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Os Jovens e as Desigualdades Sócio-Espaciais no Município do Rio de Janeiro

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Os Jovens e as Desigualdades Sócio-Espaciais no Município do Rio de

Janeiro

Francisco Costa Benedicto Ottoni

Palavras-chave: População Jovem; Desigualdade sócio-espacial; mercado de trabalho; Rio de Janeiro.

Resumo

A urgência e a relevância de se trabalhar com a população jovem estão expressas pelos indicadores de exclusão do sistema educacional e também pela falta de oportunidade e limitações em sua inclusão no mercado de trabalho. O objetivo deste estudo é contribuir para a análise da distribuição espacial da População Jovem- 15 a 24 anos -, tal como definida pelo IBGE, no município do Rio de Janeiro, a partir dos microdados do Censo Demográfico 2000 e através da combinação e do cruzamento de diferentes variáveis como escolaridade, trabalho, rendimento e cor da pele. Pretende-se dessa forma apontar padrões de desigualdades sócio-espaciais que refletem as diferenças de inclusão e oportunidades dos jovens no sistema educacional e no mercado de trabalho, e levantar diferentes fatores e hipóteses para entender as razões e os mecanismos desses padrões. Para tal, buscamos a perspectiva de que as múltiplas formas de inserção dos jovens na sociedade se dão, preponderantemente, a partir de suas origens e posições de classe social.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu-MG –Brasil, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2008”

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Os Jovens e as Desigualdades Sócio-Espaciais no Município do Rio de

Janeiro

Francisco Costa Benedicto Ottoni

1. Introdução

O objetivo deste trabalho é contribuir para a análise da distribuição espacial da População Jovem - 15 a 24 anos -, tal como definida pelo IBGE2, do Município do Rio de Janeiro, através da combinação e do cruzamento de diferentes variáveis como escolaridade, trabalho, rendimento e cor da pele. O presente estudo se insere em um projeto maior intitulado “Desigualdade, Migração e Pobreza na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Grupo de Estudos Espaço e População (GEPOP) do Departamento de Geografia/UFRJ.

Pretende-se apontar padrões de desigualdades sócio-espaciais que refletem as diferenças de inclusão e oportunidades dos jovens no sistema educacional e no mercado de trabalho, e levantar diferentes fatores e hipóteses para entender as razões e os mecanismos desses padrões. A urgência e a relevância de se trabalhar com a população jovem estão expressas pelos indicadores de exclusão do sistema educacional e também pela falta de oportunidade e limitações em sua inclusão no mercado de trabalho. Essas duas variáveis, estudo e trabalho, devem ser analisadas de forma conjunta e, por isso, tentaremos, a partir de correlações estatísticas, identificar as suas possíveis formas e relações.

O IBGE define como população jovem todos aqueles que se encontram na faixa etária de 15 a 24 anos. Contudo, cabe destacar que a noção de juventude é uma construção histórica e cultural, e não é possível entende-la apenas a partir dos critérios demográficos e biológicos que nos permitem definir uma faixa etária onde os jovens se encontram. Não é objetivo, deste trabalho, discorrer acerca de todos os valores que a idéia de juventude tomou ao longo da história, porém, mesmo em um estudo predominantemente quantitativo observa-se que não é possível falar-se de juventude no singular. As múltiplas formas de inserção dos jovens na sociedade se dão, preponderantemente, a partir de suas origens e posições de classe social. Isto é, a noção de juventude como um período de dependência caracterizado pela aprendizagem e preparação para a vida adulta3, não pode ser transportado para a realidade sem essas considerações.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu-MG –Brasil, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2008”

Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

2

Censo Demográfico de 2000

3

WAISELFISZ, J. Juventude, violência e cidadania: os jovens de Brasília. São Paulo: Cortez Editora, 1998. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001308/130866por.pdf. Acessado em: 20 mar. 2008

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O Município do Rio de Janeiro foi escolhido como recorte espacial, pelo fato de sua geografia apresentar uma forte desigualdade sócio-espacial que reflete as diferenças de acesso e oportunidades dos jovens e contribui para a manutenção de tais desigualdades.

