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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA PRÁTICA DE INCOME SMOOTHING: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS COMPANHIAS DO SEGMENTO TRADICIONAL DA BOVESPA E DO NOVO MERCADO RESUMO

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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA PRÁTICA DE INCOME SMOOTHING: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS COMPANHIAS DO SEGMENTO TRADICIONAL DA

BOVESPA E DO NOVO MERCADO

MARINA SOUZA LÚCIO OLIVEIRA Aluna do curso de graduação em Ciências Contábeis Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG WAGNER MOURA LAMOUNIER Doutor em Economia pela Universidade Federal de Viçosa - UFV Professor Adjunto III da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

RESUMO

O presente trabalho busca verificar a existência de income smoothing nas companhias do segmento Tradicional da BM&FBOVESPA e nas companhias do Novo Mercado e identificar se existem diferentes níveis desse tipo de gerenciamento dos resultados contábeis entre os dois grupos citados. Para isso, foi avaliada uma amostra constituída pelas empresas com as ações mais negociadas na BM&FBOVESPA, IBRX-100, chegando-se a uma amostra final de 88 empresas. Foram utilizadas demonstrações financeiras trimestrais do 1º trimestre de 2002 ao 3º trimestre de 2009. Para o cálculo de verificação da prática de income smoothing foram utilizadas a metodologia de análise de contas específicas preconizada por Martinez (2001) e a métrica para confirmação de alisamento, utilizadas por Castro (2008). Os resultados obtidos, exceto pela análise da conta Despesas com Depreciação, indicam que existem diferenças entre os níveis da prática de income smoothing entre os segmentos estudados. Na análise das contas de Receitas Não-Operacionais e do Ativo Imobilizado foi observado que, embora existissem indícios de que os dois grupos de empresas estariam alisando seus resultados, os coeficientes obtidos para o segmento Tradicional indicavam um nível maior da prática citada.

Palavras-chave: Income Smoothing, Governança Corporativa, Regressão Linear. ABSTRACT

This study seeks to verify the existence of income smoothing in the companies of the Traditional division of BM&FBOVESPA stockmarket and companies of Novo Mercado division and to identify if there are different levels of this type of earnings management between the two mentioned groups. The companies’ sample was constituted by the most actively traded stocks on BM&FBOVESPA, IBRX-100, coming to a final sample of 88 companies. Quarterly financial statements were used, from the first quarter of 2002 to the third quarter of 2009. To verify the estimation of income smoothing practice, the methodology used was the analysis of specific accruals recommended by Martinez (2001), and the metric for smoothing’s confirmation, used by Castro (2008). The results, except for the regression calculated for Depreciation, have indicated that there are differences between the levels of the practice of smoothing between the segments studied. In the analysis of Non-Operating Income and Fixed Income Assets it has been observed that, although there are indications that both of the groups of firms would be smoothing their results, the coefficients obtained for the Traditional segment showed a higher level of the cited practice.

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1 INTRODUÇÃO 1.1 Tema / Assunto

A expressão “Gerenciamento dos Resultados Contábeis” é utilizada para definir um grupo de práticas adotadas por gestores e contadores objetivando reportar resultados que atendam a interesses da administração da empresa. Conforme Martinez (2001), ao realizar o gerenciamento dos resultados contábeis, o gestor atua dentro dos limites prescritos pela legislação contábil e, nos pontos em que as normas contábeis demandam sua discricionariedade, realiza suas escolhas não de acordo com a realidade dos negócios, mas em função de outros incentivos, que o conduzem a reportar um resultado distinto.

A manipulação dos resultados da empresa, por meio de seus demonstrativos contábeis, contribui para o aumento da assimetria informacional e pode induzir os investidores a tomarem decisões inadequadas. Visto que o resultado da empresa é uma das informações contábeis mais relevantes para os seus usuários, sendo este importante para a avaliação do desempenho das companhias, identificar empresas que estão praticando o gerenciamento dos resultados contábeis é de interesse para todos os stakeholders.

De acordo com Martinez (2001), o gerenciamento dos resultados contábeis pode ser classificado em várias modalidades, destacando-se entre elas o Target Earnings, o Income Smoothing e o Big Bath Accounting. Neste estudo será analisada a prática do income smoothing, assunto ainda pouco abordado pela literatura nacional, destacando-se os trabalhos de Martinez (2001), Duarte e Lamounier (2008) e Castro (2008). Definido por Martinez (2001) como o processo de manipular o perfil temporal dos lucros de modo a fazer com que estes sejam reportados em seqüência menos variável, o income smoothing representa um esforço proposital de reduzir as variações nos lucros divulgados.

Buscando assegurar melhorias no disclosure das informações transferidas aos seus acionistas e investidores, a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros - BM&FBOVESPA possui uma série de empresas que adotam práticas de governança corporativa, listadas no Nível 1, no Nível 2 e no Novo Mercado. As empresas listadas nestes níveis expandem os direitos societários dos acionistas minoritários e ampliam a transparência das companhias, por meio da divulgação de maior volume de informações e de melhor qualidade, facilitando o acompanhamento de sua performance. Portanto, tem-se como pressuposto que empresas que estejam enquadradas nos níveis de Governança Corporativa do Novo Mercado tendem a apresentar um nível menor de adoção da prática de income smoothing.

Considerando o que foi exposto, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: as empresas listadas nos diferentes níveis de Governança Corporativa do Novo Mercado da BM&FBOVESPA apresentam níveis de income smoothing diferentes das companhias listadas no segmento tradicional da BM&FBOVESPA?

1.2 Relevância deste Estudo

Um número expressivo de artigos que documentam e investigam fatores que motivam o gerenciamento dos resultados e suas principais práticas tem sido produzido nos últimos anos, particularmente nos EUA. No Brasil, desde 2001, o tema vem sendo explorado pelos

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acadêmicos da área, destacando-se os trabalhos de Martinez (2001), Fuji (2004), Lopes e Tukamoto (2007) e Rodrigues (2007).

