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O ENSINO DA TEORIA DA CONTABILIDADE: Percepção dos alunos da Universidade de Brasília e uma comparação entre universidades brasileiras

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O ENSINO DA TEORIA DA CONTABILIDADE: Percepção dos alunos da Universidade de Brasília e uma comparação entre universidades brasileiras

Bárbara Ramos Borges Universidade de Brasília (UnB) Maiara Pereira Xavier Universidade de Brasília (UnB) Wendy Batista de Araujo Universidade de Brasília (UnB)

Resumo

É recente a história da disciplina Teoria Contábil nos currículos das universidades brasileiras, o que suscita questionamentos acerca de suas características e como os alunos do curso de ciências contábeis a percebem. O presente trabalho objetiva avaliar a percepção dos discentes de ciências contábeis da UnB quanto à disciplina, o impacto das normas contábeis nacionais e internacionais sobre o ensino contábil, além de verificar a realidade da disciplina nas dez melhores universidades do Brasil. Para tanto, foi aplicado um formulário online a 100 discentes aleatórios do curso de Ciências Contábeis na UnB. Os resultados mostraram uma percepção positiva dos alunos quanto à disciplina; no âmbito da normatização contábil, indicou deficiências na percepção dos alunos com relação ao próprio conhecimento e no contato entre normas contábeis em geral e disciplinas. Observou-se que há uma diversidade de cargas horárias, assim como de período de oferta. Os dados coletados revelam o estágio incipiente em que ainda se encontra a disciplina nas IES, diante da variedade de carga horária encontrada numa amostra de apenas dez universidades brasileiras e sugerem que a disciplina tem mais uma função de esclarecimento e consolidação de conceitos aprendidos anteriormente, em detrimento de um papel estrutural para o discente no início do curso.

Palavras-chave: Ensino contábil, Discentes de Ciências Contábeis, Teoria Contábil.

Método da Pesquisa: MET2 – Estudo de Caso/Campo.

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1 INTRODUÇÃO

A Contabilidade não é um campo de ciência e de estudo recente. Os primeiros indícios do uso de elementos contábeis remontam a 8000 anos antes de Cristo, em que a contabilidade primitiva era utilizada como forma de controle do patrimônio, seja na forma de tábuas de barros, de conchas do mar, ossos, ou de pedras entalhadas, onde se desenhava representativamente mercadorias. (2006, SCHMIDT apud MORAES JR. & NASCIMENTO, 2009)

Como afirmam Iudícibus, Martins e Carvalho (2005), antes da contabilidade ser ciência, o método de partidas dobradas e a escrituração eram sinônimos de contabilidade.

Cada civilização delineou elementos contábeis que visassem o atingimento de seus objetivos. Assim, foi surgindo gradualmente dentre as nações a necessidade de formulação de uma teoria que servisse de base para as práticas contábeis que vinham sendo desempenhadas.

A Teoria da Contabilidade na Europa e nos Estados Unidos foi se fundando através de debates relacionados a situações práticas (BAKER & BURLAUD, 2015). Com características de commom law, a contabilidade teve seu principal ímpeto na busca pela divulgação de demonstrações financeiras com o objetivo de atender às necessidades dos usuários da informação.

Por outro lado, a Contabilidade no Brasil, sob a influência da Contabilidade voltada ao

code law, passou a ter especial relevância na década de 70, tardiamente, quando comparada ao

resto do mundo. Nesse período, foram implementadas leis voltadas ao controle e cumprimento das exigências fiscais, bem como para a reforma bancária e para o fortalecimento do mercado de capitais. (NIYAMA & SILVA, 2008).

Não obstante, a contribuição europeia no que tange à escrituração e profissionalização, na década de 30, após a quebra da bolsa de valores nos EUA, a contabilidade como ciência evoluiu devido à contribuição da Escola Norte Americana (MORAES JR. & NASCIMENTO, 2009). Nessa mesma acepção, Niyama & Silva (2008) afirmam que a noção estrutural da contabilidade no Brasil foi fortalecida, nas décadas de 60 e 70, pela influência norte-americana no ensino da graduação em Ciências contábeis.

As características de desenvolvimento contábil de cada país influenciaram também o grau e o nível da educação contábil oferecida pelos cursos de Contabilidade. No Brasil, em decorrência do processo de expansão industrial e de aberturas de estabelecimentos comerciais e bancários na cidade de São Paulo, surgiu a Escola de Comércio Álvares Penteado, a primeira escola especializada no ensino da Contabilidade, criada em 1902, com os ensinamentos voltados à filosofia italiana. No entanto, o primeiro núcleo de pesquisa contábil nos moldes norte-americanos, munido de professores em dedicação integral à vida acadêmica, surgiu apenas em 1946, com a fundação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP e a instalação do curso de Ciências Contábeis e Atuariais.

Na década de 60, pela Lei nº. 4024, de 20. 12.1961, que deliberou sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e criou o Conselho Federal de Educação (CFE) foram fixados currículos mínimos para os cursos de ensino superior, inclusive no de Ciências Contábeis.

Morosamente, apenas em 1992, foi instituída a obrigatoriedade da disciplina de Teoria da Contabilidade nos cursos de nível superior de contabilidade pelo extinto Conselho Federal de Educação, por meio da Resolução nº 003, de 5 de outubro de 1992, com o objetivo de

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estimular a aquisição integrada de conhecimentos teóricos e práticos que permitam ao discente o adequado e competente exercício da profissão.

