Gestão do conhecimento no
processo de licenciamento
ambiental
Luis E. Sánchez Professor Titular, Escola Politécnica Universidade de São PauloCongresso do Ministério Público de Meio Ambiente da Região Sudeste
Associação Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente Belo Horizonte – 7 de abril de 2011 Disponível em http://www.abrampa.org.br/eventos_anteriores/congresso_regiao_sude
Material preparado para apresentação no Congresso do Ministério Público de Meio Ambiente da Região Sudeste,
promovido pela Associação Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente, em Belo Horizonte, MG. Entre 6 e 8 de
abril de 2011
NÃO PODE SER REPRODUZIDO SEM AUTORIZAÇÃO NEM DIVULGADO POR MEIO ELETRÔNICO
Plano da apresentação
1. Os órgãos ambientais e a gestão do
conhecimento
2. Pesquisas sobre gestão do conhecimento
em órgãos de licenciamento ambiental
3. Estudos sobre licenciamento ambiental no
Brasil e o papel da gestão do conhecimento
4. Conclusões
1.
Os órgãos ambientais e
a gestão do
a gestão do
conhecimento
Um modelo insumo-produto
ÓRGÃO
recomendaçõesprojetos
legislação
políticas
1
ÓRGÃO
LICENCIADOR
recomendações decisõesprojetos
+ EIAs
conhecimentoGestão do conhecimento
Gestão do conhecimento fortalece a
aprendizagem organizacional
Um órgão ambiental, como outras
organizações, não pode somente depender
do conhecimento individual
1
Vantagens da gestão do conhecimento:
Reduzir os custos
de desenvolver soluções
repetidas (horas de trabalho)
identificar e reproduzir
melhores práticas
“proteger a organização dos efeitos deletérios
da
rotatividade de pessoal
” (Argote et al.,
2003)
Argote L. Organizational Learning: Creating, Retaining and TransferringAspectos chave da GC em órgãos licenciadores
analistas ambientais usam tanto seu
conhecimento pessoal
quanto o
conhecimentoorganizacional
acumulado ao longo dos anos
analistas ambientais são
trabalhadores doconhecimento (Davenport, 2005)
parte do conhecimento da organização é
codifica-do e armazenacodifica-do em uma
memória organizacional1
do e armazenado em uma
memória organizacional
a memória organizacional pode se
deteriorarou
ser parcialmente
perdidase não for
adequadamente gerida
um órgão licenciador
cria conhecimento– se este
não for organizado e armazenado, não pode ser
recuperado e usado para melhorar práticas e
2.
Pesquisas sobre gestão do
conhecimento em órgãos
conhecimento em órgãos
de licenciamento ambiental
Objetivos e métodos
Objetivo:
identificar elementos-chave de
gestão do conhecimento usados em
agências de avaliação de impacto ambiental
Método:
estudos de caso
1)
Office of the Environmental Protection
Authority of Western Australia
2
Authority of Western Australia
2)
Département des Évaluations
Environnementales e Bureau d’Audiences
Publiques sur l’Environnement, Quebec
Contextualização dos casos
2
Western Australia:
grande área (2.5 M km2 ) natural resources population 2 M concentrada no Sudoeste PIB = 184,000 M AUDProjetos mais frequentes
submetidos ao processo
de AIA:
rodovias
minas e infraestrutura
2
Contextualização dos casos
Quebec:
grande área (1.7 M km2 ) Recursos naturais população 7,7 M concentrada no Sul PIB = 300,000 M CADQuebec Meridional:
Quebec Meridional:
procedimento de AIA ~600,000 km2Projetos mais frequentes
submetidos ao processo
de AIA:
rodovias
Austrália Ocidental
2
43 analistas + 5 agentes administrativos + 5
especialistas em SIG
cerca de 50 EIAs por ano
500 600 700 800 900 N o . o f re fe rr a ls a n d a s s e s s m e n ts referrals formal assessments required 0 100 200 300 400 500 1998 -99 1999 -200 0 2000 -01 2001 -02 2002 -03 2000 3-04 2004 -05 2005 -06 2006 -07 2007 -08 2008 -09 Fiscal year N o . o f re fe rr a ls a n d a s s e s s m e n ts required
specifc advice given
formal assessments completed
O que aprenderam produzindo 1390 relatórios
(pareceres) desde 1974?
