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CORPOS GENERIFICADOS: OS ARTEFATOS CULTURAIS E OS DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE GÊNERO

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2012. ISSN2179-510X

CORPOS GENERIFICADOS: OS ARTEFATOS CULTURAIS E OS

DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE GÊNERO

Michele Ziegler de Mattos/Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Brasil1 Resumo: Os artefatos culturais são utilizados na mídia e funcionam como um mecanismo de representação e ao mesmo tempo atuam na constituição da identidade do sujeito. Esses artefatos quando lançados na mídia, além de produzir corpos generificados, produzem e reproduzem discursos do que é feminino e masculino. O objetivo desse estudo é analisar os discursos produzidos sobre gênero, através dos artefatos culturais, utilizando como eixo principal a coleção de revistas Pais e filhos. A pesquisa é documental e assume caráter qualitativo, onde será pautada na Análise de Conteúdo. Os resultados apontam que esses artefatos culturais sustentam e ensinam modos e comportamentos a serem seguidos enquanto homem ou mulher e por isso são necessárias às discussões que contemplam o gênero.

Palavras-chave: Gênero.Identidade. Artefatos culturais. Mídia

Os artefatos culturais quando lançados na mídia além de produzir corpos generificados, também produzem discursos normativos tanto para o sexo feminino, quanto para o masculino. A mídia tem um papel importante nesse processo, onde por meio de publicidades e propagandas reafirma esses discursos, moldando comportamentos e hábitos. Antes de abordar como esses discursos estão imbricados nas imagens publicitárias, apontaremos algumas reflexões sobre o corpo generificado, ou seja, a associação entre esporte e masculinização. Desse modo, mulheres que possuem corpos potencializados pelos músculos, muitas vezes têm a sua sexualidade colocada em debate e ainda são vistas pela sociedade como homossexuais, como se os músculos fossem determinantes na construção da sexualidade.

Nesse contexto, alguns esportes são apresentados como característicos dos homens, já que além de masculinizar o corpo da mulher, poderiam supor uma vivencia homossexual, considerada como impropria, desviante e abjeta. Isso porque a sociedade ainda tem a tendência de impor o discurso da heteronormatividade. Assim o futebol, quando dominado pelo sexo masculino, teria como objetivo preservar as mulheres de uma possível masculinidade, além de permitir que elas não tivessem o corpo exposto.

Ao longo dos anos, quando elas apareciam em determinadas práticas esportivas, eram expostas de maneira erotizada, com o intuito de atrair o público masculino heterossexual, ou seja,

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evidenciando a beleza feminina, onde se destacavam apenas como torcedoras de um esporte ainda dominado pelo sexo masculino. Ferrety e knijnik (2007) relatam o exemplo das mulheres atletas que nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004 exigiram que a televisão não mostrasse tomadas que as constrangiam, de tal modo que estas eram fechadas em determinadas zonas erógenas de seus corpos; ao contrário, queriam que as transmissões tivessem focos mais abertos, transmitindo o jogo em si.

Entendemos que deste modo, elas buscaram mostrar que são capazes de desenvolver as mesmas habilidades que os homens e ainda, que os méritos alcançados seriam decorrentes dessas habilidades e não à ênfase dada à beleza de seus corpos. Souza e Altmann (1999) afirmam que aos homens era permitido jogar futebol, basquete e judô, esportes que exigiam maior esforço, confronto corpo a corpo e movimentos violentos; às mulheres, a suavidade de movimentos e a distância de outros corpos, garantidas pela ginástica rítmica e pelo voleibol. A mulher precisava manter seus contornos bem desenhados, com delicadeza e beleza. Os músculos associados ao corpo da mulher era algo indesejado. Além do discurso normativo de que a mulher deveria manter seus atributos de beleza, existia o discurso de que todas as outras formas de exercer a sexualidade seriam desviantes do padrão, identificando a heterossexualidade como norma.

