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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA (Mestrado)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING ´A CENTRO DE CI ˆENCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEM ´ATICA

PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM MATEM ´ATICA (Mestrado)

Curvas Planas:

ormula de Noether e Resolu¸

ao de Singularidades

Priscila Costa Ferreira de Jesus Bemm

Maring´a - PR 2016

(2)

PRISCILA COSTA FERREIRA DE JESUS BEMM

Curvas Planas: F´

ormula de Noether

e Resolu¸

ao de Singularidades

Disserta¸c˜ao de mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Matem´atica do Departamento de Matem´atica, Centro de Ciˆencias Exatas da Universidade Estadual de Maring´a, como requisito parcial para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em Matem´atica.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Martins

Maring´a - PR 2016

(3)

“Talvez n˜ao tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. N˜ao sou o que deveria ser, mas Gra¸cas a Deus, n˜ao sou o que era antes”.

(4)
(5)

Agradecimentos

Agrade¸co primeiramente a Deus por ter me dado f´e diante de todas as dificuldades e proporcionado a ben¸c˜ao de conhecer pessoas maravilhosas que tornaram as dificuldades mais amenas.

Aos meus pais, Edna e Celso, pela paciˆencia, confian¸ca, amor, apoio emocional e financeiro, independentemente de minhas escolhas.

Aos meus irm˜aos Fernando, Ireni, Ederson e J´essica pelo companheirismo, exemplo e por fazer minha vida mais prazerosa.

Aos meus av´os, que s˜ao respons´aveis pela fam´ılia maravilhosa, sem a qual eu n˜ao estaria aqui.

Aos meus amigos Tatiane, Jesus, Patr´ıcia, Mˆonica e Fernando por dividir tantas ang´ustias, inseguran¸cas e, principalmente, alegrias e momentos que valem a pena nunca serem esquecidos.

Aos meus sogros, Cacildo e Terezinha, que mesmo distantes me apoiaram e torceram pelo meu sucesso.

Ao meu marido Laerte pela amizade, companheirismo, paciˆencia e por ser esta pessoa t˜ao maravilhosa, a qual n˜ao consigo mais viver sem; sempre ao meu lado, acreditando em mim at´e quando eu mesma n˜ao acreditava.

A todos os professores que contribu´ıram para minha forma¸c˜ao acadˆemica e humana, em especial a professora Dra. Claudete pelo incentivo e apoio.

Ao professor Dr. Rodrigo Martins, por ter aceitado a solicita¸c˜ao de orienta¸c˜ao, pela confian¸ca, paciˆencia e por me ajudar a lembrar o quanto ´e prazeroso aprender.

(6)

Resumo

O objetivo do nosso trabalho foi demonstrar a F´ormula de Noether, que ´e uma f´ormula que nos permite calcular o ´Indice de Interse¸c˜ao entre duas curvas alg´ebricas planas. Para isso trabalhamos com o anel das s´eries de potˆencias formais e, atrav´es do Teorema de Prepara¸c˜ao de Weierstrass, vimos que podemos associar qualquer s´erie a um polinˆomio de Weierstrass. A partir deste resultado, passaremos a ver toda s´erie como um polinˆomios de Weierstrass. Para o uso da F´ormula de Noether foi necess´ario apresentarmos v´arios resultados, entre eles, a t´ecnica de desingulariza¸c˜ao denominada Blowing-up, o Teorema de Newton-Puiseux e o Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita de Newton.

(7)

Abstract

The aim of this work is to demonstrate Noether’s Formula, which allows us to evaluate the intersection index between two algebraic plane curves. For that, we consider the ring of formal power series and, through Weierstrass’ Preparation Theorem, we realized it is possible to associate any series to a Weierstrass polynomial. After that, we consider every series as a Weierstrass’ polynomial. For Noether’s Formula it was necessary to present several results, among them the technique of resolution of singularities known as Blowing-up, Newton-Puiseux’s Theorem and Newton’s Implicit Function Theorem.

(8)

Sum´

ario

Introdu¸c˜ao 1

1 Preliminares 4

1.1 An´eis das S´eries de Potˆencias Formais . . . 4

1.2 O Teorema da Prepara¸c˜ao de Weierstrass . . . 8

1.3 Fatora¸c˜ao de S´eries de Potˆencias . . . 16

1.4 Teorema da Base de Hilbert-R¨uckert . . . 19

1.5 Elimina¸c˜ao . . . 21

2 Curvas Alg´ebricas Planas 29 2.1 Teorema de Newton-Puiseux . . . 33

2.2 Extens˜oes de Corpos das S´eries de Laurant . . . 39

2.3 Parametriza¸c˜ao de Puiseux . . . 46

3 Interse¸c˜ao de Curvas 48 3.1 ´Indices de Interse¸c˜ao . . . 57

4 Resolu¸c˜ao de Singularidades de Curvas Planas 66 4.1 F´ormula de Noether . . . 73

4.2 Transforma¸c˜oes Quadr´aticas em C2 . . . . 76

(9)

Introdu¸

ao

O objetivo do nosso trabalho ´e demonstrar a F´ormula de Noether que ´e usada para calcular o ´ındice de interse¸c˜ao entre duas curvas. O ´ındice de interse¸c˜ao entre duas curvas nos d´a uma estimativa do n´umero de interse¸c˜oes entre estas curvas. Este ´e um conceito muito ´util pois atrav´es dele podemos determinar se duas s´eries s˜ao relativamente primas, quando duas curvas s˜ao transversais e quando possuem retas tangentes em comum, al´em de outras aplica¸c˜oes que n˜ao ser˜ao o foco deste trabalho. Para o uso da F´ormula de Noether ser´a necess´ario o estudo de uma das t´ecnicas de desingulariza¸c˜ao denominada Blowing-up.

O Blowing-up ´e uma t´ecnica alg´ebrica que consiste em remover singularidades atrav´es de aplica¸c˜oes alg´ebricas simples. A teoria a partir do Blowing-up nos mune de resultados que s˜ao ´uteis em v´arias ´areas da matem´atica. Atrav´es do Blowing-up conseguimos decidir se uma s´erie f ´e regular com rela¸c˜ao a alguma de suas vari´aveis e nos d´a evidˆencias sobre a irredutibilidade da s´erie, por exemplo.

O Teorema de Newton-Puiseux ´e um dos resultados necess´arios para demonstrar a F´ormula de Noether, juntamente com o Teorema da Prepara¸c˜ao de Weierstrass e o Teo-rema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita de Newton. Newton encontrou uma maneira de parametrizar uma s´erie de potˆencias dada, parametrizar ´e equivalente a descrever suas solu¸c˜oes, assim podemos transformar uma s´erie de potˆencias em um polinˆomio de Weierstrass e encontrar as ra´ızes deste polinˆomio no fecho do Anel das S´eries de Potˆencias Formais de Laurent, denotamos este fecho por K((x)). O Teorema de Newton-Puiseux nos diz como s˜ao os elementos de K((x)).

(10)

sobre um corpo que ´e um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica. Para n´os, fatorar uma s´erie, ou seja, encontrar seus fatores irredut´ıveis ´e crucial. Por isso, apresentamos resultados que nos ajudam a decidir quando uma s´erie ´e irredut´ıvel. Al´em disso, mostramos que dada uma curva definida por uma s´erie f com coeficientes num corpo infinito, podemos encontrar uma curva equivalente g que ´e expressa de maneira mais “simples”. Mais precisamente, g ´e expressa como um polinˆomio cujos coeficientes s˜ao s´eries. O resultado que nos garante isso ´e chamado Teorema da Prepara¸c˜ao de Weierstrass. Outro conceito muito importante deste cap´ıtulo que nos ser´a muito ´util na sequˆencia do trabalho ´e o resultante entre dois polinˆomios com coeficientes em um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica, o qual nos informa quando tais s´eries possuem termos em comum.

No cap´ıtulo 2, definimos Curva Alg´ebrica Plana e algumas de suas caracter´ısticas, tais como, cone tangente, retas tangentes, curvas regulares e curvas equivalentes. Ser´a abordado tamb´em o Teorema de Newton-Puiseux que, junto com o Teorema de Pre-para¸c˜ao de Weierstrass e o Teorema da Fun¸c˜ao ´ımplicita de Newton, afirma que toda s´erie ´e equivalente a um polinˆomio de Weierstrass. Outro resultado significativo deste cap´ıtulo ´e o Lema Unitangente, que nos d´a como ´e expressa a forma inicial de uma s´erie irredut´ıvel.

No cap´ıtulo 3, definimos Anel Coordenado, ´Indice de Intersec¸c˜ao entre duas curvas, Valora¸c˜ao associada a uma s´erie e Curvas Transversais. Demonstramos resultados que nos d˜ao maneiras alternativas de calcular o ´Indice de Intersec¸c˜ao entre duas curvas. Al´em disso, relacionamos o ´Indice de Intersec¸c˜ao com Valora¸c˜ao e a multiplicidade da Resultante de duas curvas.

No cap´ıtulo 4, apresentamos as Transforma¸c˜oes Quadr´aticas e o Blowing-up que con-siste em uma t´ecnica de desingulariza¸c˜ao de curvas. Definimos Transforma¸c˜ao Total e a Transforma¸c˜ao Estrita da Transforma¸c˜ao Quadr´atica, al´em de encontrarmos rela¸c˜oes entre as caracter´ısticas das curvas e as caracter´ısticas da transforma¸c˜ao estrita da curva. Demonstramos que, ap´os um n´umero finito de Transforma¸c˜oes Quadr´aticas, podemos transformar qualquer curva plana irredut´ıvel em uma curva plana regular. Enfim, de-monstramos a F´ormula de Noether a partir dos resultados mostrados ao longo do traba-lho.

(11)

O cap´ıtulo 5 ser´a voltado para a defini¸c˜ao da generaliza¸c˜ao do Blowing-up de uma variedade e exemplos. Al´em disso, enunciamos o Teorema de Hironaka que mostra a existˆencia de sequˆencia de Blowing-ups que resolvem singularidades.

(12)

Cap´ıtulo 1

Preliminares

O objetivo deste cap´ıtulo ´e apresentar os pr´e-requisitos para o desenvolvimento do tra-balho, tais como defini¸c˜ao do anel das s´eries de potˆencias formais, multiplicidade de uma s´erie, defini¸c˜ao de s´erie regular, propriedades do Anel das S´eries de Potˆencias Formais, defini¸c˜ao de Pseudo-polinˆomio e de Polinˆomio de Weierstrass, Teorema da Prepara¸c˜ao de Weierstrass e a defini¸c˜ao e propriedades de Resultante entre dois polinˆomios.

Para tanto, definimos inicialmente o anel das s´eries de potˆencias formais o qual ´e objeto base do nosso trabalho.

1.1

An´

eis das S´

eries de Potˆ

encias Formais

Sejam K um corpo e x1, ..., xr indeterminadas sobre K. O conjunto R = K[[x1, ..., xr]]

formado por todas as somas formais do tipo f =

X

i=0

Fi, onde Fi ´e polinˆomio homogˆeneo,

com as seguintes opera¸c˜oes:

f + g = ∞ X i=0 (Fi+ Gi), f g = ∞ X i=0 X j+k=i (FjGk), ´

e um anel comutativo com unidade. Tal anel ´e denominado Anel das S´eries de Potˆencias Formais .

