Co-пm':АО
Imprensa da Universidade de Colmbra
Comissao de Coordenac;:ao е Dе.шvоlvimепtо Regional do Centro CONCL\pt;:Ao GRAFlCA
Antonio Barros
САРА Fоюgrаfiа © Ilda Castro
PR~AMPRESSAO www.art1pol.net ЕН.<:Щ:Ао GRЛFJСА www.artipo1.net rSBN 978-989-26-0111-3 DEP6slTO Lt;'.GAL 333429/11
OIJRA PUBLICAOA СОМ О АРОIO ОЕ:
CEGOT
Ul1iversidades de СОlmЬщ
POr1o е Мiпhо
FCT
Funda,.ao
рата а
Ciencia
е а
Tecnologia
MINISTERIO DA CIENCIA, ТIJCNOLOGIA Е Щ'J'SINО SUPBRlOR Porrugu
OBRA CO~FINANCIAOA POR:
~
QUADRODЕ REF[RtNCIA E5TRATEGlCO ~~~?~~~
© NОVЕМВIЮ 2011. IMPRENSA ОА UNlVЕRSША()t;'. Dt;'. СоrмПRА
UNIAo EUROPEIA ~,"doJtl .. "," do_o~_OR"''''''
TRUNFOS DE UMA
EOGRAFIA ACTIVA
DESENVOLVIMENТOLOCAL,
AMBIENTE,
ORDENAMENТO Е ТECNOLOGIANorberto Santos
Lucio
Cunha
COORDENA<;AOIMPRENSA ОА UNIVERSIDADE ОЕ COIMBRA 2011
}оао Sarmento1, Maria}oao Costa2
1
Departamento de Geografia, Universidade
do Minho
&
Centro de Estudos Geogrdficos,
Uni-versidade de Lisboa.
2 Sщао
Aut6noma de Ciencias Sociais, Juridicas
еPoliticas, Universidade de Aveiro
&
Cdmara
Municipal de Trancoso.
А PERCEPy\O DA MUDANt;:A: О CENTRO НlST6RlCO DE TRANCOSO
INТRОDЩ:АО
Este artigo pretende севесйс sobre о que apelidamos de 'texturas de иm lugar', dis-cutindo as реrсерфes que varias pessoas (~m acerca de иm conjunto de possfveis
transfor-mаr;:беs do centro hist6rico de Trancoso. Apesar de пита fase inicial podermos pensar еm texturas apenas сото ита epiderme, as suas distintas qualidades podem ser Ьет
profundas, е entendidas enquanto lugares, sao onde о sujeito е о objecto se encontram. Sabendo que о processo de planeamento (ет tentado percorrer о caminho шmо ао pla-neamento participativo, е sabendo igualmente que а participar;:ao civica esta intimamente amarrada а percepr;:ao do espar;:o, а experiencia do lugar, procura-se aqui dlscutir de que forma е que os centros hist6ricos sao percebidos pela popular;:ao que lhe е aparentemente mais pr6xima (que nde reside ои trabalha), е tambem de que forma е que а compteensao da percepr;:ao dos espar;:os pode contribuir раса que as intеrvещбes а realizar nestes espar;:os respeitem а sua identidade е t~turas.
Tcancoso, vila elevada а cidade еm 2004 localiza-se по interior do pais, по disrrito da Guarda. А cidade, consrituida pelas freguesias de Santa Maria е Sao Pedro, tem ита рори
lar;:ao de aproximadamente 3100 habitantes (INE, 2001). Еm termos ffsicos, о centro hist6-::rico е ит espar;:o perfeitamente delimitado dentro da ешutura urbana da cldade de Tran-.coso, ита vez que preserva ainda а cercadura de muralhas, que se encontra relativamente
. :рет conservada, е lhe confere ита aparente unidade Еасе ао resto da cidade que а envolve.
