplegias); miopatias (distrofias musculares); patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica); amputações; distúrbios posturais da coluna; lesões por esforços repetitivos (L.E.R.); e seqüelas de queimaduras.

A Organização Mundial de Saúde – OMS (1995) estima que 1/5 (20%) dos deficientes no mundo seriam portadores de deficiência física e dentre os fatores que acarretam tal quadro pode-se apontar a violência urbana, os acidentes do trabalho e desportivos e a falta de saneamento básico.

Já a Lei brasileira Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, define pessoa portadora de deficiência física ou com mobilidade reduzida “a que temporária ou permanentemente tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo”.

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Esse conceito inclui uma grande gama de pessoas e não só as deficientes estão enquadradas neste extenso grupo de pessoas que, entre outros, usufruem os espaços turísticos e que são, frequentemente, desconsideradas em suas necessidades pelos que planejam esses espaços. Cohen e Duarte (2001) estabelecem que pessoas que se locomovem por meio de cadeira de rodas ou de muletas, idosos, gestantes, obesos, pessoas com deficiências temporárias, crianças, portadoras de pequenas cargas e/ou carrinhos de bebê e outros grupos podem ser consideradas como pessoas com dificuldade de locomoção ou portadores de mobilidade reduzida.

Ubiria (1994, p.25) coloca que pessoas com mobilidade reduzida são aquelas que se vêem limitadas em seu deslocamento e estão incluídos nesse grupo não só os hemiplégicos, amputados, portadores de deficiência cardíaca ou respiratória, mas também as mulheres grávidas, os idosos, enfim, uma coletividade muito ampla e importante. Com o avanço da medicina, o número de pessoas com mobilidade reduzida está crescendo cada vez mais. O Brasil tem hoje 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos e a estimativa é de que em 2025 essa população seja o dobro. De acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, a expectativa de vida do idoso hoje no país é de 70 anos, sete a mais do que em 1980. Com uma perspectiva de vida maior depois da aposentadoria, os idosos estão mais dispostos, e procurando atividades fora de casa. No entanto, por conta disso, ficam expostos aos riscos encontrados nas ruas dos grandes centros urbanos. Ainda segundo o estudo, 3,5% das mortes de idosos são provocadas por quedas em lugares públicos e acidentes nos meios de transporte (JORNAL HOJE ON LINE, 2002).

A Comissão das Comunidades Européias (2000), em seu programa “Rumo a uma Europa sem barreiras para as pessoas com deficiência”, ressalta a importância da disponibilidade de dados estatísticos e demográficos e de informações confiáveis sobre as pessoas com deficiência para o planejamento e concepção de medidas que permitam a todos os indivíduos resolver com eficácia e autonomia os problemas da sua vida prática, seja em casa, no local de trabalho ou na sociedade em geral. Estudos mostram que a grande maioria dos países do mundo não possui esses dados de forma satisfatória.

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No Brasil, o Censo de 2000 indicou um número maior de deficiências do que de deficientes, uma vez que as pessoas incluídas em mais de um tipo de deficiência foram contadas apenas uma vez. Foi encontrada uma população de mais de 24,5 milhões de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência, ou seja, 14,5 % da população. A maior proporção se encontrava no Nordeste (16,8%) e a menor no Sudeste (13,1%).

Dos nove milhões de pessoas com deficiência que trabalhavam, 5,6 milhões eram homens e 3,5 milhões, mulheres. Mais da metade (4,9 milhões) ganhava até dois salários mínimos.

Em relação ao rendimento das pessoas ocupadas, verificou-se que as diferenças relacionadas a ser portador ou não de deficiência eram da ordem das diferenças por gênero e ambas menores que o diferencial por cor. Por exemplo, 22,4% da população ocupada sem deficiência ganhavam até um salário mínimo. Entre as pessoas com deficiência, esse percentual era de 29,5%. Entre homens e mulheres que não tinham deficiência, os percentuais eram de 19,3% e 27,3%, respectivamente.

Entre as pessoas com deficiência que trabalhavam, a maior proporção (31,5%) era de trabalhadores no setor de serviços ou vendedores de comércio.

No aspecto educacional, em 2000 a taxa de alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais de idade era de 87,1%. Já entre os portadores de, pelo menos, uma das deficiências investigadas, esta taxa era de 72%. Do total das pessoas com 15 anos ou mais sem instrução ou com até três anos de estudo, 32,9% eram portadoras de alguma deficiência.

