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Analogias e Desigualdades

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Academic year: 2021

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revista do SNESup

(Re)Pensar a

representatividade

no campo laboral

Hermes Augusto Costa

e Raquel Rego

Salários dos

professores

universitários:

Justiça e injustiças

Ana Brochado

A legitimidade

das associações

sindicais

Celeste Dias Cardoso

Analogias e

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DOI: 10.26329/2021.72/73.1

A

nalogias e desigualdades, de sentido muitas vezes dissonante, percorrem este número da Revista.

Na rubrica Opinião, o paralelismo entre a Educação e a Saúde orienta as reflexões de António Bento Caleiro, em artigo que intitu-la Da Saúde à Educação: que lições para a

es-cola pública.

Ana Brochado em Salários dos

professo-res universitários: Justiça e injustiças reaviva

as reivindicações que o SNESup vem fazen-do de há longo tempo a esta parte, perdida que foi a paridade entre a carreira docente universitária e a da magistratura. De forma clara, se dispunha no Decreto-Lei 448/79, que “1 - O vencimento base dos professores cate-dráticos em regime de dedicação exclusiva é igual ao vencimento base de juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.”

Qual é a situação presente? De modo inex- plicável e de forma absolutamente discri-minatória, como demonstra a autora, vamo--nos cada vez mais afastando de um referen-cial assente num paralelismo que teima em não voltar, sem ter em conta as responsabili-dades ao mais alto nível e a elevada qualifi-cação de ambos os grupos profissionais, em que um deles, por exemplo, ensinou e for-mou aquele que salarialmente o superará.

A montante da diferença, a salarial, estão as agendas políticas. Porque não consegui-mos nós influenciá-las? Porque não “impres-sionamos” o poder político? Será uma ques-tão de capacidade reivindicativa, ou de falta de coesão de classe?

Talvez o artigo de Hermes Costa e Raquel Rego nos deixe intuir algumas respostas ao

(RE)Pensar a Representatividade no campo laboral, no quadro da discussão teórica, que

revisita, sobre o poder associativo.

Percorrem-se indicadores, como filiação sindical e taxa de sindicalização (que nem sempre podem contar com dados seguros), coesão interna e grau de participação, não exactamente na mesma proporção das ante-riores.

Particularmente acutilante e lamentavel-mente verdadeira é a situação que o artigo invoca do “ir à boleia” das vitórias sindicais,

sem o menor esforço de ter contribuído para elas, porque é mais cómodo esperar que uns poucos resolvam o problema de muitos.

A necessidade do alargamento da representatividade e as consequên-cias que decorrem duma representa-tividade reduzida ou inexistente são igualmente objecto de reflexão.

Numa outra óptica, também a Secção Jurídica, num artigo de Celeste Dias Cardo-so, nos fala do sindicalismo e do modo como a sua legitimidade tem vindo a ser abalada na justa defesa dos interesses coletivos dos associados e, por consequência, sobre o seu interesse em agir, a que acresce o dano colo-cado à isenção de custas.

Sustentando os seus argumentos no arti-go 7.º do CPTA, relativo à promoção do aces-so à justiça, bem como no artigo 268.º, n.º 4 da Lei Fundamental, sobre o princípio da tutela

jurisdicional efetiva, a autora demonstra-rá como a deliberação em sentido contdemonstra-rário de alguns juízos vem comprometendo a de-fesa das justas causas em matéria da salva-guarda de interesses e direitos.

Bastará consultar a Infografia referen-te aos concursos para docenreferen-tes dos ensinos universitário e politécnico e para investiga-dores entre 2015 e 2020, para vermos que há muito ainda em que importa pugnar.

Em tempo de pandemia, ainda, o inqué-rito realizado por Helena Lopes, Sofia Vale e Catarina Nunes, entre 17 de dezembro de 2020 e 10 de janeiro de 2021, e que teve uma amostra de 119 respondentes, de entre o uni-verso de 513 docentes do ISCTE, colecta da-dos importantes relativos ao modo como foi afectado o trabalho dos docentes e investiga-dores, também pelo conjunto de medidas to-madas pela instituição no contexto então vi-vido. Em termos comparativos, os resultados do presente estudo apresentam-se mais da-nosos para os inquiridos no ISCTE, do que os do estudo da Gruyter que se cita.

Votos de boa leitura!

MARIA TERESA NASCIMENTO*

UNIVERSIDADE DA MADEIRA

* Não escreve segundo o

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ENSINO SUPERIOR jan/fe v/mar e abr/mai/jun 2021

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PROPRIEDADE SNESUP, www.snesup.pt CONTRIBUINTE N.º 502324937 JAN/FEV/MAR (72) e ABR/MAI/JUN (73) Periodicidade trimestral SEDE DO EDITOR Av. 5

de outubro 104, 4.º 1050-060 Lisboa; Telefone: 217 995 660; Fax: 219 995 661; email: snesup@snesup.pt DIRETOR Maria Teresa Nascimento DIRETORES-ADJUNTOS João Leitão, Mariana Gaio Alves CONSELHO EDITORIAL Gonçalo Leite Velho, João Leitão, Jorge Almeida, Luís Ribeiro, Luiz Guerreiro Lopes SEDE DA REDAÇÃO

Av. 5 de outubro 104, 4.º 1050-060 Lisboa DESIGN E PAGINAÇÃO Beatriz Arnaut, Francisco Lopes, Mariana Vidigal | Registada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o número 125898 IMPRESSÃO Gráfica Maiadouro, S.A. - Rua Padre Luís Campos, 586, Vermoim, 4470-324 MAIA TIRAGEM 600 exemplares

DEPÓSITO LEGAL 180504/02 ISSN 2183-2110 ISSS Eletrónico 2184-187X DOI 10.26329/ENSINO SUPERIOR ESTATUTO EDITORIAL

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Vida Sindical

(Re)Pensar a

representatividade

no campo laboral

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Opinião

Da saúde à educação.

Que lições para a

escola pública?

Organização

do ensino

Salários dos

professores

universitários:

Justiça e injustiças

Temas Atuais

Inquérito aos docentes e

investigadores do Iscte

acerca do impacto da

pandemia sobre a sua

atividade. Relatório

Infografia

Secção jurídica

A legitimidade das

associações sindicais

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DA SAÚDE À

EDUCAÇÃO

QUE LIÇÕES PARA A

ESCOLA PÚBLICA?

A

Saúde e a Educação são dois

elemen-tos que, em muielemen-tos aspeelemen-tos, apresen-tam semelhanças. Estas são suficien-temente robustas para que, por exemplo, a partir da evolução do setor da saúde (em Portugal) se possam retirar ilações acerca daquela que será a evolução do setor da Educação (em Portugal), caso as autoridades responsáveis, por ação ou inação, permitam que tal aconteça. São estas ilações, embora óbvias, que pretendo aqui apresentar, a par-tir delas repar-tirando uma ´lição de política’ de Ensino Superior.

No que diz respeito às suas semelhanças, costumam ser a Saúde e Educação referidos como exemplos ‘máximos’ de bens, ditos, de mérito (a la (Richard) Musgrave) ou, primá-rios (a la (John) Rawls). Independentemente da designação, o facto de à Saúde e à Educa-ção se associarem externalidades positivas,

i.e. benefícios para quem ‘consome’

(deter-minados) cuidados de saúde ou adquire educação, mas também para os outros indi-víduos, leva a que, se aquelas externalida-des não forem devidamente tidas em conta, exista um nível de proteção da Saúde e de aquisição de Educação inferior ao que seria ótimo, do ponto de vista social. Este é, para muitos, o fundamento necessário para que o Estado, ao nível do desempenho da função de redistribuição, deva intervir nos seto-res da Saúde e da Educação, incentivando o ‘consumo’ dos bens de saúde e de educação.

