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A trajetória do jornalismo local no rádio 1

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Academic year: 2021

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A trajetória do jornalismo local no rádio

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AVRELLA, Bárbara2

Universidade Federal de Santa Catarina/SC

Resumo: O rádio é um meio essencialmente local. Seu formato e suas características fazem com que ele

seja assim identificado. Entretanto, com os avanços tecnológicos e a possibilidade de ampliação da captação e difusão de conteúdos, o rádio também torna-se um meio global, veiculando informações nacionais e internacionais. Com base neste contexto, este trabalho tem o objetivo de realizar um resgate histórico e apresentar reflexões preliminares sobre as características, potencialidades e as limitações do radiojornalismo local, desde os primórdios do veículo. Através da possibilidade de transmissão de conteúdo em cadeia e em rede, ocasionadas principalmente pela implantação dos satélites e, posteriormente, o surgimento da Internet, o rádio passou por reformulações técnicas e culturais, dentre elas a inserção de conteúdos globais em sua programação. Desta forma, é possível que o radiojornalismo local seja modificado e sua produção, em muitos casos, é reduzida.

Palavras-chave: história do rádio; radiojornalismo local; radiojornalismo global.

Contextualização

Os meios de comunicação surgiram como mídias essencialmente locais, já que, no início, abrangiam apenas um determinado alcance geográfico. Ao mesmo tempo, não dispunham de todos os aparatos tecnológicos que conquistaram no decorrer da história. Na atualidade, muitos veículos de comunicação têm alcance nacional ou internacional, dependendo do formato, características e potencialidades; já outros são basicamente locais, como destaca Peruzzo (2005, p. 69): “o rádio, por exemplo, é eminentemente local, embora possa percorrer também longas distâncias”. É assim identificado, principalmente, por conta de algumas de suas características, como a prestação de serviço à comunidade, a utilidade pública e o baixo custo na transmissão e recepção.

No entanto, nos últimos anos, temos à disposição um rádio global, dotado de

1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Sonora, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013.

2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Linha de pesquisa: processos e produtos jornalísticos. É Bolsista Capes. E-mail: barbara.avrella@gmail.com.

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notícias nacionais e internacionais. Fato esse possibilitado, dentre outras coisas, pela introdução das transmissões via satélite, no Brasil iniciada, primeiramente, nos anos 1980, originando as cadeias e redes de emissoras. Outro marco histórico determinante foi o surgimento da Internet, nos anos 1990, que permitiu aos produtores de notícias buscarem informações de todo mundo em outro canal, a web. Além disso, ela possibilitou que as emissoras de rádio pudessem transmitir sua programação em tempo real em uma nova plataforma.

Com isso, este estudo tem o objetivo de propor reflexões preliminares sobre as características, potencialidades e limitações do radiojornalismo local, a partir da trajetória histórica do veículo.

Inicialmente, abordaremos os principais aspectos sobre a história do rádio, suas características, mudanças e aperfeiçoamentos técnicos, que visam à adaptação ao desenvolvimento da sociedade contemporânea. Os autores utilizados como ferramental bibliográfico nesta etapa do trabalho são: Barbosa Filho (2009); Del Bianco (2004); Faus Belau (1973); Ferraretto (2001); Klöckner (2001); Medistch (2007); Rodrigues (2006) e Zuculoto (2012).

Em seguida, destacaremos o radiojornalismo local, a partir de suas peculiaridades, potencialidades e restrições, à luz de estudos de autores como: Balanza (2001); Cebrián Herreros (2007); Chantler & Harris (1998); Comassetto (2007); Dillenburg (2007), Dornelles (2002), Faus Belau (1973); Jorge (2006) e Peruzzo (2005). Por fim, ressaltaremos o radiojornalismo global, em que a globalização dos meios de comunicação tornou-se realidade e as informações de diferentes lugares são encontradas com mais facilidade pelos jornalistas e consumidores. Para compreendermos as características do rádio global, utilizaremos como base os estudos de Barbeiro (2007); Cebrián Herreros (2007); Comassetto (2007); Del Bianco (2004); Ferraretto (2001) e Meditsch (2007).