O grande diferencial se produz a partir do ensino fundamental completo: nesta classe o percentual de pessoas com deficiência cai para 11%. Ou seja, enquanto no grupo com menos instrução, quase uma entre três pessoas era portadora de deficiência em 2000, entre os que concluíram pelo menos o ensino fundamental, somente uma em cada dez pessoas possuía alguma deficiência.

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Em 2000, o brasileiro vivia em média 68,6 anos e passava 80% da vida sem apresentar nenhuma incapacidade. Assim, a esperança de vida livre de incapacidade era de 54 anos e a população vivia em média aproximadamente 15 anos com algum tipo de incapacidade.

2.3 O Turista Portador de Necessidades Especiais: Legislação e Normas

Diversas são as leis que protegem os direitos das pessoas com deficiência nas mais diversas áreas de atuação. No Brasil, a partir de 1981, o "Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência", algumas leis foram promulgadas com o intuito de garantir o acesso e utilização dos espaços construídos. A constituição federal de 1988 é considerada uma das mais avançadas do mundo no tocante a deficiência (BAHIA, 1998).

Mundialmente, a questão dos direitos humanos das PPD é um assunto de interesse discutido no âmbito de vários organismos internacionais que se preocupam em estabelecer orientações para a garantia destes direitos. Com este objetivo, a Organização das Nações Unidas criou em 1982, o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência tendo como tema “Igualdade e Plena Participação”. Este programa visa orientar os países membros sobre as políticas a serem adotadas em relação à equiparação de oportunidades para as PPD.

Em 1996, o Governo brasileiro elaborou o Programa Nacional de Direitos Humanos, buscando reforçar a Declaração Universal da ONU e garantir os direitos até então conquistados. O objetivo do Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH, elaborado pelo Ministério da Justiça em conjunto com diversas organizações da sociedade civil, foi apresentar propostas concretas de caráter administrativo, legislativo e político-cultural que promovessem e protegessem a plena realização dos direitos humanos no Brasil. O PNDH visou garantir um espaço de igualdade através de um conjunto de recomendações para o atendimento das legítimas reivindicações de inúmeros grupos sociais, incluindo o das pessoas com mobilidade reduzida (PMR).

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A Constituição Brasileira promulgada em 1988 representa um avanço na proteção dos direitos dos cidadãos e das pessoas portadoras de deficiência.

Nos artigos 1º e 3º, reza a Constituição que os fundamentos da nação são promover a dignidade da pessoa humana e garantir o exercício da cidadania para que não haja desigualdades sociais e sejam eliminados quaisquer preconceitos ou discriminações. No artigo 6º assegura a todos os cidadãos e, portanto, aos PMR, direito à educação, ao trabalho, à saúde, à segurança, à previdência social e ao lazer.

Consta ainda da Constituição:

A lei disporá sobre normas de construção de logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência (BRASIL, 1988).

A fim de se efetivar o que manda a Constituição, normas técnicas dirigidas ao portador de mobilidade reduzida passaram a ser discutidas e implementadas no Brasil a partir da década de 80.

Bahia (1998) relata que a primeira Norma Técnica sobre acessibilidade data de 1985 (Adequação das Edificações e do Mobiliário Urbano à Pessoa Deficiente). A elaboração desta norma contou com profissionais de diversas áreas e com a participação de pessoas portadoras de deficiência. Porém esta norma deixava muitas lacunas e falhas, que demandaram uma revisão.

Cohen (2006) aponta que, no Brasil, a acessibilidade ao meio físico das cidades contou com a iniciativa da “Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT”, em conjunto com profissionais de diferentes áreas e com portadores de deficiência, foi elaborado a norma brasileira NBR 9050: “Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Mobilidade a Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos” que veio suprir uma carência de referências técnicas a respeito da questão da acessibilidade. Além de estabelecer definições de acessibilidade, desenho universal e barreira

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ambiental, a NBR 9050 caracteriza os diferentes tipos de deficiência que devem ser levados em consideração no processo de planejamento municipal (BAHIA, 1998).

Segundo MELO; MEGALE, FERREIRA e VIEIRA FILHO,(2005), a NBR 9050, que

entrou em vigor em 30 de maio de 2004, oferece critérios e parâmetros antropométricos para adaptação e construção de edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos às condições ideais de acessibilidade. Esta norma visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente.