2. Metodologia

A unidade espacial de análise utilizada é a Área de Ponderação (AP), definida pelo IBGE como a menor unidade de análise espacial para a divulgação dos resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000. A Área de Ponderação é um agregado de setores censitários, e por isso, sua delimitação não corresponde exatamente aos limites dos bairros do município. O município do Rio de Janeiro possui 170 APs e em alguns casos, o limite da AP coincide com áreas de favela, o que nos permite tirar informações mais peculiares. O mapa a seguir mostra a divisão das APs com a sobreposição das áreas de favela.

Para inserir informação cartográfica nos mapas, foi utilizado o Banco Multidimensional de Estatísticas (BME/IBGE), que permitiu o acesso aos microdados do Censo Demográfico 2000, a partir dos quais foram elaboradas, com auxílio do software Excel, matrizes gerais e tabelas obtidas pelo cruzamento das categorias e variáveis supracitadas. A partir desse material foram produzidos cartogramas temáticos com o uso do software

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ArcView 3.2. Além disso, o software Excel possibilitou o cálculo da função de correlação estatística de diferentes variáveis e a elaboração de gráficos de dispersão a partir dos dados.

3. Resultados e Discussões: Análise inicial:

O primeiro mapa a ser feito foi o do percentual de população jovem segundo áreas de ponderação. Essa análise inicial da distribuição espacial da população jovem indicou uma maior concentração relativa (em torno de 20%) nas Áreas de Ponderação (APs) referentes à Zona Oeste e, uma menor concentração, menos que 15%, nas APs localizadas na Zona Sul.

Mapa 1

Segundo o Censo Demográfico do IBGE/2000, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro era formada por 19 municípios e possuía 10.894.143 habitantes, sendo 1.965.037 pertencente à faixa etária de 15 a 24 anos. Do total desses jovens, 52,05% , ou seja, 1.022.894 se encontrava em um único município, o Rio de Janeiro, representando 17,38% da população carioca total. Os jovens do município eram formados por 51% de mulheres e 49% homens e, quanto à cor da pele, predominava a branca (55,6%), seguida da parda com 33,2%, da preta com 9,9%, e da amarela e indígena com menor porcentagem (0,2%).

Em torno de 50% dos jovens cariocas participam da População Economicamente Ativa (PEA) que, segundo definição do IBGE, são aqueles que na semana em que o Censo foi realizado, exerciam trabalho remunerado, trabalho não remunerado, trabalho na produção para o próprio consumo ou, tomaram alguma providência para conseguir trabalho. Uma grande porcentagem dos jovens que participam da PEA, 29,23%, tomaram alguma providência para conseguir um trabalho, mas não conseguiram, constituindo assim a PEA não ocupada. Se considerarmos o total da PEA carioca, não só apenas os jovens, a taxa de não ocupação é bem

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menor - 15,87% - ou seja, essa constatação mostra, de forma geral, como a simples mudança de faixa etária pode representar grandes disparidades nas taxas de ocupação4.

Ocupação e Rendimento

A taxa de ocupação entre os jovens apresenta grandes diferenças se analisarmos cada uma das 170 Áreas de Ponderação do município do Rio de Janeiro. O mapa 2 mostra que, em algumas APs, o percentual de ocupação chega a ser maior que 79%. Pode-se facilmente destacar, nesse perfil, as APs localizadas na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Zona Sul. Além disso, constata-se um grande número de APs, principalmente, na Zona Norte e Oeste do município que possuem taxa de ocupação menores que 68%. É importante salientar que, em termos absolutos, não significa que são nessas APs onde maior número de jovens buscam trabalho (não confundir com a PEA), e sim, onde há maior porcentagem dos jovens ativos com ocupação.

Mapa 2

Ainda assim, essa variável não nos permite tirar grandes conclusões a cerca das desigualdades sócio-espaciais, pois, como já foi mencionado, o trabalho não remunerado e o trabalho para o próprio consumo também se enquadram nas estatísticas da PEA. Convenhamos que, para melhor averiguar as diferenças de acesso ao mercado de trabalho, temos que saber qual o rendimento do trabalhador. O mapa 3 mostra o percentual de jovens

4

A taxa de ocupação aqui referida é o percentual de jovens economicamente ativos que são ocupados, ou seja, que trabalham.

