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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ZOOTECNIA FABIANA DE ORTE STAMM

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ZOOTECNIA

FABIANA DE ORTE STAMM

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA URSO-DE-ÓCULOS E CACHORRO-DO-MATO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA

CURITIBA 2013

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FABIANA DE ORTE STAMM

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA URSO-DE-ÓCULOS E CACHORRO-DO-MATO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia.

Supervisora: Profª. Dra. Carla Forte Maiolino Molento

Orientadora do Estágio Supervisionado: Zootec. Silmara Maldonado Marthos

CURITIBA 2013

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo incentivo e por me apoiarem sempre. Ao meu irmão, Leandro, por me alegrar em todas as situações. À professora Carla, pela orientação, incentivo, apoio e por me apresentar a oportunidade de estágio no Zoológico. À Silmara, pelas explicações, ensinamentos, paciência e por ser, além de uma orientadora sempre presente, uma verdadeira amiga. À Juliana Pucca, pela amizade, companhia, pelas fotos maravilhosas e pelos bons momentos perturbando o Marquinhos. À Lis, pela companhia... sem você o Zoo ficou muito mais quieto. À todos os técnicos do Zoológico, em especial ao Marcelo, Carlos, Manoel, Cris, Nancy e Hélia pelos ensinamentos e boas conversas. Aos tratadores do Zoológico, pela disposição e auxílio durante a parte prática do meu trabalho. À todos os professores da graduação, em especial à professora Alda, por ser sempre tão compreensiva e estar sempre disposta a ajudar. Ao Bruno Müller, por toda a ajuda com as estatísticas do trabalho.

Ao Giuliano, pelas respostas a tantas dúvidas. À todos os meus amigos, pelos ótimos momentos junto comigo. À Hisly, pela amizade ao longo de todo o curso e pela companhia em praticamente todos os trabalhos, projetos e viagens de Zootecnia. Aos meus avós, por todo o apoio e pela companhia nos almoços.

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Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.

Mahatma Gandhi

Podemos muito bem perguntar-nos: o que seria do homem sem os animais? Mas não o contrário: o que seria dos animais sem o homem? Christian Hebbel

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba. Setembro de 2013. ... 21 Figura 2. Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) do Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ... 22 Figura 3. Recinto do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Parte externa e (B) parte interna do recinto. Setembro de 2013... 25 Figura 4. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) dieta do dia inserida dentro de caixas e (B) caixa colocada no recinto. Setembro de 2013. ... 27 Figura 5. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) coco verde e ração e (B) essências de baunilha e morango. Outubro de 2013. ... 27 Figura 6. Bolo dentro de abóbora para enriquecimento ambiental do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ... 28 Figura 7. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu preso no recinto e (B) erva-doce. Outubro de 2013. ... 28 Figura 8. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu contendo ração e (B) mel. Outubro de 2013. ... 29 Figura 9. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) canela em rama. Outubro de 2013. ... 29 Figura 10. Coco maduro como item de enriquecimento ambiental para o

cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ... 31 Figura 11. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) caixa de papelão e (B) essência de baunilha. Outubro de 2013. ... 32 Figura 12. Tubo de PVC com ratos abatidos e folhas frescas como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. ... 32 Figura 13. Pneu utilizado como item de enriquecimento ambiental para o

cachorro-do-mato do Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Pneu pendurado no recinto e (B) carne inserida no centro do pneu. Outubro de 2013. ... 33 Figura 14. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) carne presa em varal de barbante. Outubro de 2013. ... 33 Figura 15. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba interagindo com enriquecimento ambiental: (A) segurando caixa de papelão, (B) empurrando pneu, (C) lambendo mel e (D) farejando tronco. Outubro de 2013. ... 38 Figura 16. Cachorro-do-mato interagindo com enriquecimento ambiental: (A) carregando coco maduro, (B) farejando temperos espalhados pelo recinto, (C) comendo ovo no pote de argila e (D) pulando tronco. Outubro de 2013. ... 42 Figura 17. Fotos dos locais de estágio.. ... 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em setembro e outubro de 2013. ... 26 Tabela 2. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em outubro de 2013. ... 30 Tabela 3. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do

Tremarctos ornatus, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não

visível, e separados entre as fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT). ... 39 Tabela 4. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do

Cerdocyon thous, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível,

e separados entre as fases PRE e INT. ... 43 Tabela 5. Atividades desenvolvidas durante o período de estágio e respectivas cargas horárias ... 46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Etograma com as frequências dos comportamentos do urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em setembro e outubro de 2013. ... 34 Quadro 2. Etograma com as frequências dos comportamentos observados do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em outubro de 2013. .... 40

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LISTA DE ABREVIATURAS

PRE: Fase de pré-intervenção (de enriquecimento ambiental) INT: Fase de intervenção (de enriquecimento ambiental)

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 12 2. OBJETIVOS ... 13 2.1 Objetivo geral ... 13 2.2 Objetivos específicos ... 13 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 14 3.1 Bem-estar animal ... 14 3.2 Enriquecimento ambiental ... 16 3.3 Zoológicos ... 17

3.4 Escolha das espécies ... 19

3.4.1 Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) ... 19

3.4.2 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) ... 21

4. MATERIAL E MÉTODOS ... 23

4.1 Local de estudo ... 23

4.2 Método de observação ... 23

4.3 Urso de óculos (Tremarctos ornatus) ... 24

4.3.1 Histórico do animal ... 24

4.3.2 Recinto ... 24

4.3.3 Tempo de observação ... 25

4.3.4 Itens de enriquecimento ambiental aplicados ... 25

4.4 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) ... 29

4.4.1 Histórico do animal ... 29

4.4.2 Tempo de observação ... 30

4.4.3 Enriquecimentos ambientais aplicados... 30

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 34

5.1 Etograma do Tremarctos ornatus durante as fases PRE e INT ... 34

5.2 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Tremarctos ornatus durante a fase INT ... 36

5.3 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Tremarctos ornatus ... 38

5.4 Etograma do Cerdocyon thous durante as fases PRE e INT... 40

5.5 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Cerdocyon thous durante a fase INT ... 41

5.6 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Cerdocyon thous ... 42

6. CONCLUSÕES ... 45

7. RELATÓRIO DE ESTÁGIO ... 46

7.1 Plano de estágio ... 46

7.2 Local do estágio ... 46

7.3 Descrição das atividades desenvolvidas ... 47

7.3.1 Acompanhamento da rotina na cozinha ... 47

7.3.2 Acompanhamento da rotina dos tratadores ... 47

7.3.3 Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento ambiental para outras espécies, além das estudadas ... 48

7.3.4 Acompanhamento da rotina dos técnicos (biólogos, médicos veterinários e zootecnistas) ... 48

7.3.5 Observação das espécies em estudo e aplicação de enriquecimento ambiental ... 49

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 51

REFERÊNCIAS ... 52

ANEXOS... 56

Anexo 1. Termo de compromisso e Plano de estágio ... 56

Anexo 2. Termo de compromisso e Plano de estágio ... 57

Anexo 3. Lista de frequência no local de estágio ... 58

Anexo 4. Lista de frequência no local de estágio ... 59

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RESUMO

Animais que são criados em cativeiro, por permanecerem em um ambiente diferente do natural e pouco dinâmico, ficam inativos por longos períodos ou desenvolvem comportamentos anormais, sendo estes indicadores de baixo grau de bem-estar. Para reduzir comportamentos anormais e incentivar maior atividade dos animais de cativeiro, são inseridos enriquecimentos ambientais nos recintos dos mesmos. O presente trabalho foi realizado no Zoológico Municipal de Curitiba, fazendo parte do estágio de conclusão de curso. Parte do estágio também foi realizada no Passeio Público, sendo desenvolvidas atividades de acompanhamento da rotina na cozinha, dos tratadores, dos técnicos e atividades de enriquecimento ambiental para animais, em ambos locais de estágio. O estágio atendeu às expectativas, permitindo uma visão do trabalho do zootecnista além da produção de animais. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do enriquecimento ambiental para duas espécies no Zoológico Municipal de Curitiba, o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous). O trabalho foi dividido em duas fases: pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) com enriquecimento ambiental. O comportamento do urso-de-óculos foi observado por um total de 63 h e 20 min e o cachorro-do-mato foi observado por 71 h e 25 min ao todo. Conclui-se que não houve diferença significativa nas atividades do urso-de-óculos e do cachorro-do-mato com a utilização de enriquecimento ambiental conforme aplicado neste trabalho.