Segundo a NBR 9050, os PNE que se deslocam em pé necessitam de vias de locomoção de 0,75cm a 0,90cm de largura para que possam se deslocar de bengala, andador, muletas ou com cão guia. Já para que as pessoas em cadeiras de rodas (cadeirantes) se desloquem em linha reta, elas necessitam de vias de dimensões mínimas de 0,90cm por 1,20m, visto que as cadeiras de rodas medem em média 0,70cm de largura (frontal) e 1,15m de comprimento (lateral). Caso o cadeirante necessite fazer manobra de cadeira de rodas sem deslocamento, ou seja, uma rotação de 360°, é necessário um diâmetro de 1, 50m. Vale ressaltar que, segundo a NBR 9050, em hotéis, motéis, pousadas e similares, cerca de 5%, do total de UH’s (Unidades Habitacionais) devem ser acessíveis, e recomenda-se que outros 10% do total das unidades habitacionais sejam adaptáveis para acessibilidade.

Com relação às instalações internas das UH’s, estas devem seguir as seguintes regras: as camas devem ter altura de 0,46cm; telefones, interfones e similares devem possuir sinais luminosos e controle de volume de som, além de comprimento do fio de 0,75cm; os armários devem ter uma altura mínima de 0,40cm e máxima de 1,20m da altura do piso; os puxadores e fechaduras devem estar em uma faixa de altura entre 0,80 m e 1,20m do piso; as prateleiras devem ter dimensões referenciais para alcance manual de profundidade (0,50cm a 0,55cm).

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As áreas de aproximação, ou seja, o espaço sem obstáculos para que os PNE possam utilizar cadeiras de rodas para manobrar, deslocar-se, aproximar-se e utilizar o mobiliário com autonomia e segurança, devem ter entre 0,25 m e 0,55 m, em função da atividade a ser desenvolvida.

Em relação às mesas ou superfícies para refeições ou trabalho, estas devem ser localizadas junto às rotas acessíveis e preferencialmente distribuídas por todo o espaço do empreendimento com altura entre 0,75cm e 0,85cm do piso. Os balcões de auto-serviço, utilizados em restaurantes ou similares, que dispõem bandejas, talheres, pratos, copos, tempero, alimentos e bebidas, devem estar dentro da faixa de alcance manual citada anteriormente, e os passa-pratos devem ter altura de 0,75cm a 0,85cm do piso.No que diz respeito aos sanitários, a sua localização, altura, dimensão dos acessórios sanitários (toalheiro, papeleiras, saboneteira, espelho, porta-objetos e cabide) bem como do mictório, o acionamento de descarga, o lavatório, o boxe para chuveiro e ducha, a localização ideal para as barras de apoio, além das áreas de circulação, transferência, aproximação e alcance são objeto de especificações pela NBR 9050.

2.4 Turismo Inclusivo

O Art. 2º do Código Mundial de Ética do Turismo diz:

As atividades turísticas devem respeitar a igualdade entre homens e mulheres, devem tender a promover os direitos humanos e especialmente os direitos particulares de grupos especificamente crianças, idosos, deficientes, minorias étnicas e os povos autóctones (BOITEUX, 2003, p.113).

No Brasil, o Decreto nº 3.298, de 20/12/1999, publicado em 21/12/1999, que regulamentou a Lei nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção. Tais normas de proteção asseguram à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, conforme o Art. 2º:

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... à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1989).

Mas, se as leis brasileiras garantem aos deficientes o exercício de seus direitos quanto ao turismo, cultura e lazer, a experiência do turismo inclusivo vai a passos lentos no país. Essa é uma questão que, além de envolver uma série de reflexões e atitudes que fazem alusão ao respeito à diversidade, à solidariedade, à aceitação das diferenças, também precisa passar pela reengenharia de vários processos ligados ao turismo, para que a inclusão possa ser efetivamente concretizada. É preciso, então, compreender como, na prática, se desenvolvem tais processos.

Segundo Ignara (2003, p. 72):

O turismo é uma atividade econômica de prestação de serviços, que tem nos recursos humanos o seu principal elemento. O bom atendimento ao turista é o principal fator de avaliação do produto e existem localidades com enorme potencial turístico que não conseguem decolar seu desenvolvimento pela ausência de investimentos em capacitação de recursos humanos. O turismo depende de uma infinidade de serviços especializados, os quais, por sua vez, dependem de uma infinidade de profissionais com as mais variadas especializações.

Para Martins (2006), as pessoas bem treinadas e capacitadas são fundamentais para o desenvolvimento do turismo e seus diferentes segmentos.

A segmentação de mercado faz surgir nichos cada vez mais especializados, como o do deficiente físico, exigindo uma atenção mais aguçada quanto ao atendimento do cliente.