~J3.ssa unidade que а disringue dos restantes espac;os que а circundam, assenta па referida
..• ··~ .. 1.Lц"quе а resguarda, ПаБ portas que simbolizam е materializam о 'dentro' е о 'fora', па
'!p()rn)!oQ:ia delicada е sinuosa das ruas, nas соnstrur;:беs, ПаБ prar;:as е largos1•
Definimos раса о presente trabalho rп~s objectivos centrais. Еm primeiro lugar,
pre-~~~''''~''ШJ~ trar;:ar ит ponto de partida para а discussao da lnterpretac;ao е percepc;ao de ит
de pessoas quando confrontadas сот cenarios de transformar;:ao de иm espar;:o
Еm segundo lugar, pretendemos testar иmа metodologia que coloca еm соп
ит conjunto de pessoas сот diversas fotograflas manipuladas que ilustram formas de intervenr;:ao по espar;:o urbano, metodologia essa que se pretende que possa ser
ainda que cidade, integra о grupo de 12 vHas е aldeias que Езzет рассе do Programa da.s Aldeias criado па segunda metade da decada de 90 do seculo ХХ. Segundo е.о;Се prograrna, ет 2008 а cidade
.
тш. de 38000 turista.5 (АНР, 2009).228
uma ferramenta imagiшivеl е profIcua пит processo de planeamento patticipativo. Рос Шlimо, pretendemos contribuir раса а reflexao ет torno da natureza dinirnica do centro hist6rico de Trancoso, reflexao essa que е importante па natureza da revitalizщ:ао е сеа bilitacyao deste espacyo.
А PERCEP<;:AO Е А TRANSFORМA<;:Ao DO ESPA<;:O иRВЛNО
А tradicyao geogriflca da tentativa de compreensao dos significados е processos da constituicyao do 'lugar' - as suas qualidades materiais е simb6licas - Ьет сото do espectro de pessoas е rеlаs:беs sociais que сошiпuamеntе definem е criam сошеx:tоs sociais е espa-ciais (Adams et. al 2001) 1:, extremamente rica. Na Geografia, а tradicyao humanista dos trabalhos dos anos 70 е 80 do seculo ХХ que enfatizavam о lugar е а sua experiencia, teve
ита continuidade по seculo XXI, ainda que а enfase Heideggeriana da tеorizaфо de modos de vida е habita.r tenha dado lugar а ехрlоrасубеs que evitam esses conceitos universais
(Adams et, al, 2001), А ехрlощ;ао das geografia,
da
imaginal'ao е do ,еи papd паcons-trucyao de lugares continua а ser ит tema fulcral, tratado по contexro da Geografla cultu-ral е das Geograflas p6s-coloniais, рос exemplo.
Ет muitas cidades, о сотрес сот os limites impostos pela muralha originou а criacyao de novos centros que foram relirando а supremacia ао tradicional centro urbano, coinci-dente, num grande питесо de situафеs, сот о сешrо hist6rico. А cidade deixou de esta.r delimitada pelas muralhas е espraiou-se pelo espacyo circundante, alterando profunda-mente а sua configuracyao. Dcstas iпtеrассубes resullacam processos пао incomuns сото о
esvaziamento ои 'abandono' dos centros паdiсiопаis сото espacyos de residencia ои mesmo de vivencias quotidianas significalivas. Outras Iraject6rias resultaram ет novos estatutos simb61icos, quando о centro tradicional, concordante сот о 'centro hist6rico', adquiriu um estatuto de 'patrim6nio'. А рапir das decadas de 70 е 80 do seculo хх, а cidade hiSI6-rica tornou-se поvamеше alvo de atencyao е de inumeras iпtеrvепсубеs urbanas (Brito-Hen-riques, 2003). Сото argumenta Salgueiro (1999:392), «os «centros hist6ricos) foram eleitos сото ит dos problemas mais impoctantes das cidades», е а ideia е condicyao de patrim6nio, permitiram que о seu estudo adquirisse ита impoctancia vital па elaboracyao de poHticas е praticas de revita1izacyao е desenvolvimenro (Ramalhete, 2006). Расе а este crescente interesse, е сот о objecrivo de desenvolver medidas capazes de solucionar as patologias que estes cspacyos foram desenvolvendo, tem sido criadas v:irias poHticas шЬanа.'!
ligadas а reconversao е rcabilitacyao urbanas. Longe de serem espacyos estagnados, estas
intеrvепсубes ует сотрсоуас о seu dinamismo е impocclncia.