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1. INTRODUÇÃO

Os zoológicos, cujo objetivo inicial era apenas demonstrar poder e riqueza por meio de coleções de animais exóticos, atualmente apresentam um importante papel na conservação da biodiversidade, destacando-se entre seus objetivos a manutenção e reprodução de espécies ameaçadas, a pesquisa científica e a educação ambiental, além de ser uma opção de lazer para o público visitante (TASSI

et al., 2008).

No entanto, existem diferenças evidentes entre o ambiente de um zoológico e o ambiente natural de determinada espécie animal. Um exemplo dessa diferença é a obtenção de alimentos: enquanto localizar alimentos apropriados é um dos maiores problemas encontrados pelos animais na natureza, sendo que eles gastam boa parte do tempo de caminhada localizando alimento e extraindo-o do seu ambiente (GRIFFIN, 2001), animais que são criados em cativeiro, na maioria dos casos, recebem os seus alimentos prontos, sem haver necessidade de dispender tempo à procura ou à captura do mesmo. Dessa forma, os animais de cativeiro permanecem grande parte do tempo inativos, resultando frequentemente no desenvolvimento de comportamentos anormais, devido à falta de atividades e de diferentes estímulos no ambiente em que se encontram.

Um método para reduzir a frequência de comportamentos estereotipados é a introdução de técnicas de enriquecimento ambiental para animais cativos, resultando em efeitos positivos sobre o bem-estar e facilitando a adaptação ao cativeiro (PIZZUTTO et al., 2009). Portanto, sabendo-se da importância do enriquecimento ambiental para o bem-estar de animais criados em cativeiro, este trabalho objetivou a aplicação de enriquecimento ambiental a duas espécies de animais no Zoológico Municipal de Curitiba.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar os efeitos do enriquecimento ambiental para duas espécies de animais no Zoológico Municipal de Curitiba.

2.2 Objetivos específicos

 Selecionar duas espécies de animais do zoológico.

 Observar o comportamento dos animais das espécies escolhidas, por meio de estudos etológicos, antes de inserir enriquecimento ambiental.

 Planejar o enriquecimento ambiental.

 Aplicar enriquecimento ambiental no recinto dos animais.

 Observar o comportamento dos animais em estudo durante o enriquecimento ambiental.

 Estudar a relevância do enriquecimento utilizado a partir da comparação dos dados etológicos obtidos.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Bem-estar animal

O bem-estar de um indivíduo pode ser definido como seu estado em relação às tentativas de se adaptar ao seu ambiente, podendo este termo ser aplicado às pessoas ou aos animais silvestres, de produção, de zoológicos, de experimentação ou à animais nos lares (BROOM e MOLENTO, 2004). De acordo com BROOM e FRASER (2010), o bem-estar é a característica de um indivíduo em um momento específico, podendo variar em uma escala de muito bom a muito ruim.

MOLENTO (2007) afirma que os objetivos gerais das ações de bem-estar animal são diminuir o sofrimento físico, comportamental e psicológico dos animais sob nossa guarda. Uma vez que os animais são considerados seres sencientes, ou seja, apresentam a capacidade de ter sentimentos associados à consciência (MOLENTO, 2005), é responsabilidade do ser humano promover aos mesmos uma vida livre de sofrimento. Considera-se que o bem-estar de uma espécie animal depende da sua complexidade de vida e comportamento, habilidade para aprender, funcionamento do cérebro e do sistema nervoso e indicações de dor, distresse e consciência, baseadas em observações e trabalhos experimentais (BROOM e FRASER, 2010).

Apesar da relação entre seres humanos e animais, assim como a manutenção de animais em cativeiro, datarem de milênios, o reconhecimento do bem-estar animal como ciência foi estabelecido recentemente, nas últimas três décadas (SAAD et al, 2011). De acordo com Peter Singer (SINGER, 1975), Jeremy Bentham foi, provavelmente, o primeiro a denunciar a tirania do domínio do homem sobre os animais, em 1780, com sua obra “An Introduction to the Principies of Morals and Legislation”. A partir desse ano a preocupação com relação aos animais aumentou gradativamente, surgindo leis para proteção dos mesmos. O livro “Animal

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Machines”, escrito em 1964 por Ruth Harrison, foi o livro pioneiro que denunciava a forma como os animais destinados à produção eram criados, sendo esta obra responsável por diversas mudanças relacionadas ao bem-estar de animais de produção, afetando as fundações filosóficas do pensamento ético sobre os animais (DAWKINS, 2013).

Foi no ano de 1967 que o conceito das “cinco liberdades” surgiu, quando o Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção, na Inglaterra, estabeleceu um conjunto de “estados” ideais, que deveriam ser respeitados (SAAD et al., 2011). De acordo com os critérios das “cinco liberdades”, os animais devem viver (FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL, 1979):

1. Livres de fome e sede. 2. Livres de desconforto.

3. Livres de dor, ferimentos ou doenças.

4. Livres para expressar seu comportamento natural. 5. Livres de medo e angústia.

Situações que afetam o bem-estar animal podem ser identificadas pelo comprometimento de um ou mais itens dessa lista.

Um bom indicador de que determinado animal apresenta seu bem-estar prejudicado é a presença de comportamentos anormais, sendo que o cativeiro, por ser um ambiente limitado, pode levar os animais a desenvolverem tais comportamentos, uma vez que os locais onde permanecem confinados não proporcionam a eles condições semelhantes a seu habitat natural, interferindo em seu bem-estar (SANDERS e FEIJÓ, 2007). Cabe aqui ressaltar que mensurações do comportamento do animal apresentam grande valor na avaliação de seu bem-estar (BROOM e MOLENTO, 2004).

De acordo com BROOM e FRASER (2010), o comportamento anormal pode ser definido como um comportamento que difere em padrão, frequência ou contexto daquele que é exibido pela maioria dos membros de uma espécie em condições que permitam o desenvolvimento de uma gama comportamental completa. A estereotipia é um tipo de comportamento anormal, sendo caracterizada como uma sequência de movimentos repetidos, com pouca ou nenhuma variação, não apresentando um propósito aparente (BROOM E FRASER, 2010), ocorrendo comumente em animais confinados. Uma solução que se propõe para reduzir a ocorrência de

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comportamentos anormais em animais que permanecem em condições de confinamento é o uso de enriquecimento ambiental.