Quebec
2
49 analistas + 8 agentes administrativos
pareceres finais dependem de pareceres de
departamentos especializados do Ministério
do Meio Ambiente e de outros ministérios
cerca de 30 EIAs por ano
cerca de 15 audiências públicas por ano
cerca de 15 audiências públicas por ano
Consulta e audiência pública realizada por um órgão especializado – Bureau
Principais resultados: Austrália Ocidental
Iniciativas de gestão de conhecimento:
2
Gestão da qualidade (meados de 1990s)
Gestão da informação espacial (final 1980s)
Gestão de registros e documentos
Tutoria e mentorado para novos técnicos
treinamento
Preparação e publicação de guias técnicos
Catálogo completo na internet de relatórios
Principais resultados: Austrália Ocidental
16 repositórios de conhecimento
equipe de analistas e redes sociais
bases eletrônicas SIG
Registro de projetos submetidos
2
arquivos e documentos
Registro de projetos submetidos
Arquivos e pareceres anteriores Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Principais resultados: Quebec - DEE
2
16 repositórios de conhecimento
equipe de analistas e redes sociais
bases eletrônicas Não há uso de SIG
arquivos e documentos Arquivos e pareceres anteriores
Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Principais resultados: Quebec - BAPE
2
15 repositórios de conhecimento
analistas e redes sociais
bases eletrônicas Não há uso de SIG
arquivos e documentos Arquivos e pareceres anteriores
Modelos
Guias de procedimento Guias técnicos
Guias técnicos – Austrália Ocidental
2
•Preparados mediante
consulta às partes interessadas
•Não são obrigatórios,
mas os desvios em relação às recomendações devem ser justificados
ser justificados
•Cobrem assuntos ligados
a levantamentos
(diagnósticos), proteção de certas áreas
consideradas importantes e outros
Coleção de pareceres - Quebec
2
Coleção de “Relatórios de Análise Ambiental” desde 1994
Principais resultados: Austrália Ocidental
1. repositórios usados com maior frequência
EPA reports (pareceres anteriores)
Reuniões de trabalho e consulta a analistas
sênior
[repositórios que apresentam casos são
preferidos a guias genéricos]
2
2. utilidade
72% de concordância que os “Guidance
Statements” condensam de maneira útil
o conhecimento da OEPA para uso em
AIA
Principais resultados: Austrália Ocidental
3. Eficácia dos repositórios de conhecimento
[“facilidade de acesso – em termos de tempo e
esforço – à experiência e conhecimento coletivos da OEPA”]
Muito eficaz:
◆ Analistas experientes2
◆ Analistas experientesEficaz:
◆ Pareceres anteriores (“EPA Reports”)
◆ reuniões internas
Principais conclusões relevantes para o Brasil
Guias técnicos definem conteúdos e métodos
e, por extensão, como será avaliada a
quali-dade dos estudos - as duas jurisdições
estu-dadas têm quantidade e diversidade de guias
técnicos sobre assuntos relevantes para cada
local / os guia são elaborados mediante
consulta às partes interessadas
2
consulta às partes interessadas
Todos os pareceres são publicados e
disponíveis na Internet (e já constituem um
repositório de conhecimento)
Principais conclusões relevantes para o Brasil
Georreferenciamento (Austrália) facilita a
identificação e a análise de impactos
cumulativos
Os analistas ambientais nos casos estudados
têm
menor discricionariedade
que seus
homólogos no Brasil, onde o excesso de
2
homólogos no Brasil, onde o excesso de
discricionariedade pode levar à subjetividade
- em consequência, no Brasil os resultados
são menos previsíveis (uma das críticas
frequentes dos empreendedores)
3.