Como é sabido, no nosso país, os direi-tos à (proteção da) Saúde e à Educação estão devidamente inscritos na Constituição. No que diz respeito à Saúde, ali se afirma que: “Todos têm direito à proteção da saúde e o

dever de a defender e promover.” (Número 1 do Artigo 64º), sendo, aquele direito, rea-lizado “Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cida-dãos, tendencialmente gratuito;” (Alínea a, do Número 2, daquele Artigo). No que à Edu-cação diz respeito, ali se afirma que: “Todos têm direito à educação e à cultura.” (Número 1 do Artigo 73º), cabendo ao Estado promo-ver “[…] a democratização da educação e as demais condições para que a educação, rea-lizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigual-dades económicas, sociais e culturais, […]” (Número 2 daquele Artigo).

Em termos económicos, costuma dizer--se que, perante bens, cujo consumo (ou pro-dução) envolva externalidades, o mercado privado apresenta ‘falhas’. Assim, não é de surpreender que o previsto na Constituição tenha sido concretizado por via de uma pro-visão pública, sendo de destacar, no campo da Saúde, a criação do Serviço Nacional de Saúde e, no campo da Educação, a rede de escolas públicas, em todos os ciclos de estu-dos. Não sendo minha intenção pronun-ciar-me sobre o debate ‘público’ versus ‘pri-vado’, ainda assim julgo ser justo reconhecer que, para muitos, a saúde pública e o ensino público desempenharam, efetivamente, o papel que a Constituição lhes consagra.

Quer isto também dizer que a provisão privada de cuidados de saúde ou de educa-ção que permitam a satisfaeduca-ção destas neces-sidades primárias, ao nível destes dois ele-mentos, faz (todo) sentido, particularmente

ANTÓNIO BENTO CALEIRO

ASSOCIADO SNESup

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entre o custo (líquido) suportado pelo bene-ficiário da ADSE perante o pagamento inte-gral de uma consulta médica, numa clínica privada e posterior pedido de compartici-pação, junto da ADSE, e o pagamento dessa mesma consulta numa outra clínica que tenha acordo com a ADSE.

É minha opinião que aquela evolução que se verificou no setor da Saúde se irá verifi-car, mutatis mutandis, no setor da Educação, no nosso país, acaso nada se faça para alte-rar esse cenário, digamos, natural. De facto, uma simples consulta aos números sobre o envelhecimento do corpo docente mostra, de forma impressionante, que, se nada se alte-rar, a curto ou, no máximo, médio prazo, a escola pública deixará, por falta de recur-sos humanos, de ser capaz de satisfazer as necessidades associadas ao direito, inaliená-vel, à Educação. Quando tal acontecer, o setor privado da Educação ‘florescerá’, tal como quando tal não é possível de acontecer, por

insuficiência dos meios públicos. Em termos simples, foi exatamente isso que se pôde observar, no setor da Saúde, em Portugal.

De facto, o setor privado da saúde, que se desenvolveu de forma evidente, surgiu, em grande parte, em resultado da ‘falha’ do setor público, no que diz respeito à satis-fação de cuidados de saúde, por parte da população. E, tal como é sabido, a insuficiên-cia de oferta pública de cuidados de saúde, em parte coberta pela oferta privada des-ses cuidados, tornou-se possível por via de um financiamento público, ainda que par-cial, dessa provisão privada de cuidados de saúde, sendo também certo que tal se asso-ciou, também, a um acréscimo na contribui-ção das famílias no financiamento dos seus gastos em saúde. Para clarificar, a propósito desta questão, não deixa de ser interessante referir a diferença, tantas vezes habitual,

Opinião

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aconteceu no setor da Saúde, sendo também certo que tal (só) será possível por via de um financiamento público, do tipo a que, neste momento, já se assiste no setor da Saúde.

Continuando com as semelhanças nos setores da Saúde e da Educação, é sabido que, por exemplo, em relação ao Serviço Nacional de Saúde, se chamou a atenção para a necessidade de assegurar a sua sus-tentabilidade financeira, mas também, em termos dos recursos humanos. Tendo em conta o que atrás foi dito, obviamente, a escola pública só será sustentável se exis-tirem os recursos humanos que o tornem possível. Em particular, julgo que estará na altura de as instituições de ensino superior recuperarem os cursos de formação de pro-fessores dos diversos graus de ensino pré--universitário. De facto, é bem conhecida e, felizmente ainda verificável, o reconheci-mento do papel dos professores no desen-volvimento de um país, mas é também sabida a falta de atratividade da profissão de docente, sobretudo a níveis pré-universi-tários. Sem um curso universitário vocacio-nado para aqueles níveis de ensino, aquela falta torna-se, ainda mais, consequente.

Para além das semelhanças, existe, no entanto, uma crucial diferença entre a oferta e a procura de cuidados de saúde face

às que se associam ao setor da Educação, a qual resulta ser fundamental ao nível das tão apregoadas políticas de coesão social e/ ou territorial. De facto, enquanto no setor da Saúde se poderá aceitar uma maior concen-tração de recursos no lado da oferta, desde que a procura disponha de mobilidade sufi-ciente, tal não parece ser tão aceitável, no que diz respeito ao setor da Educação, o qual se baseia numa maior continuidade da pro-cura, por parte de uma camada populacio-nal que, pela sua idade, não deverá ter de se sujeitar a percorrer, continuamente, lon-gas distâncias em relação à escola que fre-quenta. Assim, a uma evolução no setor da Educação semelhante à que caracterizou o setor da Saúde, daí resultando uma concen-tração espacial na oferta de recursos edu-cativos (ainda maior que a que se verifica atualmente), acrescentar-se-á uma contri-buição para a diminuição da coesão social e territorial, no nosso país.

De facto, é bem

conhecida e, felizmente

ainda verificável, o

reconhecimento do

papel dos professores no

desenvolvimento de um

país, mas é também sabida

a falta de atratividade

da profissão de docente,

sobretudo a níveis

pré-universitários

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Vida Sindical

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PENSAR A

REPRESENTATIVIDADE

NO CAMPO LABORAL

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U

m dos debates recorrentes a propósito da designada “crise do sindicalismo” prende-se com a revisitação da litera-tura sobre “recursos de poder” (Lehndorff et

al., 2017). No quadro dessa discussão

teóri-ca, o “poder associativo” (ou organizacional), ainda que conjugado com outras formas de poder (estrutural, institucional e societal) ad-quire uma centralidade especial. É porventu-ra a forma de poder a que é mais intuitivo re-correr para analisar as forças e fraquezas do sindicalismo. No centro da reflexão, a propó-sito do poder associativo está o conceito de representatividade. Trata-se de um conceito que parece ser fácil de assimilar (desde logo por recorrer geralmente a critérios quantita-tivos), mas que, na

prá-tica, levanta questões suscetíveis de proble-matização.

O nosso propó-sito neste texto é pre-cisamente o de fazer um ponto de situação sobre o conceito de representatividade, explicitando nele algu-mas vertentes que, em nosso entender, con-correm para a sua melhor compreen-são e, assim, poten-ciam uma intervenção mais eficaz. Nesse sen-tido, reportamo-nos (i)

à espessura da sua definição; (ii) ao processo da sua medição; (iii) ao (necessário) alarga-mento do seu âmbito; (iv) bem como à identi-ficação de possíveis implicações decorrentes das incompletudes dos pontos anteriores, ou seja, da falta de representatividade.

