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Síntese e degradação de bases púricas e pirimídicas

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Academic year: 2021

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Síntese e degradação de bases púricas e pirimídicas

Índice

1- A estrutura das bases púricas e das bases pirimídicas ... 1

2- A estrutura e a nomenclatura dos nucleosídeos púricos e pirimídicos ... 1

3- A estrutura e a nomenclatura dos nucleotídeos púricos e pirimídicos ... 2

4- A digestão dos ácidos nucleicos e a absorção e destino metabólico dos nucleosídeos da dieta ... 2

5- A síntese de novo das purinas ... 2

6- A síntese de AMP e GMP a partir do inosinato... 2

7- Vias de salvação de bases púricas e de nucleosídeos ... 3

8- As cínases de nucleosídeos monofosfato e a cínase de nucleosídeos difosfato ... 3

9- A redução dos ribonucleosídeos difosfato pelas formas reduzidas da tioredoxina e glutaredoxina ... 4

10- O catabolismo dos nucleotídeos púricos ... 4

11- A conversão de AMP em ácido úrico ... 4

12- A conversão da guanosina em ácido úrico ... 5

13- Causas de hiperuricemia e a gota ... 6

14- A síntese de novo das pirimidinas ... 6

15- A síntese de CTP, de UTP e do 2’-desoxiuridilato a partir de uridina difosfato ... 7

16- A síntese do timidilato a partir de 2’-desoxiuridilato e o ciclo do dihidrofolato ... 7

17- A fosforribosiltransférase do uracilo e as cínases de nucleosídeos pirimídicos ... 8

18- O catabolismo dos nucleosídeos pirimídicos e das bases pirimídicas ... 8

19- A regulação da síntese de nucleotídeos púricos e pirimídicos... 8

20- A regulação da redútase dos ribonucleosídeos difosfato ... 9

21- A importância da glutamina quer como substrato na síntese de nucleotídeos quer como nutriente nas células em proliferação rápida ... 9

22- Fármacos inibidores da síntese de nucleotídeos ... 9

23- Ação de enzimas do metabolismo dos nucleotídeos no efeito terapêutico do aciclovir ... 10 1- A estrutura das bases púricas e das bases pirimídicas

Os nucleotídeos contêm resíduos de ácido fosfórico, de um açúcar (em geral uma pentose: ribose ou 2'-desoxiribose) e de uma base púrica ou pirimídica. Quer as bases púricas, quer as pirimídicas são anéis aromáticos heterocíclicos contendo átomos de azoto e carbono. As bases púricas podem ser entendidas como constituídas por um anel pirimidina (anel com 6 átomos: 4C,2N) ligado a um anel imidazol (anel com 5 átomos: 3C,2N). São bases púricas a adenina (6-aminopurina), a guanina (2-amino-6-oxipurina), a hipoxantina (6-oxipurina) e a xantina (2,6-dioxipurina). São bases pirimídicas a citosina (2-oxi-4-aminopirimidina), o uracilo dioxipirimidina), a timina (2,4-dioxi-5-metilpirimidina) e o ácido orótico (2,4-dioxi-6-carboxipirimidina).

2- A estrutura e a nomenclatura dos nucleosídeos púricos e pirimídicos

Por hidrólise dos nucleotídeos (saída dos resíduos fosfato) geram-se nucleosídeos púricos (adenosina, guanosina, inosina, xantosina) ou pirimídicos (citidina, uridina, timidina e orotidina) que contêm uma base e uma ose ligados por uma ligação glicosídica de tipo N. No caso dos nucleosídeos púricos, as palavras que os designam terminam em “osina” e a ligação glicosídica envolve o átomo N9 da base. A inosina é o nucleosídeo que contém hipoxantina; nos outros casos a relação entre as designações da base púrica e do nucleosídeo respetivo é óbvia. No caso dos

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nucleosídeos pirimídicos as palavras que os designam terminam em “dina” e a ligação glicosídica envolve o átomo N1 da base. ´

Quando a pentose é a ‘2-desoxiribose os nucleosídeos respetivos têm o prefixo 2’desoxi; por exemplo a 2’-desoxiadenosina ou a 2’-desoxiuridina. No caso da timidina quando não se especifica o contrário subentende-se que o açúcar é a 2’-desoxiribose.

3- A estrutura e a nomenclatura dos nucleotídeos púricos e pirimídicos

Os nucleosídeos monofosfato (NMP) são os nucleotídeos mais simples e designam-se de acordo com o nucleosídeo constituinte: adenilato (AMP), guanilato (GMP), inosinato (IMP), xantinilato (XMP), citidilato (CMP), uridilato (UMP), timidilato (TMP) e orotidilato (OMP). Se não se específica o contrário subentende-se que o fosfato está ligado (ligação fosfoéster) no hidroxilo 5’ da pentose. Os nucleosídeos difosfato e trifosfato como o ADP (adenosina difosfato) e o ATP (adenosina trifosfato) também são nucleotídeos.