Estudos sobre
licenciamento
licenciamento
ambiental no Brasil e o
papel da gestão do
conhecimento
Estudos de caráter institucional
MPF, 2004
Deficiências em estudos de impacto ambiental: síntese de uma experiência
Banco Mundial, 2008
Licenciamento ambiental de empreendimentos
hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o
3
hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate
TCU, 2009
TC 009.362/2009-4, Fiscobras 2009. Auditoria no Ibama
MPF 2004
universo: 80 projetos de todos os tipos em que houve
atuação do MPF
métodos: compilação, análise e ordenamento de
pareceres de analistas periciais e assessores do MPF
algumas constatações sobre os EIAs:
não identificação de determinados impactos, identificação de
impactos genéricos e de impactos mutuamente excludentes
3
impactos genéricos e de impactos mutuamente excludentes
desconsideração de dados do diagnóstico ambiental
falta de justificativa quanto à metodologia empregada para
arrogar pesos aos atributos dos impactos
várias deficiências detectadas nos estudos tiveram origem em
MPF 2004
algumas recomendações:
“garantia de prazos suficientes para a elaboração dos
estudos”
“criação ou consolidação, por parte dos órgãos ambientais,
de banco de dados de Estudos, possibilitando o registro e o
acesso aos conhecimentos produzidos”
“consolidação de banco de dados das informações oriundas
3
“consolidação de banco de dados das informações oriundas
da implementação de medidas mitigadoras e de monitoramento, por parte dos órgãos ambientais”
Banco Mundial 2008
universo: licenciamento federal de projetos de energia métodos: entrevistas estruturadas (diretoria Ibama),
questionários (analistas ambientais), estudo de casos, análise de legislação e pesquisa bibliográfica
algumas constatações:
baixa qualidade dos EIAs, geralmente extensos e detalhados,
“porém focados principalmente no diagnóstico e que, muita
3
“porém focados principalmente no diagnóstico e que, muita vezes, não contribuem para questões do licenciamento"
multiplicidade de atores com grande poder discricionário e
poucos incentivos de colaboração, com destaque para o MP
frequente judicialização dos conflitos ambientais
falta de marco regulatório para tratar das questões sociais que
extrapolam a responsabilidade legal do proponente
sistemática ausência de monitoramento, fiscalização e
Banco Mundial 2008
recomendações:
“criação e promoção de mecanismos de resolução de
conflitos entre os atores do processo de licenciamento”
“elaboração de termos de referência por equipe
multi-disciplinar baseada em processo de análise prévia do empreendimento e da região onde se insere”
“preparação de Guia Operacional” para definir os enfoques a
3
“preparação de Guia Operacional” para definir os enfoques a
serem utilizados nos estudos, bem como “o nível de informação recomendado para a tomada de decisão”
TCU 2009
universo: licenciamento federal de grandes projetos
de infraestrutura, petróleo e gás
questões:
O Ibama realiza uma avaliação contínua dos
impactos de cada obra?
“O sistema de gestão do processo de
licenciamento ambiental (...) utiliza critérios e indicadores que caracterizam [seus] (...)
3
indicadores que caracterizam [seus] (...) benefícios (...)?”
“As etapas do processo de licenciamento
ambiental são padronizadas de forma a uniformizar a sua análise?”
