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COLABORAÇÃO, REFLEXÃO, AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE UM PROJETO DE OBSERVAÇÃO DE AULAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

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ISSN 2176-1396

COLABORAÇÃO, REFLEXÃO, AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE UM

PROJETO DE OBSERVAÇÃO DE AULAS NA FORMAÇÃO INICIAL

DE PROFESSORES

Angela Maria Hoffmann Walesko1- UFPR Marta Matilde Luchesa2 - UFPR Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Este texto tem como objetivo apresentar um relato de experiência sobre trabalho colaborativo e formação crítico-reflexiva de professores a partir de um Projeto de Observação de Aulas junto à equipe de professores-alunos do Núcleo de Línguas - Inglês da Universidade Federal do Paraná (NucLi Inglês - UFPR) que atuaram como professoras-bolsistas, ministrando aulas de inglês para alunos inscritos no Programa Idiomas sem Fronteiras (IsF), na cidade de Curitiba, Paraná. O Projeto teve início no segundo semestre de 2014 e encontra-se em andamento, seguindo diferentes etapas e sendo realizado colaborativamente entre um grupo de três coordenadores, dez professores e quatro assistentes (English Teaching Assistants – ETAs) do Programa de internacionalização CAPES - Fullbright. Os objetivos do Projeto de Observação de Aulas foram os seguintes: 1.promover o hábito de reflexão-ação dos professores-alunos sobre a sua prática pedagógica; 2.desenvolver práticas de observação colaborativa entre os participantes; 3.compreender as potencialidades e limitações da observação colaborativa na (re)construção de teorias pessoais dos professores-alunos; 3.avaliar o impacto do Projeto no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores-alunos. A experiência está fundamentada nos textos de Alarcão (1996), Clancey (1997), Dias (2001), Mateus (2013), Rebelo (2009) e Silva & Araújo (2005). Os dados da análise das ações do Projeto até o momento permitem concluir que uma prática de observação colaborativa contínua, constantemente discutida e implementada, favorece um maior empenho e comprometimento com a prática de reflexão-ação dos professores-alunos, bem como desenvolve o sentimento de pertencimento e comprometimento com um grupo e, por sua vez, a motivação para o compartilhamento de ideias, planos de aula e experiências de ensino-aprendizagem.

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Doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora do curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Email:angelawalesko@hotmail.com.

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Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora de Língua Inglesa no Núcleo de Línguas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Email:martaluchesa@hotmail.com.

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Palavras-chave: Colaboração. Formação de professores/as. Reflexão-ação. Observação de aulas.

Introdução

A observação de aulas é uma prática que vem sendo realizada em todas as áreas do conhecimento profissional de professores com o intuito de avaliação ou de aperfeiçoamento.

Reis (2011) constata que no decorrer das últimas duas décadas há uma tendência mundial de encarar a observação de aulas como um processo de interação e formação profissional, com foco na qualidade da docência por meio do respeito e desenvolvimento mútuos. Assim sendo, a observação e a discussão das aulas servem para melhorar tanto as competências do observado quanto do observador. Portanto, essa tarefa deve levar em consideração a reflexão sobre os pontos fortes e as limitações de diversas abordagens, estratégias, metodologias e atividades.

Assim, neste relato de experiência, os processos de formação aplicados inserem-se no modelo de aprendizagem colaborativa. Esse modelo enfatiza que todos os seus membros, formadores e professores em formação, constituem uma comunidade de aprendizagem dentro de uma metodologia de trabalho-ensino-pesquisa que enxerga a colaboração por meio do espectro da ação dialógica, possibilitando aos agentes de docência a construir saberes coletivamente, muito mais que individualmente.