Este estudo é relevante, pois busca verificar se os padrões estabelecidos para a Governança Corporativa dentro do Novo Mercado da BM&FBOVESPA podem implicar melhorias nas práticas contábeis das firmas, de maneira a reduzir a prática do income smoothing. Além disso, pode chamar a atenção dos stakeholders para o fato de que os resultados contábeis podem não expressar a real situação dos negócios das empresas, mesmo daquelas que adotam práticas de Governança Corporativa. Nesse sentido, espera-se, com este trabalho, contribuir para as pesquisas realizadas sobre o tema no Brasil, principalmente sobre a qualidade do lucro e o impacto dos números contábeis no mercado de capitais.

1.3 Objetivos

O objetivo geral da presente pesquisa consiste em verificar a existência de income smoothing nas companhias do segmento tradicional da BM&FBOVESPA e nas companhias do Novo Mercado, com práticas diferenciadas de Governança Corporativa, identificando empiricamente a existência de diferentes níveis desse tipo de gerenciamento dos resultados contábeis entre os dois grupos citados.

Os objetivos específicos deste estudo são:

a) Mensurar o nível da prática de income smoothing das empresas listadas no índice IBRX-100 da BM&FBOVESPA;

b) Contrastar empiricamente as práticas das empresas do novo mercado com as do mercado tradicional e verificar qual deles apresenta maior grau da prática de income smoothing;

Para a delimitação da amostra, optou-se pelas empresas listadas no índice IBRX-100 da BM&FBOVESPA, dividas em dois grupos: (I) companhias classificadas como Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado, devido ao conjunto de normas de conduta e de boas práticas de Governança Corporativa a que essas empresas estão sujeitas; (II) companhias do segmento tradicional da BM&FBOVESPA.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Gerenciamento de Resultados Contábeis

O Earnings Management ou Gerenciamento de Resultados Contábeis tem sido amplamente discutido, sobretudo nos EUA. A expressão foi definida por Schipper (1989, apud Martinez, 2001), como uma intervenção proposital no processo de elaboração de relatórios financeiros para usuários externos, com o intuito de obter algum ganho particular.

Healy e Whalen (1999) explicam ainda que o earnings management ocorre quando os gestores utilizam seu julgamento na elaboração dos relatórios financeiros para ludibriar alguns investidores sobre o desempenho econômico subjacente da empresa ou para influenciar resultados contratuais que dependem dos números divulgados pela contabilidade.

De acordo com Mohanram (2003), o gerenciamento de resultados é a manipulação intencional dos resultados com o objetivo de conduzi-los a um montante maior ou menor, que

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seria diferente na ausência de qualquer manipulação. Adicionalmente, Mohanram (2003) comenta que, quando os administradores tomam decisões não por razões estratégicas, mas unicamente para mudar os resultados, pode-se considerar que houve gerenciamento de resultados contábeis.

É importante ressaltar que o gerenciamento de resultados contábeis se diferencia da fraude contábil. Conforme Dechow e Skinner (2000), existe uma nítida distinção entre a prática contábil fraudulenta, que demonstra claramente a intenção de ludibriar e entre as escolhas e estimativas que se adéquam aos princípios contábeis e que podem caracterizar a manipulação de resultados, dependendo da intenção do gestor.

Martinez (2001, p. 13) esclarece:

É crucial entender que “gerenciamento” dos resultados contábeis, não é fraude contábil. Ou seja, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, entretanto nos pontos em que as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o gerente, este realiza suas escolhas não em função do que dita a realidade concreta dos negócios, mas em função de outros incentivos, que o levam a desejar reportar um resultado distinto.

Na literatura internacional, diversos estudos como os de Schipper (1989, apud Martinez, 2001), Carlson e Bathala (1997), Black, Sellers e Manly (1998), Healy e Whalen (1999), Dechow e Skinner (2000), Mohanram (2003), Zimmermann e Gontcharov (2003), Lang, Raedy e Wilson (2005) e Myers, Myers e Skinner (2006) analisaram aspectos que envolvem o gerenciamento de resultados.

Dechow e Skinner (2000) discutiram as razões entre as diferenças na percepção do gerenciamento de resultados pelos acadêmicos e pelos órgãos reguladores e identificaram que os órgãos reguladores vêem o gerenciamento de resultados como um problema que necessita de correção imediata, enquanto os acadêmicos tendem a ser mais otimistas, não querendo acreditar que o gerenciamento de resultados seja amplamente utilizado pelas empresas ou defendendo que, caso exista, a prática não ser motivo de preocupação para os investidores. Dechow e Skinner (2000) defendem que, entre as razões para que os acadêmicos subestimem a questão, estaria a dificuldade para se mensurar o gerenciamento de resultados, já que é necessário que sejam identificados os resultados ou contas manipulados, e como isto está ocorrendo, utilizando-se somente as demonstrações contábeis.

Lang, Raedy e Wilson (2005), compararam os resultados contábeis de firmas dos EUA com os resultados reconciliados de firmas de outros países que estavam listadas no mercado de capitais americano, utilizando equações de regressão. Os resultados obtidos indicaram que as empresas que não eram dos EUA apresentavam maior evidência de suavização de resultados e grande tendência de gerenciar para alcançar um resultado alvo. Além disso, verificou-se que há mais evidências de gerenciamento de resultados para firmas que ajustam as suas demonstrações para os padrões US GAAP do que aquelas que já preparam as demonstrações de acordo com este padrão.

