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TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DE BASE: UMA INVESTIGAÇÃO MILITANTE EM FAVELAS CARIOCAS

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Academic year: 2021

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TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DE BASE: UMA INVESTIGAÇÃO MILITANTE EM FAVELAS CARIOCAS

INTRODUÇÃO

La novedad que ilumina las luchas sociales de los últimos veinte años es que el conjunto de relaciones sociales territorializadas existentes en zonas rurales (indígenas pero también sin tierra) comienzan hacerse visibles en algunas ciudades como Caracas, Buenos Aires, Oaxaca, siendo quizás El Alto en Bolivia la expresión más acabada de esa tendencia (ZIBECHI 2009, p. 40).

Lo que aprendí [junto a los colectivos que tuve la posibilidad de visitar en múltiples rincones de América Latina] me reafirmó en la convicción de que en América Latina, al calor de las resistencias de los de abajo, se han ido conformando 'territorios otros', diferentes a los del capital y de las multinacionales, que nacen, crecen y se expanden en múltiples espacios de nuestras sociedades (ibid., p. 5).

A partir de mobilizações nas favelas da Maré, das quais participei desde 2008 surgiu a questão porque e como as intensas e complexas dinâmicas nas periferias urbanas levariam a uma dificuldade aparentemente maior (se comparada com as lutas do campo) das classes populares urbanas auto-organizarem suas resistências. Muito se falava, ouvia-se e se escrevia sobre os grandes movimentos sociais no campo e o que mais alto ecoava quando se tratava das classes populares nas grandes metrópoles eram histórias de carência, caos, abandono e violência. Não é preciso dizer que torna-se evidente, no mais tardar a partir do primeiro contato com a vivência na favela e suas pessoas, que a realidade é pouco daquilo que se diz sobre a favela e muito mais do que nem se menciona e pouco se sabe. Pensei inicialmente em aprofundar o estudo dos movimentos sociais do campo para conseguir trazer o acúmulo dessas experiências para o urbano e ver onde elas dialogavam e onde este diálogo travava. Foi mais ou menos nesta fase que tomei contato com o livro “Territorios en resistencia – Cartografía política de las periferias urbanas latino-americanas” e parecia que, com isso, eu havia encontrado um ponto de partida. Raúl Zibechi (2009/20111), nesse livro, dialoga com um dos conceitos que nos são caros

enquanto geógrafos: território. O autor parte de experiências e reflexões das lutas em territórios-outros dos movimentos populares do campo, as articula com experiências em periferias urbanas para estimular um outro olhar sobre as realidades de luta nessas periferias. Um olhar inspirador e que no meu caso

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contribuiu para que “periferia - território - resistência” se tornasse cada vez mais um dos eixos ao redor do qual giram a minha atuação e reflexão.

Abordar as periferias urbanas da América Latina como “territórios de resistência” é ao mesmo tempo análise científica, proposta de luta e projeção de outros futuros possíveis. Analisar o território em suas dimensões de categoria analítica, da prática e normativa, parece fundamental para compreender as transformações em curso no nas periferias tanto no campo como nas grandes cidades. Ao aprofundar as reflexões entre as práticas de luta e olhares reflexivos sobre as mesmas, formou-se uma questão chave a ser analisada nesta tese:

Como, em territórios de resistência (favelas), práticas de resistência explícita de grupos que realizam trabalho de base articulam-se com uma diversidade de práticas resistentes, implícitas e explícitas, das classes periféricas?

Essa questão deriva da experiência de vivência e militância em territórios periféricos e busca trazer conceitos genéricos, de luta, ao encontro com pesquisas e formulações conceituais e teóricas de uma geografia e ciência social crítica comprometida com a transformação social (auto-)emancipatória. É uma questão que orienta uma busca na qual se analisa para poder avaliar e tenta-se compreender para fortalecer a luta popular sob permanente contato da ação com a reflexão e vice versa.

O objetivo específico desta pesquisa é acompanhar, refletir e discutir o trabalho de movimentos sociais de base que atuam em favelas no Rio de Janeiro para alcançar um melhor entendimento das formas de resistência e territorialização, expressas na relação “favela como território” e “movimento social de base que nele se territorializa”. No âmbito de uma rede de pessoas e grupos com os quais existem laços de colaboração, apoio mútuo e construção coletiva foi realizada uma investigação militante cujas experiências dão corpo a esta tese. Parto da esperança de que a compreensão de processos de territorializações resistentes como esses possam contribuir tanto para uma Geografia libertária e libertadora, em movimento, quanto para o próprio trabalho dos movimentos sociais de base.

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Se Campos (2007, p. 77) afirma que “os espaços dos pobres podem representar uma maneira de resistência”, proponho-me a refletir até que ponto e de que maneira favelas, em sua condição de territórios periféricos urbanos, são territórios de resistência constituídos por práticas resistentes, de forma implícita e explicita, que podem contribuir para a construção de uma outra soCi(e)dade - de todos e todas, horizontal, descentralizada, autogerida, solidária e justa.

