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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS MARCIO FABIANO CARNEIRO DA SILVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

MARCIO FABIANO CARNEIRO DA SILVA

CIVILIZAÇÃO E IMPRENSA PROTESTANTE O caso dos Presbiterianos na cidade de Dourados (1920-1950)

Dourados/MS 2019

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MARCIO FABIANO CARNEIRO DA SILVA

CIVILIZAÇÃO E IMPRENSA PROTESTANTE O caso dos presbiterianos na cidade de Dourados (1920-1950)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.

Área de Concentração: Sociedade, Política e Representações.

Orientador: Prof. Dr. Linderval Augusto Monteiro

Dourados/MS 2019

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S586c Silva, Marcio Fabiano Carneiro Da

Civilização e Imprensa Protestante: O caso dos Presbiterianos na cidade de Dourados (1920-1950) [recurso eletrônico] / Marcio Fabiano Carneiro Da Silva. -- 2020. Arquivo em formato pdf.

Orientador: Linderval Augusto Monteiro.

Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal da Grande Dourados, 2019.

Disponível no Repositório Institucional da UFGD em: https://portal.ufgd.edu.br/setor/biblioteca/repositorio

1. Missão Caiuá. 2. Presbiteriano. 3. Imprensa Evangélica. 4. Protestantismo. 5. Albert Maxwell.

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U UNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDAA GGRRAANNDDEE DDOOUURRAADDOOSS F FAACCUULLDDAADDEE DDEE CCIIÊÊNNCCIIAASS HHUUMMAANNAASS P PRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM HHIISSTTÓÓRRIIAA

ATA HOMOLOGADA EM: ___/___/_____, PELA PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA/UFGD.

Pró-Reitora de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa

ATA DA DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA PELO ALUNO

MARCIO FABIANO CARNEIRO DA SILVA, DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO SENSU EM HISTÓRIA, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO “HISTÓRIA, REGIÃO E

IDENTIDADES”.

No vigésimo sexto dia do mês de fevereiro de dois mil e dezenove, às quatorze horas, em sessão pública, realizou-se, no prédio da Faculdade de Ciências Humanas, Unidade II, da Universidade Federal da Grande Dourados, a Defesa de Dissertação intitulada: CIVILIZAÇÃO E IMPRENSA PROTESTANTE: O caso dos presbiterianos na cidade de Dourados (1920-1950), apresentada pelo aluno MARCIO FABIANO CARNEIRO DA SILVA, do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História, à Banca Examinadora constituída pelos professores Dr. LINDERVAL AUGUSTO MONTEIRO, da UFGD, (presidente/orientador), Dr. CLEITON FERREIRA MACIEL BRITO, da PPGS/UFGD, (membro titular) e Dr. LEANDRO BALLER, da UFGD. Iniciados os trabalhos, a presidência deu a conhecer ao candidato e aos integrantes da Banca as normas a serem observadas na apresentação da Dissertação. Após o candidato ter apresentado a sua Dissertação, os componentes da Banca Examinadora fizeram suas arguições, que foram intercaladas pela defesa do candidato. Terminadas as arguições, a Banca Examinadora, em sessão secreta, passou aos trabalhos de julgamento, tendo sido o candidato considerado __________________, fazendo jus ao título de MESTRE EM HISTÓRIA. Nada mais havendo a tratar, lavrou-se a presente ata, que vai assinada pelos membros da Banca Examinadora.

Dourados, 26 de fevereiro de 2019.

Prof. Dr. LINDERVAL AUGUSTO MONTEIRO _________________________________

Prof. Dr. CLEITON FERREIRA MACIEL BRITO ________________________________ Prof. Dr. LEANDRO BALLER ____________________________________

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À minha família, em especial minha mãe, Izionia Carneiro da Silva (in memoriam)

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AGRADECIMENTOS

Nenhuma realização pode ser efetivada sem a colaboração de pessoas especiais em nossas vidas, dessa forma, quero de forma particular agradecer:

ao meu orientador, Professor Doutor Linderval Augusto Monteiro, que com paciência e benevolência se propôs a ensinar e conduzir-me nos momentos mais complicados da pesquisa e da escrita;

aos meus colegas do curso de graduação em História na UFGD, que sempre foram compreensivos em ajudar nas mais diversas tarefas do curso nesse período;

aos meus colegas da pós-graduação, tanto no programa de mestrado quanto de doutorado que fizeram importantes incursões no texto e na pesquisa e se fizeram companheiros, tornando-se amigos;

aos professores da Universidade Federal da Grande Dourados, tanto da graduação quanto da pós-graduação pela compreensão e por se fazerem solícitos à minha pesquisa e a minhas interpelações, em específico, aos professores: Dr. Paulo Roberto Cimó, Dr. Carlos Barros Gonçalves, Dr. Eudes Fernando Leite, Dr. Leandro Baller, Dr. Protásio Paulo Langer, Dr. Thiago Leandro Vieira Cavalcante, Dra. Nauk Maria de Jesus e Dr. Damião Duque de Farias;

ao professor Alderi Sousa de Matos, curador do arquivo histórico presbiteriano de São Paulo, que fez questão de nos receber pessoalmente na visita nossa feita ao referido museu;

a professora Flávia de Sousa Lima, da Faculdade do Vale do Itacuru (FAI) que se propôs a ler minha escrita e fez importantes colaborações no decorrer da pesquisa;

aos meus irmãos: Marcos, Marcelo e Thiago que sempre foram carinhosos em me incentivar e a fornecer palavra de incentivo e carinho durante os momentos difíceis da consecução desse trabalho;

a minha mãe, Izionia Carneiro Silva (in memória) a quem dediquei esse trabalho, por durante toda a vida fazer-me acreditar que o que almejamos é possível, desde que trabalho para tanto, muitas saudades mãe;

ao meu pai, figura indispensável em minha vida, ensinou que nos momentos mais difíceis é preciso disposição para lutar, na simplicidade de um homem do campo, ensinou e ensina valores que estão além do mundo acadêmico;

Enfim, a muitas outras pessoas e instituições que teria que aqui explanar minha gratidão, a esses que não citei me perdoem, no entanto, a todos os envolvidos sempre haverá em mim o espírito de gratidão.

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“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”.

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RESUMO

A presente dissertação aborda as bases da implantação protestante na cidade de Dourados, nos anos de 1920 a 1950, sendo que esse recorte temporal se associa a implantação e trabalho dos protestantes quanto às missões voltadas ao interior do Brasil, momento também em que os missionários presbiterianos iniciaram o exercício de pregação do evangelho diante das etnias indígenas da região com a fundação da Missão Evangélica Caiuá. Desta forma, no primeiro momento a pesquisa elencou as principais ações políticas sociais relevantes na formação da cidade de Dourados, desde os primeiros grupos que se formaram para a exploração da erva-mate com a iniciativa da Companhia Mate Laranjeira iniciada ainda no século XIX, passando pela elevação da região à categoria de município, até a formação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) em 1943; bem como estabeleceu um quadro dos principais jornais protestantes que circularam no fim do século XIX e começo do século XX, como: Imprensa Evangélica, O Púlpito Evangélico, Methodista Catholico, Expositor Christão, Norte Evangélico e o Jornal Baptista. Depois de feita essas considerações que levam a entender o processo de pregação do evangelho no âmbito de missões realizadas pelos protestantes, a pesquisa analisou o pensamento calvinista presbiteriano e suas vertentes de pregação aliada a ideia de civilidade inclusos no primeiro jornal presbiteriano, o Imprensa Evangélica, com ênfase na visão presbiteriana do modo de vida aceitável e aliado ao conceito de processo civilizatório. A pesquisa também revelou nesse primeiro periódico um forte combate trazido a público pelo referido jornal entre os protestantes e os católicos quanto as ações perante os “silvícolas”. Em seguida, através da análise do periódico O Puritano, observou elementos além da pregação de cunho religioso consubstanciando um viés civilizatório conforme conceito de Norbert Elias na criação e implantação, em 1929, da Missão Caiuá no município de Dourados. Assim, pode-se observar o quadro de transformação sofrido pela população indígena diante de uma pregação que buscava moldar o índio ao modo de vida protestante presbiteriano sem levar em consideração o quadro cultural, étnico e cosmológico, aliás, transformações essas de caráter irreversível no que tange a preservação e manutenção de características próprias dos índios que conseguintemente desfiguraram a identidade desses nativos.

