Primeiro capítulo
A Poppy ficava sempre muito nervosa quando se aproximava a época dos exames de ballet. A sua professora, Madame Asa d’Anjo, era muito exigente e ambiciosa em relação às alunas, mas nos exames então, fazia absoluta questão de que as suas pequenas bailarinas tivessem uma actuação brilhante.
Faltavam apenas oito semanas para que a doutora Glicínia Leguminosa, a examinadora da Real Academia, chegasse à Escola de Dança do Lago Alfazema para avaliar a Poppy e as suas amigas.
INSTRUÇÕES PARA EXAMES: REAL ACADEMIA DE BALLET
Data do exame: Quinta-feira, 14 de Novembro Hora: 16.45 – Chegada às 16 h em ponto
Vestuário: É favor adquirir na loja de dança Ballet Belle, na cidade, roupa cor-de-rosa, branca, azul ou lilás: maiô, collans, tutu, sapatilhas de ballet, laços e casaco de malha. O equi -pamento deve ser trazido para o estúdio na terça-feira anterior ao exame, para evitar complicações no próprio dia. Fazer as compras o mais cedo possível para facilitar a escolha, visto que as meninas de toda a região vão ser exa -minadas ao mesmo tempo e haverá uma grande procura.
Grau: Grau 1
Resultados possíveis: Distinção e louvor, Distinção, Aprovada, Reprovada. Duração do exame: 20 minutos.
Preparação: Aulas semanais à terça-feira e dez minutos de prática duas vezes ao dia. Preço: 5 euros.
Para qualquer esclarecimento, é favor contactar Madame Asa d ’Anjo.
Uma bela terça-feira, no fim da aula de dança semanal, a Madame Asa d’Anjo deu a todas as alunas uma folha informativa acerca do exame, e esclareceu-lhes as dúvidas.
As meninas dobraram as folhas e guarda -ram-nas nos sacos de ballet.
– Não se esqueçam de as entregar aos vossos pais quando chegarem a casa – disse a Madame Asa d’Anjo. – Mel, quanto a ti, entrega-a à tua avó. Adeus, meninas!
– Adeus, Madame, até para a semana! – gri -taram elas, enquanto saíam da escola de dança. A Poppy e a Mel ficavam sempre cheias de fome e de sede quando saíam das aulas, por isso resolveram ir à Casa de Chá «As Abelhas» tomar uma bebida e comer qualquer coisa.
– Olá, meninas! – disse a avó Zulmira ao vê-las chegar. – Como foi a aula de hoje?
– Oh, avó, foi tão boa – respondeu a Mel quase sem fôlego. – Aprendemos alguns passos novos, e a Madame Asa d’Anjo explicou-nos tudo sobre o exame. Vamos ter de praticar muito.
– Bem, desde que isso não ocupe dema -siado as vossas vidas – o ballet não é tudo, sabem? – comentou a avó Zulmira.
– Sim, eu sei, mas eu gosto mesmo muito do ballet, e a Madame Asa d’Anjo diz que eu posso vir a ser uma bailarina a sério um dia, se trabalhar muito, e eu quero passar no exame com distinção e louvor. Ah, e outra coisa, avó – continuou a Mel –, a Madame Asa d’Anjo diz que precisamos de novos fatos de ballet para o exame. Olha, deu-nos esta lista. Diz que temos de comprar tudo na loja de dança Ballet Belle, na cidade. Podíamos combinar com as outras meninas do ballet e com as mães delas e ir juntas de comboio no próximo sábado?
A Madame diz que, se não nos despacharmos, depois não arranjamos nada de jeito!
– Bem, se vai toda a gente, julgo que tere mos de ir também! – concordou a avó Zulmira. – Vou telefonar à Malva-Rosa, a ver se ela pode vir para cá trabalhar no sábado. Mas, verdade se diga, não sei que mal têm os vossos fatos de ballet para ser preciso comprar uns novos.
No fimdesemana, as meninas, as respec -tivas mães e a avó Zulmira encontraram-se na estação dos caminhos-de-ferro da Colina do Pote de Mel para irem à bonita loja de dança que ficava na cidade.
– Eu quero um vestido de ballet rosa-claro e um casaquinho de malha a condizer – disse a Camomila, mal se instalaram nos assentos. – Eu quero um conjunto azul-claro – de-clarou a Mimosa.