Compreendendo que a mídia através da publicidade e de propagandas produz corpos generificados e constrói o que é socialmente pertencente ao mundo feminino e ao mundo masculino, temos como objetivo do estudo analisar os discursos produzidos sobre gênero, através dos artefatos culturais, utilizando como eixo principal a coleção de revistas Pais e filhos.

Percurso metodológico

É uma pesquisa documental que assume caráter qualitativo e contempla investigar os artefatos culturais em foco na mídia, analisando os discursos produzidos sobre gênero.A pesquisa qualitativa para Negrine (2010) tem como pressuposto cientifico manipular as informações recolhidas, descrevendo e analisando-as para num segundo momento interpretar e discutir à luz da teoria, ao passo que a pesquisa quantitativa, a partir da quantificação dos dados recolhidos, se serve de modelos matemáticos para descrever, analisar, interpretar e discutir os achados.

As fontes utilizadas nessa pesquisa serão os artefatos culturais produzidos na mídia, e que nos permitem dialogar dentro da corrente pós-estruturalista as questões de gênero. Para isso, vamos articular as bases teóricas com autoras como Guacira Louro e Silvana Goellner e iremos utilizar

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como referência metodológica, a Análise de Conteúdo proposta por Bardinno qual devemos entendê-la como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 1977, p. 42).

Como questão norteadora do estudo nos perguntamos: Que discursos são produzidos e reproduzidos sobre os gêneros através dos artefatos culturais? O que as imagens publicitárias nos dizem sobre os gêneros?

Entendemos que para responder a estas questões é necessário que a investigação seja realizada em duas etapas:

Na primeira etapa vamos realizar uma pré-análise, onde vamos sistematizar as ideias iniciais e também onde iremos escolher e apresentar os documentos a serem investigados.

Na segunda etapa a proposta é analisar os discursos produzidos e reproduzidos sobre gênero, mais especificamente aqueles que tratam das representações para o feminino e o masculino. Optamos por organizar a pesquisa de modo a apresentar três capas de revista da coleção Pais e filhos no ano de 2012, contendo uma edição especial da mesma, considerando que não há como falar de corpos generificados e dos discursos produzidos e reproduzidos na mídia sem apresentar os artefatos culturais que se tornaram o eixo principal dessa pesquisa, de onde iremos compor as discussões que nos provocam e nos inquietam.

É preciso pensar em gênero de modo plural

Como destaca Louro (2010) é preciso pensar em gênero de modo plural, acentuando que os projetos e as representações sobre mulheres e homens são diversos. Entende-se que devemos compreender os sujeitos como tendo identidades plurais, múltiplas, identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias. Colaborando com essa ideia, Louro (2010), diz que é preciso perceber o gênero fazendo parte do sujeito, constituindo-o.

Dizer que as mulheres são biologicamente diferentes dos homens não é o melhor argumento para justificar as desigualdades entre eles e elas. Verbena e Romero (2003) falam que afirmar que o homem é forte e a mulher é fraca, que ele é agressivo e ela é delicada, que ele é menos responsável

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e mais habilidoso, que eles possuem interesses diferenciados e que não podem ou não devem participar de determinadas modalidades esportivas revela uma representação pautada na naturalização de valores socialmente construídos.

Jaeger (2006) esclarece que justificativas biologicistas foram/são empregados para respaldar o domínio masculino não só no esporte, mas também em outras instâncias sociais. Ferrety e knijnik (2007) dizem que é difícil encontrar algum setor da atividade humana que não tenha sido generificado. As meninas são rotuladas de masculinas e sofrem inúmeros preconceitos até conseguir um espaço que também deveria ser de direito delas, como no exemplo do futebol ou em outras práticas esportivas onde a agilidade e força se destacam. Na escola, por exemplo, quando não são os próprios professores/as que legitimam a desigualdade de gênero através da seleção dos conteúdos nas aulas de Educação Física, os próprios colegas de turma, produzem e reproduzem ações estereotipadas a respeito do que é feminino e do que é masculino. Mesmo assim, Goellner (2007) destaca que o esporte não é um campo “naturalmente” masculino, nem mesmo aquelas modalidades que exigem maior força física e vigor: como qualquer outra instância social, o esporte é um espaço de generificação, não porque reflete as desigualdades e diferenciações da sociedade em geral, mas, fundamentalmente, porque as produz e reproduz.