А реrсерфо е пао s6 uma resposta dos sentidos aos escimulos externos та.'! rзmЬ6n ита
actividade critica па qual certos fen6menos sao claramente registados enquanto outros sao retirados раса а sombra ou sao bloqueados. А реrсерфо que сш ит de n6s constr6i do espas:o 1:, um processo resultante da fusao entre aspectos bio16gicos е aspectos culturais que dizem respeito а sociedade ет quc cada individuo se insere. Ао mesmo tempo, о espacro «1:,
simultaneamente objectiv~ е subjectivo, material е metaf6rico, um meio е um resultado da
vida social» (Soja, 1996:45) Niio pode, portanto, ,е' tido сото algo estatico, mas pelo
contrario, сото algo dinirnico, ет consrante mutacrao, usado IamЬem сото ferramenta па
producyao е reproducyao do pr6prio espacyo е encontrando-se па base da reorganizacyiio social,
ои seja, раи alem de produto social, о esP"l'0 desempenha tambem um papd fi.шdamепtal
па reestruturacyao da cidade. Рor ощro lado, segundo Cresswell (2006:356) о conceito de lugar «refere-se tipicamente а ит segmenro particular da superfIcie da terra que 1:, caract-erizada рос um sentido Unico de реrtещ:а е ligacyao que о torna diferente de todos os outros lugares ет redor». Lugar е 'sentido de lugar' sao assim criticos nesta analise. Na сtiафо de propostas de intеrvепфо шЬanа, о recurso а реrсерфо surge сото focma de entender о
modo сото diversas pessoas compreendem е idealizam estes espacyos. Desta focma, о estudo da реrсерфо que um gmpo de pessoas tem de um espacyo consolidado, сото 1:, о cзsо do centro hisrorico de Trancoso, constitui uma ferramenta
iltil
de furma а estabelecer итаcorres-pond~ncia ешrе as asрiraсубes dos seus utilizadores е as рrороsIЗ.S de iпtеrvепфо criadas.
METODOLOGIA
о processo de photo elicitation2 baseia-se па ideia simples de inserir imagens e/ou foto-graflas пита entrevista de investigacyao (Harper, 2002:13). Trata-se de uma tecnica cuja implementacyao е bastante elementar е cujas vantagens podem ser valiosas, uma vez que permite introduzir informacrao distinta е mais complexa da encontrada normalmenle num inquerito convencional (уес Pato е Silva, 2006). Ао recorrermos а esta metodologia, рсе
tendemos estimular os inquiridos а reflectir nas imagens que constroem do espacyo е Па.'!
suas реrсерфes do centro hist6rico.
Numa primeira fзsе foram sdeccionados е posteriormente fotografados dez locais do
сеntсо hist6ricоЭ (Fig.1). Sao lugares сот necessidade de iпtеrvепфо urbana de reabilita-суао 'urgente', е сот ита grande importancia estrategica, ja que' constituem, па sua Мшо
ria, espacyos de circulacyao quase obrigat6ria, quer раса quem reside, quer раса quem visita
о centro hist6rico. Sao as principais arterias deste espacyo, que se debatem сот а proble-matica da сirсulафо ащоm6vеl devido а sua exiguidade, раса alem do facto de se епсоп
trarem rodeadas рос edifIcios que necessitam de cuidados especiais.