O rádio e sua história

A história do rádio no mundo começou por volta de 1906, quando, a partir das investigações de Lee De Forrest descobriu-se a possibilidade da radiodifusão. Com isso, pessoas de todo o mundo interessaram-se pelo novo procedimento de transmissão. Os jornais começaram a usar o telefone e o telégrafo para obter informações mais rápidas,

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impulsionando o desenvolvimento do rádio (FAUS BELAU, 1973, p. 37). Faus Belau destaca ainda a importância de pessoas anônimas de diferentes lugares, que possibilitaram a implantação do rádio em diversos países:

A importância desses homens anônimos é decisiva; graças a eles, foi possível à implantação de serviços regulares em muitos países, ao criá-los diretamente, ou pressionando os governos. Deste modo, aparece clara uma das principais características do rádio: o momento de sua criação surge como respostas às demandas de ampliação de setores da sociedade (FAUS BELAU, 1973, p.37).

No Brasil, a radiofonia foi trazida pelo padre-cientista Landell de Moura, pioneiro na aérea de telecomunicações. A primeira transmissão oficial aconteceu durante a festa do Centenário da Independência, em 07 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, comunicando o discurso do presidente brasileiro Epitácio Pessoa. Entretanto, há documentos anteriores que situam o surgimento da atividade radiofônica brasileira na inauguração da Rádio Clube de Pernambuco, realizada por Oscar Moreira Pinto, em 06 de abril de 1919 (RODRIGUES, 2006, p.16). Apesar de ter sido uma grande conquista para a época, as transmissões deixaram de ocorrer por um período, devido à precariedade de recursos e a falta de investimentos.

No ano de 1923, foi criada a primeira emissora radiofônica brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgar Roquette Pinto e Henry Morize (BARBOSA FILHO, 2009). Zuculoto (2012, p. 27-28) destaca a implantação do rádio no Brasil:

A implantação do rádio no país representa, então, uma revolução tecnológica e cultural para a sociedade brasileira. Isto porque, mesmo nos seus primórdios e ainda de forma precária suas características próprias e diferenciadas do principal meio informativo da época – o jornal – já permitem uma mais rápida divulgação de informações jornalísticas e a prestação de serviços (ZUCULOTO, 2012, p.27-28).

No começo, o rádio era um meio de custos elevados, pois os aparelhos receptores eram importados. Por isso, naquela época, era considerado um veículo elitista. Em suas transmissões, veiculavam-se óperas, músicas e textos instrutivos. As notícias tinham pouco espaço na programação e quando apareciam eram cópias dos jornais impressos. Del Bianco (2004) salienta como eram feitas as notícias no rádio na primeira década de seu surgimento:

Na década de 20 copiava os jornais tanto na forma como no conteúdo. O método consistia em selecionar algumas notícias, grifar o que era mais

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interessante e depois fazer uma leitura ao microfone. O método resistiu ao tempo a ponto de tornar-se uma prática comum no rádio conhecida como

gilett press ou tesoura press (DEL BIANCO, 2004).

Ao longo dos anos, o aparelho radiofônico se popularizou e deixou de ser um meio restrito à elite para fazer parte de toda sociedade brasileira. Na década de 1930, houve a sua consolidação e ele já fazia parte da vida de milhões de brasileiros (BARBOSA FILHO, 2009). Nesta mesma época foram criados os programas de auditório, nos quais revelavam-se novos talentos, principalmente da música brasileira. Ainda nos anos de 1930, o humor também começou a fazer parte do rádio, mas foi mesmo na década de 1940 que o gênero se popularizou, com programas como: Edifício

Balança Mas Não Cai e Tancredo e Trancado.