3.2 Enriquecimento ambiental

O conceito de enriquecimento ambiental foi introduzido nos anos de 1920, por Robert Yerkes, ao desenvolver itens para brincadeiras destinados aos primatas de suas pesquisas (AMERICAN ASSOCIATION OF ZOO KEEPERS - AAZK, 2013). De acordo com YOUNG (2003), as práticas de enriquecimento ambiental apresentam como objetivos aumentar a diversidade comportamental e de comportamentos padrões de uma espécie, reduzir a frequência de comportamentos anormais, incentivar o animal a utilizar seu ambiente de maneira mais positiva e aumentar a habilidade do animal para lidar com desafios de maneira mais natural. PIZZUTTO et

al.(2009) afirmam que oferecer aos animais ambientes enriquecidos e dinâmicos

acarreta um aumento da excitação, podendo trazer benefícios funcionais e psíquicos para os mesmos. O enriquecimento também proporciona uma atividade maior ao animal, diminuindo seu estresse, resultando em maior facilidade de manejo para os tratadores e reduzindo a ocorrência de doenças, além de proporcionar um interesse maior do visitante pelo animal (TASSI et al., 2008).

O enriquecimento ambiental pode ser classificado em diferentes categorias, sendo elas (AAZK, 2013):

 Enriquecimento físico: relacionado às modificações de elementos físicos no ambiente, com adição de novos itens, como, por exemplo, adicionar piscina ao recinto, troncos, cordas, dentre outros objetos que estimulem comportamentos naturais ou exploratórios.

 Enriquecimento alimentar: caracterizado pela alteração no modo como o alimento é fornecido ao animal. São exemplos desse tipo de enriquecimento esconder o alimento pelo recinto, variar o horário de fornecimento da dieta e criar desafios para que o animal consiga obter o alimento, como colocá-lo dentro de caixas.

 Enriquecimento social: muitas espécies de animais socializam-se, de maneira a respeitar uma hierarquia social. A importância da formação de grupos sociais para o bem-estar de algumas espécies de animais deve ser reconhecida e respeitada. São exemplos desse tipo de enriquecimento manter animais em recintos,

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com indivíduos de mesma espécie ou de espécies diferentes que possam interagir de maneira positiva.

 Enriquecimento sensorial: é o fornecimento de algo que estimule os sentidos dos animais, como o tato, o olfato, a visão e a audição. Podem ser aplicados perfumes, temperos e essências no recinto do animal, tocar gravações do barulho de outros animais vocalizando, para incentivar respostas comportamentais naturais e permitir o contato visual com outros animais presentes no local.

 Enriquecimento cognitivo: consiste em fornecer aos animais dispositivos que estimulem a capacidade de resolver problemas como, por exemplo, quebra-cabeças.

De acordo com CAVALCANTI et al. (2010), a vida de um animal em cativeiro difere substancialmente da vida livre, sendo a aproximação entre estes ambientes uma das propostas dos profissionais envolvidos na lida com animais silvestres confinados em zoológicos. Os mesmos autores afirmam que animais confinados não podem portar-se como em seu estado natural, trazendo sempre alguma ordem de prejuízo para o seu comportamento e bem-estar.

O enriquecimento ambiental é utilizado para reduzir o estresse causado pela vida em cativeiro (VASCONCELLOS, 2009), sendo uma eficiente alternativa para aumentar o bem-estar dos animais. Por meio de estudos de comportamento em animais em cativeiro, é possível verificar comportamentos anormais ou estereotipados, e também conhecer melhor as necessidades desses animais, importante para identificar condições de bem-estar animal e propor manejos mais adequados às espécies estudadas (MORETTO et al., 2010; JÚNIOR et al., 2013).

3.3 Zoológicos

De acordo com o Artigo 1º da Lei nº 7.173, de 14 de dezembro de 1983, que dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos, considera-se jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semiliberdade e expostos à visitação pública.

A existência de animais selvagens mantidos em cativeiro data de milhares de anos, frequentemente relacionados a símbolo de poder e riqueza ou de significância religiosa. No entanto, os zoológicos modernos, semelhantes aos existentes atualmente, foram desenvolvidos no final do século 18 e início do século 19, como

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os zoológicos de Londres, Paris e Dublin (ZLS LIVING CONSERVATION, 2013). O primeiro zoológico público foi o “Jardin des Plants”, fundado no ano de 1794, em Paris, na França, exibindo animais apreendidos em circos e outros eventos que utilizavam animais em shows (RODRIGUES et al., 2008; SAAD et al., 2011).

De acordo com TASSI et al. (2008), os zoológicos apresentam um importante papel na conservação da biodiversidade, destacando-se entre seus objetivos a manutenção e reprodução de espécies ameaçadas, a pesquisa científica e a educação ambiental, além de ser uma opção de lazer para o público visitante. Entretanto, são comuns os questionamentos relacionados às condições dos recintos dos zoológicos, que apresentam diferenças em relação ao ambiente natural dos animais. Outra importante questão relacionada aos animais de cativeiro é a pouca similaridade existente entre os alimentos a eles fornecidos e os alimentos encontrados nas condições naturais. A tendência nos cativeiros é que os alimentos oferecidos sejam os mesmos utilizados na alimentação de animais domésticos, como por exemplo, rações nutricionalmente balanceadas, sendo estes produtos pouco similares aos disponíveis na natureza (ALTRAK, 2012).

De acordo com GALHARDO (2002), a qualidade de vida dos animais em zoológicos pode receber atenção em três áreas, sendo elas a avaliação do bem-estar pela observação do comportamento, de parâmetros fisiológicos e de medidas de saúde e condição física; as condições de manutenção e intervenções de melhoramento nas estruturas das instalações, estando incluído nesse item o enriquecimento ambiental; e a gestão, devendo haver respeito quanto à origem e o destino que se pretende oferecer aos animais obtidos para conservação. O mesmo autor conclui que é necessária aos zoológicos a existência de uma equipe de técnicos capazes de lidar com o bem-estar dos animais, instalações adequadas e pessoas responsáveis pelos aspectos educacionais do parque que devem contribuir para a educação do público em geral, e também requerer maior respeito dos visitantes com relação aos animais.

Diretamente relacionada aos zoológicos, a Educação Ambiental envolve fatores ambientais, sociais, políticos e culturais que ultrapassam o ambiente escolar, visando à formação de cidadãos conscientes da importância do meio ambiente (BARRETO et al., 2009). A educação ambiental também está relacionada ao bem-estar animal, uma vez que não é possível transmitir uma mensagem educativa

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correta se os animais não se apresentarem física e mentalmente saudáveis em um ambiente próximo ao natural (SAAD et al, 2011).

3.4 Escolha das espécies

Para o presente trabalho de avaliação de enriquecimento ambiental, optou-se pela escolha de duas espécies de animais do Zoológico Municipal de Curitiba que apresentavam comportamentos anormais: o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous).

3.4.1 Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus)

Sendo a única espécie de urso nativa da América do Sul, o urso-de-óculos é natural da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela (GOLDSTEIN et al., 2008). O urso-de-óculos apresenta pelagem comprida e espessa, de coloração negra uniforme, apresentando linhas brancas ou creme características da espécie ao redor dos olhos, podendo ter disposição e tamanho variáveis de indivíduo para indivíduo. Os ursos-de-óculos apresentam tamanho relativamente pequeno com relação aos outros membros da família Ursidae. A cabeça é grande, com orelhas pequenas e o pescoço é curto e musculoso; as patas são robustas, relativamente curtas, com cinco dedos providos de fortes garras; a cauda é muito curta, não sendo visível externamente (CANEVARI E VACCARO, 2007). O peso do macho pode ser de 100 a 155 quilos, as fêmeas pesam de 64 a 82 quilos e, ao nascer, o filhote apresenta peso de 300 a 360 gramas (INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR BEAR RESEARCH & MANAGEMENT, 2007).