Segundo Lima Filho e Bruni (2012), o estudo da Teoria Contábil é de importância não apenas acadêmica, mas para todos aqueles que exerçam a contabilidade profissionalmente.

Dessa forma, o presente artigo objetiva verificar a percepção dos alunos da UnB acerca da disciplina de Teoria Contábil. A instrumentalização deste objetivo será construída utilizando-se da coleta de dados provenientes de questionário aplicado aos alunos daquela instituição. Para tal, este trabalho estrutura-se em 5 seções, incluída esta introdução. Inicialmente, apresenta-se o referencial teórico sobre a teoria da disciplina como campo de estudos e sobre a normatização e convergência contábil.

Posteriormente, apresenta-se a metodologia de pesquisa e, a partir das diferenças entre as grades curriculares das 10 primeiras universidades brasileiras do curso de Ciências Contábeis classificadas através do Ranking Universitário Folha (RUF) 2017, avalia-se o momento de inserção da disciplina dentro da estrutura do curso, bem como a percepção do grau de satisfação dos discentes com a maneira como a disciplina tem sido proposta, a fim de auxiliar professores e instituições de ensino a promover melhorias na didática e no conteúdo programático da disciplina.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo abordará primeiramente as normas nacionais e internacionais de contabilidade, e sua convergência, e depois versará sobre a teoria da contabilidade como disciplina e área de conhecimento própria.

2.1 Normatização e convergência contábil

Ao falar de teoria contábil, é inevitável defrontar-se com o tópico das legislações e normas que afetam a contabilidade. Conforme Niyama e Silva (2013), a contabilidade tem uma relação sinérgica com o ambiente em que se insere e no qual atua, de modo que aquela contribui para o ambiente em que está imerso da mesma forma que este suscita discussões e a influência, o que acarreta na formulação de leis e normas que regulem tal relação. Conforme Marassi, Fasolin e Klann (2014), “A normatização contábil tem por objetivo garantir que esses relatórios divulgados sejam compreensíveis, comparáveis, confiáveis e relevantes.”

A Contabilidade, portanto, é regida pelo Direito, através da legislação fiscal e societária, especialmente, e também pelas normas nacionais e internacionais de contabilidade. O Direito tem apresentado um papel de guia essencial aos profissionais da área contábil, principalmente antes do surgimento das normas contábeis.

Esse fato fez com que no Brasil a tradição code law se destacasse sobre a tradição

common law, como observaram Dantas, Rodrigues, Niyama e Mendes (2010), que notaram

ainda que tal tradição é observada no ensino da contabilidade. E de fato, há disciplinas nos currículos dos cursos de contabilidade de noções gerais de Direito, como Introdução ao Direito Público e Privado, e também disciplinas mais específicas, de ramos do Direito, como as disciplinas de Legislação Comercial, Social e Tributária, na Universidade de Brasília, foco deste trabalho.

As normas contábeis nacionais e internacionais, no escopo deste trabalho podem ser entendidas de modo mais geral, englobando convenções, regras, princípios e procedimentos.

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Tais normas, no ensino da contabilidade na UnB parecem estar diluídas, sendo apresentadas de forma mais contundente somente na disciplina de Teoria Contábil. A importância dessas normas, assim como suas atualizações e modificações, sobre a contabilidade é clara: na teoria, na prática, e, logicamente, também em seu ensino.

As normas contábeis surgiram principalmente por conta da necessidade de regular a divergência de interesses daqueles que fazem a contabilidade e daqueles que a utilizam. Outra razão subjacente é centralizar a emissão dessas normas e facilitar comparações, em face do fenômeno da globalização. A questão de centralizar a emissão das normas foi crucial nos EUA e no Brasil, por exemplo, onde diferentes organismos editavam normas sobre um mesmo assunto, que por vezes apresentava divergências.

A partir de 1970, no Brasil, a questão da normatização contábil tem ganhado cada vez mais força, sendo seu marco inicial os princípios contábeis editados pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), na Resolução nº 321/72, e pelo Banco Central (BC), na Circular nº 179/72 - até então o principal norte para os profissionais contábeis era a legislação tributária.

Atualmente o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), criado em 2005, é a principal fonte de normas contábeis no âmbito da convergência contábil, fenômeno resultante da globalização e da consequente internacionalização da contabilidade. Guimarães (2011) e Freire et al (2012) enfatizam o quão importante foram as leis 11.638/07 e 11.941/09 no sentido de promover o processo de convergência às normas internacionais no país, tendo o CPC parte especial nesse processo, na medida em que as normas que produz estão de acordo com as normas produzidas pelo International Accounting Standards Board (IASB).

Por volta de 1990, a importância do IASB, órgão independente do setor privado, sediado em Londres, do qual emana um conjunto de normas contábeis globais - as

International Financial Reporting Standards (IFRS) -, cresceu, assim como a do processo de

convergência dos padrões contábeis. A adoção pelo CPC do IASB como principal influência representou o começo da transição do code law para o common law, uma vez que com isso os princípios começaram a ganhar força sobre a prática contábil.

Não é escopo deste artigo dizer qual dessas tradições é a melhor ou mais vantajosa; o que é pertinente para esse trabalho é saber a relevância da convergência contábil na prática e no ensino contábil como um todo.