Myers, Myers e Skinner (2006) identificaram 746 firmas que apresentaram séries de aumentos nos resultados por, pelo menos, 20 trimestres seguidos e mostraram que esta freqüência é muito maior do que o esperado. Em seguida, obtiveram indícios de que estas empresas auferem retornos anormais, em relação à média, de mais de 20% por ano se comparadas àquelas que apresentaram séries de aumentos anuais, mas não trimestrais, nos resultados. Myers, Myers e Skinner (2006) explicam que esta recompensa do mercado e a rapidez com que ela desaparece após o fim das cadeias de aumentos nos resultados, constituem um incentivo para que os administradores mantenham e estendam estas cadeias.

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No Brasil, Martinez (2001) foi o precursor nos estudos envolvendo o gerenciamento de resultados. Martinez (2001) utilizou três técnicas (modelos de distribuição de freqüência, modelos de acumulações específicas “specific accruals”, e modelos para as acumulações agregadas “aggregate accruals”) e elaborou seis hipóteses de pesquisa. Sua amostra englobou as companhias abertas com ações negociadas nas bolsas de valores brasileiras e os resultados apresentaram fortes evidências de que há gerenciamento de resultados no Brasil para: evitar reportar perdas, sustentar o desempenho recente e reduzir a variabilidade dos resultados.

Perseguindo esta linha de pesquisa, Fuji e Carvalho (2005) verificaram se havia gerenciamento de resultados contábeis no contexto das instituições financeiras no Brasil e os resultados da pesquisa comprovaram que havia indícios de Earnings Management por intermédio da conta de provisão para créditos de liquidação duvidosa, principalmente para minimizar a variação de resultados.

Rodrigues (2007) analisou a existência de income smoothing por meio das contas de receitas e despesas não-operacionais, no âmbito das empresas brasileiras classificadas como Nível 1 de governança corporativa pela BM&FBOVESPA. Utilizando a análise de distribuição de freqüência (histograma), o coeficiente de correlação de Pearson e a regressão, obtiveram-se indícios de gerenciamento dos resultados, mas somente na análise da regressão este comportamento pôde ser identificado.

Lopes e Tukamoto (2007) compararam as companhias abertas brasileiras emissoras de ADRs (American Depositary Receipt) e não-emissoras de ADRs e investigaram se existiam diferenças nos níveis de gerenciamento de resultados decorrentes do tipo de norma contábil adotada e se as exigências advindas do processo de cross listing se refletiam na qualidade informacional das demonstrações contábeis. Os resultados obtidos pelas medidas estruturadas para captar indícios da prática de gerenciamento de resultados não apresentaram médias estatisticamente diferentes nas comparações entre os grupos estruturados, contrariando as expectativas iniciais.

2.3 Income Smoothing

Conforme Black, Sellers e Manly (1998), income smoothing é uma forma específica de gerenciamento de resultados, que possibilita aos administradores manipular os resultados para reduzir a sua volatilidade. Para isto, Black, Sellers e Manly (1998) explicam que a hipótese inerente ao income smoothing é a de que os resultados variam em torno de um nível considerado normal e de que os administradores procuram manter os lucros reportados o mais perto possível deste nível.

Martinez (2001) define income smoothing como sendo um gerenciamento de resultados contábeis para reduzir a variabilidade, com o propósito de manter os resultados em determinado patamar e evitar sua excessiva flutuação. Desta maneira, os administradores procuram aumentar os resultados quando estes estão muito baixos ou diminuí-los quando estão muito acima do esperado.

A prática de income smoothing, embora seja ainda relativamente pouco analisada na literatura nacional, tendo como exemplo os trabalhos de Martinez (2001), Fuji e Carvalho (2005), Rodrigues (2007), Lopes e Tukamoto (2007) e Duarte e Lamounier (2008), constitui tema amplamente discutido na literatura internacional, destacando-se os estudos de Carlson e Bathala (1997), Black, Sellers e Manly (1998), Zimmermann e Gontcharov (2003), Bao e Bao (2004). Os vários artigos escritos sobre o assunto levantam discussões sobre a relação entre a

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prática de income smoothing e entre as normas contábeis, venda de ativos, estrutura de controle e criação de valor para as empresas; sobre as contas mais utilizadas para manejar os resultados; sobre as motivações para praticar esse tipo de gerenciamento, dentre outras. Portanto, destacam-se alguns trabalhos sobre income smoothing desenvolvidos nos últimos anos.

Carlson e Bathala (1997) realizaram um estudo com de 296 empresas nos Estados Unidos, com o objetivo de analisar a associação entre as diferenças na estrutura de controle e no income smoothing das empresas, a partir da variabilidade do fluxo de lucros. Os resultados indicam que as estruturas de controle, a estrutura de incentivos aos executivos e a rentabilidade da empresa são importantes para explicar a prática de income smoothing nas empresas. Além disso, obtiveram-se indícios de que os custos de agência e a assimetria informacional também impactam no income smoothing.

Black, Sellers e Manly (1998) utilizaram uma amostra de 503 empresas da Austrália e da Nova Zelândia e 696 do Reino Unido, divididas entre empresas que reavaliavam seus ativos e empresas que não reavaliavam. Por meio da análise de regressão, constatou-se que a reavaliação de ativos resulta em menos oportunidades de se praticar o income smoothing. Adicionalmente, obtiveram-se indícios de que as empresas podem deixar de reavaliar ativos para que seja possível praticar o income smoothing ou podem, ainda, vender mais ou menos ativos de acordo com o resultado que desejam apresentar. Desta maneira, Black, Sellers e Manly (1998) concluíram que a prática de income smoothing por meio da venda de ativos é menos comum em países que permitem a reavaliação de ativos.