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ABSTRACT

This dissertation approaches the bases of the Protestant implantation in the city of Dourados, from the years of 1920 to 1950, being that this temporal cut is associated with the implantation and work of Protestants in the missions directed to the interior of Brazil, a moment also in which the Presbyterian missionaries began the preaching exercise of the gospel before the indigenous ethnic groups of the region with the foundation of the Evangelical Mission Caiuá. Thus, in the first moment the research listed the main social policies relevant to the formation of the city of Dourados, from the first groups that were formed for the exploitation of the yerba mate with the Mate Laranjeira Company initiative initiated in the 19th century, by the elevation of the region the category of municipality, until the formation of National Agricultural Colony of Dourados (CAND) in 1943; as well as established a chart of the main Protestant newspapers that circulated in the late nineteenth and early twentieth century, such as: The Evangelical Press, The Evangelical Pulpit, The Methodist Catholic, The Christian Exhibitor, The Evangelical North, and The Baptist Newspaper.After making these considerations that lead to understanding the process of preaching the gospel in the context of missions carried out by Protestants, the research analyzed Presbyterian Calvinist thinking and its preaching strands allied with the idea of civility included in the first Presbyterian newspaper, the Evangelical Press, with an emphasis on the Presbyterian view of the acceptable way of life and allied to the concept of civilizing process. The research also revealed in this first period a strong combat brought to public by said newspaper between Protestants and Catholics regarding the actions before the "silvicultural ". Then, through the analysis of the periodical The Puritan, he observed elements besides religious preaching, substantiating a civilizing bias according to the concept of Norbert Elias in the creation and implantation, in 1929, of the Caiuá Mission in the municipality of Dourados. Thus, one can observe the picture of transformation undergone by the indigenous population before a preaching that sought to shape the Indian to the Presbyterian Protestant way of life without taking into account the cultural, ethnic and cosmological framework, moreover, these transformations of irreversible character in what preservation and maintenance of characteristics of the Indians that consequently disfigured the identity of these natives.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Gráfico de distribuição de população residente por religião ... 24

Figura 2 – Trabalhadores da Erva-Mate carregando o pesado “Raído” ... 28

Figura 3 – Mapa demonstrativo das migrações para Mato Grosso – nas primeiras décadas do Séc. XX ... 30

Figura 4 – Fotos de algumas personalidades citadas nas pesquisas referentes à cidade de Dourados. ... 31

Figura 5 – Mapa Referente às terras indígenas demarcadas e às conquistadas até a atualidade ... 32

Figura 6 – Mapa demonstrando os limites da Colônia Nacional Agrícola de Dourados ... 34

Figura 7 – Foto da visita do Presidente Getúlio Vargas a região do Território Federal de Ponta Porã no ano de 1938 ... 35

Figura 8 – Imagem demonstrando a chegada dos colonos quando da criação da Colônia Nacional Agrícola de Dourados ... 36

Figura 9 - Recorte do periódico CORREIO MERCANTIL do Rio de Janeiro, tratando da apreensão de folhetos de Robert Kalley ... 41

Figura 10 – Capa da 1ª Edição do periódico O PÚLPITO EVANGÉLICO ... 42

Figura 11 – Capa da 7ª Edição do periódico METHODISTA CATHOLICO no Brasil ... 43

Figura 12 – Capa da 1ª Edição do periódico EXPOSITOR CHRISTÃO ... 44

Figura 13 – Capa da 9ª Edição do periódico O JORNAL BAPTISTA do ano de 1901 ... 45

Figura 14 – Capa do NORTE EVANGÉLICO em comemoração ao jubileu da Igr. Presbiteriana de João Pessoa (1934) ... 46

Figura 15 – Matéria de O ESTANDARTE referente ... 47

Figura 16 – IMPRENSA EVANGÉLICA referente a Guerra da Tríplice Aliança – “Guerra contra o Paraguai” 60 Figura 17 – IMPRENSA EVANGÉLICA sobre o acesso de seus membros a cargos públicos ... 61

Figura 18 – IMPRENSA EVANGÉLICA questionando a supremacia católica... 62

Figura 19 – IMPRENSA EVANGÉLICA críticas ao Projeto Saraiva ... 62

Figura 20 – IMPRENSA EVANGÉLICA tratando da condição humana sem a condição cristã ... 64

Figura 21 – Fragmento do IMPRENSA EVANGÉLICA que retrata a vida sem prazer do selvagem ... 64

Figura 22 – IMPRENSA EVANGÉLICA em que retrata o estado de “barbárie” do indígena sem o evangelho . 65 Figura 23 – IMPRENSA EVANGÉLICA em que relata os trabalhos em Nyanza ... 67

Figura 24 – IMPRENSA EVANGÉLICA relatando quantia pecuniária voltado aos trabalhos em Nyanza ... 67

Figura 25 – IMPRENSA EVANGÉLICA sobre os hábitos alimentares dos africanos ... 67

Figura 26 – IMPRENSA EVANGÉLICA: ociosidade e progresso ... 68

Figura 27 – IMPRENSA EVANGÉLICA demonstrando o empenho desse grupo em entender as línguas dos nativos para proporcional o ensino do evangelho ... 69

Figura 28 – IMPRENSA EVANGÉLICA sobre a morte de dois missionários em Nyanza ... 70

Figura 29 – IMPRENSA EVANGÉLICA criticando a catequese católica quanto aos resultados em civilizar os índios ... 70

Figura 30 – IMPRENSA EVANGÉLICA relatando de forma comparativa o trabalho dos presbiterianos junto aos índios Choctaws ... 72

Figura 31 – IMPRENSA EVANGÉLICA questionando de forma retórica sobre o contrate dos trabalhos dos Protestantes ... 72

Figura 32 – IMPRENSA EVANGÉLICA sobre o resultado da catequese católica ... 73

Figura 33 – IMPRENSA EVANGÉLICA em artigo que aborda a questão do Progresso das nações e a religião 74 Figura 34 – IMPRENSA EVANGÉLICA sobre a condição do homem perante a morte ... 77

Figura 35 – Fragmento da coluna do jornal O PURITANO voltado às mulheres especificando seu papel social 82 Figura 36 – Fragmento do editorial do primeiro volume do periódico O PURITANO em que inicia já tratando da condição moral do homem ... 84

Figura 37 – O PURITANO - Protestantes como aqueles que retiram o homem da barbárie ... 85

Figura 38 – O PURITANO - Metodista na África - “primazia da brancura espiritual” ... 86

Figura 39 – O PURITANO - Hábito do fumo e o atraso aliado a tal costume ... 86

Figura 40 – Fragmento da parte final do artigo “Os Índios” ... 88

Figura 41 – Fragmento da parte final do artigo “Catechese à Bala”... 89

Figura 42 – Fragmento da parte final do artigo “A proteção aos Índios” ... 90

Figura 43 – Fragmento do artigo “Os aborígenes e a Civilização” esclarecendo que os países protestantes buscam a “conversão e civilização” de milhares, de milhões “selvagens” ... 90

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Figura 45 – Fragmento do artigo “Serviço de Proteção ao Índio” elogiando os trabalhos dos protestantes frente

aos índios ... 92

Figura 46 – Fragmento do artigo “Índios Terena” remetendo a obra civilizadora dos presbiterianos ... 93

Figura 47 – Fragmento do artigo “Índios Terena” levantando pedidos e colocações em relação ao governo brasileiro e a constituição ... 94

Figura 48 – Fragmento do 1º artigo “Evangelização na Amazônia” chamando a atenção para a urgência da evangelização da região ... 95

Figura 49 – Fragmento do 2º artigo “Evangelização na Amazônia” em que o autor “adjetiva” o homem da Amazônia ... 96

Figura 50 – REVISTA DE MISSÃO NACIONAES - Aprovado envio de missionário a região de Mato Grosso 98 Figura 51 – Fragmento do O EXPOSITOR CRISTÃO com a foto dos membros da AECI. ... 99

Figura 52 – Maxwell ainda jovem quando chegou ao Brasil... 99

Figura 53 – Fragmento da REVISTA DE MISSÕES NACIONAES estabelecendo à possibilidade de iniciativas a região de Dourados ... 100