Segundo Kotler (2000, p. 30), segmentar um mercado é “(...) o ato de identificar e traçar os perfis de grupos distintos de compradores que poderão preferir ou exigir produtos e mix de mercados (ou compostos de marketing) variáveis”. Quando se trata do segmento de mercado de deficientes, a questão envolve importantes iniciativas, porque, para que o deficiente possa desfrutar das mesmas oportunidades, é primordial que haja determinadas condições, tanto de profissionais

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para atendê-lo quanto de mudanças na arquitetura. Assim, em muitos casos lhe é negada a possibilidade de acesso aos produtos ou atrativos turísticos.

Quanto à questão que envolve a prestação de serviços com qualidade na área do turismo, Ruschmann (2002, p. 9) afirma:

trabalhar no turismo significa servir às pessoas, ajudando-as a satisfazer seus desejos de viajar e de viver experiências no seu tempo livre. O sentido principal da profissão é o da prestação de serviços e envolve o cuidado com respeito, dignidade, cortesia e consideração. A satisfação do turista é ponto essencial para o sucesso de qualquer empreendimento ou atuação. As chances profissionais serão maiores para as pessoas conscientes dessa premissa e capazes de colocar os interesses dos clientes acima de tudo.

Martins (2006) afirma que no setor do turismo, um mesmo atrativo é oferecido por vários distribuidores diferentes, porém o que o diferencia é muitas vezes o profissional responsável pelo atendimento que, além dos conhecimentos que a graduação oferece, deve estar atento às mudanças que o setor apresenta, uma vez que o mercado é altamente competitivo.

Em muitos casos em que a prestação de serviços no turismo é realizada sem qualidade, a questão se volta para a falta de profissionais qualificados, sem aperfeiçoamento ou até mesmo sem especialização na área em que atuam. Assim, na atividade turística onde a prestação de serviço é o diferencial, é fundamental que os recursos humanos tenham técnicas e qualidade para atender às necessidades constantes da sociedade (RUSCHMANN, 2002).

Segundo a OMT - Organização Mundial do Turismo (2001, p. 348):

A formação de qualidade em todos os níveis é indispensável para obter profissionais flexíveis, que sejam capazes de satisfazer as necessidades dos clientes e as da própria indústria turística, sentindo-se, ao mesmo tempo, motivados e envolvidos na organização em que trabalham.

A Organização Mundial do Turismo (2001) aponta que, com o aparecimento dos novos setores de prestação de serviços, o conceito de qualidade no atendimento sofreu transformações, uma vez que as atenções anteriormente direcionadas à

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organização se voltaram para o cliente, seu foco principal. Pode-se dizer, então, que esse novo direcionamento acabou por colocar em pauta outros importantes elementos, como a preocupação com a qualidade de vida das pessoas.

Assim, para Barreto (2003), nos dez anos anteriores o turismo vinha apresentando outra realidade, destacando o lazer como uma opção do turismo para o aumento da qualidade de vida da população, neste caso tanto para deficientes de qualquer natureza quanto para os não deficientes. Com foco na inclusão social, Sassaki (2003, p. 33) afirma que: “qualidade de vida é um princípio que passou a ser discutido associado ao movimento de inclusão social das pessoas reconhecidamente excluídas dos direitos de participação na sociedade”.

No entanto, pouco se tem feito quando falamos de turismo inclusivo para deficientes. Apesar de a legislação obrigar hotéis e flats a terem percentuais de suas unidades habitacionais adaptadas aos portadores de deficiências físicas, poucos fizeram tal adaptação. Elas vêm acontecendo aos poucos, e de forma lenta (SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA AOS CEGOS, 1999).

A questão do turismo inclusivo no Brasil é de muita relevância, uma vez que ele pode ser utilizado como uma ferramenta para diminuir as desigualdades sociais, através atividades que proporcionem educação, lazer e cultura às pessoas portadoras de necessidades especiais. Essas atividades turísticas possibilitam o respeito às diferenças e necessidades de cada indivíduo, independentemente de suas limitações, aliando harmonia e respeito às comunidades e locais visitados.

O Governo Federal, ciente da lacuna existente entre o discurso e a realidade, percebeu que em seu “Plano Nacional de Turismo 2003-2006” não se fazia nenhuma referência as PPD. No parecer nº. 13/2003, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (CONADE) fez esta consideração, reconhecendo que a maior parte das cidades turísticas no país apresenta muitas barreiras de acessibilidade, como meios de transporte inadequados, ausência de quartos adaptados para pessoas com deficiência física ou sensorial nos hotéis e restaurantes que não estão adaptados para receber as pessoas portadoras de deficiência (COHEN; DUARTE, 2006).