Estes ursos apresentam uma dieta onívora, alimentando-se principalmente de produtos de origem vegetal como frutas e plantas suculentas e, ocasionalmente, de carne (GOLDSTEIN et al., 2008). Quando não há disponibilidade de frutas maduras, os ursos-de-óculos vivem das partes fibrosas de plantas como bromélias, partes macias de palmas, bulbos de orquídeas e até cascas de árvores, sendo a ingestão de proteína animal, tais como insetos, pequenos roedores e aves, apenas um complemento à dieta vegetariana (RÍOS-UZEDA, 2009; WWF, 2013).

Com relação ao seu comportamento, os ursos-de-óculos são escaladores ágeis, além de nadarem bem, sendo mais ativos em períodos diurnos e

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crepusculares. Com exceção de fêmeas em lactação ou animais em período reprodutivo, os ursos-de-óculos são animais solitários. Os ursos dessa espécie não hibernam, uma vez que em seu habitat natural existe disponibilidade de alimentos ao longo do ano todo (ANDEAN BEAR CONSERVATION PROJECT, 2013; WWF, 2013). Na natureza, a maior ameaça para a sobrevivência dos ursos-de-óculos é causada pela interferência humana, podendo-se citar a destruição de habitats para agricultura, caça ilegal e assassinatos de ursos por motivo de medo ou falta de informação, sendo essa espécie considerada pela IUCN como vulnerável à extinção (GOLDSTEIN et al., 2008; ANDEAN BEAR CONSERVATION PROJECT, 2013).

Dentre os itens de enriquecimento ambiental já utilizados para os animais dessa espécie, pode-se citar como exemplo o trabalho de SANS (2008), que adicionou ao recinto dos ursos-de-óculos do Zoológico Municipal de Curitiba troncos e galhos de árvores, alimentos espalhados pelo chão e pendurados nos troncos, locais com esfregaço de mel e essências de coco, morango e abacaxi espalhadas pelo recinto, ocorrendo interação dos animais do estudo com todos os itens. Outros exemplos de enriquecimento para animais pertencentes à família Ursidae são os utilizados no Jardim Zoológico de Lisboa (Portugal), em que frutos são colocados dentro de buracos de troncos pendurados no recinto dos ursos-pardos (Ursus arctos) para que os animais permaneçam durante um maior tempo procurando alimento. Também são fornecidas frutas dentro de blocos de gelo, fazendo com que os ursos demorem mais tempo para conseguir obter o alimento (JARDIM ZOOLÓGICO DE LISBOA – PORTUGAL, 2013).

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Figura 1. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba. Setembro de 2013.

Foto: Fabiana Stamm

3.4.2 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)

Conhecido popularmente no Brasil como cachorro-do-mato, graxaim, graxaim-do-mato, raposinha-graxaim-do-mato, raposão, lobinho, lobete, guaraxo, guancito, fusquinho ou rabo-fofo (REIS et al., 2006), o Cerdocyon thous é um mamífero da família Canidae. Apresenta pelagem curta e grossa, com coloração dorsal escura, pelos negros mesclados com pelos amarelados e ventre acinzentado ou alaranjado pálido. A base, o dorso e a ponta da cauda são de cor cinza muito escura ou negra, assim como a lateral externa das patas. O focinho é alongado, e as orelhas são arredondadas (CANEVARI E VACCARO, 2007). Este animal de médio porte tem peso variando de 5 a 7 kg, e sua distribuição geográfica é ampla, englobando savanas, matagais, cerrado, caatinga e florestas da América do Sul, podendo ser encontrado na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela (COURTENAY e MAFFEI, 2004; THOISY

et al., 2013). Os cachorros-do-mato alimentam-se principalmente de frutos e de

animais como artrópodes, pequenos roedores e aves, sendo considerados animais de dieta generalista e oportunista (ROCHA, 2004; LEMOS, 2007; NUNES et al., 2012). Sua alimentação, portanto, apresenta grande variação dependendo da região na qual o animal se encontra e da estação do ano.

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A espécie Cerdocyon thous é vista na maior parte dos casos registrados como casais e sua prole (LEMOS, 2007). A fêmea tem em média duas ninhadas por ano, sendo o período de gestação de cerca de dois meses, nascendo de três a seis filhotes (BRADY, 1978 apud REIS et al., 2006). De hábitos predominantemente noturnos e crepusculares, apresentam eventual atividade diurna e utilizam principalmente ambientes de vegetação aberta (OLIVEIRA, 2002; NUNES et al., 2012). Apresentando população estável, esta espécie não é classificada como preocupante com relação a risco de extinção (COURTENAY e MAFFEI, 2008).

Figura 2. Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) do Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Local de estudo

O presente estudo foi desenvolvido no Zoológico Municipal de Curitiba, situado no Parque Municipal do Iguaçu, na região sul-sudeste de Curitiba, no estado do Paraná. Fundado em 28 de março de 1982, o Zoológico ocupa uma área de 569.000 m², possuindo um acervo de aproximadamente 1.800 animais entre aves, répteis e mamíferos (PREFEITURA DE CURITIBA, 2012).

4.2 Método de observação

O projeto de enriquecimento ambiental foi divido em duas fases, para ambas as espécies:

 Fase pré-intervenção (PRE): os animais foram observados antes da aplicação de enriquecimento ambiental, não havendo nenhuma alteração no recinto ou no manejo;

 Fase de intervenção (INT): os animais foram observados com os itens de enriquecimento ambiental aplicados.

O método de observação utilizado para ambas as espécies foi o animal focal, com registro instantâneo a cada cinco minutos (DEL-CLARO, 2004).

Os comportamentos observados foram agrupados de acordo com as seguintes categorias comportamentais:

 Alimentação: comportamento relacionado às necessidades alimentares.

 Excreção: urinar e defecar.

(25)

 Territorial: comportamento ligado à ocupação territorial.  Auto cuidado: relacionado à higienização.

 Locomoção: realizando movimentos relacionados à locomoção, como andar ou correr.

 Inativo: animal inerte, sem atividade.

 Anormal: comportamento que não é comum ao observado em animais de mesma espécie em vida livre.

 Não visível: o animal não estava em local visível no momento da observação.

 Interação com enriquecimento ambiental: observada apenas durante a fase INT.

4.3 Urso de óculos (Tremarctos ornatus)

4.3.1 Histórico do animal

O urso-de-óculos do Zoológico de Curitiba, chamado de Endy, nasceu no dia 01 de maio de 2005, no Zoológico de São Carlos, em São Paulo. No dia 19 de dezembro de 2006 ele e seu irmão, cujo nome é Guaxu, entraram no acervo do Zoológico de Curitiba. No entanto, devido a constantes brigas entre os dois ursos, Guaxu foi transferido para o Zoológico de Sapucaia, no dia 22 de maio de 2012, e atualmente Endy está sozinho no recinto. O urso-de-óculos do Zoológico Municipal de Curitiba apresenta como estereotipia andar continuamente pelo recinto e girando a cabeça em alguns momentos durante o andar contínuo.

4.3.2 Recinto

O urso-de-óculos permanece em exposição durante o dia em uma parte externa do recinto, cuja área é de 782,33 m², onde pode ser visualizado pelo público. No final da tarde até a manhã do dia seguinte o animal permanece em um recinto interno, ou área de manejo, cujo tamanho é de 89,22 m². No recinto externo existe uma plataforma feita de madeira, duas piscinas e uma depressão entre o gramado

(26)

do recinto e a tela de divisão entre o público e o animal. Apenas uma das piscinas permanece com água.