Partindo desse escopo, os Núcleos de Línguas (NucLi) são parte integrante do Programa Idiomas sem Fronteiras (IsF) que é uma iniciativa do governo federal em conjunto com o Ministério da Educação e da Cultura (MEC), a Secretaria de Educação Superior (SESu) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O Programa prevê que alunos da graduação tenham aulas presenciais de inglês e que o corpo docente seja preenchido com alunos de licenciatura em Letras-Inglês. No caso da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o corpo docente de professores atuantes no NucLi Inglês IsF - UFPR, compôs-se na sua maioria de alunos graduandos com pouca ou nenhuma experiência em sala de aula antes do projeto iniciar-se. Um dos objetivos do NucLi Inglês IsF -UFPR é de “expandir os conhecimentos teóricos e as práticas de Letramentos que orientam o ensino-aprendizado da língua inglesa para uma educação cidadã e integrada à sociedade globalizada. ” Assim, o Programa IsF se constitui em um espaço de formação de professores, onde diversos projetos e ações de formação são planejados e concretizados, entre eles o Projeto de Observação de Aulas. Este relato de experiência tem como objetivo compartilhar a

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experiência do Projeto como um trabalho colaborativo de aprendizagem, parte da formação docente inicial dos professores-alunos integrantes do Programa que pode contribuir como importante fonte de informações e pesquisa na área de Educação e formação inicial e continuada de professores, não apenas de língua inglesa, mas de qualquer outra disciplina, já que pode ser adaptado a qualquer área do conhecimento e a qualquer nível de ensino.

A primeira parte do texto apresenta discussões e reflexões teóricas que fundamentaram o Projeto de Observação de Aulas, que tiveram como base os textos de Alarcão (1996), Clancey (1997), Dias (2001), Mateus (2013), Rebelo (2009) e Silva & Araújo (2005). A segunda explana as etapas de organização e realização do Projeto e as experiências e desafios enfrentados em tais etapas e a terceira e última parte do texto apresenta os resultados do Projeto quanto à formação dos professores, incluindo relatos de alguns participantes, e planos futuros para sua continuidade e aprimoramento, que respondem a três questões básicas de pesquisa: 1.ª As observações realizadas permitem (quantitativa e qualitativamente) a construção de uma imagem completa das competências profissionais do professor observado?; 2.ª As práticas do professor observadas constituem exemplos das suas práticas diárias?; 3.ª Os professores observados aperfeiçoaram sua prática de ensino ao longo da participação no Projeto?

Projeto de Observação de Aulas: discussões e reflexões teóricas

A Contemporaneidade é marcada por diversas e rápidas mudanças sociais, culturais, políticas e históricas que afetam todos os setores da vida nas sociedades, incluindo a educação, necessitando serem consideradas pelas pesquisas atuais e cada vez mais exploradas em estudos, projetos, estratégias e práticas de ensino. Segundo Mateus (2013, p. 1108), o pressuposto de que aprendizagem é um processo dinâmico de identidades que se transformam no fluxo da ação, do pensamento e do diálogo lança luz sobre práticas colaborativas como mediadoras do devir humano.

As práticas de interação e colaboração resultam em um processo dinâmico de aprendizagem, em que a construção do conhecimento é compartilhada pelos participantes da ação. As competências são desenvolvidas a partir desse processo de partilha. Segundo Dias (2001), essas práticas estão inseridas em uma prática educacional cujos participantes trabalham em conjunto, na qual a aprendizagem é baseada no participante, sendo um agente do processo de construção significativa de conhecimento.

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Para que esse escopo tenha um efeito produtivo, há necessidade de uma cultura de participação conjunta nas interações, ou seja, todos os membros do grupo devem participar e envolver-se ativamente. Nessa mimese, o conceito de aprendizagem está inserido na ação, sendo ela a responsável pela aquisição da competência em questão.

Dias (2001), diz que o conhecimento – dentro das abordagens educacionais contemporâneas – deve ser observado não como uma representação abstrata e descontextualizada na mente do aprendiz, mas de um processo construtivo que surge de situações e ações contextualizadas. Para Clancey (1997:1, apud DIAS, 2001, p. 89) “a teoria da cognição situada baseia-se no facto de que todo os pensamentos e acções humanas são adaptados ao ambiente”.