No ano de 1941, chegou ao Brasil pela Rádio Nacional, sediada no Rio de Janeiro, o Repórter Esso, o primeiro programa de radiojornalismo brasileiro, veiculado durante 27 anos. O programa teve início nos Estados Unidos, em 1935, chegando a 15 países, principalmente no período da Segunda Guerra Mundial. Com o jargão: “testemunha ocular da história” fez sucesso no Brasil na voz de Heron Domingues. O informativo revolucionou a forma de fazer radiojornalismo, como destaca Klöckner (2001): “com o noticioso, foi implantado o lide; a objetividade; a exatidão; o texto sucinto, direto e vibrante; a pontualidade; a noção do tempo exato de cada notícia; aparentando imparcialidade e contrapondo-se aos longos jornais falados da época”.

Nessa fase, o formato do noticiário radiofônico também foi remodelado, criou-se o “jornal falado”, semelhante ao modelo de organização da informação no jornal impresso, na abertura as manchetes, o número da edição e a data da emissão (DEL BIANCO, 2004).

A partir dos anos 1950, com a criação da televisão, o rádio foi perdendo forças e a transferência de profissionais do rádio para a televisão e a perda de verbas publicitárias fez com que se buscassem novos caminhos, tanto na programação quanto na forma de transmissão (FERRARETTO, 2001). A chegada dos transistores, no Brasil, em 1959, foi uma das alternativas que modificou a forma de ouvir o rádio. Sobre isso Ferraretto (2001, p.138) ressalta: “deslocado de um lugar de destaque na sala de estar, agora ocupado pelo televisor, o receptor radiofônico passa com a transistorização, em definitivo, a acompanhar os ouvintes”. O rádio deixa de ser um meio de uso apenas doméstico e passa a ser ouvido também em outros lugares, como no carro.

Na busca de inovações para reduzir os prejuízos causados pelo advento da televisão, seguiu-se um período onde a busca pela especialização e pela

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diferenciação exerceu papel fundamental. Em meio a esse contexto, apareceram tentativas tímidas de operação do radiojornalismo, até então colocado em segundo plano (RODRIGUES, 2006, p. 23).

No lugar das radionovelas e dos programas de auditório, sentiu-se a necessidade de renovação e os serviços de utilidade pública, os noticiários e os boletins informativos conquistaram mais espaço na programação. Del Bianco (2004) ressalta a reformulação do rádio na década de 1950, devido ao advento da televisão: “a saída foi remodelar a programação adotando a veiculação de músicas gravadas, notícia, esportes e prestação de serviços – informação sobre condições do trânsito, polícia, tempo etc.”. Ainda neste período, passou-se a fazer reportagens e entrevistas ao vivo, possibilitando ao repórter fazer inserções em tempo real, diretamente do acontecimento.

A partir de 1982, o rádio começa a ser transmitido via satélite no Brasil, ou seja, passa a emitir um sinal comum, gerado pelo sistema convencional de rádio em estúdio para um canal digital que existe nos satélites de comunicação e, por sua vez, faz com que este sinal seja retransmitido ao mesmo tempo para outra região do planeta3. Com a criação das redes via satélite, nos anos 1990 inúmeras emissoras começaram a veicular a sua programação em cadeia, alcançando um público regional e nacional.

Devido ao novo poder de abrangência do rádio, a sua estruturação precisou ser repensada, pois a sua audiência já correspondia aos mais diversos públicos. Na metade dos anos de 1980, ocorreu a sua segmentação e as emissoras começaram a inserir em suas grades diferentes tipos de programas: musicais, jornalísticos, esportivos, de variedades, entre outros. Com isso, puderam contemplar toda audiência.

Nos anos 1990, ocorreram diversas modificações no radiojornalismo, principalmente técnicas. Passou-se do analógico para o digital e os jornalistas começaram a utilizar o celular como ferramenta para transmissão de notícias diretamente do local do acontecimento. “Com o celular, o repórter ganha agilidade para realizar entrevistas ou fazer participação ao vivo de qualquer lugar. Conquista mobilidade muito superior ao telefone sem fio utilizado nas unidades móveis de frequência modulada” (DEL BIANCO, 2004).