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Dado a importância de se tratar do tema em nível político nacional, o mais recente “Plano Nacional do Turismo – 2007-2010” tem como principal objetivo a inclusão social. O atual Plano tem por objetivo promover o turismo como fator de desenvolvimento regional; assegurar o acesso a todas as camadas da população, inclusive de baixa renda, priorizando os segmentos de aposentados, jovens e trabalhadores; melhorar a qualificação profissional e ampliar a geração de emprego e renda. Com a melhoria da infra-estrutura do País e o reforço na qualificação profissional, o PNT tem por meta organizar 65 destinos turísticos em 27 unidades da Federação, com padrões internacionais de mercado, para alcançar a marca histórica de 217 milhões de viagens internas/ano, em 2010. Em 2005, esse número foi de 139,59 milhões de viagens.

Cohen (2006), referindo-se às grandes cidades brasileiras que têm no turismo uma de suas principais atividades econômicas, argumenta que, embora já seja possível detectar alguma conscientização por parte de gestores urbanos, o que se percebe é que um grande número de barreiras de acessibilidade ainda representa a realidade cotidiana das metrópoles: falta de transporte adaptado, existência de muitas escadas, portas estreitas, calçadas ocupadas por carros ou jardineiras e vendedores ambulantes prejudicando a circulação de pedestres, falta de rampas nas esquinas e vagas especiais em estacionamentos. Isto torna as cidades praticamente inacessíveis e afasta as pessoas idosas ou portadoras de deficiência do convívio social.

O turismo inclusivo, portanto, engloba uma série de comportamentos em matéria de atendimento qualificado e também investimentos na capacitação dos turismólogos, além de alterações nos projetos arquitetônicos, para que os espaços possam também ser inclusivos, recebendo pessoas com necessidades diferentes.

Godoy (2002) define sociedade inclusiva como uma sociedade aberta a todos, que estimula a participação de cada um e aprecia as diferentes experiências humanas, reconhecendo o potencial de todo cidadão. A sociedade inclusiva tem o objetivo de oferecer oportunidades iguais para que cada pessoa seja autônoma e autodeterminada. Segundo o Programa de Ação Mundial relativo às Pessoas com

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Deficiência, aprovado pela ONU, a equiparação de oportunidades ou oportunidades iguais é o processo através do qual o sistema geral da sociedade − tais como os ambientes físicos e culturais, a moradia e o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações esportivas e recreativas − é tornado acessível a todos.

Crespo (2002) coloca que é através da equiparação de oportunidades que a inclusão é assegurada às pessoas portadoras de mobilidade reduzida- PMR, sendo que o acesso inclusivo aos benefícios oferecidos pela sociedade é considerado como a pedra de toque do grau de desenvolvimento de uma cidade ou de um país. O respeito pela dignidade humana é fundamental numa sociedade inclusiva, que reconhece todas as camadas sociais como livres e iguais e com direito a exercer sua cidadania. Para que uma sociedade se torne inclusiva, é preciso operar um esforço coletivo, dialogando em busca do respeito, da liberdade e da igualdade. O termo inclusão indica que a sociedade deve mudar, e não a pessoa. Para isso, até as palavras e expressões para denominar as diferenças devem ressaltar os aspectos positivos e, assim, promover mudança de atitude em relação a essas diferenças (GODOY, 2002).

Sendo o lazer, como já dito, um direito garantido pela Constituição e o turismo um de seus aspectos mais relevantes, pode-se considerar que, voltando-se a atenção para o desenvolvimento e a busca de soluções no trato com as PMR, essa atividade se mostrará de grande importância para a inclusão social.

Melo, Megale, Ferreira e Vieira Filho,(2005), ressaltam que a deficiência não é uma

doença, mas um processo temporário ou permanente, decorrente de uma condição atípica. Por essa condição, muitos deficientes estão enfrentando barreiras para se tornarem parte ativa na sociedade, com oportunidades iguais às da maioria da população.

O portador de necessidades especiais convive com situações de preconceito e discriminação, provocando muitas vezes sentimentos de aversão, piedade ou supervalorização, que podem levar à sua reclusão.

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Para Silva (2005), o turismo inclusivo tenta se contrapor a esta imagem preconceituosa e até mesmo discriminatória no que diz respeito às pessoas portadoras de necessidades especiais. Nesse aspecto, o turismo inclusivo tem por objetivo incluir as pessoas portadoras de necessidades especiais na sociedade, fazendo com que haja uma melhor integração e socialização.