(13)

Tamb´em podemos denotar os elementos de R = K[[x1, ..., xr]] por f = ∞ X i=0 X i1+...+ir=i ai1...airx1 i1...x rir. Defini¸c˜ao 1.1 Dada f = ∞ X i=0 X i1+···+ir=i ai1· · · airx1 i1· · · x rir ∈ C[[x1, · · · , xr]], se existe ρ ∈ R∗+ tal que ∞ X i=0 X i1+···+ir=i |ai1· · · air|ρ i

converge absolutamente, dizemos que f ´e uma s´erie absolutamente convergente. Exemplo 1.2 Qualquer polinˆomio ´e absolutamente convergente.

Exemplo 1.3 Seja f (x, y) = ∞ X i=1 X j=i−1  −1 2 j+1 xjy = ∞ X i=1  −1 2 i xiy. Neste caso, para cada i ∈ N∗, |ai,1| =

1

2i e ent˜ao, tomando ρ = 1, temos ∞ X i=1 |ai,1|ρi = ∞ X i=1 1 2i1 i = 1.

Deste modo, f (x, y) ´e absolutamente convergente.

Observe que i = 0 ocorre apenas quando a s´erie possui o termo constante e, por isso, na s´erie acima n˜ao h´a termo constante.

Alguns elementos no anel das s´eries de potˆencias s˜ao invert´ıveis. Na pr´oxima pro-posi¸c˜ao apresentamos condi¸c˜oes necess´arias e suficientes para que uma s´erie seja in-vert´ıvel.

Proposi¸c˜ao 1.4 Um elemento f =

X

i=0

Pi ∈ R, com Pi homogˆeneo de grau i, ´e invert´ıvel

se, e somente se, P0 ´e invert´ıvel em K.

Demonstra¸c˜ao: De fato, suponha que f =

∞ X i=0 Pi ´e invert´ıvel e seja g = ∞ X i=0 Qi tal que f g = 1, isto ´e, f g = ∞ X i=0 X k+j=i PkQj = P0Q0+ (P0Q1+ P1Q0) + · · · = 1. Neste caso, o

(14)

sistema          P0Q0 = 1 P0Q1 + P1Q0 = 0 .. . tem solu¸c˜ao dada por

                           Q0 = P0−1 Q1 = P0−1(P1Q0) Q2 = P0−1(P2Q0+ P1Q1) .. . Qn = P0−1(PnQ0+ Pn−1Q1+ · · · P1Qn−1) .. .

Reciprocamente, se P0 ´e invert´ıvel, ent˜ao o sistema

         P0Q0 = 1 P0Q1 + P1Q0 = 0 .. .

tem solu¸c˜ao. Assim, dada f =

∞ X i=0 Pi, existe g = ∞ X i=0

Qi tal que f g = 1 e, portanto, f ´e

invert´ıvel. 2

Exemplo 1.5 Dada a s´erie f = x + 2, resolvendo o sistema constru´ıdo na demonstra¸c˜ao da Proposi¸c˜ao 1.4 temos que

f−1 = ∞ X i=0 xi 2i+1.

Defini¸c˜ao 1.6 Seja f = Pn + Pn+1 + ... ∈ R\{0}, com cada Pi sendo um polinˆomio

homogˆeneo de grau i e Pn 6= 0. Chamamos Pn de forma inicial de f e n de multiplicidade

de f .

A multiplicidade de f ´e denotada por mult(f ) e, por conven¸c˜ao, assumimos que se f ≡ 0 ent˜ao mult(f ) = ∞.

Exemplo 1.7 Dada a s´erie f = P∞

i=0x

(15)

Proposi¸c˜ao 1.8 Se f, g ∈ R, ent˜ao: (i) mult(f g) = mult(f ) + mult(g);

(ii) mult(f + g) ≥ min{mult(f ), mult(g)}. A igualdade ocorre quando mult(f ) 6= mult(g).

Demonstra¸c˜ao: Sejam f = Pn+ Pn+1+ · · · e g = Qm+ Qm+1+ · · · elementos de R.

(i) Ent˜ao,

f g = (Pn+ Pn+1+ · · · )(Qm+ Qm+1+ · · · ) = PnQm+ PnQm−1+ · · · + Pn+1Qm−1 + · · ·

assim, mult(f g) = gr(PnQm) = nm = mult(f ).mult(g).

(ii) Temos tamb´em que f + g = Pn+ Pn+1+ ... + Qm+ Qm+1+ ....

Se n < m, ent˜ao mult(f + g) = n = mult(f ). Se n > m, ent˜ao mult(f + g) = m = mult(g).

Se n = m, ent˜ao pode ocorrer Pn+ Qm = 0 e, neste caso, mult(f + g) ≥ n = m =

mult(f ) = mult(g) = min{mult(f ), mult(g)}. De qualquer maneira, mult(f + g) ≥

min{mult(f ), mult(g)}. 2

Proposi¸c˜ao 1.9 O anel R ´e um dom´ınio de integridade.

Demonstra¸c˜ao: De fato, sejam f, g ∈ R\{0} ent˜ao mult(f ) < ∞ e mult(g) < ∞ assim, mult(f g) = mult(f ) + mult(g) < ∞. Logo f g 6= 0. 2 Nota¸c˜ao: Dado R = K[[x1, · · · , xr]], denotamos: MR o ideal gerado por x1, ..., xr;

R0 = K[[x

1, · · · , xr−1]]; a i-´esima potˆencia de MR por MiR e M0R= R.

Observa¸c˜ao 1.10 Note que f = P0+ P1+ · · · ∈ MR se, e somente se, P0 = 0; f ∈ M2R

se, e somente se, P0 = P1 = 0. De modo geral, f ∈ MnR se, e somente se, P0 = P1 =

· · · = Pn−1 = 0.

Proposi¸c˜ao 1.11 O ideal MR ´e o ´unico ideal maximal de R e

\

i∈N

Mi

(16)

Demonstra¸c˜ao: Suponha que exista um ideal I ∈ R tal que MR ⊂ I ⊂ R com

I 6= MR.

Ent˜ao existe p ∈ I tal que p /∈ MR, isto ´e, p = P0+ P1+ ... com P0 6= 0 e, portanto p ´e

invert´ıvel, assim, I = R e MR ´e ideal maximal de R.

Para mostrar que MR ´e o ´unico ideal maximal de R suponha que exista um outro

ideal maximal J de R. Suponha que existe um elemento p = P0+ P1+ · · · ∈ J tal que

p /∈ MR, ou seja, P0 6= 0. Desta forma p ´e invert´ıvel e, como J ´e ideal, segue que 1 ∈ J

e assim J = R, contradizendo o fato de J ser maximal. Finalmente, dado f =P

j∈NPj ∈

\

i∈N

Mi

R, pela Observa¸c˜ao 1.10 segue que

f = P0+ P1+ · · · ∈ \ i∈N Mi R ⇔ P0 = P1 = · · · = 0, e portanto f ≡ 0. 2

1.2

O Teorema da Prepara¸

ao de Weierstrass

Defini¸c˜ao 1.12 Um polinˆomio de Weierstrass em xr ´e uma s´erie de potˆencias da

se-guinte forma:

f (x1, x2, · · · , xr) = xrn+ a1xn−1r + · · · + an,

com ai ∈ K[[x1, · · · , xr−1]], com mult(ai) ≥ i para cada i ∈ {1, · · · , n}.

Nesta se¸c˜ao vamos ver que dada uma s´erie f ∈ MR, que satisfaz certas condi¸c˜oes,

´

e poss´ıvel reescrevˆe-la como um polinˆomio de Weierstrass. Estabelecemos crit´erios de redutibilidade em K[[x, y]], onde K ´e corpo e x e y s˜ao indeterminadas. Por conveniˆencia vamos considerar o grau do polinˆomio nulo como −∞.

Lema 1.13 Sejam p, q ∈ K[y] polinˆomios relativamente primos, n˜ao-constantes, com gr(p) = r e gr(q) = s. Dado um polinˆomio f ∈ K[y], com gr(f ) < r + s, existem g, h ∈ K[y] unicamente determinados, tais que

(17)

com gr(h) < r e gr(g) < s.

Demonstra¸c˜ao: Como mdc(p, q) = 1, existem a, b ∈ K[y] tais que ap + bq = 1 e assim f ap + f bq = f . Al´em disso, pelo algoritmo da divis˜ao existem ρ e h ∈ K[y] tais que f b = ρp + h, onde gr(h) < gr(p) = r. Contudo,

f = f ap + f bq = f ap + (ρp + h)q = f ap + ρpq + hq = (f a + ρq)p + hq = gp + hq, onde g = f a + ρq. Al´em disso, gr(g) + gr(p) = gr(gp) = gr(f − hq) = max{gr(f ), gr(hq)} < r + s, visto que gr(p) = r, ent˜ao gr(g) < s.

Para mostrar a unicidade de h, q ∈ K[y] que satisfazem a tese, suponha que existam g0, h0 ∈ K[y] tais que f = g0p + h0q com gr(h0) < r, gr(g0) < s e gr(f ) < r + s. Da´ı,

gp + hq = g0p + h0q e portanto (g − g0)p = (h − h0)q.

J´a que mdc(p, q) = 1, ent˜ao q|(g − g0) e isto implica que s = gr(q) ≤ gr(g − g0) ou g − g0 = 0. Como gr(g − g0) < s, segue que g = g0.

Analogamente, h = h0. 2

Lema 1.14 (Lema de Hensel) Seja f ∈ K[[x]][y] mˆonico tal que f (0, y) = p(y)q(y), onde p(y), q(y) ∈ K[y] s˜ao relativamente primos, gr(p(y)) = r e gr(q(y)) = s. Ent˜ao existem dois polinˆomios unicamente determinados g, h ∈ K[[x]][y] tais que f = gh com gr(g) = r, gr(h) = s, g(0, y) = p(y) e h(0, y) = q(y).

Demonstra¸c˜ao: Seja f ∈ K[[x]][y] mˆonico tal que n = gry(f ) = gr(f (0, y)) =

gr(p(y)) + gr(q(y)) = r + s. Note que f pode ser escrito como f = f0(y) + xf1(y) +

x2f

(18)

Determinamos g(x, y) = p(y) + xg1(y) + · · · ∈ K[[x]][y], com gr(gi(y)) < r e h(x, y) =

q(y) + xh1(y) + · · · ∈ K[[x]][y], com gr(hi(y)) < s tais que f (x, y) = g(x, y)h(x, y). Isto

ocorre se, e somente se,                f0(y) = p(y)q(y)

f1(y) = p(y)h1(y) + g1(y)q(y)

..

. ... ...

fi(y) = p(y)hi(y) + gi(y)q(y) + · · ·

tem solu¸c˜ao ou, equivalentemente,

p(y)hi(y) + gi(y)q(y) = fi(y) −

X

k+l=i k,l6=0

gk(y)hl(y).

Como f ´e mˆonico, temos que gr(fi(y)) < n = r + s. Pelo Lema 1.13 a equa¸c˜ao pode

ser resolvida de maneira ´unica em gi(y) e hi(y) e portanto g, h ∈ K[[x]][y] s˜ao unicamente

determinados com gr(g) = r e gr(h) = s. 2

Nota¸c˜ao: Denotamos K((x)) o corpo das fra¸c˜oes sobre K[[x]]. Observe que dado h = f

g ∈ K((x)) \ {0}, visto que f = x

nu e g = xmv, com m, n ∈ N,

u e v unidades em K[[x]], temos que h = f g = xnu xmv = x n−muv−1 = xrw, onde r ∈ Z e w ´e unidade em K[[x]].