Assim sendo, para Silva e Araújo (2005, p. 2), “a reflexão na ação é a reflexão desencadeada durante a realização da ação pedagógica, sobre o conhecimento que está implícito na ação”. Os autores defendem que este é o melhor instrumento de aprendizagem do professor e entendem que é no contato com a situação prática que o professor constrói novos procedimentos, estratégias e práticas de ensino.

Silva e Araújo (2005) destacam Paulo Freire como sendo um dos primeiros teóricos na área de educação a classificar a reflexão como essencial para a prática docente. Eles afirmam que para Freire, a reflexão se encontra no pensar para o fazer e no pensar sobre o fazer. Portanto, desde Freire, concebe-se a formação continuada como sendo um processo permanente de crescimento profissional do professor. Sendo assim, uma ferramenta fundamental para os docentes inseridos nesse processo de reflexão docente é a observação de aulas, em que pares trabalham em conjunto com a finalidade de refinar o construto pedagógico docente.

Reis (2011) salienta que a importância da observação de aulas para o desenvolvimento profissional de professores tem como foco a seleção correta dos instrumentos de avaliação. Essa seleção deve levar em consideração o contexto, as fases da supervisão, o foco da observação e as necessidades de cada professor. A prática educativa beneficia-se consideravelmente quando a observação e discussão das aulas fazem parte do desenvolvimento pedagógico. Esse processo é fundamental tanto para o observador quanto para o observado, porque ambos reforçam seu aparato educacional, além de contribuírem de forma eficaz para o sucesso de seus alunos.

O autor explica que o processo de observação de aulas é realizado por meio da reflexão e ação sobre a prática, com a expectativa de resolução de problemas reais. Para que

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haja sucesso, esse processo implica em uma colaboração estreita entre o observador e o observado. Dessa forma, a avalição de desempenho de professores deve reforçar-se por meio do cruzamento de diferentes informações, tais como: os planos de aula, as discussões de pós-observação, as opiniões e desempenhos de alunos entre outros.

Reis (2011) expressa que os professores observados podem apresentar resistência em relação à avaliação das suas aulas por pessoas cuja competência não seja reconhecida e os critérios considerados pouco apropriados. Isso pode realmente acontecer com alguns observadores que não possuam formação quanto à observação e utilização de instrumentos de observação, o que pode resultar em observações assistemáticas e impressionistas. A observação de aulas precisa ser realizada com base na aprendizagem colaborativa, em que o observado e observador unam-se com o foco no envolvimento colaborativo e no desenvolvimento pessoal e profissional. O aspecto fundamental dessa prática baseia-se na reflexão do desempenho profissional e a investigação e discussão de estratégias que permitam melhorar a prática educacional.

Reis (2011) justifica que, para que haja resultados positivos, há a necessidade da compreensão dos objetivos desse processo, implementação do projeto baseado em um clima de confiança mútua e qualidade dos instrumentos de observação. A observação é um processo contextualizado e contínuo, orientado para o desenvolvimento pessoal e organizacional.

Rebelo et al (2009), assumem que na prática reflexiva os professores entendem o ensino como uma atividade de questionamento e indagação ininterruptas, em que seus papéis respeitam uma compreensão crítica da Educação.

Na observação colaborativa todos se envolvem no processo, o que resulta no seu aperfeiçoamento docente tanto no ambiente escolar quando acadêmico.

Etapas do Projeto: experiências e desafios

O Projeto de Observação de Aulas é uma das mais importantes ações colaborativas de formação docente do NucLi Inglês IsF - UFPR. Teve início no segundo semestre de 2014 e continua em andamento, sendo re/discutida e implementada com frequência pelos participantes do Programa Inglês sem Fronteiras da universidade: coordenadores, professores

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e English teaching assistants3 (ETAs). Entre junho de 2014 e agosto de 2015 o Projeto aconteceu de acordo com as etapas descritas a seguir.