(A) (B)

Figura 3. Recinto do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Parte externa e (B) parte interna do recinto. Setembro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

4.3.3 Tempo de observação

A observação da fase PRE do urso-de-óculos durou 32 h e 5 min ao todo, no decorrer de seis dias (17, 18, 19, 23, 24 e 25 de setembro de 2013), sendo realizada em média das 9h00min, o horário no qual o animal era liberado para a área externa, às 12h00min e das 13h00min às 16h00min. Durante o dia 19 de setembro foi realizada a limpeza do recinto do animal, e no dia 24 do mesmo mês foi feito o corte da grama do recinto, resultando em menos horas de observação durante estes dois dias. Para a fase INT, as observações somaram um total de 31 h e 15 min, sendo realizadas nos dias 30 de setembro e 01, 02, 03, 07 e 08 de outubro.

4.3.4 Itens de enriquecimento ambiental aplicados

Para o urso-de-óculos do Zoológico Municipal de Curitiba, os itens utilizados estão apresentados na Tabela 1.

(27)

Tabela 1. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em setembro e outubro de 2013.

Dia Categoria Itens utilizados para o urso-de-óculos

1º Enriquecimento alimentar

Alimento do dia misturado com feno de alfafa inserido em caixa de papelão fechada e colocada dentro de outra caixa.

Alimento escondido pelo recinto.

2º Enriquecimento alimentar e olfativo

Ração inserida em cocos verdes, furados.

Essências de alimentos (baunilha e morango) espalhadas pelo recinto.

3º Enriquecimento

alimentar Parte do alimento inserido em abóbora.

Enriquecimento alimentar, físico e

olfativo

Pneu amarrado com corda colocado no recinto com alimento no centro.

Erva-doce e alecrim espalhados pelo recinto.

5º Enriquecimento alimentar e físico

Pneu com alimento no centro*. Mel espalhado pelo recinto.

Enriquecimento alimentar, físico e

olfativo

Tronco furado com alimento no centro, contendo ração, ovos, couve e snack sabor carne.

Canela em rama espalhada pelo recinto.

*Observação: como o urso-de-óculos jogou o pneu no fosso durante o quarto dia de enriquecimento, optou-se por colocar novamente o objeto no centro do recinto para verificar o comportamento do animal no dia seguinte. No entanto, o urso jogou novamente o pneu no fosso no quinto dia de enriquecimento.

Segue a descrição do enriquecimento ambiental utilizado para o urso-de-óculos em cada um dos dias da fase INT:

 Primeiro dia

O alimento que seria fornecido para o urso-de-óculos no dia foi inserido em uma caixa de papelão contendo feno de alfafa, e esta caixa foi colocada no interior de outra, fechando-se ambas. A caixa foi deixada em cima da plataforma do recinto. Também foram escondidos alimentos pelo recinto.

(28)

(A) (B)

Figura 4. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) dieta do dia inserida dentro de caixas e (B) caixa colocada no recinto. Setembro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Segundo dia

Foi feito um furo em uma das pontas de dois cocos verdes, sem água, e colocou-se ração no interior. Essências de baunilha e morango foram espalhadas pelo recinto.

(A) (B)

Figura 5. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) coco verde e ração e (B) essências de baunilha e morango. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Terceiro dia

Foi colocado bolo de passas e cereais, alimento diferente do usual, dentro de uma abóbora e esta deixada no recinto do urso-de-óculos.

(29)

Figura 6. Bolo dentro de abóbora para enriquecimento ambiental do urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Quarto dia

Um pneu foi amarrado no recinto, sendo inserida ração no centro do objeto. Foram espalhadas pelo recinto erva-doce e alecrim.

(A) (B)

Figura 7. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu preso no recinto e (B) erva-doce. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Quinto dia

O mesmo pneu utilizado no dia anterior, que havia caído em um fosso, foi recolocado entre duas toras de madeira presentes no recinto, e foi colocada ração em cima do pneu e no centro do mesmo. Espalhou-se mel nas paredes e pedras do recinto.

(30)

(A) (B)

Figura 8. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) pneu contendo ração e (B) mel. Outubro de 2013. Fotos: Fabiana Stamm

 Sexto dia

Em um tronco com buraco no centro foram inseridos ração, ovos, couve e snack sabor carne. Também foram espalhados pelo recinto pedaços de canela em rama.

(A) (B)

Figura 9. Itens de enriquecimento ambiental para o urso-de-óculos no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) canela em rama. Outubro de 2013. Fotos: Fabiana Stamm

4.4 Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)

(31)

Registrado com o nome de Lobinho, o cachorro-do-mato do Zoológico de Curitiba é um macho originário do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) do Paraná. A entrada desse animal no acervo do Zoológico ocorreu em 12 de julho de 2006. Em junho de 2013 o animal foi manejado para o recinto no qual se encontra atualmente. O cachorro-do-mato apresenta o movimento estereotipado de andar continuamente. Existem no recinto três rotas pelas quais o animal costuma andar de um lado para o outro constantemente e com um padrão repetitivo.

4.4.2 Tempo de observação

Para o cachorro-do-mato, durante a fase PRE, as observações eram realizadas, em média, das 8h10min às 12h00min e das 13h00min às 16h30min, sendo o tempo de observação diário de aproximadamente 7 h e 20 min, resultando em 37 h e 10 min de observação ao longo dos cinco dias. Para a fase INT, as observações iniciavam-se após a preparação do recinto, contando das 8h40min às 12h00min e 13h00min às 16h30min, somando 34 h e 15 min de observação, também durante cinco dias, com aproximadamente 6 h e 50 min de observação diária. Somando as duas fases, a observação total foi de 71 h e 25 min. As observações da fase PRE foram efetuadas nos dias 09, 10, 14, 15 e 16 de outubro de 2013, e a fase INT, nos dias 17, 21, 22, 23 e 24 de outubro de 2013.

4.4.3 Enriquecimentos ambientais aplicados

Os itens de enriquecimento ambiental utilizados para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba encontram-se descritos na Tabela 2.

Tabela 2. Itens de enriquecimento ambiental aplicados para o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Zoológico Municipal de Curitiba durante a fase de intervenção, em outubro de 2013.

Dia Categorias Itens utilizados para o cachorro-do-mato

1º Enriquecimento alimentar e olfativo

Alimento misturado com feno, inserido em coco maduro quebrado.

Canela em rama espalhada pelo recinto. 2º Enriquecimento

(32)

Enriquecimento alimentar, físico e

olfativo

Pneu suspenso por uma corda amarrada em um galho de árvore no recinto e com alimento inserido no centro do pneu. Temperos espalhados pelo recinto (alecrim e erva-doce).

4º Enriquecimento alimentar e olfativo

Alimento dentro de tubo de PVC.

Essência de baunilha e morango espalhadas pelo recinto.

5º Enriquecimento alimentar e físico

Tronco novo inserido no recinto. Varal com carne.

Ovos espalhados pelo recinto. Pote de argila com ovo dentro.

Descrição dos materiais para enriquecimento do recinto do cachorro-do-mato utilizados em cada dia:

 Primeiro dia

Cortou-se, lateralmente, um coco maduro, retirando-se um quarto da casca. Por essa abertura, foram inseridos neonatos de ratos previamente abatidos, misturados com feno de alfafa para dificultar a obtenção. O coco foi fechado com fita esparadrapo, sendo posteriormente deixado no recinto do cachorro-do-mato. Foi espalhada canela em rama pelo recinto.

Figura 10. Coco maduro como item de enriquecimento ambiental para o

cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013. Fotos: Fabiana Stamm

 Segundo dia

Foi inserida a dieta do dia (pedaços de carne) em uma caixa de papelão, juntamente com feno de alfafa. A caixa foi fechada, e colocada no recinto. Essências de baunilha e morango foram espalhadas pelo recinto.