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ativos que conseguem um rendimento maior ou igual a 5 salários mínimos (SM)5. Com esse mapa, as desigualdades ficam ainda mais ressaltadas tornando evidente a discrepância de áreas como a Barra da Tijuca e da Zona Sul, onde o percentual de jovens ativos com rendimento maior que 5 SM é de mais de 15% a 26%, enquanto que a Zona Oeste apresenta, em sua maior parte, APs com menos de 4%.

Mapa 3

Relações entre escolaridade, rendimento, cor e local de moradia.

Buscando entender melhor o porquê dessas diferenças em relação ao SM e à taxa de ocupação, correlacionamos esses mapas com outros dois: o de percentual de jovens com mais de 11 anos de estudo (mapa 4) e o de percentual de jovens brancos (mapa 5).

Comparando os três mapas, observa-se que a maioria das APs que possuem alto percentual dos jovens ativos com mais de 5 SM de rendimento, são também aquelas que possuem maior percentual de população com mais de 11 anos de estudo (40% a 65%) e

5

O valor salário mínimo na data de referência do Censo era de R$151,00 (cento e cinqüenta e um reais), ou seja, 5 salários mínimos equivalia a R$755 (setecentos e cinqüenta e cinco reais).

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branca (70% a 96%). Por outro lado, as APs com menores percentuais como as localizadas na Zona Oeste e na Zona Norte, entre elas algumas APs de favelas são, na sua maioria as que possuem os menores percentuais de população com mais de 11 anos estudo (até 25%) e de brancos (até 50%).

Mapa 4

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A correlação de Pearson dessas variáveis mostrou-se ser direta e bastante forte. O percentual de Jovens Ativos com mais de 5 SM de renda obteve um grau correlação de 0,89 tanto em relação ao percentual de Jovens com mais de 11 anos de estudo como em relação ao percentual da População Jovem Branca. Essas duas últimas variáveis, quando correlacionadas, apresentaram um grau de 0,92. Os Gráficos de Dispersão 1 e 2 mostram claramente as correlações entre os dados referente às 170 APs:

Gráfico 1

Correlação entre o percentual de jovens ativos com Redimento maior que 5 SM e o percentual de Jovens com mais de 11 anos de estudo

0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 5 10 15 20 25 30

Percentual de Jovens Ativos Com Rendimento Maior que 5 Salários Mínimos

P e rc e n tual de Jove ns Com ma is de 11 Anos de Estud o Série1 Linear (Série1) APs Linha de Tendência

Fonte: BME/IBGE. Microdados Censo Demográfico 2000.

Gráfico 2

Correlação entre o percentual de jovens com mais de 11 anos de estudo e percentual de população jovem branca 0 20 40 60 80 100 120 0 10 20 30 40 50 60 70

Porcentagem de jovens com mais de 11 anos de estudo

Po r cen tagem de P o pu la ção Jov em Bran c a Série1 Linear (Série1) APs Linha de Tendência

Fonte: BME/IBGE. Microdados Censo Demográfico 2000.

Entretanto, devemos tomar muito cuidado para não tirarmos conclusões definitivas a partir dessas correlações. Uma correlação não é uma relação de causa e efeito. Podemos sim

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inferir que a escolaridade possui um grande peso na oportunidade desses jovens ao mercado de trabalho, contudo, esta está longe de ser a única variável.