Discursos produzidos sobre gênero nas capas da revista pais e filhos

É preciso perceber que além de produzir corpos generificados, os artefatos culturais produzem discursos. Para compreender os discursos produzidos sobre o gênero nas imagens publicitárias das capas da revista Pais e Filhos no ano de 2012, precisamos antes de tudo entender qual é o conceito de gênero na perspectiva pós-estruturalista. Devide (2005) interpreta o gênero como uma categoria, referente às práticas sociais construídas no cotidiano que tendem a sofrer transformações constantes, ou seja, se refere a comportamentos, atitudes e discursos que estão sempre abertos à mudança. É sobre esses discursos imbricados nas imagens presentes nos artefatos culturais que vamos dar segmento a esta pesquisa. A revista selecionada, apesar de não apresentar anúncios específicos referentes ao esporte, traz em suas imagens e palavras discursos e representações sobre o que é feminino e o que é masculino. Ela é destinada ao público infantil, mas perpassa aos olhos dos pais, já que o slogan da revista é Pais e filhos. Então, para o estudo elencamos três edições referentes ao ano de 2012, onde podemos perceber os discursos sobre os gêneros. Na figura 1, apresentamos a edição especial de março de 2012, onde identificamos

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imbricada nas imagens o discurso da beleza, mesmo que para a criança. Nessa edição especial a palavra Moda vem em destaque. Os discursos que se referem ao universo feminino reiteram que a mulher deve ser delicada, frágil, e bela.

Notamos através da figura que o assunto é moda. Além disso, que essa moda deve ser inspirada em bonecas. Aqui fica evidente a representação da mulher, voltada para a maternidade. Enquanto meninas, o importante era brincar de boneca, enquanto mulheres e mães, o im

vestir os/as filhos/as inspiradas nas bonecas. Os filhos/as tornam

para as mães.A menina da capa ainda segura em suas mãos um bolsa. Novamente surgem as questões de gênero.

Podemos imaginar através dessa imagem

menina, uma moça, tornando se mulher. Na imagem estão presentes acessórios que valorizam a beleza feminina. Encontramos batons, perfumes, cremes, acessórios que fazem parte do universo feminino e não do universo masculino. São acessórios que quando não estão presentes no universo feminino tendem a produzir discursos de que a mulher que não usa maquiagem é homossexual. Woodward (2000) diz que existe uma associação entre a identidade da pessoa e as coisas que uma pessoa usa. De acordo com o autor, o corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos servindo de fundamento para a identidade

para a identidade sexual. Na figura 2 abaixo, apresentamos a edição de menino se destaca. Identificamos as representações existentes.

Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2012. ISSN

so da beleza, mesmo que para a criança. Nessa edição especial a palavra Moda vem em destaque. Os discursos que se referem ao universo feminino reiteram que a mulher deve ser delicada, frágil, e bela.