Figura 54 – Fragmento de O PURITANO sobre a escolha de Maxwell como missionário junto aos indígenas . 101 Figura 55 – Família de Albert Maxwell ... 102

Figura 56 – O PURITANO - Trabalho da Missão Caiuá no ano de chegada dos missionários... 103

Figura 57 – O PURITANO - Orientações de Maxwell sobre as posições ajudas das igrejas a Missão Caiuá .... 105

Figura 58 – O PURITANO - Notícias da Missão Caiuá no ano de 1930 com pedido de ajuda as Igrejas Presbiterianas... 106

Figura 59 – O PURITANO - Notícias da Missão Caiuá considerando o índio como não civilizado ... 107

Figura 60 – O PURITANO - Relato da missionária Áurea Baptista ... 108

Figura 61 – O PURITANO - Diferenciação de índios e não índios em relação a EBD usando para tanto o termo "civilizados” ... 109

Figura 62 – O PURITANO adjetivando a condição indígena (vegetativa e deplorável) ... 112

Figura 63 – O PURITANO destingindo civilizados e os índios cayuás ... 113

Figura 64 – O PURITANO fazendo apelo para ajuda aos índios cayuás ... 114

Figura 65 – O PURITANO relatando que o índio sem o evangelho vive na ignorância e numa situação triste . 114 Figura 66 – Recortes do periódico O PURITANO referente a matéria que relata a entrevista com a missionária da MISSÃO EVANGÉLICA CAIUÁ em 1939, Srta. Elda Emerique ... 115

Figura 67 – REVISTA DE MISSÕES NACIONAES referente a dupla missão entre os indígenas, a eclesiásticas e a civilizatória ... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANHANGUERA – Anhanguera Educacional ACM – Associação Cristã de Moços

AECI – Associação Evangélica Catequese dos Índios CAND – Colônia Agrícola Nacional de Dourados CBC – Comissão Brasileira de Colaboração CDR – Centro de Documentação Regional DSEI – Distritos Sanitário Especial Indígena EBD – Escola Bíblica Dominical

EUA – Estados Unidos da América

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MG – Minas Gerais

MS – Mato Grosso do Sul MT – Mato Grosso

NOB – Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ONG – Organização não-governamental

PPGE/UFSCar – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos

PR – Paraná

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RS – Rio Grande do Sul

SAS – Sociedade Auxiliadora de Senhoras

SasiSus – Subsistema de Atenção à Saúde Indígena SPI – Serviço de Proteção do Índio

UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados UNIGRAN – Centro Universitário da Grande Dourados USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 13

CAPÍTULOI ... 22

AFORMAÇÃODOMUNICÍPIODEDOURADOSEAIMPRENSAPERIÓDICAPROTESTANTE ... 22

1.1 UM OLHAR SOBRE A CIDADE DE DOURADOS ... 23

1.2A IMPRENSA PERIÓDICA PROTESTANTE ... 37

CAPÍTULOII ... 51

ODISCURSOPROTESTANTEEAPRETENSÃOCIVILIZATÓRIA ... 51

2.1TRABALHANDO COM PERIÓDICOS ... 51

2.2NAS ENTRELINHAS DE UM PERIÓDICO ... 54

2.3ASPECTOS CIVILIZATÓRIOS NO IMPRENSA EVANGÉLICA ... 63

CAPÍTULOIII ... 79

OPROCESSOCIVILIZADORPRESBITERIANONOPERIÓDICOOPURITANOEACRIAÇÃODA MISSÃOEVANGÉLICACAIUÁ ... 79

3.1O PERIÓDICO OPURITANO ... 79

3.2OPROCESSO CIVILIZADOR E O JORNAL OPURITANO ... 83

3.3MISSÃO EVANGÉLICA CAIUÁ ... 97

CONSIDERAÇÕESFINAIS ... 120

REFERÊNCIASEFONTES ... 124

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INTRODUÇÃO

A possibilidade de pesquisa em história, em especial relacionado à questão religiosa, se trata da realização pessoal e acadêmica de um projeto que durante anos tem permeado nosso íntimo, primeiro porque acreditamos que a religião e as vertentes culturais ligadas à crença influenciam o homem de maneira que somente uma pesquisa pode avaliar o alcance dessas mudanças tanto no aspecto subjetivo quanto na ação humana diante da sociedade que faz parte. Por outro lado, o desafio de encarar a pesquisa acadêmica de forma prática, depois de observarmos tantas vezes pesquisas em texto de terceiros, sem dúvida é algo que transforma nossa percepção em relação à própria academia como também se revela um dos momentos de maior aprendizagem na consecução de uma pós-graduação.

Vale ainda salientar, que a pesquisa na área religiosa se trata até mesmo de entender um pouco de nossa realidade pessoal, sempre deixando clara a imparcialidade como fator preponderante, digo isso, porque advindo de uma família cujos componentes que de vários modos sempre estiveram alicerçados em uma plataforma religiosa, seja na profissão de fé de meus pais e irmãos mais velhos, ou seja, na forte influência de uma ascendência judaica que direta e indireta sempre se fez presente, buscar observar os elementos que permeiam o conteúdo religioso se trata de uma espécie de terapia em que ao escrutinar a vida, costumes e cultura aplicada ao outro revela que quem está deitado no divã é você mesmo.

Desse modo, a temática religiosa sempre fez parte de amplo interesse, desde o período em que fazíamos a graduação em Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Porém, foi somente frequentando as aulas de graduação em História na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) que pudemos vislumbrar a possibilidade de discutir esse tema de forma ampla, digo isso, porque a presença indígena no município é bastante forte e, por outro lado, porque a questão indígena debatida dentro da UFGD nos trouxe novas informações e abordagens que aclararam e abriram uma nova perspectiva de discussão.

Assim, as perguntas de como tais indígenas chegaram às circunstâncias atuais sempre nos causou incômodo. Ou seja, tentar entender as lutas e desafios de um povo que possuía antes do contato com o não-índio uma cultura específica e diferenciada, tendo suas próprias crenças, sua cosmologia e sua forma de organização social, para atualmente observamos numa situação nada confortável, isso porque vivem às margens de uma sociedade preconceituosa, e na maioria das vezes, não estão mais amparados pela sua cultura “original” e nem mesmo integrados à sociedade não-índia do presente momento, de forma que vivem

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numa espécie de limbo sociocultural. Dessa maneira, não se trata aqui de uma conclusão última, mas, sim de revelar como tais situações e questionamentos nos levaram a embrenhar pela pesquisa envolvendo os temas aqui propostos.

Assim sendo, o presente trabalho aborda como a ação daqueles que “colonizaram” de maneira mais direta e efetiva a Reserva Indígena de Dourados tinham como um de seus objetivos, ainda que indiretamente, a formação de uma sociedade aos moldes de uma doutrina protestante presbiteriana. Salientando que ao pensarmos nos trabalhos missionários desenvolvidos pelas mais variadas denominações cristãs acabamos por associar tais ações adstritas à pura religiosidade, porém, no caso dos protestantes na cidade de Dourados, pudemos observar que a literatura voltada a esse público revela que a persecução de uma ideia de progresso e de civilização fazia parte do discurso tanto dos membros dessa denominação, e, principalmente, dos missionários voltados aos trabalhos perante os indígenas.

A delimitação espacial toma como referência o município de Dourados pelo fato de que o mesmo apresenta uma das maiores aldeias urbana-indígenas do país, bem como a cidade apresenta aspectos importantes que permitem a reflexão histórica diante das transformações que sofreram os indígenas, e ainda é possível observar que dentre os trabalhos dos protestantes presbiterianos no aspecto de missões perante os povos indígenas, a criação da Missão Caiuá se revela até os dias atuais como um dos maiores trabalhos desenvolvidos pelos protestantes no Brasil nesse quesito, até mesmo porque atualmente a Missão Caiuá integra o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSus) no atendimento, através de convênios com o governo federal, de 09 Distritos Sanitário Especial Indígena (DSEI) distribuídos pelo território nacional.