4- A digestão dos ácidos nucleicos e a absorção e destino metabólico dos nucleosídeos da dieta

Os ácidos nucleicos constituintes da dieta são hidrolisados no lúmen intestinal por ação de nucléases pancreáticas e fosfátases intestinais formando-se nucleosídeos que são absorvidos. Contudo, a quase totalidade das purinas e a maior parte das pirimidinas que os constituem não são incorporados nos ácidos nucleicos do organismo, mas antes degradadas na mucosa intestinal e no fígado sendo os produtos do seu catabolismo excretados [1]. Os produtos excretados são o ácido úrico no caso das purinas e CO2 + ureia + β-aminoisobutirato no caso das pirimidinas.

5- A síntese de novo das purinas

Na síntese de novo das purinas todas as enzimas são citoplasmáticas e todos os intermediários contêm ribose-5-fosfato. O primeiro nucleotídeo formado é a inosina-5’-fosfato (IMP ou inosinato) cuja base é a hipoxantina (6-oxipurina). Sendo uma via complexa destacamos apenas alguns passos do processo.

Na primeira reação a ribose-5-fosfato, formada na via das pentoses-fosfato, funciona como aceitador dos fosfatos β-γ do ATP que se ligam no carbono 1 da ribose gerando-se fosfo-ribosil-pirofosfato (PRPP); esta reação é catalisada pela síntase do PRPP (ver Equação 1). Na segunda reação ocorre rotura da ligação glicosídica formada na primeira reação e transferência do azoto do grupo amida da glutamina para o carbono 1 da ribose formando-se 5-fosforibosilamina; esta reação é catalisada pela amido-fosforibosil-transférase da glutamina (ver Equação 2). O azoto N9 do anel purina deriva assim da glutamina.

Equação 1 ribose-5-fosfato + ATP → PRPP + AMP

Equação 2 PRPP + glutamina → 5-fosforibosilamina + glutamato + PPi

Sucessivamente vão-se incorporando a glicina (que origina os átomos C4, C5 e N7 das purinas), uma unidade monocarbonada cedida pelo N10-formil-H4-folato (C8), outro azoto do grupo amida da glutamina (N3), o CO2 (C6), o grupo amina do aspartato (N1) e outra unidade

monocarbonada cedida pelo N10-formil-H4-folato (C2).

A equação geral que descreve o processo da síntese de novo das purinas entre ribose-5-fosfato e IMP é a Equação 3. Essa equação evidencia que a formação de alguns dos intermediários fosforibosilo da via metabólica está acoplada com a rotura de ligações fosfoanidrido do ATP, que os carbonos do aspartato saem na forma de fumarato e que o N10-formil-folato se converte em

H4-folato e a glutamina em glutamato.

Equação 3 ribose-5-fosfato + 5 ATP + 2 glutamina + glicina + aspartato + 2 N10-formil-H4-folato +

CO2→

IMP + AMP + 4 ADP + PPi + 4 Pi + 2 glutamato + 2 H4-folato + fumarato

6- A síntese de AMP e GMP a partir do inosinato

É a partir do IMP que se formam quer o AMP (por aminação do carbono 6), quer o GMP (oxidação dependente do NAD+ e posterior aminação do carbono 2).

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O dador do grupo 6-amina do AMP é o aspartato. Na formação do AMP a partir do IMP intervém a sintétase de adenilosuccinato (ver Equação 4); o adenilosuccinato formado sofre, de seguida, a ação de uma líase desdobrando-se em AMP e fumarato (líase do adenilosuccinato; ver Equação 5). A equação soma que descreve a síntese de AMP a partir de IMP é a Equação 6.

Equação 4 IMP + aspartato + GTP → adenilosuccinato + GDP + Pi Equação 5 adenilosuccinato AMP + fumarato

Equação 6 IMP + aspartato + GTP → AMP + GDP + Pi + fumarato

O dador do grupo 2-amina do GMP é a glutamina; na formação do GMP a partir do IMP intervém a desidrogénase do IMP que origina XMP (ver Equação 7); o intermediário XMP funciona, de seguida, como aceitador do grupo amina da glutamina (sintétase do guanilato; ver Equação 8). A equação soma que descreve a síntese de GMP a partir de IMP é a Equação 9.

Equação 7 IMP + NAD+→ XMP + NADH

Equação 8 XMP + glutamina + ATP → GMP + glutamato + AMP + PPi

Equação 9 IMP + NAD+ + glutamina + ATP → GMP + NADH + glutamato + AMP + PPi

Curiosamente, no processo de aminação (carbono 6) do IMP e consequente formação do AMP consome-se “uma ligação rica em energia do GTP” (ver Equação 4 e Equação 6) enquanto no processo de aminação (carbono 2) que origina o GMP se consomem “duas ligações ricas em energia do ATP” (ver Equação 8 e Equação 9; notar que o PPi formado vai sofrer hidrólise subsequente). 7- Vias de salvação de bases púricas e de nucleosídeos

Para além de poderem ter origem na síntese de novo, os nucleotídeos púricos também podem formar-se (1) a partir das bases guanina, hipoxantina e adenina ou (2) a partir dos nucleosídeos.

(1) A síntese a partir das bases envolve transferência de ribose-5-fosfato do PRPP para as bases com libertação de PPi e as enzimas que catalisam estas reações designam-se por transférases de fosforibosilo ou fosforribosiltransférases (ver Equação 10). No que se refere às bases púricas existem nos mamíferos duas enzimas com este tipo de atividade: a fosforribosiltransférase da guanina e da hipoxantina (ver Equação 11) e a fosforribosiltransférase da adenina (ver Equação 12).