Figura 1- Edição especial de março de 2012.

através da figura que o assunto é moda. Além disso, que essa moda deve ser inspirada em bonecas. Aqui fica evidente a representação da mulher, voltada para a maternidade. Enquanto meninas, o importante era brincar de boneca, enquanto mulheres e mães, o im

vestir os/as filhos/as inspiradas nas bonecas. Os filhos/as tornam-se a continuação da ultima boneca para as mães.A menina da capa ainda segura em suas mãos um bolsa. Novamente surgem as Podemos imaginar através dessa imagem que aquela bolsa identifica uma mulher, uma menina, uma moça, tornando se mulher. Na imagem estão presentes acessórios que valorizam a beleza feminina. Encontramos batons, perfumes, cremes, acessórios que fazem parte do universo masculino. São acessórios que quando não estão presentes no universo feminino tendem a produzir discursos de que a mulher que não usa maquiagem é homossexual. Woodward (2000) diz que existe uma associação entre a identidade da pessoa e as coisas que uma essoa usa. De acordo com o autor, o corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos servindo de fundamento para a identidade

para a identidade sexual. Na figura 2 abaixo, apresentamos a edição de dezembro de 2012, onde um menino se destaca. Identificamos as representações existentes.

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so da beleza, mesmo que para a criança. Nessa edição especial a palavra Moda vem em destaque. Os discursos que se referem ao universo feminino reiteram que a

através da figura que o assunto é moda. Além disso, que essa moda deve ser inspirada em bonecas. Aqui fica evidente a representação da mulher, voltada para a maternidade. Enquanto meninas, o importante era brincar de boneca, enquanto mulheres e mães, o importante é se a continuação da ultima boneca para as mães.A menina da capa ainda segura em suas mãos um bolsa. Novamente surgem as que aquela bolsa identifica uma mulher, uma menina, uma moça, tornando se mulher. Na imagem estão presentes acessórios que valorizam a beleza feminina. Encontramos batons, perfumes, cremes, acessórios que fazem parte do universo masculino. São acessórios que quando não estão presentes no universo feminino tendem a produzir discursos de que a mulher que não usa maquiagem é homossexual. Woodward (2000) diz que existe uma associação entre a identidade da pessoa e as coisas que uma essoa usa. De acordo com o autor, o corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos servindo de fundamento para a identidade - por exemplo, dezembro de 2012, onde um

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Identificamos um menino vestido como se estivesse pronto para ir ao trabalho: vestido com camisa social representa a miniatura de um homem que assume seu papel na sociedade, futuro “homem de negócios” sendo um pilar na construção da família.A imagem acima

criança, meninos e meninas são educados de modos distintos, sendo que o menino aprende desde cedo que seu lugar é o mundo do trabalho. A eles é destinada a tarefa de organizar e planejar as contas e o orçamento da casa. Já as meninas são

consequentemente boas mães. A elas é destinado o cuidado do lar e dos filhos e filhas.

Além disso, a revista chama a atenção para a frase: A REVISTA ACREDITA QUE FAMÍLIA É TUDO. Louro (2010) destaca que se perp

construída de um pai e uma mãe, e usualmente, dois filhos, uma menina e um menino. De acordo com os discursos sobre gênero, a família tem um papel importante na construção da identidade do sujeito, porém, o que devemos ter atenção é para o fato de que não podemos considerar que só é família, ou que a família é tudo quando é composta, pelo pai, pela mãe, filhos e filhas e ainda que famílias formadas por homossexuais não sejam consideradas famílias pela sociedade.

(2000) menciona que a mídia nos diz como devemos ocupar uma posição de sujeito particular adolescente esperto, o trabalhador em ascensão ou a mãe sensível.

Cria-se segundo Louro (2010) o modelo normal de família, constituída por um casal heterossexual e seus filhos. Essa forma de organização social, mais do que normal, ela é tomada

Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2012. ISSN Figura 2- Edição de dezembro de 2012.

Identificamos um menino vestido como se estivesse pronto para ir ao trabalho: vestido com camisa social representa a miniatura de um homem que assume seu papel na sociedade, futuro “homem de negócios” sendo um pilar na construção da família.A imagem acima

criança, meninos e meninas são educados de modos distintos, sendo que o menino aprende desde cedo que seu lugar é o mundo do trabalho. A eles é destinada a tarefa de organizar e planejar as contas e o orçamento da casa. Já as meninas são educadas para serem futuras donas de casa, e consequentemente boas mães. A elas é destinado o cuidado do lar e dos filhos e filhas.