A inclusão objetiva em todos os setores da sociedade garantir espaços adequados para todos, aceitando e valorizando a diversidade humana. Para Silva e Boia (2003) não devemos considerar o oferecimento de quartos adaptados e o fácil acesso a todos os espaços do hotel como sendo, por si só, uma prática de turismo inclusivo. Ou seja, a adaptação sem mudança de comportamento e atitude não significa nada, apenas facilita a inserção, sendo uma condição necessária, mas não suficiente.

2.5 Qualidade Turística para Pessoas com Necessidades Especiais

Segundo Aguirre, et al. (2005), existem algumas questões que devem ser levadas em conta antes de se definir e analisar os quesitos da qualidade no turismo para as pessoas com necessidades especiais. Em primeiro lugar, no mundo do turismo, nos últimos anos, tem sido constatado que:

- Há necessidade de uma maior e melhor oferta de produtos e serviços para o tempo livre, o que complementaria o produto básico já oferecido tradicionalmente;

- O perfil de cada segmento de mercado vai se definindo mais claramente;

- Aparece uma forte exigência de qualidade, tanto a respeito das instalações quanto dos serviços.

Em segundo lugar, merece um comentário o conceito de qualidade, que segundo Aguirre, et al. (2005, p.74), “é o conjunto de características de um produto ou de alguns serviços para satisfazer necessidades específicas”.

A qualidade turística refere-se às características que o produto e o serviço turístico precisam apresentar para satisfazer as expectativas do cliente, sem esquecer que a

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qualidade total de um serviço turístico se dá pela qualidade particular de cada um dos elementos que o compõem.

Para Silva (2002) o produto turístico de qualidade deve ter, em todos os casos, propriedades que permitam seu desfrute por aqueles para quem foi planejado. Quando o produto turístico possui essas propriedades mencionadas e pode ser utilizado por qualquer pessoa (pessoas adultas, crianças, gestantes, PNE, idosos, etc.) sendo plenamente acessível, cumpre praticamente todos os requisitos de qualidade.

Ao analisar o desenvolvimento da atividade turística, pode-se citar dois pontos principais para a otimização na inclusão das pessoas com mobilidade reduzida: a acessibilidade ao meio físico e a qualidade na prestação de serviços especiais pelas prestadoras de serviços turísticos e recreativos.

As barreiras arquitetônicas e urbanísticas são impedimentos encontrados no meio físico (criado pelo próprio homem), que dificultam ou impossibilitam a transitabilidade urbana. Faz parte de tais obstáculos a existência de prédios públicos e privados que se mantêm inacessíveis.

Aguirre, et al. (2005) aponta para a necessidade de uma estratégia que permita a plena acessibilidade ao meio físico como resposta a essa situação. A primeira alternativa para essa integração é o que se pode denominar de um “design universal”, entendendo isso como padrões comuns para a elaboração de projetos e a sua posterior construção, que permitam a plena integração de todos os indivíduos.

A segunda alternativa que o autor aponta é o desenvolvimento de “próteses”, que tem sido aplicadas para limitar a desvantagem de acesso. Assim, tem-se como “próteses arquitetônicas”, por exemplo, as rampas de acesso aos edifícios. Já as “próteses urbanísticas” seriam a incorporação de bancos em espaços públicos para pessoas da terceira idade que não podem percorrer longos trechos sem um descanso.

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As pessoas afetadas por alguma forma de deficiência quando no uso do seu tempo livre, destinado a atividades turísticas e/ou recreativas, geralmente encontram várias situações de dificuldade no espaço turístico, entre outras:

- Os espaços verdes (praças e parques), a estrutura urbana (obras de saneamento, cruzamentos de pessoas e veículos, etc.), o mobiliário urbano (luminárias, bebedouros, bancos, etc.) não adaptados;

- Os edifícios, notadamente destinados a alojamento hoteleiro e extra-hoteleiro, as instalações para gastronomia (bares, cafés e restaurantes) e as instalações para o desenvolvimento de atividades culturais, como museus e salas de espetáculos, sem nenhuma ou quase nenhuma adaptação;.

- As instalações para atividades científicas (congressos e convenções), às quais se somam instalações para o desenvolvimento de atividades recreativo esportivas como estádios e seus espaços complementares (vestiários, ginásios, etc.), também sem adaptações;

- O transporte apresenta condições deficitárias no caso dos terminais, acessos e áreas de estacionamento, e nos meios específicos de transporte aéreo, marítimo, terrestre e fluvial;

- Baixa qualidade na prestação de serviços.