Equação 10 base + PRPP NMP + PPi

Equação 11 guanina ou hipoxantina + PRPP GMP ou IMP + PPi Equação 12 adenina + PRPP AMP + PPi

(2) A síntese de nucleotídeos púricos e pirimídicos a partir dos nucleosídeos envolve a ação de diversas cínases dos nucleosídeos que catalisam a transferência do fosfato terminal do ATP para o carbono 5’ do resíduo de ribose (ou desoxiribose) dos diversos nucleosídeos levando à formação de nucleosídeos monofosfato (ver Equação 13).

Equação 13 ATP + nucleosídeo ADP + NMP

As reações catalisadas pelas fosforribosiltransférases e pelas cínases de nucleosídeos também se designam por “vias de salvação” (ou “de recuperação”) pois permitem recuperar, respetivamente, bases e nucleosídeos a nucleotídeos. Na ausência destas “vias de salvação” as bases guanina, hipoxantina e xantina assim como todos os nucleosídeos (resultantes de nucleotídeos) continuariam o seu processo catabólico com formação de ácido úrico que se perde na urina. Embora o processo de síntese de novo de nucleotídeos púricos seja pouco ativo, os processos que levam à degradação destes a nucleosídeos e às bases, assim como as "vias de salvação" são, em muitos tecidos, processos importantes e com atividade elevada.

8- As cínases de nucleosídeos monofosfato e a cínase de nucleosídeos difosfato

Quer no caso dos nucleotídeos púricos quer no caso dos pirimídicos, a conversão dos nucleotídeos que contêm um resíduo de fosfato (nucleosídeos monofosfato; NMP) em nucleosídeos

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difosfato (NDP) e destes em nucleosídeos trifosfato (NTP) envolve a ação de cínases que catalisam a transferência do fosfato terminal do ATP para os substratos aceitadores. A cínase de nucleosídeos difosfato (ver Equação 14) é muito inespecífica quer relativamente à base, quer ao açúcar mas, na conversão dos nucleosídeos monofosfato em nucleosídeos difosfato (ver Equação 15) intervêm diversas cínases com diferentes especificidades; a cínase do adenilato (ver Equação 16) é um exemplo deste tipo de cínases.

Equação 14 ATP + NDP ↔ ADP + NTP Equação 15 ATP + NMP ↔ ADP + NDP Equação 16 ATP + AMP ↔ 2 ADP

Na síntese de ATP a partir de ADP tem particular relevância a síntase de ATP da membrana interna da mitocôndria.

A diminuição do número de fosfatos dos nucleotídeos pode envolver múltiplas enzimas como, por exemplo, fosfátases específicas e inespecíficas. A hidrólise dos nucleosídeos monofosfato é catalisada por fosfátases que se designam de nucleotídases (ver Equação 17): a ação das 5’-nucleotídases leva à formação de nucleosídeos.

Equação 17 NMP + H2O → nucleosídeo + Pi

9- A redução dos ribonucleosídeos difosfato pelas formas reduzidas da tioredoxina e glutaredoxina

Os derivados 2’-desoxinucleotídeos (quer púricos quer pirimídicos) formam-se por ação da redútase dos ribonucleosídeos difosfato e os agentes redutores diretos são duas proteínas: as formas reduzidas da tioredoxina e da glutaredoxina (ver Equação 18).

A manutenção da tioredoxina e da glutaredoxina nas formas reduzidas depende, em última instância, do NADPH e da ação catalítica de oxi-redútases específicas. Na ação da redútase da tioredoxina o redutor direto é o NADPH (ver Equação 19) mas, na ação da redútase da glutaredoxina, o redutor direto é o glutatião (ver Equação 20). A redução do GSSG formado aquando da ação da redútase da glutaredoxina é catalisada pela redútase do glutatião, uma enzima em que o agente redutor é o NADPH (ver Equação 21).

Equação 18 NDP + tioredoxina reduzida ou glutaredoxina reduzida 2’-dNDP + tioredoxina oxidada ou glutaredoxina oxidada Equação 19 tioredoxina oxidada + NADPH → tioredoxina reduzida + NADP+

Equação 20 glutaredoxina oxidada + 2 GSH → glutaredoxina reduzida + GSSG Equação 21 GSSG + NADPH → 2 GSH + NADP+

A redução dos NDPs ocorre no hidroxilo 2’. São substratos da redútase dos ribonucleosídeos difosfato o ADP, o GDP, o UDP e o CDP. Como será explicado adiante, os nucleotídeos da timina (TMP, TDP e TTP) formam-se a partir do 2’-dUDP ou do 2’-dCDP. Quando não se especifica o contrário subentende-se que a pentose da timidina e dos nucleotídeos da timina é a 2’-desoxiribose; nos outros casos subentende-se que é a ribose.

10- O catabolismo dos nucleotídeos púricos

No processo catabólico, os nucleosídeos monofosfato (NMP) sofrem hidrólise na ligação fosfoéster (5’-nucleotídase) formando-se os respetivos nucleosídeos (ver Equação 17); a partir do AMP forma-se adenosina e a partir do GMP, guanosina. As vias catabólicas seguidas pela adenosina e pela guanosina são algo distintas mas, em ambos os casos, o produto final é o urato, uma substância em que o anel purina se mantém intacto e que é excretada na urina.