(33)

(A) (B)

Figura 11. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) caixa de papelão e (B) essência de baunilha. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Terceiro dia

Ratos previamente abatidos foram inseridos em um tubo de PVC, com diâmetro de quatro polegadas, junto com folhas frescas.

Figura 12. Tubo de PVC com ratos abatidos e folhas frescas como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Quarto dia

Em uma árvore do recinto foi amarrado um pneu com corda, de modo a ficar como um balanço, sendo inserida a dieta do dia (pedaços de carne) no centro do pneu. Foram espalhados alecrim e erva-doce pelo recinto.

(34)

(A) (B)

Figura 13. Pneu utilizado como item de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato do Zoológico Municipal de Curitiba. (A) Pneu pendurado no recinto e (B) carne inserida no centro do pneu. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

 Quinto dia

Colocou-se um tronco no meio do caminho que o cachorro-do-mato percorre constantemente, para verificar se ele alterava a estereotipia de andar continuamente. Alguns ovos crus foram escondidos no recinto. Foram feitos pequenos furos em pedaços de carne, sendo passado barbante nesses furos. O barbante foi amarrado de modo a atravessar parte do recinto, como um varal.

(A) (B)

Figura 14. Itens de enriquecimento ambiental para o cachorro-do-mato no Zoológico Municipal de Curitiba, sendo (A) tronco e (B) carne presa em varal de barbante. Outubro de 2013.

(35)

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Etograma do Tremarctos ornatus durante as fases PRE e INT

O etograma com os comportamentos do urso-de-óculos observados ao longo do experimento encontra-se no Quadro 1, com as frequências, em porcentagem, de cada comportamento ao longo dos doze dias de observação.

Quadro 1. Etograma com as frequências dos comportamentos do urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em setembro e outubro de 2013.

Categoria comportamental Comportamentos observados Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase PRE Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase INT Alimentar Deitado, alimentando-se 12,01 8,82

Parado, com as quatro patas no chão, alimentando-se

0 0,53

Parado, com duas patas no chão, duas

patas apoiadas na plataforma, alimentando-se 0,49 0 Parado, sentado, alimentando-se 0,25 0,8 Sentado, lambendo madeira 0 0,27

Parado, com as quatro patas no chão, bebendo água

(36)

Excreção Defecando 0 0,27 Social Observando público

e/ou pesquisadores 0,98 1,34

Territorial

Parado, com as quatro

patas no chão, atento 0,98 1,07

Deitado, com a cabeça

levantada, atento 4,9 1,6

Sentado, atento 0,49 2,94

Sentado, farejando o

ar 1,47 1,34

Parado, com as quatro patas no chão,

farejando o ar

0,25 2,41

Deitado, com a cabeça levantada, farejando o

ar

1,47 1,07

Parado, com as quatro patas no chão, farejando chão ou

parede

1,23 4,01

Parado, em pé, sobre duas patas, farejando

chão ou parede 0,74 0,27 Sentado, farejando chão ou parede 1,23 1,87 Deitado, farejando chão 0,25 0 Deitado, raspando a madeira da plataforma 0 0,27 Cavando o chão 0,98 0,27 Auto cuidado Sentado, na piscina 1,47 1,07

Parado na água, sobre

as quatro patas 0,25 0

Espreguiçando-se 0,25 0

Coçando-se 0,25 0,53

Locomoção Andando 3,19 4,55

(37)

Subindo na plataforma 0,25 0 Inativo Deitado, dormindo 31,62 28,34 Deitado, de olhos abertos 5,64 4,55 Sentado 4,41 1,87 Anormal Movimentando a cabeça 0,49 1,34 Andando continuamente 13,73 13,1 Andando, estressado e vocalizando 0 2,67 Não visível 5,39 1,61 Interação com enriquecimento ambiental

Interagindo com tronco 0 1,87

Interagindo com caixa 0 1,6

Cavando para

conseguir alimento 0 0,53

Interagindo com coco

verde 0 0,8

Interagindo com

abóbora 0 0,53

Interagindo com pneu 0 3,21

Interagindo com corda 0 1,34

O urso-de-óculos, nos seis dias de observação da fase INT, interagiu com todos os itens de enriquecimento ambiental, sendo que 9,88% do tempo observado na fase INT foi do urso interagindo com os itens de enriquecimento.

5.2 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Tremarctos ornatus durante a fase INT

No primeiro dia de aplicação de enriquecimento ambiental, o animal logo após ser solto da área de manejo, andou diretamente até a caixa de papelão e rasgou-a por, aproximadamente, 20 min durante a manhã. Apenas após rasgar toda a caixa é que ele ingeriu o alimento. À tarde, o animal ainda interagiu durante alguns minutos

(38)

com a caixa novamente. O urso-de-óculos também cavou os buracos nos quais havia sido inserido alimento.

Durante o segundo dia de enriquecimento ambiental, a primeira ação realizada pelo urso após ser solto foi farejar o ar durante aproximadamente 10 min. Em seguida, abriu os cocos verdes facilmente, e ingeriu a ração contida no interior dos mesmos. Nesse dia foi feita a limpeza da área de manejo do recinto com jato de água, o que pode ter contribuído para o comportamento anormal de andar continuamente, estressado e vocalizando. A limpeza teve a duração de 40 min.

No terceiro dia, o animal interagiu por pouco tempo com a abóbora, quebrando-a rapidamente e ingerindo o alimento em seu interior. Nesse dia também foi realizada limpeza do recinto, durando 10 min.

O pneu foi o objeto de enriquecimento ambiental com maior frequência de interação observada. Durante o quarto dia, o animal inicialmente farejou o pneu, empurrou o objeto com as patas dianteiras, e tentou puxar o objeto para cima da escada. Também mordeu a corda que prendia o pneu. Após aproximadamente 45 min interagindo com os objetos de enriquecimento ambiental, o urso arrebentou a corda e derrubou o pneu, que rolou até o fosso presente no recinto. O animal interagiu um pouco com pneu após esse incidente, no entanto com menor frequência.

No quinto dia, o urso brincou por pouco tempo com o pneu, mas o objeto rolou novamente para o fosso, e o animal não interagiu mais com o mesmo. O mel que havia sido espalhado pelo recinto foi lambido pelo animal.

O urso-de-óculos, no sexto dia de aplicação de enriquecimento ambiental, durante o período da manhã, farejou e arranhou o tronco inserido no recinto durante 15 min, aproximadamente. No entanto, o animal empurrou o objeto para a piscina vazia, e voltou a interagir com o tronco apenas no final da tarde.

Nas fotos seguintes podem ser observadas as interações do urso-de-óculos com os enriquecimentos ambientais aplicados.

(39)

(A) (B)

(C) (D)

Figura 15. Urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) do Zoológico Municipal de Curitiba interagindo com enriquecimento ambiental: (A) segurando caixa de papelão, (B) empurrando pneu, (C) lambendo mel e (D) farejando tronco. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

5.3 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Tremarctos ornatus

Para comparar os resultados dos comportamentos observados antes e durante a aplicação de enriquecimento ambiental, utilizou-se o método estatístico de Wilcoxon. Optou-se por agrupar os comportamentos em quatro categorias principais:

 Atividade normal (ou ativo), que engloba as categorias comportamentais de alimentação, excreção, social, territorial, auto cuidado, locomoção e interação com enriquecimento ambiental;

(40)

 Anormal (ou estereotipado);  Não visível.

Dentro de cada categoria, foram comparadas as porcentagens da fase PRE com aquelas da fase INT, sendo cada dia de observação uma repetição, ou seja, foram utilizadas para os cálculos seis repetições para cada uma das fases.

Os resultados obtidos estão representados na Tabela 3.