Por sua vez, após análise das fontes disponíveis, optou-se pelo recorte temporal determinado de 1920 a 1950, ainda que em alguns momentos da pesquisa decidiu-se explorar anos anteriores a 1920, como no caso dos primeiros agrupamentos não indígenas relacionados à formação do município de Dourados (por volta de 1910), ou ainda, quando decidimos observar fontes que podiam nos demonstrar as possíveis bases de um intento civilizatório no que se refere aos presbiterianos, logo, retornamos ao periódico Imprensa Evangélica com circulação ainda no século XIX, entretanto, vale enfatizar que o recorte se fez tendo como limiar a formação e desenvolvimento dos trabalhos relacionados à Missão Evangélica Caiuá. Importante esclarecer, que as fontes oficiais ou afins quanto aos agrupamentos citados acima em relação a formação do município são analisadas de forma crítica, sempre tendo em vista, o seu caráter positivista calcado na ideia de progresso, evolução, desenvolvimento, civilização etc.

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Dessa maneira, conforme se verá no decorrer do capítulo I, com a veiculação de notícias nos periódicos Imprensa Evangélica e Puritano referente aos trabalhos na região do antigo Mato Grosso, que o recorte temporal é adequado quanto ao seu intento tendo como início o ano de 1920, já a escolha final desse recorte foi propositalmente relacionada ao fim do segundo impresso citado, isso porque em 1953, os jornais O Puritano e o Norte Evangélico fundiram-se e formaram a partir de então o periódico presbiteriano (em circulação até os dias atuais) denominado Brasil Presbiteriano. Entretanto, no que se refere a esse recorte é preciso fazer uma consideração importante, porque ao ler o trabalho poderá observar o leitor que no capítulo II voltamos à pesquisa para o periódico Imprensa Evangélica, que se trata do primeiro jornal presbiteriano e protestante da América Latina, que circulou na segunda metade do século XIX no Brasil.

O retorno a esse período se deu para podermos observar as doutrinas e plataforma em que se consubstancia a ação protestante no território nacional, uma vez que o Imprensa Evangélica foi um periódico criado pelo primeiro missionário presbiteriano no Brasil, Ashbel Green Simonton, o qual foi redator chefe durante as primeiras décadas de circulação desse instrumento de divulgação doutrinária.

No que se refere às fontes utilizadas, o trabalho abrigou duas principais vertentes de periódicos específicos dos presbiterianos que tiveram ampla veiculação entre os envolvidos, tanto no trabalho missionário quanto aqueles que faziam parte da ordem religiosa em questão. Tratam-se dos jornais protestantes presbiterianos Imprensa Evangélica e O Puritano. A escolha do primeiro se deu devido ao fato de ser o primeiro órgão de imprensa protestante no Brasil, criado no ano de 1864 tendo seu trabalho durado até 1892, e que principalmente figura como o meio de imprensa que os presbiterianos usaram para disseminar sua doutrina e seu modo de vida na consolidação da igreja no Brasil, o segundo foi eleito por ser a fonte de imprensa mais próxima do objetivo da pesquisa, ou seja, O Puritano (circulou de 1903 a 1953) foi o periódico presbiteriano que veiculou com mais afinco notícias e matérias voltadas para a questão dos trabalhos catequéticos relacionados com os indígenas, especificamente, as funções desenvolvidas pela Missão Caiuá na cidade de Dourados.

Adjacente a esses periódicos ainda se encontra algumas outras fontes como a “Revista de Missões Nacionaes” ou fragmentos de artigos e livros de Alderi Sousa de Matos (chamado pela igreja presbiteriana do Brasil de seu “historiador oficial”) por trazer algumas informações que coadunavam com as pesquisas e por indicarem fontes com as quais não tivemos contato.

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Entendemos que os conhecimentos produzidos por todas essas fontes podem ser úteis para o entendimento da história do protestantismo na região de Dourados, bem como compreender com maior ênfase as transformações que sofreram os povos indígenas da região devido a propagação do evangelho em suas comunidades.

A metodologia utilizada valeu-se, basicamente, do uso das fontes documentais relacionadas acima, sendo que em relação ao periódico Imprensa Evangélica o acesso foi possível através do site da Hemeroteca Nacional que disponibiliza a maior parte dos números desse jornal, todavia em relação ao impresso O Puritano a Hemeroteca possui uma lacuna, ou seja, o periódico foi fundado no ano de 1903 e circulou até 1953, porém, dos anos de 1919 a 1946 a Hemeroteca não possui nenhum exemplar. Assim, o acesso aos números referidos a esses anos, que possui estreita relação com a pesquisa, já que a Missão Caiuá foi criada no ano de 19281, pesquisamos por duas semanas (janeiro de 2018) no Arquivo Histórico Presbiteriano da cidade de São Paulo, assim como fomos recebidos pelo Sr. Alderi Sousa de Matos que indicou outras fontes no arquivo que falam tanto da missão e dos trabalhos frente aos indígenas como também retrata a vida do Rev. Albert Maxwell, missionário presbiteriano que ficou à frente dos trabalhos em Dourados. A recepção e a colaboração tanto do Dr. Alderi de Matos, bem como da atendente do Museu Histórico Presbiteriano de São Paulo foi de grande valia para consecução dos trabalhos de pesquisas, pois, sempre foram solícitos aos nossos pedidos e questionamentos, auxiliando além daquilo que seria de vossas competências. Diante disso, o objetivo da pesquisa é discutir como essas fontes apresentam em suas páginas as doutrinas e o caráter civilizador, além da pregação do evangelho aos povos indígenas afetados pelas suas ações, mesmo porque o trabalho do protestantismo presbiteriano está intimamente veiculado a uma razão civilizatória, fruto do modo de encarar a realidade social numa perspectiva calvinista, que acaba por impor uma determinada ideologia que expulsa qualquer ideia que não tenha o condão de progresso, ordem e civilização; a pesquisa ainda tem como objetivo apresentar o panorama da instalação do projeto protestante em regiões como a de Dourados no que se refere ao modo de vida, a educação e a formação das comunidades protestantes.

É importante ressaltar que a pesquisa lida com imprensa e foi necessário tecer alguns apontamentos em relação ao trabalho com fontes dessa natureza, para tanto recorremos a Tânia Regina de Luca, que em seu texto “História dos, nos e por meio de periódicos” em que faz um apanhado das possibilidades dos estudos com fontes de imprensa apontando para o

1 MATOS, A. S. Os consolidadores da obra presbiteriana no Brasil: pastores e missionários do início do século 20. 1. ed. São Paulo, 2014. v. 1. 432 p.

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jornal como uma das principais fontes de informação histórica, no entanto, alertando para o caráter fragmentário e a possibilidade das imagens distorcidas pela subjetividade do escritor. Logo, Tânia de Luca aconselha o exame cuidadoso para enxergar as motivações e o pano de fundo das notícias propaladas para entender que a documentação jornalística deve se alocar em consonância com todas as demais fontes possíveis e se basear numa análise coerente buscando a verossimilhança.

Além das considerações elencadas por Tânia Regina de Luca é necessário observar que a mensagem do evangelho pregada pelos missionários se funde numa perspectiva em que o sujeito envolvido nesse projeto transporta uma mensagem, no entender de sua subjetividade, dada pela própria divindade. Assim, todas as informações encontradas referentes a trabalhos nessa ordem devem se pautar com o cuidado de que para o missionário tudo tem um caráter religioso, ou seja, carregam em si esse significado, isso é mais latente nos presbiterianos por assumirem uma doutrina de predestinação calvinista. Nesse sentido, Antonio Gouvêa Mendonça escreve:

Há muito se reconhece que as relações com o sobrenatural, nas diversas formas que o sagrado assume na sociedade humana, condicionam os estilos, as normas e a práxis do homem nas suas relações uns com os outros e com a natureza. Mesmo onde a racionalização filosófica ou científica passa por alto na nomenclatura dos deuses, estão presentes configurações de poderes que desenham universos diferenciados pelos quais os homens lutam, às vezes, até às últimas consequências2.

Diante dessa perspectiva na pesquisa histórica se faz preponderante o cuidado do pesquisador em não desenhar um panorama eivado de um caráter personalíssimo e religioso diante daquilo que as fontes podem revelar, ou seja, é preciso estar atento conforme a base teórica consultada, em esmiuçar as intenções e as características que possuem e revelam verossimilhança com o tema em consonância, com as orientações da academia na formação do texto dissertativo diante de todas as fontes como aqui citadas.