11- A conversão de AMP em ácido úrico

A adenosina formada pela ação da 5’-nucleotídase é desaminada a inosina por ação catalítica de uma hidrólase: a desamínase da adenosina (ver Equação 22). De facto, a conversão do AMP em inosina também pode seguir uma sequência em que o primeiro passo é a desaminação (catalisada pela desamínase do AMP; ver Equação 23) e o segundo a hidrólise (ver Equação 24) do fosfoéster do IMP,

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o nucleotídeo formado pela desamínase do AMP. Ou seja, na conversão de AMP em inosina, a sequência de reações pode seguir um caminho em que primeiro ocorre a hidrólise do grupo fosfato (ver Equação 17) e depois a desaminação hidrolítica do grupo 6-amina (ver Equação 22) ou o inverso (ver Equação 23 e Equação 24).

Equação 22 adenosina + H2O → inosina + NH4+

Equação 23 AMP + H2O → IMP + NH4+

Equação 24 IMP + H2O → inosina + Pi

A inosina formada perde a pentose e gera hipoxantina por ação de uma fosforílase de nucleosídeos; ou seja, a fosforílase catalisa a fosforólise da inosina ficando o fosfato que reagiu ligado ao carbono 1 da ribose e libertando-se a base hipoxantina (ver Equação 25).

Equação 25 inosina + Pi hipoxantina + ribose-1-fosfato

As oxidações da hipoxantina a xantina e da xantina a ácido úrico são da responsabilidade de uma mesma enzima: a oxiredútase da xantina. De facto, o produto do gene codificador da enzima é uma desidrogénase dependente do NAD+ (desidrogénase da xantina; ver Equação 26 e Equação 27)

que se pode converter numa oxídase (oxídase da xantina; ver Equação 28 e Equação 29). Aparentemente, in vivo, podem coexistir as duas formas da enzima [2].

Equação 26 hipoxantina + NAD+ xantina + NADH

Equação 27 xantina + NAD+ urato + NADH

Equação 28 hipoxantina + O2→ xantina + H2O2

Equação 29 xantina + O2→ urato + H2O2

Assim, a hidrólise do grupo 6-amina da adenina pode quando esta está ligada à ribose (adenosina) ou à ribose-5-fosfato (AMP): na formação de urato a partir de AMP temos duas sequências alternativas:

(1) AMP → adenosina → inosina → hipoxantina → xantina → urato (2) AMP → IMP → inosina → hipoxantina → xantina → urato.

A 1-fosfato formada aquando da ação da fosforílase pode sofrer isomerização a ribose-5-fosfato (ver Equação 30).

Equação 30 ribose-1-fosfato ↔ ribose-5-fosfato 12- A conversão da guanosina em ácido úrico

No processo catabólico da guanosina (formada pela ação da 5’-nucleotídase; ver Equação 17) há, relativamente ao caso da adenosina, uma inversão na sequência das reações e forma-se diretamente xantina em vez de hipoxantina. Aqui é a própria guanosina que sofre fosforólise gerando a guanina (ver Equação 31) e é a base (e não o correspondente nucleosídeo ou o correspondente nucleotídeo) que sofre desaminação hidrolítica (guanase ou desamínase da guanina; ver Equação 32). Da ação da guanase (ver Equação 32) resulta a formação da xantina que, por ação da oxiredútase da xantina, origina o urato (ver Equação 27 e Equação 29). Assim, a formação de urato a partir de GMP ocorre via GMP → guanosina → guanina → xantina → urato.

Equação 31 guanosina + Pi → guanina + ribose-1-fosfato Equação 32 guanina + H2O → xantina + NH4+

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13- Causas de hiperuricemia e a gota

O ácido úrico é excretado na urina1. À condição em que, quer por excesso de formação, quer

por défice de excreção (mais frequente) a sua concentração aumenta no plasma dá-se o nome de hiperuricemia.

Uma das causas possíveis de hiperuricemia é o aumento da velocidade de destruição celular como a que ocorre em neoplasias durante a quimioterapia ou a radioterapia.

Uma causa rara de hiperuricemia é o síndrome de Lesch-Nyhan que se deve a alterações no gene que codifica a fosforribosiltransférase da hipoxantina e guanina (ver Equação 11). Nesta doença, a baixa atividade da enzima prejudica a via de salvação das bases púricas hipoxantina e guanina havendo excesso de produção de ácido úrico e alterações neurológicas de patogenia desconhecida (que incluem atraso mental e comportamentos anormais de automutilação).

Na ausência de qualquer patologia, a concentração normal de urato no plasma encontra-se perto do limite de solubilidade. Quando, devido a concentração elevada, o ácido úrico precipita na sinovial de articulações pode haver uma resposta inflamatória que provoca dor; esta condição patológica denomina-se gota. O tratamento da gota e das hiperuricemias de qualquer causa pode incluir a administração de alopurinol, um fármaco que inibe a oxiredútase da xantina (ver Equações 26-29). Aquando da administração de alopurinol, as concentrações plasmáticas de hipoxantina e de xantina aumentam anormalmente mas, porque são mais solúveis que o urato, não precipitam.