Tabela 3. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do

Tremarctos ornatus, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e

separados entre as fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT).

Ativo Inativo Anormal

(estereotipado) Não visível

Dias PRE INT PRE INT PRE INT PRE INT

1 37,838 46,575 52,703 31,507 4,054 17,808 5,405 4,110 2 33,783 62,666 41,892 18,667 21,622 18,667 2,703 0,000 3 22,535 28,378 61,972 64,865 12,676 2,703 2,817 4,054 4 72,581 73,333 1,613 2,222 25,806 24,445 0,000 0,000 5 42,105 57,143 43,860 11,428 12,281 31,429 1,754 0,000 6 28,572 26,388 42,857 55,556 10,000 18,056 18,571 0,000 p 0.0747 0.3454 0.4631 0.0796

Os resultados indicam que não houve diferença significativa, em nenhuma das categorias comportamentais, comparando-se as fases PRE e INT, embora apareça uma tendência de diferença nas categorias Ativo e Não visível. Os resultados do presente trabalho diferem do resultado obtido no trabalho realizado por SANS (2008), que observou uma redução no comportamento anormal dos ursos-de-óculos estudados ao receberem enriquecimento ambiental em seus recintos.

VIVAS-DUQUE et al.(2012), que realizaram mudanças na alimentação e adição de essências e de alguns objetos no recinto dos ursos-de-óculos (Tremarctos

ornatus), concluíram que, em geral, foi observada uma resposta positiva a tais

mudanças. No mesmo trabalho, observaram-se maiores níveis de cortisol nos animais durante a aplicação do enriquecimento ambiental, se comparado com os níveis antes da aplicação, resultado obtido, provavelmente, devido à energia necessária para realizar os comportamentos exploratórios pelos animais com ambiente enriquecido.

(41)

5.4 Etograma do Cerdocyon thous durante as fases PRE e INT

As frequências de ocorrências dos comportamentos do cachorro-do-mato observados durante o estudo estão representadas no Quadro 2.

Quadro 2. Etograma com as frequências dos comportamentos observados do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) nas fases pré-intervenção (PRE) e durante intervenção (INT) no Zoológico Municipal de Curitiba, em outubro de 2013.

Categoria comportamental Comportamentos observados Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase PRE Frequência de ocorrências observadas (%) - Fase INT Alimentar Alimentando-se 2,44 1,44 Ingerindo vegetação do recinto 0,22 1,44 Bebendo água 0,22 0,48 Excreção Urinando 0 0,24

Social Observando pessoas

e/ou outros animais 1,56 0,24

Territorial Andando, atento 0,22 0 Deitado, com a cabeça levantada, atento 3,56 1,68 Sentado, atento 1,33 0 Parado, com as quatro patas no chão,

atento

3,11 1,92

Andando farejando 2 3,84

Deitado, farejando 0,67 0

Parado, com as quatro patas no chão,

farejando

4,22 8,39

Auto cuidado Lambendo-se 0 0,48

Locomoção Andando 2,89 5,76 Inativo Deitado, dormindo 40,67 31,89 Deitado, de olhos abertos 10,44 10,55 Sentado 0,67 0,48 Anormal Andando continuamente 24 21,82

(42)

Andando continuamente e pulando tronco 0 6,95 Não visível 1,78 0 Interação com enriquecimento ambiental

Interagindo com coco

maduro 0 0,96

Interagindo com

caixa 0 0,24

Interagindo com pneu 0 0,24

Interagindo com pote

de argila 0 0,24 Interagindo com carne no varal 0 0,24 Carregando ovo 0 0,24 Interagindo com tronco 0 0,24

Com relação à interação com enriquecimento ambiental, observa-se que o cachorro-do-mato, nos cinco dias de observação da fase INT, interagiu 2,4% do tempo com os itens de enriquecimento.

5.5 Descrição das interações com enriquecimento ambiental pelo Cerdocyon thous durante a fase INT

No primeiro dia de enriquecimento ambiental, logo após ser colocado o coco maduro no recinto, o cachorro-do-mato começou a tentar abri-lo, batendo a lateral da cabeça repetidas vezes contra o objeto. Após aproximadamente 15 min, a fita esparadrapo soltou-se e o coco foi aberto. Os neonatos de ratos foram ingeridos. O cachorro-do-mato interagiu por mais tempo com esse objeto, se comparado com os enriquecimentos ambientais aplicados nos dias seguintes.

Durante o segundo dia de intervenção com enriquecimento ambiental, o animal cheirou a caixa de papelão por pouco tempo e não interagiu mais com o objeto em nenhum outro momento do dia. No terceiro dia, no qual o enriquecimento foi o pneu, a interação com o objeto foi semelhante ao do dia anterior.

No quarto dia, o animal farejou as essências que estavam espalhadas no chão durante a manhã. Quanto ao tubo de PVC, o cachorro-do-mato não interagiu em nenhum momento ao longo do dia.

(43)

No quinto dia de intervenção com enriquecimento ambiental, o cachorro-do-mato mordeu a carne no varal por pouco tempo, ingerindo apenas um pedaço do alimento. Ele farejou e encontrou todos os ovos escondidos, carregando-os para um local mais plano do recinto, batendo com a lateral da cabeça, quebrando a casca e comendo o conteúdo dos ovos. Também farejou o pote de argila várias vezes ao longo do dia. O animal realizou o comportamento estereotipado de andar continuamente na rota onde foi colocado o tronco, fazendo o percurso normalmente, no entanto, pulando por cima do tronco.

(A) (B)

(C) (D)

Figura 16. Cachorro-do-mato interagindo com enriquecimento ambiental: (A) carregando coco maduro, (B) farejando temperos espalhados pelo recinto, (C) comendo ovo no pote de argila e (D) pulando tronco. Outubro de 2013.

Fotos: Fabiana Stamm

5.6 Resultados estatísticos dos comportamentos observados nas fases PRE e INT do Cerdocyon thous

(44)

Para comparar os resultados dos comportamentos observados antes e durante a aplicação de enriquecimento ambiental, utilizou-se o método estatístico de Wilcoxon. Optou-se por agrupar os comportamentos em quatro categorias principais, como utilizado com os dados do urso-de-óculos.

Dentro de cada categoria, foram comparadas as porcentagens da fase PRE com aquelas da fase INT, sendo cada dia de observação uma repetição, ou seja, foram utilizadas para os cálculos cinco repetições em cada uma das fases. Os resultados obtidos estão representados na Tabela 4.

Tabela 4. Frequência dos comportamentos observados, em porcentagem, do

Cerdocyon thous, agrupados nas categorias ativo, inativo, anormal e não visível, e

separados entre as fases PRE e INT.

Ativo Inativo

Anormal

(estereotipado) Não visível

PRE INT PRE INT PRE INT PRE INT

1 22,681 35,714 50,515 29,762 23,711 34,524 3,093 0,000 2 18,085 13,253 57,447 68,675 22,340 18,072 2,128 0,000 3 21,840 30,488 67,816 40,244 9,195 29,268 1,149 0,000 4 18,824 28,571 45,882 50,000 32,941 21,429 2,353 0,000 5 31,034 33,334 36,782 26,190 32,184 40,476 0,000 0,000 P 0,138 0,3452 0,5002 -

Analisando os resultados, não houve diferença significativa entre nenhuma das categorias comportamentais, embora a categoria Não visível não tenha sido observada após a inserção dos itens de enriquecimento ambiental. O valor de P para a categoria Não visível não pode ser analisada estatisticamente, já que no período INT todos os valores foram iguais a zero.