A ESPESSURA DA DEFINIÇÃO DE “SER REPRESENTATIVO”

Enquanto elemento central do designado “poder associativo”, a representatividade sindical não é, todavia, exclusivamente determinada pelo número de membros de um sindicato (Lévesque e Murray, 2010), ainda que a densidade sindical seja

comum-mente tomada como seu indicador (Lehn-dorff et al., 2017). A efi-ciência organizativa (utilização de recursos materiais e humanos de forma eficiente), a participação dos membros e a coesão interna são também fatores a serem otimi-zados de forma que a ação associativa seja a adequada às condi-ções estruturais subja-centes e aos interesses dos membros. De igual modo, é prudente dis-tinguir entre a força

HERMES AUGUSTO COSTA SOCIÓLOGO; FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA E CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS RAQUEL REGO SOCIÓLOGA; INSTITUTO DE CIÊNCIA SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA 1

Este texto colhe contributos de uma investigação recentemente concluída sobre “poderes sindicais”, ao abrigo do projeto

Rebuilding trade union power in the age of austerity: a review of three sectors (Costa et al., 2019), e de uma investigação em curso,

no âmbito do projeto Representativeness of Social Partners and the Impact of Economic Governance (https://rep.ics.ulisboa.pt/). Recuperamos também aqui alguns argumentos desenvolvidos em Costa et al. (2020) e em Rego, Nunes e Pita (2021a).

a filiação sindical e a

taxa de sindicalização

têm sido apontadas

como indicadores

fundamentais, centrais

na avaliação da

representatividade e na

perceção da viabilidade e

efetividade da negociação

coletiva,...

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numérica e a capacidade de mobilizar filia-dos. Isto é, o facto de um sindicato contar com um número elevado de membros não lhe confere necessariamente maior poder associativo, ou maior capacidade de mobi-lização.

Por outro lado, o financiamento dos sin-dicatos resultante das receitas provenien-tes das quotas pagas pelos associados não pode ser desconsiderado no que concerne ao poder associativo, se bem que em grau variá-vel conforme o enquadramento legal de cada país (Costa et al, 2020). Com efeito, uma vez que a representatividade varia de país para país, não existe propriamente um modelo único de representatividade, inclusive entre Estados Membros da UE (Eurofound, 2016). Com a publicação do relatório The concept

of representativeness at national, internatio-nal and European level, da Fundação

Euro-peia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), foi dado a conhe-cer, pela primeira vez, o cenário da repre-sentatividade associativa no quadro na UE, o que tornou patente a prevalência de um sistema assente no mútuo reconhecimento. Além disso, este relatório permitiu teste-munhar que, na maioria dos casos, existem

critérios informais e subjetivos que deter-minam se uma associação sindical ou patro-nal é, ou não, considerada representativa e, portanto, elegível para negociar. Na prática, o panorama é complexo, pois muitos países combinam critérios quantitativos (estabele-cendo por exemplo limiares para o número de membros em determinadas eleições) e qualitativos (sendo suficiente por exemplo um período mínimo de atividade num dado setor) (Rego, Nunes e Pita, 2021a).

Num registo essencialmente quantitativo, a filiação sindical e a taxa de sindicalização têm sido apontadas como indicadores fun-damentais, centrais na avaliação da repre-sentatividade e na perceção da viabilidade e efetividade da negociação coletiva, diá-logo social e participação nas relações cole-tivas de trabalho (Eurofound, 2010). A

filia-ção sindical constitui uma componente

crí-tica da força organizacional dos sindicatos e um elemento essencial da sua legitimação e reconhecimento, sendo, por isso, um recurso chave dos sindicatos (Eurofound, 2010), que consiste na valorização do pagamento de uma quota enquanto associado (Ebbinghaus e Visser, 2000). Por sua vez, a taxa de sindica-lização (ou densidade sindical) diz respeito

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à relação entre o número de sindicalizados e o número de sindicalizáveis, em que estes correspondem ao universo de trabalhadores (por conta de outrem) no âmbito de um dado sindicato, traduzindo a relação entre a filia-ção atual e a filiafilia-ção potencial (Sousa, 2011). Assinale-se que os níveis de sindicalização – que nas últimas décadas têm apresentado uma tendência descendente no contexto português, assim como em muitos outros países – são condicionados por vários fato-res: o setor de atividade (público ou privado, sendo tradicionalmente mais elevada a sin-dicalização no primeiro); a idade (os índices são mais baixos entre os trabalhadores mais jovens); a dimensão da empresa (as peque-nas e médias empresas apresentam sistema-ticamente índices de sindicalização meno-res); e os contratos de trabalho (sindicaliza-ção mais baixa para contratos temporários e precários) (Eurofound, 2010); o fenómeno do free rider (Sousa, 2011; Portugal e Vilares, 2013), isto é, de quem “vai à boleia”, de quem colhe os benefícios da ação sindical sem se sindicalizar (Costa et al., 2020).

O DESAFIO DO PROCESSO DE MEDIÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE

Não obstante o mérito dos indicadores filia-ção sindical e taxa de sindicalizafilia-ção, o seu apuramento rigoroso esbarra em obstáculos que se prendem com a fragmentação e pre-carização crescentes do trabalho contem-porâneo, bem como com a tendência para a informalidade.

No contexto português, na sequência da reforma laboral de 2009, o Governo e os par-ceiros sociais haviam acordado que seria através de um documento único anual que as entidades empregadoras prestariam

informações perante a Administração do Trabalho a propósito de diversos aspetos laborais. Regulado pela Portaria nº 55/2010, do designado “Relatório Único” passou a constar uma diversidade de informações (antes dispersas) entre as quais se incluem as relativas à representatividade sindical e associativa em cada organização com tra-balhadores ao serviço. Como então se afir-mava no Livro Verde sobre as Relações

Labo-rais, “entre as melhorias apresentadas por

este Relatório Único, destaca-se a referida obrigação de informação acerca da filiação sindical e em associações de empregadores, informação essa que tem a virtude de per-mitir à Administração do Trabalho ter dados acerca da abrangência dos instrumentos de regulamentação coletiva, bem como pos-sibilitar uma análise mais concisa sobre o âmbito das portarias de extensão” (GEP/ MTSS, 2016: 306).

No entanto, é defensável o argumento da qualidade dos dados de sindicalização ser pouco credível, na medida em que a infor-mação fornecida pelo Relatório Único é preenchida pelas entidades empregadoras. O receio de possíveis represálias inviabiliza que as entidades empregadoras disponham de conhecimento de efetivamente todos os sindicalizados entre os seus trabalhadores. Além disso, enquanto associações privadas e estratégicas, os sindicatos estão no direito de não facultar dados sobre os seus filiados, não obstante a recomendação da Organiza-ção Internacional do Trabalho para a exis-tência de critérios objetivos e predetermi-nados de representatividade dos parceiros sociais (Rego, 2017).

O apuramento da representatividade sindical é, seguramente, um desafio que importa ultrapassar, sobretudo porque quer

Volvidas mais de duas décadas, continua a não ser

fácil saber com rigor quantos membros as associações

sindicais têm nem sequer quantas associações sindicais

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a filiação quer a taxa de sindicalização são importantes para percecionar o posiciona-mento do sindicalismo num quadro de rela-ções de poder (Sousa, 2011). A dificuldade em apurar com rigor a representatividade coloca obstáculos ao reconhecimento público das organizações sindicais, contribuindo para a fragilização das suas relações com os demais atores sociais e políticos na negocia-ção coletiva e no diálogo social. Quantos sin-dicatos podem estar a negociar sem serem efetivamente representativos? Além disso, a recusa da maioria dos sindicatos em publi-citar esta informação, até como forma de prestação de contas aos associados, é pro-blemática (idem). Os dados administrativos, como os que constam das atas dos proces-sos eleitorais, são inacessíveis e verifica-se

a ausência de inquéritos específicos, ao que acresce a lacuna em matéria de sindicaliza-ção das estatísticas relativas à força de tra-balho (como o Inquérito ao Emprego) (Alves, 2014). Nestes termos, se os dados fornecidos pelos sindicatos forem os únicos disponíveis, o número de filiados não é conhecido com exatidão, pelo que a tarefa de apurar com rigor a representatividade continua a ser um desafio inquietante por solucionar.

