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olíticas públicas voltadas ao seu mo a velhice e o cuidado com os écadas. Uma das expressões dessa

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mento de políticas públicas voltadas ao seu combate, requer uma reflexão prévia sobre o processo pelo qual tais questões se

Projeções estatísticas sobre o aumento da população idosa surgem a todo o momento, por demógrafos, estatísticos e outros pesquisadores que apontam para a desproporção entre jovens e velhos para a qual a humanidade parece caminhar. Tais projeções freqüentemente procuram evidenciar a necessidade de melhor administração e planejamento sistemas previdenciários, no sentido de assegurar esse direito básico da população mais velha, a aposentadoria. No entanto, a emergência da velhice como uma questão problema não foi motivada por tais preocupações, mas sim através de um processo de constituição do idoso

dicutir como a velhice e o cuidado com os idosos se tornaram preocupações públicas, e como a relação entre Estado e família no cuidado timas décadas. Uma das expressões dessa preocupação pública com os idosos, mais expecificamente com a violência que incide sobre

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privada, de responsabilidade dos indivíduos e de suas famílias. A família era tida como uma esfera impenetrável, dentro da qual estariam assegurados a proteção e o cuidado não só em relação aos velhos, mas a todos os membros da família. O envelhecimento era associado à última etapa da vida, e os problemas e necessidades relacionados a ele não eram alvo de

No entanto, num determinado momento essa fase da vida passa a ser vista como uma questão importante, se transformando em tema de interesse e de intervenção públicos. A da à questão política, transformação que leva à formação de movimentos sociais e à articulação de demandas políticas. É nesse processo que a categoria “violência contra o idoso” adquire significados específicos que levam ao reconhecimento e à o da violência contra o idoso, bem como à constituição de instituições para los. Tal mudança se deu através da atuação e do investimento de grupos socialmente interessados na produção de novas categorias e na inserção destas no campo de preocupações da sociedade. Esse momento correspondeu à criação da idéia de ‘terceira idade’1, relacionada a uma série de novos padrões de consumo e do desenvolvimento de carreiras e profissionais

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americano, colocam o atual crescimento na consciência pública a respeito dos maus-tratos de idosos num contexto histórico. Os autores usam os conceitos de ‘abuso e negligência’, abrangendo um amplo espectro de formas de violência contra os velhos2. Eles demonstram como, enquanto o abuso e a negligência em relação aos velhos têm existido ao longo do tempo, o interesse público sobre o tema tem variado. Em alguns períodos históricos, como durante a preocupação com a bruxaria nos séculos XVI e XVII, a violência e o assassinato de mulheres velhas eram sancionados oficialmente, refletindo, inclusive, um interesse na diminuição dos custos sociais com o amparo dessas mulheres. Assim, os autores mostram que a emergência do abuso de idosos como um problema social está ligado de perto às mudanças nas bases econômicas da sociedade ocidental. Em diferentes épocas, o relacionamento entre a comunidade, a família e o cuidado institucional foi variado, bem como o reconhecimento do os. Além disso, um conceito de abuso ou de negligência só pode emergir quando a sociedade vê a realização de um particular padrão de

do que é o abuso e a negligência. Ao longo do livro eles utilizam ‘abuse’, ‘neglect’ e ‘mistreatment’, segundo eles, para se referirem as condições negativas que atingem as pessoas mais velhas, enfatizando a natureza negativa, destrutiva e de privação gerada

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estar social, tinha como foco responder aos velhos em relação à pobreza e privação material. No entanto, a idéia de velhos sendo sujeito de violência física ou exploração financeira em o. O paternalismo do welfarstate tornava extremamente difícil quebrar a idéia da integridade da família como a unidade básica de cuidado na sociedade. Nos anos 70, com o crescimento na consciência sobre a violência de crianças esta imagem da família foi golpeada, abrindo caminho para um pleno reconhecimento do abuso de idosos. Há um particular guerra, uma vez que, de uma posição na cido, principalmente por estar contido dentro da esfera se a um posicionamento em que é definido entre os principais

nova agenda moral que desafiou a idéia dessa endência em relação ao Estado. Esse foi um desenvolvimento chave, advindo da produtiva’ da população exerceria sobre os caixas públicos. Essa mudança correspondia a uma renovada ênfase na função da família e da

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e, para os autores, acarreta uma série consideram que essa abordagem voltada à criminalização polariza complexos problemas interpessoais, levando o conflito a uma instância adversarial que pode es de longo prazo para o problema. Além disso, a criminalização incluiria os conflitos num terreno legal de tomada de ação, que, inclusive, aumentaria a relutância de profissionais e vítimas em relatar o abuso ocorrido.

a criminalização possa acarretar ao enfrentamento do que os autores chamam de ‘abuso’ de idosos, o fato é que tratar o abuso ou a violência contra os idosos como crime é uma evidente expressão da politização da justiça um problema de interesse e intervenção públicos e da

oi principalmente a partir da década de 80 que a questão dos direitos dos idosos nsivelmente marcada pela transformação do