Em trabalho de enriquecimento ambiental realizado com lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que é um canídeo silvestre assim como o cachorro-do-mato, SANTOS et al. (2013) observaram que respostas positivas foram obtidas para a maioria das técnicas de enriquecimento, sendo exemplos dos itens estimulatórios que apresentaram melhor resultado osso defumado, cobertor, frutas inteiras, caixa de papelão e coco verde com carne em seu interior. VASCONCELLOS (2009) também em trabalho com lobos-guarás apresentou como resultado que, em testes de escolha, os animais dedicam um maior tempo para obter alimentos dispersos, adquiridos por meio de desafios, em detrimento aos alimentos fornecidos

(45)

diretamente em bandejas, ou seja, escolhem os itens alimentares que simulam a forma de buscar alimento em vida livre, o que demanda um maior esforço para ser obtido.

(46)

6. CONCLUSÕES

Com relação à interação com os itens de enriquecimento ambiental, o urso-de-óculos interagiu mais, em um total de 9,88% do tempo observado na fase INT, se comparado ao cachorro-do-mato, que interagiu durante 2,4% do tempo observado na mesma fase.

Não houve diferença significativa nas atividades do urso-de-óculos e do cachorro-do-mato com a utilização de enriquecimento ambiental conforme aplicado neste trabalho, apesar de ser observada uma tendência de aumento na frequência da categoria comportamental Ativo e redução na categoria Não visível para o urso-de-óculos na fase INT se comparada com a fase PRE. Para o cachorro-do-mato, a categoria comportamental Não visível não foi observada nenhuma vez durante a fase INT, indicando que o animal permaneceu visível por mais tempo durante a fase de intervenção.

No presente trabalho, por se tratar de apenas um indivíduo de cada espécie, os resultados obtidos podem não ser representativos da espécie. Tipos variados de enriquecimento ambiental também devem ser estudados, pois em alguns dias os animais não interagiram, ou interagiram por pouco tempo, com os itens de enriquecimento oferecidos neste trabalho. O fato da ausência de diferenças estatísticas em termos de uso de tempo sugere a necessidade de se entender melhor o significado da interação com os itens de enriquecimento ambiental do ponto de vista de intensidade e valência emocional, pois mesmo um período extremamente curto de uma atividade comportamental especifica pode ter relevância para o bem-estar do animal.

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7. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

7.1 Plano de estágio

O estágio foi realizado no Zoológico de Curitiba e no Passeio Público, entre os dias 26 de agosto e 05 de dezembro de 2013. As atividades realizadas no decorrer do estágio, assim como a carga horária das mesmas, estão representadas na Tabela 5.

Tabela 5. Atividades desenvolvidas durante o período de estágio e respectivas cargas horárias

Atividades Carga horária

Acompanhamento da rotina na cozinha do Passeio Público 24

Acompanhamento da rotina na cozinha do Zoológico 24

Acompanhamento da rotina dos tratadores no Passeio Público 24 Acompanhamento da rotina dos tratadores no Zoológico 24 Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento

ambiental para outras espécies, além das estudadas

20

Acompanhamento da rotina dos técnicos 200

Observação das espécies em estudo na fase pré-intervenção (PRE) 69 Aplicação de enriquecimento ambiental e observação das espécies em

estudo (fase INT) 65

Total 450

7.2 Local do estágio

O Zoológico de Curitiba fica situado no Parque Municipal do Iguaçu, na região sul-sudeste de Curitiba, no estado do Paraná. Foi fundado em 28 de março de 1982, e ocupa uma área de 569.000 m², possuindo um acervo de aproximadamente 1.800 espécies de aves, répteis e mamíferos (PREFEITURA DE CURITIBA, 2012). O

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Passeio Público, inaugurado em 1886, possui 69.285 m² e está localizado no centro de Curitiba, sendo o parque mais antigo e o primeiro zoológico da cidade. Funcionando como sede do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna, o Passeio Público abriga hoje os pequenos animais que permaneceram quando o Zoológico foi transferido para o Parque Iguaçu em 1982 (PORTAL DA PREFEITURA DE CURITIBA, 2013).

7.3 Descrição das atividades desenvolvidas

7.3.1 Acompanhamento da rotina na cozinha

As atividades realizadas durante o acompanhamento da rotina na cozinha, tanto do Passeio Público quanto do Zoológico, envolviam selecionar e cortar os alimentos de cada animal, e distribuí-los em bandejas para as espécies determinadas. A maioria das bandejas possui identificação dos animais, facilitando o manejo, tanto na hora do preparo da dieta quanto no momento de distribuir a mesma pelos recintos. É necessário saber o tamanho ideal dos alimentos para cada espécie, com os cortes e a retirada ou não da casca dos vegetais dependente dos animais aos quais os alimentos serão destinados. A quantidade de alimentos ofertada não é precisa, sendo medida pela observação do volume presente nas bandejas.

7.3.2 Acompanhamento da rotina dos tratadores

Cada tratador é responsável por alguns setores do Zoológico, sendo sua função colocar os alimentos para os animais e limpar os recintos e cochos. Os alimentos, dentro das bandejas identificadas, são colocados no caminhão que faz um percurso pré-determinado, parando nos lugares próximos aos recintos, onde os tratadores retiram as bandejas para levar o alimento aos animais pelos quais são responsáveis. Alguns animais, como o urso-de-óculos, o leão e o chimpanzé, ficam presos em um recinto fechado durante a noite, sendo necessário soltá-los pela manhã, havendo todo um manejo diferenciado visando à segurança dos tratadores. No final da tarde, esses animais devem ser presos.

Devido a alguns setores não possuírem um tratador fixo, variando de acordo com o dia, foi observada menor responsabilidade com relação aos animais desses

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setores. Um exemplo é o cachorro-do-mato, que não recebeu alimento dos tratadores no período da tarde durante um dos dias de observação comportamental. O mesmo animal ficou alguns dias com água extremamente escassa, e em alguns momentos sem água, provavelmente devido a um problema em seu bebedouro, havendo necessidade de lembrar aos tratadores durante vários dias para colocarem água para o animal. É importante existirem tratadores fixos para todos os setores e haver maior organização para substituição dos tratadores, no caso de faltas ou férias, para que se saiba quem será o responsável por quais animais. Outro problema observado é que as bandejas de alimentação de alguns animais são deixadas sem proteção, resultando na ingestão do alimento destinado aos animais do Passeio Público e do Zoológico por aves invasoras, como pombos e urubus. Essas aves ingerem principalmente a carne, que é um alimento de elevado custo e essencial para os animais que a recebem.

7.3.3 Acompanhamento de preparação e aplicação de enriquecimento ambiental para outras espécies, além das estudadas

Durante o período de estágio, foram inseridos nos recintos de diversos animais enriquecimentos ambientais, dentre eles: espalhar essências de alimentos no recinto das jaguatiricas; espalhar temperos e essências no recinto do leão; preparar e esconder pinhas, contendo uvas passas, no recinto dos babuínos; colocar pneu amarrado por corda no recinto da irara e dos babuínos; preparar e colocar pinhas presas em arames, junto com frutas, no recinto das araras azuis; fornecer coelhos, previamente abatidos, para harpias e leões, sendo uma forma diferente de fornecimento da alimentação a esses animais.

7.3.4 Acompanhamento da rotina dos técnicos (biólogos, médicos veterinários e zootecnistas)

Todos os dias, pela manhã, pelo menos um dos técnicos realiza uma vistoria por todo o Zoológico ou Passeio Público, para verificar se não houve óbito de nenhum animal, se existe algum animal doente ou ferido e se os recintos não apresentam problemas. Foi possível observar procedimentos cirúrgicos de alguns casos clínicos que ocorreram durante o estágio, citando-se como exemplos a

Referências

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