Conforme Dantas, Rodrigues, Niyama e Mendes (2010), “várias ações têm sido adotadas no Brasil, com vistas ao processo de convergência internacional, com a adoção dos padrões contábeis do IASB, que diferem substancialmente da prática contábil que historicamente vinha sendo adotada no país”. Assim, é imprescindível a um contador saber a legislação e as normas contábeis vigentes.

Esperanto et al. (2007) apud Marassi, Fasolin e Klann (2014) destacam a difícil adaptação do Brasil à convergência, sendo uma das causas a falta de capacitação dos profissionais em relação aos IFRS. Isso evidencia ainda mais o quão precípuo é avaliar se os cursos de ciências contábeis ofertados no Brasil, ao menos no que tange à disciplina de Teoria da Contabilidade, são satisfatórios.

2.2 O ensino da Teoria da Contabilidade no Brasil

A contabilidade demorou a pensar-se como teoria, em pesquisas e metodologias científicas (IUDÍCIBUS, 2009). Com a adesão brasileira às normas internacionais de

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contabilidade - o que gerou um aumento na subjetividade e a ênfase nas características qualitativas da informação contábil -, tornou-se necessário que os profissionais tivessem uma boa base teórica para que pudessem resolver problemas inéditos e complexos, que não estivessem previstos em normas (Borba et al, 2011). Nesse ínterim, surgiu a necessidade de um novo enquadramento das disciplinas nos cursos de Ciências Contábeis, dentre as quais se encontrava a de Teoria da Contabilidade (apud MARASSI et al, 2010).

A teoria contábil pode ser percebida sob diversas abordagens. As teorias normativa e positiva hoje são, talvez, as únicas candidatas à posição de teorias integrais da contabilidade. A Teoria Normativa apoia-se no dedutivismo e procura prescrever como a contabilidade “deveria ser” com base em postulados indiscutíveis. Já a Teoria Positiva, que surgiu na década de 60, apoia-se no indutivismo, a partir da descrição das razões pelas quais a contabilidade efetiva-se, como a contabilidade é, a fim de prever comportamentos futuros. Dessa forma, são estabelecidas hipóteses que devem ser testadas antes de se chegar a conclusões ou previsões de comportamento. (IUDÍCIBUS, 2009)

No Brasil, as IES têm autonomia para elaboração curricular e definição de política educacional, devendo, para tanto, observar as diretrizes definidas pela Resolução nº 10/2004 do Conselho Nacional de Educação do Ministério de Educação (MEC). Essa Resolução instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso de grau de Bacharel em Ciências Contábeis, a serem seguidas pelas IES no Brasil. A referida legislação enfatiza, em seu inciso II do art. 5º, a necessidade do ensino da Teoria da Contabilidade, cujo ensino, como já mencionado, havia sido tornado obrigatório nas IES em 1992. Além disso, a resolução corrobora a relevância da incorporação das normas contábeis internacionais a seu ensino, como se lê na íntegra:

““Art. 5º Os cursos de graduação em Ciências Contábeis, bacharelado, deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com a formação exigida pela Organização Mundial do Comércio e pelas peculiaridades das organizações governamentais [...] (grifos nossos)

II. Conteúdos de Formação Profissional: estudos específicos atinentes às Teorias da Contabilidade, incluindo as noções das atividades atuariais e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais, governamentais e não-governamentais, de auditorias, perícias, arbitragens e controladoria, com suas aplicações peculiares ao setor público e privado. ”(grifos nossos)

Não obstante a prescrição em resolução da obrigatoriedade da oferta da disciplina, não houve definição objetiva por parte do MEC a respeito da uniformização do programa analítico e a forma de oferta da disciplina. Desse modo, é possível haver variações quanto ao período do curso em que a disciplina é ofertada, bem como quanto à ênfase do conteúdo programático. No entanto, Iudícibus (2009) afirma categoricamente que o momento adequado para a oferta desta disciplina seja ao final do curso, em decorrência de os discentes já possuírem a bagagem prática necessária de tópicos que serão explicados pela Teoria.

Historicamente, e em especial no Brasil, o ensino da Contabilidade tem-se pautado prioritariamente pela prática e posterior aplicação do conteúdo teórico ao observado na prática.

Dentre os estudos sobre o assunto, destacamos o levantamento realizado por Cunha et

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Catarina (UDESC): a oferta é realizada em duas etapas, sendo a primeira na fase inicial do curso e abordando assuntos como evolução teórica, noções preliminares de contabilidade, perspectivas profissionais e usuários da informação contábil. A segunda fase é oferecida no sétimo período do curso, momento em que se abordam assuntos como metodologia e objetivos da contabilidade, núcleo fundamental da teoria contábil, natureza e reconhecimentos do ativo, passivo, patrimônio líquido, princípios contábeis segundo normas brasileiras. Tal experiência é uma tentativa de solucionar o impasse relativo ao melhor período de oferta da disciplina Teoria da Contabilidade.

Apesar das divergências quanto ao momento oportuno para a oferta da disciplina, o ensino da Teoria é de suma importância para os futuros profissionais da contabilidade, tendo em vista que permite o alinhamento de conhecimentos teóricos e práticos, proporcionando uma melhor compreensão da “causa e consequência” nas decisões contábeis.