Em 1995, um novo fenômeno comunicacional é implantado no Brasil, a Internet. Com ela, surge um novo modelo de consumidor. Isso fez com que os meios de comunicação sentissem a necessidade de adaptação e se integrassem à nova mídia. As redações informatizaram-se e o computador tornou-se essencial para o radiojornalismo.

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A redação de emissoras especializadas em jornalismo passou por uma terceira fase da informatização com a constituição de rede de computadores local, integrando a redação e edição de noticiários à central técnica e com conexão à Internet. (DEL BIANCO, 2004).

No decorrer dos anos 2000, as emissoras de rádio passaram a investir na transmissão da programação via Internet. Ao mesmo tempo em que ela é veiculada pelo aparelho convencional, também é feita on-line, via streaming, através do site da emissora. Essas transmissões on-line proporcionam às pessoas que estão em lugares onde o sinal de antena via satélite não chega, sejam capazes de ouvir a programação da emissora.

Cabe destacar, ainda, com a criação da Internet e dos dispositivos móveis, o público consegue informações de maneira rápida e em diferentes formatos. Muitos estudiosos acreditam que com isso o rádio deixa de ser o meio de comunicação mais instantâneo. Entretanto, Medistch (2007, p. 45) afirma que:

o rádio continua sendo um dos meios de comunicação de massa mais rápidos no campo informativo e a ausência de elementos estáticos em sua linguagem facilita a sua maneabilidade, permitindo uma ubiquidade e uma instantaneidade, tanto na emissão quanto na recepção, ainda não alcançados por nenhum outro meio (MEDITSCH, 2007, p. 215).

A sua facilidade de transmissão e recepção faz com que o rádio esteja presente nos lugares mais remotos. Diferentes de outros meios que necessitam de diversos aparatos tecnológicos, como a televisão, ou que o seu público seja letrado, como é o caso do jornal impresso, o rádio é capaz de atingir toda a sociedade. Em muitos casos, ele é o único veículo produtor de informação local, levando para os cidadãos daquela comunidade notícias que sejam do seu interesse, como veremos na próxima etapa sobre o radiojornalismo local.

A trajetória do radiojornalismo local

A história dos meios de comunicação locais, interioranos, se solidifica no final do século XIX e metade do século XX, a partir de uma campanha para qualificação da imprensa local e regional, promovida em todo o país (DORNELLES, 2002). O rádio local começa sua trajetória ainda nos primórdios da implantação do meio (anos 1920), quando as primeiras emissoras eram criadas nas capitais, ele também começava a ser introduzido nos municípios do interior. No Rio Grande do Sul, por exemplo, no dia 08

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de junho de 1925, foi inaugurada a primeira emissora de rádio do interior, a Sociedade Rádio Pelotense, com sede na cidade de Pelotas, que entrou em funcionamento, efetivamente, em setembro de 1928 (DILLENBURG, 2007, p. 10).

Com a chegada da televisão, nos 1950, ocorreu o enfraquecimento do rádio. Para não perder ainda mais espaço, sentiu-se a necessidade de reformulação. Faus Belau (1973, p. 35) destaca: “diante deste fenômeno, o rádio se vê obrigado a repensar sua forma de fazer. Descobrirá então seu entorno sociolocal, o valor de um serviço a uma comunidade concreta”. Com isso, o rádio local ganha ainda mais força, tornando-se participante ativo da comunidade para a qual serve promovendo valores, gerando debates e auxiliando nos problemas da sua região.

Segundo dados do Pnad/IBGE de 2010, as emissoras pequenas são maioria no país. De acordo com a pesquisa, somando as emissoras comerciais e comunitárias, de potência menor ou igual a 10KW, elas representam 96% do total de emissoras. Estas têm importância fundamental para a comunidade onde estão inseridas, em muitos casos, elas são o único meio de comunicação de âmbito local presentes naquele município.

As rádios locais e comunitárias são o elo mais direto entre o meio e o ouvinte. Seu pequeno tamanho e seus conteúdos acentuam a proximidade. Falam do bairro, dos vizinhos, dos problemas que o ouvinte sofre diariamente em sua cidade e, por isso, a rádio local é tão importante (BALANZA, 2001, p. 239).

