• Nenhum resultado encontrado

Análise tipológica de residência histórica do início do século XX: uma casa na Rua da Assunção

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Análise tipológica de residência histórica do início do século XX: uma casa na Rua da Assunção"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Análise tipológica de residência histórica do início do século

XX: uma casa na Rua da Assunção

Isabelle de Lima Almeida (IC), Amanda Coelho Silveira (IC), Ana Paula Nogueira

Vidal Menezes (IC), Ana Cecília Serpa Braga Vasconcelos (PO), Marcelo Mota

Capasso (PO)

Curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo – Universidade de Fortaleza

isabelle.almeida@edu.unifor.br, amandacoelhos@hotmail.com, paulanvm@edu.unifor.br, anaceciliavas@unifor.br, mm.capasso@unifor.br

Abstract. This paper has as its object of study a historical house located in

Rua da Assunção, representative residential typology in process of

disappearance in Fortaleza. The relevance of the theme is due to the current

context of degradation of the city’s central area, aligned with a plain process

of de-characterization and/or demolition of old buildings. The paper aims to

document and analyze the historical house, contributing to its registration and

memory.

Resumo. Este artigo tem como objeto de estudo uma casa histórica localizada

na Rua da Assunção, representante de tipologia residencial em vias de

desaparecimento em Fortaleza. A relevância do tema se dá pelo contexto

vigente de degradação da área central da cidade, alinhado a um franco

processo de descaracterização e/ou demolição dos antigos imóveis. O artigo

tem como objetivo documentar e analisar a casa histórica, contribuindo para

seu registro e memória.

1. Introdução

Em um contexto de acelerado processo de degradação da área central de Fortaleza, estabelece-se um quadro de ameaça constante de demolição, substituição ou descaracterização de imóveis que compõem o conjunto arquitetônico antigo da área central da cidade. Tal risco de supressão atua especialmente sobre os exemplares de arquitetura residencial histórica remanescentes. Nessa conjuntura, o esforço de estudar e documentar a arquitetura residencial histórica manifesta-se como uma forma de contribuir para o registro e a valorização da memória de edifícios representativos de um período da história urbana de Fortaleza. Como estudo de caso, escolheu-se uma antiga residência térrea localizada na Rua da Assunção, no Centro de Fortaleza. A casa surge como um exemplar da manifestação da arquitetura residencial do período eclético no Ceará. Construída pelo Mestre José Lucas — responsável pela execução de obras de grande relevância na cidade do início do século XX, como o Excelsior Hotel (CASTRO, 1987) — para servir de residência à sua família, a casa possui elementos arquitetônicos característicos da tipologia de residências urbanas da época.

(2)

2. Metodologia

A elaboração deste artigo é decorrente das atividades realizadas pelo projeto de pesquisa A Casa Cearense como Documento e Memória, vinculado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, cujo objetivo inicial é a realização de um inventário de arquitetura residencial histórica ameaçada de demolição, substituição ou descaracterização no Ceará. Como ponto de partida, escolheram-se as áreas residenciais remanescentes do Centro de Fortaleza para o mapeamento de exemplares arquitetônicos de interesse a serem documentados. Para isso, utilizou-se como metodologia a realização de visitas de campo através de percursos pré-determinados, selecionando edifícios a partir de seus elementos arquitetônicos. Como resultado, foram identificados 136 imóveis em três percursos diferentes, ocorridos no segundo semestre de 2016.

Foi realizada uma visita à casa aqui analisada em fevereiro de 2017 para dar início ao levantamento arquitetônico com a permissão dos moradores. Ao longo de quatro turnos de dias diferentes distribuídos pelos meses de março, abril e maio, a equipe de alunas produziu materiais como plantas, cortes e fachadas a partir de medições e registros gráficos e fotográficos realizados em campo, documentando ainda elementos arquitetônicos como esquadrias e revestimentos. A partir da análise do material produzido e coletado, elaborou-se uma ficha integrante do inventário em desenvolvimento pelo projeto de pesquisa, contendo, além dos desenhos técnicos produzidos e dos registros, informações acerca da história do imóvel e sua caracterização arquitetônica.