Etapa I: A proposta

Em reunião realizada no mês de junho de 2014 com a equipe do NucLi Inglês IsF - UFPR, composta de dez professores-bolsistas e três ETAs, a coordenação pedagógica do Programa propôs a realização regular de observação de aulas entre os membros da equipe, com o intuito de trabalhar colaborativamente e implementar a prática pedagógica dos professores. Foi decidido no grupo que os participantes do Programa observariam uma aula de um dos professores-bolsistas por mês e, como auxílio para tal observação e feedback ao professor observado, o observador utilizaria um formulário, que seria por eles elaborado e testado. O grupo também apontou para a necessidade de elaboração de um cronograma de observações, criado para que houvesse um equilíbrio entre o número de professores observados e observadores e para que fosse evitada a possibilidade de alguns professores serem observados várias vezes, enquanto outros talvez não passassem pela experiência, por questões de horário ou local das aulas.

Etapa II: O formulário de observações de aulas

O grupo de professores e ETAs elaborou, junto à coordenação pedagógica, um formulário para observação e sugestões de implementação de aulas, adaptando um modelo já utilizado no Centro de Línguas e Interculturalidade da UFPR (CELIN - UFPR), que foi testado, durante o recesso de aulas presenciais no mês de julho de 2014, por meio de observações de aulas em vídeo: cada membro da equipe observou e analisou, com a ajuda do formulário, três aulas em vídeo, entre cinco sugeridas pela coordenação pedagógica; na sequência, em um encontro presencial, os professores que observaram as mesmas aulas, com seu formulário preenchido em mãos, assistiram os vídeos novamente e compararam seus formulários, discutindo o que analisaram e suas sugestões para as aulas. Tal experiência os auxiliou nas observações das aulas presenciais dos colegas de trabalho no NucLi Inglês - IsF, tanto em relação a observarem e perceberem o que deve ser focado, quanto em serem

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O English Teaching Assistant (ETA) Program é das iniciativas do governo federal como expansão do programa CAPES-Fullbright, que visa apoiar e aprimorar as condições estruturantes para a oferta de ensino do idioma estrangeiro de forma mais rápida e mais eficaz.

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observados e entenderem tal atividade como uma importante forma de trabalho colaborativo e crescimento profissional. Na sequência, os formulários foram revisados e alterados pelo grande grupo e utilizados nas observações entre os membros da equipe NucLi Inglês IsF - UFPR (coordenação pedagógica, professores bolsistas e ETAs) no 2.º semestre de 2014. Após cada observação, o professor observado recebia uma cópia do formulário preenchido e o discutia com o observador; a versão original permanecia com a coordenação do NucLi, que a analisava e a arquivava.

Etapa III: Relatórios de observação de aulas

No final do ano de 2014 os professores-alunos do NucLi Inglês IsF da UFPR preencheram um relatório autorreflexivo sobre o Projeto de Observação de Aulas. Numa prática reflexiva, os papéis do professor respeitam principalmente a uma compreensão crítica da Educação e da interação pedagógica em contexto escolar, concebendo o ensino como uma atividade de constante questionamento e indagação. “de ter consciência dos pontos fracos do seu ensino, saber observar, diagnosticar e tomar posições” (Alarcão, 1996: 21 In: REBELO, C. REIS, D. & SOUSA, 2009). Com o objetivo de levar os professores a analisarem como o Projeto influenciou sua prática pedagógica e como poderia ser implementado para ter continuidade em 2015, todos os professores-alunos produziram um relato, a partir da seguinte proposta: “Escreva um texto de no mínimo 600 palavras relatando como o projeto de observação de aulas entre os professores, realizado no 2º semestre letivo, contribuiu para a promoção de ações colaborativas entre a equipe e para o seu aperfeiçoamento profissional em particular. De que forma esse projeto poderia ser aperfeiçoado? ”.