A abrangência das emissoras influencia diretamente no conteúdo veiculado, fazendo com que as informações sejam pensadas a fim de atingir o público local. Entretenimento, notícias e esportes são apresentados a partir do interesse da audiência. Devido à proximidade geográfica e cultural, muitas vezes, o locutor/repórter torna-se amigo dos ouvintes, conseguindo com mais facilidade acesso às informações daquela comunidade específica.

Com o olhar voltado ao seu entorno, nos acontecimentos daquela localidade, a produção radiojornalística é fundamental nas emissoras locais, principalmente, nas rádios AM.

A força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que dá a ela a sensação de ser verdadeiramente local. Estações de rádio locais que querem atingir grande audiência e ignoram o jornalismo correm riscos. Num mercado cada vez mais disputado, o jornalismo é uma das poucas coisas que distinguem as emissoras locais de todas as outras (CHANTLER & HARRIS, 1998, p. 21).

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das principais características do veículo e do jornalismo. A instantaneidade é uma delas. O rádio pode, com simplicidade e rapidez, veicular as principais informações sobre determinado acontecimento, isso porque ele necessita relativamente de poucos recursos técnicos, um fato pode estar no ar segundos depois de ter-se iniciado e continuar sendo sempre atualizado (CHANTLER & HARRIS, 1998, p. 21). Este aspecto ressalta outra característica fundamental, o baixo custo. Com um telefone móvel ou um gravador na mão, operados por apenas uma pessoa, já é possível fazer as suas transmissões. Outra vantagem do rádio é que por não possuir imagem ele pode ser ouvido em qualquer lugar (em casa, no carro, no trabalho), tornando-se pano de fundo de outras atividades.

O radiojornalismo local enfatiza um dos principais valores-notícia do jornalismo, a proximidade. Graças a ela as emissoras locais têm mais facilidade de contato com a comunidade e os acontecimentos que a cercam. O público se interessa, na maioria das vezes, por aquilo que está ao seu redor, do que notícias advindas de outras partes do mundo. Peucer (apud JORGE, 2006, p. 07) salienta que todo relato é mais agradável se se conhece o local.

Hoje, os meios estão cada vez mais focados na produção e transmissão de conteúdos globais. Informações de todas as partes do mundo são disponibilizadas por todos os meios de comunicação, onde, sabe-se um pouco de tudo, de todos os lugares, mas como afirma Comassetto (2007, p. 25):

Não faltam indicativos e estudos dando conta de que, paralelo à tendência globalizadora, há um revigoramento local, como contraponto ao apelo planetário, como fator de identificação com um público que interessa e merece ser considerado, como diferencial num mercado cada vez mais competitivo (COMASSETTO, 2007, p. 25).

O jornalismo local é visto como uma tendência na imprensa atual4. Notícias que interferem no cotidiano de cada um, como trânsito, clima, um buraco na rua, tem mais valor para determinada localidade do que notícias de outros países, por exemplo. “O meio de comunicação local tem a possibilidade de mostrar melhor do que qualquer outro a vida em determinadas regiões, municípios, cidades, vilas, bairros, zonas rurais etc.” (PERUZZO, 2005, p.78).

Atualmente, o rádio vive uma nova fase, em que as transmissões em cadeia e em rede e a busca de conteúdos na Internet são realidade. Entretanto, como salienta Cebrián Herreros (2007, p. 65): “frente à globalidade é preciso insistir no local, no

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Informe publicado no State of the News Media 2012. Disponível em: http://stateofthemedia.org. Acesso em: 07 jan. 2013.

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desenvolvimento do entorno imediato, nas culturas do próximo que interessam a todos que vivem em uma comunidade determinada”. Desta forma, deve-se prestar cada vez mais atenção naquilo que ocorre ao nosso redor, como enfatizam Chantler & Harris (1998, p. 21): “notícias obtidas na esquina são tão ou mais importantes do que as recebidas de outras partes do mundo”.