A desigualdade racial, por exemplo, fica claramente explícita quando constatamos que as áreas onde existem os menores percentuais de jovens ativos com mais de 5 SM de rendimento e de jovens com mais de 11 anos de estudo são, na maioria, aquelas APs com os menores percentuais de jovens brancos. A desigualdade racial pode ser vista como apenas fator histórico social, ou ela ainda se perpetua a partir da discriminação da cor da pele? As áreas faveladas e as grandes concentrações de pobreza seriam apenas um reflexo da desigualdade? Ou funcionam também como condicionantes a partir do momento que exista uma profunda discriminação e quase nenhuma perspectiva de ascensão social em relação á população favelada e pobre? Em resumo, será que um jovem com mesmo tempo de escolaridade que um jovem branco e morador de uma área nobre possui menores chances de obtenção de um bom emprego por ser morador de uma área pobre e não ser branco?

Essa não é uma questão simples de ser respondida, muito menos através apenas de dados e mapas. Para podermos inferir respostas a essas perguntas, analisamos os dados correspondentes aos jovens com grau de escolaridade bastante parecidos. Com isso, o peso de outras variáveis, como o local de moradia e a cor da pele, pode se sobressair. O mapa 6 mostra o percentual de Jovens Ativos e que possuem 11 anos de estudo com rendimento maior que 5 SM.

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Supomos que, se não existisse qualquer forma de discriminação, se não houvesse áreas carentes de infra-estrutura e se o ensino de qualidade fosse uma realidade para todos os jovens, o mapa 6 apresentaria uma desigualdade bem menos significativa. Apesar de terem o mesmo grau de escolaridade e ambos estarem procurando trabalho, o percentual com mais de 5 SM de rendimento é de, por exemplo, 37% no Leblon e 3% na Cidade de Deus. As áreas com menores percentuais são, em sua maioria, aquelas mesmas que possuem os menores percentuais de população branca. Este resultado preliminar já nos mostra que as perguntas levantadas, devem sim ser levadas em consideração, pois, variáveis como o local de moradia e a cor da pele mostram ter um peso significativo.

Relação Trabalho e Estudo

Além de existirem claras diferenças em relação às condições de entrada dos jovens no mercado de trabalho, outro aspecto que deve ser ressaltado é que, como já foi dito anteriormente, uma outra metade dos jovens não participam da PEA, ou seja, não estão procurando trabalho ou trabalhando. O percentual de jovens ativos pode ser analisado no mapa 7 a seguir:

Mapa 7

Quando comparamos este mapa 7 com o mapa do percentual de jovens com mais de 11 anos estudo (mapa 4), averiguamos que existe uma média correlação inversa (-5,01) entre as duas variáveis, como pode ser visto no gráfico 3:

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Gráfico 3

Correlação entre a Porcentagem de Jovens com mais de 11 anos de estudo e a porcentagem de Jovens na População Economicamente Ativa

0 10 20 30 40 50 60 70 20 30 40 50 60 70 80

Porcentagem de Jovens na População Economicamente Ativa

P o r ce n tage m de Jove ns co m ma is de 11 anos de estud o Série1 Linear (Série1) APs Linha de Tendência

Fonte: BME/IBGE. Microdados Censo Demográfico 2000.

Dessa forma, a maior parte das APs que possuem os maiores percentuais (de 60% a 71%) de jovens que participam da PEA como, por exemplo, nas APs referentes aos bairros de Jacarepaguá, Itanhangá, Rocinha, Caju, Maré, Complexo do Alemão e Vigário Geral, são também aquelas que possuem os menores percentuais de jovens com menos de 11 anos de estudo. Por outro lado, as APs de menores percentuais (até 50%) de jovens participando da PEA, como aquelas situadas na Zona Sul, Barra da Tijuca e Jardim Guanabara, são as que apresentaram maiores porcentagens de jovens com mais de 11 anos de estudos.

Essa análise sugere que a relação estudo e trabalho se realiza de maneira diversificada entre os jovens e as demais faixas etárias da PEA. Muitos jovens vêm tendo que assumir, prematuramente, atividades geradoras de renda e por isso entram na PEA, afastando-se muitas vezes das possibilidades abertas por uma escolarização mais prolongada. Por outro lado, quanto mais tardio a entrada do jovem na PEA, maior é o seu tempo para estudo. Baseado na tipologia desenvolvida por Filgueira e Fuentes, os jovens que estudam e não trabalham podem ser caracterizados como vivenciando uma situação típica de dependência econômica em relação aos seus pais, desempenhando assim o papel social de “adolescentes típicos”; A combinação inversa, jovens que trabalham e não estudam corresponde à configuração de papéis adultos6.