Assim, no contexto do curso de Contabilidade, o ensino da Teoria busca subsidiar os discentes na compreensão das razões para o modo como a contabilidade tem sido realizada, e não apenas do modus operandi contábil. Dessa forma, para Iudícibus (2009) o estudo da teoria é capaz de fornecer capacidade preditiva aos graduandos de contabilidade no que concerne a um maior entendimento dos “porquês” no processo de tomada de decisão.

Ademais, segundo Madeira et al (2011), o estudo dessa disciplina desenvolve a capacidade de julgamento e proporciona a relação entre os conhecimentos práticos e teóricos, diminuindo o pragmatismo e aproximando o aluno da ciência e da pesquisa. Tornar os discentes do curso de contabilidade profissionais conscientes e aptos a inserirem-se no mercado de trabalho só é possível através do ensino da Teoria de Contabilidade, posto que a realidade somente pode ser explicada através de metodologias científicas.

2.3 Estudos anteriores

Sobre o assunto, Marassi et al (2013) examinaram uma amostra de 30 docentes em cada uma das 84 IEs selecionadas do Estado do Paraná para verificar as principais mudanças ocorridas no ensino da disciplina de Teoria da Contabilidade no Brasil, após o processo de convergência contábil internacional. Os dados mostraram que tal processo de convergência implicou em modificações e adaptações por parte dos docentes para o adequado ensino da disciplina analisada.

Borba et al (2011) realizaram uma pesquisa relacionada às ementas e bibliografias da disciplina Teoria da Contabilidade dentre 15 programas de mestrado no Brasil, de modo a relacionar o conteúdo proposto com livros de relevância sobre o tema. Ademais procurou-se analisar comparativamente a oferta da disciplina nos programas de mestrados brasileiros com os 10 primeiros programas de pós-graduação em contabilidade nos EUA. Os autores concluíram que existe um padrão no rol de temas de ensino da Teoria da Contabilidade pelos programas de mestrado no Brasil, ao tempo em que verificaram que os programas de mestrado norte-americanos apresentavam forte enfoque na contabilidade financeira voltada ao mercado de capitais, na evidenciação e normatização contábil, ofertando várias disciplinas sobre o tema. No entanto, percebeu-se baixa congruência de disciplinas sobre a Teoria da Contabilidade, posto que apenas três dos dez programas analisados ofereciam disciplinas específicas relativas ao assunto.

Ainda, Abreu et al (2003) verificaram as grades curriculares e os conteúdos programáticos da disciplina de Teoria de 24 universidades do Estado de Minas Gerais, a fim

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de verificar as similaridades e divergências de conteúdos entre esses programas de ensino. Os autores encontraram 53 conteúdos diferentes nos programas da disciplina, concluindo pela falta de uniformidade entre as universidades daquele Estado a respeito de quais conteúdos deveriam ser desenvolvidos ao longo do semestre para essa disciplina. Inferiu-se que a discrepante divergência entre os conteúdos pode ter sido resultado da falta de um modelo e de sólida bibliografia na formação dos docentes, em decorrência do fato de que muitos professores não tiveram essa disciplina como bagagem acadêmica em períodos de graduação.

No que se refere à adequação da disciplina no fluxo das grades curriculares, foram elaboradas pesquisas para se verificar o estágio do ensino da disciplina de Teoria da Contabilidade, em termos de carga horária, período, conteúdos e bibliografias utilizadas. Miranda et al (2008) analisou as grades curriculares de 97 IES e os conteúdos programáticos de 34 delas. Os resultados demonstraram que na maioria das IES a disciplina é oferecida em períodos finais do curso, com carga média de 4 créditos; há predominância na utilização de 4 bibliografias que vêm sendo utilizadas há alguns anos, sem grandes inovações nesse quesito.

3 PROCEDER METODOLÓGICO

A pesquisa caracteriza-se como descritiva de natureza qualitativa e quantitativa. De acordo com Gil (2010), no seu sentido mais comum, as pesquisas descritivas objetivam expor características de determinada população; podem também, na tentativa de identificar possíveis relações entre variáveis, buscar determinar a natureza dessas relações. Já quanto ao caráter qualitativo e quantitativo, Gonçalves e Meirelles (2004) explicitam que “na pesquisa qualitativa os dados são de natureza interpretativa e semântica, enquanto na pesquisa quantitativa os dados se representam por métricas quantitativas, tendo como elemento de apoio principal a linguagem matemática”.

As 10 primeiras universidades brasileiras do curso de ciências contábeis classificadas através do Ranking Universitário Folha (RUF) 2017 foram escolhidas como universo de estudo. O RUF é uma avaliação anual do ensino superior do Brasil feito pelo jornal Folha de São Paulo, desde 2012. No ranking estão todas as universidades brasileiras, públicas e privadas. São cinco os indicadores considerados para a sua elaboração: pesquisa, internacionalização, inovação, ensino e mercado. E os dados que compõem estes indicadores são coletados por uma equipe da Folha em bases de patentes brasileiras, de periódicos científicos, do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e em pesquisas nacionais de opinião feitas pelo Datafolha (RUF; FOLHA DE SÃO PAULO, 2017).