Em contraponto à tendência de radiojornalismo local, a próxima seção explana sobre o radiojornalismo global a partir de suas características e tendências, enfatizando a transmissão de conteúdo em cadeia e a utilização da Internet na produção radiojornalística.

O radiojornalismo global

Desde o surgimento do Repórter Esso, nos anos 1940, as informações de caráter global já faziam parte do noticiário radiofônico. Notícias sobre a Segunda Guerra Mundial eram constantemente veiculadas no programa e propagadas pelo mundo. Isso ocorreu a partir da adoção do teletipo5 nas redações, modificando o modo de produção de radiojornalismo, antes baseado na leitura de jornais impressos. Este modo de fazer foi substituído por um modelo calcado nos padrões estéticos das agências internacionais de notícia. O noticiário Repórter Esso marcou essa mudança ao adotar como principal fonte de informação a agência de notícias United Press (DEL BIANCO, 2004).

Nos anos 1960, quando os espaços de radiojornalismo na programação foram ampliados, o uso de agências de notícias nacionais e internacionais se intensificou e diversas empresas se especializaram nessa prática. Comassetto (2007, p. 24) enfatiza o pioneirismo do rádio na transmissão de informações de todo o mundo: “o rádio foi o primeiro meio de longo alcance a levar o mundo para dentro da casa das pessoas”.

Nos anos 1980, a radiodifusão brasileira passa a utilizar as redes via satélite, mais precisamente em março de 1982, quando a rádio Bandeirantes AM, de São Paulo, começou a transmitir o seu radiojornal Primeira Hora, usando o tempo ocioso do subcanal que a Rede Bandeirantes de Televisão havia alugado no Intelsat 4. O país adquire um satélite próprio em 1985, o Brasilsat A1, e no ano seguinte, lança o A2, conforme um sistema nacional de telecomunicações via satélite. No final da década de 1980, a Bandeirantes começa a operar com um canal próprio via satélite.

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Ao longo dos anos 1990, diversas redes regionais e nacionais passaram a emitir a programação por satélite (FERRARETTO, 2001). Com isso, as emissoras ampliam a sua cobertura territorial e passam a conquistar maior audiência e o interesse de novos patrocinadores, tornando-se, em alguns casos, grandes conglomerados midiáticos. Cebrián Herreros (2007, p. 25) ressalta que a nova tendência é no sentido de integrar o rádio a grupos multimídia e estes por sua vez, em grupos multinacionais.

A integração de rádios locais pelas grandes cadeias de emissoras fez com que a produção radiojornalística fosse repensada, como destaca Del Bianco (2004): “acostumadas à seleção de notícia numa dimensão local, as emissoras tiveram de redimensionar seu processo de produção para compor um noticiário realmente de interesse nacional”. Ainda, as “cabeças-de-rede” começaram a se preocupar em produzir conteúdos voltados para seu novo público, agora mais amplo e diversificado. Contudo, Cebrián Herreros enfatiza o que ele acredita ser o verdadeiro interesse da grande mídia pelo local:

As grandes cadeias não querem ficar presas apenas no âmbito nacional. Estabelecem um sistema de desconexões por regiões e por localidades para estarem presentes em cada um dos lugares. A desculpa é oferecer informação durante um tempo reduzido sobre o ocorrido no lugar, mas a razão fundamental é do tipo econômico, para captar a publicidade dos pequenos e médios comerciantes que multiplicada pelo número de emissoras incrementa a renda global da cadeia (CEBRIÁN HERREROS, 2007, p. 62).

A partir disso, as grandes cadeias de emissoras vão se tornando hegemônicas no mercado midiático. Para não perderem ainda mais espaço, as emissoras pequenas passam a integrar essas redes, reproduzindo o que nelas é veiculado e destinando amplo um tempo amplo na sua programação.