Num segundo momento, recorrendo а programas de tratamento de imagem4, е tendo
рос base as fotografias obtidas, foram feitas mоdifiсафеs Па.'! imagens, criando cenarios de
iшеrvепсуао. Раса cada um dos lugares seleccionados foram constru1dos varios сещiriоs, in-duindo altеraсубеs Па.'! fachadas, nos passeios, по 'mobilblrio' шЬапо, па vegetacyao (Figs.2-3), е na iluminacyao (уес Greg6rio, 2009). А metodologia de scenario visualisation consiste
па visualizacyao de cenarios posslveis раса ита determinada realidade. Neste trabalho,
сешiriо е encarado сото uma dеsсriфо da sltuафо actual, dc um futuro possIvel ои dese-javcl-Ьет сото de сопstruсубes estШzаdas de possIveis futuros, рос vezes ddiberadamente
па forma de estere6tipos, arquetipos ои situафеs extremas.
Relativamente а lluminacyao, foram criados novos «ambientes visuais) сот а
introdu-фо de cores diferenres, mais fortes е mais variadas (уес figs. 4-5). Росат ainda sugeridas
altеrасубеs раса os cari.deeiros que fazem а iluminacyao dentro do centro hist6rico, assim
2 Photo-inteгview;ng 011 Projective-interviewjng.
3 (1) Рогсзs d'El Rei, (2) Rua da Сопеdоurа, (3) Pra~a D, Dinis - mais conhecida сото Largo da Avenida, designa~ao que assumiremos -, (4) Latgo do Pelourinho, Largo Lufs Albuquerque - cujas proposras de iщег vещао se [осахаm еm t[~S espa~os discintos: (5) edificado а Norte do largo, (6) ediflcado а Su! do largo е (7) о largo ет si mesmo - (8) Rua Xavier da Cunha, (9) о espa~o envolvente ао Castelo е (10) о Casrelo propriamenre diro
4 ЛdоЬе Phocoshop CS2 е Масгоmеша Fireworks мх 2004.
230
Figura 1 - Pontos da Obturar;ao das Fotografias е Campos de Visao
-
-'-"-
---
.--Fonte: ЕlаЬоrщ:ао pr6pria сот base по Levantamento Aerofotogram~trico fornecido pela Cimara Munieipal de Trancoso
2 - Latgo da Av~nida - Revesrimento das fachadas ет
Figura 3 - Latgo da Avenida - Fachadas pintadas а branco сот desenhos dos monumentos рilш,dс>s
сото раса os holofotes que iluminam о castelo. No que respeita а introdujf:3.o de mobilbl-rio urbano е vegetajf:3.o, encontram-se desracados nas propostas apresentadas раса о Largo LUIs Albuquerque, onde se optou pela 'colocajf:3.o' de bancos ои cadeiras е mesas, fontana-rios е candeeiros, mas tambem algumas arvores. Elaboraram-se ainda propostas de
altera-jf:3.0 das fachadas (Figs. 2-3). Relativamente а cenarios mais conservadores podemos referir
os
das
fachadas, sobretudo aqueles ет que se optou pela pedra (Fig. 2) enquanto unico material de revestimento, ои quando о branco е utilizado сото unica сос das fachadas No respeitante а cenarios mais «fracturantes», pode referir-se о representado pela figura 3, que sugere que se representem os principais monumentos da cidade nas fachadas, desenhando-os ит роисо 'а la carte' (Fig.3).А altera,iio de со, па ilumina,iio quer das Portas d'El Rei, quer do castelo (Figs.4-5),
pret~ndia transformar signiflcativamente о ambiente visual, procurando maior qualidade de iluminar;ao, criando novos contextos mais acolhedores, requaliflcando espar;os margina-lizados е роисо atractivos. Сото Alves (2007: 1259) argumenta, «а luz artiflcial pode ser
ит instrumento de transformar;ao de territ6rios ajudando а revitalizar espar;os pub1icos (. .. ) fomentando ит sentido de pertenr;a е ита compreensao dos lugares.»
Figura 4 - Castelo - Iluminar;ao Alternativa - 1 (Мисо da ВасЬаса сот iluminar;ao azul (1) & Castelo сот ilumina,iio rosa (2).)