A partir dessas ultimas constatações, conclui-se que a renda familiar se mostra de fundamental importância para entender a condição do jovem. A posição de classe social do jovem vai ser muito relevante na necessidade de geração de renda e, consequentemente, no abandono do sistema escolar. Dificilmente, o jovem consegue desempenhar os dois papeis ao mesmo tempo, o estudar e trabalhar. Ao contrário do que muitos pensam, o abandono da escola é, na maioria das vezes, acompanhado pela necessidade do jovem de trabalhar, ou seja, entrar na População Economicamente Ativa. Como já havia sido observado por Cassab, “a

6

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idéia de uma juventude ociosa é muito mais um mito do que a realidade que os dados revelam.”7

A entrada prematura de jovens pobres na População Economicamente Ativa, não quer dizer, necessariamente, que estes consigam um emprego no mercado formal e com boa remuneração. As APs onde existem um maior percentual de jovens ativos são, em sua maioria, aquelas onde ocorrem os menores percentuais de jovens ativos com rendimento maior que 5 SM. Além disso, como podemos observar no mapa 8, essas APs são aquelas onde existem os maiores percentuais (49% a 64%) de jovens ocupados com trabalho em serviços, vendas, lojas e mercado, ou seja, trabalhos que exigem pouca qualificação profissional.

Mapa 8

4. Considerações Finais e Perspectivas

A partir dos dados e mapas expostos, no que tange a população jovem do município, percebe-se a existência de um padrão espacial de desigualdade social evidenciado, principalmente, nas diferenças de oportunidade no sistema educacional e no mercado de

7

CASSAB, Maria Aparecida Tardin. 2001. Jovens Pobres e o futuro: a construção da subjetividade na instabilidade e incerteza. p. 80

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trabalho. As APs localizadas principalmente na Zona Sul, Barra da Tijuca e Recreio, são aquelas onde os jovens possuem maior escolaridade e rendimento no trabalho, enquanto as que possuem menores taxas são as APs localizadas em grande parte da Zona Oeste, Norte, e nas favelas espalhadas por todas as regiões da cidade.

Entender as razões e os mecanismos dessa desigualdade não é algo simples. Existem outros fatores que não se expressam por dados que influenciam muito nas condições e oportunidades desses jovens. Antes de tudo, deve se levar em conta que o problema da precarização do trabalho e da falta de ocupação é algo inerente ao próprio sistema capitalista8, com peculiaridades de cada país ocorrendo em todas as faixas etárias e, inclusive, em países “desenvolvidos”.

Para entender as dificuldades dos jovens no município do Rio de Janeiro em sua inserção no mercado de trabalho, deve-se levar em conta, primeiramente, a renda familiar. Como foi mostrado, na relação estudo e trabalho do jovem, quanto maior a renda familiar maiores a chances de uma longa escolaridade. Consequentemente, os jovens que possuem maior escolaridade terão maiores chances de conseguir um trabalho com melhores rendimentos, como sustenta Cassab: “O mercado de trabalho no Rio de Janeiro apresenta mais possibilidades de inclusão para aqueles trabalhadores com maior escolarização.”9

A escolaridade é sim muito importante no aumento de possibilidades, mas ela não é a única variável que explica as diferentes condições de trabalho dos jovens. A questão da discriminação racial e da pobreza não deve ser deixada de lado. Algumas questões devem ser levantadas e aprofundadas: até que ponto a discriminação contra negros e pobres favelados não influenciam em suas chances desses jovens de obtenção de emprego, independente da sua escolaridade? Quais os valores culturais que acarretam a noção de juventude nos tempos de hoje?