– É melhor esperarem para ver o que existe para o vosso tamanho – disse a mãe da Mimosa. – Sim, meninas, ela tem toda a razão – apoiou a mãe da Poppy. – É melhor não se
começarem a iludir com coisas, para depois não ficarem tristes se não as encontrarem.
– Eu quero um maiô branco com um top lilás – anunciou a Mel.
– A Madame Asa d’Anjo e as suas belas ideias – murmurou entredentes a avó Zulmi -ra. – Gasta-se uma fortuna, tendo vocês uma data de tutus no guarda-fatos!
Pouco depois, o comboio chegava ao seu destino e todas saíam numa correria em direcção à zona comercial.
– Olha ali a Ballet Belle! – gritou a Poppy, reconhecendo a loja de sonho que visitara algumas vezes com a mãe e onde havia de tudo para ballet.
Todas as outras meninas a seguiram. Ado -raram o tempo que passaram na loja, a ver filas de sapatinhos de cetim cor-de-rosa, alguns deles com pontas para as meninas mais crescidas, e mostruários cheios de vestidos de ballet em tons pastel. A Poppy gostou também muito dos outros acessórios, como os estojos de
Vários Sapatilhas 3-6 6-8 Sapatilhas Livros €
cetim com espelhinhos lá dentro, o porta-jóias de bailarina, as fitas e os laços para o cabelo… Havia também prateleiras cheias de livros sobre ballet.
– Olha para estes cisnes tão bonitos! – exclamou a Poppy quando ela e a Mel deram com um livro com magníficas ilustrações do
Lago dos Cisnes. – Um dia vais ser assim, Mel
– disse ela, cheia de orgulho, apontando para a imagem de uma bailarina flutuando no ar. A Mel sorriu. Adorava ballet e esperava mesmo vir um dia a ser bailarina, como a Madame Asa d’Anjo tinha sido.
Cerca de uma hora mais tarde, depois de muitas escolhas e provas de fatos, todas ti -nham arranjado alguma coisa que lhes ficava bem. Pagaram as suas compras e deci diram ir até à esplanada de um café no antigo mercado de flores. As meninas delicia ram-se com queques de chocolate e batidos de mo -ran go com gelo, e as mães tomaram café com natas e bolos secos de chocolate. À hora do
lanche regressaram à estação dos caminhos--de-ferro e apanharam o comboio de regresso a casa, cansadas depois daquele dia extenuan -te dedi cado ao ballet.
Na quintafeira seguinte, to -das as meninas apareceram na aula de ballet com os seus fatos novos, dentro de elegantes sacos da Ballet Belle, ansiosas por os mostrar à Madame Asa d’Anjo. Enquanto praticaram os seus saltos e pi ruetas, a professora obser vou atenta mente os ves -tidos, os sapatos, as fitas e os laços, e sorriu de satisfação.
– Meninas! – exclamou bem alto –, vocês vão estar simples -mente maravilhosas quando a pro fessora Glicínia Leguminosa
chegar! A minha companhia de ballet… Os meus sonhos tornaram-se rea lidade!
Vocês são as alunas mais dedicadas que al -guma vez tive.
No final da aula, a professora pediu a todas as meninas do Primeiro Grau para ficarem mais um pouco.
– Haverá algum problema? – sussurrou a Mel, sentindo-se, como sempre, nervosa.
A Poppy encolheu os ombros. Não achava que se tivessem portado mal, mas nunca se sa -bia ao certo o que poder ia aborrecer os adultos. – Meninas, minhas meni nas – começou a Madame, bebericando chá de hor telã-pimenta numa de li cada chávena de por
-ce lana –, quero pedir-vos uma coisa muito im portante.
As meninas olharam pa ra ela admi radas.
– Estou muito bem im -pre ssionada convosco – con tinuou. – Demonstra -ram uma grande de di ca ção ao ballet e um grande estilo.
19
Gostaria de falar com os vossos pais e encarregados de educação sobre uma ideia que tive. Quero dar-vos a todas aulas de ballet avançado, totalmente gratuitas, para que possam desenvolver as vossas capacidades antes do exame. Quem sabe se, um dia, algu -mas de vós não poderão ir para uma escola de ballet e tornar-se bailarinas profissionais?
Os olhos das meninas brilharam de alegria e orgulho.
– Querem que eu tente ver se consigo permissão para isso? Podíamos treinar aos sábados de manhã. Que me dizem?
– Sim, Madame, por favor! – responderam em coro, maravilhadas com a ideia.