Com esse outro olhar, que tem nas resistências nesses territórios seu ponto de partida, suponho que seja possível também perceber a dominação sob um outro olhar, possibilitando um reinterpretar de projetos de urbanização e integração social, propostos e impostos pelos centros, como meios diferenciados que podem diretamente ou indiretamente contribuir para (ou acabam tendo o efeito de) controlar e oprimir bem como abafar e esconder as práticas vivas das favelas, que poderiam estar apontando - como questionamento, crítica e proposta - para uma mudança radical da vida urbana e da sociedade como um todo. Em diálogo com Raul Zibechi (2009, p. 13):

Si a comienzos del siglo xxi algún fantasma capaz de aterrorizar a las elites está recorriendo América Latina, es seguro que se hospeda en las periferias de las grandes ciudades. Del corazón de las barriadas pobres han surgido en las dos últimas décadas los principales desafíos al sistema dominante (...).

Focar as minhas reflexões no conceito “territórios de resistência” tem dois objetivos principais. Por um lado interessa verificar se abordar as favelas como territórios de resistência, propositalmente de maneira generalizada, nos torna capazes de pensar e entender melhor as relações socioterritoriais em jogo em sua complexidade. A questão é: onde os conceitos nos travam e onde potencializam o nosso trabalho de capturar, teoricamente, o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer nas favelas cariocas (e na cidade como um todo)? Por outro lado, a pergunta explícita e implícita é: como o conceito território de resistência pode contribuir enquanto saber teórico-conceitual na construção de formas e práticas para a atuação dos movimentos sociais urbanos, enquanto saber que dialoga com saberes-fazeres destes movimentos?

O trabalho, a partir de um breve primeiro capítulo que contextualiza esta investigação militante (capítulo 1), é composto por três partes. No segundo capítulo,

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aprofundo reflexões acerca de perspectivas de articular ciências e lutas sociais. Saberes e sujeitos encontram-se em constante movimento e surge com isso a necessidade de construir saberes-com junto a movimentos sociais de base fazendo “Geografias em movimento”. No terceiro capítulo, parto de um olhar crítico sobre a questão das favelas no mundo em diferentes escalas e reflito brevemente sobre formas de dominar (n)as favelas. A partir daí, interessa-nos compreender melhor o papel da periferia na luta de classes e como uma multiterritorialidade de relações de dominação-subordinação/resistência constitui-se em território de resistência (cap. 3). No quarto capítulo, afinal, o foco está diretamente nas práticas de resistência de movimentos sociais de base que territorializam-se em favelas em movimento. Vemos como se dá sua inserção em territórios densos de resistência implícitas (como explícitas) a partir de textos fruto de um processo de autorreflexão coletiva de quatro grupos: a Comunidade Popular Chico Mendes do Movimento das Comunidades Populares (MCP), o coletivo Us Neguin Q Não C Kala, o coletivo Ocupa Alemão e o coletivo Roça! são iniciativas que permitem refletir as relações entre múltiplas formas de resistência e como estas entram em jogo na constituição de territórios-de-resistência-rede nos quais estes grupos inserem-se ao mesmo tempo que as constroem junto. Os três capítulos tecem-se em uma articulação que remete à dinâmica de ciclos de ação e reflexão que dão corpo a esta tese em movimento (figura 1).

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3.1 FAVELA 3.2 SABERES 3.4 ONDE HÁ DOMINAÇÃO HÁ RESISTÊNCIA: “A PERIFERIA” NA LUTA DE CLASSES 3.5 FAVELA, TERRITÓRIO, RESISTÊNCIA 3.6 TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA 4.1 MOVIMENTOS SOCIAIS DE BASE E(M) FAVELAS EM MOVIMENTO 4.2 “FAVELAS EM LUTA” 4.3 PRÁTICAS ESPACIAIS EM TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA 4.4 DE NÚCLEOS DE RESISTÊNCIA A TERRITÓRIOS- DE-RESISTÊNCIA-REDE 2.1 DA CRÍTICA À GEOGRAFIA À GEOGRAFIA (QUE) CRÍTICA (PARA TRANSFORMAR) 2.2 MOVIMENTO SOCIAL, GEOGRAFIA, IDEOLOGIA 2.3 LUTA E CIÊNCIA SOCIAL: MILITÂNCIA E INVESTIGAÇÃO 2.4 SABERES EM MOVIMENTO 2.5 SUJEITOS EM MOVIMENTO 2.6 CONSTRUINDO SABERES-COM: GEOGRAFIAS EM MOVIMENTO 3. FAVELAS: TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA 4. “FAVELAS EM LUTA” 2. GEOGRAFIA EM MOVIMENTO TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DE BASE Figura 1: Tese em movimento. 1. O CONTEXTO DESTE TRABALHO 1.1 GEOGRAFIA, MILITÂNCIA, CONVIVÊNCIA E DE VOLTA À GEOGRAFIA 1.2 CONVIVER, PARTICIPAR, PESQUISAR:UMA INVESTIGAÇÃO MILITANTE EM FAVELAS CARIOCAS

INTRODUÇÃO

SABERES, TERRITÓRIOS, MOVIMENTOS:

Referências

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