Corol´ario 1.15 Seja T um K-automorfismo de K((x)), ent˜ao existe uma unidade u ∈ K[[x]] tal que T (x) = xu(x).

Demonstra¸c˜ao: Seja T (x) = xru(x), onde u(x) ´e unidade em K[[x]] e r ∈ Z. Se r < 0, como T ´e um homomorfismo, ter´ıamos

T (x + x2+ x3+ · · · ) = T (x) + T (x2) + T (x3) + · · · = xru(x) + x2ru2(x) + · · · , desta forma a s´erie teria infinitos expoentes negativos e isto ´e um absurdo, pois T ´e um endomorfismo. Assim, devemos ter r ≥ 0.

(19)

Como T ´e um K-automorfismo existe T−1 definido por T−1(x) = xsv(x), com v(x) unidade de K[[x]] e s ∈ Z+. Da´ı,

x = T (T−1(x)) = T (xsv(x)) = xrsT (v(x))us(x) = xrsw(x), com w(x) = T (v(x))ur(x) unidade de K[[x]].

Assim w(x) = 1 e xrs = x, ou seja, r = s = 1 e, portanto, T (x) = xu(x), onde u(x) ´e

unidade em K[[x]]. 2

Defini¸c˜ao 1.16 Uma s´erie f ∈ M ´e regular de ordem m com respeito `a indeterminada xrse m = max{n | xnr divide f (0, · · · 0, xr)} . Quando n = mult(f ) = mult(f (0, . . . 0, xr))

dizemos que f ´e regular em xr.

Exemplo 1.17 Seja f (x, y) = x4+y5−3x4y+7x2y4. Como f (0, y) = y5 ent˜ao f ´e regular

em y de ordem 5. Por outro lado, f (x, 0) = x4, ent˜ao mult(f (x, 0)) = 4 = mult(f ), isto

´

e, f ´e regular em x.

Lema 1.18 Dadas f, g ∈ R, se f e g s˜ao regulares com rela¸c˜ao a xr, com ordens n1 e n2

respectivamente, ent˜ao f g ´e regular em xr de ordem n1 ou n2. Reciprocamente, se f g ´e

regular em xr de ordem m, ent˜ao f e g s˜ao regulares de ordens n1 e n2, respectivamente,

em xr onde n1+ n2 ≥ m.

Demonstra¸c˜ao: Suponha que f ´e regular em xr de ordem n1 e g ´e regular em xr de

ordem n2, isto ´e, xnr1 | f (0, . . . , xr) e xrn2|g(0, . . . , xr). Ent˜ao xnr1+n2 | f g(0, . . . , xr), visto

que xn1

r |xnr1+n2 e xnr2|xrn1+n2, segue que xnr1 | f g(0, . . . , xr) ou xnr2 | f g(0, . . . , xr). Logo,

f g ´e regular de ordem n1 ou n2 em xr.

Reciprocamente suponha que xm

r | f g(0, . . . , xr), ent˜ao f g(0, . . . , xr) = xmr p(0, . . . , xr),

ou seja, f (0, . . . , xr) = xnr1f1(0, . . . , xr) e g(0, . . . , xr) = xnr2g1(0, . . . , xr), onde

n1 + n2 ≥ m.

Assim, f e g s˜ao regulares com rela¸c˜ao `a xr para algumas ordens. 2

Teorema 1.19 Seja f ∈ MR, regular de ordem m com respeito `a xs. Dado g ∈ R

existem q ∈ R e r ∈ R0[xs] unicamente determinados tais que

(20)

com r = 0 ou grxs(r) < m.

Demonstra¸c˜ao: Seja f = fn+ · · · + fm+ fm+1+ · · · ∈ MR regular em xs de ordem

m. Dado g = ∞ X i=0 aixis ∈ R 0 [[xs]] considere r−1 = m−1 X i=0 aixis.

Vamos construir qi, ri ∈ K[x1, · · · , xs] tais que 0 ≤ grxs(ri) < m, mult(qi) > i e mult(ri) > i + 1 de modo que

g = f q + r.

Tome p = fn+ · · · + fm. Como xs divide f (0, · · · , xs) ent˜ao p = cxms + p1(xs) com

c ∈ K \ {0} e grxs(p1) < m.

Note que 1 ≤ n = mult(p) ≤ m e considere

h = g − r−1 = hm+ hm+1+ · · · = ∞ X i=m aixis ∈ R 0 [[xs]], (1.1)

em que hi0s s˜ao polinˆomios homogˆeneos de grau i.

Como hm e p s˜ao polinˆomios, pelo Algoritmo da Divis˜ao para polinˆomios, existem q0

e r0 ∈ R[x1, · · · , xs−1][xs] tais que r0 = hm− q0p com grxs(hm− q0p) < m.

Observe que hm(0. · · · , xs) = 0 se, e somente se, q0 = 0. Se q0 = 0 ent˜ao mult(r0) =

m ≥ n, assim, mult(q0) ≥ 0 e mult(r0) ≥ 1.

Como o coeficiente l´ıder de p ´e invert´ıvel podemos considerar p como um polinˆomio em K[x1, · · · , xs−1][xs] e usar o algoritmo da divis˜ao para polinˆomios, isto ´e, dados p e

hm − q0fm+1 ∈ K[x1,··· ,xs−1][xs], ent˜ao r1 = hm+1 − q0fm+1 − q1p com grxs(r1) < m e mult(q1) ≥ 1 e, consequentemente, mult(r1) ≥ 2.

Com racioc´ınio an´alogo existe um ´unico q2 ∈ K[x1, x2, · · · , xs−1][xs] tal que

grxs(hm+2− q1fm+1 − q0fm+2− q2p) < m e mult(q2) ≥ 2, desta maneira, mult(r2) ≥ 3. Assim, constru´ımos sequˆencias q0, q1, q2· · · e r0, r1, r2· · · tais que

(21)

Contudo temos que r0+ r1+ · · · = (hm− q0p) + (hm+1− q0fm+1− q1p) + (hm+2 − q0fm+2− q1fm+1− q2p) + · · · = (hm+ hm+1+ · · · ) − q0(p + fm+1+ fm+2+ · · · ) − · · · = (hm+ hm+1+ · · · ) − (q0+ q1· · · )(p + fm+1+ · · · ) = h − qf =(1.1) qf + r −1+ r0+ · · · .

Tomando r = r−1+ r0+ r1+ · · · e q = q0+ q1 + · · · demonstramos o teorema.

Observe que a unicidade de q e r seguem da unicidade de qi, ri assegurado pelo

algoritmo da divis˜ao para polinˆomios. 2

Teorema 1.20 (Teorema da prepara¸c˜ao de Weierstrass) Dada uma s´erie regu-lar f ∈ R, de ordem m > 0 com respeito `a xs, ent˜ao existe u ∈ R, com u(0) 6= 0

e a1, · · · , am∈ MR0 unicamente determinados por f tais que f u = xms + a1xm−1s + · · · + am

e mais, se f ´e regular em xs, ent˜ao para cada i ∈ {1, · · · , m} temos mult(ai) ≥ i.

Demonstra¸c˜ao: De fato, como xms |f (0, · · · , xs) ent˜ao f ∈ MR e, pelo algoritmo da

divis˜ao (Teorema 1.19), existem q ∈ R e r ∈ R0[xs] tais que xms = f q+r, com grxs(r) < m ou r = 0.

Como xm

s |f (0, · · · , xs), ent˜ao xms divide xms − (f q)(0, · · · , xs) = r(0, · · · , xs). Visto

que grxs(r) < m, segue que r(0, · · · , 0, xs) = 0 e, implica que, q(0, · · · , 0, xs) ∈ K\{0} e q(0, · · · , 0) ∈ K\{0}, portanto, q ´e invert´ıvel. Assim tomando q = u e considerando r = −(a1xm−1s + a2xm−2s + · · · + am) ∈ R0[xs] teremos

f u = xms + a1xm−1+ · · · + am.

Por outro lado f (0, · · · , xs)u(0, · · · , 0, xs) = xms + a1(0)xm−1 + · · · + am(0) e como

xm

s |f (0, · · · , xs) ent˜ao a1(0) = a2(0) = · · · = am(0) = 0 e assim ai ∈ MR0 para cada i ∈ {1, · · · , m}.

(22)

Se f ´e regular em xsent˜ao m = mult(f ) = mult(f u) = mult(xms +a1xm−1+· · ·+am) e,

para que isso ocorra devemos ter mult(aixm−is ) ≥ m para cada i = 1, · · · , m e, portanto,

mult(ai) ≥ i. 2

Observe que nos teoremas anteriores ´e relevante f ser regular, mas nem sempre isso ocorre. Vamos ver a seguir que uma s´erie n˜ao regular, com coeficientes num corpo infinito, pode se tornar regular atrav´es de um automorfismo em R.

Lema 1.21 Seja K um corpo infinito e F uma fam´ılia finita de polinˆomios homogˆeneos n˜ao nulos em K[y1, · · · , yr]. Ent˜ao existe uma transforma¸c˜ao linear T : K[x1, · · · , xr] −→

K[y1, · · · , yr] tal que para todo f ∈ F com grau m existe cf 6= 0 tal que,

f (T (x1, · · · , xr)) = cfxmr + p(xr),

onde p(xr) ∈ K[x1, · · · , xr−1][xr] s˜ao termos de grau menor que m em xr .

Demonstra¸c˜ao: Considere a transforma¸c˜ao T : K[x1, · · · , xr] −→ K[y1, · · · , yr]

defi-nida por T (xj) = xj+ αjxr, se j ∈ {1, · · · , r − 1} e T (xj) = αrxr, se j = r. Assim, dado

fn(x1, · · · , xr) = X l1+···+lr=n al1,··· ,lrx l1 1.x l2 2 · · · x lr

r ∈ F , um polinˆomio homogˆeneo de grau n,

temos: fn(T (x1, · · · , xr))) = X l1+···+lr=n al1,··· ,lr(x1+ α1xr) l1(x 2+ α2xr)l2· · · (αrxr)lr

= (α1xr)l1· · · (αrxr)lr + (termos de grau menor que n em xr).

= αl1

1 · · · α lr

r · x l1+···+lr

r + (termos de grau menor que n em xr).

= fn(α1, · · · , αr) · xnr + (termos de grau menor que n em xr)..

Tomando cfn = fn(α1, · · · , αr) segue que fn(T (x1, · · · , xr)) = cfn· x

n

r + (termos de grau menor que n em xr.

Observe que cada polinˆomio de F possui um n´umero finito de ra´ızes em Kr. J´a que F ´e finito e K ´e infinito, ´e poss´ıvel tomar (α1, · · · , αr) ∈ Kr tal que f (α1, · · · , αr) 6= 0

(23)

Corol´ario 1.22 Seja K um corpo infinito. Dada uma fam´ılia finita F de elementos n˜ao nulos em R existe um automorfismo linear T de R tal que todos os elementos de T (F ) s˜ao regulares na ´ultima indeterminada.

Demonstra¸c˜ao: Considere f1, f2, · · · , fn os polinˆomios homogˆeneos que definem as

multiplicidades dos elementos de F .