14- A síntese de novo das pirimidinas

A via da síntese de novo dos nucleotídeos pirimídicos envolve, como primeiro passo, uma sintétase de carbamil-fosfato citoplasmática (sintétase de carbamil-fosfato II) em que o dador de azoto é a glutamina (ver Equação 33). A segunda reação é catalisada pela transcarbamílase do aspartato (ver Equação 34). O carbamil-aspartato sofre a ação de uma desidrátase formando o dihidro-orotato que é o primeiro composto cíclico da via metabólica (ver Equação 35).

O dihidro-orotato é substrato da desidrogénase do dihidro-orotato que catalisa a sua oxidação a orotato (ver Equação 36). A desidrogénase do dihidro-orotato é uma enzima que contém FMN como grupo prostético e que se situa na face externa da membrana interna da mitocôndria tendo o centro ativo voltado para o espaço intermembranar [3]. Os eletrões que resultam da oxidação do dihidro-orotato, via FMN, reduzem a ubiquinona a ubiquinol e via complexos III e IV da cadeia respiratória acabam por reduzir o oxigénio a H2O.

O orotato formado vai reagir com o PRPP gerando o primeiro nucleotídeo desta via metabólica: o orotidilato (OMP); a reação é catalisada pela fosforribosiltransférase do orotato (ver Equação 37). O OMP por descarboxilação gera o UMP (ver Equação 38).

Equação 33 CO2 + glutamina + 2 ATP carbamil-fosfato + 2 ADP + Pi + glutamato Equação 34 carbamil-fosfato + aspartato carbamil-aspartato + Pi

Equação 35 carbamil-aspartato dihidro-orotato + H2O

Equação 36 dihidro-orotato + ubiquinona orotato + ubiquinol Equação 37 orotato + PRPP OMP + PPi

Equação 38 OMP UMP + CO2

Por ação catalítica de uma cínase o UMP pode ser fosforilado a UDP (ver Equação 15) que está na origem quer do CTP, quer do 2’-dUDP, quer do TMP.

Com exceção da desidrogénase do dihidro-orotato todas as enzimas da via de síntese dos nucleotídeos pirimídicos se situam no citoplasma das células.

Os átomos N1, C4, C5 e C6 do anel pirimidina têm origem no aspartato; o átomo N3 tem origem no grupo amida da glutamina e o átomo C2, no CO2. A equação soma relativa à síntese do

UDP (síntese de PRPP incluída; ver Equação 1) é a Equação 39. As 4 moléculas de ATP que se

1 O ácido úrico constitui sempre uma pequena percentagem do azoto excretado. A quantidade de ácido úrico excretado é de cerca de 4 mmol/dia (o que corresponde a 16 mmol de N /dia). Se admitirmos balanço azotado nulo e uma ingestão de 100 g diárias de proteínas a massa de azoto excretado será de 16 g/dia (pouco mais de 1 mole de N) e a percentagem do azoto total excretado que sai na forma de ácido úrico seria inferior a 2 % [0,016 mol / (16g/14g) mol = 1,4 %]. De notar que, admitindo balanço nulo na formação e catabolismo dos nucleotídeos púricos, a velocidade de síntese de novo dos nucleotídeos púricos (cerca de 4 mmol/dia) é 4 ordens de grandeza inferior à síntese de ATP via fosforilação do ADP (cerca de 60 moles/dia).

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consomem na síntese de uma molécula de UDP a partir de ribose-5-fosfato, CO2, glutamina e

aspartato são utilizadas nas ações catalíticas da síntase do PRPP (ver Equação 1), da sintétase de carbamil-fosfato II (ver Equação 33; 2 ATPs) e da cínase do UMP (ver Equação 15). (Uma molécula de CO2 é consumida na ação da sintétase de carbamil-fosfato II, mas forma-se outra na

descarboxilação do OMP).

Equação 39 ribose-5-fosfato + glutamina + aspartato + 4 ATP + ubiquinona → UDP + glutamato + AMP + PPi + 3 ADP + 2 Pi + ubiquinol

15- A síntese de CTP, de UTP e do 2’-desoxiuridilato a partir de uridina difosfato

(i) O CTP forma-se por aminação do carbono 4 do UTP por ação da sintétase do CTP (o dador do grupo amina é a glutamina que sai como glutamato; ver Equação 40). O UTP, que é substrato desta sintétase, forma-se por fosforilação do UDP (ação da cínase de nucleosídeos difosfato; ver Equação 14).

(ii) O TMP forma-se por metilação do carbono 5 do 2’-dUMP e o 2’-dUMP também tem origem no UDP. Por ação da redútase dos ribonucleosídeos difosfato (ver Equação 18) o UDP converte-se em 2’-dUDP que, por ação da cínase de nucleosídeos difosfato, origina o 2’-dUTP (Equação 14). O 2’-dUMP pode formar-se a partir do 2’-dUTP por ação catalítica de uma hidrólase específica que atua na ligação entre os fosfatos α e β do 2’-dUTP (ver Equação 41).