Zimmermann e Gontcharov (2003) investigaram a qualidade da informação contábil por meio do estudo da influência que as normas contábeis exerciam na prática de gerenciamento de resultados contábeis na Alemanha. Para isto, a avaliação foi realizada de acordo o nível de income smoothing identificado em cada amostra por meio da análise de discritionary accruals e análise multivariada. Verificou-se que as demonstrações publicadas conforme os United States Generally Accepted Accounting Principles (US-GAAP) apresentaram menores níveis de gerenciamento de resultados do que as demonstrações em German GAAP e International Accounting Standards (IAS). As evidências apresentadas por Zimmermann e Gontcharov (2003) fortalecem as hipóteses de que o modelo legal e os fatores institucionais exercem influência sobre a qualidade das normas contábeis e atuam de maneira a reduzir a prática de gerenciamento de resultados.

Bao e Bao (2004) realizaram um estudo com o objetivo de verificar se a menor variabilidade dos resultados garantiria maior criação de valor às firmas que praticassem income smoothing. A amostra foi classificada em quatro grupos: as empresas com resultados qualitativos foram classificadas entre as que suavizavam e as que não suavizavam resultados; e as empresas com resultados não qualitativos classificadas entre as que suavizavam e as que não suavizavam resultados. Bao e Bao (2004) utilizaram a metodologia de análise de regressão e os resultados obtidos indicam que as empresas com resultados qualitativos que praticam income smoothing possuem maior criação de valor, enquanto as empresas com resultados não qualitativos que não suavizam resultados possuem menor criação de valor. Para que se determine se os resultados são qualitativos ou não, Bao e Bao (2004) mediram o montante dos fluxos de caixa líquidos das atividades operacionais que compõem as receitas em relação aos resultados utilizando-se uma accrual basis, sendo que, quanto maior o primeiro, melhor a qualidade dos resultados.

No Brasil, Duarte e Lamounier (2008) analisaram o efeito da prática de income smoothing no custo de capital das empresas. Para isso, utilizaram modelos de regressão estatística para identificar as empresas da amostra que suavizaram e as que não suavizaram os

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resultados. Posteriormente, compararam as médias dos betas das firmas dos dois grupos por meio de testes-t. Os resultados encontrados contrariaram a hipótese de que a suavização dos lucros afeta a percepção de risco do mercado e sugeriram ainda que esta prática não resultaria em criação de valor para os acionistas das empresas.

Castro (2008) utilizou a métrica de alisamento de Eckel (1981, apud Castro, 2008), a métrica de alisamento de Leuz (2003) e uma métrica para confirmação de alisamento baseada no modelo econométrico linear em uma amostra de 145 empresas, divididas entre alisadoras e não alisadoras. Os resultados obtidos indicaram que as empresas brasileiras alisadoras apresentam um grau de risco de mercado menor que as empresas não alisadoras; que empresas menores tem maior propensão ao alisamento de resultados; e que há uma diferença estatisticamente significativa de desempenho no mercado brasileiro daquelas empresas que possuem um perfil alisador em relação a não alisador.

2.4 Níveis de Governança Corporativa

As práticas de Governança Corporativa constituem um esforço para estimular a valorização das companhias, sendo assim de interesse dos investidores e demais partes relacionadas. Conforme o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (2004), Governança Corporativa é:

“o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa tem a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.”

Segundo Silveira (2002), figuram entre as principais práticas de governança corporativa a necessidade de efetiva e independente participação do Conselho de Administração, o provimento de informações concisas e transparentes para o mercado, além da igualdade de direitos entre os acionistas. Ainda de acordo com Silveira (2002), empresas que possuem uma estrutura de governança corporativa conforme o recomendado pelos agentes de mercado tem melhor desempenho e são melhor avaliadas pelo mercado no preço das suas ações em comparação às empresas que não o fazem.

Para a BM&FBOVESPA (www.bmfbovespa.com.br), a adoção de boas práticas de governança corporativa pelas empresas acrescenta credibilidade ao mercado acionário e aumenta a confiança e a disposição dos investidores em adquirirem as suas ações e pagarem um preço melhor por elas, reduzindo seu custo de captação. As empresas que adotam práticas de Governança Corporativa listada na BM&FBOVESPA estão classificadas em Nível 1, Nível 2 ou no Mercado Novo.

De acordo com Andrade e Rossetti (2007), a criação do Novo Mercado e dos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa em 2000, pela BM&FBOVESPA, faz parte de uma série de iniciativas que surgiram em resposta à necessidade de melhores padrões de governança das empresas do Brasil. Andrade e Rossetti (2007) esclarecem ainda que o Nível 1 e o Nível 2 de Governança foram criados para que empresas com ações já negociadas no Mercado Tradicional pudessem aderir às condições exigidas para a diferenciação e que o Novo Mercado foi criado com o intuito de listar empresas que viessem a abrir capital.

Segundo a BM&FBOVESPA (www.bmfbovespa.com.br), a adesão das companhias ao Nível 1, ao Nível 2 ou ao Novo Mercado, é formalizada por meio de um contrato, assinado

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pela BM&FBOVESPA, pela companhia, seus administradores, conselheiros fiscais e controladores. A opção das empresas pelos Níveis de Governança Corporativa é voluntária e requer compromissos além das disposições legais.

3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de Pesquisa

Conforme Beuren (2004), os tipos de pesquisa podem ser classificados quanto: (I) aos objetivos, podendo ser exploratória, descritiva ou explicativa; (II) aos procedimentos, englobando o de estudo de caso, o levantamento, a pesquisa bibliográfica, documental, participante e experimental; e (III) à abordagem do problema, que contempla a pesquisa qualitativa e quantitativa.

Em relação aos objetivos, este trabalho se enquadra no critério de pesquisa descritiva. Segundo Beuren (2004), descrever expressa a idéia de identificar, relatar, comparar. Quanto aos procedimentos, pode-se classificar este estudo como pesquisa bibliográfica e experimental. “Por ser de natureza teórica, a pesquisa bibliográfica é parte obrigatória, da mesma forma como em outros tipos de pesquisa, haja vista que é por meio dela que tomamos conhecimento sobre a produção científica existente” (BEUREN, 2004, p.86).