Pelo lema anterior existe uma transforma¸c˜ao T tal que, para todo i ∈ {1, · · · , r}, existe cfi 6= 0 satisfazendo fi(T (x1, · · · , xr)) = cfix

mi

r + pi(xr).

Assim, para cada f ∈ F temos que f ◦ T ´e regular na ´ultima indeterminada. 2 Observe que para construir o automorfismo do corol´ario anterior, deve-se considerar a transforma¸c˜ao T : R −→ R definida por T (xj) = xj + αjxr, se j ∈ {1, · · · , r − 1}

e T (xj) = αrxr, se j = r, de modo que, fi(α1, · · · , αr) 6= 0, onde fi s˜ao os polinˆomios

homogˆeneos que definem as multiplicidades dos elementos de F .

Corol´ario 1.23 Se f ∈ R \ {0} ´e uma s´erie de multiplicidade n, ent˜ao existe T : R −→ R um K-automorfismo, uma unidade u ∈ R e ai ∈ R0, para i ∈ {1, · · · , r}, tais que

mult(ai) > i e f (T ) · u = xnr + a1· xn−1r + · · · + an.

Demonstra¸c˜ao: Pelo corol´ario anterior existe um automorfismo T de R tal que f (T (x1, · · · , xr)) = cf · xnr+ (termos de grau menor que n em xr), ou seja, f ◦ T ´e

regular em xr de ordem n.

Pelo Teorema de prepara¸c˜ao de Weierstrass existe u ∈ R invert´ıvel e ai ∈ MR0 ⊂ R tal que T (f ) · u = xn

r + a1· xn−1r + · · · + an. 2

Exemplo 1.24 Note que o polinˆomio f = x2y3+ 2xy2+ xy2 n˜ao ´e regular com rela¸c˜ao a x ou y. Se consideramos o automorfismo

φ : C[[x, y]] −→ C[[x, y]] x 7−→ x + y

y 7−→ y

(24)

O estudo de um polinˆomio ´e mais simples do que o estudo de uma s´erie de potˆencias. Agora, dado f ∈ R\{0} n˜ao invert´ıvel em R, podemos fazer uma mudan¸ca de coordena-das para que possamos preparar f em um polinˆomio de Weierstrass.

1.3

Fatora¸

ao de S´

eries de Potˆ

encias

Defini¸c˜ao 1.25 Um Pseudo-polinˆomio em xr ´e uma s´erie de potˆencias em R da forma

p(x1, · · · , xr) = xmr + a1xm−11 + · · · + am ∈ R0[xr]

tal que n > 1 e mult(ai) > 1.

Observe que todo polinˆomio de Weierstrass ´e Pseudo-polinˆomio.

Defini¸c˜ao 1.26 Seja A um dom´ınio. Dizemos que um elemento a ∈ A\{0}, n˜ao in-vert´ıvel, ´e irredut´ıvel se existem b, c ∈ A tal que a = b · c ent˜ao, b ou c ´e unidade.

Lema 1.27 Se f1, f2· · · , fss˜ao polinˆomios mˆonicos em R0[xr] , ent˜ao f1f2· · · fs´e

Pseudo-polinˆomio (respectivamente polinˆomio de Weierstrass) se, e somente se, para cada i = 1, · · · , s, fi ´e Pseudo-polinˆomio (respectivamente polinˆomio de Weierstrass).

Demonstra¸c˜ao: Sejam f1 = xmr + a1· xm−1r + · · · + am e f2 = xnr + b1· xn−1r + · · · + bn

elementos de R0[xr], ent˜ao f1f2 = xrm+n+ c1· xm+n−1r + · · · + cm+n, onde ci =

X

j+k=i

aj· bk

com a0 = b0 = 1.

Se f1 e f2 s˜ao Pseudo-polinˆomios, isto ´e, para cada i = 1, · · · , s temos mult(ai) > 1

e mult(bi) > 1 ent˜ao,

mult(ci) = mult(ai+ ai−1b1+ · · · + a1bi−1+ bi)

> min{mult(ai), mult(ai−1b1), · · · , mult(bi)} > 1.

Logo, f1f2 ´e Pseudo-polinˆomio.

Da mesma forma, se f1 e f2 s˜ao polinˆomios de Weierstrass ent˜ao f1f2 tamb´em ´e.

(25)

mult(f1) + mult(f2) = mult(f1f2) = m + n.

Como mult(f1) ≤ m e mult(f2) ≤ n, segue que ai(0) = 0 e bj(0) = 0 para todo

i = 1, · · · , m e j = 1, · · · , n.

Portanto, mult(ai) > 1 e mult(bj) > 1 para todo i = 1, · · · , m e j = 1, · · · , n. Logo,

f1 e f2 s˜ao Pseudo-polinˆomios.

Resta mostrar que se f1f2 ´e polinˆomios de Weierstrass, ent˜ao f1 e f2 s˜ao polinˆomio

de Weierstrass.

Se f1f2 ´e polinˆomio de Weierstrass, ent˜ao f1f2 ´e Pseudo-polinˆomio e, assim, f1 e f2

s˜ao Pseudo-polinˆomios o que implica que ai(0) = bj(0) = 0 para cada i = 1, · · · , m e

j = 1, · · · , n. Da´ı,

mult(f1) + mult(f2) = mult(f1f2) = mult(f1f2(0, · · · , xr)) = m + n.

Visto que mult(f1) 6 m e mult(f2) 6 n segue que mult(f1) = m e mult(f2) = n.

Da´ı, m = mult(f1) = mult(xmr + a1xrm−1+ · · · + am) implica que mult(aixm−ir ) > m

e mult(ai) > i.

Com racioc´ınio an´alogo segue que mult(bi) > i. Logo f1 e f2 s˜ao polinˆomios de

Weierstrass. 2

Lema 1.28 Seja f ∈ R0[xr] um Pseudo-polinˆomio. Ent˜ao f ´e redut´ıvel em R se, e

somente se, f ´e redut´ıvel em R0[xr].

Demonstra¸c˜ao: Seja f = xm

r + a1xm−1r + · · · + am ∈ R0[xr] tal que mult(ai) > 1.

Suponha que f ´e redut´ıvel em R, isto ´e, f = f1f2 com f1, f2 ∈ R\{0} n˜ao invert´ıveis.

Como f ´e Pseudo-polinˆomio, ent˜ao f ´e regular de ordem m em xr e, pelo resultado

anterior, f1 e f2 s˜ao regulares de ordens m1 e m2, respectivamente, com rela¸c˜ao `a xr.

Pelo Teorema de Weierstrass, existem u1 e u2 ∈ R invert´ıveis tais que f1u1 = h1 e

f2u2 = h2 ∈ R0[xr].

Assim,

(26)

Como f1 e f2 s˜ao Pseudo-polinˆomios em xr, ent˜ao h1 e h2 s˜ao Pseudo polinˆomios.

Da´ı, f = h1(h2u−12 u −1

1 ), onde h1 e h2u−12 u −1

1 n˜ao s˜ao invert´ıveis. Logo, f ´e redut´ıvel em

R0[x r].

Como R0[xr] ⊂ R0, ent˜ao a redutibilidade em R0[xr] implica na redutibilidade em R0.

Logo, f redut´ıvel em R0[xr] implica que f ´e redut´ıvel em R0.

2

Teorema 1.29 R ´e um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica.

Demonstra¸c˜ao: Sejam R = K[[x1, x2, · · · , xr]] e f = amxmr + am+1xm+1r + · · · ∈ R,

ao invert´ıvel, com mult(f ) = m ∈ N.

Se r = 1 podemos reescrever f = xmr · u onde u = am + am+1xr+ · · · ´e invert´ıvel.

Portanto, f = xm

r · u ´e uma decomposi¸c˜ao para f .

Suponha que R0 = K[[x1, x2, · · · , xr−1]] ´e dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica e vamos mostrar

que K[[x1, x2, · · · , xr]] tamb´em ´e.

Sejam f, g, h ∈ R0 com f irredut´ıvel tal que f divide gh.

Se g ´e invert´ıvel ent˜ao f |h, isto ´e, h = f v para algum v ∈ R0. Analogamente se h ´e invert´ıvel ent˜ao g = f v0 para algum v0 ∈ R0.

Podemos supor que h e g s˜ao regulares com rela¸c˜ao `a xr, caso contr´ario faremos uma

mudan¸ca de coordenada.

Se h e g n˜ao s˜ao invert´ıveis, pelo Teorema da Prepara¸c˜ao de Weierstrass temos que hu1 = xmr−1+ a1xm−1r−1 + · · · e gu2 = xnr−1+ b1xn−1r−1 + · · · .

Como f ´e irredut´ıvel em R0 temos por um resultado anterior que f ´e irredut´ıvel em R0[xr]. Al´em disso, pelo Lema de Gauss, R0[xr] ´e dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica e desta

forma todo elemento irredut´ıvel ´e primo; Contudo f |gh implica que f |g ou f |h, isto ´e, g = f v0 ou h = f v e, portanto, R ´e dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica. 2 Corol´ario 1.30 Seja f ∈ R0[xr] um Pseudo-polinˆomio (resp. polinˆomio de

Weiers-trass) com respeito `a xr. Se a decomposi¸c˜ao em fatores de irredut´ıveis em R ´e dada por

f = f1· · · fn, ent˜ao podemos escolher uma decomposi¸c˜ao onde fi ´e um Pseudo-polinˆomio

(27)

Demonstra¸c˜ao: Seja f ∈ R0[xr] um Pseudo-polinˆomio. Como R0[xr] ´e dom´ınio de

fatora¸c˜ao ´unica, podemos decompor f = f1· · · fncomo produto de irredut´ıveis em R0[xr].

Pelo Lema 1.28 , segue que fi ´e irredut´ıvel em R para todo i ∈ {1, · · · , n}.

Al´em disso, como f ´e Pseudo-polinˆomio segue do Lema 1.27 que fi´e Pseudo-polinˆomio

para cada i ∈ {1, · · · , n}. 2

1.4

Teorema da Base de Hilbert-R¨

uckert

Defini¸c˜ao 1.31 Um anel A ´e Noetheriano se todo ideal de A ´e finitamente gerado. Teorema 1.32 (Teorema da Base de Hilbert) Se A ´e Noetheriano, ent˜ao A[x] ´e Noethe-riano.

Demonstra¸c˜ao: Seja I um ideal de A[x]. Se I = 0 ou I = A acabou. Caso contr´ario, considere J o conjunto formado pelos coeficientes l´ıder dos elementos de I. ´E claro que J ´e um ideal de A e, como A ´e Noetheriano ent˜ao J ´e finitamente gerado. Considere J =< a1, · · · , ar >.

Vamos denotar por ni e ai o grau do coeficiente l´ıder de fi, respectivamente.

Seja n = max{n1, · · · , nr} e considere Jm ⊆ A, m = 1, · · · , n, o ideal formado por

todos os coeficientes l´ıderes dos polinˆomios de I de grau menor ou igual a m.

Como Jm ´e ideal de A, ent˜ao Jm=< am1, am2, · · · , amrm >, pois A ´e Noetheriano. Considere < f1, · · · , fr, f01, · · · , f0r0, · · · , fn1, · · · , fnrn >= I

0 e vamos mostrar que

I = I0.