Uma outra via metabólica que também se inicia no UDP e origina 2’-dUMP tem como intermediário o CTP que foi formado na ação catalítica da sintétase do CTP (ver Equação 40). O CTP é desfosforilado a CDP, o CDP é reduzido a 2’-dCDP pela ação da redútase dos ribonucleosídeos difosfato (ver Equação 18) e o 2’-dCDP é desfosforilado a 2’-dCMP que, por ação da desamínase do 2’-dCMP, sofre desaminação hidrolítica no carbono 4 originando o 2’-dUMP (ver Equação 42). Equação 40 UTP + glutamina + ATP CTP + glutamato + ADP + Pi

Equação 41 2’-dUTP + H2O → 2’-dUMP + PPi

Equação 42 2’-dCMP + H2O → 2’-dUMP + NH4+

Assim, dependendo das enzimas envolvidas, as sequências que levam à formação de 2’-dUMP a partir de UDP podem ser

UDP → 2’-dUDP → 2’-dUTP → 2’-dUMP ou

UDP → UTP → CTP → CDP → 2’-dCDP → 2’-dCMP → 2’-dUMP.

16- A síntese do timidilato a partir de 2’-desoxiuridilato e o ciclo do dihidrofolato

A reação de conversão do 2’-dUMP em TMP é catalisada pela síntase do timidilato (ou síntase do TMP) e consiste na metilação do 2’-dUMP pelo N5,N10-metileno-H4-folato (ver Equação

43). Nesta reação, ao contrário do que acontece na generalidade das reações de transferência de unidades monocarbonadas que envolvem o ácido fólico, o produto da reação não é o H4-folato, mas o dihidrofolato (H2-folato).

Ao contrário do H4-folato, o H2-folato não é aceitador de unidades monocarbonadas; por isso, a manutenção do processo metabólico exige a redução do H2-folato a H4-folato que ocorre à custa da oxidação do NADPH e é catalisada pela redútase do dihidrofolato (ver Equação 44). O N5,N10-metileno-H4-folato, dador do grupo metilo na síntese do TMP, pode formar-se por ação de

diversas enzimas onde se destacam a hidroxi-metil-transférase da serina (ver Equação 45) e a enzima de clivagem da glicina (ver Equação 46). É costume agrupar as reações em que o N5,N10

-metileno-H4-folato se converte em H2-folato (e o 2’-dUMP gera timidilato, ver Equação 43), o H2-folato se reduz a H4-folato (ver Equação 44) e este último é novamente metilado a N5,N10-metileno-H4-folato

(ver Equação 45 e Equação 46) sob a denominação de ciclo do dihidrofolato (N5,N10

-metileno-H4-folato → H2-folato → H4-folato → N5,N10-metileno-H4-folato).

Equação 43 2’-dUMP + N5,N10-metileno-H4-folato TMP + H2-folato

Equação 44 H2-folato + NADPH → H4-folato + NADP+

Equação 45 serina + H4-folato ↔ glicina + N5,N10-metileno-H4-folato

Equação 46 glicina + NAD+ + H4-folato NH

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17- A fosforribosiltransférase do uracilo e as cínases de nucleosídeos pirimídicos

Tal como no caso dos nucleosídeos das purinas também os nucleosídeos das pirimidinas (contendo diferentes bases e ribose ou desoxiribose) podem ser “salvos” por ação de cínases de nucleosídeos (ver Equação 13).

A “salvação” das bases pirimídicas (não ligadas à ribose ou à desoxiribose) é um processo pouco ativo mas, à semelhança do que acontece no caso das bases púricas adenina, guanina e hipoxantina, também o uracilo pode ser “salvo” por ação da fosforribosiltransférase do uracilo (ver Equação 47). (O orotato é, como já referido, um intermediário da via da síntese de novo das pirimidinas e a fosforribosiltransférase do orotato participa nessa via; ver Equação 37).

Equação 47 uracilo + PRPP → UMP + PPi

18- O catabolismo dos nucleosídeos pirimídicos e das bases pirimídicas

O catabolismo dos nucleotídeos pirimídicos envolve a prévia libertação das bases (citosina, uracilo e timina) por ação sequenciada de fosfátases que atuam nos nucleotídeos (5’-nucleotídase incluída; ver Equação 17) formando os nucleosídeos correspondentes e de fosforílases que atuam nos (2’-desoxi)nucleosídeos catalisando a sua fosforólise (com libertação das bases correspondentes e de (2-desoxi)ribose-1-fosfato; ver Equação 48).

Equação 48 citidina ou uridina ou timidina + Pi →

citosina ou uracilo ou timina + ribose-1-fosfato ou 2’-desoxiribose-1-fosfato No caso da citidina e da citosina o catabolismo envolve a desaminação hidrolítica formando-se, respetivamente, uridina e uracilo (ver Equação 49).

Equação 49 citidina (ou citosina) + H2O → uridina (ou uracilo) + NH4+

No catabolismo das bases pirimídicas, ao contrário do que acontece no caso das bases púricas, o anel sofre rotura formando-se CO2, amónio e β-aminoácidos que podem sofrer a ação de enzimas

catabólicas (convertendo-se em CO2, amónio e/ou ureia) ou serem parcialmente excretados intactos

na urina; no caso da timina o β-aminoácido formado é o β-aminoisobutirato. A Equação 50 e a Equação 51 são equações soma relativas aos catabolismos do uracilo e da timina. É de notar que, embora se tratem de vias catabólicas, ocorre, durante o processo, um passo redutor em que se consome NADPH. O amónio é transformado em ureia mas, dada a baixa taxa no metabolismo dos nucleotídeos relativamente à dos aminoácidos, o seu contributo para esta formação é relativamente pequeno2.

