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Mesa 5: ARQUITETURA E CIDADE: PRODUÇÃO E PRESERVAÇÃO

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Academic year: 2021

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Mesa 5: ARQUITETURA E CIDADE: PRODUÇÃO E PRESERVAÇÃO Apresentação: Renato Luiz Sobral Anelli (USP)

O arranha-céu e o Rio de Janeiro. Fragmento de um debate sobre arquitetura, urbanismo, paisagem e mercado na enquete de O Paiz (1928) - Clevio Dheivas Nobre Rabelo (USP)

O arquiteto e a produção da cidade na experiência de Jacques Pilon (1930-1940) - Joana Mello de Carvalho e Silva (USP)

Planejamento estatal, política governamental e território em São Paulo (1957 - 1962): leitura a partir da produção de prédios públicos do IPESP - André Augusto de Almeida Alves (UEM)

Aldo Rossi: a arquitetura e a cidade entrelaçadas pela tensão entre permanência e transformação - Eneida de Almeida (USJT)

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A PRODUÇÃO DA ARQUITETURA NA TRANSFORMAÇÃO DA CIDADE Renato Luiz Sobral Anelli (USP) A amplitude e a diversidade da produção de pesquisas acadêmicas vêm desafiando as comissões organizadoras de seminários e encontros a buscar estratégias que induzam ao debate intelectual entre os palestrantes e a platéia, um dos poucos atrativos dos encontros presenciais que ainda não foi substituído pelos atuais meios de comunicação à distância. É dentro desse esforço que se insere a crítica do coordenador da mesa aos trabalhos selecionados, solicitada pela comissão organizadora deste SHCU aos membros da comissão científica.

Os quatro trabalhos da mesa “Arquitetura e Cidade: Produção e Preservação” cobrem um leque de objetos bastante amplo de temas. Dois trabalhos se dedicam ao processo de modernização das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo através do estudo da arquitetura dos seus edifícios altos. O terceiro enfoca a modernização das cidades do estado de São Paulo discutindo a estratégia de implantação de redes de equipamentos públicos. O quarto revisa a concepção rossiana da Arquitetura da Cidade três décadas após a sua veiculação no Brasil.

Em comum aos quatro trabalhos encontra-se a atenção a diferentes conceitos e métodos de análise da produção da arquitetura na configuração da cidade. Ou melhor, o interesse em entender como a cidade se produz e se transforma através da sua arquitetura. Seja ela promovida pelo mercado imobiliário, seja ela resultado do planejamento público das redes de equipamentos de serviço, seja ela fruto de permanências tipológicas de origem cultural e mnemônica.

Para estes autores, as produções da cidade e da arquitetura são indissociáveis, ainda que cheguem a tal posição a partir de enfoques diferentes.

Nos dois trabalhos sobre a verticalização das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo é claro papel da produção da arquitetura na configuração urbana. Também a reflexão sobre a teoria elaborada por Aldo Rossi apresenta uma visão específica dessa relação. Apesar de fazê-lo de modo menos explícito mediado pelas teorias do planejamento urbano, também a reflexão sobre a rede de equipamentos públicos construída no governo Carvalho Pinto leva a essa posição. Seria impossível pensar a arquitetura escolar paulista, por exemplo, desvinculada do modo pelo qual o planejamento urbano e regional definiu suas estratégias de ação frente às condições de crescimento desordenado e acelerado pela qual passavam as cidades do estado. Procuraremos aprofundar nossa análise dos quatro trabalhos a partir desse ponto de vista.

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O trabalho de Rabelo traz ao presente um debate de suma importância para entendermos o processo de verticalização do Rio de Janeiro. Trata-se de uma enquete realizada por um jornal cotidiano carioca entre engenheiros e arquitetos em 1928, realizada com o objetivo de conhecer e divulgar o entendimento dos profissionais sobre o papel que o arranha-céu poderia desempenhar no desenvolvimento da cidade. Ao optar por priorizar a apresentação dos argumentos dos profissionais entrevistados frente à sua contextualização, o autor nos fornece um rico material que permite diversas considerações.

As palavras dos entrevistados revelam, por exemplo, um inesperado grau de conhecimento sobre o fenômeno da verticalização urbana em outros países. Destacam com clareza as condicionantes econômicas e tecnológicas desse modo de verticalização, as diferenças dos exemplos norte-americanos com os primeiros edifícios altos produzidos no Rio de Janeiro e as possibilidades estéticas abertas por esse tipo arquitetônico. Chega a surpreender como a relação entre a verticalização da forma arquitetônica e o valor da terra urbana era claramente entendida por alguns entrevistados. Ou ainda como as concepções de Le Corbusier eram admiradas pelos cariocas um ano antes da sua primeira viagem à America do Sul.

Ainda que o autor intitule seu trabalho como “fragmento de um debate” e ressalte que algumas opiniões dos entrevistados sobre o tema seriam “confusas”, é necessário reconhecer que o conjunto de depoimentos apresentado forma um quadro rico da situação daquele momento. Permite inclusive encontrarmos no Rio de Janeiro um processo que estamos mais acostumados a identificar em São Paulo: a modernização da arquitetura por demanda do mercado imobiliário. Uma extensa e interessante produção que pode ter sido ofuscada pelo sucesso da produção posterior, voltada à representação do Estado nacional.

