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Autorrepresentações de Jovens do Campo: um estudo da juventude da zona

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Academic year: 2021

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I SEMINÁRIO NACIONAL: FAMÍLIA E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL

GT 1- Família e políticas públicas

Autorrepresentações de Jovens do Campo: um estudo da juventude da zona

rural Cajuri-MG

1. INTRODUÇÃO

Os estudos que se propõem a analisar os jovens têm apontado para o domínio na utilização de uma concepção naturalizada de juventude. Isso quer dizer uma normatização do ser jovem, pautada no modelo classe média urbana, e uma consequente desconsideração das diversas formas de subjetivação que perpassam os distintos contextos.

A relação entre os jovens do campo e seu processo de transição para a cidade se apresenta como um importante elemento para se refletir sobre como estes se autorrepresentam, em um contexto de relação entre urbano/rural. Já que é nessa trama entre cultura rural e urbana, nos limites e possibilidades que cada um desses contextos apresentam, somado a lógica da desvalorização social do modo de vida rural no discurso dominante, que a juventude se vê representada socialmente constituindo sua autoimagem.

Assim, o presente estudo, vinculado à pesquisa de mestrado intitulada: “Concepções de jovens do campo acerca de si mesmos: um estudo sobre a subjetividade dos jovens de Cajuri-MG”, em andamento pelo Departamento de Economia Doméstica, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), propõe apresentar seus resultados preliminares atrelados ao objetivo de refletir sobre as autorrepresentações da juventude do campo.

Para tanto, foram utilizados entrevistas semi-estruturadas, aplicadas individualmente, e a técnica de grupo focal. Tem-se como público alvo os jovens da cidade de Cajuri-MG, que residem no campo, mas estudam na cidade.

Espera-se que os resultados ampliem o conhecimento sobre a juventude do campo enquanto uma categoria que poucas vezes é alvo de políticas públicas, pois tendem a desconsiderar as singularidades deste público (WEISHEIMER, 2005). Concomitantemente, que favoreça novas reflexões sobre a juventude rural, principalmente por parte das instituições que interferem

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diretamente no bem estar deste público, como a família, a escola e o Estado, enquanto formulador de políticas públicas.

Compreende-se que um estudo qualitativo sobre o tema pode ser um importante instrumento para auxiliar na elaboração de políticas públicas que atendam à real necessidade deles.

Como embasamento teórico, optou-se pela Teoria das Representações Sociais (TRS), pois essa favorece a compreensão de como um grupo elabora sua visão sobre si mesmo.

2. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A Teoria das Representações Sociais, elaborada por Serge Moscovici, tem por finalidade entender como a cultura se apropriava do conhecimento científico. Na definição de Representações Sociais (RS), o autor afirma que é uma espécie de pensamento do senso comum, em outras palavras, um conhecimento da vida cotidiana, que engloba fatores individuais, cognitivos, afetivos, sociais, culturais e são transmitidas através da comunicação. Construído nas relações sociais, as TRS tem como objetivo tornar o não familiar, familiar, demarcando elaborações de novos elementos a uma realidade e maneiras pelas quais o indivíduo age sobre ela (a realidade).

Jodelet (2009), importante expoente nos estudos sobre a Teoria das Representações Sociais e seguidora de Moscovici, contribui com uma definição de TRS como demarcadora “dos modos que os sujeitos possuem de ver, pensar, conhecer, sentir e interpretar seu modo de vida e seu estar no mundo têm um papel indiscutível na orientação e na reorientação das práticas” (p. 695). Assim, delimitam identidades pessoais e visões grupais.

Segundo Moscovici (2007) há dois processos formadores das RS, a ancoragem e a objetivação. Esta última é a forma pela qual é dada materialidade a uma concepção abstrata sobre um objeto, dando sentido e naturalizando-a. Enquanto que a ancoragem fornece um contexto que ofereça compreensão a este objeto através da integração cognitiva dele às representações já existentes.

Para Jodelet (2009), a Psicologia Social e a Teoria das Representações possibilitou uma retomada dos estudos sobre o sujeito, não mais visto pela ótica individual, mas ativo, que inter-relaciona individualidade e historicidade na sua constituição, tendo assim um caráter subjetivo. O indivíduo, então, não somente interioriza as RS, subjetivando-se, mas a constrói, tornando-se agente subjetivador. A partir dessa perspectiva, o tópico a seguir apresenta o caminho metodológico utilizado nesta pesquisa.

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O presente estudo foi realizado com jovens (15 aos 29 anos), oriundos zona rural de Cajuri-MG, mas que estudam na cidade sede. Para concretização deste estudo, utilizou-se de uma abordagem qualitativa, a ser realizada em duas etapas: 1- Entrevista semiestruturada, que teve como critério de seleção o de amostragem por saturação. 2- Grupo Focal, no qual participaram 11 jovens.

O grupo focal, segundo Sá (1998) simula as conversas da vida cotidiana (grandes transmissoras das representações sociais), e nesse sentido, fazem surgir conteúdos vinculados às percepções sobre um determinado objeto.

Por fim, os dados foram analisados através da técnica de Análise de Conteúdo, de Bardin.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tratando-se de uma análise preliminar, apresentam-se os resultados referentes ao grupo focal, que teve a participação de 11 jovens, com idade entre 15 a 17 anos. Todos são moradores da zona rural da cidade de Cajuri-MG e estudantes do ensino médio em escolas da cidade.