Os dados analisados foram coletados de fontes primárias e secundárias, neste caso, os sites das Instituições de Ensino Superior e os questionários aplicados aos alunos. A pesquisa teve início por meio do acesso ao sítio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para que fosse realizada a certificação de que todas as instituições do ranking RUF de fato ofertam o Curso de Ciências Contábeis. A partir da confirmação destas informações buscou-se os sites das instituições para localizar suas grades curriculares. Este levantamento procurou identificar a existência da disciplina de teoria da contabilidade, seu período de oferta e a sua carga horária.

Devido à impossibilidade de analisar a opinião dos alunos de todas as IES, optou-se por estudar uma amostra, em que a Universidade de Brasília foi a IES escolhida. Realizou-se uma coleta de dados por meio de um questionário constituído de 11 questões que foi

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respondido em anonimato por 100 alunos e ex-alunos do curso de ciências contábeis da UnB.

O questionário foi respondido por meio de página eletrônica

(https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScvUN7NLxWHbGgemgHmcEQL8GnGKq2Thvt

3RPEs7j-MgQXOXQ/closedform), criada no Google Docs, ferramenta do Google para criação

de formulários. Dessa forma, as respostas dos discentes alimentavam automaticamente o banco de dados da pesquisa.

O questionário compõe-se de dez questões fechadas e uma questão aberta. As questões fechadas são subdivididas entre as que utilizam como base uma escala semântica de níveis, onde o respondente deve selecionar a alternativa mais próxima àquela com que possui maior identificação e questões de múltipla escolha, onde apenas uma das opções deve ser marcada. Já na questão do tipo aberta o respondente tem liberdade de expressar ou omitir sua opinião. Para análise das questões fechadas utilizou-se recursos estatísticos com auxílio de planilhas do Microsoft Excel®; as questões abertas, por sua vez foram avaliadas por meio da análise de conteúdo.

O Quadro 1 apresenta as questões aplicadas no questionário na ordem em que foram aplicadas.

Questões Classificação

(1) Em qual semestre você está? Fechada

(2) Já cursou a disciplina Teoria Contábil? Fechada

(3) De 1 a 5, qual o grau de importância dessa disciplina para você? (sendo 0 fraco e 5 forte)

Fechada

(4)Para você, a teoria é relevante para dar ao contador uma base e guiar a prática contábil como um todo?

Fechada

(5) Qual sua opinião sobre o posicionamento dessa disciplina no fluxo? Fechada (6) Para você, a disciplina, da forma como é hoje, 60 horas-aula, é

suficiente ou seria melhor dividi-la em módulos, para aprofundar mais o conteúdo?

Fechada

(7) Sua percepção acerca da contabilidade e sua postura no curso, após a disciplina:

Fechada

(8) Seu conhecimento sobre: CPC, CFC, CVM, Ibracon é: Fechada (9) Seu conhecimento sobre: IASB, IFRS, Fasb, USGAAP, AICPA, é: Fechada (10) De 0 (fraco) a 5 (forte), qual o nível de interação das disciplinas, ao

longo do curso, com organismos internacionais de contabilidade e seus entendimentos, normas, princípios?

Fechada

(11) Deixe aqui seus comentários, críticas ou sugestões com relação à disciplina Teoria Contábil e seu impacto no curso de Ciências Contábeis.

Aberta

Fonte: Dados da pesquisa

A Tabela 1 evidencia as universidades que compõem a amostra em conformidade ao seu posicionamento no Ranking.

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Ranking Universidades

1º Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2º Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 3º Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)

4º Universidade de São Paulo (USP) 5º Universidade Federal do Paraná (UFPR) 6º Universidade de Brasília (UNB)

7º Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 8º Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 9º Universidade do Vale do Rio Dos Sinos (UNISINOS) 10º Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Tabela1. Universidades que constituem a amostra em estudo

4 RESULTADOS, ANÁLISES E DISCUSSÃO

4.1 Análise do questionário aplicado aos alunos da Universidade de Brasília 4.1.1 Detalhamento da amostra em que foi aplicado o questionário

4.1.1.1 Quantidade de respondentes e semestre correspondente

Figura 1: Relação entre quantitativo de respondentes ao questionário e semestre correspondente É importante destacar que uma amostra válida não é simplesmente o conjunto de respostas que adquirimos ao aplicarmos um questionário. Uma amostra é a representação menor de um todo maior, a fim de que possam ser realizadas pesquisas e inferências sobre o universo em estudo. Assim, definir o universo de estudo, bem como a amostra representativa desse todo é a base para que os resultados alcançados sejam considerados legítimos. (Kitchenham e Pfleeger, 2002). Desta feita, estatisticamente, um conjunto de respostas

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somente pode ser considerado como amostra válida se for obtido por um processo de amostragem aleatório.

No artigo em estudo, foi utilizado o método de amostragem aleatória simples, em que obtivemos 100 (100%) questionários respondidos daqueles graduandos ou graduados do curso de Ciências Contábeis da UnB.

Verificamos a relação entre o quantitativo de participantes da pesquisa com o semestre em que cada estudante estava cursando. Para se estabelecer correspondência com o fluxo regular do curso de Ciências Contábeis dessa instituição, criamos um intervalo único para representar aqueles respondentes que estão cursando o 10° semestre ou responderam estar em semestres além. Assim, a coordenada 10° semestre passa a representar o quantitativo de 4 respondentes que afirmaram estar no 11°, 12°,13° e último semestre, além daqueles que efetivamente cursavam o 10° período do curso.