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Atuação Especial de Proteção ao Idoso (GAEPI) do Ministério

A criação do GAEPI data de 1997, e é fruto da atuação de outro grupo do ministério público, o GAPI (Grupo de Atuação de Proteção ao Idoso). O GAPI tinha como crimes contra os idosos institucionalizados, ou seja, aqueles que se encontravam em clínicas ou asilos. A criação desse grupo especial tornou-se evidente, tratos numa clínica. As dificuldades na estrutura e formato adequados para o encaminhamento de tais denúncias estiveram entre os fatores que levaram à criação do grupo. No entanto, quando em funcionamento, o grupo se surpreendeu ao constatar que não era somente dentro das instituições que os idosos sofriam abusos, mas também dentro das próprias famílias. Assim, o grupo teve suas funções ampliadas, ganhando um formato adequado à apuração de crimes ocorridos em outras esferas que não só as instituições.

evidente que a idéia de violência contra o idoso, a qual foi inicialmente pensada no se somente aos abusos cometidos no espaço A criação e atuação dessas delegacias será melhor discutida mais adiante.

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se aos abusos cometidos nos espaços cidos do idoso. Essa surpresa se deu também nas Delegacias Polícia de Proteção ao Idoso, como veremos a seguir.

A primeira delegacia do Idoso surgiu na cidade de São Paulo em 1992, num contexto social que deu as condições para o seu aparecimento5. Depois desta primeira delegacia criada na capital paulista, outras unidades foram criadas no interior, alcançando 11

, quase a totalidade das delegacias do Idoso atualmente apenas uma unidade na cidade de São Paulo e outra em Guarulhos. A justificativa do governo foi que a Delegacia do Idoso atendia um número muito pouco representativo de casos em relação às outras delegacias, motivo pelo qual era deslocamento de funcionários de repartições consideradas prioritárias

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e serviços públicos. Além disso, a semelhança entre as duas especializadas seguia em relação à desproporção entre o número de boletins de ocorrência registrados e o número de inquéritos timas não queriam a punição de seus agressores por se tratarem de

não davam prosseguimento aos procedimentos policiais. Embora existissem tais semelhanças, podiam ser sentidas também diferenças

cias de Idosos e de mulheres. Na Delegacia do Idoso os acusados eram, em geral, parentes consangüíneos das vítimas, especialmente filhos. Já nas Delegacias da Mulher a maioria dos acusados eram parentes afins, principalmente maridos e stão importante é que o grande número de maridos denunciados pelas mulheres já era esperado pelos agentes da polícia e pelos idealizadores das DDMs. As delegacias de mulheres foram criadas com a finalidade de combater justamente este tipo de ta, a conjugal. Já em relação ao idoso a presença de acusados pertencentes às vítimas surpreendeu grandemente os agentes, contrariando as expectativas daqueles que haviam formulado essa política pública. Assim, a violência contra o idoso

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famílias a responsabilidade de cuidar dos seus membros, mas agora de maneira diferente. Não se trata de reproduzir o modelo de ‘família patriarcal’ impenetrável, ou seja, de ‘privatizar’ situações de violência que os movimentos sociais já trataram de denunciar e transformar em questões públicas. Nessa nova relação entre família e Estado o último ‘reprivatiza’ as questões políticas na medida em que as devolve para uma família vista como um espaço de deveres definidos, os quais devem ser estimulados e reforçados pelas instituições e políticas públicas. Assim, nos casos representados pela ‘violência doméstica’, vítimas e acusados são s de exercer os direitos já adquiridos. As causas dos crimes são entendidas como conseqüência da incapacidade dos membros da família em assumir seus papéis, e por isso as instituições passam a ter a função de reforçar e incentivar a violência contra o idoso, revelada como mais uma expressão da violência doméstica, tem nas ações da delegacia especializada e do grupo especial do ministério público esta mesma atuação, a qual Debert chamará de ‘reprivatização

cializadas também foi sentido pelos agentes do GAEPI. 95% dos casos que atendiam envolviam relações familiares e eram solucionados através de audiências conciliatórias com o promotor, não sendo necessário o encaminhamento ao fórum (DEBERT, 2001).

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sei se esse estatuto do idoso foi pouco divulgado, ou se o homem, por is machista, não denuncia, mais aqui, olha, se eu te disser que tive um caso no ano passado inteiro foi muito (...) tem senhor que vêm dizendo que tinha sido empurrado pelos filhos, querendo denunciar; depois a gente descobre que ele que tinha caído sozinho, que ele que quer morar sozinho e fica dizendo que os filhos querem expulsá-lo de

(fala de um delegado).