Temos que I0 ⊆ I. Suponha que existe, um polinˆomio de menor grau poss´ıvel, g ∈ I\I0, da seguinte forma, g = axd+ · · · ∈ I. Como c ´e o coeficiente l´ıder de g, ent˜ao c ∈ J =< c1· · · , cr >. Da´ı c = b1c1 + · · · + brcr, com b0is ∈ A. Se d > n, ent˜ao b1xd−n1f1+ · · · brxd−nrfr = b1xd−n1(a1xn1 + · · · ) + · · · + brxd−nr(arxnr + · · · ) = b1a1xd+ · · · + brarxd = (b1a1+ · · · + brar)xd+ · · · = axd+ · · ·

(28)

Assim,

h = g − (b1xd−n1f1+ · · · brxd−nrfr) ∈ I,

com grau menor que d.

Se h /∈ I0, ent˜ao temos um absurdo, pois ter´ıamos um polinˆomio de grau menor que

o grau de g.

Se h ∈ I, ent˜ao g ∈ I, e isto ´e uma contradi¸c˜ao.

Por outro lado, se d < n ent˜ao a ∈ Jd, isto ´e, c = b1ad1 + · · · + brdadrd e temos que b1xd−bd1fd1+ · · · + brdx d−bdrdf drd = (b1cd1+ · · · + arcdrd)x d+ · · · ∈ I0 . Considere h = g − b1xd−bd1fd1+ · · · + brdx d−bdrdf drd ∈ I Se h ∈ I0 ent˜ao temos uma contradi¸c˜ao, pois

g = h + b1xd−bd1fd1+ · · · + brdx

d−bdrd

fdrd ∈ I. Se h /∈ I0 temos a contradi¸c˜ao da minimalidade do grau d de g.

Logo, I = I0.

Portanto A[x] ´e noetheriano. 2

Teorema 1.33 (Teorema da Base de R¨uckert) O anel R ´e Noetheriano.

Demonstra¸c˜ao: Seja R = K[[x1, · · · , xs]]. Mostraremos por indu¸c˜ao sobre s que R ´e

Noetheriano.

Como K[[x1]] ´e um dom´ınio de ideais principais segue que R ´e Noetheriano quando

s = 1.

Vamos supor que R0 = K[[x1, · · · , xs−1]] ´e Noetheriano e mostrar que R ´e

Noetheri-ano.

Seja I um ideal n˜ao nulo de R e tome f ∈ I\{0}. Podemos supor que f ´e regular com respeito `a xr, caso contr´ario podemos fazer uma mudan¸ca de coordenadas visto que

(29)

Como R0 ´e Noetheriano por hip´otese, ent˜ao R0[xs] ´e Noetheriano e, assim,

IT R0[x

s] =< g1, · · · , gm >, onde gi ∈ R para i = 1, · · · , m. Dado h ∈ I, pelo

Teo-rema da Divis˜ao existem q ∈ R e r ∈ R0[xs] tais que h = f q + r. Da´ı, r = h − f q ∈ I e,

consequentemente, r ∈ IT R0[x s].

Assim, r = a1g1+ · · · + amgm, com ai ∈ R0[xr], para i = 1, · · · , m e h = f q + a1g1+

· · · + amgm ∈< f, g1, · · · , gm >.

Logo I =< f, g1, · · · , gm > e, portanto, R ´e Noetheriano. 2

1.5

Elimina¸

ao

Defini¸c˜ao 1.34 Seja A um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica e considere f = a0ym+ a1ym−1+

· · · + am e g = b0yn+ b1yn−1+ · · · + bn ∈ A[y]. Ent˜ao o resultante de f e g ´e um elemento

de A definido por: Ry(f, g) = detMf,g = det                     a0 a1 a2 · · · am 0 · · · 0 0 a0 a1 · · · am−1 am · · · 0 .. . ... ... . .. ... ... ... ... ... 0 · · · a0 · · · am b0 b1 b2 · · · bn−1 bn 0 · · · 0 0 b0 b1 · · · . . . bn−1 bn · · · 0 .. . ... ... ... ... ... ... ... ... 0 · · · b0 · · · bn                     m+n .

Observe que o produto dos elementos da diagonal principal de Mf,g ´e an0bmn, al´em

disso, se considerarmos os coeficientes a0is e b0js como vari´aveis, o resultante Ry(f, g) ´e

um polinˆomio bi-homogˆeneo de grau n com rela¸c˜ao aos a0is, e de grau m com rela¸c˜ao aos b0js.

Lema 1.35 Os polinˆomios f, g ∈ A[y] possuem fator comum n˜ao constante se, e somente se, existem p, q ∈ A[y]\{0}, com gr(p) < gr(f ) e gr(q) < gr(g), tais que qf = pg. Demonstra¸c˜ao: Suponha que existe k ∈ A[y]\{0} tal que f = kp e g = kq para algum p, q ∈ A[y]. Ent˜ao qf = qkp = gp.

(30)

Reciprocamente, se qf = pg com gr(p) < gr(f ) e gr(q) < gr(g) e f e g n˜ao possuem fatores em comum, ent˜ao g|q. Mas isto n˜ao pode ocorrer pois gr(q) < gr(g).

Logo, f e g possuem termos n˜ao constantes em comum. 2

Proposi¸c˜ao 1.36 Sejam f = a0yn+ a1yn−1+ · · · + an e g = b0ym + b1ym−1 + · · · + bm

elementos de A[y]\A. Ent˜ao Ry(f, g) = 0 se, e somente se, a0 = b0 = 0 ou se f e g

possuem fatores comuns n˜ao constantes em A[y].

Demonstra¸c˜ao: Se a0 = b0 = 0 ent˜ao a primeira coluna da matriz Mf,g ´e zero e,

portanto, Ry(f, g) = 0.

Resta mostrar que se a0 6= 0 ou b0 6= 0 ent˜ao Ry(f, g) = 0 se, e somente se, f e g

possuem fatores comuns n˜ao constantes.

Pelo lema anterior, f e g possuem fatores comuns n˜ao constantes se, e somente se, existem p e q em A[y], com gr(q) < gr(g) e gr(p) < gr(f ), tais que f q = gp, ou equivalentemente:

0 = f (q0ym−1+ · · · + qm−1) + g((−p0yn−1) + · · · + (−pn−1))

= f q0ym−1 + · · · + f qm−1+ −gp0yn−1− · · · − gpn−1. (1.2)

Segue que, B = {f ym−1, f ym−2, · · · , f, gyn−1, · · · , g} ´e linearmente dependente sobre o corpo das fra¸c˜oes F de A.

Reescrevendo os polinˆomios de B na base canˆonica de Fn+m, ent˜ao o determinante da matriz obtida ´e exatamente Ry(f, g).

Portanto, Ry(f, g) = 0 se, e somente se, f e g possuem termos comuns n˜ao constantes.

2

Corol´ario 1.37 Sejam f, g ∈ R[y] Pseudo-polinˆomios com respeito `a indeterminada y. As s´eries f e g admitem um fator comum n˜ao invert´ıvel em R[[y]], se, e somente se, Ry(f, g) = 0.

Demonstra¸c˜ao: Sejam f, g ∈ R[y] Pseudo-polinˆomios com respeito a indeterminada y.

(31)

Se f e g admitem um fator comum n˜ao invert´ıvel em R[[y]], ent˜ao possuem fator comum em R[y]. Pela proposi¸c˜ao anterior segue que Ry(f, g) = 0.

Reciprocamente, se Ry(f, g) = 0, como a0 6= 0 e b0 6= 0, ent˜ao pela proposi¸c˜ao anterior

f = f1h e g = g1h, onde h ∈ R[y] n˜ao ´e invert´ıvel. Al´em disso, pelo Lema 1.27, e pelo

fato de f e g serem Pseudo-polinˆomios, ent˜ao h ´e Pseudo-polinˆomio. Visto que R[y] ´e dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica podemos supor que h ´e irredut´ıvel em R[y] e, pelo Lema 1.28, h ´e irredut´ıvel em R[[y]] e portanto h ´e n˜ao invert´ıvel em R[[y]]. 2

Corol´ario 1.38 Seja A = C{x}, onde C ´e o corpo dos n´umeros complexos, e x = (x1, · · · , xn−1), f = a0(x)yn+ · · · + an(x) e g = b0(x)ym+ · · · + bm(x) elementos de

C{x}[y] e seja U uma vizinhan¸ca de O em Cn−1, onde ai e bj convergem absolutamente

em U . Ent˜ao R(α) = 0 se, e somente se, ou a0(α) = b0(α) = 0, ou f (α, y) e g(α, y)

admitem ra´ızes comum em C, onde R(x) = Ry(f, g) e α ∈ U .

Demonstra¸c˜ao: Suponha que R(α) = Ry(f (α, y), g(α, y) = 0. Pela Proposi¸c˜ao 1.36,

a0(α) = b0(α) = 0 ou f (α, y) e g(α, y) possuem fatores comuns n˜ao constantes.

Se a0(α) = b0(α) = 0 o corol´ario ´e demonstrado.

Sen˜ao, existem f1(α, y), g1(α, y) e h(α, y) ∈ C[y] tais que f (α, y) = f1(α, y)k(α, y) e

g(α, y) = g1(α, y)k(α, y). Como C ´e algebricamente fechado e f (α, y) e g(α, y) possuem

fatores comuns n˜ao constantes, existe y0 tal que f (α, y0) = g(α, y0) = 0 e, portanto,

admitem ra´ızes comuns em C.

Reciprocamente, se a0(α) = b0(α) = 0, ent˜ao pela Proposi¸c˜ao 1.36, R(α) = 0.

Por outro lado, se f (α, y) e g(α, y) admitem ra´ızes em comum em C, ent˜ao possuem fatores em comum em C[y], como C ´e um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica ent˜ao, pela

Pro-posi¸c˜ao 1.36, R(α) = 0. 2

Proposi¸c˜ao 1.39 Se A ´e um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica e f, g ∈ A[y]\A, ent˜ao existem p, q ∈ A[y], com gr(p) < gr(f ) e gr(q) < gr(g), tais que

(32)

Demonstra¸c˜ao: Sejam f = a0yn+ a1yn−1+ · · · + an e g = b0ym+ b1ym−1+ · · · + bm

elementos de A[y]\A.

Se f e g possuem fatores n˜ao constantes em comum em A[y] ent˜ao, pelo Lema 1.35, existem p e q ∈ A[y] que satisfazem qf + (−p)g = 0, com gr(q) < gr(g) e gr(p) < gr(f ). Al´em disso, pela Proposi¸c˜ao 1.36, Ry(f, g) = 0 e portanto Ry(f, g) = qf + (−p)g.

Se f e g n˜ao possuem fatores n˜ao constantes em comum segue que Ry(f, g) 6= 0 e,

podemos escrever,                     a0 a1 a2 · · · am 0 · · · 0 0 a0 a1 · · · am−1 am · · · 0 : : : . .. : : : : : 0 · · · a0 · · · am b0 b1 b2 · · · bn−1 bn 0 · · · 0 0 b0 b1 · · · . . . bn−1 bn · · · 0 : : : : : : : : : 0 · · · b0 · · · bn                                         yn+m−1 yn+m−2 : yn yn−1 yn−2 : 1                     =                     ym−1f ym−2f : f yn−1g yn−2g : g                     . (1.3)

Substituindo a ´ultima coluna da matriz Mf,g pela coluna dos termos independentes

(1.3) obtemos a matriz: M =                     a0 a1 a2 · · · am 0 · · · ym−1f 0 a0 a1 · · · am−1 am · · · ym−2f : : : . .. : : : : : 0 · · · a0 · · · f b0 b1 b2 · · · bn−1 bn 0 · · · yn−1g 0 b0 b1 · · · . . . bn−1 bn · · · yn−2g : : : : : : : : : 0 · · · b0 · · · g                     .