métodos: entrevistas estruturadas (diretoria Ibama),
questionários (analistas ambientais Ibama), análise de legislação e bibliografia
TCU 2009
constatações:
1. o Ibama não avalia e acompanha sistematicamente os
impactos e riscos ambientais das obras licenciadas (achado 1) – “o que existe é um parecer do analista atestando se as condicionantes foram cumpridas ou não, antes da emissão da licença, e não uma avaliação sobre o grau de alcance de seus objetivos principais: mitigar os impactos e garantir a sustentabilidade ambiental do empreendimento” (pg. 10)
3
sustentabilidade ambiental do empreendimento” (pg. 10)
2. “existe uma insuficiência de metodologia formal para
analisar a qualidade dos Estudos de Impacto Ambiental apresentados ao Ibama” (parag. 3.40)
TCU 2009
constatações:
3. o licenciamento ambiental federal “permanece focado na
emissão de licenças em detrimento dos reais efeitos
ambientais decorrentes dos projetos ou da efetividade das medidas mitigadoras e de gestão que são adotadas pelos empreendedores” (parag.3.79) – “A finalidade do
licenciamento ambiental não é puramente a emissão das licenças ambientais, mas sim, garantir que os
3
licenças ambientais, mas sim, garantir que os
desenvolvimentos econômico, social e ambiental sejam compatibilizados.”
4. “Uma vez que o acompanhamento sistemático dos impactos
ambientais é deficiente, muitas informações importantes deixam de ser coletadas e avaliadas, dificultando o
TCU 2009
constatações:
5. “Inexistência de qualquer sistema de avaliação
(quantitativa ou qualitativa) dos benefícios (ambientais, sociais e/ou econômicos) resultantes do processo de
licenciamento” (achado 2) – “A demanda crescente do
pedido de licenças tem contribuído para que o Ibama passe
a ser visto como uma instituição cuja principal finalidade é
a concessão de licenças, de tal forma que a eficiência da
3
a concessão de licenças, de tal forma que a eficiência da entidade passa a ser medida pelo número de licenças expedidas, a exemplo de um trabalho cartorial.” (parag. 3.113)
6. “o Ibama não possui padrões ou normas específicas dos
procedimentos e critérios técnicos e metodológicos
adotados no processo de licenciamento ambiental federal para cada tipologia de obra.” (achado 3.1)
TCU 2009
recomendações:
elaborar padrões e normas específicas para os
procedimentos e critérios técnicos e metodológicos
adotados no processo de licenciamento ambiental federal
tornar disponíveis na internet os pareceres técnicos e
demais documentos pertinentes ao licenciamento ambiental
3
ambiental
estabelecer um acompanhamento sistemático das
condicionantes das licenças ambientais
4.
Relação com as pesquisas anteriores
os estudos sobre licenciamento federal no
Brasil apontam algumas deficiências na
gestão dos órgãos ambientais
uma das principais lacunas é a incipiente
gestão do conhecimento
os órgãos ambientais nos países
4
os órgãos ambientais nos países
selecionados vem adotando diversas
iniciativas de gestão do conhecimento que
podem ser relevantes para o Brasil
a ausência de guias técnicos é apontada –
de forma recorrente – como um dos
principais problemas
Questões
emitir licenças é a finalidade ou o meio de
assegurar um certo grau de proteção
ambiental?
capacitar pessoas não resulta
necessariamente em capacitação
institucional
4
melhorar a eficácia e a eficiência dos órgãos
ambientais contribuiria para melhorar a
imagem do licenciamento ambiental
Referências
Sánchez, L.E.; Morrison-Saunders, A. 2010. Organizational
Learning in an EIA Agency. Proceedings of IAIA’10, disponível em
http://www.iaia.org/iaia10/documents/reviewed_papers/Org anizational%20Learning%20in%20an%20EIA%20Agency.pdf
Estudos sobre licenciamento no Brasil
Ministério Público Federal, Deficiências em estudos de impacto
ambiental: síntese de uma experiência. 2004.
disponível em www3.esmpu.gov.br/linha-editorial/outras-publicacoes
aponta os problemas mais frequentes em EIAs analisados por assistentes técnicos do Ministério Público Federal
Banco Mundial, Licenciamento ambiental de empreendimentos
hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate. 2008. hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate. 2008. disponível em www.bancomundial.org.br
recomenda aprimoramentos visando maior eficiência
Tribunal de Contas da União, TC 009.362/2009-4, Fiscobras
2009. Auditoria no Ibama. 2009. disponível em www.tcu.gov.br
apresenta recomendações para melhoria da eficácia do licenciamento ambiental