Etapa IV: Workshop

Em abril de 2015 a equipe do NucLi Inglês ISF- UFPR participou de um workshop

ministrado pela Prof.ª Dra. Alessandra Coutinho (UFPR) sobre observação de aulas. Após algumas reflexões sobre o papel do professor em sala de aula com o grupo e sobre as vantagens e desvantagens de observar aulas de colegas de trabalho, a ministrante solicitou aos professores-alunos que relatassem suas experiências, opiniões e sentimentos durante aulas em que foram observados e em aulas em que observaram seus colegas. O grupo em geral apontou a importância do feedfack que, segundo os professores-alunos, seria a “razão de ser” de uma observação de aula. Também discutiram as vantagens e desvantagens percebidas durante o

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processo. Entre as vantagens os professores mencionaram dicas sobre uso de material didático, questões metodológicas e a oportunidade de “um olhar de fora (do observador), que vê o que você (o professor observado) ” e contribui para a reflexão e ação pedagógica. Como desvantagem os professores apontaram a insegurança, do professor observado e dos alunos, que também se sentem observados, e a falta de conhecimento do professor observador sobre o contexto da aula. A partir dessas discussões a Prof.ª Dra. Alessandra Coutinho reforçou a necessidade de haver ao menos um encontro entre observador e observado antes da aula e um após a observação da aula, para que questões como o contexto da aula, o perfil da turma e o tipo de formulário a ser utilizado sejam discutidas previamente e após a aula para que o formulário preenchido possa ser discutido. Segundo Reis (2011, p. 20) qualquer experiência de observação de aulas deve conter três fases: pré-observação, observação e pós-observação da aula. O encontro de pré-observação entre professor observado e observador tem como objetivo “desenvolver com o professor observado um espírito de abertura e interesse de forma a afastar qualquer motivo de ansiedade”. Neste momento o planejamento da aula pode ser explicado, bem como estratégias de ensino e aprendizagem, materiais e avaliação, de acordo com o contexto e perfil da turma; também é o momento de decidir qual é o formulário mais adequado para essa aula em específico. Alguns problemas possíveis podem ser antecipados assim como as várias maneiras de resolvê-los. A segunda fase, observação, ocorre na sala de aula, em data e horário combinados entre o observador e observado e entre o observado e alunos. Decidiu-se, no grupo, que o professor observador não participe ativamente da aula. No encontro de pós-observação discutem-se as intenções e realizações, na tentativa de identificar quais são os pontos suscetíveis de serem alterados. O professor, nesta fase, “deve ser encorajado a partilhar as suas impressões da aula e a inferir relações causais entre as suas ações e os resultados do aluno; ele deve ter um papel ativo e crítico do seu próprio ensino” (REIS, 2011, p. 12). No final do workshop a ministrante apresentou diversos modelos de formulários e incentivou sua utilização em substituição a um único formulário, já que a escolha do formulário depende muito do contexto da aula a ser observada.

Etapa V: Micro-teachings

Simultaneamente à observação de aulas entre os professores, no mês de junho de 2015 todos os dez professores da equipe NucLi Inglês ISF-UFPR foram observados por dois coordenadores pedagógicos com o intuito de desenvolvimento de mini-aulas (micro-teachings) a partir das aulas observadas. Todos os professores já haviam tido aulas observadas

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por coordenadores até esse momento, mas não com tal propósito. A coordenação solicitou aos professores-alunos o envio prévio dos planos de aulas e também o preenchimento de um questionário reflexivo (Post-lesson reflection form) sobre a aula dada, que contemplava as seguintes questões: 1. What was/were the intended aim(s) for your lesson?; 2. Were your intended aims achieved to your satisfaction? What evidence do you have that they were (not) achieved?; 3. Were there any unexpected outcomes of the lesson?; 4. Reflect on the lesson as a whole. What aspects of the lesson did you think went well?; 5. What (if anything) about the lesson did not go as well as you hoped? What (if anything) was the source of the problem?; 6. What (if anything) would you change for next time?. Esse questionário deveria ser preenchido pelo professor observado imediatamente após a aula ministrada e enviado à coordenação, que o utilizou no momento pós-observação – durante o feedback sobre as aulas. Após esse encontro de discussão entre professor-observado e observador, o professor observado revisou seu plano de aula, corrigindo-o e implementando-o. Na sequência, a mesma aula foi realizada para os demais professores em forma de micro-teaching, com duração aproximada de 40 minutos. Os micro-teachings, realizados por todos os professores, incluíram sugestões e reflexões sobre a aula e acabaram sendo uma excelente atividade reflexiva sobre prática de ensino de língua inglesa.