No que diz respeito à abordagem do problema, o conceito de pesquisa quantitativa pode ser aplicado. Para Richardson (1999, p. 70, apud Beuren, 2004):

“caracteriza-se pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples, como percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.”.

A razão principal para a escolha desse tipo de pesquisa originou-se da importância de verificações empíricas sobre o income smoothing no universo de empresas listadas nos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA e no segmento mercado tradicional.

3.2 Fonte de Dados para a Pesquisa e Critérios de Seleção da Base de Dados

Na pesquisa empírica realizada foram utilizados dados do Economática®. Por meio desta base de dados, foi possível acessar os diversos relatórios contábeis e financeiros de companhias abertas, bem como informações referentes ao desempenho em termos de oscilação de preços de suas ações.

Foram consideradas as empresas que possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, classificadas como segmento tradicional da BM&FBOVESPA e as companhias dos níveis diferenciados de Governança Corporativa.

O período estudado abrangeu dados trimestrais dos anos de 2002 a 2009, devido à criação do Novo Mercado somente no ano 2000. Para a realização do estudo aqui apresentado, a análise estatística foi realizada com o auxílio do software EViews 4.0 e do Microsoft Excel XP.

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3.3 Metodologias de análise da ocorrência de Income Smoothing

A hipótese que esta pesquisa procura testar é dada pela seguinte afirmativa:

• H0 (hipótese nula): as empresas listadas nos níveis diferenciados de Governança

Corporativa da BM&FBOVESPA apresentam níveis de income smoothing iguais aos das companhias listadas no segmento tradicional da BM&FBOVESPA.

• H1 (hipótese alternativa): as empresas listadas nos níveis diferenciados de Governança

Corporativa da BM&FBOVESPA não apresentam níveis de income smoothing iguais aos das companhias listadas no segmento tradicional da BM&FBOVESPA.

A fim de testar as hipóteses apresentadas, foram utilizadas: a metodologia de análise de contas específicas preconizada por Martinez (2001) e a métrica para confirmação de alisamento, utilizadas por Castro (2008).

No que concerne ao modelo de acumulações específicas, Martinez (2001) destacou três contas específicas a serem analisadas: (I) Despesas com Provisão para Devedores Duvidosos; (II) Despesas de Depreciação e (III) Receitas Não Operacionais e sugeriu ainda que as contas Ativo Diferido e Reservas de Reavaliação também poderiam ser gerenciadas. Serão utilizadas, neste trabalho, as contas Despesas de Depreciação, Receitas Não Operacionais e Ativo Diferido para se verificar a existência de gerenciamento de resultados contábeis por meio do income smoothing na amostra selecionada.

Para que se definam as despesas de depreciação pressupõe-se que sejam relevantes os ativos imobilizados e a receita no período. Isto porque, quanto maior a quantidade de ativos imobilizados a empresa possui, maior serão as despesas com depreciação desses ativos. Em raciocínio semelhante, pode-se assumir que, quanto maior a receita no período, maior a produção e conseqüente desgaste de maquinário para atender a essa demanda. Portanto, no caso da existência de income smoothing, a expectativa é de que o sinal da VLL seja positivo, desta maneira, quando os resultados variam positivamente, as despesas de depreciação são aumentadas para reduzir o crescimento dos lucros e o inverso ocorrerá caso a VVL seja negativa. Isto indicaria que as despesas com depreciação não teriam sido calculadas somente em função das contas citadas anteriormente, mas também em função da variação do lucro líquido. Em relação ao endividamento, espera-se um sinal negativo sugerindo que, quanto maior o endividamento, menor serão as despesas de depreciação apresentadas, aumentando desta maneira o lucro a ser divulgado e vice versa. Segue o modelo:

[

]

3 4 2 2 1 0 β β / β Re β Im ε β + + + + + = VLL Exig A ceitas A DespDeprect t t t t (1) Em que:

DespDeprect: Despesas de Depreciação medidas em termos dos Ativos Totais;

VLL: Variação do Lucro Líquido, excluindo as Despesas de Depreciação;

Exigt/Att: Indicador de Endividamento, baseado na razão entre as Exigibilidades e os Ativos

Totais;

Receitas: Receitas Líquidas do Período; AIm: Ativo Imobilizado;

2

(10)

As receitas não-operacionais são independentes do negócio da empresa, ou seja, não se relacionam com o objetivo da entidade e, por esse motivo, apresentam uma maior propensão a serem ajustadas da maneira mais conveniente, para aumentar ou reduzir os lucros. Neste, espera-se que o coeficiente da VLL seja negativo, ou seja, quando a VLL é positiva, tende-se a reduzir as receitas não-operacionais, ocorrendo o contrário no caso de VLL negativa. Dessa maneira, quando o lucro for maior, a empresa apresentaria um lucro reduzido ao diminuir o montante de receitas não-operacionais, com a intenção de suavizar a série de lucros ou faria o contrário, caso o lucro fosse menor do que o esperado.

Em relação ao endividamento, é esperado um sinal positivo. Deste modo, quanto maior o endividamento, maior o empenho da empresa para apresentar resultados melhores, ou seja, maiores as receitas não-operacionais reportadas. A função é a seguinte:

[

]

3 2 1 0 / RecNOpt =γ +γ VLLtExigt At +ε (2) Em que:

RecNOpt: Receita não Operacional;

VLL: Variação do Lucro Líquido, excluindo as Receitas não Operacionais;

Exigt/Att: Indicador de Endividamento, baseado na razão entre as Exigibilidades e os Ativos

Totais;

3

ε : Termo de Erro.