Nesse sentido, ao buscar desenvolver a pesquisa tivemos que trilhar alguns caminhos já pesquisados por outros autores e pós-graduandos, de modo que alguns trabalhos devem ser aqui ressaltados. Desta maneira, a dissertação de mestrado de Rodrigo Reis, intitulada “Jornal Expositor Cristão: educação e civilização, um olhar para o sul de Mato Grosso (1925-1946)”, apresentada a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no ano de 2014, nos fez entender os primeiros pontos em relação à pesquisa frente a Missão Evangélica Caiuá. O autor expõe também um jornal protestante, no caso o periódico metodista Expositor Cristão, em

2 MENDONÇA, Antonio Gouvêa; O movimento ecumênico no século XX – algumas observações sobre suas origens e contradições. 60º Aniversário de Organização do Conselho Mundial de Igrejas. Ano 03, nº 12, set. 2008. Disponível em: http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=236&cod_boletim=13. Acessado em 25 junho de 2018.

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que demonstra alguns aspectos daquele grupo protestante, porém, no caso Missão Caiuá se trata de um trabalho ecumênico, com maior força nesse quesito quando da sua fundação, logo o texto de Rodrigo Reis demonstrou os caminhos que poderiam servir de base para iniciar as pesquisas de fontes e até mesmo pesquisa de campo, lembrando que na pesquisa de Rodrigo Reis a tônica se afunila no intento de abordar especificamente temas relacionados a educação protestante.

Em se tratando de ecumenismo é importante ressaltar a dissertação também apresentada a UFGD, no ano de 2009, de Carlos Gonçalves Barros, intitulada “O movimento ecumênico Protestante no Brasil e a implantação da Missão Caiuá em Dourados”, em que o autor apresenta inúmeros pontos importantes de formação do pensamento protestante no que corresponde a questão de missões, bem como demonstra desde a formação da Associação Evangélica de Catequese dos Índios do Brasil, entidade responsável pelo estabelecimento da “Missão Evangélica Caiuá” em Mato Grosso, o caráter ecumênico desse processo, em que vários líderes protestantes de denominações como: da Igreja Metodista, da Igreja Presbiteriana Independente, da Igreja Presbiteriana do Brasil e de outras instituições muitas delas provenientes de trabalhos vinculados à igreja americana do sul dos Estados Unidos da América.

Outro trabalho que também nos auxiliou nessa caminhada foi o de Cryseverlin Dias Pinheiro Santos, apresentado também a UFGD no ano de 2014, com o título: “A assistência social prestada pela Missão Evangélica Caiuá: análise a partir da história de vida dos velhos Guarani e Kaiowá da terra indígena de Dourados”, trabalho que apresenta uma perspectiva na fonte oral da história, e, que apresenta a influência direta na vida dos índios que foram afetados pelo trabalho da Missão Caiuá, demonstrando inclusive as possíveis formas de resistência frente a obra missionária protestante.

Ainda gostaríamos de citar a tese intitulada de “Educar mentes e salvar almas: ação missionária protestante na escolarização de indígenas no sul de Mato Grosso (1928-1950)”, de autoria de Fernando Luiz Oliveira Athayde Paes, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (PPGE/UFSCar) em 2015, onde o autor teve como intento pesquisar a ação missionária protestante na escolarização de indígenas da etnia Guarani-Kaiowá na Missão Evangélica Caiuá no antigo sul de Mato Grosso, abordando também com propriedade a questão da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) e aos resultados desses processos na vida dos indígenas.

Importante esclarecer que ao citar os trabalhos acima, não significa que a pesquisa ficou adstrita a observar somente tais investigações, o que se pretende demonstrar é o fato de

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que lemos e analisamos diversos trabalhos alusivos ao tema que pesquisamos, até mesmo para não trabalhar algo que alguém tenha de alguma forma já se exaurido. Enfim, foram inúmeras obras consultadas, de várias instituições, referentes: aos jornais e periódicos protestantes, a influência da ação protestante em contrapartida a vida do nativo, ao processo civilizador, as missões e ações religiosas, a história do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a formação e colonização da região da cidade de Dourados e outros temas que de forma ligeira ou mais específica tangenciam a nossa pesquisa.

A discussão teórica se consubstanciou nos escritos de Norbert Elias, isso porque, o mesmo desenvolveu ampla pesquisa do conceito de civilização, remetendo o entendimento desse conceito a um processo contínuo de longa duração pautada numa rede de transformações sociais. Desta maneira, foi possível observar e constatar, ancorado nas fontes, um processo de mudança aplicado através da pregação dos presbiterianos na vida dos indígenas afetados pelos trabalhos relacionados a Missão Caiuá. Ainda que esse processo civilizador não seja o intento primeiro, tendo nos periódicos sempre a primeira premissa a pregação do evangelho, essa forma “cega” e não planejada é um dos pontos centrais que Norbert Elias trabalha para demonstrar o caráter civilizador desse processo. Entretanto, não conseguimos vislumbrar na pesquisa se os escritos de Nobert Elias chegaram às mãos ou foram leitura dos editores dos jornais analisados nessas linhas? Isso porque, a produção de Elias se deu no ano de 1939, ou seja, ano que se encaixa no interior do recorte temporal desse trabalho, e, que nos leva a esse questionamento, quiçá, essa resposta (se possível) seja em pesquisas posterior.

A análise da qual estamos falando foi especificamente encontrada, principalmente, no texto de Elias intitulado “O Processo civilizador: volume 2 – Formação do Estado e Civilização”, obra essa que o filósofo e pensador brasileiro, que prefaciou a edição que trabalhamos, Renato Janine Ribeiro, informa que a temática desenvolvida por Elias somente ganha corpo na década de 1970 e os estudos referente ao processo civilizador serão vislumbrados com maior fecundidade a partir dos anos 1990, década em que faleceu Elias.

Dessa forma, o que demanda importância é o fato de que Elias apresenta o desenvolvimento dos diferentes conceitos de cultura e civilização em locais como a Alemanha, Inglaterra e França, expondo as transformações dos costumes, que segundo o autor vão desde as mudanças de se portar à mesa, à forma de comer, às funções corporais como: escarrar, cuspir, arrotar e até expelir gases chegando a situações mais complexas como de controle da agressividade, e para tanto o autor baseia-se na pintura, literatura e documentos históricos. Nesse sentido, os dizeres dos protestantes em relação a barbárie do “selvagem” e a

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adequação ao modo de vida que devia se forjar, demonstram que esse processo analisado por Elias traz sentido à questão adjacente da pregação presbiteriana em relação a um processo civilizador.

É preciso entender que a questão do comportamento, outro tema que Elias explora em sua obra, em que o mesmo faz a análise do comportamento da aristocracia da Idade Média, adotados pela burguesia que ascendeu ao poder pelo ganho comercial, sendo que essa deveria ao chegar a determinada condição social, se adequar a tais costumes e práticas. Ou seja, deveria ter seu comportamento refinado num aspecto que demonstrasse certa civilidade. Logo, as regras não estavam presas somente à questão da etiqueta, mas, a todas as relações do indivíduo. Sendo assim, determinadas regras afetam a pessoa no sentido de se adequar a um determinado grupo, e mais, tais regras não se demonstram somente exteriormente, entretanto, compromete também o ser em sua intimidade, afetando todo o arcabouço de relação do homem com o meio em que vive, bem como nas suas relações interpessoais e na tomada de decisões diante dos problemas que surgem na prática social dia a dia3.

Ainda, importante pontuar que o termo “civilização” durante a escrita não se confunde com os conceitos explorados pelos organizadores da obra “Domínios da História”, Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas, ou seja, na Introdução desse livro num texto (intitulado: História e Paradigmas Rivais), Ciro Flamarion esclarece que o termo civilização se confunde, nesse início de século XXI, com cultura, e, assim trabalha tal conceito especificando a diferença de “civilização” para a vertente francesa e alemã, no que tange a interpretação dos fatos históricos (esse debate será melhor exposto em momento oportuno dessa escrita), por hora, vale então deixar claro que o termo civilização, quando da análise das fontes, será sopesado na perspectiva de “processo civilizatório” desenvolvido por Norbert Elias.