Três variáveis são fundamentais para o pleno desenvolvimento de um indivíduo. São elas: a confiança em si mesmo; a independência; e o sentimento de solidariedade nas várias fases do seu desenvolvimento individual e social. O exposto leva a considerar três etapas de integração de uma PMR durante o desenvolvimento de atividades turísticas:

- a integração física, que lhe permita aproximar-se de outras pessoas ou transitar por espaço urbano ou rural;

- a integração funcional, que lhe permita coordenar os vários serviços e que não provoque discriminação entre ela e as pessoas sem mobilidade restrita;

- e a integração social , que lhe permita a utilização de diferentes tipos de serviços e atrativos juntamente com as outras pessoas.

Especificamente sobre o grupo de pessoas portadoras de mobilidade reduzida, o físico inglês Stephen Hawking afirma:

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Aqueles que têm alguma deficiência não deveríamos considerar-nos marginalizados. Somos seres humanos normais que só temos algumas necessidades especiais. Nos anos que passaram outros grupos prejudicados, como as mulheres e as pessoas de diferentes etnias, têm conseguido ser tratados igualitariamente e terem as suas necessidades reconhecidas. Já é hora que consigamos o mesmo respeito pelas necessidades das pessoas com alguma capacidade restringida (HAWKING apud AGUIRRE, et al. 2005, p. 46).

2.6 Turismo Social

Segundo Haulot (2000), a denominação Turismo Social surgiu na Europa – em meados do século XX - utilizada como proposta de lazer para um número maior de pessoas, organizado por associações, sindicatos e cooperativas com a finalidade de atender as necessidades de férias das classes sociais menos favorecidas.

Em 1996, no Congresso do Bureau Internacional de Turismo Social (BITS) –, ficou registrada a Declaração de Montreal:

“todos os seres humanos têm direito a descansar, a um tempo de ócio, a um limite de horas trabalhadas e a férias pagas...o objetivo primário de todas as iniciativas de desenvolvimento turístico deve ser a realização plena das potencialidades de cada indivíduo, como pessoa e como cidadão.”

O Código Mundial de Ética do Turismodispõe que o Turismo Social tem:

por finalidade promover um turismo responsável, sustentável e acessível a todos, no exercício do direito que qualquer pessoa tem de utilizar seu tempo livre em lazer ou viagens e no respeito pelas escolhas sociais de todos os povos.

O Ministério do Turismo entende que o papel do Estado é de agente incentivador e coordenador no que diz respeito à participação de outros órgãos de governo, da sociedade civil organizada e do setor privado em relação ao turismo, com objetivos claramente definidos de recuperação psicofísica e de ascensão sociocultural e econômica dos indivíduos. Assim, não são explicitadas as questões de subsídios e subvenções públicas como pressuposto para caracterizar o Turismo Social.

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Nessa perspectiva, procura-se desenvolver o turismo com vistas à inclusão, privilegiando a ótica de cada um dos distintos atores envolvidos na atividade: o turista, o prestador de serviços, o grupo social de interesse turístico e as comunidades residentes nos destinos.

A partir dessa concepção, é importante entender que, sob a ótica do turista, o interesse social concentra-se no turista em si, como sujeito pertencente a determinados grupos de consumidores com renda insuficiente para usufruir da experiência turística, ou a grupos que, por motivos diversos, têm suas possibilidades de lazer limitadas. Essa constitui a abordagem clássica de Turismo Social, que trata das viagens de lazer para segmentos populares e para parcela da população em situação de vulnerabilidade.

Pela ótica do prestador de serviços turísticos, o foco está nos pequenos e micro empreendedores e nos trabalhadores que têm a possibilidade de inclusão social viabilizada pelas oportunidades advindas da atividade turística. O incentivo às iniciativas de tais empreendedores e a integração com outras atividades econômicas do arranjo produtivo do turismo e com atividades produtivas tradicionais são alguns dos pontos relevantes a serem considerado nesta abordagem.

Pela ótica dos grupos e comunidades de interesse turístico, a ênfase está nas condições sociais e culturais de um determinado grupo ou comunidade: a conservação do patrimônio cultural, natural e social da população local é um ponto a ser considerado.