Assim como as receitas não-operacionais, o ativo diferido não é diretamente determinado por outra variável. Assim, esta conta pode ser manipulada mais facilmente, para mais ou para menos, a fim de se apresentar uma série de resultados mais constante. Caso haja income smoothing, espera-se que o sinal do coeficiente da VLL seja negativo, ou seja, quando a VLL é positiva, tende-se a reduzir o ativo diferido para que se proporcione um resultado menor do que o real, ocorrendo o contrário no caso de VLL negativa:

t t

t VLL

AtDiferido01 +ε (3)

Em que:

AtDiferidot: Ativo Diferido;

VLLt: Variação do Lucro Líquido, excluído o Ativo Diferido;

t

ε : Termo de Erro.

Castro (2008) utiliza, ainda, métricas auxiliares baseadas no modelo de regressão linear para confirmar o perfil da série de resultados apresentados pelas empresas analisadas no estudo. De acordo com Gujarati (2003), o modelo de tendência linear possibilita mensurar as tendências de crescimento ou decréscimo de variáveis a partir dos seus valores conhecidos ao longo do tempo. Este modelo é utilizado para verificar a tendência absoluta do movimento sustentado, crescente ou decrescente, do Lucro Líquido (LL). Se o coeficiente de inclinação

2

i

β for positivo, há tendência crescente em LL, caso contrário, haverá uma tendência decrescente. 1 1 1 i it i it t LL =α +β +ε (4) Em que:

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α

it: Intercepto da Função

i

β

: Coeficiente Angular da Regressão t: Tempo

it

ε

: Termo de Erro

Na regressão linear múltipla, a medida relativa de adequação do ajuste é chamada de coeficiente de determinação múltipla, representada pelo símbolo R². Esta medida é a relação entre a variação explicada pela equação de regressão múltipla e a variação total da variável dependente. Assim, R2=0 significa que 0% da variância é explicada pelo modelo e R2=100,

que 100% da variância é explicada pelo modelo. Logo, o coeficiente de determinação R² é um número no intervalo [0;1].

Portanto, quando maior o R², menor a variabilidade da série e mais bem ajustada está a reta de regressão. Pode-se supor que as empresas que praticam o income smoothing apresentarão um maior R², pois espera-se que os dados referentes aos lucros trimestrais destas firmas tenham uma menor variabilidade temporal em relação aos das que não suavizam seus resultados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Descrição da Amostra

A amostra inicial foi constituída pelas empresas com as ações mais negociadas na BM&FBOVESPA, IBRX-100, com dados obtidos no primeiro semestre de 2009. Retirando-se as empresas que possuíam duas ou mais ações e as empresas que eram as únicas em Retirando-seu setor ou segmento, chegou-se a 88 empresas. Da amostra restante, 74 empresas pertencem ao Novo Mercado e 14 ao Mercado Tradicional. Quanto à classificação por setor, 5 empresas pertencem ao setor de Bens Industrias, 13 ao de Construção e Transporte, 5 ao de Consumo Cíclico, 11 ao de Consumo Não Cíclico, 12 ao setor Financeiro e Outros, 17 ao de Materiais Básicos, 2 ao de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, 8 ao de Telecomunicações e 15 ao setor de Utilidade Pública.

4.2 Estatísticas Descritivas

Para que se conhecessem melhor as propriedades da amostra, foram realizados alguns cálculos para as contas utilizadas na apuração de indícios da existência de income smoothing nas companhias estudadas. As estatísticas empregadas foram: (I) média aritmética, obtida pelo quociente entre a soma das observações e a quantidade delas; (II) mediana, valor que divide uma série ordenada deixando metade dos itens acima e metade abaixo de seu valor; (III) desvio padrão, média quadrática dos desvios em relação à média aritmética de um conjunto de números; e (IV) coeficiente de variação, medida de dispersão que possibilita a comparação de distribuições diferentes. Segue, abaixo, uma análise das estatísticas descritivas das principais contas.

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Para o período de 2002 a 2009, a conta Despesas com Depreciação, medidas em termos do Ativo Total, a média das empresas do segmento Tradicional foi maior, representando 1,70%. Isto significa que as Despesas com Depreciação constituem 1,70% do Ativo Total. Em uma análise prévia, pode-se supor que a probabilidade de haver a prática de income smoothing entre as empresas deste segmento é maior, devido ao valor elevado da conta em relação às empresas do segmento Novo Mercado, que apresentaram média de 1,10%.

O Exigível a Longo Prazo, também medido em termos do Ativo Total, apresentou média maior no segmento Novo Mercado, 30,15%, valor 3,39% superior ao obtido nas empresas do segmento Tradicional e 1,69% superior à média geral das empresas. Numa comparação com o que sugere a primeira equação, pode-se observar que a relação entre o endividamento e as despesas com depreciação apresenta indícios de income smoothing, pois a média da conta Exigível a Longo Prazo é maior do que a do segmento Tradicional, apesar de as Despesas com Depreciação serem menores. Como mencionado anteriormente, espera-se que, quanto maior o endividamento, menor as despesas com depreciação reportadas, de maneira que o lucro apresentado possa ser maior, ou vice versa.

O segmento Tradicional teve média de R$ 4.383.404.620,00 para a conta de Receitas Líquidas. Este valor é aproximadamente R$ 3.000.000.000,00 maior do que o obtido pelas empresas do segmento Novo Mercado. Tendo isso em vista, também pode se presumir que as Despesas com Depreciação do segmento Tradicional podem ter sido maiores devido a essa diferença e não à prática de income smoothing. Lembrando-se de que somente serão alcançados resultados mais precisos após os cálculos das regressões anteriormente mencionadas, bem como das outras medidas, que ainda assim representam apenas indícios de que o gerenciamento de resultados está sendo utilizado.

A média alcançada pelas empresas enquadradas no segmento Novo Mercado, para a conta Ativo Imobilizado, foi de R$ 4.797.787.654,00, com desvio padrão de aproximadamente R$ 1.274.000.000,00. O valor, que representa algo em torno de 40% do obtido para as empresas do segmento Tradicional, pode auxiliar na explicação do montante de Despesas com Depreciação, que também foi inferior ao apresentado por este segmento, não refletindo, necessariamente, em uma menor probabilidade da prática de income smoothing pelas empresas do Novo Mercado.