A reiteração da inexistência de ocorrências que tem o idoso como vítima feita pelos foi evidente desde o primeiro contato para a Os agentes negavam a existência de denúncias envolvendo idosos no tais ocorrências preocupação exclusiva das delegacias especializadas Ao associar as ocorrências envolvendo idosos a um pólo feminino, representado pela delegacia de mulheres, os policiais operavam uma feminização de tais crimes e de suas vítimas, desconsiderando a existência de violência contra homens idosos.

se por não identificar o município estudado de do apenas se tratar de um município com cerca de 180

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registrado pela parcela da população de 60 anos ou mais que recorre àquelas delegacias. distrito policial em 2004, a vítima em 63 dos Boletins de Ocorrência encontrados tem 60 anos ou mais. Os dados mostram que o acusado era algum familiar ou coabitante da vítima em 26 desses registros: 12 ocorrências foram registradas contra os filhos, seguidas pelas denúncias contra os genros (3), coabitantes (3), netos (3), companheiras (2), irmãos (1), sobrinhos (1) e parentes distantes (1).

, das 2247 ocorrências registradas em 2006, em 90 as vítimas têm 60 anos ou mais. Em 48 dessas ocorrências o acusado era algum familiar da vítima, com predominância das denúncias contra os companheiros, com 18 registros, seguido pelas denúncias contra os genros (12), noras (9), filhos (5), parentes distantes (2), irmãos (1) e netos

nquanto na DDM a maioria dos indiciados são os companheiros das vítimas, no DP os acusados foram principalmente os filhos. corrências registradas pelos velhos, parte significativa dos BOs das duas delegacias tinha como indiciados

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descontentamento associado à idéia de que o trabalho que realizam está mais ligado a uma função de assistente social do que propriamente de polícia. Assim, a percepção dos agentes da DDM e do DP investigados sobre o que consideram ser o trabalho policial verdadeiro revela um desconforto frente ao descompasso entre o ideal que alimentam do que deveria ser o trabalho policial e a prática que desenvolvem no dia a dia das delegacias.

invisibilidade dos velhos não está relacionada apenas com o tipo de e tantas outras expressões utilizadas para causam nos policiais, devalorizando e descaracterizando o que consideram ser a essencia do seu trabalho. A visão que prevalece do idoso invisibiliza a demanda feita à polícia, porque os velhos que a ela recorrem não têm a fragilidade, a passividade, a dependencia e tantos outros atributos associados ao feminino e, portanto, não exemplificam assuntos e demandas que deveriam ser encaminhados para a delegacia da

Da mesma forma, na Delegacia da Mulher a associação da violência contra o idoso ao e ameaças e lesões corporais das idosas nas relações com seus companheiros, genros, noras e vizinhos. Assim, há uma desconexão entre a

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e e essa participação é, alguns dos casos registrados, a razão do ciúme que levou à agressão do cônjuge. A grande maioria é aposentada ou ainda trabalha, com pouquíssimos desempregados ou desocupados. São idosos que podem caminhar pelas ruas, usar o serviço de transporte público e recorrer às delegacias desacompanhados e dispostos a reivindicar seus direitos de propriedade e de consumidor de bens e serviços. Todos estão envolvidos com familiares e vizinhos em relações que exigem um investimento

O perfil social das vítimas das ocorrências e os motivos alegados para as agressões são assim reveladores de que estamos muito distantes do idoso frágil, passivo e totalmente o familiar ou de organizações filantrópicas para sobreviver e cujo crime

idoso abre para o desafio de se investigar outras formas ia dos estudos sobre violência familiar ou doméstica tratou somente da violência na relação de conjugalidade com vítima mulher, ou então da violência contra a criança. Os dados mostraram que os homens com 60 anos ou mais

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delegacias registrar ocorrências, e por isso o número de situações que poderiam ser tipificadas tratos não ser representativo. A violência contra esse idoso raramente chega ao ções extremas e quando a mídia se dispõe a

Considerar que a violência contra os idosos é uma dimensão da violência doméstica privilegiado da proteção, o que é muito importante está novamente sendo enfatizada como

família a responsabilidade pelo cuidado caracterizava o papel da família em

Ver especialmente na Constituição de 1988 os artigos 229 e 230 do Título VIII "Da Ordem Social" em seu

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se trata de reproduzir o modelo de ‘família patriarcal’ impenetrável, ou seja, de ‘privatizar’ já trataram de denunciar e transformar em questões públicas. Nessa nova relação entre família e Estado o último ‘reprivatiza’ as questões políticas na medida em que as devolve para uma família vista como um espaço de stimulados e reforçados pelas instituições e políticas

a violência contra o idoso, revelada na pesquisa apresentada como tem suas vítimas e acusados vistos como pazes de exercer os direitos já adquiridos. As causas dos crimes são entendidas como conseqüência da incapacidade dos membros da família em assumir seus papéis, e por isso as instituições passam a ter a função de reforçar e incentivar seu

Art. 230. “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua lhes o direito à vida.”

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