Com o avanço da Internet, na segunda metade da década de 1990, o rádio passa por novas transformações, rompendo ainda mais a fronteira do local. O global é uma realidade e é impossível impedir a sua entrada, como ressalta Heródoto Barbeiro (2007, p. 16): “não há, pelo menos presentemente, qualquer barreira que impeça a chegada do globalismo com seu conteúdo político e social”. O que deve ser mantida é a cultura local, em que as suas características e peculiaridades não podem ser transformadas globalmente.

Não só as comunidades são atingidas pela tendência global, como também a produção radiojornalística passa por alterações, principalmente pela utilização da Internet dentro das redações. Isto possibilita aos jornalistas a busca por informações de diferentes partes do mundo de maneira fácil e rápida. “A integração da rede local à

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Internet trouxe mudanças na forma de processar a informação. Os jornalistas de rádio passaram a ter acesso gratuito às principais agências de notícias e aos jornais online nacionais e internacionais” (DEL BIANCO, 2004). Este fato faz com que a mídia local passe a veicular notícias obtidas através da Internet, e em muitos casos, reduzindo a sua própria produção local. Além disso, a web tornou-se um ótimo espaço para pautar os jornalistas, principalmente, as redes sociais, em que os usuários sempre têm um novo fato para divulgar. Segundo Meditsch (2007, p. 109) “os profissionais que fazem a pauta cada vez mais dependem da Internet”.

A Internet proporcionou além da busca de informações de outras partes do mundo, a criação de websites. Neles as rádios disponibilizam áudios, fotos, textos e vídeos em um único lugar e as emissoras têm ainda a possibilidade de fazerem suas transmissões via Internet. Ao mesmo tempo em que a programação é veiculada no aparelho convencional, também é transmitida on-line, via streaming6. Essas transmissões on-line propiciam às pessoas que estejam em lugares onde o sinal da antena via satélite não chega, sejam capazes de ouvir a programação pela web.

No Brasil, a primeira emissora a fazer suas transmissões também pela Internet foi a Rádio Itatiaia de Minas Gerais. A partir dos anos 2000, centenas de emissoras passaram a integrar a rede. Essa tendência também atingiu as emissoras locais, que começar a usar a Internet para transmissão de sua programação:

Graças a rádio local por Internet os emigrantes de tal lugar podem seguir em contato com tudo que acontece na sua localidade de origem e, ainda, conversar com seus antigos vizinhos, participar de diálogos e debates. Além de enriquecer a vida local com a experiência de vida que cada um desenvolve em outros lugares (CEBRIÁN HERREROS, 2007, p. 66).

O ciberespaço também possibilita a troca de experiências, culturas e ideias com pessoas de todas as partes do mundo a qualquer momento. O espaço geográfico já não é mais limite para a busca de informações. Com a possibilidade de transmissão de conteúdo por satélite e a utilização da Internet na produção jornalística, o rádio ultrapassa os limites locais e vive um cenário de difusão e recepção de informações globais.

6 É a tecnologia que permite o envio de informação multimídia através de pacotes, utilizando redes de computadores, sobretudo a Internet. rádios FM e AM e TV's, bem como várias empresas que realizam eventos, utilizam esta tecnologia para interação digital com seus ouvintes e clientes. Disponível em: http://duvidas.terra.com.br.

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Considerações finais: o cenário atual do rádio

Como abordamos no início deste trabalho, o rádio surgiu como um meio local, com um alcance limitado devido às restrições técnicas da época. Hoje, alguns estudiosos como Cebrián Herreros (2007) consideram o regional e o local como um espaço geográfico que contém as mesmas abordagens que as áreas mais amplas, como nacional e internacional. Por isso, são tratados como delimitadores de certas comunidades onde as pessoas vivem. No entanto, as rádios locais, principalmente as de pequenos municípios, possuem o diferencial de conseguirem, com mais propriedade, olhar o seu entorno e dar voz àquela comunidade. Isto ocorre pelo fato de estas emissoras estarem próximas geográfica e culturalmente, conhecendo os problemas e peculiaridades da sua localidade, ocasionando o que podemos chamar de identidade local.