Em análise semelhante, a média das Receitas Não Operacionais somou R$ 23.191.049,00 para as empresas do Novo Mercado, mais do que o dobro do valor da mesma medida para o segmento Tradicional. Por ser independente do negócio da empresa, esta conta pode ser mais facilmente utilizada para o gerenciamento de resultados. Desta maneira, o alto valor em relação ao calculado para o segmento Tradicional pode ser um indício de income smoothing para aumentar os resultados obtidos.

O Ativo Diferido é outra conta que não está diretamente ligada ao negócio da empresa e que, por isso, é passível de ser mais facilmente manipulada. A média geral desta rubrica foi de R$ 271.613.650,00, sendo que para o segmento Tradicional, o valor calculado foi de R$ 347.782.465,00. Neste caso, assim como para as Receitas Não Operacionais, ambos os valores acima e abaixo da média podem ser indícios de gerenciamento de resultados. Por isso faz-se necessário um estudo mais aprofundado destas medidas e de sua relação com as demais contas.

Em relação ao Lucro Líquido, o valor da média para o Novo Mercado foi de R$ 205.009.285,00, menos da metade do alcançado pelas empresas do segmento Tradicional. A variação do Lucro Líquido será importante para verificar a relação entre as diversas contas já

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mencionadas e a prática de income smoothing. Numa análise superficial, pode-se notar que, em geral, as médias do Novo Mercado foram menores do que as do Mercado Tradicional, exceto pelas contas Exigível a Longo Prazo medido a termos dos Ativos Totais e Receitas Não Operacionais.

A média das Vendas do Mercado Tradicional, R$ 6.023.565.527,00, é mais do que o triplo da média de Vendas das empresas do Novo Mercado, que é de R$ 1.992.093.329,00. O coeficiente de variação calculado para Vendas para os dois segmentos foi de 0,40. Para o segmento Tradicional, o valor foi superior ao coeficiente de variação do Lucro Líquido, 0,37. Já o Novo Mercado apresentou 2,37 de coeficiente de variação para a mesma variável. Pode-se supor que existem mais indícios de income smoothing para o Pode-segmento Tradicional em relação à equação 4, apresentada anteriormente.

Variável Segmento Média em % ou milhares de Reais Mediana em % ou milhares de Reais Desvio Padrão em % ou milhares de Reais Coeficiente de Variação em % ou milhares de Reais DespDep NOVO MERCADO 1,10% 1,12% 0,27% -77,96% TRADICIONAL 1,70% 1,68% 0,24% 29,13% MÉDIA GERAL 1,40% 1,40% 0,26% -24,41% VLL-DespDep NOVO MERCADO -60.491,87 -53.838,71 277.310,91 -3,75 TRADICIONAL -129.091,86 -85.397,75 388.239,46 -2,92 MÉDIA GERAL -94.791,87 -69.618,23 332.775,18 -3,34 ExigLP/AT NOVO MERCADO 30,15% 29,08% 7,68% 27,17% TRADICIONAL 26,77% 25,73% 8,01% 35,89% MÉDIA GERAL 28,46% 27,40% 7,84% 31,53% Receitas Líquidas NOVO MERCADO 1.453.789,99 1.414.574,35 510.181,50 0,41 TRADICIONAL 4.383.404,62 4.362.024,86 1.504.587,74 0,37 MÉDIA GERAL 2.918.597,31 2.888.299,60 1.007.384,62 0,39 AtImobilizado NOVO MERCADO 4.797.787,65 4.795.014,44 1.273.686,12 0,40 TRADICIONAL 12.839.549,29 12.665.875,61 4.996.726,99 0,30 MÉDIA GERAL 8.818.668,47 8.730.445,02 3.135.206,56 0,35 RecNOp NOVO MERCADO 23.191,05 10.074,30 60.096,19 102,17 TRADICIONAL 11.853,44 3.847,43 39.509,47 2,51 MÉDIA GERAL 17.522,24 6.960,86 49.802,83 52,34 AtDiferido NOVO MERCADO 195.444,83 180.731,52 122.885,92 0,72 TRADICIONAL 347.782,47 279.341,61 208.441,43 0,48 MÉDIA GERAL 271.613,65 230.036,56 165.663,67 0,60 LucLíquido NOVO MERCADO 205.009,29 203.765,76 219.305,62 2,37 TRADICIONAL 581.686,87 570.805,00 328.774,24 0,37 MÉDIA GERAL 393.348,08 387.285,38 274.039,93 1,37 Vendas NOVO MERCADO 1.992.093,33 1.920.575,36 726.246,86 0,40 TRADICIONAL 6.023.565,53 5.987.104,14 1.995.197,35 0,40 MÉDIA GERAL 4.007.829,43 3.953.839,75 1.360.722,11 0,40

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Variável Segmento Média em % ou milhares de Reais Mediana em % ou milhares de Reais Desvio Padrão em % ou milhares de Reais Coeficiente de Variação em % ou milhares de Reais VLL-RecNOp NOVO MERCADO -4.775,99 1.764,46 271.555,70 8,98 TRADICIONAL 12.669,37 25.228,36 311.313,62 -31,35 MÉDIA GERAL 3.946,69 13.496,41 291.434,66 -11,19 VLL-AtDiferido NOVO MERCADO -152.087,94 -154.710,64 304.475,13 -1,47 TRADICIONAL -310.026,71 -235.391,07 412.587,91 3,40 MÉDIA GERAL -231.057,32 -195.050,86 358.531,52 0,96 Quadro 1: Estatíticas Descritivas da Amostra