Figura 5 - Castelo - I1uminar;:3.o Alternativa - 2 (I1uminar;ao ет tons de verde mais escuro по Мисо da Barbac:3. (1)
е mais claro по Castelo
Num terceiro momento foi elaborado um questionario сот base nos cenarios criados, cujo objectivo еса conhecer v.irias reа(;\:беs е rеflехбes de um conjunto diversiflcado mas nao representativo de pessoas acerca destes mesmos cenarios5
. О inquerito permitiu recolher
informar;ao de cariz qualitativo sobre о centro hist6rico, sobre as iпtеrvепr;бes propostas е
outras iпtervепr;бes desejaveis. Transpareceu tambem о interesse dos participantes ет ех
pressar as suas ideias face а possfveis iпtеrvещ:беs а decorrer nestes lugares е еsрщ:оs, sendo que v.irios revelaram-se bastante criticos е entusiasmados face а apresentar;ao de fotografias, fazendo оЬsеrvаr;беs quer aos cenarios criados, quer а situщ:ао actual do centro hist6rico, tendo рос base а sua lcitura е, рос vezes, as suas mem6rias do espajfo.
Рос ultimo, foram realizadas entrevistas а seis dos inquiridos que se mostraram dispo-nlveis раса ит contacto posterior6
• Раса todos, а cumplicidade сот о centro hist6rico е
profunda. Foi acordado сот os entrevistados а realizajfao de ит percurso pedonal по
centro hist6rico, seguindo о trajfado estabelecido pela sequencia das quеstбеs dos inque-ritos. Para а realizar;ao da entrevista foi seguido ит guiao, cujo objectivo foi abordar
ques-tбеs relativas а j) elementos representativos, ii) elementos dissonantes, Ш) rradir;ao vеrsш
5 Realizaram-se 25 iпquеriюs entre os meses de Novembro е Dezembro de 2008, по centro hisrбriсо de Tran-coso, сот пта r.axa de resposra de арroximadаmеще 70%. Os inquiridos rinham idades compreendidas ешre os 17 е os 64 anos, sendo dez do sex:o masculillo е quinze do sexo feminino.
6 Maria, 43 anos, arque610ga; Marta, 29 anos, tecnica superior; Antбuiо, 26 anos, fuпсiощiriо pu.blico; Joa-quim, 64 anos, reformado; Raquel, 21 anos, еstudаще; е Anа 52 anos, professora (nomes flcticios).
232
autenticidade, iv) estetica das fachadas е У) сirсulщ:ао autom6vel. Tentou-se que еые fio condutor пао esраrtПhassе а liberdade dos entrevistados abordarem outras quеstбes que julgassem pertinentes по decurso da entrevista.
А PERCEPc;:AO DA МUDANС;:Л
Ет НnhаБ gerais, das vozes dos inquiridos е entrevistados resulwn tres disсшsоs sobre о centro historico: 'а рсосша da ordem', 'а сrisralizафо do espayo' е 'о dom{nio da mate-rialidade'7. Alnda que estes discursos пао sejam estanques пет sejam dominantes ет todas as pessoas оот quem dialogamos, eles estao presentes ао longo de quase todas as respostas aos
iпquеriюs е durante as entrevistas realizadas. Foi not6rio que exls[e umа рессеруао quase transversa1 sobre ита 'ordem' е umа fotтa de ser е de Уес о сеncсо hist6tico. Todos os
iщеrvепiеntеs neste estudo identificam оот rapidez um оопjunю de etementos que oonside-ram dissonantes, е que avaJiam оото descaracterizanres da imagem do сеntro hist6rico. Еntсе es[es desracam-se os edifIcios ет таи esrado de ооnsетуауао, os fios electrioos que se атоп
toam nas fachadas das casas е que frequentemente se cruzam рос сimа das таБ, е as
interven-r;бes realizadas ет varios predios, que пао roтрсет as medidas de sa1vaguarda estabelecidas
рarз о centro hist6tico, quer по que respejta aos materiais utilizados, а mоdifiсауЗо
da
ccrcia dos ediffcios е а а1tеraфes nas fachadas que [есшiпam descaraccerizando todo este espayo. Os candeeiros tambem sao referidos сото eleтentos роиоо agradaveis ет tetffiOS visuais, daf queиm elevado numero de inquiridos sugira а sua а1terафо. Defendem tamЬет а uпifurтizaуЗо dos toldos das 10jas, о que denota ита certa 'racionaIizayao', ита Ьшса pda homogeneizayao do espar;o, traduzida atraves da estandardizaф.о.