Além disso, a revista chama a atenção para a frase: A REVISTA ACREDITA QUE FAMÍLIA É TUDO. Louro (2010) destaca que se perpetua a representação de uma família típica, construída de um pai e uma mãe, e usualmente, dois filhos, uma menina e um menino. De acordo com os discursos sobre gênero, a família tem um papel importante na construção da identidade do evemos ter atenção é para o fato de que não podemos considerar que só é família, ou que a família é tudo quando é composta, pelo pai, pela mãe, filhos e filhas e ainda que famílias formadas por homossexuais não sejam consideradas famílias pela sociedade.

(2000) menciona que a mídia nos diz como devemos ocupar uma posição de sujeito particular adolescente esperto, o trabalhador em ascensão ou a mãe sensível.

se segundo Louro (2010) o modelo normal de família, constituída por um casal heterossexual e seus filhos. Essa forma de organização social, mais do que normal, ela é tomada

6 , 2012. ISSN2179-510X

Identificamos um menino vestido como se estivesse pronto para ir ao trabalho: vestido com camisa social representa a miniatura de um homem que assume seu papel na sociedade, futuro “homem de negócios” sendo um pilar na construção da família.A imagem acima destaca que desde criança, meninos e meninas são educados de modos distintos, sendo que o menino aprende desde cedo que seu lugar é o mundo do trabalho. A eles é destinada a tarefa de organizar e planejar as educadas para serem futuras donas de casa, e consequentemente boas mães. A elas é destinado o cuidado do lar e dos filhos e filhas.

Além disso, a revista chama a atenção para a frase: A REVISTA ACREDITA QUE etua a representação de uma família típica, construída de um pai e uma mãe, e usualmente, dois filhos, uma menina e um menino. De acordo com os discursos sobre gênero, a família tem um papel importante na construção da identidade do evemos ter atenção é para o fato de que não podemos considerar que só é família, ou que a família é tudo quando é composta, pelo pai, pela mãe, filhos e filhas e ainda que famílias formadas por homossexuais não sejam consideradas famílias pela sociedade. Woodward (2000) menciona que a mídia nos diz como devemos ocupar uma posição de sujeito particular- o se segundo Louro (2010) o modelo normal de família, constituída por um casal heterossexual e seus filhos. Essa forma de organização social, mais do que normal, ela é tomada

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como natural. São discursos produzidos e reproduzidos através dos artefatos culturais, que ditam regras, normas, padrões a serem seguidos criando, portanto, identidades moldadas. Além de identidades moldadas ocorre um processo de naturalização tanto da família ideal como da heterossexualidade. Ao me referir aos discursos de gênero nas capas da revista Pais e filhos, lembro que o que apresento é o meu modo de olhar, é o meu modo de me posicionar para as representações que incomodam e me inquietam. Notamos que os discursos são produzidos através de imagens de propagandas publicitárias, que são contempladas por textos, palavras que se misturam.

A Figura 3, edição de Fevereiro de 2012, é mais um artefato cultural no qual podemos notar discursos sobre os gêneros. Enfatiza fortemente o discurso de que existem dois mundos paralelos: o mundo dos meninos e o mundo das meninas. Assim comportamentos são sugeridos aos meninos que não podem ser o mesmo que o comportamento das meninas. Do mesmo modo que alguns brinquedos e roupas servem á meninos, mas não servem a meninas. Isso porque de acordo com os discursos relacionados a gênero, eles e elas não podem ter o mesmo comportamento e participar das mesmas atividades. Meninos não brincam de bonecas, assim como meninas não brincam com carrinhos, não sobem em árvores.