Fonte: Elaboração própria

4.3 Resultados

Para que se proceda à análise dos resultados da primeira equação proposta, que utiliza a conta Despesas com Depreciação, é importante ressaltar que apenas foi possível obter dados dessa conta do período de 31/03/2005 a 30/09/2009. Tendo isso em vista, as equações obtidas foram, para o Novo Mercado e Mercado Tradicional respectivamente:

Despdep= -0,01*AtImob + 467.853,88*Exig/At + 0,10*Receita + 0,12*VLL – 90.396,17 Despdep= -0,14*AtImob – 4.404.839,71*Exig/At + 0,34*Receita - 0.61*VLL + 2.331.075,95

Observando-se o sinal da VLL, pode-se notar que foi positivo para o grupo de empresas do Novo Mercado. Como dito anteriormente, quando a VLL apresenta sinal positivo, existem indícios de existência de income smoothing. Já para o grupo de empresas no segmento Tradicional a VLL apresentou sinal negativo, contrariando a expectativa de que o este segmento teria uma maior tendência à prática do gerenciamento de resultados. A outra conta analisada nessa equação foi a Exigível/Ativo Total. Neste caso, o sinal indicativo da prática de income smoothing é negativo, situação percebida no segmento Tradicional, conforme o esperado.

As equações obtidas utilizando-se as Receitas Não-Operacionais para o Novo Mercado e Mercado Tradicional foram, respectivamente:

RecNOp = -481.219,66*Exig/At - 0.03*VLL + 171.807,33 RecNOp = -233.438,81* Exig/At + 0.09*VLL + 72.644,41

Em relação ao endividamento, nenhum dos dois segmentos apresentou sinal positivo, que seria esperado caso ocorresse income smoothing. Adicionalmente, pode-se observar que o

valor do coeficiente do Exig/At apresentado pelas empresas do segmento Tradicional, -233.438,81, é maior do que o apresentado pelo Novo Mercado, -481.219,66, estando assim,

mais próximo de um valor positivo, indicando que a tendência à prática de income smoothing seria maior para o primeiro. Na análise do coeficiente da VLL, observa-se que as empresas do Novo Mercado apresentam valor negativo, que revela indícios de gerenciamento de resultados neste segmento. Já entre as companhias que constituem o Mercado Tradicional, este valor foi positivo, o contrário do que era esperado para empresas que estão menos alinhadas aos princípios de governança corporativa.

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Para o Ativo Diferido, as regressões calculadas para o Novo Mercado e Mercado Tradicional foram, respectivamente:

AtDiferido = -0,26*VLL + 205.122,69 AtDiferido = -0.48*VLL + 220.619,77

Neste caso, os dois segmentos apresentaram valor negativo para o coeficiente da VLL, que conforme já informado, seria o esperado se houvesse indícios de income smoothing. Percebe-se ainda que o valor foi menor para o segmento Tradicional, -0,48, enquanto para o Novo Mercado foi obtido -0,26, porém, ambos negativos. Essa discrepância nos valores do coeficiente da VLL confirma a hipótese de que os níveis de income smoothing seriam diferentes entre os dois segmentos analisados.

A equação calculada por meio da métrica auxiliar baseada no modelo de regressão linear, para verificação do perfil da série de resultados apresentados para o segmento Novo Mercado foi LL = 7.262,76*T + 95.140,63. Observa-se que a tendência do movimento sustentado é crescente. O R2 calculado para esta equação foi de 0,34637. Já para o Mercado Tradicional, a equação obtida foi LL = 22.375,27*T + 225.907,99 que, assim como a anterior, apresenta tendência crescente, o que é esperado para uma série de lucros e o valor calculado para o R2 foi 0,79053. Tem-se que, para maior o R2, mais bem ajustada está a série à reta de regressão. Neste contexto, as expectativas de que o valor do R2 seria maior para o segmento Tradicional se confirmaram, indicando que há uma menor variabilidade temporal em seus lucros trimestrais, se comparados aos lucros trimestrais do Novo Mercado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa foi feita uma análise sobre a prática de income smoothing entre as empresas participantes do IBRX-100 da BM&FBOVESPA, buscando-se apurar se existiam indícios dessa prática nos segmentos Novo Mercado e Tradicional e diferenças entre os níveis de income smoothing desses dois segmentos, caso este viesse a ocorrer. Na análise geral, os resultados indicam que existe este tipo de gerenciamento de resultados nos dois grupos de empresas.

Ficou comprovado que os níveis de income smoothing são diferentes para o Novo Mercado e para o Mercado Tradicional, conforme o resultado obtido com as equações de Receitas Não-Operacionais, Ativo Diferido e Lucro Líquido. A H1 (hipótese alternativa) de

que as empresas listadas nos níveis diferenciados de Governança Corporativa da BM&FBOVESPA não apresentam níveis de income smoothing iguais aos das companhias listadas no segmento tradicional da BM&FBOVESPA foi, portanto, aceita e a H0, rejeitada.

Conforme era esperado, o grupo de empresas que adota práticas mais rigorosas de Governança Corporativa, o Novo Mercado, apresentou menor grau de income smoothing, quando comparado ao segmento Tradicional. Resultado este que não foi observado somente na análise da equação calculada com base nas Despesas com Depreciação.

Os resultados alcançados sugerem, por conseguinte, que as práticas de Governança Corporativa que vem sendo adotadas auxiliam na redução da prática de gerenciamento de resultados, pelo menos no tocante à suavização de resultados, que foi o alvo deste estudo.

Sugere-se que para futuras pesquisas sejam utilizadas diferentes técnicas para definir quais firmas praticam Income Smoothing; que se pesquise a prática deste gerenciamento de

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resultados utilizando-se uma nova amostra de empresas; que sejam feitos outros tipos de segregação da amostra, como por exemplo, por setor; e que seja analisada a influência das práticas de Governança Corporativa em outros tipos de gerenciamento de resultados.

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