Entretanto, no atual cenário do rádio, em que a transmissão de conteúdo em cadeia e em rede e a possibilidade de busca de informações na Internet são tão presentes, as emissoras locais não conseguem impedir a inserção de informações globais em sua programação, ao mesmo tempo em que não devem tornar-se reféns delas. É necessário buscar estratégias que permitam a inclusão desses conteúdos nas emissoras, desde que estes não interfiram negativamente na produção radiofônica local. Em muitos casos, o que ocorre hoje é a manutenção de acontecimentos globais com o diferencial de se trabalhar com eventos locais:

Mantêm-se parcialmente a postura local e regional, já que a programação informativa, os critérios de seleção, valorização e tratamento são idênticos ao o que ocorre na rádio de cobertura nacional. Repetem-se os conteúdos, o modo de organizar a informações, os programas e as histórias. O elemento diferencial é justamente a referência territorial em que se trabalha: os eventos específicos de interesse regional e local de cada espaço (CEBRIÁN HERREROS, 2007, p. 62).

Mesmo que cada vez mais rádios locais sejam criadas, há uma tendência de estas serem dominadas pelas grandes emissoras que transmitem em cadeia, fazendo com que muitas se tornem parte dessas redes. Desta forma, a produção jornalística local fica em segundo plano, e, muitas vezes, privilegia o conteúdo disponibilizado pela cabeça-de-rede. Outra técnica muito usada por essas emissoras é a utilização de um método que surgiu nos primórdios do rádio, o Gilette-press (atualmente, ctrl C – ctrl V), reduzindo ainda mais a prática jornalística.

Contudo, sabe-se que na atualidade todos os meios têm a possibilidade de captação e difusão de conteúdos globais, por isso, as rádios caracterizadas como locais

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precisam acompanhar o desenvolvimento da mídia atual. A Internet deve se tornar uma aliada, através dela, por exemplo, pessoas naturais de respectiva localidade têm acesso às informações daquela comunidade através do rádio pela Internet. Ela pode servir também como complemento para a produção jornalística e não se tornar a fonte principal de notícias, já que com o seu advento muitos ouvintes também têm acesso a estas informações.

Ainda, uma produção e programação especificamente voltada à determinada comunidade tem sido primordial para a consolidação da audiência, já que o público tem a possibilidade da busca de conteúdos globais em outras mídias. Na atualidade, com a mobilidade radiofônica, a partir do uso de unidades móveis, dos celulares, tablets e demais dispositivos móveis, as emissoras locais conseguem transmitir os fatos diretamente do acontecimento e com mais precisão, afirmando ainda mais o seu espaço. Além do mais, hoje, o radiojornalismo local consegue potencializar algumas das principais características do rádio, como a prestação de serviços, a utilidade pública e o baixo custo.

Nesse aspecto, é necessário que as emissoras locais que façam parte de alguma rede e destinam espaços em sua programação para veiculação de notícias produzidas pela cabeça-de-rede, não abandonem o radiojornalismo local e continuem produzindo informações específicas daquela comunidade onde estão inseridas, pois é preciso manter o interesse local.

Enfim, a evolução gradual do rádio, em que o exercício do jornalismo tem passado por inúmeras adaptações, sejam elas técnicas, profissionais ou culturais traz a reflexão sobre a necessidade do local e global conviverem lado a lado, e, sobretudo, a contribuição que essa convivência deve trazer para o ouvinte e para o desenvolvimento histórico do rádio.

Referências bibliográficas

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BARBEIRO, Heródoto. In: Prefácio. O rádio na era da informação: teoria e técnica do novo radiojornalismo. 2ª edição revisada. Florianópolis, SC: Insular, 2007.

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CEBRIÁN HERREROS, Mariano. Modelos de radio, desarrollos e innovaciones: Del diálogo y participación la interactividad. Madrid: Fragua, 2007.

CHANDLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1998.

COMASSETTO, Leandro Ramires. A voz da aldeia – o rádio local e o comportamento da informação na nova ordem global. Florianópolis: Insular, 2007.

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Referências

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