A partir da análise de conteúdo, considerando o tema da autorrepresentação, emergiram três categorias: juventude como etapa de experimentação; consciência do paradoxo entre o que é ser jovem e a representação midiática; percepção do jovem do campo enquanto um grupo excluído nas relações interpessoais na cidade.

4.1 Juventude como etapa de experimentação

Verificou-se durante o grupo focal a recorrência de uma representação de juventude do campo ancoradas na ideia dela como uma etapa de vivenciar novas experiências de maneira que os erros são aceitos socialmente. O participante 1 afirma que ser jovem é: “experimentar as coisas, ter novas experiências, é errar para depois tentar acertar”; em concordância, o participante 3 disse que é uma fase de “experimentar coisas boas, gozar da vida e pronto. Pode errar, é com os erros que a gente aprende”.

Ozella (2003) e Bock (2004) apontam que a ideia da juventude enquanto um período de crise, sustenta a imagem hegemônica de que ser jovem é necessariamente um período confusão de identidade, rebeldia, indecisões, conflitos, etc. Isso está atrelado a uma perspectiva biologizante dessa etapa de vida que, percorrendo o senso comum, tende a validar esse período como passível de erro e experimentações. Essa perspectiva desconsidera as diversas condições juvenis.

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Ao apresentar duas figuras do Chico Bento, uma delas com ele criança, trabalhando no seu local de origem (rural), e outra jovem, quando o mesmo se insere nos estudos em uma universidade na cidade, os participantes revelaram conhecer o estigma da figura do sujeito do campo. De acordo com participante 8 a mídia, em acordo com a figura 1 apresentada, divulga uma imagem do sujeito do campo como sendo “uma pessoa pobre, que anda descalço, que

fala muito errado”. Para o participante 1 é “uma imagem ruim e que não condiz com o que a gente vê lá [no campo]”. Ao apresentar a figura 2, o participante 2 disse que a mudança da aparência do Chico Bento foi para: “se encaixar no grupo, da cidade... ir mudando a aparência”.

Essas percepções apontam para uma representação midiática (quadrinhos, programa de TV, etc) que difere da realidade do campo e da autorrepresentação que a juventude desse contexto tem sobre si mesmo.

Bento (2009) critica a forma pela qual a mídia constrói a imagem do sujeito do campo, de maneira estigmatizada que difere da realidade vivenciada por eles.

4.3 Percepção do jovem do campo enquanto um grupo excluído nas relações interpessoais na cidade

Os participantes denotaram sua exclusão no contexto das relações urbanas, percebidas através de apelidos, chacotas, desprezo, dentre outros. O participante 4, referindo-se as relações estabelecidas na escola da cidade, afirma que:

“Aqui [na cidade] ainda vê umas meninas que olham pra outra com olhar de abuso, se acham superior, as daqui com as de Paraguai é o que mais vê, só que tem umas que eu acho que nem percebe isso”.

Em concordância o participante 3 expressa como o grupo de jovens do campo não se sentem parte do contexto de relações da escola na cidade: “Preferimos ficar no grupo dos meninos da

roça”.

Isso revela que o espaço escolar, que deveria integrar as diversidades, valorizando as realidades distintas, acaba por ser um espaço reprodutor de exclusão. Segundo ARROYO apud ALVES E DAYRELL (2015) o modelo de juventude difundido nas escolas é visto como culto e civilizado, enquanto que o que dele difere é tido como irracional, ignorante.

Nesse sentido, o jovem do campo se percebe como excluído, de maneira que aquele contexto é por ele negado.

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Percebe-se que a autorrepresentação dos jovens da zona rural de Cajuri, neste estudo, está atrelada a uma estigmatização deles pelo contexto social (mídias, escola, etc). Ao mesmo tempo em que eles entendem que a imagem que se faz deles não condiz com a sua realidade e, por isso, muitas vezes pode dificultar suas relações interpessoais no espaço urbano, são direcionados a almejar um modo de viver a juventude pautado no modelo urbano.

A partir dessas reflexões, entende-se a importância de políticas públicas de valorização do campo. E no contexto escolar, produzir medidas de integração e reconhecimento das diversidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, M. Z.; DAYRELL, J. T.. Transnacionalismo, juventude rural e a busca de reconhecimento. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. spe, p. 1455-1471, 2015. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artext&pid=S1517-9702201500101455&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 de Maio de 2016.

BENTO, F. Chico Bento: A Representação do ‘Caipira’ nos Desenhos Animados e Sua Veiculação no Espaço Escolar. IX Congresso Nacional de Educação, PUC-PR, 2009. Acesso 12 de Set. 2017.

BOCK, A. M. B. A perspectiva histórica da subjetividade: uma exigência para la psicologia atual. Psicologia para América Latina, 2004. Disponível em:

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2004000100002&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1870-350X. Acesso: 11 de Julho, 2016.

JODELET, D. O movimento de retorno ao sujeito e a abordagem das representações sociais.

Sociologia e Estado. v. 24, n. 3, 2009, pp.679-712. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922009000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso: 15 Set. de 2016.

MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social (5a ed.). Petrópolis, RJ: Vozes. 2007.

OZELLA, S. Adolescências Construídas: a visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2003.

SÁ, C. P. de. A construção do objeto de pesquisa em Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.

WEISHEIMER, N. Juventudes Rurais: Mapa de Estudos Recentes. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005.

Referências

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