Esta busca pelo apuramento da infor-mação em redor da questão da representa-tividade das associações sindicais e patro-nais não é nova entre os estudiosos das rela-ções laborais. Recorde-se, inclusive, a polé-mica que, nos anos 90, colocou em confronto os argumentos de técnicos e de académi-cos quanto à fonte fidedigna do número de

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membros dos sindicatos. Volvidas mais de duas décadas, continua a não ser fácil saber-mos com rigor quantos membros as associa-ções sindicais têm nem quantas associaassocia-ções sindicais e patronais existem ao certo. Daí que, ao abrigo do projeto Representativeness

of Social Partners and the Impact of Econo-mic Governance, esteja em curso a criação de

uma base de dados das associações sindicais e patronais a ser disponibilizada no website da Direção-Geral do Emprego e da Relações Laborais (DGERT) com informação pública, mas até agora dispersa. Ao sistematizar esta informação e facilitar a sua utilização por todos os interessados, espera-se contribuir para o empoderamento dos próprios atores sociais e para novos estudos, inclusive sobre representatividade. Tanto mais que conti-nua a faltar uma tomada de posição conjunta desses atores com vista a encarar esse pro-blema (Rego, Nunes e Pita, 2021a).

A NECESSIDADE DE ALARGAR O ÂMBITO DA REPRESENTATIVIDADE

Devemos ter presente que a representativi-dade não se explica apenas com base na evo-lução da sindicalização. Daí ser curial levar

em consideração outros fatores, tais como: o grau de cobertura da população ativa empre-gada pelas convenções coletivas de trabalho, a abrangência dos locais de trabalho pelos sindicatos ou outras formas de organiza-ção dos trabalhadores (comités de empresa, comissões de trabalhadores), os aspetos ine-rentes à conflitualidade laboral, a poten-cial influência das organizações sindicais na formação das políticas públicas ou ainda a efetiva capacidade de mobilização social (Sousa, 2011: 5). Torna-se, pois, necessário levar em linha de conta uma “representati-vidade substantiva” (de recorte qualitativo) dos sindicatos e que corresponderia a medi-das de aferição da congruência entre repre-sentados e representantes. Isso significa atender à qualidade e não apenas à quan-tidade, uma vez que, mesmo contando com poucos membros, os sindicatos podem con-tinuar a desempenhar uma crucial função de mediação (por exemplo, entre indivíduo e Estado). De igual modo, as organizações sin-dicais podem compensar a baixa densidade sindical com uma integração nas estruturas do diálogo social e de um sistema jurídico de representação dos empregados, acrescendo também os mecanismos para a extensão da

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cobertura da negocia-ção coletiva como meio de assegurar a prote-ção dos trabalhadores (Eurofound, 2010).

De igual modo, importa notar que a afe-rição da representativi-dade apenas com base nos membros pode ser também limitativa. Por um lado, como já suge-rimos acima, a quali-dade desta informação é genericamente fraca. As fontes de

informa-ção sobre o número de membros são dís-pares e pouco fidedignas, pois os dados não são atualizados e incluem membros que não pagam quotas, entre outros. Por outro lado, o uso da densidade como indicador privile-giado da representatividade revela-se insu-ficiente para dar conta da diversidade de representação de interesses (Rego, Nunes e Pita, 2021a), como, por exemplo, a que é ine-rente a dimensões como as de ordem contra-tual, etária ou de género (Bernaciak et al., 2014). Quanto à dimensão dos vínculos con-tratuais, observou-se que mesmo na “era da geringonça” (ciclo político de 2015-2019) o número de trabalhadores com contratos pre-cários aumentou (Almeida, 2017; Observató-rio sobre Crises e Alternativas, 2018; Estan-que e Costa, 2018), sendo Estan-que tais trabalha-dores são também dos que apresentam índi-ces de sindicalização mais baixos.

No que concerne aos trabalhadores jovens, é reconhecido que a associação sin-dical varia em função da idade, sendo que os jovens entre os 18-24 anos apresentam a menor taxa de sindicalização (Campos Lima e Martín Artiles, 2013). A aparente indi-ferença desta faixa etária em relação ao campo sindical relaciona-se com vários fato-res: défice de representação dos seus inte-resses; escassez de recursos financeiros e de campanhas direcionadas para os “temas” da juventude (Vandaele; 2012); rotação entre empregos; a expansão de subjetividades e estilos de vida que tendem a distanciar-se de um discurso sindicalista algo esgotado à luz

das representações da juventude atual (Costa

et al., 2020).

A “questão do género”, por sua vez, recorrentemente põe em evidência a sub-re-presentação de mulhe-res em lugamulhe-res de topo das organizações sindi-cais. Apesar de muitas profissões serem domi-nadas por mulheres e ser comum as organi-zações sindicais (mor-mente no plano con-federal) disporem de comités para a igual-dade de género, esta orientação não contra-ria uma tendência de alheamento e distan-ciamento da problemática da igualdade (Fer-reira e Monteiro, 2013), nem constitui uma garantia de efetividade das políticas.

Mas alargar o âmbito conceptual da repre-sentatividade significa também incorporar outros olhares disciplinares. Não obstante a nossa perspetiva aqui veiculada emanar essencialmente da área científica da socio-logia, é seguramente pertinente incorpo-rar outros contributos (alguns clássicos), em domínios como o da ciência política, designa-damente de Pitkin (1967), para quem a noção de representação se configura, em si mesmo, como um conceito multifacetado, composto por quatro dimensões: descritiva (quem está a ser representado?); substantiva (que res-postas são dadas pelos representantes aos representados?); simbólica (os representan-tes são símbolos?) e formal (quais os procedi-mentos formais para a seleção dos represen-tantes?). Na linha do exemplo que referimos no parágrafo anterior, a esta literatura não é alheia a criação de quotas de género em parlamentos nacionais, medida estendida recentemente a grandes empresas. A pre-sença proporcional de homens e mulheres parece constituir um primeiro passo para implementar uma representação democrá-tica efetiva (Rego, Nunes e Pita, 2021a).

A “questão do

género”, por sua vez,

recorrentemente põe

em evidência a

sub-representação de

mulheres em lugares de

topo das organizações

sindicais.

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Vida Sindical

ENSINO SUPERIOR

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IMPLICAÇÕES DECORRENTES DA (FALTA) DE REPRESENTATIVIDADE

As três secções anteriores (de definição plural,

medição incompleta e amplitude desejada)

sobre a representatividade produzem inevi-táveis implicações a vários níveis, sobretudo se, aos olhos da sociedade, os atores sociais (e em particular as organizações sindicais que aqui foram objeto de maior escrutínio) não forem considerados como representati-vos. Além de produzir impacto na Economia, o défice de representatividade das associa-ções sindicais e patronais manifesta-se igual-mente noutros aspetos: no incumprimento da negociação coletiva, o que leva ao social

dum-ping; na descredibilização dos atores sociais,

sempre que associações não representativas celebram acordos em detrimento de associa-ções representativas, podendo, assim, abrir espaço à emergência de protestos por atores não institucionais.

O exemplo dos sindicatos da Polícia de Segurança Pública (PSP) configura-se por-ventura como paradigmático do desvirtua-mento do nosso sistema. Na sequência da célebre luta de polícias contra polícias (os “secos e molhados”, de 1989), a Lei n.º14/2002 viria a reconhecer um direito de organiza-ção sindical já granjeado por outras orga-nizações no mundo (como as australianas) há mais de um século. Ainda assim, essa lei abriria a uma enorme proliferação sindical (em 2019 existiam 19 associações sindicais). Esta fragmentação acabou por se revelar um problema, desde logo porque as estruturas federativas não funcionaram e tal prolifera-ção foi ditada mais por motivações subjeti-vas e até egoísticas do que pelo fomento da articulação entre interesses diversos (cate-gorias profissionais ou localidades diferen-tes). As divisões de carreira ou o âmbito geo-gráfico são outros fatores que concorrem para explicar a fragmentação sindical (Rego, Nunes e Pita, 2021b).

A este exemplo de uma representativi-dade institucional difusa ilustrada pelo sin-dicalismo de polícia, poderíamos somar outros exemplos relacionados com a repre-sentatividade “no terreno”, expressa atra-vés de lutas concretas. Como se disse acima,

a conflitualidade laboral e, mais concreta-mente, a composição, expressão, conheci-mento e forma de atuar das organizações que a protagonizam é um outro importante fator que nos reconduz à representatividade sindical. Ocorridas sobretudo no final do ciclo político 2015-2019 (ainda antes da pan-demia), as lutas nos setores da saúde (greves dos enfermeiros às cirurgias), dos transpor-tes (greves dos motoristas de matérias peri-gosas) e das forças de segurança (manifesta-ções da polícia e guarda) também nos con-vocam para uma reflexão sobre o sistema de representatividade e possíveis consequên-cias da sua não aferição. Na verdade, tais conflitos colocam em evidência a ação de novas organizações de trabalhadores, nem sempre representativas do ponto de vista da proporção de sócios face ao total potencial número de sócios, embora a sua ação seja muito impactante e tenha obrigado inclu-sivamente a posições de força do Governo. Estavam elas a dar voz a interesses que não estavam a ser representados pelas forças tra-dicionais? Quando é legítimo pôr em causa a paz social? Deve o Governo ouvir todos ou deve forçar a sua organização num número razoável para realizar negociações? Estas e outras perguntas continuam em aberto e assim permanecerão se não se quiser deba-ter com todos os indeba-teressados o sistema de representatividade de sindicatos mas tam-bém de associações de empregadores.

Quando é legítimo pôr

em causa a paz social?

Deve o governo ouvir

todos ou deve forçar a

sua organização num

número razoável para

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Referências bibliográficas

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Organização

do Ensino

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Salários dos

professores universitários:

JUSTIÇA E

INJUSTIÇAS

QUAL A DIFERENÇA SALARIAL NA CARREIRA DOCENTE UNIVERSITÁRIA E DA MAGISTRATURA EM PORTUGAL?

No final do ano de 2020, o ganho médio men-sal dos docentes do Ensino Superior repre-sentava apenas 61% do valor auferido pelos magistrados judiciais.

A disparidade entre as tabelas remunera-tórias da carreira dos magistrados judiciais e da carreira dos docentes do Ensino Supe-rior evidencia a desvalorização do ensino, do conhecimento avançado e da investiga-ção em Portugal. ANA BROCHADO ISCTE - INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE LISBOA DINÂMIA’CET - CENTRO DE ESTUDOS SOBRE A MUDANÇA SOCIOECONÓMICA E O TERRITÓRIO DOI: 10.26329/2021.72/73.4

(17)

1

Assume-se que a progressão ocorre após dois triénios com classificação de Excelente consecutivos. 2

De igual modo, o índice remuneratório de base (índice 100) na carreira de magistratura é de 2.549,91€ mensais brutos, enquanto para os docentes do ensino superior e politécnico e investigadores do ensino superior e ciência esse valor é de apenas 1.636,83€. A realidade observada atualmente

diver-ge muito da vertida no Decreto-Lei n.º 145/87. Um docente do Ensino Superior que chegue ao topo da carreira, após ser classificado na primeira posição num concurso para profes-sor catedrático, recebe menos 30% do salário auferido pelo presidente do Tribunal de Jus-tiça. Assim, o salário base do presidente do Tribunal de Justiça é superior em 1.971€ re-lativamente ao primeiro escalão do salário de um professor catedrático. Esta diferença pode ser reduzida para 1.232€ passados no mínimo 24 anos1 de carreira, assumindo que

a classificação do docente é Excelente em to-dos os períoto-dos avaliativos2.

A ausência de atualização da tabe-la remuneratória da carreira docente e as

MAS PORQUÊ COMPARAR EM TERMOS DE REMUNERAÇÃO AS DUAS CARREIRAS DA FUNÇÃO PÚBLICA?

Desde logo, porque o próprio Governo come-çou por fazer esta equiparação. No final da década de 80, o Governo português conside-rou que o valor da carreira docente univer-sitária era equiparado ao da carreira dos ma-gistrados. O Decreto-Lei n.º 145/87, estabele-ceu disposições quanto à fixação dos siste-mas retributivos das carreiras docente uni-versitária e docente do ensino superior poli-técnico. Assim, nos termos do número 1 do artigo 74.º, “[o] vencimento base dos profes-sores catedráticos em regime de dedicação exclusiva é igual ao vencimento base de juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça”.

2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 Salário mensal (€) Leito r Professor Auxilia r Professor Associad o

Professor Associado c/Agregação

Professor Catedrátic

o

Juiz Estagiário Juiz de Direito

Juiz de Direito dos Juízos Locai

s

Juiz de Direito dos Juízos

Juiz Desembargador

Juiz Conselheiro/Presidente do Supremo

Tr

ibunal de Justiç

a

CARREIRA DOCENTE UNIVERSITÁRIA CARREIRA MAGISTRADOS JUDICIAIS

6650€

4679€

Fonte: Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP)

Gráfico 1. Salário (bruto) Mensal da Carreira Universitária

e da Carreira dos Magistrados Judiciais

(18)

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Organização

do Ensino

ENSINO SUPERIOR jan/fe v/mar e abr/mai/jun 2021

sucessivas revisões da tabela remuneratória da carreira da magistratura resultaram num aumento da diferença entre o ganho médio mensal dos magistrados e dos docentes do ensino universitário, que passou de 1.483€ no final de 2012 para 2.392€ no final de 2020. As diferenças entre as duas tabelas remune-ratórias são observadas não apenas em ter-mos de remuneração base (índice 100), mas também em termos de escalão remunerató-rio. Com exceção da categoria de Juiz de Di-reito, as categorias da magistratura têm uma remuneração base, enquanto a progressão na carreira docente tem quatro escalões/ ca-tegoria, sendo necessários no mínimo seis anos para a mudança de escalão.

É POSSÍVEL COMPARAR O CONTRIBUTO PARA A SOCIEDADE DA JUSTIÇA E DO ENSINO UNIVERSITÁRIO?

A Justiça e a Educação são consideradas bens públicos, e os princípios gerais relativos à sua oferta encontram-se consagrados na Consti-tuição da República Portuguesa (CRP). “Os tri-bunais são os órgãos de soberania com com-petência para administrar a justiça em nome do povo. Na administração da justiça incum-be aos tribunais assegurar a defesa dos direi-tos e interesses legalmente protegidos dos ci-dadãos, reprimir a violação da legalidade de-mocrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados” (números 1 e 2 do artigo 202.º da CRP). Por outro lado, ao promover

-3000 -2000 -1000 1000 0 2000 3000 4000 5000 6000 7000

Ganho médio mensal (€)

-2392€ 2774€ 3313€ 3715€ 6107€ 3436€

Fonte: DGAEP - SIOE (dados disponíveis em 25-01-2021); DGAEP/DIOEP

Gráfico 2. Evolução do Ganho Médio Mensal, em Euros, dos Magistrados, Docentes do Ensino Universitário e Politécnico e Investigadores

Docente ensino universitário - Magistrado Magistrado Pessoal de investigação científica Docente ensino superior politécnico Docente ensino universitário

Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. .Abr Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out.

(19)

a democratização da Educação, o Estado visa contribuir “para a igualdade de oportunida-des, a superação das desigualdades económi-cas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida co-letiva” (número 2 do artigo 73.º da CRP).

O Ensino Superior constitui a principal fonte de capital humano de um país, sen-do um sen-dos motores de crescimento e de de-senvolvimento económico mais importan-tes. A Educação é considerada um bem pú-blico dado que o mesmo conhecimento pode ser usado simultaneamente por diversas pes-soas (i.e., é não-rival) e é impossível impedir que alguém utilize conhecimento transmiti-do (i.e., é não-exclusivo). A oferta de ensino de elevada qualidade é determinante para a qualificação da população, necessária para o progresso tecnológico, e o desenvolvimento social e económico de um país.

A sociedade beneficia de um sentimento que se vive numa sociedade mais justa (Jus-tiça) e de uma mão de obra mais qualifica-da (Ensino Superior). Trata-se de dois seto-res fundamentais que asseguram o bem-es-tar global da sociedade. Não existe racional que justifique um docente universitário tra-balhar em média 20 meses para auferir a re-muneração que um magistrado obtém em apenas um ano.

SENDO OBSERVADA UMA DIFERENÇA SALARIAL TÃO EXPRESSIVA, QUE SE ACENTUOU NA ÚLTIMA DÉCADA, PODEMOS CONCLUIR QUE O VALOR DA CARREIRA DOCENTE PARA A SOCIEDADE DIMINUIU?

Em termos gerais, as Universidades têm por missão oferecer à sociedade, com elevados

padrões de qualidade, atividades de ensino, investigação científica e transferência de co-nhecimento científico e tecnológico. Os do-centes têm a seu cargo diversas atividades, nomeadamente a docência, a produção cien-tífica, a gestão e administração académica, e atividades de extensão universitária.

Não pretendendo uma listagem exausti-va de todos os contributos, apresento um in-dicador por dimensão da atividade das uni-versidades e dos seus docentes. Os indicado-res divulgados pela Direção-Geral de Esta-tísticas da Educação e Ciência revelam um crescimento muito favorável dos contribu-tos de docentes e investigadores na última década nas dimensões de ensino e produção científica. No ano letivo de 2019/2020, um to-tal de 323.754 estudantes frequentou o ensi-no superior público (+10% face a 2009/2010). O número de publicações indexadas na Web of Science por milhão de habitantes cresceu a uma taxa média de 8% no período de 2008 a 2018, passando de 757 para 1.529 publica-ções. Esta evolução colocou Portugal à fren-te de países como a Alemanha, a Espanha e a França. A Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) lista atualmente 1.113 cursos de li-cenciatura (1.º ciclo), 112 Mestrados integra-dos, 1.876 Mestrados (2.º ciclo) e 744 Douto-ramentos (3.º ciclo). Todos estes programas são coordenados por um docente. Estes cur-sos são oferecidos por 80 instituições e uni-dades orgânicas de ensino universitário e 102 de ensino politécnico público. Os cargos nos órgãos de gestão (e.g., Direção, Conselho Geral, Conselho Pedagógico, Conselho Cien-tífico) são desenvolvidos por docentes des-tas instituições. Quanto à transferência de conhecimento, o Instituto Nacional da Pro-priedade Industrial (INPI), no relatório de 2019, revelou que o top 10 dos pedidos de

Mas a independência não é também um requisito para o

trabalho desenvolvido pelos docentes? A independência

está subjacente a todas as funções docentes e dos

investigadores.

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ENSINO SUPERIOR

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registos de invenções foi liderado por seis universidades (a primeira empresa surge apenas em sétimo lugar). Este indicador de-monstra a crescente interação universidade--empresa e o desenvolvimento de um ecos-sistema de inovação.

FARÁ SENTIDO UMA HIERARQUIZAÇÃO NO ESTADO EM QUE O GANHO MÉDIO MENSAL DOS DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR REPRESENTA APENAS 61% DO GANHO MÉDIO DOS MAGISTRADOS?

Um dos argumentos apresentados para o au-mento dos salários dos juízes é a necessidade de assegurar independência e imparcialida-de. Mas a independência não é também um requisito para o trabalho desenvolvido pelos docentes? A independência está subjacente a todas as funções docentes e dos investigado-res. Trata-se de um requisito para o desenvol-vimento do espírito crítico, inventivo e cria-dor dos estudantes, do desenvolvimento de trabalhos científicos e de investigação susce-tíveis de contribuir para a satisfação das ne-cessidades da sociedade, bem como nas ati-vidades de extensão da Universidade e nas

funções de gestão de programas e das pró-prias instituições. Acresce que os docentes e investigadores são alvo de avaliação diária nas suas atividades: nas suas competências pedagógicas, pelos estudantes; nos artigos científicos que escrevem, pelos pares (i.e., re-visores das revistas científicas); nos projetos

Um dos argumentos

apresentados para o

aumento dos salários dos

juízes é a necessidade de

assegurar independência

e imparcialidade. Mas

a independência não é

também um requisito para

o trabalho desenvolvido

pelos docentes?

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de investigação que elaboram, pelos painéis de avaliação nacionais e internacionais; para progredir na carreira docente, pelo júri dos concursos públicos. O escrutínio diário das competências observado no caso dos docen-tes não encontra paralelismo nas decisões dos magistrados.

QUAIS AS TENDÊNCIAS ATUAIS NO SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DOS DOCENTES EM PORTUGAL?

Os baixos rendimentos dos docentes univer-sitários face aos serviços prestados aos estu-dantes e à sociedade, a dificuldade de pro-gressão e de premiar o mérito, têm sido con-siderados nos diversos Regulamentos para contratação de docentes pelo regime priva-do3 apresentadas pelas instituições de ensino

superior públicas que possuem o estatuto de fundação pública com regime de direito pri-vado (previsto no artigo 129.º do Regime Jurí-dico das Instituições de Ensino Superior).

Sem pretender pronunciar-me sobre a bondade destes Regulamentos relativamen-te ao Estatuto da Carreira Docenrelativamen-te Universi-tária (ECDU) para a contratação de docentes com contrato individual de trabalho, a aná-lise que apresento cinge-se à inovação intro-duzida em matéria de remunerações.

Tendo como objetivo a oferta de condi-ções mais atrativas para os docentes e de aposta no mérito académico, a Universida-de Nova Universida-de Lisboa4 aumentou os níveis

re-tributivos, redefiniu as condições retribu-tivas através de uma componente fixa e de uma variável, criou a possibilidade de rece-bimento de outras prestações patrimoniais por parte dos docentes e introduziu a figura do professor titular de cátedra ad personam (i.e., titulares de bolsas/ contratos de investi-gação celebrados com empresas ou agências

financiadoras da investigação científica). Os níveis retributivos em vigor na Universida-de Universida-de Lisboa foram consiUniversida-derados pelo ISC-TE – Instituto Universitário de Lisboa no seu projeto de Regulamento para a contratação de docentes pelo direito privado5, a saber:

(i) Professor Catedrático em regime de

di-reito privado - 4.702,94€ a 6.299,19€;

(ii) Professor Associado com Agregação:

3982,05€ a 5372,33€;

(iii) Professor Associado - 3570,11€ a

4857,41€;

(iv) Professor Auxiliar - 3158,18€ a

4908,90€.

As Tabelas de remuneração propostas dos Regulamentos de contratação de docen-tes pelo regime de direito privado eviden-ciam a perceção de inadequação da tabela atualmente vigente, face aos serviços presta-dos e ao valor da educação para a sociedade. Assim, para concluir, sou da opinião que é necessário iniciar um caminho de atuali-zação das tabelas salariais dos docentes do ensino superior, politécnico e investigado-res que reflita o valor destas carreiras para a sociedade, eliminando a desigualdade atual-mente existente face à carreira dos magistra-dos. A melhoria das retribuições dos docen-tes do Ensino Superior, Ensino Politécnico e investigadores é imperativa para a valoriza-ção das atividades de ensino, de investigavaloriza-ção e de transferência de conhecimento à socie-dade pelas instituições de ensino. A criação de condições mais atrativas para os docentes através de uma aposta no mérito académico é urgente para a elevação do nível educativo, cultural e científico de Portugal.

A criação de condições mais atrativas para os docentes

através de uma aposta no mérito académico é urgente

para a elevação do nível educativo, cultural e científico

de Portugal.

3 Cf., Universidade de Aveiro, Universidade do Minho, Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Porto. 4 Cf., Regulamento n.º 409/2018, publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 129, de 6 de julho de 2018 5 À data de redação do presente artigo, o Regulamento encontra-se em faencontra-se de consulta pública.

(22)

20

Temas

Atuais

ENSINO SUPERIOR jan/fe v/mar e abr/mai/jun 2021 OBJETIVO

No seguimento da decisão tomada na reu-nião do Conselho Plenário do Conselho Cien-tífico de 22/09/2021, no sentido de “avaliar o impacto das medidas adotadas em respos-ta à situação pandémica provocada pela Covid-19, refletindo sobre as dimensões associadas ao teletrabalho”, foi criado um

grupo de trabalho composto por Helena Lo-pes, Sofia Vale e Ana Catarina Nunes. Como resultado da atividade deste grupo, foi reali-zado um inquérito entre 17 de dezembro de 2020 e 10 de janeiro de 2021 ao universo de docentes e investigadores do Iscte. O objeti-vo era o de saber até que ponto as atividades de investigação (revisão de literatura, escrita de artigos, etc.) e as outras atividades (aulas, atendimento de alunos, tarefas administrati-vas, reuniões, etc.) foram afetadas pela modi-ficação das circunstâncias em que trabalha-ram os docentes e investigadores do Iscte du-rante a pandemia. HELENA LOPES ISCTE-INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE LISBOA E DINÂMIA’CET-IUL SOFIA VALE ISCTE-INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE LISBOA ANA CATARINA NUNES ISCTE-INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE LISBOA DOI: 10.26329/2021.72/73.5

INQUÉRITO AOS DOCENTES E

INVESTIGADORES DO ISCTE

ACERCA DO IMPACTO DA

PANDEMIA SOBRE A SUA

ATIVIDADE

Relatório

Grupo de Trabalho do Conselho Científico do Iscte1:

1

Os membros do Grupo de Trabalho querem expressar a sua gratidão à Presidente do Conselho Científico do Iscte, Professora Doutora Luisa Lima, pela oportunidade oferecida para realizar este trabalho e pelo apoio técnico dado ao longo da sua realização.

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INVESTIGADORES DO ISCTE

ACERCA DO IMPACTO DA

PANDEMIA SOBRE A SUA

ATIVIDADE

2 https://blog.degruyter. com/wp-content/ uploads/2020/12/Locked- Down-Burned-Out-Publishing-in-a-pandemic_ Dec-2020.pdf. 3 Em 2020/2021, o ISEG admitiu 32 alunos no total de todos os cursos no quadro dos contingentes especiais, contra 26 alunos em 2019/2020.

Na Universidade do Minho a situação foi semelhante, tendo os departamentos sido consultados. No Iscte, em 2020/2021, inscreveram-se 248 alunos no 1º ano dos cursos da IBS contra 130 alunos em 2019/2020, como resultado do aumento de vagas nos CNA e nos contingentes especiais.

Recursos Humanos de 57 para 84. No total, os inscritos no 1º ano na IBS passaram de 569 em 2019/2020 para 802 em 2020/20213. iii) Adoção de novas regras de acordo com o Despacho nº 30/2020 de 5 maio

intitulado “Orientações de emergência para planeamento das atividades letivas 2020/2021”, com vista à “racionalização das ofertas formativas e restrição na con-tratação de professores convidados”.

Mencionam-se aqui as principais medidas: • cursos, UCs e ramos/especializações não são oferecidos se tiverem menos de 20 ma-triculados;

• regras que limitam os desdobramen-tos de turmas e determinam a junção de

turmas;

• afetação de 9 horas de serviço letivo aos docentes de perfil A, com redução se

tiverem mais de quatro UC diferentes com mais de 140 inscritos (eliminação da ante-rior redução de horas no caso da publica-ção de três artigos classificados);

• Regras mais restritivas para acesso ao perfil B.

Importa notar que as medidas adotadas nes-te despacho significaram que:

a) as UCs anteriormente lecionadas por docentes convidados tiveram de ser CONTEXTO

É importante ter em consideração que os efei-tos da situação pandémica sobre a atividade dos docentes do Iscte resultam, neste ano leti-vo de 2020/2021, da conjugação de três factos:

i) Passagem à lecionação em regime misto, presencial e on-line, o que

aumen-tou o trabalho dos docentes e o tempo que tiveram de dedicar às atividades letivas, como mostram os inquéritos realizados pelo Conselho Pedagógico do Iscte. O estu-do2 da De Gruyter a que responderam

cer-ca de quatro mil docentes-Investigadores de 103 países refere que 80% dos respon-dentes dedicaram mais tempo do que an-tes da pandemia à lecionação e acompa-nhamento de estudantes; 53% trabalhou mais do que trabalhava antes; 48% dedi-cou menos tempo à investigação. Os efei-tos são ainda mais significativos para as mulheres e para quem está em início de carreira.

ii)Aumento do número de alunos admi-tidos no quadro dos contingentes espe-ciais, aproveitando a oportunidade

aber-ta pelo ministério da tutela. Por exemplo, o número de alunos no 1º ano da licenciatu-ra em Economia passou de 77 palicenciatu-ra cerca de 120; na licenciatura em Psicologia de 100 para 150, na licenciatura em Gestão dos

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22

Temas

Atuais

ENSINO SUPERIOR jan/fe v/mar e abr/mai/jun 2021

lecionadas por docentes de carreira

(principalmente auxiliares);

b) os docentes cujas optativas foram supri-midas tiveram de lecionar outras UCs; c) várias turmas, nalgumas licenciaturas,

foram eliminadas, o que permitiu redu-zir o número de horas lecionadas, mas aumentou o número de alunos por do-cente;

d) vários docentes tiveram assim de pre-parar novas UCs.

Importa também referir que:

a) o objetivo para a avaliação de desem-penho mudou de 135 para 175 pontos por ano a partir de 2020;

b) os prémios científicos só passaram a

ser atribuídos a artigos publicados em re-vistas Q1 e a quem tinha projetos financia-dos com um montante mínimo de 25 mil euros em overheads para o Iscte.

Houve, portanto, durante a pandemia, um nítido aumento da pressão sobre os do-centes do Iscte, tanto em termos de lecio-nação como de investigação.

É neste contexto que os resultados apre-sentados a seguir devem ser interpretados.

RESULTADOS

1. Caracterização da amostra de docentes4

De acordo com o Ciência-iul, em Fevereiro de 2021, o Iscte tem 513 docentes, entre do-centes de carreira e dodo-centes convidados, distribuídos pelas suas quatro escolas con-forme a Tabela 1.

Responderam ao inquérito 119 docentes, distribuídos por escolas conforme a Figura 1. Nota-se na nossa amostra uma maior repre-sentação relativa dos docentes da ECSH e uma menor representação dos docentes da ISTA. As Figuras 2 e 3 mostram, respetivamente,

TABELA 1.

Docentes do Iscte por Escola

Escola Docentes Percentagem

ECSH 66 13% ESPP 105 20% ISTA 146 28% IBS 196 38% TOTAL 513 100% FIGURA 1. Por escola FIGURA 2.

Por tipo de vínculo contratual ISTA IBS ESPP ECSH 22% 23% 28% 28% 11% 34% 43% 9% 3% FIGURA 5. Por género FIGURA 6.

Por classe etária

FIGURA 7. Agregado familiar 16% 15% 69% Professor Convidado 11% Professor Permanente 89% FIGURA 3.

Por categoria profissional

FIGURA 4.

Por número de anos de trabalho no Iscte Associado ou Catedrático Auxiliar 61% 35% 40% 6% 10% 12% 39% Mais de 10 anos Entre 5 e 10 anos Menos de 5 anos 42% 55% 3% Não quero responder Sou uma mulher Sou um homem Vive sozinho

Única pessoa empregada do agregado familiar Cuidador de pessoas com necessidades especiais Vive com filhos estudantes

Vive com filhos menores de 12 anos

Mais de 60 anos 51-60 anos 41-50 anos 31-40 anos Até 30 anos

Caracterização da amostra de docentes

que 89% dos respondentes são docentes de carreira e que 61% são professores auxiliares. Responderam ao inquérito cerca de um terço dos docentes de carreira, mas a amostra não é

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Responderam ao inquérito 119 docentes e 47 investigadores. Como as respostas revelaram que estes dois grupos de profissionais apresentam características muito diferentes, tanto em termos sociodemográficos como de situação durante a pandemia, optou-se por incluir nesta parte central do relatório só a análise das respostas dos docentes, sendo os resultados referentes aos investigadores apresentados no Anexo.

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Caracterização da amostra de docentes

a Figura 5, que 55% são mulheres. Na Figura 6, observa-se que 43% dos respondentes tem entre 41 e 50 anos; 88% dos inquiridos tem uma idade igual ou superior a 41 anos. Final-mente, a Figura 7 indica que 40% dos respon-dentes residem com filhos estudantes, 32% com filhos abaixo dos 12 anos, e 6% são cui-dadores de outrem.

Solicitou-se aos inquiridos que indicassem se, no 2º semestre do ano letivo de 2019/2020 e no 1º semestre do ano letivo de 2020/2021, tinham lecionado e/ou sido responsáveis por cargos. A Tabela 2 mostra que a grande maio-ria dos docentes esteve a lecionar (86% em 2019/2020 e 95% em 2020/2021) e que cerca de 66% dos docentes eram responsáveis por cargos em cada um destes períodos letivos.

2. Efeitos sobre a atividade dos docentes 2.1. Efeitos sobre a carga de trabalho dos docentes

Um objetivo importante do inquérito era re-colher a perceção dos docentes sobre a for-ma como a pandemia afetou a sua carga de trabalho. A grande maioria, 79%, respondeu que comparando com antes da pandemia se sentia a trabalhar mais ou muito mais (Figu-ra 8). A distribuição por escola revela dispa-ridades: 91% dos docentes da ISTA aponta-ram um aumento da carga de trabalho, con-tra 69% na ECSH e 72% na IBS.

A distribuição por género revela que as mulheres se sentem mais afetadas pelo au-mento da sua carga de trabalho, 83% tendo respondido que se sentem a trabalhar mais ou muito mais, contra 76% dos homens. A Figura 11 mostra que 81% dos auxiliares se sente a trabalhar mais ou muito mais contra 76% no grupo de associados e catedráticos.

FIGURA 1.

Por escola

FIGURA 2.

Por tipo de vínculo contratual ISTA IBS ESPP ECSH 22% 23% 28% 28% 11% 34% 43% 9% 3% FIGURA 5. Por género FIGURA 6.

Por classe etária

FIGURA 7. Agregado familiar 16% 15% 69% Professor Convidado 11% Professor Permanente 89% FIGURA 3.

Por categoria profissional

FIGURA 4.

Por número de anos de trabalho no Iscte Associado ou Catedrático Auxiliar 61% 35% 40% 6% 10% 12% 39% Mais de 10 anos Entre 5 e 10 anos Menos de 5 anos 42% 55% 3% Não quero responder Sou uma mulher Sou um homem Vive sozinho

Única pessoa empregada do agregado familiar Cuidador de pessoas com necessidades especiais Vive com filhos estudantes

Vive com filhos menores de 12 anos

Mais de 60 anos 51-60 anos 41-50 anos 31-40 anos Até 30 anos TABELA 2.

Percentagem de docentes que responderam ter aulas e cargos, 1º e 2º semestre Aulas e cargos N % Aulas no 2º semestre de 2019/2020 100 86 Aulas no 1º semestre de 2020/2021 110 95 Cargos no 2º semestre de 2019/2020 77 66 Cargos no 1º semestre de 2020/2021 78 67 representativa pelo que os resultados devem

ser extrapolados com cautela.

A Figura 4 mostra que 69% dos responden-tes trabalham há mais de dez anos no Iscte, e

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Temas

Atuais

ENSINO SUPERIOR jan/fe v/mar e abr/mai/jun 2021

2.2. Efeitos sobre a investigação e o trabalho docente

Uma análise mais fina procurava saber que tipo de atividades foram particularmente atingidas, em termos do tempo que lhes era dedicado, pelas circunstâncias impostas pela pandemia. Foram colocadas mais questões do que as que estão aqui apresentadas. Op-tou-se por reportar unicamente as respos-tas relativas às tarefas, quer de investigação quer de docência, que são transversais a to-dos os docentes, sendo desempenhadas por todos eles.

Distribuição das respostas à questão “Comparando com o que

fazia antes da pandemia, sente que está a trabalhar...”

FIGURA 8. Total Associado ou Catedrático Auxiliar 6% 13% 81% 83% 11% 6% 76% 18% 6% 76% 18% 7% FIGURA 9. Por escola FIGURA 10.

Por género FIGURA 11.Por categoria profissional

79% Muito mais/Mais 14% O mesmo 7% Muito menos/Menos ISTA IBS ESPP ECSH 91% 6% 6% 69% 81% 7% 11% 9% 19% 72% 23% 8%

Sou uma mulher Sou um homem

A distribuição das respostas por tarefa de investigação encontra-se na Figura 12. Relati-vamente às quatro tarefas reportadas, entre 45% e 58% dos inquiridos afirma ter diminuí-do ou diminuídiminuí-do bastante o tempo dedicadiminuí-do a cada tarefa. A atividade menos afetada foi

Leituras e revisão de literatura e a mais

Referências

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