Cassab alerta para a idéia do estereótipo do malandro em relação aos jovens pobres negros e mulatos no espaço urbano, identificados como vagabundos e ligado ao crime10. Essa correlação de criminalidade e pobreza principalmente neste faixa etária, vai sim discrimina-los, principalmente no mercado de trabalho formal. Miriam Abramovay também chama atenção para as dificuldades enfrentadas pelo jovem no município do Rio de Janeiro ao tentar conseguir o primeiro emprego. Além do requisito da qualificação profissional e de uma maior possibilidade de inclusão para aqueles trabalhadores com maior escolarização, existe uma forte discriminação quanto à cor da pele e ao local de moradia que não pode ser “considerado violento”. 11

As áreas pobres da cidade, principalmente as favelas cariocas, são espaços de segregação social. Ao mesmo tempo em que esses jovens pobres são excluídos do sistema educacional de qualidade, não se pode “esquecer que a maioria dos pobres urbanos está integrada, sim, econômica e mesmo política, e culturalmente no sistema”12. Conforme observados nos mapas 4 e 8, tais aglomerados de pobreza desempenham um papel de reservatório de mão-de-obra barata, principalmente no setor de serviços. Essas áreas

8

SINGER, P. Globalização e desemprego - diagnóstico e alternativas. São Paulo, Contexto, 1998./

9

CASSAB, p. 106

10

CASSAB, p. 87

11

ABRAMOVAY, M. ; LEITE, A. M. A. ; ANDRADE, E. R. ; ESTEVES, L. C. G. ; NUNES, M. F. R. ; BONFIM, M. I. R. M. ; FARAH NETO, M. . Escolas de Paz. 2. ed. Brasília: UNESCO, 2001. v. 1- p.94

12

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funcionam também como condicionantes da ação e mobilidade social, principalmente no que tange ao acesso dos jovens a trabalhos com melhores rendimentos. A perspectiva de futuro é mantida em patamar de precarização para esses jovens.

Este trabalho não tem a pretensão de fazer um estudo conclusivo. Uma pesquisa apenas quantitativa não é capaz de abranger todas as questões ligadas aos problemas enfrentados pelos jovens nas suas formas de inserção no sistema escolar e no mercado de trabalho. É imprescindível analisar também o aspecto cultural e levar em conta um estudo da organização interna da cidade e sua da relação com outras cidades, principalmente quando se trata de regiões metropolitanas.

Dessa forma, algumas questões devem ser aprofundadas:

• Quem são e de onde vem os jovens que buscam empregos? E os empregadores?;

• Qual tipo de emprego ou trabalho que os jovens procuram ou desejam?;

• Existem preferências, indicações ou discriminações na escolha dos empregados?;

• Como as redes de transportes e informações se relacionam e se distribuem no espaço e ajudam no contato desses jovens com as ofertas de trabalho?;

• Existe diferença na qualidade de ensino nas redes de escolas públicas e privadas?;

• Existem outras alternativas, “não capitalistas”13

para o problema do desemprego e do sistema educacional?

5. Referências Bibliográficas:

ABRAMOVAY, Miriam. 2002. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas. Brasília. UNESCO, BID

__________ ; LEITE, A. M. A. ; ANDRADE, E. R. ; ESTEVES, L. C. G. ; NUNES, M. F. R. ; BONFIM, M. I. R. M. ; FARAH NETO, M. . Escolas de Paz. 2. ed.

Brasília:UNESCO,2001.v.1-disponível em: http://unesdoc.unesco.org. Acessado em: 20 mar. 2008

CASSAB, Maria Aparecida Tardin. 2001. Jovens Pobres e o futuro: a construção da subjetividade na instabilidade e incerteza. Niterói. Editora Intertexto

CEPAL. Panorama Social de América Latina 2000. Santiago de Chile. CEPAL, 2000 IBGE, 1999. População Jovem no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

WAISELFISZ, J. Juventude, violência e cidadania: os jovens de Brasília. São Paulo: Cortez Editora, 1998a.– Disponível em: http://unesdoc.unesco.org Acessado em 20 mar. 2008.

13

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SOUZA, Marcelo Lopes. O desafio Metropolitano: um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

__________ ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003. SINGE, P. Globalização e desemprego - diagnóstico e alternativas. São Paulo, Contexto, 1998./

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Referências

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