A capa da revista abaixo apresenta essa organização sutilmente quando diz: 3 LOOKS COMPLETOS PARA MENINOS E 3 PARA MENINAS. Isso nos permite questionar: Que diferenças imbricadas nas propagandas e publicidades insistem em se instaurar sobre meninos e meninas e a moldar identidades? De acordo com Louro (2010) é preciso considerar a identidade como uma construção social, que esteja sempre em processo, portanto nunca acabada, pronta ou fixa.

Desse modo, nos perguntamos? Como os discursos se entrelaçam as imagens para atuar na construção da identidade do sujeito? Para Jaeger (2009) os discursos são, antes de tudo, práticas sociais que envolvem relações de poder produzidas nos diferentes campos do saber e nas diferentes instâncias sociais. Como práticas sociais os enunciados produzem posições do sujeito, e desses lugares os indivíduos produzem suas experiências e as formas das quais se reconhecem como sujeitos.

Na Figura 3 notamos como o gênero está representado. O discurso reproduzido nesta capa afirma que existem roupas para meninos e para as meninas, sugerindo que as cores, brinquedos, esportes também. Assim meninos e meninas acreditam que seus comportamentos e atitudes não podem ser equivalentes. Através do anúncio na capa da revista, criam-se papéis a serem seguidos

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para meninos e meninas e que são normatizados pela sociedade. Mais do que normal, encontramos formas de naturalizar esses discursos.

Porém, Meyer (2001) destaca que é preciso pensar que há muitas formas de sermos homens e mulheres, ao longo do tempo, ou no mesmo tempo histórico, nos diferentes grupos ou segmentos sociais. Então, que discursos são esses que ditam modos de ser menino ou

vezes, tornam-se verdades absolutas?

Em uma tese de doutorado realizada por Beck (2012), a autora acrescenta que pelo fato de estarmos inseridos cotidianamente num mundo midiático, nossas identidades vão sendo forjadas e construídas por meio de seus variados apelos, mecanismos e estratégias. Esses artefatos culturais sugerem formas de ser feminino e masculino e atribuem verdade aos discursos, nos fazendo pensar que o modo como inscrevemos nossos corpos deva ser algo fixo e imutável. Q

um menino um carrinho ou a uma menina uma boneca não estamos apenas repassando um hábito, mas sim reforçando as diferenças biológicas entre homens e mulheres, incentivando para que desigualdades sejam reforçadas.

Outro anúncio que faremo

FASHION WEEKEND KIDS. Neste anúncio podemos notar uma erotização da infância através de um evento de moda. Um evento que é conhecido mundialmente, como um evento de adultos passa a

Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2012. ISSN

e que são normatizados pela sociedade. Mais do que normal, encontramos formas de naturalizar esses discursos.

Figura 3 – Edição Fevereiro de 2012.

Porém, Meyer (2001) destaca que é preciso pensar que há muitas formas de sermos homens e mulheres, ao longo do tempo, ou no mesmo tempo histórico, nos diferentes grupos ou segmentos sociais. Então, que discursos são esses que ditam modos de ser menino ou

se verdades absolutas?

Em uma tese de doutorado realizada por Beck (2012), a autora acrescenta que pelo fato de estarmos inseridos cotidianamente num mundo midiático, nossas identidades vão sendo forjadas e or meio de seus variados apelos, mecanismos e estratégias. Esses artefatos culturais sugerem formas de ser feminino e masculino e atribuem verdade aos discursos, nos fazendo pensar que o modo como inscrevemos nossos corpos deva ser algo fixo e imutável. Q

um menino um carrinho ou a uma menina uma boneca não estamos apenas repassando um hábito, mas sim reforçando as diferenças biológicas entre homens e mulheres, incentivando para que Outro anúncio que faremos menção desta edição é a frase: COBERTURA COMPLETA DO FASHION WEEKEND KIDS. Neste anúncio podemos notar uma erotização da infância através de um evento de moda. Um evento que é conhecido mundialmente, como um evento de adultos passa a

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e que são normatizados pela sociedade. Mais do que normal, encontramos