А grande maioria dos inquiridos (23 ет 25) mostrou a1guma surpresa face
as
propos-tas apresenradas. Concudo, muito рата а1ет das preferencias que cada ит deles revelou face aos cenatios, dos comencarios que resultaram da sua visualizayao, transpareceu ита predisposiyao раса algumas а1tеrаубеs. Os largos da АуепЫа е do Pelourinho sao еntеп
didos сото um s6 espayo е aqui as preferencias sao bastante conservadoras, па medida ет
que а rеutilizафо das cores tradicionais раса о rеvеstimешо das fachadas desagrada а ит elevado питеro de inquiridos (11 ет 25), que as entendem сото 'muito fortes'. О
aspecto deveria ser mais ашсесо е serio. Esta visao ordenada de oonjunto foi igua1rnente mencionada ет rеlаф.о а ·Rua da Corredoura. Isto revda que, talvez mais do que ет espayos individualizados dentro
do
centro hist6rico, haja ита visao de conjunto асесса do espayo, ет que sao criadas intеrrеlаубеs еntсе diversas ruas, Jargos, рсаузs, tomando сото ропсо de partida а Rua da Corredoura, encarada пао apenas сото carrao-de-visita doсещrо hist6rico, mas сото о espayo que deflne о padrao de intervenyao que poderia ser adoptado раса outras arrerias da уНа. Esta forma de уес о сепеro hist6rico arraves destes elemenros principais е tambem visfvel по que dlz respeito а iluminayao das Росrзs d'El Rei. Раса muiros (13 ет 25), as а1rеrаубеs propostas poderiam conrribuir -para а oflcia1i-zayao de ит РОntО parrida, um ропсо de ассасуао rur{srica, consrituindo шn тассо по
espayo. А mura1ha епquащо barreira ffsica constiruiu [атЬem ита barreira menra1. Ао
cruzar-se esra 'barreira', о espayo е pensado de forma distinra. Enquanro que а forma de
Уес о concelho de Trancoso е flexfvel, nao сао hierarquica, permeavel е mais toJeranre сот
7 Para иmа ашilisе exaustiva е de~agregada do~ dados ver Greg6rio (2009).
а diferenya, о centro hist6rico [ет que ser 'ordenado е museificado'. АБ cores а utilizar ПаБ
Portas d'El Rei deveriam ser suaves, pois о patrim6nio, а hist6ria, а 'importancia destes lugares', deve assentar па 'integridade' е 'атситауао'.