Para fins de elaboração deste artigo, retomou-se o material coletado e elaborado ao longo do processo de levantamento para a realização de análises. Adicionalmente, selecionou-se a bibliografia a ser trabalhada como referência deste artigo a partir de leituras já conhecidas das autoras pelos seus estudos desenvolvidos tanto no grupo de pesquisa quanto nas disciplinas de teoria e história integrantes da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da universidade.

3. Resultados e Discussão

3.1. Inserção do edifício na cidade

A casa em análise está localizada na Rua da Assunção, próxima à Praça José Bonifácio e ao 5º Batalhão da Polícia, área central de Fortaleza. Seu entorno recebeu a malha ortogonal projetada por Adolfo Herbster na segunda metade do século XIX que viabilizou a expansão de Fortaleza. Estando localizada além dos boulevards projetados por Herbster, a região era tida como periférica da cidade no período da virada dos séculos XIX para o XX, contando apenas com ocupação rarefeita (CASTRO, 1994). Tal característica, no entanto, mostrou-se atraente a uma determinada classe social: segundo Castro (1987, p. 234), “os fortalezenses de posses não mais se compraziam em morar na zona central, ocupada pelo comércio. Buscavam os arredores do

(3)

centro urbano [...]”. Ainda hoje, a área possui quantidade relevante de residências, ainda que o avanço da zona comercial tenha se dado nessa direção.

Outro aspecto vantajoso da localização da casa na cidade deve-se ao fato da mesma encontrar-se alinhada ao eixo de uma rua cuja direção corre de norte a sul, ocupando lote com face virada ao leste.

As condições de ventilação e insolação, aplicados à malha ortogonal da cidade, tinham conduzido à valorização social dos lotes situados no “lado da sombra” (face oeste) das “ruas” que corriam de norte a sul, em detrimento das “travessas”, dispostas de leste a oeste. (CASTRO, 1987, p. 219)

Sendo assim, a casa conta com aspectos socialmente favoráveis tanto de localização e quanto de conforto ambiental por conta de sua inserção na malha urbana da Fortaleza do início do século XX.

3.2. Implantação da casa no lote

Em relação ao lote ocupado pela casa, que possui profundidade de cerca 40 metros e testada por volta de 7 metros, o mesmo segue o padrão empregado anteriormente no Centro, apesar da disponibilidade de terras na região à época da construção, o que se deu por volta dos anos 1930 de acordo com um registro encontrado no muro da casa. Tal contradição é comentada por Castro (1994, p. 78), relacionando a malha urbana aos sistema de lotes resultante e as suas consequências na implantação do programa residencial:

[...] o traçado em xadrez tem origem milenar, introduzido no Brasil por via portuguesa. No caso fortalezense, embora pudesse traduzir aspirações envolvidas com o “moderno”, encobria o velho espírito conservador lusitano, consubstanciado pelo emprego de um sistema de lotes estreitos e profundos, de evidente cunho medieval. Essa forma de lotes gerou uma tipologia de habitação dita casa-corredor, estreita e comprida, agregada em casario contínuo, de pavimento térreo.

A área ocupada pela casa em seu lote reflete a condição imposta à implantação do edifício por conta da profundidade do terreno, que, à exceção de seu quintal e da área da entrada lateral, não conta com recuos. O acesso à casa se dá por meio de uma entrada pela lateral associada ao jardim da residência, discretamente elevada em relação ao nível da rua. Tal solução de implantação no lote cumpre duas funções: primeiramente, protege a intimidade da casa que, ainda que alinhada à rua, passa a resguardar-se por conta do acesso de forma indireta e, por fim, possibilita o arejamento e a iluminação de determinados ambientas da residência (REIS FILHO, 1973). Em termos de tipologia, portanto, a casa pode ser enquadrada como uma habitação térrea de entrada lateral.

3.3. Disposição dos ambientes internos

A planta desenhada a partir do levantamento da casa (Figura 1) mostra a disposição dos ambientes internos como se encontram atualmente, integrando os espaços da casa inicialmente construída a novos cômodos acrescidos de acordo com as necessidades contemporâneas do programa habitacional. Para fins de análise, divide-se a casa em duas metades: a metade a leste e a metade a oeste, sendo esta última a mais alterada. A partir desta divisão, verifica-se a

(4)

existência de um zoneamento em áreas sociais, íntimas e de serviço, que, por conta das alterações implementadas, não encontra-se rigidamente definido como outrora imagina-se ter sido.