Porém, Meyer (2001) destaca que é preciso pensar que há muitas formas de sermos homens e mulheres, ao longo do tempo, ou no mesmo tempo histórico, nos diferentes grupos ou segmentos sociais. Então, que discursos são esses que ditam modos de ser menino ou menina, e que muitas Em uma tese de doutorado realizada por Beck (2012), a autora acrescenta que pelo fato de estarmos inseridos cotidianamente num mundo midiático, nossas identidades vão sendo forjadas e or meio de seus variados apelos, mecanismos e estratégias. Esses artefatos culturais sugerem formas de ser feminino e masculino e atribuem verdade aos discursos, nos fazendo pensar que o modo como inscrevemos nossos corpos deva ser algo fixo e imutável. Quando se oferece a um menino um carrinho ou a uma menina uma boneca não estamos apenas repassando um hábito, mas sim reforçando as diferenças biológicas entre homens e mulheres, incentivando para que s menção desta edição é a frase: COBERTURA COMPLETA DO FASHION WEEKEND KIDS. Neste anúncio podemos notar uma erotização da infância através de um evento de moda. Um evento que é conhecido mundialmente, como um evento de adultos passa a

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ser utilizado como instrumento para incentivar as crianças ao consumo. Além de fazer com que as crianças se tornem consumidoras, provoca a erotização da imagem delas. De acordo com Felipe e Guizzo (2003) não é difícil encontrar propagandas e anúncios onde a criança é mostrada em pose sensual ou em um contexto de sedução. Procurando relacionar o Fashion Wekeend dos adultos ao Fashion WekeendKids proposto pela revista Pai e Filhos, imaginamos meninas lindas, belas e preocupadas com a aparência e que consequentemente serão adultas consumidoras dos produtos de beleza, das dietas rigorosas, preocupadas a cada dia em manter a beleza, a delicadeza, e a fragilidade. E nfim, foram elencadas como exemplo, as edições da revista Pais e Filhos por entender que elas são um dos artefatos culturais que atuam na produção e reprodução desses discursos.

Considerações finais

Através da revista Pais e Filhos, buscamos nesta pesquisa chamar a atenção para o modo como os discursos são articulados pela mídia produzindo e reproduzindo normas a serem seguidas tanto pelo sexo feminino quanto para o sexo masculino.

A mídia muitas vezes, se utiliza de diversos artefatos culturais para perpetuar esses discursos nos espaços da escola e principalmente fora dela. Além das revistas, utiliza-se de musicas, filmes, sites para criar representações adequadas ao homem e a mulher. Além de criar essas representações adequadas ao homem e a mulher, atua na constituição da identidade do sujeito, identidades muitas vezes, moldadas de acordo com o que a sociedade deseja. Assim Hallmenciona:

É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas (HALL, 2005, p. 109).

Cabe salientar, que a proposta desta pesquisa foi chamar a atenção para os discursos sobre gênero e as representações para o sexo feminino e o masculino que nos incomodam e nos inquietam. Enfim, identificamos que diferentes discursos nos interpelam por meio dos artefatos culturais onde utilizam as crianças como estratégia para enraizar normas, padrões e comportamentos a serem seguidos, pois se considera que o que ela aprende na escola, irá se perpetuar fora dela, através de suas relações na sociedade.

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Genderedbodies: the cultural astifactsproducedand speeches ongender

Abstract: The cultural artifacts are used in the media and serve as a mechanism for representation

while working in the constitution of the subject's identity. These artifacts when launched in the media, in addition to producing gendered bodies, produce and reproduce discourses of what is feminine and masculine. The aim of this study is to analyze the discourses on gender produced through the cultural artifacts, using as the main axis collection of magazines Parents and children. The research is qualitative and assumes documentary, which will be based on content analysis. The results show that these cultural artifacts sustain and teach manners and behavior to be followed as a man or woman and so are required to discussions that contemplate the gender.

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