O texto de Carvalho e Silva sobre o escritório de Jacques Pilon permite acompanharmos o processo de verticalização de São Paulo através da trajetória de um de seus principais agentes. Além da vasta e atualizada bibliografia utilizada para o trabalho, a autora se apóia na análise de farto material documental (o qual inclui peças gráficas dos projetos arquitetônicos arquivadas no acervo de projetos da biblioteca da FAU USP).

O estudo não se limita a cenas biográficas do arquiteto. Pilon constitui um caminho através do qual a autora analisa a constituição e transformação do mercado imobiliário paulistano nas décadas de 1930 e 1940. Para isso não se limita ao estudo dos edifícios projetados por esse escritório, procurando entender seu papel na

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transformação “física e simbólica” de São Paulo em uma cidade moderna. Presta especial atenção ao papel desempenhado pela verticalidade das metrópoles norte-americanas na criação do gosto da clientela paulistana, gerando uma imagem de modernidade bastante diversa daquela propagada pelas vanguardas européias.

Como no trabalho anterior, o recorte temporal escolhido lhe permite aprofundar o estudo desse período anterior à afirmação da arquitetura moderna no Brasil. Identifica nos projetos aquilo que é “atualização dos preceitos acadêmicos” da formação de Pilon na École de Beaux-Arts de Paris ao lado das novas proposições das vanguardas européias. Também constata o impacto da tipologia do arranha-céu na modernização das grandes cidades brasileiras, aprofundando mais do que Rabelo a relação entre o sucesso dessa arquitetura e a dinâmica do mercado imobiliário durante os anos de intenso crescimento da cidade. Um projeto de modernidade caracterizado pelo “compromisso com os lucros dos negócios imobiliários e pelo gosto geral da clientela”. O texto de Alves, terceiro autor da mesa, se destaca em relação aos diversos trabalhos acadêmicos existentes sobre a produção arquitetônica realizada no Governo de Carvalho Pinto em São Paulo ao enfocar as concepções de planejamento urbano e regional que a fundamentaram. Para isso, o autor revê as principais proposições da CEPAL, SAGMACS e TVA, destacando suas estratégias para a construção de redes de equipamentos públicos como instrumentos de desenvolvimento urbano regional. A revisão bibliográfica de qualidade resgata textos um tanto esquecidos pela área de arquitetura no seu afastamento do planejamento urbano. Entre eles encontram-se os textos de Celso Lamparelli, todos infelizmente publicados em meios de pequena circulação. Através deles podemos identificar como os instrumentos teóricos construídos pela sociologia na França são utilizados para explicar um processo no qual o planejamento se torna instrumento indutor do desenvolvimento econômico e social. Contexto no qual a arquitetura moderna brasileira é convocada para a produção de equipamentos públicos em redes estratégicas ao desenvolvimento e não apenas aos grandes temas monumentais que a tornaram conhecida internacionalmente. O trabalho de Alves assume assim enorme importância para enriquecer o debate atual sobre as relações entre arquitetura e Estado nacional. Informa às novas gerações de arquitetos crescidos nos anos neoliberais sobre o valor dos vínculos entre a atividade de planejamento público e a produção de uma arquitetura com sentido de responsabilidade social. Vínculo que se perdeu ao longo das décadas de 1970 e 1980 por vários motivos, entre eles pela pertinente crítica política ao planejamento urbano realizado no Brasil durante os anos de ditadura militar.

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O quarto texto, escrito por Almeida sobre a obra de Aldo Rossi contrasta com os demais da mesa em função das dificuldades brasileiras em se aproximar das proposições desse arquiteto. Apesar de ser formulada como uma postulação de caráter universal, a construção teórica rossiana é dependente da cidade histórica européia, em especial da italiana. Seria necessário a nós um esforço para a sua compreensão, sendo necessário reconhecer que poucos se dispuseram a fazê-lo. Difícil entender a conjugação entre estruturalismo e memória se não soubermos como os intelectuais italianos do pós-guerra se auto-atribuíram um papel de interpretes subjetivos da cultura popular. Ao arquiteto se colocava o desafio de entender objetiva e racionalmente a construção da cidade nas suas permanências estruturais ao mesmo tempo em que suas criações deveriam manifestar uma “memória coletiva” profunda e difusa na cultura acumulada historicamente. Nesse sentido, ainda que algumas semelhanças possam ser encontradas na produção da “cidade analógica” rossiana com a arquitetura figurativa e poética de Lina Bo Bardi, a produção de Rossi teve apenas apropriações superficiais no Brasil, todas elas engajadas na difusão do repertório formal pós-modernista.

Entretanto, a procura de Rossi poderia transcender aos limites do pós-modernismo arquitetônico. Como destaca Almeida, “Rossi atenta às formas permanentes, às estruturas urbanas essenciais, ao valor do limite entre o espaço público e o privado, aos traços da vida que restam impressos nos muros dos edifícios de uma cidade em constante transformação”. Preocupações que ainda têm validade ao estudarmos a cidade contemporânea.

A ordenação cronológica dos recortes temporais dos quatro trabalhos poderia induzir a uma falsa idéia de complementaridade metodológica, como se cada período e objeto estudado ensejasse um conjunto de categorias e procedimentos próprios. Talvez aqui possamos ter um bom ponto de partida para o início do debate entre os membros da mesa, e entre eles e este coordenador.

Referências

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