A metade leste encontra-se marcada ao longo de toda a sua extensão pela entrada lateral a norte, que dá acesso a três salas: a social junto à fachada da casa, a de jantar na proximidade da cozinha e a íntima já na metade oeste. Entre as duas salas principais, conectadas internamente por um corredor coberto, encontram-se os dormitórios principais da casa, providos de aberturas para o exterior. Já na metade oeste, encontra-se a zona estritamente de serviço em sua porção sul, contando com copa, cozinha e sanitários. Ao norte, encontra-se a porção da casa que parece ter sido a mais modificada, dispondo de sala íntima, dormitório, cozinha e sanitário, que obedecem um zoneamento de lógica independente do resto da residência. O acesso ao quintal se dá através de circulações que levam aos sanitários existentes nas duas porções da metade oeste da casa. Existe ainda, no quintal, uma dependência utilizada como depósito.

Figura 1. A planta da casa e seus ambientes: 1. sala social, 2. dormitório, 3. sala de jantar, 4. sala íntima, 5. copa, 6. cozinha, 7. sanitário e 8. depósito.

Fonte: Autores, 2017.

Tal forma de dispor e zonear os ambientes da casa em estudo pouco difere da maneira como era organizada a casa urbana típica do período colonial, descrita a seguir:

[...] todas as moradias possuíam cômodos encarreirados. O da frente, com janela no alinhamento da rua, quase sempre era a sala de recepção, quando não obrigava alguma oficina de artesanato ou mesmo uma loja. Os cômodos intermediários, acessíveis por corredor lateral, eram os dormitórios, naquele tempo chamados de camarinhas, alcovas ou “casas de dormir”. Nos fundos, fechava a fila a cozinha, a varanda alpendrada que dava acesso ao quintal, onde sempre havia um arremedo de instalação sanitária. (LEMOS, 1989, p. 32)

O zoneamento da casa, além de garantir privacidade aos cômodos mais íntimos da casa, seguia ainda uma lógica de economia de recursos, como Lemos (1989, p. 56) exemplifica:

A água encanada, somente possível com o emprego de tubulações, aparelhos, torneiras e registros ingleses ou americanos — tudo isso muito caro — provocou no planejamento dessas casas a vizinhança forçada entre a cozinha e as instalações sanitárias.

(5)

Como resultado, obtém-se a proximidade entre ambientes tão diversos como a cozinha e os sanitários, representados na planta como os itens 6 e 7 presentes nas duas porções da metade oeste da casa.

3.4. Elementos de conforto ambiental

O corredor lateral, elemento que surge no final do século XIX nas plantas das residências urbanas, cumpre importante função de conforto ambiental ao proporcionar janelas e portas voltadas ao exterior, garantindo iluminação e ventilação natural aos ambientes internos. Tal recurso desenvolve-se a partir da implementação do uso de calhas na arquitetura brasileira, tornando os enormes telhados coloniais de duas águas menos frequentes (LEMOS, 1989). No caso da casa aqui estudada, há ainda um vazio que oferece aberturas externas a cômodos da metade oeste da casa.

O zoneamento da casa por si só tende a influenciar bastante o conforto térmico dos diversos ambientes. A fachada voltada a leste, provida de um grande número de aberturas, garante ventilação e insolação à área social, enquanto ambientes de curta permanência encontram-se aos fundos da casa, voltados a oeste.

3.5. Fachadas e elementos de abertura

A casa possui um desenho de fachada compatível com o período de sua construção, ainda que contendo adornos de feitio próprio (Figura 2). Os ornamentos de estuque manifestam-se como principal elemento decorativo, sendo utilizados na marcação do ritmo das aberturas a partir do desenho de pilastras e nos frisos que valorizam a platibanda. Há, ainda, o portão de ferro que demarca a entrada do edifício, seguindo um desenho mais curvilíneo. Internamente, as fachadas voltadas ao jardim seguem a marcação da platibanda e das aberturas de acordo com a fachada principal, porém de maneira mais sóbria. As esquadrias presentes na fachada seguem um padrão mais geométrico, harmônico às aberturas em verga reta, contrastando com os elaborados desenhos de bandeiras existentes no interior da residência.