Conforme gráfico acima, percebe-se que grande parte do público participante (91 respondentes) se encontra em semestre igual ou superior ao 5º. Tal informação é de suma relevância a fim de dar representatividade e significância aos dados do questionário, tendo em vista que a disciplina Teoria da Contabilidade, foco do escopo de análise desse artigo, é ofertada no 5º semestre por essa instituição.

Destaque-se que 32% dos respondentes cursam atualmente o 5° semestre, seguidos de 19% que se encontram no 7° período do fluxo, enquanto 2 participantes da pesquisa já são bacharéis em contabilidade e nenhum dos respondentes está cursando o 1° semestre.

4.1.1.2 Quantidade de respondentes em relação à disciplina de Teoria da Contabilidade na UnB

Cursou 56

Não cursou 13 Está cursando 31 Tabela 1: Perfil dos respondentes

Dos 100 respondentes do questionário, apenas 87 tiveram contato com a disciplina de Teoria da contabilidade, seja por estarem cursando a disciplina no momento da pesquisa (31) ou por já terem cursado anteriormente (56). Treze discentes responderam que ainda não cursaram a disciplina, assim, pode-se inferir que 9 deles correspondem àqueles respondentes que não estão ainda no 5º semestre do curso, período em que a disciplina é ofertada, por já terem sido previamente ofertadas disciplinas de pré-requisitos.

Portanto, como já exposto, na análise de alguns dados leva-se em consideração apenas aqueles 87 questionários supracitados.

4.1.2 Análise da Disciplina Teoria contábil

Para verificar o grau de importância que os alunos atribuem à disciplina Teoria Contábil utilizou-se a escala Likert de cinco pontos. A Figura X apresenta os resultados.

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Figura 2. Importância da disciplina Teoria Contábil

A Teoria da Contabilidade é a base para o desenvolvimento de todo o saber no âmbito da contabilidade. Por isso, essa disciplina deve fazer parte de todas as matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis, uma vez que limitar o ensino à prática é tão ineficaz quanto limitá-lo à teoria. É necessário dominar a técnica e compreender o porquê dos procedimentos. Para Peleias (2006), a união das técnicas de contabilidade aos conhecimentos das Ciências Contábeis forma um profissional capaz de analisar, questionar, aprimorar seus conhecimentos, explorar possibilidades e propor soluções. A grande maioria dos estudantes concorda com este posicionamento, 98% deles acreditam que a Teoria Contabilidade exerce grande relevância para dar base e guiar a prática contábil do contador.

Na UnB, a disciplina Teoria da Contabilidade é ofertada no 5º semestre. Ao serem questionados sobre o momento que consideram como mais adequado para a oferta da disciplina, 49% dos alunos consideram que ela deveria ser ofertada antes do 5º semestre, 43% acreditam que a disciplina é ofertada no semestre ideal e apenas 8% entendem que o melhor seria ofertar a disciplina após o 5º semestre.

Quanto à carga horária, que atualmente é de 60 horas, as opiniões se dividem. Enquanto 56% dos alunos acreditam que para possibilitar discussões mais profundas e melhor aproveitamento da disciplina o ideal seria dividi-la em módulos e aumentar sua carga horária, os outros 44% acreditam que a quantidade de horas praticadas atualmente está ideal e é suficiente para abarcar todo o arcabouço teórico necessário a um contador.

4.1.3 Percepção e postura dos respondentes em relação ao curso após terem cursado a disciplina de Teoria da Contabilidade

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Com o intuito de saber o impacto da disciplina de Teoria da Contabilidade sobre a percepção dos alunos e sua postura geral em relação ao curso, foi feita uma pergunta com três alternativas, a saber: (1) Mudou, agora me identifico mais como curso, (2) Mudou, já não me identifico tanto com o curso e (3) Permanece a mesma. As alternativas mais escolhidas foram 1 e 3: para aproximadamente 50,57% dos respondentes, a disciplina serviu como um propulsor, melhorando a forma como eles percebem o curso e sua afinidade com o mesmo; cerca de 44,83% alegou que cursar a disciplina de teoria contábil não influenciou em nada sua percepção e postura com relação ao curso de graduação, enquanto que para 4,60% a disciplina atuou de forma a mostrar uma não identificação com o curso. É importante mencionar que foram computadas apenas as respostas daqueles que estão cursando ou cursaram a disciplina de Teoria Contábil, isto é, um total de 87 respondentes.

Os resultados observados permitem depreender que, no geral, a disciplina de teoria de contabilidade tem um papel confirmatório para a maioria dos discentes, fazendo com que eles se sintam ainda mais identificados com o curso como um todo.

4.1.4 Percepção dos respondentes em relação à normatização e convergência contábil

Figura 4: Porcentagens dos respondentes e sua percepção quanto à normatização e convergência contábil

A fim de saber o quão seguros os respondentes estão com relação a seu conhecimento acerca das fontes das normas contábeis nacionais e internacionais, foram feitas duas perguntas, uma voltada às normas nacionais e outra às normas internacionais. É importante esclarecer que foram considerados apenas os respondentes que estão cursando ou cursaram a disciplina de Teoria Contábil, ou seja, um total de 87 respondentes.

Quando a pergunta foi em relação à normatização contábil nacional, 68 percebem seus conhecimentos acerca do CPC, CFC, CVM e Ibracon como satisfatórios, enquanto 15 veem seu conhecimento como ruim e apenas 4 como excelente.