Расесе existir ит consenso genera1izado rеlайvаmепtе а necessidade de Hmitar а
circulayao autom6vel по centro hist6rico. Раrз. muiшs (23 еm 25), о autom6vel [соихе
consigo ита ruptura, ита ingerencla па continuidade dinimica mаБ espayada dos centros hisc6rioos. Ет grande medida constitul ита dissonancia по espayo patrimonia1 que se quer preservar е mesmo 'vender'. О centro pode 'сa1rnamеше тишс', mas а adaptayao ао ашоm6vеl е inexecutavd. Os contornos das limitay6es ао ащот6vеl sao distintos. Раса
a1guns (11 ет 25), bastaria encerrar ао traпsito а Rua da Corredoura, visto ser esta а rua principa1 do centro hist6rico, е onde se 10ca1iza ит grande питесо de estabelecimentos comerciais. Раса ощrоs (12 ет 25) о centro hist6rico е сао circunscrito que oonsideram
ШIО fazer sentido а circulayao autom6vel. &te 'voltar
as
origens', constituiria ита forma de restituir а сиаas
pessoas, restabelecendo-se assim а pastora1 шЬanа de outros tempos.О discurso de que as interveny6es по сеntro hist6rico devem preservar determinadas caracterfsticas, пао о 'estragando', pressupoe umа complexa поуао de [етро е de mudanya. Quando questionados асесса da [radiyao е da autenticidade, os entrevistados revelaram opini6es d.istiщаs. Рarз иns, havendo possibilidade de серос elementos tradicionais, сото
candeeiros е fопгалariоs, deveria op[ar-se primeiramente рос essa soluyio, esse 'сеtornо ао
passado'. No caso
de
tal пао ser posslvd е se utilizarem rерrodUубes de elementos antigos,argшnепtam que devia ser claro tratarem-se de replicas. Para а maioria (18 ет 25), за inves de ser antigo, 'parecer antigo pode resolver'. Т radiyao е autenticidade sao ideias complexas. Enquanto раса uns а tradi~ao revela~se па autenticidade dos elemenros е que neles se a1icerya
а imagem do espayo, para OUtros essa ttadiyao pode ser consumada atraves de dementos que fayam lembrar deтentos antigos.
АБ fachadas dos edifIcios do centro hist6rico foram ит родtо сотит nas оЬsеrvа~бes
mais negativa.<i efectuadas pelos entrevistados. Segundo estes, as fachadas constituem
ele-mentos imporGlntes па preservayao da imagem tradiciona1 dos lugares, mas по caso de
Тrалсоsо, еыа imagem tem-se vindo а perder. О recurso
as
cores tradicionais пао е сопsensual: se раса uns (Maria, Joaquim е Ала) seria ит regresso а identidade deste espayo, outros (Raqud е Marra) defendem que sao cores demasiado fortes que cairam ет desuso е
ta1vez ja пао se enquadrem mais neste espayo. Раса estes а pedra е as paredes pintadas de
Ьсапсо sao о que асша1тепtе mais identificam сот о conceito geral de «centro hist6rlco».
Рос ошrо lado, о recurso а outras cores poderia significar о perder рос completo а iden-tidade do espas:o, ита vez que \\ficaria parecido а Costa Nova>'! (Ant6nio). О сепСсо hist6-rico quer-se serio е igual а ит passado imaginado, mesmo que este seja recenre. Hist6ria,
me-m6ria е lugar constiruem ита triadc complexa (Юсош, 2004).
Apesar de neste domlnio se verificar ита forma de Уес crista1izada do cenrro hist6rico existem сатЬет outras ideias que denotam а1gшnа аЬесшса раса mudanyas que по nosso enrender sao interessantes. Deixamos aqui dois exemplos. Um dos cenarios criados раса о
Largo da Avenida propunha а pintura nas paredes dos edifIcios, ripo gгaffiti, dos principais monumenros da cidade, rratando-se portanto, de ита proposra fracturanre. Esta
transfur-тауао, que de шn modo gera1 desagradou а todos, deu origem а ита proposra de
projec-[ас estas mesmas imagens nas fachadas, criando ит especclculo de luz que poderia ser basranre arrac[ivo, sobrerudo duranre os meses de Уесао. Apesar das орiпiбеs dispares, todos расесет concordar que а iпrrоduфо de certos elementos modernos, poderia ser
234
ЬешНlса, desde que devidаmепtе enquadrados neste espa'.r0' На quem sugira que о mоЫ liario шЬanо а iпtroduzir па envolvencia do casrel0 deveria ser de linhas modernas de fotma а contrastat сот а antiguidade do mопиmеnrо que епуоlуе.