Assim, a presente dissertação está dividida em três capítulos. O primeiro, analisa aspectos da formação do município de Dourados antes e durante a trajetória dos protestantes missionários que fundaram a Missão Caiuá, assim, demonstramos as questões referente a população indígena na região, como a criação das reservas na porção que compreende o município, a adequação do índio e outros personagens a exploração da erva mate pela Companhia Mate Laranjeira, desde o fim do século XIX até sua extinção; a formação da Colônia Agrícola de Dourados, a chegada dos colonos e a formação urbana da cidade a partir

3 Ainda serviram de apoio para a elaboração da dissertação outros autores que escreveram sobre temas como o protestantismo, imprensa protestante e processo civilizatório que podemos elencar: Martins e Luca (2013), Neves (2009), Nascimento (2007), Mendonça (1995), Reily (2003) entre outros.

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da iniciativa dos “fundadores” e suas famílias. Ainda no primeiro capítulo tecemos apontamentos em relação à imprensa protestante, desde a suas primeiras iniciativas com o missionário Robert Kalley, passando pela criação do Imprensa Evangélica por Ashbel G. Simonton, até a criação e ação dos principais jornais protestantes desde a segunda metade do século XIX até a década de 1950.

O segundo capítulo, versa sobre as raízes do protestantismo no que tange ao processo civilizador, ou seja, nesse capítulo retornamos ao século XIX para analisar as bases em que se fundaram a pregação presbiteriana protestante, sendo que para tanto analisamos o primeiro periódico presbiteriano, o Imprensa Evangélica, de iniciativa do primeiro missionário presbiteriano no Brasil, Ashbel Green Simonton. Assim, foi possível perceber quais eram as práticas e discursos propalados pelo periódico ao público alvo, assim como observar a visão desse grupo protestante quanto à população indígena.

Finalmente, no terceiro capítulo exploramos a vertente do discurso presbiteriano quanto ao conceito de processo civilizador a partir do periódico O Puritano, especificando a fundação e administração da Missão Evangélica Caiuá (1929). Nesse momento, analisamos tais discursos à luz do processo civilizador tendo como base a obra de Norbert Elias.

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CAPÍTULO I

A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE DOURADOS E A IMPRENSA PERIÓDICA PROTESTANTE

No ano de 2017 comemorou-se os 500 anos da Reforma Protestante, que tem como marco a data de 31 de outubro de 1517, reforma essa propalada pelo monge Martinho Lutero4, sendo que tal fato ecoa suas consequências até os dias atuais, pois, não é difícil observar no seio da sociedade ocidental os mais variados costumes construídos na perspectiva judaico-cristã. E é nesse amalgama que se propõe tratar os acontecimentos históricos da cidade de Dourados, parte integrante do sul do atual estado brasileiro de Mato Grosso do Sul (MS), em especial no que se refere os trabalhos dos presbiterianos frente a evangelização dos índios na região com a chegada dos missionários à região de Dourados em 1929.

No entanto, é importante observar que a pesquisa se realiza numa perspectiva e num recorte espaço-temporal, até mesmo porque, somente com esse fatiamento da realidade apresentado pelas fontes é possível estabelecer uma pesquisa que tente construir uma narrativa do passado dentro dos aspectos exigidos pela academia. Assim, possibilitando que o historiador possa fazer os mesmos caminhos da pesquisa e averiguar suas conclusões, sendo que tal cuidado é, no mínimo, razoável na construção e escrita do historiador. Logo, dentro do recorte acima mencionado, levando em consideração que o enfoque dos presbiterianos não tem como função afirmar ou construir uma narrativa em que tenha como protagonista essa denominação cristã, isso porque, conforme esclareceu Carlos de Barros Gonçalves5 o trabalho de evangelização dos índios no município em questão se deu numa perspectiva ecumênica, envolvendo outras denominações protestantes, que em momento oportuno será tratado nessa dissertação.

Não obstante, o recorte temporal foge de seu limiar inicialmente (no intento de buscar suas bases), nos anos anteriores ao projeto ecumênico de pregação aos índios, no qual os presbiterianos fizeram parte buscando entender o referido processo, assim como as possíveis consequências que tal iniciativa trouxe à região em seus anos posteriores. Desta maneira, a pesquisa pretende observar tais fatos até o fim da década de 1950.

Porém, o que se pretende nesse capítulo é fazer uma contextualização do município de Dourados na primeira metade do século XX, bem como, num segundo momento,

4 FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino. Ed. Três Estrelas, São Paulo, 2012.

5 GONÇALVES, Carlos Barros. Até aos confins da terra: o movimento ecumênico protestante no Brasil e a evangelização dos povos indígenas. Dourados: UFGD, 2011.

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estabelecer conceitos e elementos importantes referentes aos periódicos protestantes que envolvem o objeto proposto. De fato, a contextualização de Dourados e a explanação em relação aos periódicos trarão elementos basilares para que a construção do texto busque responder a problemática apresentada.

1.1UM OLHAR SOBRE A CIDADE DE DOURADOS

Segundo dados do Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE) estima-se que a cidade de Dourados no ano de 2017 possua aproximadamente 218.069 habitantes, localizada na região sul do Estado de Mato Grosso do Sul. É a maior cidade da microrregião conhecida como cone sul do estado e o segundo maior município do estado. Aliás, o atual estado está localizado na parte sul da região Centro-Oeste, sendo que anteriormente a 11 de outubro de 1977, compreendia o estado de Mato Grosso, porém na referida data, durante o governo militar de Ernesto Geisel, ocorreu a divisão desse estado, fato que somente foi realmente efetivado no ano de 1979, remetendo a capital do novo estado a Campo Grande, e, conforme dados extraídos do site oficial do governo do Estado do Mato Grosso do Sul, hoje em dia o estado compreende um total de 79 municípios, com uma extensão territorial de 357.145,532 km², chegando em 2017 a cifra de 2.713.147 habitantes6.

Já o município de Dourados é considerado polo educacional uma vez que possui duas universidades públicas, a saber: a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), possuindo ainda outras duas universidades particulares, Unigran e Anhanguera, ocorrendo o deslocamento diário de vários estudantes dos municípios adjacentes para a cidade, sem contar que a cidade ainda possui proximidade de fronteira com o Paraguai, cerca de 120 quilômetros de Pedro Juan Caballero, fato que torna esse processo migratório ainda maior, isso porque devido ao comércio de fronteira e as faculdades de medicina do Paraguai atraem grande número de pessoas.

Conforme estabelece a home page7 da prefeitura da cidade a região denominada de região da Grande Dourados, sendo que o município possui 09 distritos: Guaçu, Indápolis, Itahum, Macaúba, Panambi, Picadinha, São Pedro, Vila Formosa e Vila Vargas, forte polo agropecuarista do estado voltado a exportação, tendo ainda uma cobertura de saúde que atende além dos distritos citados, inúmeras cidades do seu entorno.

6 MATO GROSSO DO SUL. Portal do Governo. Disponível em: <http://www.ms.gov.br/>. Acesso em: 10 de abril de 2018.

7 DOURADOS. Portal da Prefeitura Municipal. Disponível em: http://www.dourados.ms.gov.br. Acesso em: 10 de abril de 2018.

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De outro viés, uma vez que a referente pesquisa tangencia aspectos da religião no período de formação do município, em pesquisa no site do IBGE encontramos um dado interessante referente aos aspectos estatísticos do município em que a maioria dos entrevistados pelo Censo de 2010 se declara Católica Apostólica Romana e somam 114.518, por sua vez os protestantes adicionam 57.122 indivíduos, ocupando a segunda maior referência religiosa do município, o gráfico abaixo refere a religião Espírita que, segundo o IBGE possui 3.362 indivíduos, porém, não significa que os espíritas estejam na terceira posição, isso porque as análises das tabulações do Censo de 2010 pode-se constatar que o terceiro maior número de indivíduos na cidade estão os que se declaram agnósticos, ateus ou sem religião, num total de 14.556 pessoas8.

Figura 1 – Gráfico de distribuição de população residente por religião

Fonte: Página do IBGE/Panorama na internet9.