Já quando a pergunta foi em relação à normatização contábil internacional, 62 consideram seu conhecimento sobre IASB, IFRS, Fasb, USGAAP e AICPA como satisfatório, enquanto 20 percebem seu conhecimento como ruim e apenas 5 como excelente.

As proporções observadas revelam que grande parte dos respondentes, mesmo estando cursando ou já tendo cursado “Teoria Contábil”, não se sente confiante o suficiente para marcar a opção “excelente”. Comparando os resultados das perguntas, na questão de normas internacionais, houve uma resposta “excelente” a mais que a de normas nacionais. Já com relação ao campo “ruim”, no entanto, a quantidade de respostas foi maior nas normas

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internacionais. Quanto à alternativa “satisfatório”, as normas nacionais receberam 6 respostas a mais que as normas internacionais.

4.1.5 Percepção dos respondentes em relação ao nível de interação entre as disciplinas do curso e normatização e convergência contábil

Figura 5: Proporção da percepção dos respondentes em relação ao nível de interação entre disciplinas do curso e normatização e convergência contábil

Essa questão pedia que os respondentes, considerados em sua totalidade, classificassem o quão próximas as disciplinas do curso de ciências contábeis estão das normas nacionais e internacionais. A escala variava de 1 a 5, do mais fraco ao mais forte nível de interação entre as variáveis em questão.

Com o gráfico acima, percebe-se que grande parte dos respondentes, 49%, ao se depararem com a pergunta, optou por uma alternativa neutra, que foi a de número 3. Os outros 51% se distribuíram da seguinte forma: 8% considerou o nível baixo, optando pela alternativa 1; 17% optou pela alternativa 2, ou seja, considerou o nível de interação um pouco acima do mínimo; 16% considerou o nível de interação quase alto, optando pelo 4, e 10% considerou o nível alto, alternativa 5.

Assim, os resultados observados permitem dizer que a percepção dos alunos pode ser melhorada no quesito em questão, uma vez que apenas 26% acha tal nível de interação satisfatório. As disciplinas do curso de contabilidade podem, e devem buscar mostrar aos discentes como tais normas influenciam a matéria estudada assim como encorajar os estudantes a procurar entendê-las e aplicá-las.

Um estudo semelhante foi o de Niyama, Mendonça e Aquino (2007), em que fizeram a seguinte observação: “a disciplina Teoria da Contabilidade não tem oferecido, nas IES pesquisadas, um adequado arcabouço teórico sobre contabilidade internacional.” Eles concluíram que no âmbito acadêmico a contabilidade internacional ainda era um assunto a ser melhor entendido e desenvolvido. Assim, a pesquisa deste trabalho contribui para essa visão na medida em que, indiretamente, os respondentes consideraram que a interação entre disciplinas e normas contábeis, inclusive as internacionais, pode ser aprimorada.

4.1.6 Teoria Contábil e seu impacto no curso de Ciências Contábeis

Ao final do questionário abriu-se espaço para que os estudantes tecessem considerações sobre a forma como a disciplina de Teoria da Contabilidade é ministrada. Foram obtidos 18 comentários a respeito do assunto, excluindo-se uma resposta “sem comentários”.

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Destaca-se que em 6 comentários (33%) foi sugerido que a referida disciplina seja dividida em módulos, de modo que o conteúdo programático possa ser ministrado com maior profundidade. Por outro lado, 2 (11%) respondentes sugeriram que a disciplina, por subsidiar o pensamento contábil-financeiro e ser a base dos reconhecimentos contábeis, deva ser ofertada nos primeiros períodos do fluxo, antes da oferta dos módulos da disciplina de Contabilidade Geral. Acreditam, assim, que a imersão inicial em tópicos abordados pela disciplina poderia fornecer aos discentes conhecimento prévio e adequado para o entendimento mais sólido das regulações contábeis e dos órgãos envolvidos neste processo, além de fornecer subsídios para o aprofundamento em temas de outras disciplinas do curso.

Nota-se, também, que os estudantes levantaram o debate da interação dos próprios docentes com a disciplina e da importância que eles dão a ela, tendo em vista que o quadro de professores que ministram a disciplina é recorrentemente o mesmo.

As demais sugestões dividiram-se entre apontamentos como: a necessária promoção da maior interação entre a teoria e a prática contábil e de momentos de debate e reflexão, em sala de aula, sobre a aplicabilidade das normas, bem como a discussão de resultados de pesquisas elaboradas sobre os temas objetos de estudos na disciplina.

Suscitou-se, ainda, que a disciplina poderia ter seu conteúdo programático voltado para o estudo dos CPCs e de suas atualizações, pois assim atenderia melhor a rotina profissional do contador. Sobre as normas e orientações contábeis, Iudícibus (2008) afirma que a característica que define o estágio atual da Contabilidade no Brasil é o fato de que a qualidade das normas contábeis elaboradas pelos órgãos governamentais é superior à qualidade média atual dos profissionais que têm de implementar essa norma. Assim, embora o estudo dos CPCs faça parte do conteúdo programático de outras disciplinas, consideramos válida e pertinente a sugestão de estudo mais profundo e atualizado.