Figura 2. Fachada da casa estudada. Fonte: Autores, 2017.

(6)

4. Conclusão

A casa, construída no início dos anos 1930, herda muitos elementos da produção arquitetônica colonial, principalmente em seu esquema de distribuição dos ambientes internos. Mesmo as soluções arquitetônicas mais avançadas em relação à arquitetura do período colonial, como a platibanda e a entrada com jardim lateral — ambas devido à implementação das calhas na arquitetura brasileira —, já eram correntes na arquitetura urbana de outras cidades brasileiras pelo menos desde a segunda metade do século XIX, como indica a bibliografia estudada. No entanto, tal manifestação arquitetônica era perfeitamente cabível na Fortaleza de então, o que se dava pela estrutura urbana existente e seu sistema de lotes, que dificultavam o desenvolvimento de novas tipologias residenciais. Tal conjuntura começava a entrar em um período de transição já na época da construção da casa do Mestre José Lucas, quando traços ecléticos entravam em desuso nos edifícios a partir do desenvolvimento do protomoderno em Fortaleza, expressão arquitetônica contemporânea ao edificio aqui analisado.

Sendo assim, o registro e a documentação da casa estudada é de grande importância no cenário atual de acelerada transformação da paisagem da área central de Fortaleza, pois representa o programa residencial em um período preciso de transição da história da arquitetura cearense. Tal casa, especificamente, mostra-se de grande relevância por conta de sua forma própria de expressão da arquitetura eclética desenvolvida em Fortaleza, além do fato de ter sido produzida por uma importante figura da construção civil local da época para ser utilizada como sua própria residência.

5. Referências

CASTRO, José Liberal de. Contribuição de Adolfo Herbster à forma urbana da cidade

da Fortaleza. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, v. 108, p. 43-90, 1994.

CASTRO, José Liberal de. Arquitetura eclética no Ceará. In: FABRIS, Annateresa

(Org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel, 1987. p. 208-255

LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto,

1989.

REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo:

Perspectiva, 1973.

6. Agradecimentos

Agradecemos, primeiramente, aos nossos professores orientadores pela constante troca de conhecimentos ao longo do processo de pesquisa e pelo apoio no desenvolvimento de nosso artigo. Aos moradores da casa estudada e seus familiares pelo acolhimento ao longo do processo de levantamento do imóvel, compartilhando conosco o espaço privado da residência para o desenvolvimento de nossos estudos. Por fim, agradecemos à universidade pela oportunidade de discutir e publicar os resultados de nossas pesquisas através de encontro científico.

(7)
(8)
(9)

Referências

Documentos relacionados

b) se a Invalidez Funcional Permanente e Total do Segurado for consequente, for causada direta ou indiretamente por ato terrorista, cabendo à Seguradora comprovar sua ocorrência

Revogado pelo/a Artigo 8.º do/a Lei n.º 98/2015 - Diário da República n.º 160/2015, Série I de 2015-08-18, em vigor a partir de 2015-11-16 Alterado pelo/a Artigo 1.º do/a

O Senhor Presidente informou que, para tanto, haviam sido convidados os Senhores Paulo Roberto Costa, Diretor de Abastecimento da Petróleo Brasileiro S.A.-Petrobras;

• Construção de um modelo computacional, que trata devidamente os itens de consumo regular e irregular classificando-os, e realiza simulações de possíveis estoques para

6.1.5 Qualquer alteração efetuada pelo fabricante em reator cujo protótipo já tenha sido aprovado pela Prefeitura/CEIP deverá ser informada, com antecedência, pelo

O presente texto, baseado em revisão da literatura, objetiva relacionar diversos estudos que enfatizam a utilização do dinamômetro Jamar para avaliar a variação da

No sentido de verificar a estabilidade do efeito corona, foram preparadas 2 amostras de tecido engomado de algodão para cada tempo de tratamento corona (1 a 25 min.), sendo que

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários