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O CUSTO DO PROGRESSO: INCENTIVO FISCAL E MIDIÁTICO PARA A ZONA LESTE DE SÃO PAULO 1. Juliana Ayres Pina 2

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Academic year: 2021

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O CUSTO DO PROGRESSO:

INCENTIVO FISCAL E MIDIÁTICO PARA A ZONA LESTE DE SÃO PAULO1 Juliana Ayres Pina2

1. APRESENTAÇÃO DO TEMA

É indispensável e urgente discutir a relação entre comunicação e a cidade, o espaço público. Porém, mais do que pesquisar e analisar os fenômenos comunicacionais que emergem nos espaços públicos, é necessário entender a própria cidade enquanto fenômeno comunicacional, ir além das formas visuais dos edifícios, das intervenções artísticas e refletir sobre todo o simbolismo por detrás de seu emaranhado de ruas, avenidas e vielas.

De acordo com Vilém Flusser (em conferência transcrita por Norval Baitello Jr.) “O homem vivenciou três grandes catástrofes ao longo de sua história: a hominização, trazida pelo uso das ferramentas de pedra; a civilização, criada pela vida em aldeias, com sua conseqüente sedentarização; e a terceira catástrofe, em curso e ainda sem nome, é marcada pela volta ao nomadismo, pois as casas se tornaram inabitáveis. Na primeira, o homem desenvolve ferramentas e persegue sua caça, é nômade como a caça e como o vento; ao andar (como o vento), toca e apreende o mundo. Na segunda, constrói casas, domestica e cria sua caça; começa a possuir coisas e, como possui, torna-se fixo na terra, não mais pode andar para apreender o mundo; cria as imagens tradicionais e a escrita que substituem o mundo e os seus percursos (e somente apreende o mundo com sua mediação). Na terceira, sua casa fica 1. Artigo apresentado ao Eixo Temático 07 – Espaço Urbano/ Direito à cidade/ Mobilidade do IX Simpósio Nacional da ABCiber.

2. Pesquisadora é programadora visual do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.. É aluna do mestrado em Comunicação (Universidade Paulista) e participa do Grupo de Pesquisa em Comunicação Mídia e Estudos do Imaginário (Universidade Paulista). E-mail: julianaayrespina@gmail.com

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inabitável, porque por todos os seus buracos entra o vento da informação (com suas imagens técnicas, transmitidas pelas tomadas de eletricidade).” (BAITELLO JR, p.3, acessado em 14/11/2015)

É na segunda catástrofe, a civilização, que as cidades tem início junto a necessidade de possuir as coisas, como terra para o plantio, animais e uma casa para abrigar a si e seus pertences.

Em torno do terceiro milênio antes da era cristã, nas planícies da Mesopotâmia, surgem os primeiros templos, os Zigurates, que funcionavam como imãs reunindo as pessoas ao seu redor. Este novo modo de vida trouxe o desenvolvimento de tecnologias como o barro cozido dos tijolos, sistemas de drenagem e irrigação e também a necessidade de organização do trabalho e da convivência através de normas reguladoras. (ROLNIK, p.17, 1988 )

A medida que a cidade crescia as pessoas distanciavam-se do templo, do sagrado. “...o homem religioso desejava viver o mais perto possível do Centro do Mundo. Sabia que seu país se encontrava efetivamente no meio da Terra; sabia também que sua cidade constituía o umbigo do Universo e, sobretudo, que o Templo ou o Palácio eram verdadeiros Centros do Mundo; mas queria também que sua própria casa se situasse no Centro e que ela fosse uma

imago mundi.” (ELIADE, p.27, 1992) Desta forma, aqueles que ficavam distantes do centro,

nas periferias, encontravam-se em território profano.

Esta concepção do centro sagrado é mantida até hoje, embora a sacralidade não esteja mais no religioso e sim no capital. Por exemplo, a cidade de São Paulo em meados de 1900, por meio da acumulação de capital proveniente da cultura cafeeira, começa a sofrer significativas mudanças em seu centro. As igrejas e ordens coloniais do Carmo, São Bento e São Francisco começam a dividir o espaço com equipamentos culturais, como o Theatro Municipal, e lojas elegantes, cafés e jardins públicos a fim de atender sua elite emergente. Enquanto isso, às margens do centro, vilas e cortiços superlotados se misturavam às chaminés das fábricas.(ROLNIK, p.17, 2001)

Ainda hoje é no centro/ sudoeste que se concentram os bairros nobres e os principais centros de comércios e serviços da cidade. A zona leste de São Paulo com sua riqueza histórica, enquanto rota de passagem dos viajantes que saíam em direção ao Rio de Janeiro e ao Vale do Paraíba, e multicultural, devido às tribos indígenas que habitaram a região, aos imigrantes europeus das vilas operárias e aos nordestinos que ali reconstruíram suas vidas, nunca obteve reconhecimento e valor diante do poder público e midiático.

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Devido a esta falta de reconhecimento, a zona leste se mantém como um local de poucas oportunidades de trabalho e oferta de educação, saúde e cultura precárias. O que faz com que se torne dependente do centro, sempre orbitando-o sem nunca tocá-lo.

Com a saturação dos edifícios residenciais e comerciais no centro/ sudoeste da cidade e a ascensão financeira das camadas de menor renda no Brasil, os investidores passam a enxergar a zona leste de São Paulo, com sua vasta extensão territorial e baixa verticalização, como um atrativo potencial. Sabendo que capital e Estado andam juntos, não por acaso, surge em 2013 o Programa de incentivos para prestadores de serviços na Zona Leste. Desde então, a região passa por um processo de intensas modificações com a realização de obras viárias, construção de prédios, centros comerciais e até mesmo o estádio do Corinthians.

Com estas mudanças o impossível parece tornar-se possível: a zona leste que nunca chegaria ao centro vê o centro chegar até ela, ainda que de maneira distorcida e utópica. O grande trunfo do capital é o poder de transformar o espaço profano em espaço sagrado. Porém, para que o sucesso comercial seja efetivo, faz-se necessária a desconstrução da imagem da zona leste enquanto sinônimo de atraso, pobreza e feiúra. As novas construções, por si só, já desempenham um papel importante neste sentido. “A construção de edifícios ultra-altos é hoje, mais do que necessidade de espaços para uso, estratégia de marketing definida para o estabelecimento de visibilidade midiática mundial cujo benefício é o incremento da percepção de qualidade do país e seus produtos em razão da capacidade de realização do feito tecnológico.” (SILVA, p.12, 2012)

Como alguns exemplos temos o estádio do Corinthians em Itaquera, o novo hotel Ibis no Tatuapé, a reforma da fachada do Museu da Imigração no Brás, o Templo de Salomão também no Brás e outros diversos edifícios residenciais e comerciais que se sobressaem na paisagem.

Porém, mais do que isso, faz-se necessária a presença nos meios de comunicação corroborando com o discurso de que a zona leste é moderna, interessante e tem potencial para ir muito além. Este tipo de afirmação é cada vez mais frequente nos veículos comunicacionais e interfere inconscientemente no imaginário referente a zona leste de São Paulo.

“Podemos adiantar que uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas mentais de projeção e de identificação polarizadas nos símbolos, mitos e imagens da cultura como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores (os ancestrais, os heróis, os deuses). Uma cultura fornece pontos de apoio imaginários à vida prática, pontos de apoio práticos à vida imaginária: ela alimenta o ser semi-real, semi-imaginário que cada um secreta no interior

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de si (sua alma), o ser semi-real, semi-imaginário que cada um secreta no exterior de si e no qual se envolve (sua personalidade).” (Morin,p.15, 1981)

Estes símbolos, mitos e imagens que penetram a alma de cada ser humano e reverberam em sua personalidade são entendidos como o imaginário. Este imaginário sofre interferências diretas dos símbolos e imagens oriundos da mídia. Como exemplificado por Maurício Ribeiro da Silva, a mídia cria um estereótipo de espaço ideal que não condiz ao espaço físico e real em que vivemos. “...arquitetos e urbanistas representam em suas pranchetas casas, ruas ou cidades onde raramente apresenta-se a multidão. Casais passeiam sobre árvores, crianças brincam com balões e pipas, um cidadão tranqüilo lê, calmamente, seu livro ou jornal sentado no banco da praça. Nesta diferenciação está implícita a cisão entre o mundo vivido e o mundo imaginado.” (SILVA, p.6, 2015)

É esta cisão entre o mundo vivido e o mundo imaginado que o artigo abordará.

2. JUSTIFICATIVA

A zona leste de São Paulo possui uma área de aproximadamente 326km2, mais de 4 milhões de habitantes e alguns de seus bairros estão dentre os mais antigos da cidade. Porém, por diversos motivos, o investimento de órgãos governamentais e de empresas privadas não é constante, o que faz com que a região tenha menos recursos financeiros e sua verticalização seja tardia, contrastando com o restante da cidade.

Em 2013, a prefeitura de São Paulo, por meio da lei 15.931/2013, lançou o “Programa de incentivos para prestadores de serviços na Zona Leste” com o objetivo de promover e fomentar o desenvolvimento da região.

Para atrair investidores à zona leste, no entanto, faz-se necessária a readequação da imagem do local até então estereotipado como “longe, feio e perigoso”. Sendo assim, torna-se fundamental a atuação da mídia na mudança da imagem da zona leste e tal atuação já pode ser notada em alguns veículos como a elaboração de um roteiro turístico da zona leste pela Secretaria de Turismo do município, matérias em veículos como o jornal Estadão e a tv Record mostrando a ascenção dos moradores do local, o roteiro histórico e turístico da Veja São Paulo sobre o bairro da Penha e sites que abordam os temas de investimentos e finanças trazendo os benefícios de se investir na zona leste.

Diante de tais acontecimentos, percebe-se a necessidade do levantamento destas ações e da reflexão sobre a influência da cultura midiática na configuração do espaço público, mais especificamente na zona leste de São Paulo.

3. OBJETIVO

Expor de que forma a mídia age transformando o espaço físico e sua imagem. Palavras-chave: zona leste; São Paulo; mídia; cidade; progresso.

BIBLIOGRAFIA

BAITELLO JR., Norval. Vilém Flusser e a terceira catástrofe do homem. Disponível em:

< http://www.flusserstudies.net/sites/www.flusserstudies.net/files/media/attachments/terceira-catastrofe-homem.pdf> acessado em 14 de nov de 2015.

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CONTRERA, Malena. Simpatia e Empatia - Mediosfera e Noosfera. In: BAITELLO JR, Norval.; WULF, Christoph. Emoção e Imaginação: os sentidos e as imagens em movimento. São Paulo: Estação das letras e cores, 2014.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1981. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 1960.

ROLNIK, Raquel. São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2001. _______, Raquel. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988.

SILVA, M. R. De Babel a Cidade do Céu. A vertical, do mito à imagem. In: BORNHAUSEN, D. A.; MIKLOS, J. e SILVA, M. R. Cisc 20 Anos. Comunicação, Cultura e Mídia. São José do Rio Preto: Bluecom, 2012.

Referências

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