4.2 Análise das Grades Curriculares

Na análise das 10 estruturas curriculares localizadas observou-se que, em relação ao período do curso em que a disciplina Teoria da contabilidade é ofertada, existe uma maior concentração no período final do curso: cerca de 81,5% das IES oferecem a disciplina na segunda metade do curso; somente 18,5% das IES oferecem a disciplina na primeira metade. O resumo das principais informações coletadas sobre período de oferta está exposto na tabela 2.

Período de oferta % total

1º ano 9,25%

2º ano 9,25%

3º ano 45,25%

4º ano 36,25%

Tabela2: Período de oferta das disciplinas de teoria da contabilidade

Ao observar a Tabela 3, nota-se que no que diz respeito à carga horária destinada à disciplina de Teoria da Contabilidade, há uma grande variedade.

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Carga horária % das universidades 30 horas 10% 60 horas 40% 68 horas 20% 72 horas 10% 120 horas 20%

Tabela3:Carga destinada às disciplinas de Teoria da Contabilidade

Cerca de 40% das IES oferecem a disciplina com carga de horária de 60 horas, dentre elas, a Universidade de Brasília (UnB). A Universidade de São Paulo (USP) é a IES que oferta a disciplina com menor carga horária, ela é ministrada em 30 horas. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Universidade Federal do Paraná (UFPR) a disciplina é ministrada com a maior carga horária, sendo dividida em 2 semestres com carga horária total de 120 horas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi desenvolvido com o propósito de identificar a percepção dos alunos do curso de Ciências Contábeis da UnB acerca da disciplina Teoria Contábil. Para isso, foi realizado um questionário que contou com a colaboração de 98 alunos e 2 ex-alunos do curso. Porém, houve uma restrição quanto aos alunos respondentes, 13 deles ainda não haviam cursado a disciplina, dessa forma, em perguntas específicas para alunos que já cursaram ou estavam cursando a disciplina, utilizou-se apenas suas 87 respostas.

Os resultados permitiram constatar que 98% dos alunos consideram que uma disciplina específica de teoria da contabilidade na graduação é de suma importância para guiar e basear a prática contábil no exercício futuro de sua profissão; apenas 2% não estão de acordo e não a consideram importante.

Quando questionados a respeito do momento em que se oferta a disciplina, 49% dos alunos consideram que a ela deveria ser ofertada antes do 5º semestre, 43% acreditam que a disciplina é ofertada no semestre ideal e apenas 8% entendem que o melhor seria ofertar a disciplina após o 5º semestre. Na questão aberta do questionário, 2 respondentes sugeriram que ela fosse ofertada nos primeiros semestres do curso.

A questão da carga horária dividiu opiniões, 56% dos alunos acreditam que para possibilitar discussões mais profundas e um melhor aproveitamento da disciplina o ideal seria dividi-la em módulos e aumentar sua carga horária, que atualmente é de 60 horas. Os outros 44% acreditam que a quantidade de horas praticadas está ideal e é suficiente para abarcar todo o arcabouço teórico necessário a um contador. Tal resultado encontra reverberação nas considerações apresentadas pelos alunos ao final do questionário, de 18 comentários, 6 sugeriam que a disciplina fosse dividida em módulos.

Considerando apenas a amostra dos 87% dos alunos que já cursaram ou estão cursando a disciplina, buscou-se analisar sua percepção e postura geral em relação ao curso após contato com a disciplina de Teoria da Contabilidade. Para 50,57% ela serviu como um

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impulso, melhorando a forma como eles percebem o curso e sua afinidade com o mesmo; já 44,83% dos respondentes não se sentiram influenciados e alegaram que cursar a disciplina de teoria contábil não alterou em nada sua percepção e postura com relação ao curso; por fim, para 4,6% a disciplina atuou de forma a mostrar uma não identificação com o curso.

As fontes das normas contábeis nacionais e internacionais são objeto de estudo na disciplina Teoria Contábil. Ainda considerando apenas o percentual de alunos que já tiveram contato com a disciplina, em relação ao conhecimento relacionado à normatização contábil nacional, 68% percebe seus conhecimentos acerca do CPC, CFC, CVM e Ibracon como satisfatórios, enquanto 15% vê seu conhecimento como ruim e apenas 4% como excelente. Quanto à normatização contábil internacional, 62% considera seu conhecimento sobre IASB, IFRS, Fasb, USGAAP e AICPA como satisfatório, enquanto 20% percebe seu conhecimento como ruim e apenas 5% como excelente.

Ademais, a fim de promover comparações, analisou-se a matriz curricular das 10 instituições de ensino superior que segundo pesquisa do Ranking Universitário Folha (RUF) se destacaram no ensino da contabilidade em 2017. Observou-se que as IES oferecem a disciplina Teoria Contábil em momentos distintos e com diferenças na carga horária. De acordo com a literatura, esses fatores podem influenciar na aprendizagem dos alunos.

Por fim, espera-se que este trabalho contribua para uma ampliação das discussões sobre o tema e lança-se o desafio de realizar pesquisas complementares, que avaliem o posicionamento dos professores e coordenadores do Curso de Ciências Contábeis da UnB sobre pontos críticos analisados neste trabalho. Reconhece-se a limitação da pesquisa, em virtude do número restrito da população analisada, e propõe-se pesquisas futuras que ampliem a amostra pesquisada e incluam na população os alunos de outras IES, uma vez que o presente estudo se limitou aos alunos da UnB.

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