Equação 50 uracilo + NADPH + 2 H2O → NADP+ + alanina-β + CO2 + NH4+

Equação 51 timina + NADPH + 2 H2O → NADP+ + β-aminoisobutirato + CO2 + NH4+

19- A regulação da síntese de nucleotídeos púricos e pirimídicos

As atividades das enzimas que catalisam as vias de síntese de novo e de recuperação (“salvação”) das bases púricas e pirimídicas têm mecanismos de regulação de que os mais estudados são os mecanismos alostéricos.

(i) Uma reação comum às vias metabólicas de síntese de novo dos nucleotídeos púricos e pirimídicos é a síntese do PRPP (ver Equação 1). Esta reação é um dos pontos de controlo da velocidade de síntese de novo dos nucleotídeos púricos e pirimídicos, mas também nas vias de “salvação” que envolvem fosforribosiltransférases (o PRPP é o substrato dador de ribose-5-fosfato na ação destas enzimas). A síntase do PRPP é inibida por nucleotídeos quer púricos, quer pirimídicos.

(ii) Na via de síntese de novo das purinas existem outros passos de regulação de que destacamos os catalisados pela amido-fosforibosil-transférase da glutamina (ver Equação 2), pela sintétase de adenilosuccinato (Equação 4) e pela desidrogénase do IMP (ver Equação 7).

2 Na realidade, dado que os átomos de azoto presentes nas pirimidinas provêm da glutamina e do aspartato, podemos entender que a ureia formada a partir do amónio gerado no catabolismo das pirimidinas também provém, indiretamente, dos aminoácidos.

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A amido-fosforibosil-transférase da glutamina, a primeira enzima específica do processo de síntese das purinas, é inibida pelos nucleotídeos púricos e estimulada pelo PRPP. O PRPP é substrato da enzima, mas o valor do seu Km é superior ao das suas concentrações fisiológicas; por isso, a amido-fosforibosil-transférase da glutamina é sensível às variações fisiológicas da concentração do PRPP.

No processo de síntese de AMP a partir de IMP a “primeira” enzima (a sintétase de adenilosuccinato; ver Equação 4) é inibida pelo produto final, o AMP. De modo semelhante, no processo de síntese de GMP a partir de IMP, a “primeira” enzima (a desidrogénase do IMP; ver Equação 7) é inibida pelo GMP.

(iii) Na via da síntese das pirimidinas são de destacar os passos catalisados pela sintétase de carbamil-fosfato II (ver Equação 33) e pela transcarbamílase do aspartato (ver Equação 34). A sintétase de carbamil-fosfato II (ver Equação 33) é ativada pelo PRPP e inibida pelo UTP e a transcarbamílase do aspartato (ver Equação 34) é ativada pelo ATP e inibida pelo CTP.

20- A regulação da redútase dos ribonucleosídeos difosfato

A redútase dos ribonucleosídeos difosfato (ver Equação 18) só está ativa aquando da fase S do ciclo celular (síntese de DNA). A sua atividade é regulada de forma muito complexa envolvendo ações ativadoras e inibidoras dos diversos nucleotídeos (quer contendo ribose, quer já contendo desoxiribose) relativamente às reações de redução dos diferentes nucleosídeos difosfato que são substratos da enzima. Esta regulação faz com que o consumo dos diferentes 2’-desoxiribonucleosídeos trifosfato (2’-dNTP) na síntese de DNA seja compensada pela síntese e que não haja nem excesso nem défice de nenhum dos 2’-dNTPs.

21- A importância da glutamina quer como substrato na síntese de nucleotídeos quer como nutriente nas células em proliferação rápida

As células em multiplicação rápida como são as células das criptas das vilosidades intestinais, os linfócitos em fase de proliferação (em resposta a desafios de natureza imunológica), as células precursoras dos eritrócitos e dos leucócitos na medula óssea, assim como as células da raiz dos cabelos têm atividades de síntese de nucleotídeos púricos e pirimídicos muito elevadas. Estas sínteses sustentam as atividades das polimérases de DNA e RNA. Nestas células a síntese proteica também é elevada e tudo isto contribui para explicar a sua elevada despesa energética.

Nestes tipos celulares, os principais nutrientes são a glutamina3 e a glicose4 que, via oxidação,

permitem que o ATP se mantenha em concentrações estacionárias. No entanto, algumas das moléculas de glicose e de glutamina que são consumidas nestas células têm por destino a síntese de nucleotídeos. A glicose, através da via das pentoses, leva à formação de ribose-5-fosfato que é usada na síntese de PRPP (ver Equação 1) e a glutamina é substrato de várias enzimas, quer na síntese de nucleotídeos púricos (ver Equação 2 e Equação 8), quer na de nucleotídeos pirimídicos (ver Equação 33 e Equação 40).