А maioria
das
рrеоcuра,бesdas pessoas
сот quem dialоgапlОSprende-se
сот аmate-rialidade do centro hist6rico: as fachadas е os seus materials, as formas е acess6rios. Mesmo а
rumensao' da ordem е racionalidade baseia-se па materialidade do espa~, е пао se espraia
рor elementos rransgressores imaterials. Apesar de рrаticamепrе todos 05 inquiridos se referi-сет
as
vivendas do centro hist6rico, quando о flzeram amarraram sempre esse assunro аmareria!idade do espa~o. А existencia de espa~s que perderam а sua fuщ:ао soeial de ponto de епсоnrсо focam sempre equadonados сот os рсоЫетаБ resulranres de ediffcios devоlщоs
ои subaproveitados (о Рзlаао Ducal рос ехетрl0). Um elevado nUmero de inquiridos (13
ет 25), referiu ser necessario que о
largo
Lu1s de A1buquerque se convertesse пит espa~ovivido ет que as pessoas pudessem 'esrar', mals do que 'ареПаБ passar'. Ainda que existam varias pessoas que desconsrroem а cidade hist6rica de Trancoso de formas inovadocas, ha
ита influ~cia grande de focmas de уес а partir de foca, levando а que perguntemos сот
que grau os lugares imaginados passam pela rransfurm~ao do cenrro пит Ьет de соnsито,
consrru1do sobretudo раса se уес de foca.
CONCLUSOES
А арliсафо
das
merodologias de Photo-Elicitation е Scenario Vistlalisation revelou-se muiro inreressanre раса а discussao da consrru~ao е реrсерфо do espa9J (neste caso de итcenrro hist6rico). О recurso а estas merodologias rornои possivel ита maloc aproxima~ao
enпе о investigador е os inquiridos е enrrevistados, па medida ет que as imagens despole-taram grande inreresse, estimulando os participantes neste estudo а manifesrarem а sua opiniao quando confrontados сот os diferentes cenarios criados. Esre merodo, сото refere
Натрес (2002: 14), permire obter ma.is infосmафо е informa~ diferendada е qualirariva, evitando alguns mal-enrendidos pr6prios do recurso а linguagem уесЬзl. 'А procura da ocdem', 'а Cfistalizaфо do espa~o' е 'о domfnio da marerialidade' enquanro discursos domi-nanres sobre о lugar е sobre а focma de уес о cenrro hisr6rico аратесет vincados ПаБ се
flex6es dos participantes. No enranro, estas 'formas de уес' assumem diferenres ronalidades atraves da diversidade de enrendimentos sobre conceitos сото о
de
'ащепticidаdе', que pendula entre 'ащеnricо' сес que ser о ociginal е 'ащепtiсо' poder ser ита reрresепtaфоseria do passado. А reflexao sobre os signiflcados
das
[ехшrзs do lugar, Ьет сото аconstru-~o do espa~o _deveria resultar do confronro dinamico е participado entre а rradiфо е а modernidade, envolvendo os diversos acroces do espa~o шЬanо. Nao s6 seria muito inreres-sanre е relevante раса esta anilise explorar as percep~6es que turisras е visitanres [~т de Trancoso, mas incluir tambem nesra analise as articulа~бes que sao feitas entre centro hist6rico е demals espa~s urbanos. Ао mesmo [етро, grupos geralmente marginalizados deveriam [ес [атЬет luga~ nas conresra~6es dos lugares que se consrroem.
А рас das opini6es criticas que os enrrevisrados foram tecendo асесса do espa~o, focam
[атЬет apresentando algumas propostas de inrerven~ao que poderiam conrribuir раса
melhocar а imagem desre сеппо hisr6rico. Оса, esra atirude demonstra ит interesse pelo
espa~o, pela represenrarividade que ele епсепа, assim сото о reconhecimento desre lugar
сото parte
da
idепtidаdе colectiva de Trancoso рос individuos que se disponibilizaram аcolaborar па realiza~ao deste esrudo.
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