Assim, pelo M´etodo de Crammer temos, 1 = detM

detMf,g

= detM Ry(f, g)

⇒ Ry(f, g) = detM.

Considere Ai o cofator de ym−if e Bj o cofator de yn−jg. Expandindo o determinante

(33)

detM = A1ym−1f + A2ym−2f + · · · + Amf + B1yn−1g + B2yn−2g + · · · + Bng

= (A1ym−1+ A2ym−2 + · · · + Am)f + (B1yn−1+ B2yn−2+ · · · + Bn)g

Tomando q = A1ym−1+ A2ym−2+ · · · + Am e p = B1yn−1+ B2yn−2+ · · · + Bn temos

Ry(f, g) = detM = qf + pg. 2

Observe que se f = a0(y − x1) · · · (y − xn) e g = b0(y − y1) · · · (y − ym) s˜ao elementos

de R00 = A[x1, · · · , xn, y1· · · , ym][y], ent˜ao Ry(f, g) ´e um polinˆomio de R00.

Lema 1.40 O polinˆomio Ry(f, g) ´e homogˆeneo de grau nm em R00= A[x1, · · · , xn, y1· · · , ym],

onde n = gry(f ) e m = gry(g).

Demonstra¸c˜ao: Sejam f = a0(y − x1) · · · (y − xn) e g = b0(y − y1) · · · (y − ym) ∈ R00[y].

Considere Si0s e Sj0s fun¸c˜oes elementares sim´etricas de x0is e y0js respectivamente ent˜ao,

Ry(f, g)(x, y) = a0 a0S1 a0S2 · · · a0Sn 0 · · · 0 0 a0 a0S1 · · · a0Sn−1 a0Sn · · · 0 : : : . .. : : : : : 0 · · · a0 · · · a0Sn b0 b0S10 b0S20 · · · b0Sm−10 b0Sm0 0 · · · 0 0 b0 b0S10 · · · . . . b0Sm−10 b0Sm0 · · · 0 : : : : : : : : : 0 · · · b0 · · · b0Sm0 = am0 bn0 1 S1 S2 · · · Sn 0 · · · 0 0 1 S1 · · · Sn−1 Sn · · · 0 : : : . .. : : : : : 0 · · · 1 · · · Sn 1 S10 S20 · · · Sm−10 Sm0 0 · · · 0 0 1 S10 · · · . . . Sm−10 Sm0 · · · 0 : : : : : : : : : 0 · · · 1 · · · Sm0 . Assim,

(34)

Ry(f, g)(T x, T y) = am0 b n 0 1 T S1 T2S2 · · · TnSn 0 · · · 0 0 1 T S1 · · · Tn−1Sn−1 TnSn · · · 0 : : : . .. : : : : : 0 · · · 1 · · · TnS n 1 T S10 T2S0 2 · · · Tm−1S 0 m−1 TmS 0 m 0 · · · 0 0 1 T S10 · · · . . . Tm−1S0 m−1 TmS 0 m · · · 0 : : : : : : : : : 0 · · · 1 · · · TmS0 m Se multiplicarmos a linha l da matriz que nos d´a Ry(f, g)(T x, T y) por Tl−1, para cada

l ∈ {2, · · · m}S{m − 2, · · · , m + n}, ent˜ao o novo determinante ´e dado por TMR

y(f, g),

onde M = (1 + · · · + (m − 1)) + (1 + · · · + (n − 1)).

Por outro lado, se multiplicarmos a coluna l da matriz que nos d´a Ry(f, g)(x, y) por

Tl−1, para cada l ∈ {2, · · · , m + n}, obtemos TNR

y(f, g)(x, y), onde N = 1 + · · · + (m +

n − 1). Da´ı,

TMRy(f, g)(T x, T y) = TNRy(f, g)(x, y),

como N − M = nm > 0, esta igualdade implica que

Ry(f, g)(T x, T y) = TN −MRy(f, g)(x, y).

Portanto, Ry(f, g) ´e homogˆeneo de grau mn. 2

Proposi¸c˜ao 1.41 Sejam K um corpo, f = a0yn+a1yn−1+· · ·+an e g = b0ym+b1ym−1+

· · · + bm elementos de K[y]\K. Considere E uma extens˜ao do corpo K que cont´em as

ra´ızes α1, · · · , αn e β1, · · · , βm de f e g, respectivamente, ent˜ao,

Ry(f, g) = am0 bn0 n Y i=1 m Y j=1 (αi− βj) = am0 n Y i=1 g(αi) = (−1)nmbn0 m Y j=1 f (βj).

Demonstra¸c˜ao: Considere f = a0(y − x1) · · · (y − xn) e g = b0(y − y1) · · · (y − ym)

(35)

Pela Proposi¸c˜ao 1.36, Ry(f, g) = 0 e, assim, (xi− yj) divide Ry(f, g) para todo i e j.

Al´em disso, xi− yj e xr− ys s˜ao coprimos sempre que (xi, yj) 6= (xr, ys) e disso segue que

P divide Ry(f, g), onde P = am0 bn0 n Y i=1 m Y j=1 (xi− yj).

O termo de menor grau em Ry(f, g) que cont´em somente as indeterminadas (y1, · · · , ym)

´ e am 0 S 01 m. Al´em do mais, P = am0 bn0 n Y i=1 m Y j=1 (xi− yj) = am0 bn0 n Y i=1 (xi− y1)(xi− y2) · · · (xi− ym) = am0 n Y i=1 b0(xi− y1)(xi− y2) · · · (xi− ym) = am0 n Y i=1 g(xi).

Por outro lado,

P = am0 bn0 n Y i=1 m Y j=1 (xi − yj) = am0 bn0 m Y j=1 (x1− yj)(x2− yj) · · · (xn− yj) = am0 bn0 m Y j=1 (−1)n(yj − x1)(yj− x2) · · · (yj − xn) = (−1)mnbn0 m Y j=1 a0(yj − x1)(yj − x2) · · · (yj− xn) = (−1)mnbn0 m Y j=1 f (yj).

O termo de menor grau em P = am 0

Qn

i=1g(xi) que cont´em somente as indeterminadas

y1, · · · , ym tamb´em ´e am0 S 0n 1 . Contudo, P = am0 bn0 n Y i=1 m Y j=1 (xi − yj) = am0 n Y i=1 g(xi) = (−1)mnbn0 m Y j=1 f (yj).

(36)

O resultado segue se substituirmos xi por αi e yj por βj. 2

Defini¸c˜ao 1.42 Dada a s´erie f =

∞ X i=0 X i1+i2=i ai1,i2x

i1yi2 ∈ K[[x, y]], definimos a derivada da s´erie f com rela¸c˜ao `a vari´avel y por

Dy(f ) = ∞ X i=0 X i1+i2=i i2ai1,i2x i1yi2−1

Defini¸c˜ao 1.43 Seja A um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica, f ∈ A[y] e fy a derivada de f

com rela¸c˜ao `a indeterminada y. Definimos o discriminante Dy(f ) de f como

Dy(f ) = Ry(f, fy).

Observe que se f ∈ A[y] ´e um polinˆomio de Weierstrass, ent˜ao Dy(f ) = Ry(f, fy) 6=

0 se, e somente se, o ´unico fator em comum entre f e fy ´e unidade. Assim, como

f = fn1

1 · · · fsns e fy = n1· · · nsf1n1−1· · · fns −1

s segue que Dy(f ) 6= 0 se, e somente se,

n1 = n2 = · · · = ns = 1.

Defini¸c˜ao 1.44 Seja f ∈ A[y]. Dizemos que f ´e reduzido quando Dy(f ) 6= 0. Se

f = fn1

1 · · · fsns definimos a redu¸c˜ao de f como red(f ) = f1f2· · · fs.

Proposi¸c˜ao 1.45 Se K ´e um corpo e f = a0yn + · · · + an ∈ K[y]\K, onde as ra´ızes

α1, · · · , αn de f est˜ao contidas em K, ent˜ao

Dy(f ) = a2n−10

Y

i6=j

(αi− αj).

Demonstra¸c˜ao: Pela Proposi¸c˜ao 1.41 temos: Dy(f ) = Ry(f, fy) = an−10

n

Y

i=1

fy(αi).

Al´em disso, fy(αi) = a0Qi6=j(αi− αj) e da´ı

Dy(f ) = an−10 n Y i=1 a0 Y i6=j (αi− αj) = an−10 an0 n Y i=1,i6=j (αi− αj) = a2n−10 n Y i=1,i6=j (αi− αj). 2

(37)

Cap´ıtulo 2

Curvas Alg´

ebricas Planas

Em geral a curva alg´ebrica plana dada por f ´e definida como sendo o lugar geom´etrico dos pontos que satisfazem f (x, y) = 0. O polinˆomio f n˜ao fica bem determinado pela curva pois, podemos obter a mesma curva por polinˆomios diferentes. Por exemplo, f = 0 e f2 = 0 tem a mesma solu¸c˜ao. Mais ainda, xy = 0 e xy2 = 0 tˆem solu¸c˜oes idˆenticas.

Observe que nestes exemplos, os polinˆomios possuem os mesmos termos irredut´ıveis. Dito isso, podemos afirmar que dois polinˆomios em duas vari´aveis com coeficientes num corpo tˆem as mesmas solu¸c˜oes se, e somente se, possuem os mesmos fatores irredut´ıveis? A resposta ´e “sim”, como vemos no pr´oximo resultado.

Proposi¸c˜ao 2.1 Se f e g s˜ao elementos de K[x, y], ent˜ao f(x,y) e g(x,y) possuem as mesmas solu¸c˜oes se, e somente se, tˆem os mesmos fatores irredut´ıveis.

Demonstra¸c˜ao: Vamos mostrar que todo fator irredut´ıvel de f divide g em K[x, y]. Seja p ∈ K[x, y] um fator irredut´ıvel de f e note que, se (x, y) ∈ K2 que ´e raiz de p ent˜ao tamb´em ´e raiz de g. Como p ´e irredut´ıvel em K[x][y] e K[x][y] ⊂ K(x)[y], ent˜ao p ´

e irredut´ıvel em K(x)[y]. Suponha que mdc(p, g) = 1, ent˜ao existem a, b ∈ K(x)[y] tais que,

ap + bg = 1.

(38)

a0p + b0g = c.

H´a infinitos valores para x tais que c(x) = 0, por outro lado p(x, Y ) = 0 para um n´umero finito de valores de x e consequentemente o mesmo acontece para g(x, Y ), o que ´

e um absurdo. Logo, p divide g em K[x][y] e consequentemente em K[x, y]. 2 Observe que dadas duas curvas com mesmas solu¸c˜oes ent˜ao, pela proposi¸c˜ao anterior, elas tˆem os mesmos fatores irredut´ıveis e, assim, elas s´o se diferenciam por uma unidade. Estudamos propriedades alg´ebricas de f (x, y) como um elemento de K[[x, y]] visto que o estudo das singularidades de uma curva alg´ebrica plana, ou uma curva anal´ıtica em C2, ´e representada localmente por uma equa¸c˜ao do tipo f (x, y) = 0.