Resultados e planos futuros

O Projeto de Observação de Aulas da equipe do NucLi Inglês Isf - UFPR foi e continua sendo uma experiência bastante relevante para a formação dos licenciandos em Letras-Inglês. A cada etapa, o Projeto vem sendo colaborativamente reformulado e implementado pelo grupo de participantes, a partir de relatórios e discussões reflexivas que ocorrem semanalmente, em reuniões pedagógicas. Todos os participantes declararam, ao longo dos 15 meses de sua duração (de junho de 2014 a agosto de 2015), que o projeto foi de extrema importância na formação dos professores, como afirma a professora-aluna L.S.:

O projeto de observação entre a equipe docente, iniciado em 2014, foi desde o início um marcante acréscimo ao nosso projeto de formação de professores dentro do NucLi-UFPR. Em primeiro lugar, acredito que, conforme a equipe se observa nas salas de aulas, ela também ganha familiaridade com a dimensão do IsF, com a amplitude de cursos e com o papel do colega como profissional.

Observou-se, com a prática de observação das aulas e de discussão/reflexão crítica entre os participantes do projeto que os professores desenvolveram o senso de grupo ou

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comunidade colaborativa, realmente preocupados e envolvidos com o trabalho de aperfeiçoamento pedagógico, não apenas individual, mas também do grupo com quem convivem. Segundo a professora-aluna C. H.:

As observações foram um meio de perceber como está o grupo do IsF na Universidade Federal do Paraná. Foi muito interessante conhecer o perfil das colegas de trabalho, perceber as dificuldades ou desafios que cada uma enfrenta e refletir sobre a própria prática em comparação com a de outras. Principalmente, as observações permitiram a compreensão de que todas precisamos melhorar nossas práticas em sala de aula, mas que podemos fazer isso juntas através da partilha de nossas qualidades e habilidades.

O projeto também possibilitou que os professores envolvidos aperfeiçoassem sua prática de ensino ao aprenderem novas estratégias e técnicas com os colegas, conforme os relatos a seguir: “Ele (o projeto) oferece condições de observar práticas diferentes, realizadas por pessoas diferentes, frente a grupos diferentes, mostrando insights novos e abordagens que talvez não nos pareçam relevantes, ou que não nos tenham ocorrido”. (professora-aluna P. M.); “[...] contribuiu bastante para nosso desenvolvimento profissional [...] principalmente ao observarmos as aulas de outras colegas de trabalho, pois isso trouxe uma nova gama de ideias e estratégias a serem utilizadas em sala de aula que não são discutidas nas reuniões pedagógicas.” (professora-aluna A. C.); “pude visualizar diferentes formas de realizar a mesma atividade, refletindo sobre como os métodos funcionavam, como atingiam os alunos, como podem ser adaptados em diferentes contextos e etc.”. (professora-aluna C. H.).

Para o segundo semestre de 2015 o grupo participante do Projeto planeja continuar as observações mensais, seguindo o roteiro de pré-observação, observação e pós-observação, anteriormente descritos neste texto, com o uso de diferentes formulários. Também planeja que, a cada encontro pedagógico semanal haja um micro-teaching, considerando essa etapa como essencial no processo de aprendizagem dos professores-alunos.