Com esta visão, o Ministério do Turismo propõe diretrizes que orientam o desenvolvimento do turismo independentemente da estratificação social. Por um lado, enfocam aqueles que, pelos mais variados motivos (renda, preconceito, alienação etc.), não fazem parte da movimentação turística nacional ou consomem produtos e serviços inadequados. Por outro, atentam para os que não têm oportunidade de participar, direta ou indiretamente, dos benefícios da atividade com vistas à distribuição mais justa da renda e à geração de riqueza. Sob tal argumentação, lança-se um novo olhar sobre a questão, na qual o Turismo Social não é visto apenas como um segmento da atividade turística, mas como uma forma

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de praticá-la com o objetivo de obter benefícios sociais. Assim, define-se que: “turismo Social é a forma de conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a eqüidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2008).

Beni (2001, p.421) define turismo social como aquele “fomentado com o objetivo de facilitar o turismo interno das classes menos favorecidas economicamente”. O autor sugere ainda, que a denominação mais adequada seria turismo socializado, a fim de que não seja confundido com o turismo de massa. Especifica também que este tipo de turismo atinge quatro segmentos: jovens, idosos, deficientes e inválidos e trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos.

Para a implantação de projetos de turismo socializado, serão necessários equipamentos e instalações especiais de baixo custo unitário, planejados em economia de escala com base na alta ocupação dos serviços durante o maior tempo possível; e programas de redução de tarifas de transporte, a serem subsidiadas pelo Estado, para facilitar o deslocamento às áreas receptoras especialmente escolhidas para este segmento social (BENI, 2001, p. 421).

O desenvolvimento do turismo social acontece de forma diferenciada conforme a sociedade, tendo atingido seu ponto mais alto na Europa

2.6.1 O Turismo Social na Europa

Na Europa, o desenvolvimento do turismo é analisado e coordenado de forma conjunta entre os vários países envolvidos nos projetos turísticos, sendo os departamentos responsáveis uma união de órgãos públicos e iniciativa privada. Assim, no ponto de evolução do turismo que se atingiu no continente europeu, se chegou ao consenso de que não se pode tratar dos problemas macro seguindo-se somente uma visão nacional, regional ou local (HAULOT, 2000). Neste momento, atitudes mais audazes vêm tratando o turismo de forma integrada nas suas diferentes etapas, nas diferentes economias européias envolvidas.

Visto que cientes de que o papel do turismo na economia européia já é formalmente reconhecido, trata-se agora de perguntar em que medida uma política generalizada e audaciosa de turismo social pode contribuir para reforçar este papel. A indústria

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turística não pode desempenhar seu papel se não lhe asseguram as condições de rentabilidade. O turismo social pode intervir neste momento como elemento regulador e como elemento compensatório.

É notado que os produtos turísticos internos europeus tradicionais têm sofrido transformações quanto a gostos e preferências pela grande massa de consumidores, e tem diminuído a demanda por pacotes turísticos tradicionais. O turismo social oferece a possibilidade de uma compensação apreciável porque representa o acesso ao turismo de uma clientela de pouca capacidade de gasto individual, porém enorme em seu total. Os transportes, a pequena e média hotelaria, as atrações turísticas inter-regionais encontram neste segmento a compensação na redução de seus recursos tradicionais.

Por outro lado, mais sensível do que nenhum outro setor às variações dos preços, o setor do turismo social é evidentemente o que melhor pode responder à necessidade fundamental que tem a indústria turística de estender a duração anual de exploração do seu equipamento. Medidas de ordem social estão surgindo em todas as áreas como uma postura prática e efetiva do turismo social na Europa, hoje vistas como uma tomada de consciência européia. Tal proposição apresenta a vantagem considerável de dar uma nova possibilidade de reativação do setor turístico com um segmento considerável de novos consumidores de menor poder aquisitivo, e colabora para a formação de uma nova postura das futuras gerações de europeus, uma nova consciência de união européia como povos diferentes unidos por uma nova concepção de estado, com caráter social e novas condições de expansão (HAULOT, Op. cit).

Em curso há vários anos, a evolução do turismo social que engloba os movimentos de centenas de milhões de pessoas, tem feito progressos consideráveis em muitos aspectos: legislação, aumento de acesso ao turismo de segmentos menos favorecidos, facilidades de financiamentos de aquisições de equipamentos técnicos, esforço permanente de melhoramentos e de adaptações do que já existe.

Porém ainda existem obstáculos, como satisfazer à demanda, às condições que permitem adequar a capacidade de compra da clientela e às exigências de rentabilidade das instalações e do equipamento turístico (HAULOT, Op. cit). As

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