22- Fármacos inibidores da síntese de nucleotídeos

As células em multiplicação rápida são sensíveis a fármacos que interferem na multiplicação celular; por isso, estes fármacos são usados na quimioterapia de neoplasias ou como imunossupressores. Nalguns destes fármacos o seu mecanismo de ação é a interferência no metabolismo das purinas e das pirimidinas.

(i) O mais conhecido é o metotrexato cuja ação é a inibição da redútase do dihidrofolato (ver Equação 44) desta forma bloqueando o processo de reaproveitamento do dihidrofolato para a síntese

3 No caso da glutamina a oxidação pode ser incompleta envolvendo a sua conversão em aspartato, em alanina ou em lactato. Em todos estes casos o primeiro passo no catabolismo da glutamínase consiste na ação da glutamínase que catalisa a formação do glutamato. Outros passos comuns envolvem a ação da desidrogénase do glutamato (ou de uma transamínase), da desidrogénase α-cetoglutarato, da sintétase do succinil-CoA, da desidrogénase do succinato, da fumárase e da desidrogénase do malato o que explica a síntese de ATP (via cadeia respiratória e síntase de ATP) e a produção de CO2. O aspartato pode formar-se por ação da transamínase do aspartato usando como substratos glutamato e oxalacetato (produto da ação da desidrogénase do malato). A formação de piruvato resulta ou da ação da enzima málica no malato ou das ações sequenciadas da carboxicínase do fosfoenolpiruvato (no oxalacetato) e da cínase do piruvato (no fosfoenolpiruvato). A alanina pode formar-se por ação da transamínase do piruvato e o lactato por ação da desidrogénase do lactato: em ambos há conversão do piruvato formado.

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do TMP. O metotrexato é um análogo estrutural do N5,N10-metileno-H4-folato e liga-se à redútase do

dihidrofolato no centro ativo da enzima.

(ii) Um outro exemplo é a 6-mercaptopurina que, de facto, é um pró-fármaco: só tem ação depois de convertida no respetivo nucleosídeo monofosfato por ação da fosforribosiltransférase da hipoxantina e guanina (ver Equação 11). O ribonucleosídeo monofosfato da 6-mercaptopurina é um potente inibidor de, pelo menos, três enzimas da via de síntese das purinas nomeadamente: a amido-fosforibosil-transférase da glutamina (ver Equação 2), a sintétase de adenilosuccinato (Equação 4) e a desidrogénase do IMP (ver Equação 7). O ribonucleotídeo da 6-mercapotopurina tem analogias estruturais com substratos destas enzimas: o PRPP no caso da amido-fosforibosil-transférase da glutamina e o IMP nos outros dois casos.

23- Ação de enzimas do metabolismo dos nucleotídeos no efeito terapêutico do aciclovir Alguns antivirais também são pró-fármacos. O aciclovir, usado no tratamento do herpes, é um análogo da guanosina em que o resíduo de (desoxi)ribose está substituído por um outro resíduo que não têm um grupo hidroxilo numa posição correspondente ao 3’-OH da (desoxi)ribose.

A ação terapêutica do aciclovir só se pode exercer depois deste composto sofrer fosforilação a aciclovir monofosfato e esta fosforilação só ocorre nas células infetadas pelo vírus: a cínase que catalisa esta reação é a cínase de timidina codificada pelo genoma viral. O processo só ocorre nas células infetadas porque a cínase de timidina do hospedeiro não reconhece o aciclovir.

O aciclovir monofosfato formado é, de seguida, fosforilado por cínases do hospedeiro em aciclovir trifosfato que se incorpora no DNA do vírus mas, porque o aciclovir não tem um hidroxilo na posição 3’, esta incorporação provoca a terminação da síntese do DNA viral.

O metabolismo das bases púricas e pirimídicas estão esquematizadas nas Figs 1 e 2. 1. Berthold, H. K., Crain, P. F., Gouni, I., Reeds, P. J. & Klein, P. D. (1995) Evidence for incorporation of intact dietary pyrimidine (but not purine) nucleosides into hepatic RNA, Proc Natl Acad Sci U S A. 92, 10123-7.

2. Nishino, T., Okamoto, K., Eger, B. T. & Pai, E. F. (2008) Mammalian xanthine oxidoreductase - mechanism of transition from xanthine dehydrogenase to xanthine oxidase, Febs J. 275, 3278-89.

3. Rawls, J., Knecht, W., Diekert, K., Lill, R. & Loffler, M. (2000) Requirements for the mitochondrial import and localization of dihydroorotate dehydrogenase, Eur J Biochem. 267, 2079-87.

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Fig 1: Metabolismo dos nucleotídeos púricos. A rosa a síntese de novo do IMP; a azul escuro a síntese de AMP, GMP e NTPs; a vermelho o catabolismo do IMP, AMP e GMP; a azul claro as vias de salvação e a amarelo a formação de 2’dNDPs.

(12)

Fig 1: Metabolismo dos nucleotídeos pirimídicos. A rosa a síntese de novo do OMP; a azul escuro a síntese de UDP e CTP; a vermelho o catabolismo dos diversos NTPs, NDPs, NMPs e respetivos nucleosídeos; a azul claro as vias de salvação e a amarelo a formação de 2’dNDPs e do TMP. A tracejado as vias de formação do CTP a 2’dCMP e do 2’dUDP a 2’dUMP.

Referências

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