Respondendo às perguntas de pesquisa apresentadas na introdução deste texto, pode-se afirmar que as observações realizadas permitem (quantitativa e qualitativamente) a construção de uma imagem parcial das competências profissionais do professor observado, uma vez que não é possível analisar de forma completa a prática de ensino em uma determinada aula; mesmo em formação inicial, os professores-alunos agem de formas diferentes, ministrando um mesmo conteúdo, dependendo do contexto e perfil dos alunos. Pode-se também afirmar, com a observação de inúmeras aulas do mesmo professor-aluno por colegas de trabalho diferentes, que as práticas do professor-aluno observadas constituem sim exemplos das suas práticas diárias e, finalmente, respondendo à última questão de pesquisa, os

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professores-alunos relatam que sua prática de ensino foi certamente aperfeiçoada ao longo da participação no Projeto.

Considerações Finais

O Projeto de Observação de Aulas, uma das atividades formativas realizada junto à equipe de professores-alunos, coordenadores e ETAs (English Teaching Assistants) entre os meses de junho de 2014 e agosto de 2015 resultou em uma importante experiência de colaboração que promoveu o pensamento crítico-reflexivo dos professores sobre sua própria prática a partir da interação com a prática de colegas. Segundo a professora-aluna A. N. “O crescimento profissional foi um ponto extremamente positivo da política de observações [...] foi possível perceber comportamentos de que não nos dávamos conta visto que uma observação é também uma auto avaliação”. Observando os colegas e sendo observados, os professores relatam que sentiram um aperfeiçoamento no desenvolvimento de sua prática de ensino: “O professor que observa pode, ainda, aprender novas técnicas com o professor observado e pode refletir sobre o seu próprio comportamento em sala de aula”. (Professora-aluna L. F.). Não apenas as observações em sala, mas também as discussões teóricas a partir de artigos sobre trabalho colaborativo, crítico-reflexivo e observação de aulas (cujos excertos mais relevantes foram citados neste texto), o workshop e os micro-teachings, realizados durante encontros semanais para a formação dos professores de inglês, também foram atividades que integraram o Projeto e foram cruciais para o desenvolvimento do grupo, pessoal e profissional. Espera-se que este relato de experiência possa contribuir, por meio do embasamento teórico e das ações pedagógicas práticas nele apresentados, para novas pesquisas e projetos na área de formação de professores de língua inglesa e de outras áreas do conhecimento, colaborando com a melhoria da educação em nosso país.

REFERÊNCIAS

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2001. Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/mfflores/teorica6_02.htm. Acesso em: 29 de mar. 2015.

DIAS, Paulo. Comunidades de conhecimento e aprendizagem colaborativa. Seminário Redes de Aprendizagem, Redes de Conhecimento. Lisboa, Conselho Nacional de Educação,

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MATEUS, Elaine. Práticas de formação colaborativa de professores/as de inglês:

representações de uma experiência no Pibid. Revista Brasileira de Linguística Aplicada,

13.4: p. 1107-1130, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n4/aop3213.pdf

Acesso em 20 de jan. 2015.

REBELO, Catarina; REIS, Diana; SOUSA, Manuela. Uma Experiência de Observação Colaborativa. Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia, 5. Braga: Universidade do Minho, p.1359-1354, 2009. Disponível

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REIS, Pedro. Observação de Aulas e Avaliação do Desempenho Docente. Ministério da Educação. Lisboa, Conselho Cientifico para a Avaliação de Professores, 2011. Disponível em http://www.ccap.min-edu.pt/docs/Caderno_CCAP_2-Observacao.pdf. Acesso em: 15 de jun. 2015.

SILVA, Everson Melquiades; ARAÚJO, Clarissa Martins. Reflexão em Paulo Freire: uma contribuição para a formação continuada de professores. V Colóquio Internacional Paulo Freire, Recife, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 2005. Disponível em:

http://189.28.128.100/nutricao/docs/Enpacs/pesquisaArtigos/reflexao_em_paulo_freire_2005.

Referências

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