Antes, porém, de adentrarmos especificamente nos acontecimentos delineadores da formação do município é preciso esclarecer que, segundo Walteir Luiz Betoni10, ao analisar as fontes da história do município de Dourados em dissertação de mestrado, referenciou que toda essa construção está calcada nas obras dos memorialistas e dos historiadores, nesse sentido o autor busca estabelecer alguns pontos importantes para compreender as narrativas que tratam do tema. Segundo Betoni, a história advinda de fonte memorialista possui uma ligação direta

8IBGE. Cidades. Disponível em:

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/dourados/pesquisa/23/22107?detalhes=true. Acessado em 12 de abril de 2018.

9 IBGE. Panorama. Disponível: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/dourados/panorama. Acessado em 20 de abril de 2018.

10 BETONI, Walteir Luiz. Dourados: entre a memória e a história. 2002. Dissertação (Mestrado em História) -UFMS, campus de Dourados, 2002.

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com os “pioneiros” na região, são biografias dos primeiros moradores e descrição da criação e construção de locais de importância para a população da cidade, ocorrendo que sempre se recorre a documentos oficiais para confirmar tais narrativas, bem como tais documentos são interpretados juntamente com os fatos levantados como elemento demonstrador de “progresso” e de alcance de um caráter “civilizatório” para a região. Desta forma, como a presente dissertação busca salientar, dentro da perspectiva presbiteriana, a questão de “processo civilizatório”, e, que envolve etnias indígenas da região, salutar esclarecer que estamos atentos a essa percepção dissertada por Betoni, bem como o fato do próprio autor afirmar que nesse viés memorialista a questão indígena acaba por ser negligenciada, e, que talvez o índio, nessa perspectiva, trouxe ao colonizador dificuldades no povoamento11.

Feitas essas ponderações em relação às atuais circunstâncias do município passamos a levantar os principais aspectos referente a cidade de Dourados desde fim do século XVIII até os primeiros 50 anos do século XX. Desta forma, segundo Paulo Roberto Cimó Queiroz, os primeiros registros da tentativa de povoamento, ainda no final do século XVIII, da região sul do antigo Mato Grosso relacionados à população não-indígena estão ligados à construção do Forte do Iguatemi, na região sul do estado, á margem esquerda do rio Iguatemi, onde hoje é a cidade de Paranhos no Mato Grosso do Sul, forte esse que na sua construção tinha o objetivo de defender o território brasileiro de possíveis invasões espanholas.

Hoje o Forte Iguatemi está em ruínas, inserto em área indígena e é considerado sítio arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), também nessa mesma época, com o mesmo intento de proteger o território português dos espanhóis, foi criado o Forte Coimbra, em 1775, além do objetivo de proteger as fronteiras do território brasileiro, também foi palco de batalhas importantes no contexto da guerra contra o Paraguai, dando razão ao surgimento de povoados como Corumbá e Miranda que se localizavam á beira do Rio Paraguai, porém, tais iniciativas não obtiveram êxito em promover colonização ou núcleos populacionais significativos12.

Assim, as primeiras levas de migrantes advindos de Minas Gerais que atravessaram o Rio Paranaíba, e, se fixaram no sul do estado de Mato Grosso para desenvolver atividades ligadas á pecuária, só ocorreu na primeira metade do século XIX, isso coaduna com a posição

11 BETONI, Walteir Luiz. Dourados: entre a memória e a história. 2002. Dissertação (Mestrado em História) - UFMS, campus de Dourados. p. 48-76, 2002

12 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Articulações econômicas e vias de comunicação do antigo sul de Mato Grosso (séculos XIX e XX). In: LAMOSO, Lisandra P. (Org.). Transportes e políticas públicas em Mato

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de Casal13que afirma que desde 1817 os ervais nativos já eram explorados; nesse mesmo sentido podemos observar que a abertura da navegação do Rio Paraguai para o Brasil permitiu maior contato da região de Corumbá, principalmente, com demais núcleos e centros populacionais. Desta forma, ainda que as iniciativas citadas tenham alguma relevância, o fato é que até meados do século XIX a região da atual Dourados era praticamente habitada por indígenas e considerada um vasto sertão, somando que esses primeiros movimentos de populações não-indígenas foram interrompidos com a Guerra da Tríplice Aliança, que devastou a região, provocando inúmeras mortes.

No entanto, ao terminar a guerra contra o Paraguai, esse último e o Brasil firmaram tratado territorial (1872 e 1874) sendo que foram demarcados os territórios de fronteira, dando ao país e ao estado do Mato Grosso do Sul os atuais contornos geográficos14.Assim, posteriormente à guerra, no final do século XIX foi quando se iniciou a efetiva povoação na região sul do atual estado do Mato Grosso do Sul. Essas ondas migratórias eram de grupos advindos de outros estados como: Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, e, até mesmo do próprio Paraguai, tendo como substância econômica a pecuária, entretanto, a atividade de exploração da erva-mate (Figura 02) começa a ganhar corpo dentro dos aspectos econômicos da região, desta forma esclarece Eva Maria Luiz Ferreira no fragmento:

Com o final da Guerra, as autoridades locais veem a necessidade de proteger as fronteiras, adotando como medida urgente radicar aí homens “brancos” e estabelecer postos militares, para impedir a entrada de estrangeiros. Dessa forma, o pós-guerra assistiu a um incremento na vinda, para o Sul de Mato Grosso, de inúmeros migrantes tanto paraguaios como brasileiros vindos de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul15.

Segundo Paulo Roberto Cimó Queiroz o hábito dos índios no uso da erva mate em suas atividades alimentares e adotada pelos europeus foi um dos elementos que ajudaram na exploração econômica no estado e consequentemente na sua povoação, assim escreve o autor:

Para iniciar a discussão desse tema, é preciso lembrar que a parte sul do atual Mato Grosso do Sul (vale dizer, o extremo sul do antigo Mato Grosso) fazia parte da vasta área, correspondente à porção central da bacia platina (abrangendo, sobretudo territórios atualmente pertencentes ao Brasil e ao Paraguai), onde era nativa a árvore da erva-mate (Ilex paraguariensis). O hábito de usar as folhas dessa árvore em uma bebida, como uma espécie de complemento alimentar, remonta, como se sabe, aos antigos habitantes dessa região, sobretudo os Guaranis. Tendo sido esse hábito adotado pelos conquistadores europeus e seus descendentes, formou-se na América ibérica – sobretudo na região atualmente correspondente à Argentina e ao Uruguai, além do próprio Paraguai e do sul do Brasil – um amplo mercado consumidor,

13 CASAL, 1976, p. 126, nota 10 apud QUEIROZ, 2008.

14 ROSA, Pedro Ângelo da. Resenha histórica de Mato Grosso: fronteira com o Paraguai. Campo Grande: Livraria Ruy Barbosa, 1962.

15 FERREIRA, Eva Maria Luiz. A participação dos índios Kaiowá e Guarani como trabalhadores nos ervais da Companhia Mate Laranjeira (1902-1952). Dourados. 111f. Dissertação (Mestrado em História).

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inicialmente abastecido pela produção do Paraguai e mais tarde, já a partir do século XIX, também pela produção das províncias sulinas brasileiras16.

Antes, porém, da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) a região de Dourados já havia demarcado um ponto de proteção do território, isso porque no ano de 1861, foi criada a Colônia Militar de Dourados, sobre o comando de Antonio João Ribeiro, assim essa região ganhou maior relevância com a guerra contra o Paraguai por ser ponto de apoio das tropas brasileiras no conflito bélico, isso também ocasionou a fixação de algumas pessoas na região17.