Dadas duas s´eries f, g ∈ R \ {0}, dizemos que f ∼ g se existe uma unidade u ∈ R tal que f = ug.

A rela¸c˜ao ∼ ´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia e a classe de f ∈ R\{0}, denotada por (f ), ´e chamada de Curva Alg´ebrica Plana.

Assim (f ) = (g) se, e somente se, existe uma unidade u ∈ R tal que f = ug.

Como a curva ´e uma classe de equivalˆencia podemos represent´a-la por qualquer ele-mento da classe. As propriedades locais da curva alg´ebrica (f ) e de seus representantes s˜ao as mesmas, assim, de agora em diante quando nos referimos a curva alg´ebrica (f ) podemos nos referir como “a curva alg´ebrica f ” ou “a curva alg´ebrica determinada por f ”.

Defini¸c˜ao 2.2 Uma curva alg´ebrica plana (f ) ´e regular se mult(f ) = 1. Se mult(f ) > 1 a chamamos de singular.

Defini¸c˜ao 2.3 Uma s´erie f ´e redut´ıvel em R se existem fi, fj ∈ R, n˜ao associados e

com fi 6= fj, tais que f = fifj. Caso contr´ario, dizemos que f ´e irredut´ıvel.

Exemplo 2.4 A s´erie f = 2y +P∞

i=0(−i)

2xyi+1 ´

e irredut´ıvel em C[[x, y]], pois f = y(2 +P∞

i=0(−i) 2xyi).

Exemplo 2.5 O polinˆomio g = −xy3 − y3 + x2 + x ´

e irredut´ıvel em C[[x, y]] mas ´e redut´ıvel em C[x][y], pois g = (x − y3)(x + 1) e (x + 1) ´e unidade em C[[x, y]] mas n˜ao ´e

(39)

Vamos ver a seguir que atrav´es de um K-automorfismo ´e poss´ıvel efetuar mudan¸cas de coordenadas em K[[x, y]] e algumas propriedades de curvas alg´ebricas planas s˜ao preservadas.

Defini¸c˜ao 2.6 Duas curvas alg´ebricas planas (f ) e (g) s˜ao equivalentes, isto ´e, (f ) ∼ (g), se existe um K-automorfismo φ de K[[x, y]] tal que (φ(f )) = (g), isto ´e, existe uma unidade u ∈ K[[x, y]] tal que φ(f ) = u.g

Quando uma curva ´e equivalente a um polinˆomio de Weierstrass podemos supor que a curva ´e dada pelo polinˆomio de Weierstrass.

Curvas equivalentes preservam irredutibilidade, multiplicidade dentre outras propri-edades. Nos preocupamos com as propriedades de curvas alg´ebricas planas irredut´ıveis que s˜ao invariantes pela a rela¸c˜ao de equivalˆencia.

Com rela¸c˜ao a curvas equivalentes e regularidade segue a seguinte proposi¸c˜ao: Proposi¸c˜ao 2.7 Se (f ) e (g) s˜ao curvas regulares ent˜ao (f ) ∼ (g).

Demonstra¸c˜ao: Sejam (f ) e (g) duas curvas regulares. Como mult(f ) = mult(g) = 1 ent˜ao f = ax + by + ... e g = cx + dy....

Assim, existem as seguintes possibilidades: a 6= 0 e c 6= 0, ou a 6= 0 e d 6= 0, ou c 6= 0 e b 6= 0, ou b 6= 0 e d 6= 0.

Se a 6= 0 considere o seguinte K-automorfismo:

φ : K[[x, y]] −→ K[[x, y]] x 7−→ f

y 7−→ y. Assim, φ(x) = f ou seja (x) ∼ (f ).

Analogamente se b 6= 0 temos (y) ∼ (f ), se c 6= 0 ent˜ao (x) ∼ (g) e, se d 6= 0 temos (y) ∼ (g). Al´em disso (x) ∼ (y).

Logo, (f ) ∼ (g).

Exemplo 2.8 Observe que verificar se duas curvas s˜ao equivalentes nem sempre ´e uma tarefa simples. Considere as curvas (f ) e (g) onde:

(40)

g = −8x3+ 16x4+ 24x2y + 9y2. ´

E dif´ıcil responder de imediato se (f ) ´e equivalente a (g) j´a que a ´unica informa¸c˜ao que temos ´e que mult(f ) = mult(g).

Mas (f ) ∼ (g) pois, se considerarmos,

φ : C[[x, y]] −→ C[[x, y]]

x 7−→ 2x

y 7−→ 4x2+ 3y

teremos φ(f ) = u · g, onde u = 1.

Defini¸c˜ao 2.9 Seja (f ) uma curva alg´ebrica plana tal que f = fn+ fn+1..., chamamos

(fn) de cone tangente da curva (f ).

Observe que todo polinˆomio homogˆeneo com duas indeterminadas e coeficientes num corpo algebricamente fechado decomp˜oe-se em fatores lineares, ent˜ao podemos escrever

fn= s Y i=1 (aix + biy)ri, onde Ps

i=1ri = n e aibj− ajbi 6= 0 sempre que i 6= j.

O cone tangente de (f ) consiste nas formas lineares (aix + biy) com multiplicidade ri,

chamadas de retas tangentes de f .

Observe que se (f ) ´e regular, ent˜ao o cone tangente (f1) consiste em uma reta tangente

de multiplicidade 1.

Exemplo 2.10 Seja f (x, y) = 4y2− x3.

A forma inicial de f ´e f2 = 4y2 = (0x + 2y)2. O cone tangente da curva (f ) ´e (4y2)

com retas tangentes (2y) com multiplicidade 2. Exemplo 2.11 Considere g(x, y) = P∞

i=0(−1)

i(x + y)i+3. A forma inicial de

f ´e f3 = (x + y)3, e o cone tangente ´e ((x + y)3), com retas tangentes (x + y) que

possuem multiplicidade 3.

(41)

2.1

Teorema de Newton-Puiseux

Seja K((x)) o corpo das fra¸c˜oes sobre K[[x]]. Dado h = f

g ∈ K((x)) \ {0}, visto que f = xnu e g = xmv, com m, n ∈ N, u e v unidades em K[[x]], n´os temos que

h = f g = xnu xmv = x n−muv−1 = xrw, onde r ∈ Z e w ´e unidade em K[[x]].

Assim, os elementos h de K((x)) s˜ao da forma:

a−mx−m+ a−m+1x−m+1+ · · · + a−1x−1+ a0+ a1x + a2x2+ · · · ,

onde m ∈ N e ai0s s˜ao elementos de K.

Os elementos de K((x)) s˜ao chamados de s´eries de potˆencias formais de Laurent. Exemplo 2.12 Considere f = x3+ 2x + 7 ∈ C[[x]] e g = x2+ 2x ∈ C[[x]]. Temos

h = f g = x3+ 2x + 7 x2+ 2x = 1(x3+ 2x + 7) x(x + 2) = x −1 (x2+ 2x + 7)(x + 2)−1. Vimos no exemplo 1.5 que

(x + 2)−1= ∞ X i=0 xi 2i+1, assim, h = x−1(x3+ 2x + 7)(1 2 + x 4 + x2 8 + · · · ). Portanto, h = 7 2x −1 + 11 4 + x + 15 16x 2 + 15 32x 3 + · · · .

De agora em diante considere char(K) = 0 e K((x)) o fecho alg´ebrico de K((x)). As ra´ızes da equa¸c˜ao yn − x = 0 est˜ao contidos em K((x)) para todo n ∈ Z

+,

consequentemente K((x)) deve conter os elementos da forma xn1, que apresentam as seguintes rela¸c˜oes:

(42)

ii) x(rnm)r = x m

n ∀m, n ∈ Z e n, r > 0.

Deste modo obtemos a extens˜ao K((x1n)) de K((x)).

Recordamos da Teoria de Galois, que se F/K ´e uma extens˜ao de corpos, ent˜ao o conjunto G(F/K) = {σ : F → F ; σ ´e K-automorfismo}, munido com a opera¸c˜ao de composi¸c˜ao, ´e um grupo, denominado grupo de Galois da extens˜ao F/K.

Defini¸c˜ao 2.13 Seja F/K uma extens˜ao de corpos. Se o grupo de Galois G(F/K) ´

e finito e K = {a ∈ F, σ(a) = a, ∀σ ∈ G(F/K)}, ent˜ao F/K ´e chamada extens˜ao Galoisiana.

Denotamos Un o grupo multiplicativo das n-´esimas ra´ızes da unidade em K, isto ´e,

Un= {a ∈ F ; an= 1}.

O grupo multiplicativo (Un, ·) ´e c´ıclico gerado por < 1

1

n >. Um elemento gerador de Un ´e chamado raiz n-´esima primitiva da unidade. Al´em disso, K((x

1

n)) ´e K-isomorfo a K((x)), bastando considerar o seguinte K-automorfismo:

ϕ : K((x)) −→ K((x1n)) x 7−→ x1n.

.

Temos do Corol´ario 1.15 que, para qualquer K-automorfismo σ de K((xn1)) temos, σ(xn1) = x 1 nu(x 1 n), onde u(x 1 n) ∈ K[[x 1 n]] ´e unidade.

Lema 2.14 A extens˜ao de corpos K((xn1))/K((x)) ´e finita e galoisiana, com o grupo de Galois isomorfo ao grupo Un.

Demonstra¸c˜ao: Seja G = G(K((xn1))/K((x))) e σ : K((x 1

n)) → K((x 1

n)) um K((x))−automorfismo de G. Ent˜ao existe bσ(x

1 n) ∈ K[[x 1 n]] tal que σ(x 1 n) = bσ(x 1 n)x 1 n e, assim, bσ(x 1 n) n x = σ(xn1)n= σ(x) = x e desta forma bσ(x 1 n) n = 1 e bσ ∈ Un.

Para mostrar que G ´e isomorfo a Un, defina:

f : G −→ Un

σ 7−→ bσ

(43)

Dados x1n ∈ K((x 1 n)) e σ, ρ ∈ G, ent˜ao x1nbσ◦ρ(x 1 n) = σ ◦ ρ(x 1 n) = σ(ρ(x 1 n)) = σ(bρ(x 1 n)x 1 n) = σ(bρ(x 1 n))σ(x 1 n) = bρ(x 1 n)bσ(x 1 n)x 1 n = bρbσ(x 1 n)x 1 n e, portanto, f ´e homomorfismo. Al´em disso, dado P aix

i n ∈ K((x 1 n)) suponha f (σ) = f (ρ). σ(Xaix i n) = X σ(ai)σ(x i n) = X aiσ(x i n) = X aibσ(x i n)x i n = Xaibσ(x i n)x i n = X aiρ(x i n) = ρ( X aix i n).

Segue que f ´e injetora e, da maneira que foi definida f , segue que f ´e sobrejetora e, portanto, f ´e um isomorfismo.

Considere K((xn1))G = {a ∈ K((x 1

n)); σ(a) = a, ∀σ ∈ G} e vamos mostrar que K((x1n))G= K((x)).

Sabemos que K((x)) ⊂ K((xn1))G, resta mostrar que K((x 1

n))G ⊂ K((x)). Suponha que para todo a ∈ Un, dado

X i≥i0 bix i n ∈ K((x 1 n)), para σ ∈ G temos, X i≥i0 bix i n = σ( X i≥i0 bix i n) = X i≥i0 biσ(x i n) = X i≥i0 biaix i n. Assim, bi = biai para todo i ≥ i0.

Se n - i, como a ∈ Un, ent˜ao bi = 0, pois bi(1 − ai) = 0.

Se n | i ent˜ao biaix i n ∈ K((x)). Logo, X i≥i0 bix i n ∈ K((x)) e, portanto, K((x1n))G= K((x)). 2 Contudo temos que que K((xn1)) ⊂ K((x)) ⊂ K((x)).

Defini¸c˜ao 2.15 Denotamos por K((x))∗ a uni˜ao de K((xn1)) para todo n ∈ N \ {0}, isto ´

e,

K((x))∗ = [

n∈N

(44)

Observe que os elementos de K((x))∗ s˜ao da forma α = b1x p1 q1 + b2xp2q2 + · · · , onde bi ∈ K, pi e qi ∈ Z∗ com qi > 0 e pi qi > pi+1

qi+1 com i ∈ N. Al´em disso

 pi qi, i ∈ N ∗  admite denominador comum. Se b1 6= 0, ent˜ao mult(α) = p1 q1

e, como demonstrado anteriormente, dados α e β ∈ K((x))∗, temos:

i) mult(αβ) = mult(α)mult(β);

ii) mult(α + β) ≥ min{mult(α), mult(β)} e a igualdade vale quando mult(α) 6= mult(β);

iii) mult(0) = ∞.

Defini¸c˜ao 2.16 Denotamos por K[[x]]∗ a uni˜ao de K[[x1n]] para todo n ∈ N \ {0}, isto ´

e,

K[[x]]∗ = [

n∈N

K[[xn1]].

Os elementos de K[[x]]∗ s˜ao da mesma forma que os elementos de K((x)), com mult(α) ≥ 0.

Lema 2.17 K((x))∗ ´e subcorpo de K((x)).

Demonstra¸c˜ao: De fato, 0, 1 ∈ K((x))∗ e dados f e g elementos de K((x))∗, ent˜ao f =Pn i=0aix i n ∈ K((x 1 n)) e g =Pn j=0bjx j m ∈ K((x 1 m)). Al´em disso K((xn1)) ⊂ K((x 1 m.n)) e K((x 1 m)) ⊂ K((x 1 m.n)), desta forma, f + g, f g e f g−1 s˜ao elementos de K((xmn1 )) ⊂ K((x))∗ e, portanto, K((x))∗ ´e subcorpo de K((x)). 2

Teorema 2.18 (Teorema de Newton-Puiseux) Temos que K((x)) = K((x))∗. Demonstra¸c˜ao: Se mostrarmos que K((x))∗ ´e alge1bricamente fechado teremos que K((x)) = K((x))∗.

Vamos mostrar que dado p ∈ K((x))∗[y], com grau maior ou igual a dois, ent˜ao p ´e redut´ıvel em K((x))[y].

(45)

Seja p(x, y) = yn+ a1yn−1+ · · · + an∈ K((x))∗[y] com gry(p) ≥ 2.

Tome o seguinte K((x))∗-isomorfismo:

φ : K((x))∗[y] → K((x))∗[z] y 7→ z − n−1a1(x)

. Usando o binˆomio de Newton temos,

q(x, z) = φ(p(x, y)) = (z − a1 n) n+ a 1(z − a1 n) n−1+ · · · + a n = n X k=0 (−1)k n! k!(n − k)!z n (a1 n) n−k + n−1 X k=0 (−1)k (n − 1)! k!(n − k − 1)!z n−1 (a1 n) n−k−1 + · · · = zn− nz n−1a 1 n + · · · + a1(z n−1− (n − 1)zn−2 a1 n − 1 = zn+ b2(x)zn−2+ · · · + bn(x).

Com esta mudan¸ca de vari´aveis eliminamos o termo de grau n−1 no polinˆomio p(x, y) e obtemos o polinˆomio q(x, z) ∈ K((x))∗[z].

Se bi(x) = 0, para todo i = 2, · · · , n, ent˜ao q(x, z) = zn ´e redut´ıvel em K((x))∗[z] e,

portanto, p ´e redut´ıvel em K((x))∗[y].

Por outro lado, se bi(x) 6= 0, para algum i ∈ {2, · · · , n}, faremos uma nova mudan¸ca

de vari´aveis e transformaremos os elementos de K((x))∗[z] em elementos de K((w))∗[z]. Considere mult(bi(x)) = ui e u = min{uii, 2 ≤ i ≤ n}.

Dado r ∈ N tal que u = ur

r , considere o seguinte isomorfismo de K-´algebras. ϕ : K((x))∗[z] → K((w))∗[z]

x 7→ wr

(46)

Temos que ϕ preserva o grau do polinˆomio em z, al´em disso, h(w, z) = w−nurϕ(q(x, z)) = w−nurq(wr, zwur) = w−nur(znwnur + b 2(wr)zn−2wur(n−2)+ · · · + bn(wr)) = zn+ b2(wr)zn−2w−2ur + · · · + w−nurbn(wr) = zn+ c2(w)zn−2+ · · · + cn(w) = zn+ n X i=2

ci(w)zn−i, onde ci(w) = bi(wr)w−iur.

Note que ui i ≥

ur

r , para todo i ≥ 0 e disso, segue que

mult(ci) = mult(bi(wr)) + mult(w−iur) = rui− iur ≥ 0.

Quando i = r temos mult(cr) = 0, consequentemente cr(0) 6= 0 e, desta forma,

ci(w) ∈ K[[w]]∗.

Ent˜ao existe k ∈ Z+ tal que

h(wk, z) = zn+

n

X

i=2

ci(wk)zn−i ∈ K[[w]][z].

Afirma¸c˜ao: h(0, z) tem pelo menos duas ra´ızes distintas.

De fato, suponha que h(0, z) tenha exatamente uma raiz α. Ent˜ao h(0, z) = (z − α)n = zn− nαzn−1+ · · · + αn.

Mas h(0, z) n˜ao possui termos de grau n − 1, ou seja, nα = 0, isto ´e, char(K) = n o que ´e um absurdo pois estamos trabalhando com char(K) = 0.

Logo h(0, z) tem pelo menos duas ra´ızes distintas, ou seja, h(0, z) = p(z)q(z), onde p(z) e q(z) ∈ K[z]

Agora, pelo Lema de Hensel (Lema 1.14), existem dois polinˆomios unicamente deter-minados h1(w, z), h2(w, z) ∈ K[[w]][z] com grz(h1) ≥ 1 e grz(h2) ≥ 1 tais que,

h(wk, z) = h1(w, z)h2(w, z).

Como h(w, z) = w−nurϕ(q(x, z)) ent˜ao,

ϕ(q(x, z)) = wnurh(w, z) = wnurh 1(w 1 k, z)h 2(w 1 k, z).

(47)

Al´em disso, ϕ−1(w) = x1r assim, q(x, z) = ϕ−1(wnurh 1(w 1 k, z)h 2(w 1 k, z) = ϕ−1(wnur−1(h 1(w 1 k, z))ϕ−1(h 2(w 1 k, z)) = xnurr ϕ−1(h 1(w 1 k, z))ϕ−1(h 2(w 1 k, z))

Logo, q(x, z) ´e redut´ıvel em K((x))∗[z] e, portanto, K((x))∗´e algebricamente fechado. 2

2.2

Extens˜

oes de Corpos das S´

eries de Laurant

Vimos que o grupo de Galois da extens˜ao K((xn1))/K((x)) ´e isomorfo a Unent˜ao, dados α =X i≥i0 bix i n ∈ K((x 1 n)) e ρ ∈ U

n, definimos a seguinte a¸c˜ao:

ρ ∗ α =X i≥i0 bi(ρx 1 n)i = X i≥i0 biρix i n. (2.1)

Lema 2.19 Seja α ∈ K((x))∗\ K((x)) e n = min{m; α ∈ K((xm1))}. Considerando α um elemento de K((xn1)) ent˜ao, para todo ρ, θ ∈ Un, com ρ 6= θ, temos θ ∗ α 6= ρ ∗ α. Demonstra¸c˜ao: Suponha que existam ρ, α ∈ Un, com ρ 6= α, tal que θ ∗ α = ρ ∗ α.

Dado α = ϕ(x1n) = X i≥i0 bix i n ∈ K((x 1 n)), com n ≥ 2, temos θ ∗ α = ρ ∗ α ⇔ ϕ(θxn1) = ϕ(ρx 1 n) ⇔ θixni = ρixni, sempre que b i 6= 0

⇔ θi = ρi, para todo i tal que b i 6= 0.

Afirma¸c˜ao: Para cada i tal que bi 6= 0 temos que mdc(i, n) = 1.

De fato, seja di = mdc(n, i) para os quais bi 6= 0 e considere d = min{di}.

Se d 6= 1 ent˜ao d|n e d|i, da´ı bix

i n = bix i0 n0, onde n0 = n d. Assim, α ∈ K((x 1 n0)). Mas n0 < nd < n = min{q; α ∈ K((x1q))}, o que ´e um absurdo.

Assim, para cada bik

0

s 6= 0 existem uk0s ∈ Z e v ∈ Z que satisfazem:

(48)

e

θ = θ1 = θnv· θu1i1· · · · θunin = ρnv· ρu1i1 · · · · ρunin = ρ mas isso ´e um absurdo pois, por hip´otese, θ 6= ρ.

2 A seguir descrevemos as principais extens˜oes alg´ebricas de K((x)) que s˜ao obtidas pela adjun¸c˜ao de K((x)) com um elemento alg´ebrico α.

Pelo Lema 3.7 da referˆencia [7] temos K((x))(α) = K((x))[α] = {p(α); p ∈ K((x))[y]}. Teorema 2.20 Dado α = ϕ(xn1) ∈ K((x))∗\K((x)), onde n = min{q ∈ N; α ∈ K((x1q))} ent˜ao: i) K((x))[α] = K((x1n)); ii) g(x, y) = n Y i=1

(y − ϕ(ρix1n)) ´e o polinˆomio minimal de α sobre K((x)), onde ρ ´e um gerador fixado do grupo Un;

iii) g(x, y) = yn+ a1yn−1+ · · · + an(x) ∈ K((x))[y], onde

mult(ai(x) ≥ i · mult(α) = i · mult

 an(x)

n 

.

A igualdade ´e v´alida quando i = n. Se mult(α) ≥ 1, ent˜ao g(x, y) ∈ K[[x]][y] ´e um polinˆomio de Weierstrass e, se mult(α) ≥ 0, ent˜ao g(x, y) ∈ K[[x]][y] ´e um Pseudo-polinˆomio.

Demonstra¸c˜ao:

i) Para mostrar que K((x))[α] = K((x1n)) vamos mostrar que: G0 = G(K((xn1))/K((x))[α]) = (1). .

Considere G = G(K((xn1))/K((x))).

Afirma¸c˜ao: G0 = {g ∈ G; g ∗ α = α}, onde ∗ ´e definida como em (2.1). De fato, seja σ ∈ G0. Ent˜ao σ : K((x1n)) −→ K((x

1

n)) e ´e K((x))[α]-automorfismo, isto ´e, σ(p) = p para todo p ∈ K((x))[α]. Em particular, σ fixa os elementos de K((x)) ⊂

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