Vale salientar que a imagem do Tenente Antonio João Ribeiro, segundo Camila Cremonese Adamo, em dissertação de mestrado pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), intitulada: “Fronteira, mitos e heróis: a criação e apropriação da figura do tenente Antônio João Ribeiro no antigo sul de mato grosso”, se formou aliado a cidade de Dourados de forma que:

Na cidade de Dourados, Antônio João se torna figura heroica em sentido amplo, pois se mescla com a noção de mito fundador, no sentido etimológico, antropológico e psicanalítico apresentado por Chauí. Era a figura que fornecia os aspectos lendários da comunidade, aglutinava em torno de um objetivo comum e fornecia o vínculo ligando passado com presente. Era a figura capaz de reunir as qualidades e características necessárias para se apresentar como representante da cidade, mesmo não havendo uma ligação direta entre a Colônia Militar dos Dourados e a região que deu origem à cidade de Dourados. A repetição da considerada história oficial de Dourados, ligada à produção memorialista, constituiu-se tendo como uma das bases a noção de mito fundador, articulada com a figura de Antônio João e dos pioneiros18. Através das linhas acima é possível perceber que a figura de Antonio João Ribeiro, apesar de muito forte em relação à cidade de Dourados, tendo o município a alcunha popular de “terra de Antonio João”, bem como também inúmeras nomeações de lugares públicos, construção de monumentos em homenagem ao herói, nomes de associações da cidade, leis municipais e outras associações, que de uma maneira ou de outra, favoreceram a confusão envolvendo a cidade e a Colônia Militar dos Dourados. Porém, disserta Cremonese que a figura de Antonio João Ribeiro não tem uma associação direta com a cidade, como a ideia de mito fundador parece transparecer, ou seja, mudanças na nomenclatura da colônia militar ou

16 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Articulações econômicas e vias de comunicação do antigo sul de Mato Grosso (séculos XIX e XX). In: LAMOSO, Lisandra P. (Org.). Transportes e políticas públicas em Mato

Grosso do Sul. Dourados: Ed. UFGD, 2008, p. 02.

17 PAES, Fernando L. O. Athayde. Educar mentes e salvar almas: ação missionária protestante na escolarização de indígenas no sul de mato grosso (1928-1950) Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de São Carlos (PPGE/UFSCar). São Carlos – São Paulo, 2015, p. 45.

18 CREMONESE, Camila Adamo. Fronteira, mitos e heróis: a criação e apropriação da figura do Tenente Antônio João Ribeiro no antigo sul de Mato Grosso, Dissertação – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados- MS, 2010, p. 167/168.

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confusão em relação ao nome do rio Dourados podem ter levado á formação de uma identidade próxima e vinculada ao município.

Figura 2 – Trabalhadores da Erva-Mate carregando o pesado “Raído”

Fonte: Museu Histórico de Dourados 19

Ainda que não seja tema nem objeto da presente pesquisa, se faz importante lembrar que a pessoa de Tomás Laranjeira20 teve relevância nesse processo da exploração da erva-mate, isso porque o mesmo conseguiu a concessão de exploração dos ervais que se encontravam no sul da então província do Mato Grosso no ano de 1882, até porque o governo imperial considerava tais terras devolutas, porém, ainda que Laranjeira tenha destaque nos documentos, o mesmo não foi o único a explorar essa atividade, sendo que o próprio decreto imperial de 1882 estabelecia o direito dos moradores que viviam na área demarcada pelo

19 Fonte: Museu Histórico de Dourados. Fornecido pelo atendente do museu Sr. Wilson. Fez-se questão de incluir essa foto ao texto quando do trato da erva-mate para demonstrar o trabalho árduo e difícil dos homens que tiveram suas vidas dedicadas ao trabalho nesse ramo de produção no sul do atual Mato Grosso do Sul. Lembrando que o raído de erva se trata do nome dado aqueles fardos que os trabalhadores carregavam nas costas feitos de um grande feixe amarrado por uma trama de taquara mansa.

20 Tomás Laranjeira era natural do estado de Santa Catarina, sendo que juntamente com o irmão (Serafim Laranjeira) participou da Guerra do Paraguai (1864-1870). Terminada a Guerra contra o Paraguai, Tomás Laranjeira, acabou se estabelecendo como comerciante na região de Concepción no Paraguai, posteriormente, serviu como secretário civil da Comissão de demarcação de terras e “fornecedor de mantimentos” a esse grupo. Após a demarcação da fronteira (1874) Laranjeira iniciou extração e industrialização da erva-mate no Paraguai depois explorou (inicialmente) os ervais do sul do antigo estado de Mato Grosso de forma clandestina, mas não tardou em conseguir a concessão dessas áreas pelo Decreto n. 8.799 de nove de dezembro de 1882, recebeu então o título de comendador, logo, passando, no início do séc. XX, a exportar a Ilex paraguariensis para a Argentina, e, posteriormente unificando as exportações com países como o Uruguai, Paraguai e alguns estados do sul do Brasil. Não obstante, a empresa sofreu uma fusão, passando em 1902 a empresa a chamar, Laranjeira Mendes & Cia, que chegou a produzir anualmente cinco milhões de quilos de erva mate, possuindo para esses serviços, aproximadamente quatro mil e quinhentos empregados espalhados por diversos países do continente sul americano. Todavia, em 1934, se iniciariam profundas modificações administrativas na economia ervateira, e, no governo Vargas ocorreu rescisão do contrato para extrair erva-mate nativa no Mato Grosso. Vale esclarecer que, apesar da Companhia seguir seu curso pelo século XX, o fato é que Tomás Laranjeira faleceu no estado do Rio de Janeiro, em 18 de dezembro 1911, aos 71 anos.

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documento em questão e que viviam da exploração da erva, de continuar suas atividades de forma concomitante com a empresa de Tomás Laranjeira, empresa essa conhecida como “Companhia Mate Laranjeira”21.Segundo Suzana Gonçalves Batista Naglis, a importância da companhia mate laranjeira se deu devido a concentração de terras em seu poder, bem como devido ao poder econômico e político, assim escreve a autora:

A Companhia Matte Laranjeira é referência pelo fato de ter exercido não somente o poder econômico e político, mas, sobretudo, pela grande concentração de terras devolutas que estavam sob seu poder. Assim, o sul do estado de Mato Grosso, desde o período pós-Guerra da Tríplice Aliança, ficou sob o virtual monopólio econômico da Companhia Matte Laranjeira por meio da exploração da erva-mate nativa, havendo grande concentração de terras22.

No entanto, apesar do destaque levantado acima é importante não confundir a história da região de Dourados com a Companhia Mate Laranjeira, muito menos com a pessoa de Tomás Laranjeira, ainda que se trate de uma figura que aparece com frequência nos relatos dos historiadores ou em trabalhos que envolvam memorialismos, ressalta Paulo Roberto Cimó Queiroz, que muitas vezes a história da companhia, de forma errônea, acaba confundindo o observador, assim escreve o autor:

Embora tenha assumido, ao longo do tempo, diferentes nomes e configurações, essa empresa ficou historicamente conhecida pelo nome adotado em 1891 e manteve uma posição predominante nos ervais sul-mato-grossenses até a década de 1940. É conveniente notar que a enorme relevância assumida pela empresa, isto é, a amplitude e a longa duração de sua presença nos ervais levaram-na “sequestrar”, por assim dizer, grande parte da história e da memória de toda a região ervateira. Em outras palavras, muitos estudiosos têm sido levados a confundir, mais do que seria justo e desejável, a história da economia ervateira sul-mato-grossense com a história da empresa, como se fossem ambas uma só e mesma coisa. Na verdade, contudo, o universo da economia ervateira sul-mato-grossense foi algo muito mais complexo, impossível de ser reduzido à exclusiva presença da CML. Cabe lembrar, por exemplo, que, desde a primeira metade do século XIX, o SMT passara a acolher numerosos novos povoadores, vindos, sobretudo das regiões sudeste e sul do Brasil e também do Paraguai, num movimento típico do fenômeno conhecido como frente de expansão. A presença desses outros atores criava, por assim dizer, um universo “paralelo” à empresa, embora parcialmente vinculado a ela, de modo que desde princípios do século XX o virtual monopólio exercido pela companhia sobre os ervais começou a ser questionado, sob a pressão dos migrantes (sobretudo gaúchos) e de parcela da elite dirigente mato-grossense23.

No inserto acima o autor deixa claro que outros personagens fizeram parte da história da formação do município de Dourados, sendo que esses demais elementos possuem

21 ARRUDA, Gilmar. Frutos da terra: os trabalhadores da Mate Laranjeira. Londrina: Ed. da UEL, 1997, p. 31. 22 NAGLIS, Suzana Gonçalves Batista. Marquei aquele lugar com o suor do meu rosto: os colonos da Colônia Agrícola Nacional de Dourados – CAND, 1943 – 1960. Dourados, MS: UFGD, 2007, p. 29.

23 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Caminhos da erva mate: a montagem da rede de transportes associada à economia ervateira sul mato grossense (1882-1902). Disponível em: www.economia.unam.mx/cladhe/registro/ponencias/99_abstract.doc. Acessado em 19 de abril de 2018.

Referências

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